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Economia Brasileira - Aula 2

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ECONOMIA BRASILEIRA 
AULA 2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Roberto Luiz Remonato 
 
 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
Ascensão e queda da Primeira República 
Nesta aula, será analisado como foi o início e a evolução institucional da 
Primeira República brasileira. Para tanto, primeiramente, vamos analisar como se 
deu o processo de transição institucional após a Revolução de 1889 com o início do 
período republicano. Em seguida, iniciaremos um estudo mais detalhado dos 
principais governantes dos períodos conhecidos como República da Espada, a 
economia cafeeira, a República do Café-com-Leite, a Economia Cafeeira e, por fim, 
as origens do processo de industrialização. 
Após esta aula, o aluno estará capacitado a explicar como nossa República 
foi influenciada pelo estrangeirismo e pronto para analisar criticamente o pacto 
político entre Minas Gerais e São Paulo, realizando a conexão dos eventos políticos 
históricos com instituições contemporâneas e argumentando sobre o peso do café 
no cenário econômico brasileiro. 
TEMA 1 – O PROCESSO DE TRANSIÇÃO 
A República brasileira nasceu da mesma forma que se deu o processo da 
Independência em 1822. Isto é, sem a participação do povo e por meio da 
articulação de diferentes grupos influentes, cada qual com motivações claramente 
distintas para inflexão institucional que propunham, ocasionando que a República 
em seu início era carente de maturidade ideológica própria. Nesse sentido, os 
líderes do movimento tentaram aplicar no Brasil receitas que outras nações haviam 
desenvolvido para si, segundo as suas próprias histórias. Faoro (2009) cita que, da 
Europa eles trouxeram a ideologia do liberalismo econômico, uma posição 
antagônica àquela adotada pelo nosso vizinho do Norte, os Estados Unidos da 
América, que, como nós, eram uma nação nova. Os norte-americanos defendiam 
que um país em desenvolvimento precisava ter um período de políticas econômicas 
protecionistas antes de adotar um sistema institucional liberalista porque, segundo 
eles, sem um elemento de proteção, o crescimento da nação mais nova seria 
subjugado, pois ela seria muito frágil para conseguir enfrentar concorrências 
daqueles que já haviam se beneficiado do processo de amadurecimento no decorrer 
da história. O Brasil apostou no comércio sem barreiras, algo bem favorável aos 
interesses dos produtores de café, pois facilitava suas vendas internacionais, 
 
 
3 
embora isso fosse questionável para o fomento da manufatura brasileira. 
Da matriz norte-americana, os republicanos brasileiros buscaram a base para 
o nome do país, a estrutura constitucional e a primeira bandeira nacional. Com 
relação à matriz constitucional, a base utilizada ficou inalterada até 1930 (quando 
tivemos o golpe de 1930); já o nome Estados Unidos do Brasil somente foi mudado 
para República Federativa do Brasil em 1967 (pelos eventos do golpe militar de 
1964). 
Seja como for, copiando, resgatando influências históricas ou até mesmo 
criando símbolos, importa para nós que, no dia 15 de novembro de 1889, iniciou-se 
uma nova fase para o país, cujo princípio recebeu duas alcunhas distintas: a da 
República da Espada (até 1891) e a da República do Café-com-leite (até 1930). 
Mal teve início a República e já tivemos alguns problemas, como veremos no 
tema que se segue. 
TEMA 2 – A REPÚBLICA DA ESPADA 
No começo da República aconteceu que a primeira eleição para presidente, 
segundo a Constituição, seria pelo voto direto, porém Marechal Deodoro, chefe 
provisório do Brasil no período pós-monarquia, resolveu que ele próprio deveria ser 
o presidente do Brasil. Para garantir que seu desejo se realizasse, impôs que a 
primeira eleição fosse por voto indireto e, a partir daí, fez uso de força militar para 
assegurar sua vitória, pois, caso não ganhasse, deixou bem claro que fecharia o 
Congresso Nacional. 
Em seu governo, o marechal alagoano Deodoro da Fonseca precisou 
enfrentar vários problemas gerados pelo fim da escravidão ao término do período 
imperial, entre eles, a questão da falta de liquidez que se fez sentir pelo crescimento 
da mão de obra assalariada. Faltava moeda nos bancos para atender às 
necessidades dos proprietários de terras para a realização de pagamentos dos 
imigrantes que haviam substituído o trabalho escravo. Isso também gerava falta de 
dinheiro para fomentar as transações urbanas e a industrialização do país. 
A emissão de novas moedas naquela época, pela linha do pensamento 
ortodoxo, era condicionada pela quantidade de ouro que o país tinha; portanto, para 
imprimir mais moeda, era preciso dispor de mais ouro ou de moeda equivalente a 
ouro. Todavia, existia uma linha não ortodoxa entre os governistas que defendia a 
emissão da moeda fiduciária (de confiança), pois, segundo seus paradigmas, essa 
iniciativa fomentaria o desenvolvimento ao atender à demanda da população por 
 
 
4 
papel-dinheiro. Os ortodoxos eram os metalistas, e os da moeda fiduciária, os 
papelistas. Deodoro precisava se entender com as correntes econômicas metalistas 
e a dos papelistas, e optou pelos argumentos dos papelistas, os quais eram 
representados por seu Ministro da Fazenda, o já ilustre Rui Barbosa, que, assim, 
mandou emitir mais papel moeda, resultando em um problema para a economia. A 
ideia de Rui Barbosa era muito boa; segundo sua lógica, o aumento da liquidez 
resolveria os problemas dos salários agrícolas e, ainda, fomentaria a 
industrialização do país. No entanto, o jogo político aliado ao comportamento 
oportunista de certos membros da sociedade minou a nobre intenção de Rui 
Barbosa. 
A euforia e o descontrole do crédito foram de tal proporção que a crise 
econômica gerada custou o cargo de ministro de Rui Barbosa e, igualmente, 
enfraqueceu a imagem de Deodoro no cenário político. Desprovido de traquejo 
político, tentava conduzir o país por meio da força e, com isso, em vez de alcançar 
vitórias, acabou conquistando desafetos no governo e isolamento político. Diante 
disso, o Marechal Deodoro da Fonseca, que, em 1889, fora tido como herói do Brasil 
por destituir Dom Pedro II do poder, precisou renunciar! 
No dia 23 de novembro de 1891, mediante a renúncia de Deodoro, tomou 
posse o vice-presidente, o Marechal Floriano Peixoto. Como Deodoro tinha ficado à 
frente do governo por menos de dois anos, Floriano deveria convocar uma nova 
eleição. Mesmo contra a Constituição, Floriano resolveu que iria ficar até o término 
do mandato de Deodoro. Sua decisão dividiu o exército, com alguns o apoiando e 
outros não. 
Nesse cenário, era difícil uma empresa planejar as ações em uma nação com 
tantas incertezas, fosse pelo ambiente econômico que demonstrava sinais explícitos 
de descontrole, fosse pelos líderes que desrespeitavam abertamente a Constituição 
que tinham jurado defender, fosse pelas Forças Armadas, que tinham tantos atritos 
internos que chegavam ao ponto de ameaçar a sociedade, entre outros. 
Para pacificar a crise política na Região Sul, veio Prudente de Moraes (1894-
1898) e, para a crise econômica brasileira, Campos Sales (1898-1902), ambos 
eleitos pelo voto direto, com o que se deu o início da República do Café-com-leite. 
TEMA 3 – A REPÚBLICA DO CAFÉ-COM-LEITE 
A segunda fase da Primeira República, a do Café-com-leite – assim 
denominada por causa da força política de São Paulo (café) e de Minas Gerais (leite) 
 
 
5 
– iniciou-se com Prudente de Morais, que precisou enfrentar alguns problemas de 
invasão estrangeira no território brasileiro, todos resolvidos com o emprego de 
instrumentos diplomáticos internacionais (arbitragem). Resumidamente, ele 
gerenciou as crises econômicas e diplomáticas, diferentemente do papel mais ativo 
que teria seu sucessor, Campos Sales. 
Campos Sales teve a seu favor um cenário de maior tranquilidade na questão 
das revoltas internas e externas. Sua primeira preocupação foi alcançar o equilíbrio 
financeiroperdido com o encilhamento e acalmar os credores internacionais. Fez 
isso renegociando a dívida do Brasil no exterior e dando novas garantias, 
assumindo o compromisso de aplicação de políticas mais ortodoxas na condução 
econômica: (I) queda real do valor salarial, (II) aumento da carga tributária e (III) 
redução das despesas do governo. Para aplicar tais políticas, precisava do apoio 
de Minas Gerais, que, além de sua importância econômica, também tinha a 
expressiva representação política no país. A moeda de troca do dirigente do país 
para o apoio da elite mineira foi a alternância do governo federal entre os indicados 
pelos paulistas e os indicados pelos mineiros. 
O próximo presidente, o paulista Rodrigues Alves, foi o primeiro presidente 
alavancado pela máquina política da Republica do Café-com-leite. Ele assumiu o 
governo em um contexto economicamente favorável, graças tanto às medidas 
tomadas por seu antecessor quanto ao bom momento do cenário internacional para 
o café e para a borracha, produtos que conferiam ao Brasil a posição de maior 
produtor mundial, respectivamente, com 75% e 97% de todo o volume produzido. 
Dadas as liberdades financeiras, ocupou-se com a reurbanização da cidade 
do Rio de Janeiro, principalmente do centro, o que levou à retirada das classes 
proletárias do centro da capital e a migração de mão de obra para as obras de 
restruturação da capital acabaram, indiretamente, promovendo o surgimento das 
atuais favelas do Rio. Chegando ao término de seu governo e cumprindo o acordo 
selado por Campos Sales, indicou para sucessão o candidato apresentado por 
Minas, seu vice, o advogado Afonso Pena. 
Nesta época (1906), o Brasil produziu cerca de 21mi de sacas de um total 
mundial de 25mi. A supersafra brasileira derrubou os preços internacionais. O que 
não seria de todo mal se o café não tivesse, naquela época, uma demanda inelástica 
ao preço. 
 
 
 
6 
Saiba mais 
Elasticidade é um indicador do nível de sensibilidade de um produto; aqui, 
especificamente, trata do impacto das variações do preço de venda na demanda. 
Esse indicador é uma razão entre o valor da variação percentual da quantidade de 
venda (a demanda) em relação à variação percentual do preço, como demonstra a 
fórmula: 
 
 > 1 indica que, quando há uma unidade de variação no preço, isso gera uma 
variação na quantidade maior que 1%; ou seja, a quantidade demandada é elástica 
ao preço (a quantidade estica quando há variação no preço). 
< 1) indica inelasticidade da demanda (a quantidade demandada não estica 
tanto quando temos variação no preço). Para você ter uma ideia do tamanho do 
impacto, o problema da queda do preço do café não era apenas uma questão de 
interesse da oligarquia cafeeira, era muito mais que isso, tratava-se de um assunto 
de interesse nacional. 
Como exemplo da inelasticidade do café, observou-se que a quantidade per 
capita de consumo de café nos EUA, um dos nossos maiores clientes naquela 
época, praticamente se manteve inalterada nos períodos antes, durante e depois 
da crise financeira de 1929. Esse dado é interessante, pois, nesse intervalo de 
tempo, o preço do café havia caído e subido, e a renda média dos norte-americanos 
tinha aumentado e diminuído; ainda, haviam se formado cenários muito favoráveis 
ao aumento do consumo da bebida, em que eram verificados renda alta e preço 
baixo. Contudo, as pessoas não beberam mais ou menos café só porque ele ficou 
mais barato ou mais caro e, tampouco, porque elas estavam mais ricas ou mais 
pobres. Portanto, tudo indicava que realmente o café era, no início do século XX, 
um produto com demanda inelástica ao preço e, sendo assim, uma questão delicada 
para o governo federal. 
No governo seguinte, de Hermes da Fonseca (1910), novos empréstimos 
foram contraídos pelo Brasil no exterior a fim de garantir o controle dos preços do 
café e investimentos na infraestrutura brasileira – como linhas telegráficas e férreas. 
Nessa época, no lugar das inversões de capital em tecnologias que 
aconteciam na Europa, o que se viu no Brasil foi a promoção de uma cultura em 
extensão de terras, as quais eram mantidas pelo uso intensivo de mão de obra. 
 
 
7 
O Brasil teve excedentes de produção de café em todos os anos de 1926 a 
1930. As maiores diferenças entre a produção e a exportação ocorreram em 1927 
e 1929, pois em cada um desses anos foram mais de 14 milhões de sacas de 
excedente. Ao fazer uma média do que foi exportado no período, obtém-se o valor 
de 14,5 milhões de sacas. Isso significa que apenas os excedentes de produção já 
atenderiam a dois anos de exportação. Em 1927 e 1929, a produção foi o dobro do 
que se precisava. Portanto, as contínuas supersafras e os persistentes volumes de 
estoque eram um grande problema para o Brasil em um cenário de crise financeira. 
TEMA 4 – A ECONOMIA CAFEEIRA 
Segundo Lacerda, Rego e Marques (2010, p. 32), o grande volume de 
imigrantes europeus que vieram para o Brasil a partir da década de 1870 resolveu 
o problema de mão de obra e estabilizou o mercado de trabalho. Havia vastas 
regiões do Estado de São Paulo que estavam desocupadas e com a expansão de 
uma rede ferroviária acontecendo à medida que havia necessidade de se ocuparem 
terras novas para cultivo. Desta maneira, a cultura do café não enfrentou nenhuma 
crise mais séria de falta de mão de obra, tampouco de falta de terra. 
Os mesmos autores citam que 
métodos produtivos rudimentares eram perfeitamente adequados, sem 
reclamar nenhuma mudança que exigisse absorção de recursos de capital 
para o prosseguimento dessa empresa, cuja aplicação mais lucrativa 
encontrava-se na esfera comercial. Visto que a formação da lavoura e a 
produção de café necessitavam de financiamento, coube ao comerciante 
ocupar o espaço deixado pela inexistência de vínculos diretos entre o 
fazendeiro e os bancos. (Lacerda; Rego; Marques, 2010, p. 32) 
O mecanismo de financiamento da produção nas lavouras de café, na visão 
de Lacerda, Rego e Marques (2010, p. 32), tinha um vínculo profundo na 
comercialização. Os comerciantes eram os que financiavam a lavoura e, dessa 
maneira, assumiam um papel de protagonistas, pois os fazendeiros de café 
dependiam desta figura para realizar seus lucros com a venda do produto e obter 
os recursos financeiros necessários à produção. 
Ainda segundo Lacerda, Rego e Marques (2010, p. 38, 41-42), 
com a expansão da lavoura e o consequente aumento do volume de 
negócios, as somas emprestadas cresceram e passaram a exigir garantias 
mais sólidas. A introdução do trabalho livre nas fazendas paulistas 
desencadeou um mecanismo expansionista sem precedentes na lavoura 
e, como consequência, revelou-se mais claramente a insuficiência do 
sistema de financiamento. A utilização em massa do trabalho assalariado 
representou a primeira fase de desenvolvimento do capitalismo no Brasil. 
 
 
8 
A formação do mercado de trabalho assalariado adquiriu um ritmo mais 
intenso no país depois da falência definitiva do sistema escravista. A 
abolição da escravatura em 1888 e uma série de cataclismos sociais e 
econômicos no último quartil daquele século resultaram no aumento do 
número de pessoas que não tinham fontes de rendimentos permanentes 
para sua subsistência e, muitas vezes, nem sequer domicílio. Foi 
precisamente nessa época que surgiram, no Rio de Janeiro e em algumas 
outras cidades do Brasil, as favelas. 
A necessidade de importação de imigrantes, apesar da existência de tanta 
mão de obra nativa desocupada, deu-se pelo fato de que os milhões de habitantes 
locais pauperizados, ao longo domínio do sistema escravista e de outros sistemas 
arcaicos, pela exploração impiedosa e pela opressão social das camadas dos 
despossuídos, tanto os escravos quanto os pobres livres sofreram durante várias 
gerações, que foram mutiladas moral, psicológica e fisicamente. Além disso, o 
primitivismo dos seus hábitos de trabalho,que se combinava frequentemente com 
a deficiência física, assim como tradições e costumes que lhes foram inculcados, 
criavam sérios obstáculos à exploração capitalista da mão de obra nacional. Os 
fazendeiros de café de São Paulo e os industriais principiantes do Rio de Janeiro e 
de São Paulo, durante muito tempo, preferiam admitir operários-imigrantes que já 
haviam “cursado uma escola de trabalho assalariado”, habituados a mais disciplina 
e autonomia, embora seus salários fossem mais elevados. Em contrapartida, no 
tocante aos escravos, o que aconteceu foi que a sua libertação não os transformou 
em operários assalariados, mas apenas proporcionou a criação de algumas 
condições necessárias para isso. Apenas os filhos e netos dos escravos se 
tornaram, no futuro, assalariados, mas ao custo de uma adaptação ao novo modelo 
capitalista de produção. 
Lacerda, Rego e Marques (2010, p. 44) citam que 
na periferia e dentro das principais zonas de produção agrícola existiam 
grandes maciços de terras que não pertenciam a ninguém ou tinham sido 
abandonados, o que abria à população indigente livre, que crescia cada 
vez mais, possibilidades de obter meios de subsistência. Portanto, embora 
a maioria das pessoas livres não possuísse os meios de produção, não 
estava destituída totalmente dos meios de existência, o que deu condições 
para transformar uma parte da população rural indigente em camponesa. 
Esses processos resultaram na formação de dois sistemas econômicos: 
um de economias “semifeudais” e de pequenas economias camponesas, 
que concorriam na utilização do excesso de mão de obra com o outro 
sistema, verdadeiramente capitalista. 
TEMA 5 – AS ORIGENS DA INDÚSTRIA 
Em seu livro intitulado Economia brasileira, Lacerda, Rego e Marques (2010) 
apregoam que 
 
 
9 
no Brasil, a economia capitalista e as “outras economias” que se 
desenvolviam paralelamente absorviam apenas uma parte da mão de 
obra, lançada para o mercado devido ao superpovoamento agrícola e à 
deterioração das formas econômicas anteriores. Foi precisamente isso que 
criou condições para a reprodução da pior espécie das formas pré-
capitalistas de exploração, adiando por muito tempo sua deterioração e 
decomposição definitiva, como atesta o exemplo da utilização de trabalho 
forçado em massa na Amazônia durante o ciclo da borracha, a partir do fim 
do século XIX. Centenas de milhares de pessoas recrutadas entre a 
população desempregada dos estados nordestinos foram praticamente 
reduzidas à condição de escravos, para se verem novamente 
desempregadas às vésperas da Primeira Guerra Mundial em razão da 
crise no mercado internacional. Resultaram, portanto, muito instáveis e 
passageiras também essas formas “novas” de organização da produção 
que surgiram depois do desmoronamento do sistema escravista 
Os mesmos autores enfatizam que 
o governo republicano que chegou ao poder intensificou a emissão de 
papel-moeda e concedeu maior autonomia e responsabilidades aos 
bancos privados. Durante um prazo curto, o total de recursos financeiros 
em circulação mais que duplicou. Teve início um processo inflacionário 
acompanhado de especulação nas bolsas de valores, criadas no fim do 
século XIX, em São Paulo e outras grandes cidades. Os investimentos 
estrangeiros, cujo afluxo aumentou consideravelmente a partir de meados 
do século XIX, também foram encaminhados, sobretudo, para a 
infraestrutura. No período de 1860 a 1889, por exemplo, foram concedidas 
licenças para a abertura de 137 companhias estrangeiras, 111 das quais 
eram inglesas. A maioria esmagadora das empresas foi criada na esfera 
financeira (bancos, companhias de seguros e de serviços, estradas de 
ferro, navegação, transportes urbanos, abastecimento de gás). (Lacerda; 
Rego; Marques, 2010, p. 48) 
Os fatos vistos na aula anterior – a ruina da estrutura pré-capitalista, a 
abolição dos escravos e a consequente imigração europeia em massa – levaram ao 
surgimento de um mercado de mão de obra assalariada que, por sua vez, provocou 
o nascimento, no último quarto do século XIX, dos primeiros focos de produção 
industrial Brasil. 
Segundo Lacerda, Rego e Marques (2010, p. 60), “até a década de 1930, o 
desenvolvimento capitalista do país tivera um caráter esporádico, dadas as 
condições de domínio do latifúndio semifeudal e as formas capitalistas inferiores”. 
Segundo os mesmos autores, 
o sistema de relações econômicas externas conservava o aspecto colonial 
e o afluxo de empréstimos e investimentos no início do século XIX 
contribuíra, sobretudo, para a consolidação da economia tradicional, isto 
é, pré-capitalista ou capitalista primitiva, e dos grupos sociais ligados 
àquele sistema. 
[...] A partir do último quarto do século XIX, houve um importante 
crescimento das camadas médias da população das cidades, em razão da 
aceleração da urbanização, da ampliação do aparelho de Estado, da 
formação do exército profissional moderno, da criação do sistema de 
educação, dentre outras razões. Alguns representantes dessas camadas, 
em particular os oficiais do exército, haviam desempenhado um importante 
papel nos movimentos que conduziram à abolição da escravatura e ao 
 
 
10 
estabelecimento do regime republicano. Na década de 1920, os elementos 
democráticos pequeno-burgueses, sobretudo os jovens oficiais, 
organizaram uma série de insurreições armadas contra o governo, o qual 
exprimia os interesses da oligarquia. (Lacerda; Rego; Marques, 2010, p. 
60) 
Os autores concluem que 
dos primórdios do sistema brasileiro de fazendas no século XVI até as 
vésperas do surto cafeeiro, a despeito de algumas experiências hesitantes, 
a forma dominante de organização do trabalho havia sido a escravidão. No 
momento em que aumentou a demanda dos países centrais e foi instalada 
uma rede de ferrovias que tornou possível a expansão das lavouras, não 
era mais possível manter a escravatura. Ocorreu um radical rompimento 
com o passado, quando os paulistas desenvolveram o singular sistema de 
colonato, seguindo uma receita virtualmente original, e criaram seu 
programa de imigração. Entre os fazendeiros no cume e os camponeses 
nativos e ex-escravos no fundo da estrutura social rural, emergiu uma nova 
categoria social — os trabalhadores imigrantes. Em retrospecto, fica claro 
que a solução dos fazendeiros de café para suas necessidades de força 
de trabalho, ao tempo da abolição e nas décadas seguintes, trouxe para 
São Paulo um imenso influxo de capital humano. Como força de trabalho 
agrícola e depois industrial, coprodutores para mercados locais e para 
exportação, como consumidores de bens e serviços, como pais de novas 
gerações de brasileiros, os imigrantes forneceram a base social para a 
ascensão de São Paulo à preeminência entre as regiões do Brasil. 
(Lacerda; Rego; Marques, 2010, p. 60) 
NA PRÁTICA 
Desde o período colonial até a Primeira República, podemos perceber uma 
preocupação nas políticas praticadas pelos governantes do Brasil para com os 
produtos agrícolas. Como a economia pode interpretar tal comportamento? 
Primeiramente, é necessário entender que, no período inicial da colonização 
até o ano de 1776, a economia como ciência ainda não existia. A visão que 
prevalecia nesse período era a do mercantilista: pregava-se que a riqueza nas 
transações comerciais somente seria obtida com saldos positivos no fluxo de 
metais. Seguindo essa linha lógica, Portugal considerava que, por ser a metrópole, 
precisava ganhar sempre nas transações com o Brasil, o que significava, pela ótica 
mercantilista, que devia comprar barato os produtos da colônia e vender caro os 
insumos de que esta última necessitasse. 
Assim, não era interessante para o governo português que o Brasil se 
desenvolvesse na área da manufatura, pois isso reduziria sua vantagem em relação 
à colônia agrícola. 
A partir de 1776, com o surgimento da obra A riqueza das nações, de Adam 
Smith, o modelo para o comércio internacional passou a ser o das “vantagensabsolutas”, segundo o qual o país deveria ser exportador daquilo que era mais 
 
 
11 
eficiente e, por sua vez, importar dos demais países integralmente todos os ativos 
em que detinha menor vantagem, isto é, não deveria se preocupar em produzi-los 
internamente. Isso aconteceria com o propósito de os países se especializarem 
naquilo em que eram melhores. No caso do Brasil, o país se especializaria na 
produção agrícola. 
A partir do século XIX, o modelo das vantagens comparativas de David 
Ricardo (1988) passou a prevalecer no paradigma econômico. Segundo este, os 
países deveriam fomentar a produção dos bens em que fossem mais produtivos – 
no caso brasileiro, produtos agrícolas (por exemplo, café e açúcar) – para ofertá-los 
no mercado internacional. Essa ação geraria, então, divisas para compra dos 
produtos externos e suprimento do mercado nacional naquilo em que eram menos 
competitivos. No entanto, os países não deveriam deixar de produzir tais itens, uma 
vez que o próprio mercado encontraria o equilíbrio entre o volume que deveria ser 
importado e produzido internamente. 
Podemos dizer que essa foi a linha da Primeira República, com seus surtos 
industriais, muitos dos quais sem a participação do governo para fomentar ou 
mesmo bloquear as iniciativas demonstradas pelo mercado. 
Não podemos afirmar, no entanto, que foram essas teorias que determinaram 
as decisões dos governantes das citadas épocas, mas elas eram a pauta de 
diversos debates nesses respectivos tempos. Por isso, tenha certeza de que muitos 
pensavam sobre o que foi dito. 
Tarefa 
Responda: 
1. Que marcas a colonização deixou no Brasil? 
2. Por que a cultura do café revelou-se adequada ao Brasil, tendo sido, 
durante décadas, o carro-chefe da economia brasileira? 
3. Como funcionava o sistema de financiamento da produção cafeeira? 
Quais eram suas limitações? 
4. Como foi equacionado o problema da inadequação da população nativa 
ao trabalho nas lavouras de café? 
FINALIZANDO 
Nesta aula apresentamos o início da República e seu amadurecimento entre 
o período da Espada e o fim da Política do Café-com-leite. Durante os 41 anos de 
 
 
12 
existência da Primeira República, quase todos os governos foram exercidos em 
meio a revoltas civis, confrontos com partições militares e crises econômicas 
(principalmente pelos excessos da produção cafeeira). A partir de Campos Sales, 
um acordo com Minas Gerais e São Paulo foi elaborado para garantir a permanência 
de políticos aliados no governo para a manutenção dos interesses institucionais 
desenhados pelas lideranças da época. Observou-se que as decisões tomadas, em 
geral, não eram necessariamente para atender aos anseios da elite agrária, mas, 
sim, para proteger a economia brasileira como um todo. 
 
 
 
 
13 
REFERÊNCIAS 
ABREU, M. de P. (Org.). A ordem do progresso: dois séculos de política 
econômica no Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. 
CYSNE, R. P. (Org.). Plano real ano a ano. Rio de Janeiro: FGV, 1998. 
FAORO, R. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. 4. ed. 
São Paulo: Globo, 2009. 
LACERDA, A. C.; RÊGO, J. M.; MARQUES, R. M. Economia brasileira. 4. ed. SP: 
Saraiva, 2010. 
MARIANO, J. Introdução à economia brasileira. São Paulo: Saraiva, 2005. 
PIRES, M. C. Economia brasileira – da Colônia ao Governo Lula. 1. ed. São Paulo: 
Saraiva, 2010. 
SILVA, E. Formação econômica do Brasil. Curitiba: InterSaberes, 2016. 
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