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A FAMÍLIA E O DESENVOLVIMENTO INDIVIDUAL – livro 
O problema é tão delicado e tão complexo que não podemos esperar obter quaisquer resultados de nossas reflexões se não pressupusermos que a criança em questão esteja sendo cuidada por uma mãe suficientemente boa. Só na presença dessa mãe suficientemente boa pode a criança iniciar um processo de desenvolvimento pessoal e real. Se a maternagem não for boa o suficiente, a criança torna-se um acumulado de reações à violação; o self verdadeiro da criança não consegue formar-se, ou permanece oculto por trás de um falso self que a um só tempo quer evitar e compactuar com as bofetadas do mundo. Ignoremos esta complicação, e consideremos apenas aquela criança que, tendo uma mãe boa o suficiente, pode começar s eu desenvolvimento. Acerca dessa criança, eu afirmaria: seu ego é simultaneamente fraco e forte. Tudo depende da capacidade da mãe de dar apoio ao ego, O ego da mãe está em harmonia com o ego do filho, e ela só é capaz de dar apoio se for capaz de orientar-se para a criança, segundo o processo que já descrevi em parte.Quando o par mãe-filho funciona bem, o ego da criança é de fato muito forte, pois é apoiado em todos os aspectos, O ego reforçado (e, portanto, forte) da criança é desde muito cedo capaz de organizar defesas e desenvolver padrões pessoais fortemente marcados por tendências hereditárias. Essa imagem do ego fraco e forte aplica-se também ao caso dos pacientes (crianças e adultos) que estão regredidos e dependentes na situação terapêutica concentrar-me-ei, porém, na descrição da criança. É esta criança, cujo ego é forte devido ao apoio do ego da mãe, que cedo torna-se verdadeiramente ele mesmo ou ela mesma. Se o apoio do ego da mãe não existe, ou é fraco, ou intermitente, a criança não consegue desenvolver-se numa trilha pessoal; o desenvolvimento passa então, como já disse, a estar mais relacionado com uma sucessão de reações a colapsos ambientais que com as urgências internas e fatores genéticos, Os bebês bem cuidados rapidamente estabelecem-se como pessoas, cada um deles diferente de todos os outros que já existiram ou existirão, ao passo que os bebês que recebem apoio egoico inadequado ou patológico tendem a apresentar padrões de comportamento semelhantes (inquietude, estranhamento, apatia, inibição, complacência). Na situação de terapia infantil, o profissional é não raro recompensado pelo surgimento de uma criança que, pela primeira vez, é um indivíduo.
Este tanto de teoria é necessário se se quiser compreender esta estranha realidade em que vivem as crianças: realidade esta e m que nada ainda distinguiu-se como não-eu, de modo que ainda não existe um EU. A identificação é aqui aquilo com que a criança começa. Não significa que a criança se identifica com a mãe, mas que não há conhecimento da mãe ou de qualquer objeto externo ao self; e mesmo essa afirmação não pode ser considerada correta, pois não existe ainda um self. Poder-se-ia dizer que, neste estágio, o self da criança é apenas 
potencial. Retornando a este estado, o indivíduo torna-se fundido co m o seif da mãe. O self de cada criança ainda não se formou, e logo não pode ser visto como estando fundido, mas as memórias e expectativas podem agora começar a acumular-se e formar-se. Devemos lembrar que estas coisas só ocorrem quando o ego da criança é forte, por ser reforçado.
Ao considerarmos esse estado da criança, devemos retroceder um estágio além do que costumamos fazer. Por exemplo: sabemos o que é a desintegração, e isso nos conduz facilmente à idéia de integração. Mas no presente 
contexto, para expressar o que queremos dizer, precisamos de uma palavra como não- integração. Do mesmo modo, conhecemos a despersonalização, o que facilmente nos leva a intuir a existência de um processo de construção da pessoa, um processo de estabelecimento de uma união ou vínculo entre o corpo, ou as funções corporais, e a psi que (independente do que isso possa significar). Mas, ao considerar mos o crescimento primordial, temos que conceber que um tal problema ainda nem sequer chegou a colocar-se para a criança, cuja psique está apenas começando a elaborar-se em torno do funcionamento corporal.
Ou ainda: temos conhecimento das relações objetais, e daí facilmente chegamos à idéia de um processo pelo qual se estabeleça a capacidade de relacionar-se com objetos. Mas é necessário concebermos um estado anterior ao momento em que a noção de objeto passa a ter sentido para a criança, muito embora a criança se satisfaça 
relacionando-se com algo que vemos como sendo um objeto, ou a que poderíamos chamar objeto parcial.
Essas questões muito primitivas começam quando a mãe, identificando-se com seu filho, é capaz e tem vontade de dar apoio no momento em que for necessário.
CAPÍTULO 6 - FATORES DE INTEGRAÇÃO E DESINTEGRAÇÃO
NA VIDA FAMILIAR
Não haveria nada de novo em afirmar que a família é um dado essencial de nossa civilização. O modo pelo qual organizamos nossas famílias demonstra na prática o que é a nossa cultura, assim como uma imagem do rosto é suficiente para retratar o indivíduo. A família nunca deixa de ser importante, e é responsável por muitas de nossas viagens. Nós escapamos, emigramos, trocamos o sul pelo norte e o leste pelo oeste devido à necessidade de nos libertarmos; e depois viajamos periodicamente de volta para casa para renovar o contato com a família. Passamos boa parte do tempo escrevendo cartas, mandando telegramas, telefonando e ouvindo histórias sobre nossos parentes; e, em épocas de tensão, a maior parte das pessoas permanece leal às famílias e desconfiada dos estranhos.
Mas, não obstante todo esse conhecimento empírico, a família é algo que pede por um estudo mais detalhado. 
Como psicanalista, estudando detalhadamente o desenvolvimento emocional, aprendi que cabe a cada indivíduo empreender a longa jornada que leva do estado de indistinção com a mãe ao estado de ser um indivíduo separado, relacionado à mãe, e ao pai e à mãe enquanto conjunto. Daí o caminho segue pelo território conhecido como 
família, que tem no pai e na mãe suas principais características estruturais. A família tem s eu próprio crescimento, e a pequena criança experimenta mudanças que advêm da gradual expansão e das tribulações familiares. A família protege a criança do mundo; este, porém, aos poucos vai se introduzindo: as tias e tios, os 
vizinhos, os primeiros grupinhos de crianças, e por fim a escola. Essa introdução gradual do ambiente externo é a melhor maneira de levaruma criança a entrar em bons termos com o mundo mais vasto, e segue de modo exato o padrão pelo qual a mãe apresenta à criança a realidade externa.
Sei que nossos familiares são muitas vezes um estorvo, e que não raro gememos s ob o peso de nossas relações com eles, peso esse que pode dobrar-nos até a morte. Mas eles são importantes para nós . Basta observar os problemas que acometem homens e mulheres privados de relações familiares (como, por exemplo, no caso de certos refugiados e certos filhos ilegítimos) para perceber que a ausência de familiares de quem possamos reclamar, a quem possamos amar, odiar ou temer constitui uma deficiência terrível, podendo levar a uma tendência a desconfiar até dos vizinhos mais inofensivos.
Donald W. Winnicott

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