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58 Unidade III Re vi sã o: A na - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 9/ 08 /1 0 -| |- 2 ª R ev isã o: A na M ar ia - C or re çã o: F ab io 1 9/ 09 /1 0 Unidade III 5 10 15 8 DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO (DVA) Dentre as alterações contempladas pela Lei nº 11.638, de 28 de dezembro de 2007, em relação à Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976, a nova redação do Art. 176, que determina as demonstrações financeiras, está assim: I – balanço patrimonial II – demonstração dos lucros ou prejuízos acumulados (e ou demonstração da mutação do patrimônio líquido) III – demonstração do resultado do exercício IV – demonstração das origens e aplicações de recursos (Extinta) → demonstração dos fluxos de caixa V – se companhia aberta, demonstração do valor adicionado (Inclusa). Logo, a demonstração do valor adicionada torna-se obrigatória apenas para as empresas de capital aberto, ou seja, empresas que negociam suas ações em Bolsa de Valores. O CFC por meio da Resolução nº 1.162 de 27 de março de 2009, apresenta a seguinte alteração na Resolução nº 1.138 de 21 de novembro de 2008 59 ContabIlIdade FInanCeIra Art. 1º. Alterar o item 3 da NBC T 3.7 – Demonstração do Valor Adicionado, que passa a ter a seguinte redação: A entidade, sob a forma jurídica de sociedade por ações, com capital aberto, e outras entidades que a lei assim estabelecer devem elaborar a DVA e apresentá-la como parte das demonstrações contábeis divulgadas ao final de cada exercício social. É recomendada, entretanto, a sua elaboração por todas as entidades que divulgam demonstrações contábeis. A demonstração do valor adicionado é um demonstrativo contábil que auxilia na medição e demonstração da capacidade da empresa gerar e distribuir a riqueza de uma entidade. Antes de adentrarmos no estudo da finalidade e da estrutura dessa demonstração, é importante conhecer o conceito de valor adicionado. A Resolução CFC nº 1.138, de 21 de novembro de 2008, define valor adicionado como a riqueza criada pela empresa, de forma geral, medida pela diferença entre o valor das vendas e os insumos adquiridos de terceiros, incluindo também o valor adicionado recebido em transferência, ou seja, produzido por terceiros e transferido à entidade. Conforme ensina Santos (2007), “do ponto de vista da ciência contábil, poder-se-ia afirmar que a medição ou apuração da riqueza criada pode ser calculada por meio da diferença aritmética entre o valor das vendas e os insumos pagos a terceiros mais as depreciações”. Após mencionar a definição de valor adicionado dada por vários autores nacionais e estrangeiros, Santos infere que todas as definições levam ao conceito de que o valor adicionado representa o incremento de valor que se atribui a um bem durante o processo produtivo. Assim, poder-se-ia concluir que as 5 10 15 20 25 30 60 Unidade III Re vi sã o: A na - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 9/ 08 /1 0 -| |- 2 ª R ev isã o: A na M ar ia - C or re çã o: F ab io 1 9/ 09 /1 0 empresas, ao exercerem suas atividades, utilizando- se de bens e serviços que são adquiridos de terceiros, aplicando seus capitais, através da utilização de seus equipamentos, e o trabalho de seus empregados, estarão adicionando valor aos novos produtos que serão colocados no mercado. O valor adicionado demonstra a efetiva contribuição da empresa, dentro de uma visão global de desempenho, para a geração de riqueza da economia na qual está inserida, sendo resultado do esforço conjugado de todos os seus fatores de produção. Ainda sob a elucidação de Santos (2007), vejamos um exemplo sobre valor adicionado: Determinado camponês, por hipótese extremada, realiza atividades de extração manual não utilizando qualquer tipo de insumo. Em suas atividades, ele contrata pessoas que recebem salários e utiliza créditos bancários pelos quais paga juros. Seus produtos são vendidos diretamente para a indústria. A indústria, que se utiliza apenas de mão de obra (não utiliza qualquer outro tipo de insumo), após processamento, revende seu produto ao comerciante e este o repassa para o consumidor final. Em todo esse processo, existem valores devidos ao governo a título de impostos. Assim, admitem-se as seguintes demonstrações de resultados: DRE Camponês Indústria Comércio Receitas de vendas 20.000 46.000 65.000 Custos / Despesas Salários (12.000) (10.000) (7.000) Insumos - (20.000) (46.000) Juros (2.000) (3.000) (1.000) Impostos (3.000) (8.000) (7.000) Lucro líquido 3.000 5.000 4.000 5 10 15 20 61 ContabIlIdade FInanCeIra Baseados nessas demonstrações de resultados, os valores adicionados de cada um desses “segmentos” serão: o camponês criou de riqueza um valor exatamente igual ao de sua receita, que foi de $ 20.000, uma vez que ele não adquiriu qualquer insumo de terceiros. A indústria criou $ 26.000 de riqueza, valor esse que representa o total de suas receitas ($ 46.000), diminuídas dos insumos adquiridos do camponês por $ 20.000. Finalmente, no comércio, foram gerados $ 19.000 de riquezas, resultado da diferença de suas receitas no valor de $ 65.000 e os insumos adquiridos da indústria por $ 46.000. Camponês Indústria Comércio Receitas de vendas 20.000 46.000 65.000 Insumos adquiridos de terceiros - (20.000) (46.000) Valor adicionado 20.000 26.000 19.000 A demonstração do valor adicionado evidencia a capacidade da empresa de gerar riqueza e como ela é distribuída entre acionistas, financiadores externos, funcionários e governo. Por meio dessa demonstração contábil, é possível apresentar a contribuição que tal empresa proporciona ao país, auxiliando, portanto, no cálculo do Produto Interno Bruto (PIB). Quanto à estrutura da DVA e conforme dispõe a Instrução CVM nº 469, de 2 de maio de 2008, em seu art. 6º, a demonstração do valor adicionado poderá ser elaborada e divulgada com base nas orientações contidas no item 1.12 do Ofício Circular CVM/SNC/SEP/nº 01, de 14 de fevereiro de 2007, enquanto a CVM não emitir norma específica regulando essa matéria. O Comitê de Pronunciamentos Contábeis, por meio do CPC 09 – Demonstração do Valor Adicionado, traz os procedimentos que devem ser adotados na elaboração de uma demonstração do valor adicionado. 5 10 15 20 25 62 Unidade III Re vi sã o: A na - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 9/ 08 /1 0 -| |- 2 ª R ev isã o: A na M ar ia - C or re çã o: F ab io 1 9/ 09 /1 0 Conforme dispõe a instrução da CVM acima citada, o modelo a ser utilizado poderá ser aquele desenvolvido pelos pesquisadores da Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras). Vejamos: Demonstração do valor adicionado Empresa: Em milhares de reais Descrição Pela legislação societária Em moeda constante 1. RECEITAS 1.1 Vendas de mercadorias, produtos e serviços 1.2 Provisão para devedores duvidosos – Reversão/ (Constituição) 1.3 Não operacionais 2. INSUMOS ADQUIRIDOS DE TERCEIROS (inclui os valores dos impostos – ICMS e IPI) 2.1 Matérias-primas consumidas 2.2 Custos das mercadorias e serviços vendidos 2.3. Materiais, energia, serviços de terceiros e outros 2.4 Perda/Recuperação de valores ativos 3. VALOR ADICIONADO BRUTO (1 – 2) 4. RETENÇÕES 4.1 Depreciação, amortização e exaustão 5. VALOR ADICIONADO LÍQUIDO PRODUZIDO PELA ENTIDADE (3 – 4) 6. VALOR ADICIONADO RECEBIDO EM TRANSFERÊNCIA 6.1 Resultado da equivalência patrimonial6.2 Receitas financeiras 7. VALOR ADICIONADO TOTAL A DISTRIBUIR (5 + 6) 8. DISTRIBUIÇÃO DO VALOR ADICIONADO 8.1 Pessoal e encargos 8.2 Impostos, taxas e contribuições 8.3 Juros e aluguéis 8.4 Juros sobre capital próprio e dividendos 8.5 Lucros retidos/(prejuízo do exercício) 63 ContabIlIdade FInanCeIra Instruções para preenchimento As informações para elaboração da DVA devem ser extraídas da contabilidade, portanto, devem ter como base o princípio contábil do regime de competência de exercícios. 1. RECEITAS (soma dos itens 1.1 a 1.3) 1.1. Vendas de mercadorias, produtos e serviços Corresponde à receita bruta ou faturamento bruto, estando incluídos, portanto, os valores do ICMS e IPI incidentes sobre essas receitas. 1.2. Provisão para devedores duvidosos – Reversão/ (Constituição) Inclui os valores relativos à constituição/baixa de provisão para devedores duvidosos. 1.3. Não operacionais Inclui valores considerados fora das atividades principais da empresa, como, por exemplo, ganhos ou perdas na baixa de imobilizados e ganhos ou perdas na baixa de investimentos. 2. INSUMOS ADQUIRIDOS DE TERCEIROS (soma dos itens 2.1 a 2.4) 2.1. Matérias-primas consumidas São aquelas incluídas no custo do produto vendido. 2.2. Custos das mercadorias e serviços vendidos Não inclui gastos com pessoal próprio. Considerar os impostos (ICMS e IPI) incluídos no momento das compras, recuperáveis ou não. 5 10 15 20 25 64 Unidade III Re vi sã o: A na - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 9/ 08 /1 0 -| |- 2 ª R ev isã o: A na M ar ia - C or re çã o: F ab io 1 9/ 09 /1 0 2.3. Materiais, energia, serviços de terceiros e outros Inclui valores relativos às aquisições e pagamentos a terceiros. Considerar os impostos (ICMS e IPI) incluídos no momento das compras, recuperáveis ou não. 2.4. Perda/Recuperação de valores ativos Inclui valores relativos ao valor de mercado de estoques, investimentos etc. 3. VALOR ADICIONADO BRUTO É a diferença entre os itens 1 e 2. 4. RETENÇÕES 4.1. Depreciação, amortização e exaustão Incluir a despesa contabilizada no mês. 5. VALOR ADICIONADO LÍQUIDO PRODUZIDO PELA ENTIDADE É a diferença entre os itens 3 e 4. 6. VALOR ADICIONADO RECEBIDO EM TRANSFERÊNCIA (soma dos itens 6.1 e 6.2) 6.1. Resultado de equivalência patrimonial Inclui valores recebidos como dividendos relativos a investimentos avaliados ao custo. 6.2. Receitas financeiras Inclui todas as receitas financeiras, independentemente de sua origem. 5 10 15 20 65 ContabIlIdade FInanCeIra 7. VALOR ADICIONADO TOTAL A DISTRIBUIR (soma dos itens 5 e 6) 8. DISTRIBUIÇÃO DO VALOR ADICIONADO (soma dos itens 8.1 a 8.5) 8.1. Pessoal e encargos Devem ser incluídos neste item os encargos com férias, 13º salário, FGTS, alimentação, transporte, Pró-labore etc., apropriados ao custo do produto ou resultado do período. Não incluir encargos com INSS. 8.2. Impostos, taxas e contribuições Além das contribuições devidas ao INSS, imposto de renda e contribuição social, todos os demais impostos, taxas e contribuições devem ser incluídos nesse item. Os valores relativos ao ICMS e IPI devem ser considerados como os valores devidos ou já recolhidos aos cofres públicos, representando a diferença entre os impostos incidentes sobre as vendas e os valores considerados dentro do item 2 (Insumos adquiridos de terceiros). 8.3. Juros e aluguéis Devem ser consideradas as despesas financeiras e as de juros relativas a quaisquer tipos de empréstimos e financiamentos em instituições financeiras, empresas do grupo ou outras e os aluguéis (incluindo-se as despesas com leasing) pagos ou creditados a terceiros. 8.4. Juros sobre o capital próprio e dividendos Inclui os valores pagos ou creditados aos acionistas. Os juros sobre o capital próprio contabilizados como reserva devem constar no item Lucros retidos. 5 10 15 20 25 66 Unidade III Re vi sã o: A na - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 9/ 08 /1 0 -| |- 2 ª R ev isã o: A na M ar ia - C or re çã o: F ab io 1 9/ 09 /1 0 8.5. Lucros retidos/(Prejuízo do exercício) Devem ser incluídos os lucros do período destinados às reservas de lucros e eventuais parcelas ainda sem destinação específica. Exercício resolvido A Cia. EAD apresentou seu balanço patrimonial em 20X0, com os seguintes saldos: Balanço Patrimonial – 20X0 Ativo R$ Passivo + PL R$ Circulante Caixa e bancos Estoques 20.000 2.460 Patrimônio Líquido Capital 22.460 Total 22.460 Total 22.460 O saldo inicial de estoques no valor de R$ 2.460, relativo às mercadorias que serão utilizadas para revenda, proporcionou compensação de ICMS de R$ 540 (alíquota de 18%), ou seja, o valor bruto das mercadorias adquiridas foi de R$3.000. Durante o exercício social de 20X1, realizou as seguintes operações: 1. Aquisição a vista de mercadorias no valor de R$ 6.000, com incidência de 18% de ICMS. Assim, o valor das compras líquidas foi de R$ 4.920 e o do ICMS incluso no valor bruto das compras foi de R$ 1.080. 2. Venda de 70% dos estoques por R$ 12.000, com destaque para o ICMS (alíquota de 18%) de R$ 2.160, ou seja, o valor das vendas líquidas foi de R$ 9.840. 5 10 15 20 67 ContabIlIdade FInanCeIra 3. Gastos com pessoal no valor de R$ 1.700, representados por R$ 276 de contribuições devidas ao INSS e de R$ 1.424 relativos a salários, férias, 13º salário, FGTS etc. 4. Despesas administrativas correspondem ao consumo de energia elétrica no valor de R$ 800 e não foram considerados eventuais impostos sobre esse consumo. 5. O Imposto de Renda e a contribuição social foram calculados à alíquota de 33% sobre o lucro líquido. A empresa apresentou as seguintes demonstrações contábeis em 20X1: Demonstração de Resultado – 20X1 R$ Receita bruta 12.000 (-) ICMS sobre vendas (2.160) = Vendas líquidas 9.840 (-) Custo das mercadorias vendidas (5.166) = Lucro bruto 4.674 (-) Despesas operacionais Salários e encargos (1.700) Administrativas (800) = Lucro antes do IR e CS 2.174 (-) IR/CS (33%) (717) = Lucro líquido 1.457 Balanço Patrimonial – 20X1 Ativo R$ Passivo + PL R$ Circulante Caixa e bancos Estoques 23.500 2.214 Circulante ICMS a pagar IR/CS a pagar Patrimônio líquido Capital Reserva de Lucros 1.080 717 22.460 1.457 Total 25.714 Total 25.714 5 10 15 20 68 Unidade III Re vi sã o: A na - D ia gr am aç ão : F ab io - 1 9/ 08 /1 0 -| |- 2 ª R ev isã o: A na M ar ia - C or re çã o: F ab io 1 9/ 09 /1 0 Com base nas demonstrações contábeis e informações adicionais, a DVA é a seguinte: Demonstração do valor adicionado do exercício de 20X1 1. RECEITAS 12.000 1.1 Vendas de mercadorias, produtos e serviços 12.000 1.2 Provisão para devedores duvidosos – Reversão/(Constituição) 1.3 Não Operacionais 2. INSUMOS ADQUIRIDOS DE TERCEIROS (inclui os valores dos impostos – ICMS e IPI) 7.100 2.1 Matérias-primas consumidas 2.2 Custos das mercadorias e serviços vendidos 6.3004 2.3. Materiais, energia, serviços de terceiros e outros 800 2.4 Perda / Recuperação de valores ativos 3. VALOR ADICIONADO BRUTO (1 – 2) 4.900 4. RETENÇÕES 4.1 Depreciação, amortização e exaustão 5. VALOR ADICIONADO LÍQUIDO PRODUZIDO PELA ENTIDADE (3 – 4) 4.900 6. VALOR ADICIONADO RECEBIDO EM TRANSFERÊNCIA 6.1 Resultado da equivalênciapatrimonial 6.2 Receitas financeiras 7. VALOR ADICIONADO TOTAL A DISTRIBUIR (5 + 6) 4.900 8. DISTRIBUIÇÃO DO VALOR ADICIONADO 4.900 8.1 Pessoal e encargos 1.424 8.2 Impostos, taxas e contribuições 2.0195 8.3 Juros e aluguéis 8.4 Juros sobre capital próprio e dividendos 8.5 Lucros retidos/(prejuízo do exercício) 1.457 4 Refere-se ao valor bruto de aquisição das mercadorias que foram para o resultado do exercício, ou seja, é o valor do custo das mercadorias vendidas acrescido dos respectivos impostos incidentes no momento das compras. Na DRE, esse custo foi de R$ 5.166 e, claro, não incluiu os valores relativos ao ICMS. Esse valor corresponde a 70% das mercadorias disponíveis para venda (R$ 7.380), ou seja, os estoques iniciais de R$ 2.460 e as compras do período no valor de R$ 4.920. Na DVA, o custo das mercadorias vendidas deve ser apresentado, considerando-se o valor do ICMS incidente no momento da aquisição. Portanto, o valor desse item é de R$ 6.300, que correspondem ao custo das mercadorias vendidas de R$ 5.166 e R$ 1.134 de ICMS, incidentes no momento da aquisição das mercadorias que ora estão sendo vendidas. 5 Corresponde à parcela da riqueza criada pela empresa e destinada ao governo. É a soma do IR/CS no valor de R$ 717, do ICMS líquido de R$ 1.026 (diferença entre R$ 2.160 sobre as vendas e R$ 1.134 incidentes nas mercadorias adquiridas e vendidas) e da contribuição ao INSS de R$ 276 devida pela empresa.
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