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1 FUNDAMENTOS DE GENÉTICA HUMANA E DAS POPULAÇÕES 2 Fundamentos de genética humana e das Populações copyright © FTC EaD Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/98. É proibida a reprodução total ou parcial, por quaisquer meios, sem autorização prévia, por escrito, da FTC EaD - Faculdade de Tecnologia e Ciências - Ensino a Distância. www.ftc.br/ead ♦PRODUÇÃO ACADÊMICA♦ Gerente de Ensino ♦ Jane Freire Coordenação de Curso ♦ Letícia Machado Autor (a) ♦ Graziela Santino Ribeiro Modesto Supervisão ♦ Ana Paula Amorim Coordenação de Curso ♦ Letícia Machado ♦PRODUÇÃO TÉCNICA ♦ Revisão Final ♦ Carlos Magno Brito Almeida Santos Coordenação ♦ João Jacomel Equipe ♦ Ana Carolina Alves, Cefas Gomes, Delmara Brito, Fabio Gonçalves, Francisco França Júnior, Israel Dantas, Lucas do Vale e Mariucha Ponte. Editoração ♦ Mariucha Silveira Ponte Imagens ♦ Corbis/Image100/Imagemsource Ilustrações ♦ Mariucha Silveira Ponte EQUIPE DE ELABORAÇÃO/PRODUÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO: Presidente ♦ Vice-Presidente ♦ Superintendente Administrativo e Financeiro ♦ Superintendente de Ensino, Pesquisa e Extensão ♦ Superintendente de Desenvolvimento e>> Planejamento Acadêmico ♦ SOMESB Sociedade Mantenedora de Educação Superior da Bahia S/C Ltda. FTC - EaD Faculdade de Tecnologia e Ciências - Ensino a Distância Diretor Geral ♦ Diretor Acadêmico ♦ Diretor de Tecnologia ♦ Diretor Administrativo e Financeiro ♦ Gerente Acadêmico ♦ Gerente de Ensino ♦ Gerente de Suporte Tecnológico ♦ Coord. de Softwares e Sistemas ♦ Coord. de Telecomunicações e Hardware ♦ Coord. de Produção de Material Didático ♦ Waldeck Ornelas Roberto Frederico Merhy Reinaldo de Oliveira Borba André Portnoi Ronaldo Costa Jane Freire Jean Carlo Nerone Romulo Augusto Merhy Osmane Chaves João Jacomel Gervásio Meneses de Oliveira William Oliveira Samuel Soares Germano Tabacof Pedro Daltro Gusmão da Silva 3 COMPREENSÃO DA GENÉTICA CLÁSSICA: SEUS CONCEITOS, SUA APLICABILIDADE E REPRESENTAÇÕES GRÁFICAS INTRODUÇÃO À CIÊNCIA DA GENÉTICA O papel da genética na contemporaneidade – perspectivas históricas. Reprodução como base da hereditariedade Conceitos fundamentais da genética – uma visão geral O DNA como estrutura molecular dos cromossomos Mendelismo: o princípio básico da herança Princípio da segregação de um par de alelos – 1ª lei Princípio da segregação independente de dois pares de alelos – 2ª lei Probabilidade na herança mendeliana e análise de heredogramas SUMÁRIOSUMÁRIOSUMÁRIOSUMÁRIOSUMÁRIO 07 07 07 10 18 31 31 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ANÁLISE DA GENÉTICA CLÁSSICA 35 33○ ○ ○ ○ ○ ○ 21○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 38 A GENÉTICA E SEUS AVANÇOS TRILHANDO NOVOS CAMINHOS PARA O FUTURO ○ ○ ○ ○ ○ ○ 42 42○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ EXTENSÕES DO MENDELISMO: CARACTERIZAÇÃO DAS HERANÇAS AUTOSSÔMICA E HETEROSSÔMICA 4 Fundamentos de genética humana e das Populações Variações nas proporções mendelianas Ação gênica: do genótipo ao fenótipo. Reconhecimento das mutações gênicas e cromossômicas Estudo da genética de populações 53○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 54○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Biotecnologia – avanços no estudo da genética Mapeamento gênico e suas aplicabilidades Contribuições da genética para a melhoria da qualidade de vida. Dilemas éticos na genética moderna Atividade Orientada Glossário Referências Bibliográficas 58○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 58○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ OS AVANÇOS DA GENÉTICA E SUAS CONTRIBUIÇÕES NA SOCIEDADE 58○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 62○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 63○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 66 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 71○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 73○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 51○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 42○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 5 Caro aluno, Para os amantes da Genética, ela representa a perfeição que, a cada dia, nos fascina e enlouquece com a capacidade que tem de transformar-se. Essa ciência deixou o rol das discussões acadêmicas, passando a ser discutida no dia-a-dia graças ao seu amplo espectro de ação e ao fato de seus avanços influenciarem na vida de todos nós. Como as novidades na área da Genética são constantes, a proposta deste módulo não é a de ensinar o “novo”, haja vista que não é possível que um material impresso caminhe ao lado de cada descoberta. Pretende-se, sim, contribuir para que você, futuro educador, a partir de discussões que causem reflexão, desperte seu senso crítico e a capacidade de interferir no mundo, tenha mais um instrumento para compreender porquê o conhecimento dessa ciência é tão valorizado atualmente. Além do texto-base, há dedicação especial às atividades, que são divididas em complementares, que visam à fixação do conteúdo bordado, e orientadas, que objetivam a avaliação do seu conhecimento global sobre o que já foi estudado. Haverá, ao final do período, uma prova que avaliará seu desempenho na disciplina. Espero que este módulo atenda às suas expectativas, contribuindo para o seu desempenho acadêmico. Caso tenha críticas e/ou sugestões, não hesite em entrar em contato. Bom desempenho na matéria! Profª. Graziela Santino Apresentação da Disciplina 6 Fundamentos de genética humana e das Populações 7 COMPREENSÃO DA GENÉTICA CLÁSSICA: SEUS CONCEITOS, SUA APLICABILIDADE E REPRESENTAÇÕES GRÁFICAS INTRODUÇÃO À CIÊNCIA DA GENÉTICA O Papel da Genética na Contemporaneidade – Perspectivas Históricas Experimentos com ervilhas Embora existam pesquisas antecedendo os trabalhos mendelianos, atribui-se ao austríaco Gregor Johann Mendel (1822 - 1884) o pioneirismo das pesquisas genéticas. Mendel fora monge, passando um grande período de sua vida no mosteiro agostiniano de São Tomás, na República Tcheca, chamada Brno na época. Nesse local, por volta de 1856 e 1865, ele realizou vários experimentos com ervilhas Pisum sativum a fim de compreender os mecanismos da transmissão de características à descendência. Ele sugeriu que as células apresentavam pares de fatores da hereditariedade, sendo que cada par determinava uma característica. O tratamento estatístico que Mendel deu à análise da transmissão dos caracteres ao longo das gerações de ervilhas foi de suma importância para que ele pudesse propor hipóteses e proporções esperadas nas características da descendência. Mendel não conseguiu, entretanto, conceituar o mecanismo biológico envolvido na transmissão dos fatores hereditários. Vale ressaltar que a escolha da espécie de ervilha foi extremamente vantajosa aos estudos genéticos em função de o cultivo ser bastante simples, da facilidade de distinção entre as diferentes variedades, da elevada taxa de fertilidade entre as mesmas e do ciclo de vida ser curto, favorecendo a obtenção de numerosa descendência. 8 Fundamentos de genética humana e das Populações Redescoberta dos trabalhos de Mendel Todo o trabalho de Mendel com as ervilhas, enunciando as leis da hereditariedade, foi apresentado à Sociedade de História Natural de Brünn em 1865, e, embora publicado no ano seguinte, não teve sua importância notada pela comunidade científica da época. As leis de Mendel só despertaram a atenção da ciência quando, em 1900, os botânicos Hugo de Vries, Carl Correns e Eric VonTschermak-Seysenegg descobriram, simultaneamente, a obra mendeliana embora se encontrassem trabalhando em diferentes localidades, respectivamente, Holanda, Alemanha e Áustria. Conquanto esses pesquisadores tenham testado o trabalho de Mendel em experimentos próprios e independentes, fora unânime a referência a Gregor Mendel em suas obras. A partir da redescoberta dos experimentos mendelianos, as discussões sobre a hereditariedade tornam-se mais freqüentes. Essa nova área da ciência passa, então, a ser reconhecida pelo nome de genética, como a denominou William Bateson em 1905. O conceito de gene Em seus experimentos com ervilhas, Mendel constatou que certas características predominavam na descendência, mas, ao mesmo tempo, parecia que cada uma delas era controlada por um fator hereditário existente na forma dominante e na forma recessiva. A visão mendeliana dos fatores pareados foi bastante difundida por Bateson, que passou a denominá-los de “alelomorfos”. Graças a Wilhelm Johannsen, em 1909, modernamente, denominam-se alelos o que Mendel denominava de fatores de herança. Em 1908, o inglês Archibald Garrot relacionou a relação entre o gene e a síntese protéica específica. Esse médico estudava a alcaptonúria, doença em que os afetados não conseguem decompor a alcaptona, substância que passa, então a acumular-se nas fibras cartilaginosas e colágenas dos tecidos conjuntivos, provocando escurecimento do palato, da urina e dos olhos, bem como degeneração da coluna vertebral e nas regiões articulares principais. A interpretação de Garrot foi a de que havia um erro inato no metabolismo dos afetados cuja causa seria a ausência de certa enzima capaz de decompor a alcaptonúria. A partir dos trabalhos de Garrod, Beadle e Tatum formularam a hipótese de “um gene uma enzima”, trabalhando com indução de mutações no bolor do pão (Neurospora crassa) através da exposição de seus esporos aos raios X. 9 Estudos posteriores revelaram que as enzimas são proteínas, mas, que, ao contrário, nem toda proteína é enzima. Dessa forma, substituiu-se a hipótese “um gene uma enzima” por “um gene, uma proteína”. Vale ressaltar que algumas proteínas são constituídas por mais do que uma cadeia polipeptídica, como a hemoglobina, o que permite concluir que essa hipótese também não se apresentou satisfatória. A teoria cromossômica Desde 1883, Wilhelm Roux afirmava que os fatores hereditários se encontravam no núcleo celular, mais precisamente contidos nos cromossomos. Morgan sugeriu que os fatores hereditários presentes nos cromossomos se encontravam alinhados. Experimentos posteriores revelaram que o gene é parte do cromossomo. Desde quando se confirmou que realmente os cromossomos continham os genes, as pesquisas foram encaminhadas à descoberta da natureza química dos cromossomos e, conseqüentemente, dos genes. A natureza química do gene Entre as pesquisas que objetivavam determinar a natureza química do material genético, têm destaque os trabalhos de Avery, MacLeod e McCarty com pneumococos e os de Hershey e Chase com bacteriófagos. Avery e cols demonstraram que o ácido desoxirribonucléico era capaz de causar mutação em pneumococos; Hershey e Chase, que o mesmo ácido, e não proteínas, era capaz de transmitir hereditariedade em fagos. As pesquisas com os ácidos nucléicos (DNA e RNA) foram se tornando mais freqüentes até que, em 1953, a estrutura da molécula de DNA foi estabelecida por Watson e Crick. Recentemente, o termo gene tem sido empregado em referência ao fragmento de material genético que é capaz de transcrever uma molécula de RNA, podendo determinar a síntese de um polipeptídeo que controlará uma ou mais características. Para refletir... e responder! Como se explica o fato de as pesquisas mendelianas terem ficado esquecidas por cerca de 35 anos? 10 Fundamentos de genética humana e das Populações Reprodução como Base da Hereditariedade O ciclo celular O ciclo celular corresponde ao período de vida de uma célula, que começa no momento em que ela surge, por divisão de uma outra, e termina no momento em que se divide em duas novas células. Considerando-se os eucariontes, o ciclo celular compreende as etapas denominadas de interfase e de divisão celular. A etapa interfásica, necessariamente, antecede a divisão celular e é caracterizada por três períodos distintos, denominados: G1, que precede a duplicação do DNA; S, que é aquele em que ocorre a duplicação do DNA; e G2, o mais curto deles, que vai do fim da duplicação do DNA até o início da divisão celular. No período G1, que inicia o ciclo celular, ocorrem aumento da massa celular e preparação do material genético para sofrer duplicação na fase seguinte. É justamente a replicação do DNA que marca o período S, sendo seguido pelo período G2, onde novamente a célula passa por um período de crescimento. As células eucarióticas podem dividir-se de duas maneiras: mitose ou meiose. Na mitose, as células-filhas têm um número de cromossomos igual ao da célula-mãe. Na meiose, esse número é reduzido à metade em relação ao da célula que se dividiu. Portanto, a mitose é uma divisão “equacional” e a meiose é “reducional”. A meiose é um processo constituído por duas divisões consecutivas e faz parte do modo sexuado de reprodução. Nossos gametas são células haplóides produzidas por meiose. A redução do número de cromossomos na meiose compensa a “soma” de cromossomos do pai e da mãe, que ocorre durante a fecundação. É por isso que se mantém constante o número de cromossomos da espécie ao longo das gerações. 11 I. MITOSE – detalhes Na interfase, o DNA se duplica e passa a ser constituído por duas cromátides- irmãs, unidas pelo centrômero. Ocorre, também, a duplicação do centro celular. Etapas da divisão mitótica animal PRÓFASE Há condensação dos cromossomos, que começam a se enrolar sobre si mesmos, sendo que cada um ficará constituído por dois fios grossos unidos pelo centrômero. A condensação dos cromossomos leva à inativação temporária dos genes. Conseqüentemente, deixa de ser produzido o RNA que compõe os ribossomos. Com isso, os nucléolos desaparecem progressivamente durante a prófase. No citoplasma das células eucarióticas em divisão há dois centros celulares, resultantes da duplicação do centro celular original. Essas estruturas começam a migrar em direções opostas e a organizar a fabricação de microtúbulos entre eles. Quando tiverem atingido pólos opostos na célula, os centros celulares terão organizado um conjunto de microtúbulos dispostos de pólo a pólo, formando o fuso mitótico. A carioteca desintegra-se em diversos pedaços e os cromossomos espalham- se no citoplasma. METÁFASE Os cromossomos se arranjam na região equatorial da célula e, quando já estão bem condensados, ligam-se aos microtúbulos do fuso mitótico por meio de seus centrômeros. As cromátides de cada cromossomo ficam unidas a fibras provenientes de pólos opostos do fuso. ANÁFASE Ocorre separação das cromátides-irmãs de cada cromossomo para pólos opostos da célula. Para isso, ocorre encurtamento das fibras do fuso ligadas aos centrômeros. Obs.: Certas drogas, como a colchicina, podem impedir a formação do fuso mitótico. Com isso, a mitose prossegue até a metáfase, quando a divisão pára. Após algum tempo, o núcleo reaparece, porém com o dobro do número de cromossomos existentes originalmente na célula. A propriedade de a colchicina paralisar a mitose tem sido aproveitada para estudar os cromossomos já que interrompe a divisão na metáfase, facilitando a observação cromossômica. 12 Fundamentos de genética humana e das Populações TELÓFASE Uma nova carioteca surge em torno da cada conjunto cromossômico presente nos pólos da célula, resultando em dois novos núcleos. Os cromossomos se descondensam e, como conseqüência, os nucléolos reaparecem. Assim, os dois novos núcleos se caracterizamcomo interfásicos. Obs.: Em células animais e de alguns protozoários, ao final da telófase, ocorre estrangulamento na região equatorial da célula, que termina por dividi-la em duas. Por começar na periferia e avançar para o centro da célula, esse tipo de divisão citoplasmática é chamado de citocinese centrípeta. II. MEIOSE – detalhes A meiose reduz o número cromossômico porque compreende duas divisões nucleares consecutivas, a meiose I e a meiose II, e uma única duplicação cromossômica. Assim, no final do processo, formam-se quatro células-filhas, cada uma com metade do número cromossômico presente na célula-mãe. Tanto a meiose I quanto a meiose II são subdivididas em quatro fases, com os mesmos nomes que as fases da mitose. Etapas da divisão meiótica animal MEIOSE I PRÓFASE I É longa e complexa, sendo subdividida em: - Leptóteno Os cromossomos tornam-se visíveis ao microscópio óptico como fios longos e finos. Apesar de cada cromossomo ser constituído por duas cromátides-irmãs, ele aparece ao microscópio como um fio simples. O processo de condensação cromossômica tem início em certos pontos chamados de cromômeros. 13 - Zigóteno Os cromossomos homólogos duplicados colocam-se lado a lado, emparelhando-se perfeitamente ao longo de seu comprimento, como se fossem as duas partes de um “zíper” sendo fechado. O emparelhamento rigoroso permite que os cromossomos homólogos troquem pedaços equivalentes, fenômeno conhecido por permutação. A permutação permite reunir, no mesmo cromossomo, genes provenientes da mãe, presentes em um dos homólogos, com genes provenientes do pai, presentes no outro homólogo. - Paquíteno Cada par de cromossomos homólogos aparece como bivalente (referência ao fato de haver dois cromossomos homólogos emparelhados) ou tétrade (referência à existência de 4 cromátides). - Diplóteno Início da separação dos cromossomos homólogos, aparecendo nitidamente as duas cromátides. Com essa separação dos cromossomos, percebe-se que suas cromátides cruzam-se em determinados pontos, originando figuras em forma de letra X, denominadas quiasmas. Os quiasmas são a manifestação visível da ocorrência de permutação no paquíteno ou mesmo no final do zigóteno (ainda não há consenso). No ponto em que há permutação, as cromátides permutadas ficam cruzadas, originando o quiasma. A ocorrência de pelo menos um quiasma por par de cromossomos homólogos é essencial para mantê-los unidos até o início da anáfase I. Essa união é fundamental para que os cromossomos homólogos migrem corretamente para pólos opostos. - Diacinese Os cromossomos homólogos continuam o movimento de separação iniciado no diplóteno. Os homólogos permanecem unidos apenas pelos quiasmas, os quais vão deslizando para as extremidades cromossômicas (terminalização dos quiasmas). Os nucléolos desaparecem e a carioteca se desintegra; com isso, os pares de cromossomos homólogos, ainda presos pelos quiasmas, espalham-se pelo citoplasma. METAFASE I Os pares de cromossomos homólogos prendem-se ao fuso, dispondo-se na região equatorial da célula. 14 Fundamentos de genética humana e das Populações TELÓFASE I O fuso se desfaz, os cromossomos em cada pólo se descondensam, as membranas nucleares se reorganizam e os nucléolos reaparecem. Surgem dois novos núcleos, cada um com metade do número de cromossomos do núcleo original. Cada cromossomo, entretanto, está duplicado, sendo constituído por duas cromátides. Em seguida, o citoplasma se divide. MEIOSE II Muito semelhante à mitose: PRÓFASE II As duas células resultantes da divisão I entram em prófase. Os cromossomos, constituídos por duas cromátides, começam a se condensar. Os nucléolos vão desaparecendo, os centros celulares recém-duplicados afastam-se e começam a organizar os microtúbulos do fuso. Há fragmentação da carioteca. METÁFASE II Os cromossomos associam-se ao fuso, dispondo-se no plano equatorial da célula. ANÁFASE I Cada cromossomo de um par de homólogos é puxado para um dos pólos da célula. É nesta fase que os quiasmas terminam de se desfazer. A principal diferença entre a anáfase da mitose e a anáfase I da meiose é que e que, na mitose, separam-se as cromátides-irmãs e, na meiose I, separam-se os cromossomos homólogos constituídos por duas cromátides-irmãs. 15 Considera-se que todas as células metabolicamente normais são capazes de se reproduzir. As células reprodutivas, sejam elas gametas (em animais) ou esporos (em vegetais), devem realizar sua multiplicação por meio da divisão meiótica a fim de que o número cromossômico característico da espécie permaneça inalterado ao longo das gerações. Em animais, a gametogênese compreende não só a formação das células haplóides que formarão os gametas como também sua diferenciação nos mesmos. Formação de células reprodutivas em animais e vegetais. Breve revisão da gametogênese em animais A reprodução sexuada começa com a formação dos gametas, processo denominado gametogênese. Como são dois os tipos de gametas, existem dois tipos de gametogênese: a espermatogênese, que é o processo de formação dos espermatozóides, e a ovogênese (ovulogênese ou oogênese), que é o processo de formação de óvulos. A gametogênese nos animais ocorre nas gônadas (glândulas sexuais), órgãos especializados para essa função. ANÁFASE II As cromátides-irmãs são separadas e levadas para pólos opostos da célula, em decorrência do encurtamento das fibras do fuso. TELÓFASE II Os cromossomos se descondensam, os nucléolos reaparecem e as membranas nucleares se reorganizam, completando-se, assim, a meiose II. Em seguida, o citoplasma se divide, encerrando a meiose. Obs.: A meiose determina a manutenção da carga cromossômica nos organismos e contribui para a evolução graças à permutação, processo em que há recombinação dos genes. 16 Fundamentos de genética humana e das Populações Ovogênese Fases: 1. Período germinativo: divi- sões mitóticas que dão origem a ovogônias (células 2n). 2. Período de crescimento: sem divisões celulares, sendo que cada ovogônia aumenta de volume, originando os ovócitos I. 3. Período de maturação: di- visões meióticas, sendo o ovócito I, ao sofrer meiose I, que é reducional, dá origem a um ovócito II e ao primeiro glóbulo polar. Caso ocorra a fecundação, haverá a meiose II, onde o ovócito II se dividirá no óvulo e em mais três glóbulos polares, que normalmente se degeneram. Espermatogênese Fases: 1. Período germinativo: divisões mitóticas que dão origem a esperma- togônias (células 2n). 2. Período de crescimento: sem divisões celulares, sendo que cada espermatogônia aumenta de volume, originando os espermatócitos I (células 2n). 3. Período de maturação: divi- sões meióticas, sendo que cada espermatócito I, ao sofrer meiose I, que é reducional, dá origem a dois esper- matócitos II, que sofrem meiose II e dão origem a quatro espermátides (células n). 4. Período de diferenciação ou espermiogênese: sem divisões celulares, sendo que cada espermátide sofre diferenciação, originando um esperma- tozóide (célula n). 17 Diferenças entre espermatogênese e ovogênese I. Período germinativo: Na mulher: termina na vida intra-uterina. No homem: dura quase toda a vida, com produção permanente de novas espermatogônias. II. Período de crescimento: As ovogônias aumentam muito de tamanho, originando ovócitos I bem maiores do que os espermatócitos I. Nos ovócitos, esse crescimento é devido ao acúmulo de vitelo ou deutoplasma, substância orgânica que irá nutrir o embrião. III. Período de maturação: Na ovogênese, tanto na meiose I como na meiose II, formam-se células de tamanhos diferentes, o que não acontece na espermatogênese. As células menores têm o nome de glóbulos polares e não são funcionais, degenerando-se. IV. Período de diferenciação: Na ovogênese,é ausente. V. Na ovogênese, cada ovogônia dá origem a um óvulo e a três glóbulos polares (células não-funcionais), e, na espermatogênese, cada espermatogônia dá origem a quatro espermatozóides. Os vegetais apresentam gametas e esporos com metade do número cromossômico característico da espécie; entretanto, há mitose para a gametogênese e meiose para a esporogênese. Conclui-se, portanto, que o ciclo de vida desses organismos é mais complexo, caracterizado pela alternância de gerações entre as fases haplóide (n) e diplóide (2n). Encontrando-se na fase diplóide (2n), o vegetal é reconhecido como esporófito. Este sofrerá meiose, produzindo esporos com n cromossomos. Os esporos assim formados se desenvolverão em gametófitos, que representam o vegetal na fase haplóide (n). O gametófito, por sua vez, produzem gametas com n cromossomos através de mitose. Por meio da fertilização, os gametas haplóides (n) se unem formando o zigoto e reestabelecendo o número diplóide (2n), completando o ciclo de vida da planta. Obs.: O mecanismo biológico envolvido na transmissão dos caracteres hereditários, que fundamenta as leis mendelianas de segregação e distribuição independente, é baseado nos mecanismos biológicos verificados durante a divisão meiótica. Mendel não conseguiu explicar tal relação, pois seu trabalho fora apresentado em 1865 e somente em 1902 Sutton estudou o comportamento cromossômico durante a meiose, relacionando-o aos trabalhos mendelianos. Indubitavelmente, Mendel foi um homem à frente de seu tempo! 18 Fundamentos de genética humana e das Populações Conceitos Fundamentais da Genética – Uma Visão Geral Desde a infância, percebemos características que nos assemelham de outras pessoas e aquelas que somente nós possuímos em relação, por exemplo, a nossos irmãos biológicos. Muitas vezes, não entendemos por que uma criança tem uma certa doença “hereditária” se os pais não a apresentam. De modo geral, aprendemos que temos olhos claros ou escuros, cabelos lisos ou crespos, porque “puxamos” a um de nossos parentais ou a outros parentes próximos. É justamente a expressão “puxar a” que a Genética nos esclarece. Como qualquer área de pesquisa, a Genética apresenta vocábulos e expressões particulares. Sendo assim, é fundamental que você se familiarize com os mesmos a fim de melhor compreender essa ciência. Doenças congênitas, hereditárias e adquiridas Comumente, são feitas referências a certas características como congênitas, hereditárias e adquiridas, como, por exemplo, no caso da surdez: há pessoas que nascem surdas e há aquelas que se tornam surdas. Qualquer característica que se manifeste desde o nascimento do indivíduo é denominada de congênita; então, quem nasceu surdo tem surdez congênita. Agora, se o indivíduo nasceu surdo porque possui o gene da surdez, essa característica é também hereditária; mas, se a mãe adquiriu rubéola durante o período gestacional, trata-se de uma surdez adquirida, ou seja, que o indivíduo afetado não transmitirá aos seus descendentes. Caso o indivíduo tenha nascido com audição normal, mas que tenha sido submetido a algum fator que tenha danificado permanentemente sua audição, sua surdez também será adquirida. Vale ressaltar que nem sempre uma característica hereditária é congênita. Pessoas com coréia de Huntington possuem o gene para essa doença; entretanto, somente por volta dos quarenta anos de idade é que haverá manifestação da sintomatologia da doença, que é neurodegenerativa progressiva. Para refletir... e responder! O que são os pontos de checagem (check points) e qual sua importância para o ciclo celular? 19 Material genético – objeto de estudo da Genética Em eucariontes, material genético se apresenta como constituído de ácido desoxirribonucléico (DNA) associado a proteínas. Durante a interfase, quando a célula se encontra em intensa atividade metabólica pré-período de divisão celular, esse material genético se apresenta distendido e filamentar, sendo reconhecido como cromatina. Lembre-se de que, no período S da interfase, há duplicação do DNA, onde cada filamento de cromatina origina outro idêntico, que se unem pelo centrômero. Durante o período de divisão celular, os filamentos de cromatina vão sendo condensados, constituindo os cromossomos. Em cada uma destas estruturas, cada segmento de DNA capaz de realizar transcrever RNA é reconhecido como gene ou cístron. Lembre-se de que o cromossomo é basicamente uma seqüência linear de genes. Cada local que um certo gene ocupa no cromossomo é denominado locus gênico, representando, portanto, o “endereço” do gene. Vale enfatizar que todas as nossas células, exceto as hemácias, que são anucleadas, apresentam o mesmo conjunto gênico. O gene que determina o tipo de seu cabelo (se liso, crespo ou cacheado), por exemplo, está presente em suas células musculares, em seus hepatócitos e nas células da íris do olho. O que ocorre é que, durante o período de diferenciação celular, na embriogênese, as células têm certos genes ativados e outros genes desligados, a depender do tipo celular em que está sendo especializada. Considerando-se que em nossas células somáticas, ou seja, aquelas diplóides que não fazem parte da linhagem reprodutiva (por meiose, formarão os gametas), os 46 cromossomos se encontram pareados, formando os cromossomos homólogos, cada cromossomo do par possui genes em seu lugar determinado, o locus gênico e, considerando-se o par de homólogos, há dois loci (plural de locus ou locos). Cada locus pode apresentar um alelo, ou seja uma forma alternativa do gene, como, por exemplo,no mesmo par de cromossomos homólogos, um cromossomo desse par possui um alelo dominante para certa característica e o alelo correspondente no outro cromossomo pode ser recessivo. Sendo assim, cabe a classificação do indivíduo como heterozigoto, quando possui um alelo de cada tipo (um recessivo e outro dominante nos loci correspondentes entre os homólogos), ou como homozigoto, quando o indivíduo possui ambos os alelos dominantes nos loci correspondentes ou ambos recessivos. As características externas, como cor dos olhos; e as internas, como o tipo de sangue, que são detectáveis (mesmo que a detecção só ocorra por meio de exames laboratoriais) representam o fenótipo do indivíduo. Denomina-se genótipo o patrimônio genético do indivíduo, que, para manifestar-se geralmente sofre influência dos fatores ambientais. Pode ocorrer de o indivíduo não apresentar o gene para uma determinada característica e, contudo, expressá-la. Essas manifestações assemelham-se ao fenótipo, mas devem ser denominadas de fenocópias. Considere, por exemplo, um indivíduo que é diabético insulino-dependente. Ao fazer uso da injeção de insulina, a característica “normal” 20 Fundamentos de genética humana e das Populações apresentada por esse indivíduo é uma fenocópia, pois não há o fenótipo resultante da expressão do gene para a condição de normalidade glicêmica. O material genético pode, ainda, sofrer modificações, que são denominadas mutações, sendo que, somente serão transmitidas à prole caso comprometam as células da linhagem germinativa. Dominância e recessividade dos caracteres Já foi visto, no tópico anterior, que, quando uma característica apresenta duas ou mais variedades fenotípicas em uma mesma espécie, é correto concluir que o locus gênico correspondente pode ser ocupado de diferentes maneiras, isto é, existem diferentes alelos para esse gene. Consideremos como exemplo a forma do lobo da orelha em nossa espécie. O locus controlador desta característica pode apresentar um alelo dominante, que determina o lobo da orelha solto ou um alelo recessivo, que determina o lobo da orelha preso ou aderente. Em nossas células, há, portanto, dois loci para essa condição, sendo que cada um pode ser ocupado por duas formas alélicas diferentes, resultando em três possíveis genótipos: humanos que possuemambos os alelos para lobo solto; os que têm um alelo para lobo solto e um alelo para lobo preso e aqueles com ambos os alelos para lobo preso. lobo preso lobo solto Seres humanos homozigotos que apresentam ambos os alelos para lobo da orelha solto, têm lobo solto; e aqueles que apresentam ambas as formas alélicas para lobo preso, têm lobo preso. Entretanto, os heterozigotos, aqueles que têm um alelo de cada tipo exibem o lobo solto. Dessa forma, percebe-se que o alelo dominante é aquele que está determinando a característica lobo da orelha solto, pois condiciona o fenótipo quando o indivíduo possui o alelo em questão em dose dupla (homozigose) ou em dose simples (heterozigose). O alelo recessivo, por conse- guinte, será aquele que apenas se expressa em dose dupla. O alelo dominante não inibe a expressão do alelo recessivo! O alelo dominante pode estar, por exemplo, determinando a produção de uma enzima; e o recessivo, a formação dessa enzima alterada ou inativa ou até mesmo a não formação enzimática. 21 Para refletir... e responder! O que significa afirmar que “o fenótipo resulta da interação entre o genótipo e o meio”? O DNA como Estrutura Molecular dos Cromossomos Estrutura do DNA Há pouco mais que meio século, foi identificada a constituição bioquímica da informação genética. Antes disso, Friederich Miescher descobriu os ácidos nucléicos em suas pesquisas com leucócitos, dando- lhes a denominação de nucleína em função de se encontrarem presentes no núcleo celular. Houve várias pesquisas subseqüentes até que, em 1953, James Watson e Francis Crick postularam um modelo espacial para a estrutura da dupla hélice do DNA, recebendo o prêmio Nobel para Medicina ou Fisiologia em 1962. A partir do reconhecimento do DNA como a molécula principal na transmissão das características hereditárias, as pesquisas foram direcionadas para a elucidação do código genético. Há dois tipos de ácidos nucléicos, DNA (ácido desoxirribonucléico) e RNA (ácido ribonucléico). Embora ambos sejam estruturas polinucleotídicas, diferem em certos aspectos. Estrutura de um nucleotídeo Cada nucleotídeo apresenta: o grupo fosfato derivado do ácido fosfórico; o pentose (açúcar com 5 carbonos), que pode ser ribose ou desoxirribose; o base nitrogenada, que pode ser classificada como púrica (guanina ou adenina) ou pirimídica (citosina, timina ou uracila). Watson e Crick 22 Fundamentos de genética humana e das Populações Estrutura do DNA O ácido desoxirribonucléico apresenta-se como uma dupla hélice, ou seja, é constituído por dois filamentos enrolados entre si de forma helicoidal. Esse dois filamentos são polinucleotídicos e mantêm-se unidos por meio de pontes de hidrogênio entre as bases nitrogenadas, ocorrendo entre pares específicos: AT (com duas pontes de hidrogênio) e CG (com três pontes de hidrogênio). Sendo assim, as fitas que compõem o DNA são complementares. Estrutura do RNA Ao contrário do DNA, o RNA tem a ribose como açúcar, possui uracila (U) em lugar da base timina (T) e apresenta-se constituída por apenas um filamento polinucleotídico. Para refletir... e responder! Podem existir dois indivíduos da mesma espécie como o DNA idêntico? Justifique. Fundamentos da expressão gênica Os ácidos nucléicos expressam a informação genética por meio de proteínas, necessitando da “leitura” do código genético. A fim de compreender esse aspecto, serão descritos a seguir os processos de autoduplicação, transcrição e tradução do material genético. Autoduplicação (replicação do DNA) O modelo para a molécula do DNA, apresentado por Watson e Crick, além de explicar suas propriedades físico-químicas, também esclarece sobre ao modo de replicação da molécula. 23 De acordo com o modelo supracitado, para ser replicada a molécula de DNA, seus dois filamentos constituintes são separados e haverá a produção de uma seqüência complementar para cada um deles. Como cada uma das moléculas de DNA produzidas irá apresentar um filamento da molécula original, esse processo é reconhecido como semiconservativo. Enquanto as pontes de hidrogênio existentes entre as fitas da molécula original são quebradas por ação enzimática, nucleotídeos presentes na célula se associam a cada um dos filamentos, obedecendo ao pareamento específico de bases nitrogenadas (A-T; C-G). As moléculas-filhas serão, dessa forma, idênticas à molécula que serviu de modelo para a replicação. Há a necessidade de uma série de enzimas para que a autoduplicação ocorra: · DNA-helicase - abre a cadeia nucleotídica; · DNA-topo-isomerase - desenrola a hélice; · DNA-primase - forma o primer (uma seqüência de RNA que inicia a formação do novo DNA); · DNA-polimerase III - associa os novos nucleotídeos com aqueles preexistentes por meio do pareamento de bases; · DNA-polimerase I - remove o primer; · DNA-ligase - une os novos nucleotídeos entre si. Em 1968, Huberman e Riggs demonstraram que a replicação tem início independentemente em múltiplos pontos da molécula de DNA. Esses vários segmentos que iniciam a replicação são conhecidos como replicons e têm replicação bidirecional. As cópias sempre são feitas na direção 5’ 3’. Assim, enquanto a fita 3’ 5’ é lida de modo contínuo, a fita 5’ 3’ é copiada de modo descontínuo. Os fragmentos que são produzidos, chamados de fragmentos de Okasaki, posteriormente são reunidos. Transcrição O RNA tem o DNA como molécula-molde, diferindo da autoduplicação por usar ribonucleotídeos e porque apenas um filamento do DNA atua no processo. Para isso, as duas fitas de DNA se separam e uma delas serve de modelo ao RNA enquanto a outra permanece inativa. No final do processo, o DNA voltará a apresentar o aspecto bifilamentar. Durante síntese de RNA, há pareamento específico entre as bases nitrogenadas A – U e C – G. Vale ressaltar que uma das fitas do DNA (5’3’) será transcrita formando um longo filamento de RNA, denominado RNA heterogêneo, no qual existem seqüências do tipo éxons e íntrons. Estas últimas, que não irão codificar nenhuma cadeia polipepetídica, serão posteriormente removidas e os éxons unidos entre si (splicing), formando assim o RNA mensageiro. 24 Fundamentos de genética humana e das Populações Várias enzimas participam do processo de transcrição, sendo as RNA-polimerases as mais importantes. Vide ilustração abaixo, com o processo simplificado. 25 Tradução Esse processo representa a síntese de proteínas, que consiste na união entre aminoácidos específicos de acordo com a seqüência de códons do RNA mensageiro. Como essa seqüência é determinada pelas bases do DNA (gene) que serviu de modelo ao RNAm, a síntese protéica representa, portanto, a tradução da informação genética. Nesse processo, há participação, principalmente, de ribossomos, vários RNA de transporte, aminoácidos e de um conjunto enzimático. A princípio, o ribossomo se encaixa em uma das extremidades do RNAm e o percorre até a outra extremidade. À medida que esse deslocamento ocorre, os RNAt vão encaixando os aminoácidos na seqüência definida pela ordem dos códons do RNAm. Etapas: · Há associação entre um ribossomo, um RNAm e um RNAt especial (com anticódon UAC), que transporta o aminoácido metionina. · Ocorre encaixe entre o anticódon UAC e o códon UAG (códon de início da tradução) presente no RNAm. · A seguir, cada RNAt carregará um aminoácido até o sítio A do ribossomo, sendo que somente será incorporado à proteína que será formada se existir uma trinca complementar para ele no RNAm, em seqüência. 26 Fundamentos de genética humana e das Populações Para refletir... e responder! O que significa dizer que o código genético é universal e degenerado? Material genético A depender da etapa do ciclo celular em que a célula se encontra, o material genético pode apresentar-se como cromatina ou como cromossomo.Cromatina Quando a célula não esta em divisão, os cromossomos apresentam-se como fios muito finos, dispersos no nucleoplasma, recebendo o nome de cromatina. Aparece no núcleo interfásico como uma rede de filamentos longos e finos chamados cromonemas que apresentam regiões condensadas (espiraladas) - as heterocromatinas, inativas na transcrição em RNA, e regiões distendidas - as eucromatinas, regiões ativas. Obs.: Denomina-se heteropicnose a diferença de colorabilidade entre os tipos de cromatina. A cromatina só se torna visível na medida em que sofre condensação, formando os cromossomos. Isso ocorre durante a divisão celular. Cromossomo Cada cromossomo é formado por uma única e longa molécula de DNA, associada a várias moléculas de histona (proteína básica, a intervalos regulares, formando os nucleossomos). Denomina-se cromonema o filamento de DNA com os nucleossomos enrolados helicoidalmente. O cromonema apresenta, ao longo de seu comprimento, regiões enoveladas chamadas cromômeros, que se coram mais intensamente. 27 Durante a condensação cromossômica, as regiões eucromáticas se enrolam mais frouxamente do que as heterocromáticas. No cromossomo condensado, as heterocro- matinas, regiões que se apresentam condensadas desde a interfase, aparecem como regiões “estranguladas” do bastão cromossômico, chamadas constricções. Estrutura cromossômica Cromátides: cada um dos filamentos idênticos de DNA que se encontram unidos pelo centrômero no cromossomo duplicado. Cinetócoro: complexo protéico que atua na movimentação cromossômica durante a divisão celular. Telômero: estrutura ímpar presente na região terminal dos cromossomos de eucariontes. Centrômero: região em que as duas cromátides do cromossomo duplicado se unem. Corresponde à constricção primária. Classificação dos cromossomos quanto à posição do centrômero: I. Metacêntrico: quando o centrômero se localiza centralizado no cromossomo, dividindo-o em braços de mesmo tamanho. II. Submetacêntrico: quando o centrômero se localiza levemente deslocado da região cromossômica mediana, dividindo o cromossomo em braços com tamanhos discretamente distintos. III. Acrocêntrico: quando o centrômero está nitidamente deslocado da região cromossômica mediana, dividindo o cromossomo em braços com tamanhos nitidamente distintos. IV. Telocêntrico: quando o centrômero está localizado na região cromossômica terminal, o que resulta em um cromossomo que possui somente um braço. Este tipo não ocorre em nossa espécie. 28 Fundamentos de genética humana e das Populações Os cromossomos humanos e o cariótipo Os cromossomos pertencentes às células de indivíduos da mesma espécie apresentam forma, tamanho e número constantes, porém variam de espécie para espécie. Enquanto, por exemplo, o homem possui (2n) 46 cromossomos, o boi possui (2n) 60, e o milho (2n) 20. O conjunto de dados sobre forma, tamanho e número de cromossomos de uma determinada espécie é denominado cariótipo. O cariótipo de uma espécie pode ser representado por um cariograma ou idiograma, que corresponde a um arranjo dos cromossomos separados aos pares e em ordem decrescente de tamanho. Na espécie humana, as células gaméticas possuem um lote haplóide de 23 cromossomos (n), denominado genoma. As células somáticas apresentam um lote diplóide de 46 cromossomos. Os cromossomos sexuais, X e Y, são chamados de heterossomos e os demais, autossomos. Observe abaixo cariótipos masculino e feminino normais Nos mamíferos do sexo feminino, o cromossomo X condensado é observado no interior do núcleo ou associado ao envoltório nuclear, como uma partícula esférica que se cora fortemente, à qual se dá o nome de cromatina sexual (ou corpúsculo de Barr), sendo somente um dos cromossomos X ativo. A presença ou não de cromatina sexual permite, pois, o diagnóstico citológico do sexo. 29 Há indivíduos com alterações na forma (mutações estruturais) ou no número (mutações numéricas) de cromossomos, sendo as seguintes as principais: · Síndrome de Down: 47, XX (ou XY) + 21; · Síndrome de Turner: 45, X; · Síndrome de Klinefelter: 47, XXY (geralmente). Para refletir... e responder! Existe relação entre a não-disjunção entre os cromossomos durante a meiose e descendência com alterações cromossômicas? Estrutura e organização do gene Cromossomo é a estrutura da célula na qual os genes estão contidos. Cada cromossomo é constituído por apenas uma molécula de DNA. Lembre-se de que humanos normais têm 46 cromossomos nas células somáticas, o que significa reconhecer que estas possuem 46 moléculas de DNA. Os genes são, a grosso modo, pedaços dessa molécula de DNA. Em eucariontes, os genes são separados entre si por extensas regiões do DNA que não sofrem transcrição em moléculas de RNA, não sendo codificantes, portanto. O cromossomo apresenta uma seqüência alternada entre DNA-codificante (exon) e DNA-não- codificante (intron). Atualmente, considera-se que aproximadamente 97% do DNA de eucariontes seja não-codificante. Embora esse DNA tenha sido chamado de DNA-lixo porque, aparentemente, não tem função, pesquisas recentes o têm relacionado com participante da estruturação cromossômica; pode revelar aspectos evolutivos, e forma o centrômero. O número de corpúsculos de Barr corresponde ao número de cromossomos x menos 1. A identificação da cromatina sexual tem ampla aplicação clínica, principalmente no que se refere a anomalias sexuais humanas. 30 Fundamentos de genética humana e das Populações AtividadesAtividadesAtividadesAtividadesAtividades ComplementaresComplementaresComplementaresComplementaresComplementares 1.....Todas as nossas células resultam de cópias do material genético presente em nossa primeira célula, o zigoto. Sendo assim, como se explica o fato de que somente determinadas células presentes no pâncreas sintetizem o hormônio insulina e as outras não? Orientação: Relembrar as primeiras clivagens do ovo e como se dá a ativação gênica durante a especialização celular. Em caso de dúvidas, releia o tópico 3 (Material genético – objeto de estudo da Genética) do tema que acabamos de estudar. 2.....Se os filhos gestados por mulheres aidéticas podem ter AIDS, por que essa doença não se classifica como hereditária, já que é transmitida de mãe para filho? Orientação: É importante revisar o significado dos termos hereditário, congênito e adquirido. Lembre-se de que, não necessariamente, o que é herdado é definido pelos genes. Você fará uma revisão sobre esse tema caso se reporte ao tópico 3.1. Doenças congênitas, hereditárias e adquiridas. 31 ANÁLISE DA GENÉTICA CLÁSSICA Mendelismo: O Princípio Básico Da Herança Experiências de Mendel Embora Mendel tenha realizado experimentos com vegetais de diferentes espécies e com abelhas, seu maior sucesso foi com as ervilhas da espécie Pisum sativum. O fato de ter considerado uma característica por vez, como altura da planta ou forma das sementes, condicionou o seu êxito. Antes de iniciar os cruzamentos entre organismos de P. sativum, Mendel selecionou plantas de linhagens puras. Ele acreditava que uma planta pura, quando autofecundada ou cruzada com outra idêntica, somente poderia dar origens a descendentes com a mesma característica. Se estivesse realizando, por exemplo, o cruzamento entre duas plantas puras altas, toda a descendência seria constituída por plantas altas. Após esse período de obtenção de linhagens verdadeiramente puras, ele realizou o cruzamento entre plantas puras de variedades alternantes (planta pura alta com planta pura baixa, por exemplo) em uma mesma característica. Esta geração de plantas era chamada de geração parental (geração P). O resultado desse cruzamento, que era sempre igual a um dos parentais, foi denominado por Mendel de primeira geração híbrida (F1). Quando essa geração híbrida era autofecundada, obtinha-se a segunda geraçãohíbrida (F2), que exibia ambos os traços verificados na geração que deu origem a F1. Ele concluiu que o traço de um dos pais permanecia encoberto em F1, mas reaparecia e F2, sendo denominado recessivo enquanto aquele que se manifestava em toda a F1, dominante. Como as flores da espécie estudada são cleistogâmicas, naturalmente ocorria autofecundação. Sendo assim, Mendel teve que remover as anteras de algumas flores a fim de impedir esse processo. De outras flores, ele retirava o pólen fazendo uso de um pincel e o levava até aquelas cujas anteras foram removidas. Desse modo, ele promovia a fecundação cruzada. Depois, havia necessidade de recobrir as flores fecundadas para que não fossem polinizadas sem que ele tivesse conhecimento do doador do pólen. Símbolos Há uma convenção que facilita a representação do genótipo de um organismo: cada gene deve ser identificado por uma letra, que corresponde à inicial da variedade recessiva geralmente. No caso da característica altura da planta, sendo alta - determinada pelo alelo dominante - e baixa - pelo recessivo - a representação genotípica é: 32 Fundamentos de genética humana e das Populações planta alta: BB (quando pura ou homozigota) e Bb (quando heterozigota); planta baixa: bb (necessariamente homozigota, pois o alelo recessivo só se manifesta em dose dupla). Traduzindo uma das experiências mendelianas com ervilhas para a linguagem genética simbólica: O quadrado de Punnet Para a representação dos resultados esperados nos cruzamentos genéticos, a montagem do quadrado de Punnet tem-se mostrado satisfatória. Esse método, cuja deno- minação é uma homenagem ao geneticista R. Punnet, consiste na representação abaixo, onde I e II devem representar, cada um, 50% dos gametas (de um dos parentais) portadores de certo tipo de alelo, III e IV devem representar, cada um, 50% dos gametas (do outro parental) portadores de certo tipo de alelo e as letras a, b, c, d devem representar a combinação entre um alelo paterno e outro materno, oferecendo uma modo direto de se prever resultados esperados para certo cruzamento. 33 Princípio da Segregação de Um Par de Alelos – 1ª Lei Princípio da segregação Em suas conclusões sobre seus experimentos com ervilhas, Mendel deu tratamento estatístico aos resultados, conseguindo estabelecer um padrão esperado para determinados traços das características por ele estudadas, conforme será apresentado posteriormente. Acompanhando as gerações obtidas nessas experiências, Mendel deduziu que aquilo que denominou de “fatores de hereditariedade” deveria estar pareado nas células não-sexuais, mas que, durante a formação dos gametas, ocorria segregação (separação) entre os membros de cada par de fatores, sendo que cada gameta somente recebia um fator de cada par. A partir daí, tem-se o enunciado da chamada Primeira Lei de Mendel: “Cada caráter é determinado por um par de fatores que se separam na formação dos gametas, indo um fator do par para cada gameta, sendo este, portanto, puro”. Usando uma linguagem moderna, essa lei de Mendel pode ser assim traduzida: o par de alelos de um mesmo gene sofre separação um do outro, sendo distribuídos para diferentes células sexuais. A meiose e as Leis de Mendel Conforme já foi discutido no tema I, a meiose, divisão celular verificada na gametogênese de animais, resulta em quatro células-filhas haplóides (n) a partir de uma célula inicial diplóide (2n). 34 Fundamentos de genética humana e das Populações Já foi visto, também, que os cromossomos ocorrem aos pares nas células diplóides (2n), constituindo os cromossomos homólogos. Durante a divisão meiótica, os cromossomos homólogos se separam, indo um deles para um gameta, que tem carga n (2n). Os homólogos apresentam os mesmos genes e, portanto, os mesmos loci; entretanto, os alelos não necessariamente são idênticos. Quando os alelos de um par são iguais, denomina-se a condição de homozigótica, que Mendel chamava de pura e, quando os alelos são diferentes, heterozigótica, a qual era denominada de híbrida por Mendel. A divisão meiótica é caracterizada por duas fases consecutivas: a meiose I e a meiose II, como já foi discutido. Na meiose I, há pareamento dos cromossomos homólogos, que sofrem separação (divisão reducional), sendo encaminhados para células distintas, haplóides. Na meiose II, Cada cromossomo duplicado sofre, então, separação das cromátides (divisão equacional), sendo encaminhadas para diferentes células-filhas também haplóides. Mendel, sem ter conhecimento da existência de genes, nem alelos, cromossomos e meiose, fez uma análise interpretativa de riqueza incomparável sobre o comportamento do que ele chamava de “fatores de hereditariedade” durante a formação das células reprodutivas. A Segunda Lei de Mendel não é tão geral quanto a primeira, pois limita-se apenas aos pares de alelos que se localizam em cromossomos não-homólogos. A Genética mais recente reconhece que, nessa situação, estando os pares de alelos para diferentes características situados no mesmo cromossomo, o caso não é mais de Segunda Lei, e sim de genes ligados, tema que será mais tarde discutido. Cruzamentos e proporções monohíbridas Os cruzamentos monoíbridos são fundamentais para a compreensão da genética clássica ou mendeliana. Vale ressaltar que há relação de dominância e recessividade entre ambos os alelos que podem ocupar o mesmo locus para determinada característica. Considerando-se os cruzamentos que envolvem somente um par de alelos, seguem, no quadro abaixo, as freqüências genotípica e fenotípica esperadas na descendência para cada combinação entre genótipos específico na geração parental. Vale ressaltar que, quando a geração parental apresenta genótipos em homozigose (AA x AA;aa x aa), a prole será em 100% idêntica aos parentais. 35 Para refletir... e responder! Como é possível determinar o genótipo de um indivíduo quando o seu fenótipo é condicionado pelo alelo dominante do gene? Princípio da Segregação Independente de Dois Pares de Alelos - 2ª Lei Em sua pesquisa sobre a transmissão da hereditariedade usando ervilhas como modelo, Mendel também trabalhou com a análise concomitante de dois caracteres, isto é, com dois pares de alelos, sendo cada um responsável por uma determinada característica. Consideremos a análise, ao mesmo tempo, das seguintes características em ervilhas: altura da planta e cor da semente. As plantas de ervilhas podem ser altas (fenótipo dominante) ou baixas (fenótipo recessivo) e suas sementes podem amarelas (fenótipo dominante) ou verdes (fenótipo recessivo). Acompanhe os esquemas abaixo. A proporção esperada nesse cruzamento é de 9:3:3:1. Mendel concluiu, então, que o fato de a planta ser alta ou baixa independe de ela ser, ao mesmo tempo, amarela ou verde. Analisando de dois em dois os sete caracteres por ele estudados com a Pisum sativum, encontrou sempre essa independência na transmissão hereditária considerando-se mais do que uma característica. 36 Fundamentos de genética humana e das Populações Vale salientar que, considerando-se características independentes, como altura da planta e cor da semente, uma não depende da probabilidade da outra; contudo, para calcular a probabilidade de ocorrência de duas característica s ocorrerem juntas, há necessidade de multiplicar cada uma das probabilidades para cada um desses eventos. Por exemplo, se a probabilidade esperada para planta alta é de ¾ e a probabilidade esperada para semente verde é de ¼, basta multiplicar essa probabilidades: ¾ x ¼ = 3/16 A partir de tais estudos, tem-se o enunciado da chamada Segunda Lei de Mendel: “Na formação dos gametas, o par de fatores responsável por uma certa característica separa-se independentemente de outro par de fatores responsável por outra característica”. Usando uma linguagem moderna, essa lei de Mendel pode ser assim traduzida:o par de alelos com loci m um par de cromossomos homólogos sofre separação independentemente de outro par de alelos localizado em outro par de cromossomos homólogos. Cruzamentos e proporções diíbridas A Segunda Lei de Mendel, além de estudar dois caracteres, também é aplicável à análise de três ou mais caracteres, cabendo, portanto, o uso dos termos diibridismo, triibidismo ou poliibridismo conforme o caso. Como a Segunda Lei de Mendel trabalha com análise de duas características, sendo que a transmissão de uma delas independe da transmissão da outra, pela teoria das probabilidades, essa herança trabalha com eventos independentes e simultâneos. Desse modo, é fácil entender como se obtém a proporção esperada fenotípica de 9:3:3:1 na geração F2. Obs.: A Segunda Lei de Mendel não tem validade quando ambos os pares de alelos para as duas características têm loci no mesmo par de homólogos (genes ligados). 37 Exemplificando: Considere duas características cujos genes se situam em cromossomos não- homólogos, como forma do lobo da orelha e pigmentação da pele. · Forma do lobo da orelha: solto (PP ou Pp) ou preso (pp) · Pigmentação da pele: normal (AA ou Aa) ou albinismo (aa). Considerando que a ocorrência de uma dessas características não impede a ocorrência da outra, para saber a probabilidade de ambas as características ocorrerem juntas, há necessidade de se multiplicar as probabilidades de ocorrência de cada um desses eventos em separado. Acompanhe abaixo: Qual a probabilidade de que um homem com lobo da orelha solto e não albino e uma mulher de mesmo fenótipo, sendo ambos heterozigotos, tenham filhos com lobo preso e albinos? Obs.: Usando a mesma metodologia, as demais combinações também podem ser calculadas: Filhos com lobo solto e pigmentação normal da pele: ¾ x ¾ = 9/16 Filhos com lobo solto e albinismo: ¾ x ¼ = 3/16 Filhos com lobo preso e pigmentação normal da pele: ¼ x ¾ = 3/16 Para refletir... e responder! Qual é a relação entre a segregação independente dos cromossomos homólogos na meiose e a segregação independente dos genes? 38 Fundamentos de genética humana e das Populações Probabilidade Na Herança Mendeliana E Análise De Heredogramas Noções básicas de probabilidade e grau de adequação dos resultados É inegável que um dos motivos do sucesso das experiências de Mendel com ervilhas foi o tratamento estatístico que ele deu à análise dos resultados. Em estatística, a teoria das probabilidades possibilita a estimar os resultados esperados para a ocorrência de eventos que ocorrem ao acaso. A possibilidade de um evento ocorrer é dada pela razão entre o número de eventos desejados e o número total de eventos possíveis (espaço amostral). Obs.: Os elementos que compõem o espaço amostral são equiprováveis, isto é, têm a mesma chance de ocorrência. A Estatística nos ensina que, quanto maior for o número de repetições dos eventos, mais acertada será a previsão dos resultados. Isso justifica a escolha de organismos com elevada taxa reprodutiva como modelos para os estudos genéticos. Situações mais comuns solicitadas em problemas genéticos: I. Probabilidade de ocorrência de um OU outro evento: Corresponde ao estudo da probabilidade de ocorrência de um entre dois eventos que são mutuamente exclusivos. A probabilidade, nesse caso, será dada pela soma das probabilidades isoladas de cada um dos eventos considerados. II. Probabilidade de ocorrência de um E outro evento: Corresponde ao estudo da probabilidade de ocorrência dois entre dois eventos que são independentes. A probabilidade, nesse caso, será dada pela multiplicação das probabilidades isoladas de cada um dos eventos considerados. Probabilidade de um evento ocorrer = nº de eventos desejados nº total de eventos possíveis 39 Obs.: Se há necessidade de uma ordem de ocorrência para o cálculo da probabilidade de ocorrência de dois eventos independentes, basta que seja efetuada a multiplicação das probabilidades isoladas de cada evento; mas, não sendo essa ordem de ocorrência importante, deve-se multiplicar a probabilidade de ocorrência do 1º evento pela probabilidade de ocorrência do 2º evento e somar este resultado ao produto entre a probabilidade de ocorrência do 2º evento pela do 1º evento. Resumindo: Deseja-se o mesmo evento: A e A, B e B etc. P (A e A) = P (A) x P (A) Desejam-se eventos diferentes: I. Quando a ordem dos eventos é importante: P (1º A e 2º B) = P (A) x P (B) II. Quando a ordem dos eventos não é importante: (1º A e 2º B) ou (1º B e 2 º A) P1 (A e B) ou (B e A) [P (A) x P (B)] + [P (B) x P (A)] Probabilidade na análise de heredogramas Heredogramas, genealogias, árvores genealógicas, mapas familiares ou pedigrees são representações gráficas do estudo da herança de uma ou mais características em uma família. A fim de interpretar corretamente a análise de um heredograma, você precisa familiarizar-se com a simbologia abaixo: 40 Fundamentos de genética humana e das Populações Análise de heredogramas Geralmente, os indivíduos são indicados por numeração arábica e as gerações por numeração romana, da esquerda para a direita; mas, pode ocorrer de somente os indivíduos estarem indicados por numeração. Neste caso, utilizam-se os números arábicos, também da esquerda para a direita, em ordem crescente, começando com o primeiro indivíduo da 1º geração até o último, na última geração representada. O indivíduo que motivou a elaboração do heredograma, por apresentar determinado traço genético, é denominado probando ou caso-índex e pode ser identificado estando assinalado por uma seta no mapa familiar. Para a elaboração correta do heredograma, todos os indivíduos da família devem ser representados, mesmo aqueles abortados ou natimortos. A prole de um casal deve ser representada, em ordem de nascimento, da esquerda para a direita. A fim de facilitar a interpretação de um heredograma, há necessidade de se obedecer a certas etapas: I. Identificar casal (ou casais) representados com o mesmo fenótipo (ambos normais ou ambos afetados) e que apresentam, pelo menos, um filho com fenótipo distinto do deles; reconhecendo a heterozigose dos pais e homozigose recessiva do(s) filho(s) diferente(s); II. Sabendo quais são os caracteres dominante e recessivo, deve-se identificar todos os indivíduos recessivos; III. Sabendo que os homozigotos recessivos só transmitem o alelo recessivo aos seus descendentes e que recebem um alelo recessivo da cada um de seus parentais, determinar os demais genótipos possíveis na genealogia. Obs.: Caso não seja possível afirmar com certeza o genótipo de um indivíduo com fenótipo dominante, deve-se representar a letra correspondente a do alelo dominante e um traço acompanhando-a. Ex: A_, pois fica claro que pode ser AA ou Aa. Para refletir... e responder! Qual a vantagem do uso de mapas familiares? 41 AtividadesAtividadesAtividadesAtividadesAtividades ComplementaresComplementaresComplementaresComplementaresComplementares 1.....Uma mulher tem uma rara anomalia dominante das pálpebras, que impede a abertura total dos olhos (ptose). O pai dessa mulher tem ptose, mas sua mãe tem pálpebras normais. Sua avó paterna também apresentava pálpebras normais. a) Identifique os genótipos da mulher e de seus pais. b) Qual o percentual de filhos esperados com ptose na união entre essa mulher e um homem com pálpebras normais? Orientação: Revise como ocorre a transmissão de características que têm dominância completa e os fundamentos em que se apóiam o Mendelismo Clássico. Você pode optar por tentar montar o mapa familiar, embora a questão não o solicite, mas facilita a identificação dos genótipos de muitos indivíduos; caso contrário, identifique a os genótipos da geração parental da mulher e distribua essesdados no quadrado de Punnet. Depois, faça o mesmo para responder à letra “b”. 2.....O heredograma ao lado apresenta uma família com indivíduos portadores de fibromatose gengival (aumento da gengiva devido a um tumor). a) Essa doença hereditária é condicionada por alelo dominante ou recessivo? Justifique. b) Identifique os genótipos possíveis dos indivíduos dessa família. Orientação: É fundamental que você domine o conhecimento visto no tópico 4.3. (Análise de heredogramas) a fim de conseguir identificar os genótipos possíveis dos indivíduos e a dominância ou recessividade do alelo em questão. Não se esqueça da importância de iniciar a análise por um casal que tenha o mesmo fenótipo; no caso, ambos com fibromatose ou ambos sem essa característica. 42 Fundamentos de genética humana e das Populações A GENÉTICA E SEUS AVANÇOS TRILHANDO NOVOS CAMINHOS PARA O FUTURO EXTENSÕES DO MENDELISMO: CARACTERIZAÇÃO DAS HERANÇAS AUTOSSÔMICA E HETEROSSÔMICA Variações Nas Proporções Mendelianas Depois da redescoberta dos trabalhos de Mendel, vários experimentos sobre hereditariedade foram realizados. Alguns pesquisadores verificaram que as proporções fenotípicas mendelianas esperadas nem sempre eram obtidas quando trabalhavam com caracteres determinados por um par de alelos, ao contrário das proporções esperadas genotípicas. Partiremos agora para o estudo de tais casos, que não invalidam nem diminuem os princípios mendelianos, mas que os ampliam. Variações do Monoibridismo clássico Herança sem dominância completa. No mendelismo clássico, ocorre relação de dominância completa entre os alelos de um gene responsável por uma característica, e o indivíduo heterozigoto exibe o fenótipo dominante. Na ausência de dominância completa, ambos os alelos se manifestam no heterozigoto, resultando em duas situações, a depender da herança: · Sendo os alelos semidominantes entre si, o híbrido terá um fenótipo intermediário; · Sendo os alelos co-dominantes entre si, o híbrido expressará ambos os tipos de fenótipo ao mesmo tempo. Exemplo de semidominância: A cor das flores em boca-de-leão, Antirrhinum majus, pode ser branca, ou vermelha, quando são heterozigotas para alelos diferentes, mas, sendo heterozigota, a flor será rosa. Exemplo de co-dominância: Em nossa espécie, se um dos parentais é homozigoto para o tipo sangüíneo A e o outro, para o tipo B, a descendência heterozigota resultante terá tipo sangüíneo AB para o sistema ABO. Em ambos os tipos de alelos supracitados, o resultado esperado no cruzamento entre heterozigotos, ou seja, a geração F2, apresentará as proporções fenotípica e genotípica esperadas como 1:2:1. 43 Alelos letais Os genomas das diferentes espécies apresentam alelos que determinam o aparecimento de características prejudiciais ao metabolismo, resultando em doenças e/ou anomalias. O pesquisador francês Cuènot foi quem descobriu os alelos letais, em 1905, estudando a herança da cor da pelagem em camundongos. Ele verificou que todos os camundongos amarelos eram heterozigotos e os agutis, selvagens com pele acinzentada, eram homozigóticos recessivos, não existindo camundongos marelos homozigóticos. Realizando cruzamento entre camundongos amarelos entre si, Cuènot sempre obtinha a proporção fenotípica esperada de 2:1. A fim de esclarecer porque não se verificava a proporção mendeliana de 3:1, ele sugeriu que não havia fusão entre os gametas portadores do alelo dominante. Mais tarde, verificou-se que essa fecundação ocorria, mas o indivíduo morria na vida embrionária; dessa forma, percebeu-se que, para essa característica, a homozigose dominante era letal. Os alelos recessivos, de modo geral, podem ser recessivos ou dominantes. Expressividade e penetrância Nem sempre indivíduos que apresentam o mesmo tipo de alelo dominante, expressam mesmo fenótipo. Alguns podem exibir fenótipos mais ou menos acentuados, dependendo das condições ambientais a que estão submetidos e / ou de seu genótipo total. Genes cuja expressão varia apresentam expressividade variável. Ex.: Entre os indivíduos polidáctilos (portadores de dedos supranumerários), há aqueles com mãos e pés comprometidos, aqueles com somente número anormal em uma das mãos, aqueles com somente os pés apresentando a caracetrística, mas com o dedo anormal muito reduzido etc. Mesmo quando um indivíduo recebe um alelo dominante para determinada característica, ele pode não expressá-la, o que significa, então, que o genótipo tem penetrância incompleta. Se 100% dos indivíduos de determinado genótipo manifestam o fenótipo esperado, fala-se em penetrância completa. Ainda usando a polidactilia como exemplo, embora esse caráter seja dominante, 15% daqueles que portam o alelo exibem o fenótipo normal. Para refletir... e responder! Por que a descobertas dos alelos semidominantes, co-dominantes e letais não invalidou os princípios mendelianos? 44 Fundamentos de genética humana e das Populações Herança dos grupos sangüíneos humanos Sistema ABO Embora existam quatro grupos sangüíneos do sistema ABO, há três alelos envolvidos no processo e oito genótipos possíveis. Trata-se de uma herança do tipo polialelia, onde, nas células diplóides, o locus para a característica em questão é ocupado por uma das três formas alternativas do gene. Como nessa condição os cromossomos têm seu par, constituindo os pares de homólogos, o outro cromossomo também apresentará, no locus correspondente, uma dessas formas alélicas. Os quatro grupos sangüíneos para esse sistema são: A, B, AB e O. os alelos envolvidos são: IA , IB e i. O alelo i é recessivo em relação aos alelos IA, e IB , sendo que estes, necessariamente são dominantes em relação ao alelo i. Os alelos IA e IB , por sua vez, são co-dominantes entre si. Sendo assim, acompanhe a relação entre genótipos e fenótipo para esse sistema na tabela abaixo: Exemplificando uma situação hipotética de cruzamento: Sabendo que um homem do grupo sangüíneo “A” e sua esposa do grupo sangüíneo “B”, sendo ambos heterozigóticos, desejam ter filhos, quais os tipos sangüíneos esperados para o sistema ABO e em quais percentuais? P: homem x mulher IA, i IB, i F1: Determinação dos grupos sangüíneos do sistema ABO: Assim como os demais sistemas sangüíneos que estudaremos, o sistema ABO é identificado pelos tipos de proteínas presentes nos glóbulos vermelhos e que atuam como antígenos, que são chamados de aglutinogênios. No caso desse sistema, as referidas proteínas são denominadas de A e B. A presença do alelo IA determina a presença do aglutinogênio A; o alelo IB determina a presença do aglutinogênio B e o alelo i não determina a presença de aglutinogênio algum. O plasma sangüíneo apresenta duas proteínas específicas, que atuam como anticorpos para os antígenos do sistema ABO, que são chamadas de aglutininas. Estas são chamadas de anti-A e anti-B. Os filhos poderão ser dos grupos sangüíneos A, B, AB e O, em iguais percentuais (25%). 45 Denomina-se aglutinação sangüínea justamente o resultado da reação específica antígeno-anticorpo, que resulta em grumos no sangue (hemácias aglutinadas). Segue, abaixo, um quadro relacionando cada grupo sangüíneo com o genótipo e seu aglutinogênio e sua aglutinina específica. Obs.: A compatibilidade entre o aglutinogênio do doador de sangue a aglutinina do receptor desse sangue é fundamental para que a transfusão seja bem- sucedida. Sendo assim, os indivíduos do grupo O são doadores universais e aqueles do grupo AB são receptores universais. Sistema MN Landsteiner e Levine, em 1927, identificaram dois aglutinogênios em hemácias, reconhecidos como M e N. A identificação da presença dessas proteínas constitui a classificação do indivíduo quanto ao sistema MN. Entre os alelos do sistema MN, há ausência de dominância. A seguir, acompanhe na tabela abaixo, a relação entre genótipose fenótipos para esse sistema. Sistema Rh Em 1940, Landsteiner e Weiner descobriram o sistema Rh sangüíneos no sangue de macacos Rhesus e, posteriormente, constataram que as proteínas desse sistema também se encontravam presentes nas hemácias da maioria dos humanos testados. Aqueles que apresentam a proteína Rh são classificados como Rh+, em oposição à queles que não possuem esse tipo de proteínas, classificados como Rh-. Para refletir... e responder! Por que uma pessoa do grupo A não pode doar sangue para outra do grupo O? 46 Fundamentos de genética humana e das Populações O anticorpo anti-Rh só é formado quando uma pessoa Rh- recebe sangue do tipo Rh+. Considera-se, de forma simplificada, que a herança para o sistema Rh obedece ao mendelismo clássico com dominância completa, onde o alelo dominante R condiciona a presença da proteína nas hemácias. Dessa forma, indivíduos Rh+ podem ter genótipos RR ou Rr e aqueles Rh- só podem ser rr. Eritroblastose fetal: A DHRN (doença hemolítica do recém-nascido) caracteriza-se principalmente pela hemólise intensa e pela presença de eritroblastos jovens na circulação sangüínea do recém-nascido. É possível minimizar as chances de a mãe Rh- vir a ser sensibilizada após o nascimento do filho Rh+ por meio da injeção de anticorpos anti-Rh em até 72 horas após o parto. O tratamento da criança com DHRN consiste em fototerapia ou na troca de seu sangue (exsangüíneo-transfusão). A predisposição à essa doença é verificada quando a mulher Rh- está gestando um feto Rh+, que a sensibiliza com proteína Rh presente em suas hemácias. Mesmo em pequenas quantidades, as hemácias fetais contendo a proteína Rh são reconhecidas pelo sistema imune materno, que passa a produzir anticorpos anti-Rh. Esse feto não apresentará problema algum relacionado com esse caso, mas ocasiona uma situação indesejável para os próximos fetos com Rh+. Para refletir... e responder! Por que a ocorrência de eritroblastose fetal é menor que a esperada? 47 Pleiotropia, interação gênica, epistasia e herança quantitativa Pleiotropia No mendelismo clássico, vimos que um genes condiciona o aparecimento de somente um fenótipo, como por exemplo, gene para altura da planta ou tipo de cabelo em humanos. A pleiotropia, entretanto, é uma herança em que um único gene afeta mais de uma característica. Na espécie humana, há um gene pleiotrópico que causa, simultaneamente, fragilidade óssea, surdez congênita e esclerótica azulada. Esse gene, além de ter expressividade variável, apresenta penetrância incompleta: apenas 40% das pessoas que o possuem apresentam as três características simultaneamente. Interação gênica Herança em que dois ou mais pares de alelos, que se segregam independentemente, interagem, controlando o aparecimento de somente uma característica. As experiências de Bateson e Punnet, logo após a redescoberta da obra mendeliana, estudando a forma da crista em galinhas, demonstraram que combinações diferentes desses dois genes resultam em fenótipos diferentes, provavelmente, devido à interação entre seus produtos em nível bioquímico ou celular. As diferentes linhagens de galinhas têm cristas de várias formas. Acompanhe o quadro abaixo. Dessa forma, é fácil concluir que os genótipos possíveis são: R_ee: condicionando o fenótipo crista rosa. rrE_: condicionando o fenótipo crista ervilha. Rree: condicionando o fenótipo crista simples. R_E_: condicionando o fenótipo crista noz. Na Segunda Lei de Mendel, a F2 a proporção fenotípica esperada de 9:3:3:1. Nesta herança, são considerados dois caracteres. Perceba que, na interação gênica, só há um caráter, que apresenta diferentes fenótipos a depender da interação verificada entre os alelos envolvidos. A proporção genotípica, contudo, é a mesma em ambos os tipos de herança. 48 Fundamentos de genética humana e das Populações Epistasia Herança em que dois ou mais genes influenciam uma característica, sendo que um dos alelos envolvido tem efeito bloqueador no fenótipo. Este alelo “bloqueador” é chamado de epistático. Nessa herança, há redução do número de classes fenotípicas, alterando a proporção de 9:3:3:1 estabelecida por Mendel. Isso ocorre devido ao efeito inibidor do alelo de um gene localizado em cromossomo não-homólogo sobre outro gene, que, em conjunto, determinam a mesma característica. O gene epistático não exerce dominância sobre o outro gene. Ilustremos essa herança com o seu exemplo clássico: a cor das flores (púrpura ou branca) na ervilha Lathyrus odoratus. Neste trabalho, Bateson e Punnet cruzaram duas variedades diferentes com flores brancas, obtendo F1 com flores púrpura e a F2 com 9 púrpura e 7 brancas (9:7). Eles concluíram que os dois genes segregram independentemente e que estão envolvidos na síntese do pigmento antocianina, mas que cada gene tem um alelo recessivo que inibe a ação desse pigmento. Como bb e pp têm efeito epistático, a proporção fenotípica é de 9:7. Pelo quadrado de Punnet: Herança quantitativa Essa herança, que também pode ser chamada de herança multifatorial, herança poligênica e poligenia, tem a particularidade de expressar as classes fenotípicas de forma contínua. Ronald Fisher propôs que as características de variação contínua são influenciadas por vários genes de pequeno efeito e com segregação independente e que sofrem grande influência dos fatores ambientais. Como exemplos de características humanas que obedecem a essa herança tem-se: altura, peso, cor da pele, cor dos olhos etc. Atualmente, os alelos relacionados com herança quantitativa são chamados de poligenes e estes podem ser efetivos (quando contribuem com uma mesma parcela para a modificação do fenótipo) e não-efetivos (aqueles que não exercem modificação no fenótipo). Respectivamente, os alelos efetivos e não-efetivos são representados por letras maiúsculas e minúsculas. 49 Exemplificaremos essa herança com a característica cor da pele em humanos. Segundo o modelo proposto por Davenport, há dois pares de alelos envolvidos na determinação dessa característica. Serão usadas as letras maiúsculas B e N como representando alelos efetivos para a presença de melanina na pele e as letras minúsculas b e n, para aqueles não-efetivos. Obs.: Perceba que, na herança quantitativa, a representação gráfica da geração F2 (nº de indivíduos x variação fenotípica) revela uma curva de distribuição normal. F2: Pelo quadrado de Punnet: Resultados: 50 Fundamentos de genética humana e das Populações Herança de alelos localizados nos heterossomos Quando estudamos o ciclo celular, vimos que os cromossomos se apresentam, na condição diplóide como pares de homólogos, sendo claro que, em um mesmo par de homólogos, a seqüência dos loci é a mesma. É importante ressaltar que isso é válido para os autossomos, ou seja, os cromossomos que são comuns aos indivíduos de ambos os sexos, mas não aos heterossomos (cromossomos X e Y). Entre os cromossomos sexuais, há poucos genes que possuem os mesmos loci. Isso se verifica nas regiões homólogas entre os cromossomos X e Y. Os loci das regiões não-homólogas estão presentes em homozigose nas mulheres, pois têm heterossomos do tipo XX, mas em hemizigose nos homens, pois são XY. Isso significa reconhecer que um alelo recessivo presente em somente um cromossomo X de uma mulher não se manifesta, mas, no caso de homens, sim. Distingue-se quatro tipos de heranças cujos genes se verificam nos cromossomos sexuais: Herança ligada ao X Também conhecida como herança ligada ao sexo, apresenta genes localizados na região não-homóloga do cromossomo X. As mulheres podem ser homozigotas (dominantes ou recessivas) ou heterozigotas e os homens sempre são hemizigotos, porque têm o cromossomo X em dose simples. Por isso, a freqüência das características com herança ligada ao X é maior em homens, como, por exemplo, daltonismo (doença
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