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Etica Geral e Profissional - Livro Texto – Unidade I

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Ética Geral e Profissional
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Prof. Dr. Yugo Okida
Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Conteudista: Profa. Regina Meira Aguiar
Colaborador: Prof. Bruno César dos Santos
Sumário
Ética Geral e Profissional
Unidade I
1 éTiCA GeRAL .........................................................................................................................................................6
1.1 Conceito de ética .....................................................................................................................................6
1.2 O conceito de ética e sua relação com a moral ..........................................................................8
1.3 O conceito de valor ..............................................................................................................................11
1.4 A história da ética ................................................................................................................................ 12
1.4.1 Gênese da ética: a noção de justiça e bem comum ................................................................. 12
1.4.2 Formação da ética: liberdade, igualdade e fraternidade ........................................................ 15
1.4.3 A evolução da ética ................................................................................................................................ 17
1.5 As teorias sobre a ética ...................................................................................................................... 22
1.6 A classificação da ética ...................................................................................................................... 24
1.6.1 ética empírica ........................................................................................................................................... 24
1.6.2 ética dos bens ........................................................................................................................................... 26
1.6.3 ética formal ............................................................................................................................................... 27
1.6.4 ética valorativa ........................................................................................................................................ 27
2 éTiCA e GLOBALizAçãO DA eCOnOMiA ................................................................................................ 28
2.1 ética empresarial ................................................................................................................................. 32
Unidade II
3 éTiCA PROFiSSiOnAL ..................................................................................................................................... 40
3.1 As origens da ética profissional ...................................................................................................... 42
3.2 A competência como valor fundamental da ética profissional ........................................ 44
3.3 Construir uma vida ética profissional factível.......................................................................... 49
3.4 Os desafios e propostas para a prática da ética profissional.............................................. 51
4 A éTiCA PROFiSSiOnAL eM COnTABiLiDADe ....................................................................................... 56
4.1 O conceito de ética profissional ..................................................................................................... 56
4.2 A profissão contábil ............................................................................................................................. 57
4.2.1 exemplos de pressão do patronato sobre o profissional contador .................................... 61
4.3 Função social da profissão contábil na era da informação ................................................. 63
4.4 ética profissional em contabilidade .............................................................................................. 66
4.4.1 ética na profissão contábil .................................................................................................................. 68
4.4.2 A importância da ética na formação profissional ..................................................................... 71
4.4.3 Relação entre a ética e a conduta do contador nas empresas ............................................ 72
4.5 Os códigos de ética .............................................................................................................................. 75
4.5.1 O código de ética da profissão contábil ........................................................................................ 76
4.5.2 Os valores da ética profissional em contabilidade .................................................................... 78
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4.6 Os órgãos reguladores da profissão contábil ............................................................................ 80
4.6.1 O Conselho Federal de Contabilidade (CFC) ................................................................................. 80
4.6.2 O conselho regional de contabilidade ............................................................................................ 82
4.7 A fiscalização da profissão contábil .............................................................................................. 82
4.7.1 Das punições ........................................................................................................................................... 83
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Introdução: as urGêncIas de ÉtIca no 
mundo atual
no início do século XX, a utopia ocidental era de que nos 
últimos anos do segundo milênio a humanidade já teria avançado 
o suficiente para dar um salto no processo civilizatório rumo à 
igualdade entre povos, culturas e sexos. no início do século XXi, 
temos, por um lado, um mundo de evolução técnico-científica 
sem precedentes na imaginação humana e, por outro, guerras 
e violências desprovidas de sentido. Jamais se poderia pensar 
que o mundo estaria tão integrado por meio de técnicas de 
mídia e de transporte e tão desintegrado naquilo que se refere à 
alma humana. era impensável um conhecimento científico tão 
avançado a ponto de manipular os segredos mais íntimos da 
vida e ao mesmo tempo incapaz de evitar a morte de milhares 
pelo planeta, por doenças, que desde há muito se descobriu 
como curar. Conhecimentos médicos capazes de tornar a 
vida humana mais longa e, ao mesmo tempo, o surgimento 
de doenças promotoras da infelicidade do vazio existencial. 
ninguém acreditaria que a humanidade pudesse em tão pouco 
tempo dispor de tecnologia automatizada e robotizada que, 
aplicada nos agronegócios, retirasse das relações humanas o 
fator de miséria que é a escassez de alimentos, sem conseguir 
resolver o problema da fome. Ao contrário, a aplicação da 
biotecnia na produção agropecuária promoveu um aumento da 
parcela de famintos na população mundial, além de gerar sério 
desequilíbrio ecológico e desemprego crônico.
no alvorecer do século XX, a humanidade não poderia prever 
uma ciência biomédica que fosse capaz de tocar, engendrar, 
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alterar os mais herméticos segredos da vida vegetal, animal e 
humana. e que, ao mesmo tempo, não fosse capaz de evitar 
tanto o aumento da desnutrição e morte pela fome para os 
pobres, quanto o uso de drogas, a contaminação dos alimentos, 
as doenças psicossomáticas e a opulência para os abastados. 
Os paradoxos estão por toda a parte: enquanto uns morrem 
de fome, outros morrem de gordura. enquanto se é capaz de 
contar os genes de animais inferiores, não se descobre a cura 
para as epidemias e as pandemias, uma ameaça constante para 
todo o mundo. enquanto construímos máquinas inteligentes, 
não somos capazes de ensinar a ler e escrever a populações 
inteiras.
Hoje, nas sociedades modernas, cada vez mais se verifica uma 
cisão entre indivíduo e comunidade social, de tal modo que as 
desgraças e as calamidades que atingem determinadas camadas 
sociais ou grupos de indivíduos ficam restritas a esses segmentos. 
enquanto isso, os demais procuram ignorar não só as desgraças, 
mas até mesmo os próprios indivíduos que foram atingidos. 
nesta direção vai-se delineando uma determinada tendência 
cultural que propõe resolver várias situações de dificuldade em 
que se encontra a sociedade moderna, inclusive as situações de 
luta e de conflitos entre raças e culturas diferentes, mediante um 
projeto de convivência que visa garantir segurança e bem-estar 
às pessoas na dimensão terrena.
Desta compreensão entende-se que os grandes problemas da 
humanidade de hoje, mesmo sem rejeitar a grande contribuição 
que a ciência e a tecnologia podem dar para superar as 
condições de miséria e deficiências dos diferentes gêneros, só 
podem ser resolvidos por meio da reconstrução de valores que 
possam orientar normas e padrões gerais de conduta. O ser 
humano necessita de realidades transcendentes ao indivíduo, 
o que comporta exigências, imperativos e valores que não 
podem ser satisfeitos apenas com a auto-suficiência individual. 
e não é possível para as comunidades humanas e grupos 
sociais transcenderem por si mesmos aos interesses meramente 
Os grandes problemas da 
humanidade de hoje só podem ser 
resolvidos por meio da reconstrução 
de valores que possam orientar normas 
e padrões gerais de conduta. Isso 
comporta exigências, imperativos e 
valores que não podem ser satisfeitos 
apenas com a auto-suficiência 
individual.
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econômicos. Portanto, mais do que nunca, no mundo em que 
vivemos é imperativo retomar os valores que dirijam nossa 
vontade de agir no sentido de buscar, além da satisfação das 
necessidades materiais, a reconstituição das regras de conduta, 
de normas de convivência que possam reduzir os antagonismos 
e os individualismos desenfreados. é a exigência ética de nosso 
tempo, é nosso dever.
Hoje, a exigência ética fundamental consiste em recuperar 
a possibilidade de reconstruir relacionamentos de comunhão 
entre pessoas e comunidades. Pretender resolver o problema da 
paz e da felicidade das pessoas querendo reduzir a sociedade ao 
indivíduo é um erro grave, porque a felicidade humana não é 
alcançável fora da comunhão com os outros. Tal ideia significa 
reduzir, irremediavelmente, o homem às dimensões terrestres, 
fechando-o em relação a sua dimensão transcendente, que não 
pode ser satisfeita no plano material. essa dimensão só pode 
ser satisfeita por meio dos valores que permitiram construir a 
civilização.
Por efeitos não desejados, como diria Max Weber, a 
construção da modernidade terminou por construir uma 
mentalidade individualista. O que vemos hoje é o resultado de 
um longo processo da tentativa humana de fazer uma ciência 
extremamente racional, voltada a fins racionais e desprovida de 
valores morais, isto é, de valor metafísico. Desde as mais antigas 
manifestações, idealistas ou religiosas, da disciplina de bem viver 
até o estudo racional das formas de conduta, houve sempre a 
preocupação em estabelecer razões de consenso entre os seres 
humanos, de modo que a virtude pudesse prevalecer sobre o 
vício. Tais virtudes estruturam tanto o campo político, quanto o 
social e o econômico no Ocidente.
O modelo consumista-individualista da convivência 
favorece a difusão dos males morais sociais do nosso tempo 
(a busca das vantagens pessoais em prejuízo dos outros, a 
redução das relações sociais a relações de força, a violência, 
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a criminalidade, a corrupção, a ausência de regras éticas nas 
relações econômicas, a transgressão juvenil, entre tantos outros 
males). A vivência ética, solidificada em valores estruturadores 
da civilização ocidental, em todas as esferas da vida humana 
(familiar, cultural, social, econômica, política) é o mais potente 
antídoto contra os males atuais. isso porque só é possível ser 
humano ao se reconhecer no outro humano. Apenas no contato 
com o outro é possível crescer responsavelmente em relação a si 
mesmo e à comunidade. Desenvolvemos, assim, a solidariedade 
que é a própria essência da humanidade.
Coube aos estados nacionais o papel de civilizador, de 
desenvolver os laços de solidariedade nacionais. Compete 
ao estado o papel de inserir as novas gerações no padrão de 
conduta ética, ou seja, ensinar às pessoas as linguagens e as 
crenças simbólicas, valores morais caros ao capitalismo. isso se 
deu por meio das escolas públicas, na europa, na passagem para 
a Modernidade. e, no Terceiro Mundo, à medida que chegavam as 
indústrias. Hoje, esses estados, tornados mínimos pela ideologia 
neoliberal, não têm dado conta de instrumentalizar seus 
cidadãos nas capacidades necessárias à mundialização, nem de 
inserir as novas gerações nos valores morais de conduta exigidos 
pela racionalidade capitalista. e, menos ainda, de impedir que as 
mídias, ansiosas pelo lucro fácil, desenvolvam em jovens e adultos 
contravalores como o narcisismo, o hedonismo e o niilismo entre 
outras mazelas que os dirigem para o desejo do lucro fácil e o 
prazer a qualquer custo. isso porque vivemos em uma sociedade 
em rede, onde tudo é feito, a despeito das fronteiras nacionais, 
por meio das redes de informática e de informação que vão da 
mídia ao tráfico de drogas e à corrupção. e os estados nacionais 
por sua essência são delimitados por fronteiras nacionais.
no estado democrático há uma íntima relação entre 
Governo, – que envolve o executivo nos três níveis e o 
judiciário – parlamento e tributação. Todo pacto democrático 
está estruturado, economicamente, no consentimento dos 
cidadãos em entregar uma parcela de seu patrimônio e de 
A vivência ética, solidificada em 
valores estruturadores da civilização 
ocidental, em todas as esferas da vida 
humana, é o mais potente antídoto 
contra os males atuais. Isso porque só é 
possível ser humano ao se reconhecer 
no outro humano.
A corrupção pública e a sonegação 
fiscal, além de lesar a capacidade do 
Estado de promover a igualdade, pois 
não terá recursos para a educação e 
a saúde dos mais pobres, ainda tira a 
confiança dos mais ricos em aplicar 
recursos no país.
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seus rendimentos ao estado, sob a forma de tributos. esse 
consentimento parte do pressuposto de que essa parcela será 
gerida em prol do bem comum, da manutenção da coisa pública, 
e não do abastecimento de interesses particulares.Assim, o 
pagamento de impostos é um imperativo ético. A finalidade 
nuclear do estado democrático é gerir por todos e para todos, 
para garantir a igualdade de direitos e deveres para todas as 
pessoas físicas ou jurídicas. é por isso que a corrupção pública 
e a sonegação fiscal, além de lesar a capacidade do estado de 
promover a igualdade, pois não terá recursos para a educação e 
saúde dos mais pobres, ainda tiram a confiança dos mais ricos 
em aplicar recursos no país. O Capital não pode se estabelecer e 
desenvolver-se fora de padrões éticos.
As empresas capitalistas não podem sobreviver numa 
sociedade em que os valores éticos ocidentais não estão 
estruturados nas consciências individuais. nessas sociedades, 
cada trabalhador, na sua individualidade, e por sua consciência, 
deve agir em seu trabalho individual e solitário no sentido de 
evitar a fuga dos lucros da empresa. Assim, as empresas, ao se 
estabelecerem numa sociedade, clamam (a imprensa e o seu 
canal de comunicação) por valores éticos e pela educação para 
esses valores.
A conduta ética, desde os primórdios do Capitalismo, 
sempre foi um fator fundamental para o desenvolvimento das 
empresas capitalistas. Hoje, com a globalização da economia, 
essa necessidade é maior, pois o mercado global, que dirige 
a economia e as relações empresariais, exige confiança. e 
confiança só é possível entre grupos que possuam os mesmos 
valores éticos.
O debate sobre a importância de conduta ética é reacendido 
cada vez que ocorrem novas denúncias de fraudes e corrupções, 
como, por exemplo, os recentes escândalos envolvendo as 
grandes organizações bem como a coisa pública. Tais escândalos 
interferem diretamente na confiança dos investidores e dos 
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consumidores em todo o mercado e concorrem para a sociedade 
ensejar uma maior fiscalização em todas as empresas por parte 
do poder público.
Por toda essa situação de ausência de valores comuns é que 
as empresas propõem um retorno à ética, um estudo sistemático 
dos valores comuns e caros ao Ocidente por parte de todos os 
profissionais, de tal maneira que o seu agir seja sempre uma 
ação que promova o bem comum. exigem um retorno à ética 
pautada em valores que estruturam a confiança, sem a qual o 
capital e a sociedade em geral não podem existir.
Um dos objetivos de se estudar ética hoje é encontrar 
mecanismos que nos permitam mergulhar dentro de nós mesmos 
e buscar compreendermos que atitudes moralmente corretas 
podem promover o bem comum e que a nossa felicidade só 
é possível à medida que a sociedade for justa. O que significa 
que todos tenham seus direitos garantidos, uma vez que todos 
cumpriram com os seus deveres.
1 ÉtIca Geral
1.1 conceito de ética
etimologicamente, a palavra “ética” vem do grego ethos 
que significa morada coletiva e vida coletiva. Daí o conceito ser 
usado para ações que promovam o bem comum ou a justiça 
no meio social. Devido ao fato de que os gregos a utilizavam 
no sentido de hábitos e costumes que privilegiassem a boa 
vida e o bem viver entre os cidadãos, com o tempo tal palavra 
passou a significar modo de ser ou caráter. enfim, um modelo 
de vida que deveria ser adquirido ou conquistado pelo homem 
por meio da disciplina rígida que lhe formaria o caráter e que 
seria transmitida aos jovens pelos adultos. na Grécia, o homem 
aparece no centro da política, da ciência, da arte e da moral, 
uma vez que para sua cultura até os deuses eram humanos com 
seus defeitos e qualidades. O primeiro filósofo que escreveu 
As empresas exigem um retorno 
à ética pautada em valores que 
estruturam a confiança, sem a qual 
o capital e a sociedade em geral não 
podem existir.
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sobre ética foi Aristóteles. Com esse título, Aristóteles escreveu 
duas obras: ética a nicômaco (seu filho) e ética a eudemo (seu 
aluno).
Os filósofos gregos sempre subordinaram a ética às ideias 
de felicidade da vida presente e de soberano bem. nos textos 
antigos, ética quase sempre parece estar relacionada com desejo 
inato ao homem de busca da realização do supremo bem. A 
filosofia grega preocupa-se com a reflexão sobre ética desde 
os primórdios. isso porque ética, ou a sede de justiça, é uma 
das três dimensões da filosofia. As outras duas seriam a teoria 
e a sabedoria. em Roma, ética passa a ser denominada “mores”; 
que significa “moral”. no direito romano a palavra ética refere-se 
a normas de conduta ou princípios que regem a sociedade ou 
um determinado grupo e em uma determinada época. numa 
palavra: lei.
A ética é histórica, o que se deve ao fato de estar solidificada 
em noções de valor, que mudam à medida que se descobrem novas 
verdades. O agir ético não será apenas uma simples reprodução 
de ações das gerações anteriores, mas uma atividade reflexiva 
que oriente a ação a seguir num determinado momento de nossa 
vida pessoal. Quando surgem questionamentos sobre a validade 
de determinados valores ou costumes, e a realidade exige novos 
valores que possam orientar a ética, surge a necessidade de uma 
teoria que justifique esse novo agir, uma vez que é impossível a 
ação ética sem que o agente compreenda a racionalidade dessa 
ação. Aqui aparecem os filósofos que produzem uma reflexão 
teórica que oriente a prática ou a crítica do viver ético. 
Assim, não é possível o agir ético sem uma reflexão entre o que 
eu devo fazer e o que eu gostaria de fazer em um determinado 
momento. A ação ética sempre deve buscar o bem comum e 
consiste na recusa de todas as ações que propiciem o mal. O 
agir ético vai além de um conjunto de preceitos relacionados 
a cultura, crenças, ideologias e tradições de uma sociedade, 
comunidade ou grupo de pessoas. Muitas vezes nossa ação vai 
A ação ética sempre deve buscar 
o bem comum e consiste na recusa 
de todas as ações que propiciem o 
mal. Guiada pela razão a ética está 
fundamentada nas ideias de bem e 
virtude.
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ao sentido oposto a essas crenças, pois sendo a noção de dever 
seu principal valor estrutural, em algumas ocasiões, o nosso 
dever é justamente indignar-se com tais crenças. Uma vez que 
guiada pela razão e não pelas crenças, a ética, via de regra, está 
fundamentada nas ideias de bem e virtude, que nossa civilização 
considera como valores que devem ser perseguidos por todo ser 
humano para a promoção da vida, da maneira e onde quer que 
ela se manifeste.
1.2 o conceito de ética e sua relação com a 
moral
Frequentemente se confunde ética com moral e isso tem uma 
razão de ser. é que a palavra “moral” vem do latim mos (singular) 
e mores (plural), que significa “costumes”. e a palavra “ética” 
vem do grego e possui o mesmo significado, ou seja, “costumes”. 
Por isso, muitos utilizam a expressão “bons costumes” como 
sinônimo de moral ou moralidade. ética e moral são sinônimos 
perfeitos, só modificados semanticamente devido às diferentes 
línguas de origem das duas palavras. Até o século XViii, já que 
a língua oficial do saber acadêmico era o latim, a palavra usada 
é moral.
Alguns filósofos modernos passam a usar as duas palavras 
com sentido diferentes. Kant, por exemplo, define como Moral 
o conjunto de princípios gerais (valores civilizatórios) e ética 
sua aplicação concreta. Portanto, ética é sempre um agirético. 
Outros filósofos concordarão em designar por moral a teoria dos 
deveres para com os outros, e por ética a doutrina de salvação 
e sabedoria desvinculada de crenças religiosas. Hoje nós 
temos duas palavras usadas por muitos autores com o mesmo 
significado: “ética” e “moral”.
Devido ao fato de o pensamento kantiano ter uma 
importância medular para quem se interessa pela reflexão sobre 
ética no mundo capitalista, preferimos compreender que ética 
diferencia-se de moral. Moral está mais relacionada a crenças 
estruturadas em valores acumulados desde a mais tenra infância 
Kant define como moral o conjunto 
de princípios gerais (valores civilizatórios) 
e ética, sua aplicação concreta.
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e transmitidos pelos grupos sociais de interação afetiva, tais 
como a família e a igreja. Moral está diretamente relacionada à 
consciência de que é o lócus privilegiado dos valores, enquanto 
que a ética é a exteriorização da conduta humana em sociedade. 
Além disso, desde o início os pensadores liberais preferiram a 
palavra “ética” para expressar normas de conduta de grupos 
organizados, como, por exemplo, as categorias profissionais e 
seus códigos de ética.
Compreendemos que a moral está muito ligada à cultura 
e à religião. Assim, em uma cidade como São Paulo, em que 
convivem muitas culturas, podem também coexistir diversos 
tipos de moral. esses diversos grupos de moral específicos 
sempre se reportam aos valores éticos fundamentais que, na 
verdade, são os traços comuns da civilização. Portanto, ética é 
um conjunto de valores morais que permitem a permanência da 
civilização. Sem esses valores a civilização como conhecemos 
desapareceria. Seus fundamentos foram construídos durante 
todo o processo civilizador, e são iguais para todos os cidadãos 
do mundo ocidental, independentemente de cultura ou religião. 
ela carrega fundamentos que tiveram origem no pensamento 
cristão na medida em que esses fundamentos contribuíram 
para a formação do pensamento ocidental. Contudo, não é a 
transposição pura e simples dos valores da religião para o campo 
civilizatório.
Hoje a imprensa costuma usar a palavra “ética” com muita 
frequência, às vezes até de forma abusiva. essa insistência com 
que se fala de ética hoje se deve ao fato de o capitalismo ter-se 
mundializado, pois sem os valores éticos é impossível a reprodução 
da sociedade capitalista. isso porque o capitalismo é irmão gêmeo 
da democracia, uma vez que ambos nascem do pensamento 
liberal e um não vive sem o outro. Como os pilares basilares da 
democracia são a liberdade pessoal, a busca da felicidade e o 
individualismo, não há espaço para a vigilância constante das 
ações individuais numa sociedade de direitos plenos. Tal sociedade 
é a única possível para o bem-estar do Capital.
Ética é um conjunto de valores 
morais que permitem a permanência 
da civilização. Seus fundamentos 
foram construídos durante todo o 
processo civilizador, e são iguais para 
todos os cidadãos do mundo ocidental, 
independentemente de cultura ou 
religião.
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Para a mentalidade moderna, ética não pode ser entendida 
como algo que resulta de um poder punitivo explícito, como é o 
caso da Moral. A punição que a transgressão do agir ético traz 
é de consciência individual, portanto, absolutamente individual, 
e essa consciência é formada no processo educativo. Se nossa 
consciência não considerar a apropriação da propriedade alheia, 
por exemplo, como um mal e sim como uma esperteza, isto é, 
um bem; não haverá como impedir que façamos uso indevido 
do que não é nosso.
Assim, a sociedade capitalista e democrática aceita a 
existência de diferentes formas de conduta moral no aspecto 
privado, desde que a conduta pública esteja em conformidade 
com as virtudes que a estruturam, ou seja, dentro da ética. 
entende que a sociedade tem um conjunto de regras, normas 
e valores, que não se identifica com os princípios e normas de 
nenhuma moral em particular, mas com os valores formadores 
do núcleo da civilização, sem os quais a civilização entra 
na barbárie, a luta de todos contra todos em que os direitos 
– inclusive à propriedade e ao lucro – são destruídos, pois não 
há como obrigar as pessoas a cumprirem seus deveres. A ética é, 
nesse sentido, a própria defesa da civilização.
Sendo cultural, a moral é o conjunto de regras que se 
impõem às pessoas pelo grupo ao qual pertencem, numa ação 
coletiva que tende a agir de determinada maneira, sendo a 
consolidação de práticas e costumes observados no geral pelo 
receio de uma reprovação social (a pressão é externa). Partindo 
desse pressuposto, todo ser humano é moral ao cumprir normas 
de conduta oriundas de um conjunto de crenças inquestionáveis 
dentro de sua cultura. no entanto, ética envolve reflexão, por 
isso não significa apenas um conjunto de normas, mas vai além. 
ela é um conjunto de juízos valorativos (racionais) construídos 
pela civilização, assumidos e manifestados na ação individual de 
cada um (a pressão é interna). está estruturada em valores de 
conduta. é sempre civilizatória.
A sociedade capitalista e 
democrática aceita a existência de 
diferentes formas de conduta moral no 
aspecto privado, desde que a conduta 
pública esteja em conformidade com 
as virtudes que a estruturam, ou seja, 
dentro da ética.
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1.3 o conceito de valor
Como ao tratar de ética sempre nos referimos ao conceito 
de valor, é importante um olhar, ainda que breve, sobre esse 
conceito. ele aparece pela primeira vez no sentido que hoje 
damos nos primeiros trabalhos sobre economia. A ciência 
econômica moderna difere das demais ciências sociais pela 
capacidade de quantificar, senão a atividade econômica, pelo 
menos seus frutos, ou seja, o produto social. está estruturada 
em leis universais tais como: lei da oferta e da procura, a 
lei do valor da moeda, entre ourtas. O que torna possível 
de medição e avaliação das relações econômicas, como 
acontecem e em que medidas acontecem, é o conceito de 
valor, cuja ideia essencial foi, segundo Weber, retirada da 
ética protestante cristã.
A utilização da ideia de valor como conceito de “algo” que 
é incorporado à mercadoria foi instituído pelos fundadores da 
Ciência econômica: Adam Smith e David Ricardo. Tal conceito 
foi transportado puramente da filosofia moral para o âmbito 
econômico. A axiologia ou “teoria do valor” tem suas raízes no 
solo econômico e somente nos séc. XiX e XX vai expandir-se 
como expressão infinita daquilo que “deve ser”, abrangendo 
todas as criações do espírito humano.
é o conceito de valor que permite atualização de uma 
unidade de medição essencial para praticamente todos os 
fenômenos do mundo econômico. Há duas maneiras de definir 
valor, uma delas retira o valor da relação do ser humano com 
a natureza e parte do pressuposto de que as pessoas têm uma 
série de necessidades materiais básicas e procura satisfação 
dessas necessidades na produção de produtos que possam 
satisfazê-las. essa é a atividade econômica básica à natureza 
humana. Ao transformar um objeto qualquer da natureza em 
algo que possa melhorar de algum modo sua vida, o ser humano 
incorpora nessa transformação o valor essencialmente humano: 
A utilização da ideia de valor como 
conceito de“algo” que é incorporado 
à mercadoria foi instituído pelos 
fundadores da Ciência Econômica Adam 
Smith e David Ricardo. Tal conceito foi 
transportado puramente da Filosofia 
Moral para o âmbito econômico.
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o valor-trabalho e, dialeticamente, transforma o objeto em 
valor-utilidade, também chamado de valor de uso. essa é a 
teoria do valor do trabalho.
A outra maneira de compreender valor é como os pensadores 
que buscam refletir sobre a ética entendem o conceito. Para eles, 
valor é sempre coletivo, uma vez que valores são construções 
mentais elaboradas pela visão de mundo de nossa cultura, 
podem ser ensinados e formam nossos juízos de bem, mal, justo, 
injusto, belo e feio.
1.4 a história da ética
1.4.1 Gênese da ética: a noção de justiça e bem comum
Para muitos autores a experiência ética fundamental ocorre 
quando sentimos que o agir das pessoas está desconectado dos 
valores caros à civilização. é a experiência de ‘estranhamento’ 
frente à realidade, de sentir-se estranho (fora da normalidade) 
diante do modo como funciona a sociedade, ou até mesmo em 
relação ao modo de ser e agir de outrem. Cada vez que a sede de 
justiça, o que deveria ser ou o que se deveria fazer para buscar o 
funcionamento justo da sociedade, se estabelece, há um avanço 
da ética.
A história da ética, portanto, se confunde com o próprio 
processo civilizatório. é a própria história das ideias morais da 
humanidade, desde os tempos pré-históricos até nossos dias, 
isto é, a história da reflexão humana de como instituir normas 
que regulem a conduta social, na busca da felicidade individual 
e ao mesmo tempo o bem comum, e, portanto, instaurem a 
diminuição da violência. Os filósofos faziam a crítica da realidade 
social de sua época e a partir dessa crítica ofereciam saídas de 
como teria de ser a conduta das pessoas para evitar os infortúnios 
que levariam ao desaparecimento do ethos comum. A sociedade, 
então, considerando aquelas ideias úteis, passou a educar as 
novas gerações para aqueles valores. Muitas vezes, por ser um 
ética é uma reflexão teórica, 
pautada em juízos de valor caros à 
civilização ocidental, que analisa e 
critica ou legitima os fundamentos e 
princípios que regem um determinado 
sistema moral.5
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novo dever, o estado transformava tais normas em leis até que 
tais condutas fossem incorporadas às consciências individuais 
e, assim, lentamente, foram estruturados os valores que hoje 
consideramos essenciais. nesse sentido, a ética não é imutável, 
mas, ao contrário, a humanidade vai abandonando valores e 
adquirindo outros que antes não pensava serem essenciais.
Antes de Sócrates não houve, ao menos que se saiba, uma 
reflexão metódica sobre a ética e o “homem moral”, por isso é 
que se diz que ele é o “pai da ética”. Contudo, é preciso ponderar 
que desde períodos mais antigos havia uma identidade perfeita 
entre o bem comum e o bem individual tão arraigada na mente 
grega que talvez tal reflexão não fosse necessária ou sequer 
capaz de ser concebida. Só a dissociação entre bem comum e bem 
individual (o público e o privado), que começa a ocorrer durante 
o período da decadência grega, é que justifica a necessidade de 
alguma teoria que explicasse esta dualidade.
nossa visão de ética, hoje, deve muito, também, a Platão. 
na verdade, como Sócrates nada escreveu, é em seus textos que 
aparece pela primeira vez o conceito de ética. Platão constrói 
idealmente a “Cidade Perfeita”; nela tudo e todos são guiados 
por uma ética muito semelhante ao ideal de perfeição social de 
hoje.
A ética de Platão está relacionada intimamente com sua 
filosofia política, porque, para ele, a pólis (cidade-estado) é o 
terreno próprio para a vida moral. Assim, buscou um estado 
ideal, um estado-modelo, utópico, cujo modelo seria o corpo do 
ser humano. Daí vem o costume de dizermos até hoje o “corpo 
social”, como sinônimo de sociedade. Assim como o corpo possui 
cabeça, peito e baixo-ventre, também o estado deveria possuir, 
respectivamente, governantes, sentinelas e trabalhadores. O 
bom estado é sempre dirigido pela razão em busca da prática 
da justiça, que seria o equilíbrio entre os direitos e os deveres 
dos cidadãos na construção de uma pólis virtuosa. Portanto, 
A ética não é imutável, mas, 
ao contrário, a humanidade vai 
abandonando valores e adquirindo 
outros que antes não pensava serem 
essenciais.
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é necessária a prática das virtudes. As virtudes são funções da 
alma humana, determinadas pela sua natureza e pela divisão de 
suas partes. Tais virtudes seriam todas aquelas que produzem 
a beleza, o bem e a verdade absoluta. Para tal prática seria 
necessário, à vontade, o ânimo, o que para Platão significava o 
domínio das paixões pela razão.
Pela razão, faculdade superior característica do homem, a 
alma elevar-se-ia, mediante a contemplação, ao mundo das 
ideias. O fim último da razão seria purificar-se ou libertar-se da 
matéria para contemplar o que realmente é, acima de tudo, a ideia 
do bem. Para alcançar a purificação seria necessário praticar as 
várias virtudes que cada alma possui. Platão julgava que as partes 
da alma possuiam um ideal ou uma virtude que deveriam ser 
desenvolvidos para seu funcionamento perfeito. A razão deveria 
aspirar à sabedoria, a vontade deveria aspirar à coragem e os 
desejos deveriam ser controlados para atingir a temperança. Cada 
uma das partes da alma, com suas respectivas virtudes, estaria 
relacionada com uma parte do corpo. A razão manifestaria-se na 
cabeça, a vontade, no peito, e o desejo, no baixo-ventre. Somente 
quando as três partes do homem pudessem agir como um todo 
é que teríamos o indivíduo harmônico. A harmonia entre essas 
virtudes constituiria uma quarta virtude, a justiça.
Devido ao fato de ter sua teoria adotada como parcialmente 
verdadeira pela igreja Católica, a ética de Aristóteles finca vínculos 
indeléveis em nossa compreensão de ética. Sua concepção ética 
privilegia as virtudes (justiça, coragem, fortaleza e sinceridade, a 
felicidade pessoal e o bem comum), tidas como propensas tanto 
a provocar um sentimento de realização pessoal àquele que age, 
quanto simultaneamente beneficiar a sociedade em que vive. 
Portanto, a felicidade pessoal só é possível onde o bem comum 
também o é. A ética aristotélica compreende a humanidade 
como parte da ordem natural do mundo, por isso é denominada: 
ética naturalista.
Platão: As virtudes são funções da 
alma humana, determinadas pela sua 
natureza e pela divisão de suas partes. 
Tais virtudes seriam todas aquelas que 
produzem a beleza, o bem e a verdade 
absoluta.
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Segundo Aristóteles, toda atividade humana, em qualquer 
campo, tende à busca do bem supremo ou sumo bem, que seria 
resultado do exercício perfeito da razão, função própria do 
homem. Assim, o homem virtuoso é aquele capaz de deliberar 
e escolher o que é mais adequado para si e para os outros, 
movido por uma sabedoria prática em busca do equilíbrio entre 
o excesso e a escassez.
na antiguidade o conceito de sábioera entendido como um 
homem virtuoso ou que busca uma vida virtuosa, e que assim 
consegue estabelecer, em sua vida, a ordem, a harmonia e o 
equilíbrio que todos desejam. essa harmonia é conseguida se 
vivermos de acordo com a natureza – o cosmos para os gregos 
- , e o justo é viver de acordo com o seu lugar na natureza, uma 
vez que compreendiam que o cosmos, por si só, é sempre justo 
e bom. Uma das finalidades da vida humana seria encontrar seu 
lugar no seio dessa ordem cósmica, tal viver seria a vida ética. 
Assim, a prática da justiça, a virtude geral, de onde se originam 
todas as demais, nos tornaria semelhantes ao divino, àquilo que 
transcende o próprio homem, ao imortal e sábio que está no 
próprio homem.
1.4.2 Formação da ética: liberdade, igualdade e 
fraternidade
Os principais filósofos organizadores da ética cristã são: 
Santo Agostinho em A cidade de Deus e Confissões, e São 
Tomás de Aquino em Suma teológica. Durante a idade Média, 
o cristianismo se estabelece como teoria no campo filosófico; 
a representação ocidental do “divino” não é mais a natureza e 
passa a encarnar uma pessoa: Jesus Cristo. essa nova visão do 
logos provoca mudanças profundas na compreensão do que é 
o bem e, portanto, da ética. O cristianismo traz uma concepção 
revolucionária que cristaliza até nossos dias: a nova concepção 
de amor. A moral passa a ser entendida como a busca da perfeição 
“à imitação de Cristo” como característica de cada ser humano. 
Aristóteles: Sua concepção ética 
privilegia as virtudes: justiça, coragem, 
fortaleza e sinceridade, a felicidade 
pessoal e o bem comum. A felicidade 
pessoal só é possível onde o bem 
comum também o é.5
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essa nova concepção da pessoa humana, do indivíduo, é o próprio 
cerne do processo civilizador ocidental, resultando em todos os 
direitos da pessoa humana; contudo, é na compreensão do que 
é a liberdade que o cristianismo vai promover uma revolução, se 
comparada ao conceito da Antiguidade Clássica.
enquanto que para os antigos a liberdade só se realizava no 
campo político e era entendida como sinônimo de cidadania, 
no cristianismo ela é deslocada para o interior de cada ser 
humano. A ética cristã articula liberdade e vontade; apresenta 
essa última como essencialmente dividida entre o bem e o mal. 
Foi o cristianismo que subordinou o ideal de virtude à ideia de 
dever e de obrigação. Fez da humildade uma virtude essencial, 
o que era desconhecido pelos antigos. Mais do que isso, o 
cristianismo também exigiu a submissão da vontade humana 
à vontade divina, tornando problemática e quase impossível a 
finalidade ética dos antigos, isto é, a autonomia, a capacidade 
de escolha por si só dos valores que norteiam as ações humanas. 
Se para os gregos antigos a virtude era um talento natural, para 
o cristianismo o que é moral ou não é o uso que se faz desses 
dons naturais; essa liberdade de escolha vai ser chamada pelos 
filósofos de “livre-arbítrio”. Aparece aqui a ideia do “mérito”, tão 
cara ao capitalismo. não importa mais os talentos que recebemos 
da natureza, mas o que faremos com esses talentos; por meio 
deles podemos sair do estado de desigualdade natural para 
entrar na igualdade por nós construída. Portanto, a liberdade 
torna-se fundamento da moral.
Uma vez que todos são livres e iguais porque filhos do 
mesmo Deus e com direito à salvação vinda de Cristo, logo, toda 
a humanidade é composta por irmãos, fraternos entre si. essa 
nova noção de fraternidade era desconhecida pelos antigos. no 
cristianismo a noção de responsabilidade individual é ao mesmo 
tempo universal e faz surgir uma virtude também desconhecida 
pelos antigos que é a caridade, ou seja, a responsabilidade pela 
salvação do outro, material e espiritual, seja o outro quem for. O 
É na compreensão do que é 
a liberdade que o cristianismo vai 
promover uma revolução se comparada 
ao conceito da Antiguidade Clássica.
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amor passa de uma noção pessoal e carnal, o amor paixão, para 
um amor de compaixão, o amor ao próximo, sendo o próximo 
o outro em geral, já que todos são irmãos. A compaixão, a 
benevolência, a solicitude, para com os outros, até mesmo com 
outras formas de vida, passam a ser regras de comportamento 
ético.
Ser virtuoso, portanto ético, passa a ser agir em conformidade 
com a vontade de Deus, e esse agir é um dever, e, como Deus se 
manifesta na pessoa humana, a responsabilidade com o outro 
passa a ser um valor ético. Portanto, a autonomia tão cara aos 
gregos antigos dá lugar ao conceito de dever, como limite da 
liberdade.
1.4.3 A evolução da ética
A modernidade inicia quando começa a desaparecer a ideia 
de ordem universal e de hierarquia natural dos seres, cedendo 
para as ideias de universo infinito, desprovido de centro e de 
periferia, e de indivíduo livre, átomo no interior da natureza, 
para o qual já não possui a definição prévia de lugar próprio 
e, portanto, de suas virtudes próprias. A ordem do mundo não 
é mais dada de fora do mundo, quer seja pelo cosmos, como 
queriam os gregos, quer seja por Deus, como pensavam os 
cristãos na idade Média. Assim, a modernidade afasta a ideia 
medieval de um universo regido por forças espirituais secretas 
que precisam ser decifradas para que com elas entremos em 
comunhão. O mundo desencanta-se – como escreveu Weber – e 
passa a ser governado por leis naturais racionais e impessoais 
que podem ser conhecidas por nossa razão e que permitirão aos 
homens o domínio técnico sobre a natureza.
no livro A ética protestante e o espírito do capitalismo, 
Weber relaciona o papel do protestantismo cristão à formação 
do comportamento típico do capitalismo moderno. Weber 
descobre que os valores do protestantismo, tais como a 
A responsabilidade, a compaixão, 
a solicitude e a benevolência para com 
os outros, e até mesmo com outras 
formas de vida, passam a ser regras 
de comportamento ético, a partir do 
cristianismo.5
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disciplina ascética, a poupança, a austeridade, a vocação, o 
dever e a valorização do trabalho como instrumento de salvação 
da ética protestante promovem o surgimento do capitalismo. 
Para Weber, tais valores são incorporados na ética ocidental 
como estrutura da confiança, valor essencial à manutenção da 
sociedade do contrato, que é a sociedade burguesa.
Durante o período compreendido entre os séculos XVii e 
XX, pouco a pouco, a ética deixa de estar em conformidade 
com a natureza ou com Deus para centrar sua reflexão na 
condição humana. no século XViii, Rousseau faz uma crítica 
ao pensamento de Aristóteles, segundo o qual o homem se 
diferenciaria dos animais por ser racional. Para Rousseau o 
que diferencia o ser humano dos animais é sua capacidade de 
decisão por si só: a liberdade e a capacidade de aperfeiçoar-se 
ao longo da História. Como consequências dessa nova definição 
de humanidade: a historicidade, a igual dignidade entre os seres 
humanos. Por ser livre e por não ter nada a dirigir suas ações é 
que o ser humano é moral. é seu espírito crítico que vai dotar 
o homem de valores morais, pois o ser humano sempre busca o 
bem e nasce intrinsecamente bom.
O maior representante da ética nos últimos séculos foi sem 
dúvida immanuel Kant (1724 – 1804), talvez o mais importantefilósofo da modernidade, sobretudo para quem se interesse 
pelo estudo da ética e mais ainda pela ética profissional. Seu 
pensamento talvez seja aquele que mais contribuiu para a forma 
de pensar ética tal como pensamos hoje. O homem é livre, diz 
Kant, porque não está sujeito às leis físicas da natureza. Sua 
virtude reside na ação ao mesmo tempo voltada para interesses 
individuais e universais. esses são os princípios basilares da ética 
kantiana: o desinteresse e a universalidade. A ação moral é a 
única ação verdadeiramente humana, e a liberdade consiste na 
faculdade de transcender as tendências naturais. Uma vez que 
as tendências naturais nos levam sempre ao egoísmo é preciso 
resistir a essas tendências. Tal resistência é denominada por ele 
Weber descobre que os valores do 
protestantismo tais como a disciplina 
ascética, a poupança, a austeridade, 
a vocação, o dever e a valorização do 
trabalho como instrumento de salvação 
da ética protestante, promovem o 
surgimento do capitalismo.
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de “boa vontade”, ponto que ele vê como princípio de toda a 
moralidade verdadeira.
Para Kant, na natureza há leis, na ética, deveres; e a existência 
do dever me diz que sou naturalmente livre. Do “dever”, porque, 
pelo fato de ser livre e ter boa vontade e preocupação com o 
interesse geral, há algo em nós que ordena uma resistência e até 
mesmo um combate contra a naturalidade ou animalidade que 
exista em nós. e Kant dá um exemplo: se um tirano obriga alguém 
a testemunhar de modo falso contra um inocente, ele pode ceder 
e dizer o que é falso; mas depois teria remorso, pois algo em nós 
nos orienta para o bem que é a voz da razão. isto demonstra que 
a testemunha sabia que podia dizer a verdade: sabia, devia, podia. 
e sabia por que seria irracional, uma vez que num mundo em 
que todos dissessem o que é falso, seria impossível viver, sendo, 
portanto, para nossa razão, obrigatório dizer a verdade. essa é a 
prova da universalidade e necessidade da norma ética.
essa voz da razão, que aparece sob a forma de ordens 
indiscutíveis, é chamada por Kant de imperativo categórico: 
imperativo, porque não se pode subtrair a ele, não é um 
conselho; e categórico, porque não admite o contrário daquilo 
que está mandando. Com a concepção de perfectibilidade, 
a ética kantiana vai propor que a liberdade humana consiste 
justamente na nossa capacidade de ir além das determinações 
naturais, de satisfazer nossos interesses particulares, para agir 
de acordo com os interesses gerais, isto é, universais. Por isso, 
a ética moderna vai repousar na ideia do mérito, ou seja, todos 
nós temos dificuldades em realizar nosso dever, em seguir os 
mandamentos da moral, apesar de todos nós o considerarmos 
legítimos. Daí nosso mérito em agir em conformidade com o 
bem comum e não em conformidade com nossos desejos e 
paixões. A modernidade vai valorizar toda a ação de dever, é a 
ética moderna fundamentalmente meritocrática de inspiração 
democrática.
Para Kant, na natureza há leis; na 
ética, deveres; e a existência do dever 
me diz que sou naturalmente livre.
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A partir de Kant, passa a vigorar, no campo de estudo da ética, 
o que se convencionou chamar de humanismo moderno. não só 
no plano da moral, mas no político e no jurídico, o fundamento 
está unicamente na vontade dos homens, desde que se aceite 
como restrição a vontade dos outros. A liberdade de cada um 
termina onde começa a liberdade dos outros. é apenas essa 
limitação pacífica que pode permitir uma vida social harmônica 
e feliz. e essa harmonia é uma construção humana e não mais 
um fato pronto pela natureza ou dada por Deus, ou seja, os 
homens vivendo em liberdade, mas com a vontade dirigida 
pelo dever (responsabilidade), na construção de uma sociedade 
com valores comuns que Kant chama de “reino dos fins”. Como 
seres dotados de dignidade absoluta, os homens não poderiam 
ser tratados como meios usados para objetivos pretensamente 
superiores, ou seja, o fim absoluto digno de respeito absoluto: o 
centro do universo é a humanidade.
Kant elaborou um imperativo categórico da razão do agir 
ético: “age tendo a humanidade como fim e jamais como meio” 
(não tratar os sujeitos como coisas) e “age como se a máxima 
de tua ação pudesse ser realizada por todos os homens e 
para qualquer homem” (a universalidade da razão garante a 
universalidade do sentido da ação). isso significa que a pessoa 
deve agir espontaneamente, por sua vontade e não sob coação 
ou por vontade alheia, só sob essa forma o comportamento será 
eticamente valioso. Tal comportamento terá valor universal. O 
que o imperativo categórico pede é que a máxima (princípio 
subjetivo) seja de tal natureza que possa ser elevada à categoria 
de lei de universal, construindo assim o conceito de igualdade 
como principio ético.
Kant propõe um valor absoluto para servir como fundamento 
objetivo dos imperativos. e esse valor absoluto é a pessoa 
humana. O objeto de nossos desejos tem valor relativo, é 
apenas um meio de alcançar nossos objetivos, pois só o homem 
tem valor absoluto. Sob dois prismas as pessoas diferem dos 
demais seres. Primeiro, uma vez que as pessoas têm desejos e 
A modernidade vai valorizar 
toda a ação de dever: é a ética 
moderna meritocrática de inspiração 
democrática.
Kant e o imperativo categórico 
da razão do agir ético: “age tendo a 
humanidade como fim e jamais como 
meio” e “age como se a máxima de tua 
ação pudesse ser realizada por todos 
os homens e para qualquer homem”.
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objetivos, as outras coisas têm valor para elas em relação aos 
seus projetos, as meras coisas, e isto inclui os animais, que não 
são humanos, considerados por Kant incapazes de desejos e 
objetivos conscientes. Segundo, e ainda mais importante, os seres 
humanos têm um valor intrínseco, isto é, dignidade, porque são 
agentes racionais, ou seja, agentes livres com capacidade para 
tomar as suas próprias decisões, estabelecer os seus próprios 
objetivos e guiar a sua conduta pela razão. Uma vez que a lei 
moral é a lei da razão, os seres racionais são as encarnações da 
lei moral em si. e a única forma de bondade moral poder existir 
são as criaturas racionais apreenderem o que devem fazer e, 
agindo a partir de um sentido de dever, fazê-lo.
Kant deixou para o Ocidente a ideia de que o ser humano 
é a única coisa com valor moral; assim, se não existissem 
seres racionais a dimensão moral do mundo simplesmente 
desapareceria. Tal reflexão foi essencial para que a humanidade 
deixasse de considerar seres humanos como coisa e abandonasse 
a ideia da escravidão de outros seres humanos como direito de 
propriedade, além de estruturar teoricamente a luta por direitos 
iguais, independentemente de diferenças físicas, psicológicas, 
culturais e étnicas. e como são os seres cujas ações são sempre 
conscientes? Kant conclui que o seu valor tem de ser absoluto, 
e não comparável com o valor de qualquer outra coisa. Se o 
seu valor está acima de qualquer preço, segue-se que os seres 
racionais têm de ser tratados sempre como um fim e nunca 
como um meio para atingir um determinado fim. Lança, aqui, 
numa construção racional, a ideia cristã da igualdade entre os 
homens e que será o núcleo do estado democrático.O estado democrático é o conjunto de iguais dentro de um 
determinado espaço geográfico. isto significa que temos o dever 
estrito de buscar a prática do bem, não só para nós mesmos 
como para as outras pessoas. Temos de lutar para promover o 
seu bem-estar; temos de respeitar os seus direitos, evitar fazer-
lhes mal, e, em geral, empenhar-nos, tanto quanto possível, em 
promover a realização dos fins dos outros.
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Somente se reveste de valor ético a conduta autônoma, 
fruto da vontade do agente. A conduta heterônoma é aquela 
que nos faz agir pela vontade alheia, é desprovida de valor 
moral. “A dignidade humana exige que o indivíduo não 
obedeça mais normas do que as que ele mesmo se impôs, 
usando de seu livre-arbítrio”. Os valores kantianos de liberdade, 
de responsabilidade, de autonomia e de culto ao dever foram 
incorporados na ética ocidental como valores essenciais à 
civilização.
na modernidade conservou-se do cristianismo a ideia de 
que é virtude a obediência à razão contra o império caótico das 
paixões; que a virtude é dever e obrigação em face de normas 
e valores universais; e que a liberdade é o poder humano 
para enfrentar com suas próprias forças as contingências e 
a adversidade; que a responsabilidade é marca da honradez 
virtuosa, pois não há liberdade sem responsabilidade. Mas 
todos esses termos perderam a universalidade pretendida, 
pois, lhes falta o centro ordenador: o cosmos antigo ou a 
providência medieval. Somente com a ideia de civilização será 
possível definir um novo centro que permitiria o surgimento 
de uma razão prática com pretensões ao universal no campo 
ético. Ou seja, há que se viver de acordo com um conjunto 
de valores expressos por deveres ou imperativos que nos 
pedem respeito pelo outro, sem o qual uma vida pacífica é 
impossível.
1.5 as teorias sobre a ética
A ética teoriza sobre as condutas morais; contudo não existe 
uma única teoria ética. Selecionamos Max Weber, pois foi esse 
autor que, no nosso entender, que mais desvelou a relação 
entre ética e profissão na sociedade capitalista. Segundo nos 
ensina Max Weber, há pelo menos duas teorias éticas: a ética da 
convicção, entendida como deontologia (estudos dos deveres) e 
a ética da responsabilidade, conhecida como teleologia (estudo 
dos fins humanos).
Há pelo menos duas teorias 
éticas: a ética da convicção e a ética da 
responsabilidade.
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escreve Weber:
...toda atividade orientada pela ética pode 
subordinar-se a duas máximas totalmente diferentes 
e irredutivelmente opostas. ela pode orientar-se 
pela ética da responsabilidade ou pela ética da 
convicção. não que a ética de convicção seja idêntica 
à ausência de responsabilidade. e esta última sinta a 
ausência de convicção. não se trata evidentemente 
disso. Todavia, há uma oposição abissal entre a 
atitude de quem age segundo as máximas da ética 
da convicção – em linguagem religiosa, diremos: 
“O cristão faz seu dever e no que diz respeito ao 
resultado da ação remete-se a Deus”- e a atitude 
de quem age segundo a ética da responsabilidade 
que diz: Devemos responder pelas consequências 
previsíveis de nossos dias (1959, p. 185).
Apesar de termos objetivamente só os dois tipos de ética 
desenvolvidos por Weber, a tradição filosófica ainda difere os 
diversos tipos de ética dentro da mesma realidade social. Assim, 
faz-se comumente a seguinte divisão:
A. ética normativa: é aquela que se baseia em princípios e 
regras morais fixas e que pouco muda com o tempo porque 
está essencialmente ligada ao seu objeto. Como exemplo 
pode-se citar a ética profissional e a ética religiosa. nelas 
as regras devem ser obedecidas ou deixaremos de ser o 
profissional ou o religioso. O descumprimento de suas 
normas leva-nos a perder a essência do ser.
B. ética Teleológica: é aquela cujos valores norteadores 
são julgados por muitos, até imorais. Podemos dizer que 
é oposta à ética normativa, pois para tal ética “os fins 
justificam os meios”. Como exemplo pode-se citar a ética 
da economia neoliberal, em que os lucros advindos da 
lei do mercado são sempre “morais”, não importando o 
número de excluídos e de miséria que provocaram.
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C. ética Situacional: é aquela que podemos considerar uma 
ética amoral, ou seja, seus agentes não têm os valores bem 
demarcados em sua consciência. Assim, mudam de acordo 
com as circunstâncias e seus interesses de momento. Tudo 
é relativo e temporal. Como exemplo pode-se citar a ética 
de alguns políticos e ‘artistas’, na sociedade pós-moderna. 
Para essas pessoas tudo é possível, pois para quem tem 
poder vale tudo.
1.6 a classificação da ética
A ciência dos valores admite várias classificações, porque 
existem muitas escolas, ideologias ou correntes de pensamento. 
Quanto mais as sociedades se tornam complexas e as redes de 
comunicação permitem um contato entre as diversas culturas 
e visões de mundo, maior é o número de concepções sobre 
ética.
Preferimos essa classificação, uma vez que desenvolve as 
quatro formas fundamentais de manifestação do pensamento 
ético na história ocidental. São elas: ética empírica, ética dos 
bens, ética formal e ética valorativa. na realidade, os diferentes 
tipos interpenetram-se e se apresentam como formas ecléticas. 
O sentido de separação é apenas para facilitar o estudo da ética; 
portanto foi necessária uma abstração da realidade.
1.6.1 Ética empírica
é aquela em que os princípios foram derivados da observação 
dos fatos. Mais do que isso, foi a experiência concreta na vida social 
que levou seus defensores a provar o fato de que sem os valores 
éticos a vida social é impossível. Seus defensores são chamados 
de “empiristas” e suas teorias da conduta baseiam-se no exame 
da vida moral. Segundo os empiristas, os preceitos disciplinadores 
do comportamento estão implícitos no próprio comportamento 
da maioria dos seres humanos. Para os teóricos da ética empírica, 
Segundo os empiristas 
os preceitos disciplinadores do 
comportamento estão implícitos no 
próprio comportamento da maioria dos 
seres humanos.
Classes de ética: ética empírica, 
ética dos bens, ética formal e ética 
valorativa. Na realidade, os diferentes 
tipos interpenetram-se e se apresentam 
como formas ecléticas.
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não se deve questionar o que o homem deve fazer, e sim examinar 
o que o homem normalmente faz, pois o homem deve ser como 
naturalmente é, e não se comportar como as normas queiram 
que ele seja. O drama ocidental foi que o empirismo nos levou ao 
relativismo.
 
Como a conduta humana varia de acordo com a cultura e o 
tempo histórico, a defesa que os empiristas fazem da existência 
de uma moral universal, natural e própria do ser humano 
mostra-se improvável nos dias atuais, tanto que o subjetivismo, 
próprio da visão da ética empírica, terminou por gerar visões 
de ética que são opostas ao conceito grego original - defesa 
da vida comunitária. é possível assim dividir as teorias éticas 
nascidas da ética empírica:
1.6.1.1 Ética anarquista (subjetiva)
O anarquismorepudia toda norma, todo valor, direito, 
moral, convencionalismos sociais, religião. Para tal visão 
tudo constitui exigência arbitrária, nascida da ignorância, da 
maldade e do medo. Assim, não há legitimidade nas normas, 
sejam elas morais ou jurídicas. é uma doutrina egoísta, pois 
nela o que vale é a vontade humana num dado momento. 
e esta varia de indivíduo para indivíduo, não é possível uma 
direção para o agir social considerado modelo.
1.6.1.2 Ética utilitarista
Toda ética busca o bem absoluto na vida social. Para a teoria 
utilitarista só é bom o que é útil: a conduta ética desejável 
é a conduta útil. A utilidade, porém, é mero atributo de um 
instrumento. A eficácia técnica dos meios não corresponde 
ao valor ético dos fins. exemplo: a arma utilizada para abater 
animal a ser sacrificado em decorrência de portar enfermidade 
grave é tão útil como aquela de que se serve o assaltante para 
liquidar sua vítima. não existe consistência no utilitarismo 
como aplicação para necessidade de uma conduta ética dos 
Não há legitimidade nas normas, 
sejam elas morais ou jurídicas. É uma 
doutrina egoísta, pois nela o que vale é a 
vontade humana num dado momento.
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homens, salvo se referente a uma finalidade: a obtenção do 
supremo bem, a felicidade das pessoas. O utilitarismo tem 
sentido moral, se entendido como prudente emprego dos 
meios aptos à consecução de fins moralmente valiosos.
1.6.1.3 Ética ceticista
é a ética do cético, a pessoa que põe em dúvida todas as 
crenças tidas como verdadeiras para as demais pessoas. Uma 
teoria de ética cética, portanto, é aquela em que o valor moral 
maior consiste justamente em colocar em dúvida todos os 
valores aceitos como essenciais para a maioria dos teóricos. O 
cético, duvidando de tudo, coloca o método filosófico como fim 
de compreensão da realidade. é dúvida sistemática.
Aqui cabe, mesmo que sucintamente, distinguir entre dúvida 
metódica e dúvida sistemática. Dúvida metódica é a utilizada 
como método filosófico de busca da verdade última das coisas. 
Duvidar como instrumento metódico leva a um saber que se 
aproxima da ausência do erro. Por exemplo, a máxima de 
Sócrates, “só sei que nada sei”, sustenta que algo se sabe com 
certeza: sabe-se, ao menos, que nada se sabe. esse é o primeiro 
passo no caminho do conhecimento. Sócrates compreendeu o 
valor da dúvida como método dialético (método de discussão). 
Já a dúvida sistemática, própria dos ceticistas, é aquela em que 
se põe em dúvida tudo e de forma permanente. eles declaram 
não crer em coisa alguma e aqui, segundo alguns filósofos, está 
seu primeiro e mais profundo erro, pois se fossem realmente 
céticos, duvidariam até mesmo da sua afirmação de que em 
nada creem.
1.6.2 Ética dos bens
A ética dos bens preocupa-se com a relação estabelecida 
entre o proceder individual e o supremo fim da existência 
humana. A ética dos bens defende a existência de um valor 
fundamental denominado bem supremo, aquele que não pode 
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ser meio de qualquer outro para se obter um fim. Desta forma, 
hierarquicamente, a vida pessoal e o prazer de viver são o principal 
bem supremo. As manifestações mais importantes da ética dos 
bens são o eudemonismo (confiança na felicidade como destino 
humano), idealismo ético (aspiração ao ideal) e o hedonismo.
1.6.3 Ética formal
Para tal teoria, a significação moral do agir ético reside 
na pureza da vontade e na retidão dos propósitos do agente 
considerado. Tal retidão de propósito reside na boa vontade 
do agente ético comportar-se socialmente conforme o seu 
dever e por dever. exemplificando: conservar a vida é um 
dever; portanto, se atentamos contra a vida em quaisquer 
circunstâncias, estaremos descumprimos o dever. Mas, se 
alguém perdeu todo o apego à vida e mesmo não temendo, 
ou até desejando, a morte, conserva a existência para não 
descumprir o dever de conservar a vida, sua conduta tanto 
externa como internamente está em acordo com a lei moral e 
possui valor moral pleno; por isso, seu agir é ético.
1.6.4 Ética valorativa
é a ética que pressupõe que os valores devam ser ensinados, 
pois seus teóricos defendem a ideia de que basta saber o que é 
a bondade para ser bom. O construtor dessa teoria foi Sócrates, 
segundo o qual basta conhecer a bondade para ser bom. Para nós, 
que vivemos no século XXi, tal ideia pode parecer ingenuidade, 
uma vez que já está profundamente gravado na nossa mente 
que só algum grau de coerção é capaz de evitar que o homem 
seja mau. na sua época, era uma noção perfeitamente coerente 
com o pensamento, ainda que não com a prática da sociedade 
grega. essa ideia é a base que orientará a ética ocidental.
Na ética formal a significação 
moral do agir ético reside na pureza da 
vontade e na retidão dos propósitos 
do agente considerado. Tal retidão de 
propósito reside na boa vontade do 
agente ético se comportar socialmente 
conforme o seu dever e por dever.
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2 ÉtIca e GlobalIzação da economIa
na atual sociedade, lamentavelmente, o sucesso 
econômico passou a ser a medida de todas as coisas. Também 
a ciência libertou-se da ética e está a serviço do lucro. Dupas 
(2000, p. 76), em seu livro ética e poder na sociedade da 
informação, alerta para um “estado de vazio ético”. Tal 
vazio ocorre porque os valores e as referências tradicionais 
desaparecem e os fundamentos ontológicos, metafísicos 
e religiosos da ética se perderam. Diz ainda Dupas que 
o paradoxo mais claro de nossa época é que apesar de o 
capitalismo ter se desligado da sua origem, que era ver o 
homem como um fim e não um meio, as pessoas, ainda que 
não pratiquem, buscam exigir a ética e os preceitos morais 
que estão sempre no debate por toda a sociedade. 
Quase todos os dias os programas da mídia e os jornais 
debatem a questão do dever. Há uma nova ordem surgindo, 
uma exigência de uma ética da responsabilidade em relação 
ao futuro longínquo pelo qual somos responsáveis, pois, 
como é sabido, a grande questão ética que se propõe hoje 
é a salvação do planeta e do homem como espécie. Como 
vivemos em uma sociedade em rede, o que acontece a uma 
parte da humanidade acontecerá a todos nós.
Desde seus primórdios, mas acentuadamente nos últimos 
séculos, o capitalismo e sua ideia de progresso sem fim vai 
aos poucos restringir sua ação apenas à busca do lucro como 
resultado mecânico da livre concorrência entre seus diferentes 
componentes. A produção científica e os centros de pesquisa 
amarrados ao lucro capitalista perderam o sentido original 
de produzir bens que trouxessem para a humanidade o bem-
estar e buscam aumentar sua produtividade para buscar o 
lucro sobre o lucro. A técnica, em vez de levar à emancipação 
e à felicidade dos homens como era seu objetivo inicial, tem 
levado a humanidade ao sofrimento e à exclusão de uma parte 
considerável da população mundial.
No mundo de hoje há um “estado 
de vazio ético”. Tal vazio ocorre porque 
os valores e as referências tradicionais 
desaparecem e os fundamentos 
ontológicos, metafísicos e religiosos da 
ética se perderam.
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Ética Geral e ProfissionalHavia necessidade de normas de condutas para as 
empresas, porque elas são pessoas jurídicas e há, ao mesmo 
tempo, uma relação comunitária; por meio das empresas é 
que o capitalismo como tal se manifesta. Para retomar normas 
morais de conduta no mundo econômico, há que se atingir 
sua manifestação corpórea: as empresas. Tal concepção 
surge pela primeira vez nos estados Unidos, na década de 
60. nessa época, havia nesse país uma crise generalizada 
de confiança. Por ser uma nação democrática, seus órgãos 
de mídia são extremamente livres e começaram a denunciar 
o que se passava no mundo dos negócios: os escândalos 
de corrupção, os atentados à saúde pública, os subornos, o 
tráfico de influências, o uso de informação privilegiada, a 
distribuição injusta do benefício, a manipulação dos preços 
etc. Juntamente com esta crise de confiança que estas 
denúncias fizeram surgir, o país vivia a crise da Guerra 
do Vietnã e as consequências do escândalo Watergate que 
levou à renúncia de Richard nixon. 
Tantos escândalos e desrespeito ao bem comum, ao 
patrimônio público e até aos direitos fundamentais das 
pessoas geraram na grande nação uma atmosfera de 
desconfiança de todas as esferas da vida pública e de um 
setor para com o outro. Tal situação fez com que se instalasse 
na sociedade estadunidense um clima de desconfiança tão 
profundo que políticos e homens de negócio perderam 
a credibilidade indispensável à atividade política e 
econômica. Uma sociedade só pode funcionar dentro de 
um nível mínimo de confiança, sem o qual se desmorona, 
e a situação ficou muito complicada na década de 70 
nos estados Unidos. naquela nação propulsora do mundo 
econômico, a desconfiança foi de tal ordem que os analistas 
concluíram não ser possível esperar para que a sociedade, 
mais concretamente o setor empresarial, recuperasse por 
si mesmo o grau de confiança necessário ao mercado e ao 
mundo social como um todo. 
 
Tal situação fez com que se 
instalasse na sociedade estadunidense 
um clima de desconfiança tão profundo 
que políticos e homens de negócio 
perderam a credibilidade indispensável 
à atividade política e econômica.
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Considerou-se que o estado de degradação da confiança 
que se tinha instalado era de tal ordem que a sociedade 
entregue a si mesma já não tinha energia para recuperar. 
Havia de se fazer alguma coisa para que a confiança 
indispensável aos negócios ressurgisse de modo a superar a 
crise em todas as suas dimensões. A partir daí, então, começa 
a pressão da sociedade e do grande Capital para se retornar 
à ética dos fundadores do Capitalismo, ou seja, a ética como 
elemento constitutivo da sociedade de organizações, a ética 
que gira em torno desses dois eixos: a) procura dar conta 
da responsabilidade do indivíduo enquanto pessoa e das 
responsabilidades sociais da empresa e b) visa compreender 
melhor o papel do elemento empresarial no seio da ordem 
alargada da cooperação humana, tendo em conta que a 
ordem econômica numa sociedade livre só se pode entender 
no contexto de certas normas morais e jurídicas, que tornam 
tal ordem possível. 
Assim, as grandes empresas, a princípio, depois todo 
o mundo econômico passam a exigir que os estudantes 
tenham curso de ética e que as empresas desenvolvam com 
seus colaboradores uma reflexão sobre a importância da 
ética empresarial. Pressionada por um capitalismo global, a 
ética torna-se um dos temas mais discutidos nos últimos 
anos no Brasil e no mundo, em especial quando aplicada 
ao exercício profissional, mais ainda no que se refere aos 
cargos de gestão empresarial. isso porque as informações 
que apoiam os processos de tomada de decisão interferem 
diretamente no processo de construção da imagem e da 
própria continuidade das empresas. Além do mais, o estado 
na ideologia neoliberal que é adotada pelo Brasil a partir 
da década de 90 deixa de ser empresário. não há mais 
praticamente empresas estatais e as empresas encarregadas 
da prestação de serviços para o estado contribuem para a 
imagem negativa ou positiva da própria nação brasileira no 
mundo todo.
A ética que gira em torno de dois 
eixos: 
a. procura dar conta da 
responsabilidade do indivíduo enquanto 
pessoa e das responsabilidades sociais 
da empresa;
b. visa compreender melhor o papel 
da empresa rumo à solidariedade.
A ética torna-se um dos temas 
mais discutidos nos últimos anos no 
Brasil e no mundo, em especial quando 
aplicada ao exercício profissional.
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Os grandes escândalos que ocorrem na relação empresa-
estado no Brasil têm demonstrado como está longe por aqui 
a ética da responsabilidade por parte de muitos homens de 
negócios. A desvinculação das normas religiosas de conduta 
moral no Brasil não foi um fenômeno que começou a partir de 
estudo sistematizado de filósofos da moral como na europa e 
nos estados Unidos. A grande empresa nacional nasce estatal 
e se estabelece por decreto durante o governo Vargas, e nossos 
empresários especializam-se em produtos e serviços que serviam 
às empresas estatais ou, a partir da década de 50 do último século, 
às empresas multinacionais. A maior parte dessas empresas se 
especializou sem que seus gestores percebessem a extrema ligação, 
como já provara Max Weber, entre a ética da responsabilidade e o 
estabelecimento e, a reprodução do capitalismo.
Quando não aprendemos pelos livros, vamos pela prática; 
fazemos por imitação aquilo que já deu certo com os outros. 
Assim, nossos empresários, muitas vezes frutos de ascensão 
social, adotaram como normas de conduta a prática popular das 
gentes sem instrução e sem mecanismos de defesas institucionais 
de seus direitos: o “jeitinho brasileiro”. Tal “Jeitinho” de lobistas 
das empresas, mais uma relação iníqua com parlamentares e até 
com agentes da esfera da justiça, tem no Brasil desviado somas 
consideráveis que poderiam promover as “pessoas”, gerando 
a felicidade pessoal e, portanto, igualdade de oportunidade 
para todos, promovendo a liberdade, que mais do que nunca se 
conquista pelo saber. O desvio de recursos públicos termina por 
minar os recursos para a educação de jovens e adultos.
Os valores que orientam as normas de conduta ética, que 
exige como função principal do estado promover a igualdade 
entre desiguais pela natureza e pela história, promoveram a 
própria civilização capitalista liberal e democrática por meio 
da educação. Os valores que orientam a conduta ética têm 
que ser ensinados, eles não vêm de berço. Sem a prática 
de tais valores no mundo econômico, não é possível ter 
responsabilidade moral geradora de confiança e respeito pela 
O famoso “jeitinho” dos brasileiros 
termina por excluir os pobres das 
conquistas da humanidade.
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Unidade I
empresa, tornada pessoa pelo capitalismo. Mesmo para aqueles 
agentes econômicos que se comportam fora das regras morais, 
o que parece ser uma esperteza termina por ser desvantajoso. 
O capitalismo é racional.
O lucro oriundo da corrupção, que parece ser grande de 
imediato, acaba sumindo em comissões, subornos, problemas 
com a justiça, pagamento de indenizações e outros arranjos. 
A insegurança em relação à empresa com fama de corrupta 
diminui os investimentos e faz cair o valor de suas ações entre 
outras mazelas.

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