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Economia Política - Livro-Texto Unidade II

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Unidade II
Unidade II
5 REPRODUÇÃO DO CAPITAL E TENDÊNCIAS DA ACUMULAÇÃO
Uma compreensão muito comum sobre a Teoria do Valor de Marx é de ela ser basicamente uma 
teoria da exploração dos capitalistas. Como se procurou destacar neste material até aqui, não é tão 
simplório assim.
Neste momento, é possível já reconhecer que um dos objetivos da exposição de Marx sobre o modo 
de produção capitalista é explicar como, por trás do mundo imediato da aparência do sistema capitalista 
– no qual as relações sociais se apresentam como relações entre sujeitos livres, que se encontram nos 
mercados para realizarem trocas segundo suas vontades individuais –, encontra-se o núcleo essencial e 
racional da produção capitalista.
O objetivo maior da circulação do dinheiro como capital não é satisfazer necessidades humanas; 
esse objetivo é aquele expresso pela circulação simples. A meta por trás da transformação do dinheiro 
em capital é a expansão do próprio valor. Esse processo se torna compreensível quando se analisa a 
chamada divisão social do trabalho.
O processo de produção capitalista é a síntese do processo de trabalho e do processo de valorização. 
O exame desse processo sintético, das formas de produção de excedente econômico, expõe como os 
métodos de produção (cooperação, manufatura e grande indústria) têm como efeito subordinar o 
processo de trabalho ao processo de valorização, isto é, subordinar o trabalho ao capital. O controle 
do processo de produção se desenvolve em sintonia e adequação com a própria produção capitalista; 
ele não é o mero resultado de um desenvolvimento histórico neutro, mas sim expressa uma finalidade: 
a valorização máxima do valor.
Essas análises desenvolvidas por Marx permitem decifrar o núcleo racional da produção capitalista, 
que se localiza muito além do simples reconhecimento da liberdade contratual e igualdade jurídica 
entre os agentes econômicos (capitalistas e trabalhadores, basicamente).
Contudo, a Teoria do Valor de Marx não é apenas isso. Ela nem é uma teoria que explica 
somente a existência da exploração do trabalho, e nem uma teoria que afirma existir uma essência 
exploratória para além das aparências da circulação, de onde os economistas vulgares, porta-
vozes do livre-cambismo, tiram suas conclusões. A teoria exposta em O Capital pretende também 
explicar por que as ideias falsas e ilusórias sobre o modo de produção capitalista precisam se 
expressar necessariamente da maneira pela qual se expressam. Noutras palavras, é dever da teoria 
explicar por que a aparência do sistema aparece de um determinado modo, como o reino da 
liberdade, da igualdade e da propriedade privada.
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Trata-se, portanto, de explicar a relação entre aparência e essência desse grande negócio chamado 
capital, o que exige compreender a relação entre o nível em que se dão as relações individuais e as 
relações sociais mais amplas, especialmente as relações entre classes sociais.
A passagem de nível dessas relações se justifica como necessária à teoria na medida em que, mesmo 
observando uma troca individual entre um capitalista e um trabalhador, é necessário pressupor a 
existência de outros tantos e infinitos atos de compras e vendas. Por exemplo, quando um capitalista 
transforma seu dinheiro em capital por meio da compra de máquinas, equipamentos e instalações, é 
indispensável supor a existência de outros capitalistas especializados na produção dessas mercadorias. 
Essa pressuposição necessária à análise demonstra que os diferentes capitais individuais constituem, na 
verdade, somente frações de um processo mais amplo. Ela demonstra que o movimento de um capital 
individual é, de fato, uma parte do movimento do capital social global da sociedade (TEIXEIRA, 1995).
Cabe agora examinar como esse movimento do capital social se constitui em sua totalidade no 
processo de produção.
 Observação
Essa totalidade, contudo, não é a totalidade da reprodução global do 
capital. Nossa análise aqui se concentra ainda no processo de produção. Os 
processos de circulação e análise conjunta do grande negócio do capital 
são algo que Marx apresenta nos Livros 2 e 3 de O Capital. Estamos ainda 
nos termos do Livro 1. 
Essa totalidade do processo de produção nos revela que o processo de acumulação de capital é um 
processo contínuo e ininterrupto. Com efeito, não faz sentido querer analisá-la do ponto de vista subjetivo 
dos capitalistas, mas das condições gerais para que esse processo possa se reproduzir continuamente.
Além disso, como destaca Francisco Teixeira (1995), caso não se transcenda o nível das representações 
subjetivas dos agentes econômicos (capitalistas e trabalhadores) e se coloque o nível da objetividade do 
sistema, o conteúdo social da obra de Marx acaba por se desfazer. Se nós permanecermos no nível das 
relações individuais, não será possível demonstrar cientificamente a exploração (a mais-valia como 
apropriação de trabalho alheio não pago), isso porque se a mais-valia é tida apenas como fruto de uma 
relação individual entre capitalista e trabalhador, em que o último é obrigado a trabalhar um tempo além 
do que é necessário para sua reprodução, e o excedente de trabalho pode ser justificado e legitimado 
como uma recompensa pelo esforço do capitalista. O capitalista poderia ser visto como um agente que, 
um dia, num passado remoto, acumulou um certo patrimônio e agora o arrisca num negócio em que 
ele não tem plena certeza se poderá reavê-lo, isto é, o capitalista tem seu lucro como fruto do risco da 
atividade por ele empreendida, e não da exploração da força de trabalho.
O único modo de desmistificar essa percepção de que o capitalista é aquele que adianta 
recursos aos trabalhadores e que assume os riscos da produção, por isso tendo direito a uma cota-
parte dos produtos do trabalho, é analisando o processo de acumulação sob a ótica de sua totalidade. 
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Como afirma Francisco Teixeira (1995), apenas assim é possível demonstrar e defender cientificamente 
a necessidade de práticas sociopolíticas que apontem para a necessidade de uma transformação radical 
da sociedade. É a análise da totalidade que expõe por que argumentos e apelos sobre a boa vontade 
dos indivíduos, ou a condenação moral de excessos, são insuficientes para se alterar significativamente 
a forma de reprodução das sociedades capitalistas. Essa análise é feita por Marx por meio do exame da 
reprodução simples e da reprodução ampliada.
5.1 Reprodução simples e reprodução das relações de classe
Iniciemos a discussão recuperando um aspecto importante da acumulação de capital: a sua finalidade, 
em sua compreensão crítica, é a criação de mais-valor. A própria fórmula geral do capital (D – M – D’) 
denota esse objetivo – a realização do valor em dinheiro e a retomada do processo.
O que é a reprodução simples?
Ela é uma suposição teórica da utilização da renda capitalista (forma assumida pelo mais-valor) 
como um fundo de consumo ou um gasto de mesma periodicidade. Isso significa que o capitalista gasta 
toda a renda obtida em um ano nesse mesmo ano, por exemplo. O termo simples denota exatamente a 
simples repetição, no tempo, do processo de produção na mesma escala.
Mas qual o objetivo de se fazer uma análise desse tipo?
A implicação da análise é que a simples repetição desse processo imprime novas características a ele. 
A reprodução simples dissolve muitas das características aparentes (quando observadas isoladamente) 
da acumulação de capital.
Paradesenvolver essa análise, Marx estabelece algumas suposições simplificadoras (que nos Livros 2 
e 3 são problematizadas).
• o capitalista que produz a mercadoria a vende pelo seu valor, ou seja, supõe-se uma identidade 
(provisória) entre valores e preços;
• as condições de repartição do mais-valor (do excedente econômico gerado) não é considerada, 
isto é, toma-se o produtor capitalista como proprietário de todo o mais-valor por ele criado.
Além dessas duas simplificações, podemos incorporar outros dois resultados obtidos pelas análises 
anteriores, especialmente sobre as características do processo de trabalho:
• o processo de trabalho é um meio para o processo de valorização de capital. Ele se encontra 
subsumido (subordinado) ao processo de valorização;
• a finalidade da introdução da maquinaria no modo de produção capitalista não é aliviar o trabalho 
diário. Essa é uma compreensão ingênua, resultado de não se examinar em detalhes as condições 
de trabalho. A finalidade da introdução da maquinaria é, na realidade, atuar para baratear 
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mercadorias e reduzir a jornada de trabalho que o trabalhador necessita para si (prolongando a 
outra parte). Ele é um meio para a produção de mais-valia (relativa e absoluta).
Nesse exercício teórico que é a reprodução simples, cabem algumas observações sobre a compra da 
força de trabalho.
O trabalhador apenas é pago após sua força de trabalho ter atuado e realizado tanto o seu próprio 
valor quanto o mais-valor (expresso nas mercadorias), o que não apenas é algo factível como também 
é adequado à observação cotidiana. O trabalhador primeiro trabalha (durante o mês) e depois recebe 
seu salário (ao final do mês, por exemplo). Isso, contudo, significa que é o trabalhador quem produz os 
fundos para seu próprio pagamento.
Essa consideração sobre as condições de compra da força de trabalho já abre uma questão importante, 
que não é percebida precisamente pela “ilusão” gerada pelo dinheiro. Vejamos:
• Tomando a perspectiva individual:
— A ação do trabalhador converte uma parte dos meios de produção em produto.
— Uma parte do produto anterior se reconverte em dinheiro, e é esse dinheiro (fruto de seu 
trabalho anterior) que será pago ao trabalhador no momento presente.
Agora, consideremos essa mesma questão da compra da força de trabalho não tomando como foco 
os indivíduos, mas as classes sociais. A situação começa a mudar de figura.
• Tomando a perspectiva de classe:
— Classe capitalista: entrega à classe trabalhadora títulos (sob a forma-dinheiro) sobre parte do 
produto produzido pelos próprios trabalhadores.
— Classe trabalhadora: devolve esses títulos (expressos em dinheiro) em troca de parte 
dos produtos dos capitalistas (que são na verdade produtos do trabalho da própria 
classe trabalhadora).
É possível perceber que a questão da compra e venda da força de trabalho muda completamente de 
foco quando a análise sai do ato individual e isolado para uma perspectiva da totalidade. Marx reafirma 
aqui algo que já havia destacado em momentos anteriores: a “ilusão” de um igualitarismo econômico 
entre todos os agentes (sejam eles capitalistas ou trabalhadores) é um resultado da própria forma que os 
produtos do trabalho assumem. Tanto a discussão sobre forma do valor quanto sobre o que é capital 
encontram aqui uma nova caracterização: capital é a forma social de propriedade econômica de uma 
classe social específica (a classe capitalista).
Cabe aqui precisar o que se entende por classe trabalhadora e classe capitalista. Nesse nível da 
análise de Marx, a classe trabalhadora é composta por aqueles que vendem sua força de trabalho 
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no mercado; já classe capitalista é composta por aqueles que compram força de trabalho no mercado 
com o objetivo de produzir mercadorias.
Antes de dar sequência ao exercício teórico da reprodução simples, Marx oferece uma observação 
histórica que, comparativamente, contribui para situar sua argumentação. Tomemos o seguinte exemplo 
(pensando relações feudais):
• Um camponês trabalha três dias da semana com seus próprios meios de produção e em seu 
próprio campo.
• Em outros três dias da semana, ele realiza a corveia no domínio do senhor feudal.
• Nos três dias que trabalha para si, o camponês reproduz seu próprio fundo de subsistência 
(suas condições materiais de existência). Porém, ele não estabelece nenhuma relação com 
meios de pagamento adiantados para remunerar seu trabalho nos outros três dias que 
trabalha para o senhor.
• Essa relação é evidentemente uma relação de exploração explícita de trabalho alheio. O senhor 
explora o trabalho do camponês quando ele passa três dias trabalhando sem remuneração.
Agora, alteremos ligeiramente esse exemplo:
• Digamos que o senhor se aproprie de todos os meios de produção (terra, sementes, animais etc.) 
e que o trabalhador tenha agora de vender sua força de trabalho.
• O camponês, agora um trabalhador assalariado, continua tendo uma jornada de trabalho de seis 
dias. Ele trabalha seis dias em troca de salário, afinal, ele não tem mais condições de trabalhar 
somente para si (a terra, as sementes, os animais etc. são do senhor, e não do trabalhador).
• Aquilo que era tomado como corveia no exemplo anterior assume agora a forma de trabalho 
assalariado, e o fundo de subsistência (que antes era reproduzido pelo próprio trabalhador) 
assume a forma de um capital que o senhor feudal adianta a seu servo.
A exploração da força de trabalho, que antes era explícita, agora não é mais evidente. Essa exploração 
é intermediada pela existência da relação monetária entre trabalhador (antigo camponês) e capitalista 
(o senhor do exemplo anterior). Contudo, como reafirma Marx, mantém-se uma situação de exploração 
(ela apenas foi mascarada pelo dinheiro).
Todavia, mesmo que se tenha entendido o argumento até aqui, parece que essa chamada reprodução 
simples ainda não ficou clara. Para avançar na análise, vamos lembrar: a reprodução simples é uma 
sucessão de ciclos de produção, o que significa a manutenção da riqueza social no mesmo nível da 
produção anterior, ou seja, não estamos considerando a mais-valia extraída da força de trabalho e 
reaplicada como acumulação de capital.
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Após reafirmar que a relação de compra e venda de força de trabalho é uma relação de exploração, 
fica ainda uma pergunta: de onde surgiu o capital que é aplicado periodicamente na produção?
Vamos supor que esse capital seja produto de uma acumulação primitiva individual, que fez de uma 
pessoa qualquer um capitalista, isto é, vamos imaginar que o capital inicial aplicado na produção não 
seja fruto de exploração da força de trabalho. Depois de examinarmos esse caso, poderemos encerrar 
esse exercício sobre a reprodução simples.
Tomemos por suposição que um capitalista tenha um capital original de R$ 1.000,00, que não 
seja fruto de exploração alguma. Esse capital é aplicado num processo de produção capitalista, o que 
significa que ele produz mais-valia. Digamos que a mais-valia produzida seja de R$ 200,00, e que por 
se tratar de mais-valia saibamos que ela é trabalho não pago. Como a suposição de reprodução simples 
significa que não há acumulação de capital, devemos supor que o valor consumido na produção seja 
igual ao valor da mais-valia, ou seja, R$ 200,00.
A demonstração de Marx é que, num determinado momento da reprodução, todo o capital original 
se torna mais-valia capitalizada. O objetivo é desmontar a ilusãode que é o capitalista quem paga ao 
trabalhador mediante um salário pago com o capital do capitalista, que seria um trabalho acumulado 
no passado.
Colocando essas informações numa tabela, temos:
Tabela 1 – Exploração e reprodução simples
Ciclos de 
reprodução 
simples
Capital 
original Capital inicial
Mais-valia
(+)
Capital original 
consumido
( – )
Capital original 
restante
1 1.000,00 1.000,00 200,00 200,00 800,00(1000 – 200)
2 800,00 1.000,00(800+200) 200,00 200,00
600,00
(800 – 200)
3 600,00 1.000,00(600+400) 200,00 200,00
400,00
(600 – 200)
4 400,00 1.000,00(400+600) 200,00 200,00
200,00
(400 – 200)
5 200,00 1.000,00(200+800) 200,00 200,00
0,00
(200 – 200)
6 0,00 1.000,00(pura mais-valia) 200,00 (0,0 – 200,00) ...
A conclusão extraível da análise dessa tabela é que, considerando que o capital original é 
constantemente consumido no processo de reprodução, em um dado momento (no caso da tabela, em 
cinco anos), todo o capital disponível ao capitalista se converte em fruto de mais-valia. Isso quer dizer 
que, independentemente de o capital original não ter sido origem de exploração, mesmo em condições 
simples de reprodução, num dado momento o valor do capital possuído originalmente será igual à 
quantia de mais-valor apropriada sem equivalente.
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Temos aqui a concretização de argumentos apresentados anteriormente em O Capital. No começo da 
análise, a separação entre possuidor de meios de produção (capitalista) e possuidor de força de trabalho 
(trabalhador) era o ponto de partida da argumentação sobre o processo de produção capitalista. Agora, 
tem-se como resultado (ainda parcial) que aquilo que era visto como ponto de partida é reproduzido 
constantemente mesmo no processo de reprodução simples. Como afirma Marx (2013, p. 653): “o 
processo de reprodução produz não apenas mercadorias e mais-valor, ele produz e reproduz a própria 
relação capitalista: de um lado o capitalista, do outro, o trabalhador assalariado”.
A reprodução do capital não é simplesmente reprodução de excedente econômico, ela é 
fundamentalmente reprodução de relações de classes sociais.
5.2 Reprodução ampliada e lei geral da acumulação capitalista
A maneira pela qual se precisou a noção de classe até o momento indica que o capitalista apenas o será 
se na verdade seu dinheiro se transformar continuamente da forma dinheiro para a forma mercadoria e 
novamente desta para a forma dinheiro (ou seja, realizar o processo D – M – D’) num processo contínuo 
e sem limites. Além disso, a reprodução simples mostrou, mesmo se supuséssemos que o capital original 
do capitalista não provém de exploração, que a reprodução do capital é reprodução de relações sociais 
capitalistas; afinal, ela reproduz lugares ocupados no processo de produção.
Agora, tratando da reprodução ampliada do capital, é o caso de avaliar o que ocorre quando uma 
parte da mais-valia produzida é utilizada para ampliar a magnitude do capital. Como destaca Marx, 
se na reprodução simples temos que a mais-valia se origina do capital, na reprodução ampliada a 
mais-valia se transforma em capital. Aliás, essa é a definição de acumulação de capital: “a aplicação de 
mais-valor como capital ou a reconversão de mais-valor em capital” (MARX, 2013, p. 655).
Suponhamos um capitalista do ramo de algodão (produção de fios). O valor de sua produção 
corresponde a 240.000 quilos de fio, num valor de R$ 12.000,00 (o exemplo de Marx, vale notar, é em 
libras esterlinas). A mais-valia corresponde a R$ 2.000,00 ou 40.000 quilos de fio (2.000/12.000 = 1/6 
da produção é mais-valia).
Tabela 2 – Reprodução ampliada de capital
Ciclo de 
reprodução Capital inicial
Capital constante
(meios de 
produção)
Capital variável
(salários)
Massa de 
mais-valia Valor da produção
1 10.000 8.000 2.000 2.000 12.000
2 12.000(10.000+2.000)
9.600
(8.000+1.600)
2.400
(2.000+400)
2.400
(2.000+400) 14.400
3 14.400(12.000+2400)
11.520
(9.600+1.920)
2.880
(2.400+480)
2.880
(2.400+480) 17.280
A tabela apresenta alguns ciclos de reprodução desse capital que produz R$12.000,00. Se a 
mais-valia é de R$ 2.000,00, significa que o capital inicial é de R$10.000,00. Estamos supondo uma relação 
entre capital constante (meios de produção e matérias-primas) e capital variável (salários) de 4 para 1.
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Observando os ciclos de reprodução, o reinvestimento da mais-valia transforma a acumulação de 
capital em um processo crescente e ampliado. A cada novo ciclo, a mais-valia do período anterior é 
transformada em capital, o que é algo fácil de se notar. Contudo, a transformação da mais-valia em 
capital coloca algumas questões críticas importantes para Marx.
O pressuposto difundido pelos zeladores do capital é de que todo o capital é fruto do esforço e do 
trabalho dos capitalistas. Isso pode até ser verdade para os 10 mil reais iniciais aplicados na produção, 
contudo o cenário é diferente com os 2 mil reais novos que aparecem no valor final da produção. A 
origem desses 2 mil reais já é conhecida, ela é justamente a mais-valia, o mais-valor mais-valia e, 
enquanto tal, “desde sua origem, ele não contém um só átomo de valor que não derive de trabalho 
alheio não pago” (MARX, 2013, p. 658).
Semelhantemente ao que se pode extrair da reprodução simples, a continuidade da acumulação 
ampliada de capital transforma todo o capital em mais-valia capitalizada.
Na percepção capitalista, que toma somente o ponto de vista individual (e isolado), o mais-valor 
resultante do processo de produção é fruto da compra da força de trabalho segundo as leis da troca 
de mercadorias. Como reza o liberalismo, deu-se por meio do exercício de atos de vontade realizados 
por sujeitos juridicamente livres. Contudo, o mero reconhecimento de que acumulação é acumulação 
continuada de capital exige que sempre haja um capitalista (sujeito que compra) e um trabalhador 
(sujeito que vende força de trabalho).
Esse processo explica a conversão das leis de propriedade mercantil, que defendem que as trocas se 
dão de acordo com os trabalhos (e as produtividades) dos agentes envolvidos, em leis de apropriação 
capitalista. A relação de troca entre capitalista e trabalhador se revela aparência, que se manifesta 
na circulação das mercadorias, mas que é estranha ao conteúdo e à essência da relação. A relação de 
compra e venda é apenas uma expressão formal da acumulação. O conteúdo da acumulação de capital 
está no fato de que o capitalista troca continuamente uma parte de trabalho alheio já realizado (fruto 
de exploração) por uma maior quantidade de trabalho alheio. Como destaca Marx:
Originalmente, o direito de propriedade apareceu diante de nós como 
fundado no próprio trabalho. No mínimo esse suposto tinha de ser admitido, 
porquanto apenas possuidores de mercadorias com iguais direitos se 
confrontavam uns com os outros, mas o meio de apropriação da mercadoria 
alheia era apenas a alienação [Veräußerung] de sua mercadoria própria, e esta 
só se podia produzir mediante o trabalho. Agora, ao contrário, a propriedade 
aparece do lado do capitalista, como direito a apropriar-se de trabalho 
alheio não pago ou de seu produto; do lado do trabalhador, como 
impossibilidade de apropriar-se de seu próprio produto. A cisão entre 
propriedade e trabalho torna-se consequência necessária de uma lei que, 
aparentemente, tinha origem na identidade de ambos (MARX, 2013, p. 659).
A troca, tida como expressão cristalizada dos benefícios e da liberdade inaugurada pelo mercado, 
efetiva-se na verdade apenas na aparência, posto que a parte do capital trocadapelo capitalista por 
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força de trabalho não é mais do que uma parte do produto do trabalho alheio dos próprios trabalhadores 
e que fora apropriado sem equivalente.
Resumindo:
• Forma: compra e venda contínua de força de trabalho. Perceptível no âmbito da circulação 
(mercado, enquanto simples espaço social de trocas).
• Conteúdo: troca entre trabalho alheio já objetivado e sem equivalente por maiores quantidades 
de trabalho vivo alheio. Compreensível a partir da análise da produção capitalista contínua 
(acumulação/reprodução) de valores.
• Aparência: direito de propriedade fundado no trabalho (dos indivíduos indiscriminadamente).
• Essência: propriedade como direito de apropriação de trabalho alheio não pago.
Mas isso não fere explicitamente o princípio de mercado da troca livre de equivalentes? Não. Como 
explica Marx, o ponto é que as leis da produção de mercadorias serão observáveis apenas se tomarmos 
cada ato de troca isoladamente, fora de qualquer conexão mais ampla com as relações que os sustentam. 
Como vociferam os porta-vozes do capital, os atos de compra e venda são executados somente entre os 
indivíduos isoladamente. Para eles, é completamente inadmissível que se procure explicar isso por meio 
de relações entre classes sociais.
Assim, pode-se explicar por que o ódio a qualquer raciocínio que mencione classes sociais.
6 LEI GERAL DA ACUMULAÇÃO CAPISTALISTA E TENDÊNCIAS DA ACUMULAÇÃO
A reprodução ampliada do capital, dados seu caráter e sua dinâmica, impõe uma lógica particular 
ao funcionamento do modo de produção capitalista. Como a acumulação de produção é justamente 
a transformação de mais-valia em capital num processo ampliado de reprodução, as condições de 
extração ampliada de mais-valia têm, portanto, um caráter central nesse processo.
Essa transformação da mais-valia em capital significa a necessidade de consumir produtivamente 
a mais-valia, convertendo-a em meios de produção e força de trabalho também em escala ampliada.
Como, destaquemos novamente, o objetivo da produção capitalista é a valorização do 
valor-capital, a forma de ampliar a valorização do capital é ampliando a mais-valia relativa. Uma 
forma eficaz de ampliar relativamente a mais-valia é justamente com a elevação da produtividade 
do trabalho. A produtividade social do trabalho é, para Marx, a relação entre o volume relativo 
de meios de produção que o trabalhador transforma, em um mesmo tempo e com a mesma 
energia de trabalho, em produto. Noutras palavras, a elevação da produtividade significa produzir 
mais mercadorias proporcionalmente em menos tempo de trabalho. Aliás, recuperando o que 
foi discutido sobre mais-valia relativa, é justamente no aumento da quantidade de meios de 
produção que o trabalhador é capaz de transformar num mesmo tempo que residem os segredos 
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da produção capitalista (segredos que são intensificados e dinamizados com a maquinaria e 
grande indústria).
É possível abordar essa questão por meio dos componentes do valor. Como vimos, é possível 
desmembrar analiticamente o valor do seguinte modo:
Valor = capital constante + capital variável + mais-valia
 V = c + v + m
Sendo a mais-valia o sobretrabalho que não é pago ao vendedor da força de trabalho, que recebe 
apenas o valor referente ao valor de sua força de trabalho (sob a forma de capital variável), uma forma 
de aumentar a mais-valia é diminuindo o valor do capital variável, o que aumenta relativamente a 
massa de trabalho não pago. Contudo, a lógica de elevação da produtividade do trabalho tem um 
caráter contraditório para a acumulação de capital.
Para explicar essa contradição, precisamos introduzir um novo conceito à discussão, o de composição 
orgânica do capital.
Sob a perspectiva do valor, a composição orgânica do capital se determina como a proporção em 
que o capital se reparte em capital constante (valor dos meios de produção) e capital variável (valor da 
força de trabalho). Sob a perspectiva das condições materiais de produção, ela pode ser tratada como 
a divisão do capital em meios de produção (trabalho passado materializado) e força viva de trabalho 
(aquela que efetivamente cria valor novo).
Ora, os diversos capitais individuais que se aplicam num determinado ramo de produção não 
têm necessariamente as mesmas composições orgânicas. Porém, é possível encontrar a média dessas 
composições, o que representa a composição (média) do capital total desse ramo de produção que se 
procura analisar.
Vamos supor a existência de três capitais individuais de mesma magnitude (1.000,00), porém com 
composições orgânicas diferentes. Esses capitais exploram a força de trabalho sob as mesmas condições, 
ou seja, produzem a mesma massa de mais-valia segundo a força de trabalho empregada. Com isso, a 
taxa de mais-valia (relação entre mais-valia e capital variável) é a mesma.
Tabela 3 – Ramo de produção com composições orgânicas diferentes
Capitais individuais
(1000)
Capital 
constante
(c)
Capital 
variável
(v)
Taxa de 
mais-valia
(m/v)
Mais-valia
(m)
Valor individual
(c+v+m)
1 750 250 100% 250 1.250
2 500 500 100% 500 1.500
3 250 750 100% 750 1.750
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Como podemos visualizar na tabela, os capitais individuais repartem o capital (de 1.000) em 
proporções diferentes entre capital constante e capital variável (mantendo a soma c + v = 1.000). 
Considerando que o valor individual de cada capital é c + v + m, temos que os valores individualmente 
produzidos pelos capitais, que têm a mesma taxa de exploração (taxa de mais-valia, de 100% do capital 
variável), são diferentes.
Sem embargo, valor não é valor individual. A grandeza do valor é dada pela quantidade de trabalho 
socialmente necessária para a produção da mercadoria. Logo, as mercadorias não são vendidas pelos 
seus valores individuais, mas sim pelo valor reconhecido socialmente como o necessário para a produção. 
Nesse caso, vamos considerar que o valor reconhecido como necessário é a média adotada pelos capitais.
Tabela 4 – Composição orgânica e mais-valia médias do ramo de produção
Capital constante
médio
Capital variável
médio
Taxa de 
mais-valia
(m/v)
Mais-valia
média
Valor
médio
500
750 500 250
3
+ +



upcurlybracketleft upcurlybracketmid��� upcurlybracketright���
500
250 500 750
3
+ +



upcurlybracketleft upcurlybracketmid��� upcurlybracketright���
100% 500 1.500
O valor médio da produção gerada pelo ramo é idêntico ao valor da produção individual do capital 
individual 2. Isso não é uma coincidência; acontece que a composição orgânica média é igual à 
composição orgânica do capital 2. O que esse valor médio nos diz?
Ele aponta que a produção de todos os capitais desse ramo é negociada pelo valor de 1.500. Isso 
significa que o “capital 1”, mesmo tendo um valor individual de 1.250, dadas as relações de produção 
capitalista, é capaz de vender sua produção pelo valor de 1500. Já o capital 3, mesmo tendo um valor 
individual de 1.750, consegue vender sua produção apenas pelos 1.500 reconhecidos socialmente.
Tabela 5 – Transferência de valor no ramo de produção
Capitais individuais Valor individual Valor médio Transferência de valor
1 1.250 1.500 + 250
2 1.500 1.500 0
3 1.750 1.500 - 250
Como se pode observar pela tabela, o que houve efetivamente foi uma transferência de valor entre 
os capitais individuais presentesno ramo analisado. Essa transferência se deu do capital 3, com menor 
composição orgânica (c/v), para o capital 1, com maior composição orgânica.
Esse mesmo raciocínio pode ser extrapolado para uma análise não só de capitais individuais, mas 
também para ramos de produção com composições orgânicas diferentes (em vez de supormos capital 1, 
2 e 3, poderíamos tratar como ramo 1, ramo 2 e ramo 3).
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Essa relação entre valor individual e valor social explica por que os capitais individuais buscam 
constantemente aumentarem a composição orgânica do capital, seja por meio de inovações, seja por 
meio de outras mudanças na organização industrial.
O aumento da composição orgânica nada mais é do que uma outra face do aumento da produtividade. 
Se é o trabalho vivo aquele que produz valor e aquele do qual se origina o mais-valor, o aumento da 
composição orgânica afeta as condições de produção de mais-valia.
De um lado, os capitalistas individuais buscam constantemente ampliar sua composição orgânica, o 
que permite que eles se apropriem de mais valor, em geral superior à mais-valia produzida por eles. Por 
outro lado, quando todos os capitalistas assumem essa postura, a própria massa de mais-valia tende a cair.
Imaginemos que, após uma série de inovações e reorganizações da produção, os capitais 2 e 3 
(da Tabela 3) tenham sido capazes de aumentar suas composições orgânicas. É possível supor que 
também o capital 1 buscou melhorar sua posição diante de seus concorrentes. A tabela a seguir 
ilustra essa nova situação, em que podemos inclusive supor um mesmo volume de capital (1.000) para 
cada capital individual.
Tabela 6 – Ramo de produção com novas composições orgânicas
Capitais individuais
(1000)
Capital 
constante
(c)
Capital 
Variável
(v)
Taxa de 
mais-valia
(m/v)
Mais-valia
(m)
Valor individual
(c+v+m)
1 900 100 100% 100 1100
2 800 200 100% 200 1200
3 700 300 100% 300 1300
Observando a tabela, todos os capitais aumentaram suas composições orgânicas, a ponto de o valor 
médio agora se expressar como 1.200. Ao buscarem ampliar a parte relativa a capital constante, a massa 
de mais-valia total produzida pelo ramo caiu. Antes, ela era 1.500 (total de mais-valia dos três capitais); 
agora, não passa de 600.
O aumento da capacidade de produção, que define a própria reprodução ampliada, resulta 
em um aumento de valores de uso (bens materiais), porém com uma redução do valor unitário 
de cada mercadoria.
Essa contradição inerente à acumulação de capital se deve precisamente ao fato de ela não ser o 
simples somatório das ações individuais dos capitalistas. O valor é uma relação social ampla, assim como 
a extração de mais-valia. Ao buscar baratear a sua produção, o que permite vender mais mercadorias, os 
capitais individuais em concorrência impõem uma redução do valor e da mais-valia acumulada.
Ao mesmo tempo que as mudanças expressas pela alteração da composição orgânica aumentam 
as forças produtivas do trabalho (aumentando a quantidade de valores de uso), elas reduzem a 
quantidade de valor incorporado em cada mercadoria.
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Contudo, como se trata de acumulação de capital, o razoável é supor que o volume de capital 
aplicado na produção se amplia. Isso permite que, mesmo analisando estaticamente, seja possível 
visualizar essa queda do valor individual; o próprio crescimento do capital implica maior incorporação 
de força de trabalho. Sobre esse aspecto, Marx afirma o seguinte:
Assim como a reprodução simples reproduz continuamente a própria 
relação capitalista – capitalistas de um lado, assalariados de outro –, 
a reprodução em escala ampliada, ou seja, a acumulação, reproduz a 
relação capitalista em escala ampliada – de um lado, mais capitalistas, ou 
capitalistas maiores; de outro, mais assalariados. A reprodução da força de 
trabalho, que tem incessantemente de se incorporar ao capital como meio 
de valorização, que não pode desligar-se dele e cuja submissão ao capital 
só é velada pela mudança dos capitalistas individuais aos quais se vende, 
constitui, na realidade, um momento da reprodução do próprio capital. 
Acumulação do capital é, portanto, multiplicação do proletariado 
(MARX, 2013, p. 690, grifo nosso).
Seria possível defender, portanto, que a acumulação capitalista cria condições mais favoráveis aos 
trabalhadores (gerando empregos, por exemplo) e que pode ser capaz de tornar a relação capital e 
trabalho mais tolerável. Contudo, o problema reside justamente na acumulação de capital. Como afirma 
Marx, criticando exatamente as posições tranquilas e liberais sobre a acumulação de capital:
Nas controvérsias sobre essa questão, deixou-se geralmente de ver o 
principal, a saber, a differentia specifica [diferença específica] da produção 
capitalista. A força de trabalho é comprada, aqui, não para satisfazer, 
mediante seu serviço ou produto, às necessidades pessoais do comprador. 
O objetivo perseguido por este último é a valorização de seu capital, a 
produção de mercadorias que contenham mais trabalho do que o que ele 
paga, ou seja, que contenham uma parcela de valor que nada custa ao 
comprador e que, ainda assim, realiza-se mediante a venda de mercadorias. 
A produção de mais-valor, ou criação de excedente, é a lei absoluta desse 
modo de produção (MARX, 2013, p. 695).
A crítica da Economia Política empreendida por Marx abre à compreensão que são os movimentos 
da própria acumulação de capital que determinam os movimentos relativos da força de trabalho 
explorável. O modo de produção capitalista é uma forma social de produção de riqueza humana que 
repõe constantemente as condições de sua própria reprodução, e isso de uma forma sempre crescente.
Ao se analisar as condições de reprodução da força de trabalho, é indispensável reconhecer que 
essa força de trabalho constitui um momento da reprodução do próprio capital, estando a ele 
subordinada. Isso é possível de se reconhecer justamente por meio da crítica da divisão social do trabalho 
materializada na maquinaria e na grande indústria, bem como por meio da reprodução simples e da 
ampliada. Não é para menos que a força de trabalho, convertida em um momento da reprodução, 
recebe o nome por Marx de capital variável.
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A produção e a acumulação capitalistas não se baseiam em vínculos de dependência pessoal, como 
havia no feudalismo, por exemplo. A relação de “dependência” (a rigor, de subordinação) é mediada com 
base no próprio produto do trabalho dos assalariados, de propriedade “legítima” da classe capitalista.
Para reafirmar esse ponto, Marx discute a relação entre acumulação e preço do trabalho (como o 
salário era chamado pela Economia clássica).
Primeiro, como foi destacado no início de nossa discussão sobre força de trabalho, não existe isso 
que a Economia Política clássica chamou de preço do trabalho. O trabalho é uma atividade concreta e 
singular – logo, ele não tem preço. O que tem preço é a força de trabalho, a capacidade de trabalhar que 
se encontra presente nesses seres chamados trabalhadores.
A compreensão usual (aliás, difundida até os dias de hoje) é de que a elevação do preço do 
trabalho, que vamos chamar aqui de salário, para simplificar, dificulta a acumulação de capital. Isto 
é, elevações salariais tendem a comprometer o ritmo de crescimento econômico (um eufemismo para 
acumulação de capital).
A questão exposta por Marx é que a elevação de salários não necessariamente bloqueia ou dificultaa 
expansão da acumulação. As únicas barreiras para a acumulação são aquelas colocadas por ela mesma.
Por exemplo, não é uma redução relativa da força de trabalho disponível (o que elevaria salários 
reais) o que torna o capital excessivo e pouco eficiente. É o aumento excessivo de capital que torna a 
força de trabalho insuficiente. A questão parece ser de mera mudança de perspectiva, porém ela tem 
implicações teóricas importantes.
O problema reside no fato de que a relação de fato existente não é entre capital e salários. Essa 
“relação [que aparece como] entre capital, acumulação e taxa salarial não é nada mais que a relação 
entre o trabalho não pago, transformado em capital, e o trabalho adicional, requerido para pôr em 
movimento o capital adicional” (MARX, 2013, p. 697).
Em outras palavras, o significado da relação não é entre o volume de capital e o tamanho da população, 
ou o nível de salários, como sustentava parte da Economia clássica (vide a Teoria da População de 
Malthus, aceita por Ricardo). A relação presente na acumulação de capital é entre trabalhos pago e não 
pago da mesma população trabalhadora.
Acontece que a lei da produção capitalista, um resultado do exame crítico da dinâmica do modo 
de produção, acaba sendo mistificada por uma lei natural da população. Essa mistificação se deve 
justamente ao fato de não apresentar a questão da exploração da força de trabalho, isto é, ela não é 
mistificadora por causa daquilo que ela afirma, mas sim pelo que ela não afirma.
Apesar da tendência à redução do valor individual dos produtos capitalistas e da consequente 
pressão para baixo da mais-valia extraída, a acumulação de capital desenvolve meios que facilitam seu 
processo de extração de mais-valia.
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Como destaca Marx, mesmo se abstraindo os condicionantes naturais (como produtividade da terra, 
tão cara aos argumentos de David Ricardo), ou a destreza dos produtores independentes e isolados (foco 
de análises de Adam Smith), a produtividade social do trabalho se expressa num volume relativo de 
meios de produção que um trabalhador transforma em produto durante um tempo dado, com a mesma 
tensão da força de trabalho.
A quantidade de meios de produção que o trabalhador opera é aumentada com a elevação da 
produtividade, e esses mesmos meios de produção atuam de modo a aumentar a produtividade. Eles são 
causa e consequência na relação entre si. Isso se revelará, por exemplo, se resgatarmos as considerações 
sobre a divisão manufatureira do trabalho e o emprego da maquinaria. Tomando esse processo conjunto 
como acumulação de capital, tem-se o desenvolvimento do modo de produção capitalista, e com esse 
modo de produção a acumulação de capital.
Esse raciocínio aparentemente redundante e circular de Marx aponta para o fato de que os fatores 
econômicos que condicionam reciprocamente a acumulação de capital e o desenvolvimento capitalista 
provocam mudanças na composição orgânica (e técnica) do capital, o que significa uma parte variável 
cada vez menor em comparação com a parte constante. Isso tem um significado que não foi explorado 
ainda. Nos termos de Marx:
Cada capital individual é uma concentração maior ou menor de meios de 
produção e dotada de comando correspondente sobre um exército maior 
ou menor de trabalhadores. Cada acumulação se torna meio de uma 
nova acumulação. Juntamente com a massa multiplicada da riqueza que 
funciona como capital, ela amplia sua concentração nas mãos de capitalistas 
individuais e, portanto, a base da produção em larga escala e dos métodos 
de produção especificamente capitalistas. O crescimento do capital social 
se consuma no crescimento de muitos capitais individuais. Pressupondo-se 
inalteradas as demais circunstâncias, crescem os capitais individuais e, 
com eles, a concentração dos meios de produção na proporção em que 
constituem partes alíquotas do capital social total (MARX, 2013, p. 701).
A acumulação de capital significa concentração de capital, mas ela não significa um tipo de 
concentração simples apenas, em que os capitais individuais simplesmente ficariam maiores à medida 
que se tivesse acumulação. A concentração de capital implica também concentração de capitais já 
constituídos, o que elimina a independência individual de alguns capitais. O processo de acumulação 
é também um processo de expropriação de capitalistas por capitalistas, a conversão de muitos capitais 
individuais menores em poucos capitais maiores e concentrados, ou seja, centralização de capital.
Novamente se revela aqui a dimensão crítica de O Capital. A concentração de capital nas mãos de 
poucos capitalistas não é uma falha de mercado, ou um erro de regulação econômica. A concentração 
e a centralização são consequências e resultados da própria acumulação de capital.
Além disso, “na mesma medida em que se desenvolvem a produção e a acumulação capitalistas, 
desenvolvem-se também a concorrência e o crédito, as duas alavancas mais poderosas da centralização” 
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(MARX, 2013, p. 702). A centralização, o aumento do capital individual, independentemente de um 
aumento no capital social total, revela-se mais uma forma de garantir ao capitalista autônomo uma 
capacidade ampliada de produção. A expansão da escala de produção é uma necessidade inerente à 
dinâmica capitalista, uma pressão imposta pela própria concorrência.
 Lembrete
O processo de concentração e centralização de capital é fruto da própria 
concorrência do sistema capitalista. Pela ótica individual, o capitalista enfrenta 
esse movimento concorrencial substituindo trabalhadores (trabalho vivo) por 
máquinas (trabalho morto), levando a um aumento da composição orgânica 
do capital. Dessa maneira, enquanto houver capitalismo, esse processo se 
intensificará como tendência inerente ao sistema. 
Assim, a concentração e centralização de capital não é uma falha da concorrência, elas são resultado 
da própria concorrência.
Na medida em que avança a acumulação de capital, a proporção entre capital constante e capital 
variável também se modifica. “Como a demanda de trabalho não é determinada pelo volume do capital 
total, mas por seu componente variável, ela decresce progressivamente com o crescimento do capital 
total [...]” (MARX, 2013, p. 704-5). Isso implica uma redução da demanda por força de trabalho em relação 
ao volume ampliado de capital. Mesmo que em valores absolutos cresça essa demanda, a proporção de 
força de trabalho diante do capital global cai relativamente.
Os períodos em que a acumulação atua como mera ampliação da produção 
sobre uma base técnica dada tornam-se mais curtos. Para absorver um 
número adicional de trabalhadores de uma dada grandeza, ou mesmo 
por causa da metamorfose constante que o capital antigo sofre a fim 
de manter ocupados os trabalhadores já em funcionamento, requer-se 
não apenas uma acumulação acelerada do capital total em progressão 
crescente. Essa acumulação e centralização crescentes, por sua vez, 
convertem-se numa fonte de novas variações na composição do capital 
ou promovem a diminuição novamente acelerada de seu componente 
variável em comparação com o componente constante. Por outro lado, essa 
diminuição relativa de seu componente variável, acelerada pelo crescimento 
do capital total, e numa proporção maior que o próprio crescimento deste 
último, aparece, inversamente, como um aumento absoluto da população 
trabalhadora, aumento que é sempre mais rápido do que o do capital variável 
ou dos meios que este possui para ocupar aquela. A acumulação capitalista 
produz constantemente, e na proporção de sua energia e seu volume, uma 
populaçãotrabalhadora adicional relativamente excedente, isto é, excessiva 
para as necessidades médias de valorização do capital e, portanto, supérflua 
(MARX, 2013, p. 705).
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Além da concentração e centralização, a lei geral da acumulação capitalista produz uma quantidade 
“excessiva” de trabalhadores. Apesar dos avanços das forças produtivas e da reprodução ampliada de 
capital, uma parcela da população trabalhadora não encontra espaço para vender sua força de trabalho. 
Como afirma Marx, “Assim, com a acumulação do capital produzida por ela mesma, a população 
trabalhadora produz, em volume crescente, os meios que a tornam relativamente supranumerária” 
(MARX, 2013, p. 706).
A ironia objetiva é que, como a acumulação é fruto do trabalho, são na verdade os próprios 
trabalhadores que produzem os meios que os tornam supérfluos. Ao contrário da lei da população 
difundida por Malthus, essa é a lei de população que é peculiar ao modo de produção capitalista. 
Uma lei peculiar, posto que é fruto de relações sociais de produção que não são percebidas como 
tais pelos agentes.
Longe de ser um obstáculo à acumulação capitalista, essa população trabalhadora que excede as 
necessidades do capital é um recurso para a acumulação e uma condição de existência do próprio modo 
de produção capitalista.
A existência dessa superpopulação relativa garante a constituição de um exército industrial de 
reserva. Esse exército de reserva pertence ao capital de maneira tão absoluta que é como se o capital o 
tivesse criado deliberadamente.
O exército industrial de reserva é funcional ao capital na medida em que ele torna um volume de 
força de trabalho sempre disponível para ser utilizado pelo capital, de acordo com as condições concretas 
de acumulação. Durante um período de rápida expansão da acumulação, contingentes de trabalhadores 
podem ser incorporados à produção capitalista sem que a produção precise se interromper por falta de 
trabalhadores. Em contrapartida, nos períodos de baixa cíclica da acumulação, o mesmo exército industrial 
de reserva atua como força redutora dos salários. Numa situação em que a acumulação reduz seu ritmo, a 
existência de trabalhadores desempregados oferece ao capital a oportunidade de substituir a mão de obra 
e também de utilizar essa massa de desempregados como ameaça aos trabalhadores empregados.
Dado o volume adquirido pelo exército industrial de reserva com o desenvolvimento do capital, Marx 
afirma que:
Grosso modo, os movimentos gerais do salário são regulados exclusivamente 
pela expansão e contração do exército industrial de reserva, que se 
regem, por sua vez, pela alternância periódica do ciclo industrial. Não se 
determinam, portanto, pelo movimento do número absoluto da população 
trabalhadora, mas pela proporção variável em que a classe trabalhadora se 
divide em exército ativo e exército de reserva, pelo aumento ou redução do 
tamanho relativo da superpopulação, pelo grau em que ela é ora absorvida, 
ora liberada (MARX, 2013, p. 712).
A análise crítica das condições de acumulação capitalista e a crítica da Economia Política inglesa (e 
suas versões científica e vulgar) revelam que a superpopulação relativa, da qual faz parte o exército 
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ECONOMIA POLÍTICA
industrial de reserva, é o pano de fundo, a base sobre a qual se movimenta a famigerada lei da oferta 
e da demanda de trabalho.
Quanto maiores forem a riqueza social, o capital em funcionamento, o volume 
e o vigor de seu crescimento e, portanto, também a grandeza absoluta do 
proletariado e a força produtiva de seu trabalho, tanto maior será o exército 
industrial de reserva. A força de trabalho disponível se desenvolve pelas 
mesmas causas que a força expansiva do capital. A grandeza proporcional 
do exército industrial de reserva acompanha, pois, o aumento das potências 
da riqueza. Mas quanto maior for esse exército de reserva em relação ao 
exército ativo de trabalhadores, tanto maior será a massa da superpopulação 
consolidada, cuja miséria está na razão inversa do martírio de seu trabalho. 
Por fim, quanto maiores forem as camadas lazarentas da classe trabalhadora 
e o exército industrial de reserva, tanto maior será o pauperismo oficial. Essa 
é a lei geral, absoluta, da acumulação capitalista. Como todas as outras 
leis, ela é modificada, em sua aplicação, por múltiplas circunstâncias, cuja 
análise não cabe realizar aqui (MARX, 2013, p. 719, grifo do autor).
7 TEORIAS DO IMPERIALISMO: HOBSON E HILFERDING
Inicialmente, é preciso entender o que é imperialismo. Uma das definições possíveis para essa 
palavra é a forma de política aplicada por um Estado em relação a outro cujo objetivo é se expandir 
via dominação territorial, econômica, política, social ou cultural. Esse conceito foi bastante usado entre 
1890 e 1914 para exemplificar as práticas militares e culturais que Estados mais fortes econômica e 
politicamente exerciam sobre Estados independentes politicamente e dominados.
No início do século XX, 26 milhões de quilômetros quadrados, ou seja, 93% do território africano 
tinham sido colonizados por países imperialistas. A França tinha dominado cerca de 40% desse 
território (em grande parte no deserto do Saara); a Inglaterra, cerca de 30%; e os 23% restantes 
tinham ficado com Alemanha, Bélgica, Portugal e Espanha. No final do século XIX, quase todo o 
restante do território asiático estava repartido entre as potências capitalistas europeias. Em 1878, 
os ingleses dominaram o Afeganistão e colocaram-no sob o governo hindu, que era dominado pela 
Inglaterra. Em 1907, a Pérsia foi dividida entre a Inglaterra e a Rússia. Em 1887, foi a vez de toda a 
Indochina ser colonizada pela França. A península e o arquipélago da Malásia (com uma extensão de 
quase 5 mil quilômetros) foram subjugados e retalhados. Os ingleses tomaram Cingapura e a Malásia, 
a parte setentrional de Bornéu e o sul da Nova Guiné. A outra parte da Nova Guiné ficou subjugada aos 
alemães, e quase todas as demais ilhas (uma área equivalente a 2 milhões de quilômetros quadrados) 
ficaram com os holandeses.
O imperialismo norte-americano também avançou bastante naquele período. Na Primeira 
Guerra Mundial, eles invadiram e dominaram Samoa, Ilha Midway, Havaí, Porto Rico, Guam, 
Filipinas, Tutuíla, Cuba, República Dominicana, Haiti, Nicarágua e a Zona do Canal do Panamá 
(HUNT; LAUTZENHEISER, 2013).
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Figura 17 – Cerimônia do Inhame entre os achanti em Gana e soldados ingleses em missão pelo país. 
Pintura de Edward Bowdich, século XIX
Esse conceito não foi desenvolvido ou mesmo analisado por Karl Marx, mas por autores, de 
tradição marxista ou não, que estudaram as mudanças do capitalismo da fase concorrencial para a fase 
monopolista, ou seja, esse conceito foi trabalhado por estudiosos que buscavam entender a nova fase 
do capitalismo. De acordo com Fernandes (1988, p. 16),
O próprio significado do termo “imperialismo” sofreu uma profunda 
mudança na literatura política, econômica e social no decorrer do século 
XIX. No início desse século, ele estava mais vinculado à caracterização de 
sistemas de governo dominados pela figura de um imperador. Na França, 
por exemplo, era empregado para identificar as ideias dos defensores do 
Império Napoleônico. Ou então, os governos dos imperadores D. Pedro I 
e D. Pedro II no Brasil poderiam ser classificados de “imperialistas”. Só no 
final do século passado é que o termo “imperialismo” passou a ter um 
significado mais ou menos semelhante ao da linguagemcomum de hoje – 
a ação de um Estado no sentido de estender a sua soberania sobre outros 
povos, nações e territórios.
O pano de fundo para esta mudança no significado do termo foi a grande 
corrida de expansão colonial das grandes potências europeias nas três 
últimas décadas do século XIX.
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França
Inglaterra
Portugal
Bélgica
Alemanha
Itália
Espanha
Países independentes
Figura 18 – Ocupação da África pelas potências europeias no século XIX
Na passagem do século XIX para o XX, houve diversas publicações para retratar essas transformações 
do capitalismo. De acordo com Fernandes (1988), vale destacar:
• em 1899, nos Estados Unidos da América, O Imperialismo e a Liberdade, de Swift;
• em 1900, na França, A Inglaterra e o Imperialismo, de Bérard;
• em 1902, na França, O Imperialismo Alemão, de Lair;
• em 1902, na Inglaterra, O Imperialismo, de Hobson;
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• em 1903, na França, A Filosofia do Imperialismo, de Seiltière;
• em 1904, na França, Esboço do Imperialismo, de Louis;
• em 1904, na França, O Imperialismo Anglo-Saxão, da Revue Socialiste;
• em 1904, na França, O Imperialismo Norte-Americano, de Patouillet;
• em 1910, na França, O Imperialismo Financeiro, de Du Hemme.
Dessas publicações, o livro de Hobson foi o primeiro que sistematicamente buscou analisar as 
particularidades econômicas e políticas fundamentais desse período. Ele foi importante por ter inspirado 
outros autores a escrever sobre o período, dentre os quais podemos ressaltar Rudolf Hilferding, autor 
de O Capital Financeiro, de 1910, Rosa Luxemburgo, com a obra A Acumulação de Capital, publicada 
em 1913, Nikolai Bukharin, que publicou o livro O Imperialismo e a Economia Mundial, em 1916, e, por 
último, mas não menos importante, Vladimir Ilitch Ulianov, ou Lenin, com a obra-prima Imperialismo, 
Fase Superior do Capitalismo, publicada em 1917.
 Observação
O conceito de imperialismo cunhado nesta época não se resume em 
ataques de impérios em busca de terras. Trata-se de um conceito mais 
amplo que envolve questões políticas, econômicas, culturais, sociais, 
raciais etc. 
7.1 Hobson e o estudo do imperialismo
O economista inglês John Atkinson Hobson foi o primeiro a analisar de forma sistemática as 
características do imperialismo. Segundo o autor, esse período corresponde à passagem do capitalismo 
concorrencial – período marcado principalmente na primeira metade do século XIX – para o 
capitalismo monopolista, ou seja, da passagem do século XIX para o XX. Essa fase seria marcada por 
novas características do sistema capitalista. Esse estágio teria sido marcado pela crescente concentração 
do capital, pelo monopólio das patentes e pelo poder de monopsônio sobre os mercados de trabalho e 
de matérias-primas.
Hobson analisou o período a partir dos relatórios oficiais do governo britânico. O material coletado 
estava embasado em fatos e dados territoriais e populacionais. De acordo com o seu levantamento, 
principalmente a partir de 1870, várias nações europeias dominaram colônias na África e na Ásia, de 
diferentes formas. Assim, podemos definir o termo imperialismo como uma submissão de uma colônia 
ao poder da metrópole como forma de absorção política de terras, subjugando trabalhadores, industriais 
e comerciantes aos mandos do império.
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Domínio inglês
Principais bases
Armazéns e depósitos de carvão
Figura 19 – Império Colonial Britânico nos fins do século XIX
O autor apontou, nessa obra, a raiz econômica do imperialismo. De acordo com ele,
A partir de 1870, essa supremacia industrial e comercial [inglesa] foi-se 
enfraquecendo bastante: outras nações, especialmente a Alemanha, os 
Estados Unidos e a Bélgica, avançaram com grande rapidez, e embora não 
tenham pressionado ou detido o crescimento de nosso comércio exterior, 
a competição tornou mais difícil dispor plenamente de nossos excedentes 
de manufaturas com lucro [...] Esses novos mercados tinham que estar 
em países até agora não desenvolvidos, principalmente nos trópicos, 
onde habitavam vastas populações capazes de gerar necessidades 
econômicas crescentes, que nossos industriais e comerciantes podiam 
suprir (HOBSON, 1905, p. 418)
A importância dessa análise está na crítica ao chamado imperialismo ao abordar as causas da 
aceleração do movimento expansionista das nações industriais, principalmente entre 1870 e a Primeira 
Guerra Mundial. De acordo com o autor, as causas das corridas imperialistas eram basicamente 
econômicas relacionadas ao excesso de poupança ou subconsumo. Para ele, haviam interesses financeiros 
e industriais em busca de mercado para seus bens e capitais excedentes a partir do gasto e da força 
públicos. De acordo com Fernandes (1988, p. 17),
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Ao colocar o problema do “excesso de bens e de capital”, Hobson retoma 
formulações da chamada “teoria do subconsumo” desenvolvida por 
economistas como Sismondi e Robertus no século passado. A distribuição 
desigual de riquezas nas sociedades modernas geraria uma [onda] de 
“subconsumo” crônico por parte da maioria de consumidores, já que a 
capacidade de consumo estaria permanentemente defasada da capacidade 
de produção na economia. Por outro lado, isto provocaria um quadro de 
“superpoupança” crônica, já que os grandes investidores não achariam 
escoamento para as suas mercadorias na economia interna, o que diminuiria 
a lucratividade dos seus investimentos.
As nações que haviam se expandido, principalmente os EUA, precisavam de novos campos para 
realizar investimento, pois localmente haviam gerado um acúmulo de poupanças em busca de qualquer 
investimento lucrativo, porém não o encontravam. Isso havia ocorrido porque a concorrência já não 
garantia novos investimentos atrativos em lucro. Portanto, os bancos estavam acumulando poupança, e 
a saída era buscar novos mercados. De acordo com o autor, o imperialismo não era apenas uma escolha, 
mas uma necessidade, pois, se assim não fizessem, poderia se enfraquecer todo o avanço produtivo do 
final do século XIX.
Podemos refletir por um instante: por que não era vantajoso reinvestir no próprio país?
Um dos efeitos da formação de trustes e cartéis é o fechamento de fábricas menos lucrativas ou 
mesmo mais distantes e menos equipadas. Então, os trustes podem aumentar o preço de seus produtos 
ou mesmo, ao reduzir o custo, operar com lucros maiores. O fato de ocorrer uma maior concentração 
com menos concorrentes significa também que houve uma redução de oportunidades de investimento. 
Uma vez que conseguiam lucro extra internamente, então poderiam operar no mercado internacional 
com preços mais baixos.
De acordo com Hobson, não podemos nos equivocar com os discursos do presidente Theodore Roosevelt 
naquele momento, dizendo que o imperialismo era uma missão civilizatória. Continua o autor:
Foram os senhores Rockefeller, Pierpont Morgan e seus associados que 
necessitaram do imperialismo e que o colocaram firmemente sobre 
os ombros da grande república do Oeste. Precisavam do imperialismo 
porque desejavam usar os recursos públicos de seu país para encontrar 
emprego lucrativo para seu capital, que, de outra forma, seria supérfluo 
(HOBSON, 1905, p. 423).
A situação nos últimos anos do século XIX era alarmante: os Estados Unidos tinham quase triplicado 
o valor de seu comérciode exportação de produtos manufaturados em uma década – de 1890 a 1900. 
O imperialismo americano era fruto do avanço repentino do capitalismo, que não encontrava no 
mercado interno a demanda necessária para toda essa produção, então o mercado externo para bens e 
investimentos era necessário. De acordo com o presidente da Associação de Banqueiros Americanos de 
Denver, conforme Hobson (1905, p. 425), “Possuímos agora três trunfos no jogo do comércio, a saber: 
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ferro, aço e petróleo. Temos sido o armazém do mundo, desejamos agora ser a oficina, para depois ser 
sua câmara de compensação”.
Essa situação não era exclusiva dos Estados Unidos; pelo contrário, Hobson destacou que países 
europeus viviam a situação de superprodução com capacidade de produção excessiva e capital excedente 
sem opções rentáveis de investimento dentro do país. Assim, Inglaterra, Alemanha, Holanda e França 
buscavam dominar novos territórios para realizar investimentos.
Aqui cabe mais uma questão, ou seja, por que o consumo de uma região não consegue acompanhar 
automaticamente o aumento da capacidade produtiva? Parece ser relevante essa pergunta, pois se 
aumentos de capacidade produtiva fossem acompanhados de aumento de consumo, não haveria o 
problema de excesso de produtos.
Hobson, antes de aprofundar esse debate, chamou a atenção para o fato de que nem toda poupança, 
ou seja, ausência de consumo, é prejudicial para a produção. Segundo ele, quando a poupança financia 
o investimento, não há problema. Passaremos a ter um imbróglio quando a poupança for superior a 
isso, isto é, quando ela não encontrar uma forma de investimento e precisar buscar um uso que seja 
especulativo no exterior.
Diante desses questionamentos, o autor localiza o cerne da questão na distribuição desigual da 
riqueza, e não na produção em si, como a maior parte dos marxistas faz. Para ele, caso houvesse 
uma tendência a garantir a distribuição de riqueza ou mesmo garantir poder de consumo de acordo 
com as necessidades, o consumo cresceria com aumentos da capacidade produtiva, pois, lembrou o 
autor, as necessidades humanas são ilimitadas, zerando a poupança excessiva. O autor destacou como 
isso ocorre, enfatizando que a distribuição não está relacionada com as necessidades.
O volume de produção tem crescido constantemente, em virtude do 
desenvolvimento da maquinaria moderna. Existem dois canais principais 
para o escoamento desses produtos – um deles levaria ao consumo dos 
trabalhadores, e o outro levaria o restante ao consumo dos ricos. O canal 
dos trabalhadores é estreito e não pode ser alargado, em virtude do sistema de 
salários competitivos, que impede o aumento dos salários proporcionalmente 
aos incrementos da produtividade do trabalho. O mineiro de uma mina pobre 
ganha o mesmo salário, por dia, que um mineiro de uma rica mina próxima. 
A diferença de produtividade entre elas fica para o dono da mina rica, não 
para o trabalhador. O canal que escoa os bens destinados a suprir os ricos é 
dividido em duas correntes. Pela primeira, passa o que os ricos gastam consigo 
mesmos para satisfazer suas necessidades e suas exigências suntuosas. A outra 
é simplesmente uma corrente supérflua por onde passam suas “poupanças”. O 
canal do gasto, isto é, o montante despendido pelos ricos em artigos de luxo, 
pode ser, de alguma forma, alargado, mas pertencendo ao pequeno número de 
pessoas ricas o suficiente para serem indulgentes com seus caprichos, nunca 
poderá ser muito aumentado, e, em qualquer caso, carreia uma proporção 
tão pequena para o outro canal, que, em hipótese alguma, podemos esperar 
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uma inundação de capital em decorrência dessa divisão. Os ricos nunca serão 
tão ingênuos a ponto de gastar o bastante para evitar uma superprodução. 
O grande canal de segurança, que tem sido continuamente alargado e 
aprofundado para escoar essa inundação de capital novo, é aquela corrente 
que transporta as poupanças dos ricos, e pode ser prontamente verificado que 
esta é não apenas inapropriada para futuros alargamentos, como parece estar 
atualmente sendo represada (HOBSON, 1905, p. 428-9).
Este trecho nos ajuda a entender como era tratada a “inevitabilidade” da corrida para outros 
territórios, pois o autor nos qualificou sobre o processo da desigualdade de renda na sociedade e a 
formação de poupança.
Diante dessa situação, os capitalistas financeiros e industriais, diante da relativa superioridade em 
sua relação com o Estado, buscavam no exterior o excedente ocioso de capital que não podem investir 
lucrativamente em seu país. Diante dessa defasagem do consumo diante da produção, as empresas 
monopolistas não podem vender seus produtos a preços lucrativos. Considerando esse problema de 
má distribuição da riqueza gerando a adversidade do subconsumo, os produtores não podem vender a 
preços rentáveis, pois isso intensificaria o problema de baixo consumo.
Assim, o impulso das potências pela expansão colonial estava centrado em buscar mercados para 
realizar investimento de capital. Com relação à importância comercial do imperialismo, Hobson, no 
capítulo sobre o valor comercial do imperialismo da obra citada, destacou que há evidências econômicas 
mostrando que os países imperialistas buscavam territórios para realizar investimento, e não simplesmente 
para realizar comércio. De acordo com o autor,
Primeiro, o comércio internacional da Grã-Bretanha representa uma 
pequena e uma decrescente proporção da indústria e do comércio internos. 
Em segundo lugar, do total do comércio exterior, a proporção do comércio 
com as colônias britânicas diminuiu em relação ao comércio com outros 
países. Em terceiro lugar, do comércio com as colônias britânicas, o comércio 
tropical, e em particular o comércio com as novas colônias tropicais, é o 
menor, menos progressivo e mais flutuante comércio em quantidade, 
embora seja o menor na representatividade de mercadorias (HOBSON, 1902, 
p. 44, tradução nossa).
Apesar de relegar o comércio exterior, percebeu que uma perda gradual dos mercados estrangeiros 
geraria um deslocamento maior de capital e de mão de obra para as indústrias produtoras para o 
abastecimento interno, uma vez que os produtores tentariam recuperar sua lucratividade. O efeito disso 
seria a realização de perdas, uma vez que o mercado externo era mais rentável do que o nacional. Assim, 
é evidente que a Grã-Bretanha sempre necessitou de mercados externos para realizar comércio, pois 
não conseguia produzir tudo de maneira vantajosa.
Entretanto, comparando os dados britânicos, Hobson percebeu que, entre 1890 e 1900, o comércio 
exterior aumentou menos que o crescimento populacional, isto é, o imperialismo não garantiu que 
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houvesse uma elevação do volume do comércio britânico, e isso pode ser explicado, em parte, pelas 
barreiras protecionistas impostas pelos países europeus e pelos Estados Unidos.
O resultado disso foi que os trustes financeiros optaram por enviar seus capitais a empréstimos ou 
dívidas públicas, com todas as garantias, a países subdesenvolvidos, ou ainda investiram em lugares 
rentáveis com custos de produção inferiores aos da Grã-Bretanha.
Outra contribuição importante de Hobson foi ressaltar o caráter parasitário do imperialismo. De 
acordo com Fernandes (1988, p. 18), na opinião de Hobson:
[...] o imperialismo beneficiava apenas uma minoria dessas sociedades – 
justamente os grupos dominantes – que faturavam em cima dos lucros 
extras obtidosnos empreendimentos coloniais. Comparando o parasitismo 
dos grandes grupos financeiros ao parasitismo das oligarquias no antigo 
Império Romano, o autor inglês concluía que o imperialismo condenava 
as próprias potências coloniais a um futuro de decomposição, atrofia, 
decadência e até mesmo extinção.
Para o autor, a acumulação interna gerava a necessidade de expansão internacional. Portanto, o 
imperialismo era uma política adotada por grupos dominantes em um país para garantir a lucratividade de 
suas atividades às custas dos demais grupos sociais e da nação. Assim, o imperialismo não seria a última 
fase do capitalismo, como tratou Lênin, mas uma distorção no desenvolvimento do sistema capitalista.
Dessa maneira, se o problema estava no subconsumo, e não nas condições de produção, caso o 
desejo fosse bloquear o imperialismo, bastaria garantir políticas de distribuição de riqueza de forma a 
contornar o problema de falta de consumo ou superpoupança, lembrando que esse autor não é marxista 
e, portanto, em sua análise, a saída não é revolucionária, mas de ajuste no sistema vigente.
Além disso, essa fase apresentou o surgimento de um capital financeiro que controlava a grande 
indústria capitalista. Para ele, a economia tinha concentrada sua atenção na produção e na acumulação de 
riquezas, negligenciando o consumo e a utilização das riquezas acumuladas. Portanto, o autor formulou 
sua análise criticando os economistas clássicos liberais que defendiam o laissez-faire e rompendo com 
eles, afinal os países estavam buscando novos mercados para a produção em excesso, uma vez que o 
ajuste ao equilíbrio via preço de acordo com a lei da oferta e da demanda não funcionava.
Essa obra de Hobson influenciou uma gama de pensadores na época, principalmente os de tradição 
marxista, uma vez que Marx não havia feito uma formulação teórico-histórica sobre as transformações 
do capitalismo na passagem do século XIX para o XX.
7.2 Hilferding e o fenômeno do capital financeiro
Rudolf Hilferding nasceu em Viena, Áustria, em 10 de agosto de 1877. Após estudar – obteve o título 
de doutor em 1901 – e exercer a atividade da medicina até aproximadamente 1906, Hilferding, que 
também se dedicava a estudar Economia desde a juventude, começou a escrever estudos econômicos.
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A partir de 1902, passou a ser colaborador na área econômica do Die Neue Zeit, principal jornal dos 
pensadores marxistas na época. Ficou bastante conhecido após publicar, em 1904, uma réplica à crítica 
do austríaco da escola marginalista Böhm-Bawerk à análise da Economia Política de Marx.
Figura 20 – Rudolf Hilferding
Em 1910, Hilferding publicou O Capital Financeiro com o intuito de resgatar diversos problemas 
citados por Marx em O Capital, mas que não tinham sido atualizados diante da nova dinâmica capitalista 
naquele momento. Esse estudo foi concebido como um desenvolvimento da teoria de Marx diante das 
mudanças ocorridas na economia capitalista. De acordo com a introdução da obra, ela estava centrada 
na análise econômica da fase capitalista, e não exatamente na análise pormenorizada do imperialismo.
Novos conceitos e formulações foram elaborados a partir da análise inicial do autor sobre dinheiro e 
crédito. Em seguida, investigou sobre o crescimento das sociedades anônimas, dos cartéis e dos trustes, 
identificando a particularidade do capitalismo do início do século XX, que tendia a monopolizar o mercado. 
Após isso, concentrou-se no estudo das crises econômicas e, por fim, descreveu uma teoria do imperialismo.
Na investigação sobre o surgimento e a expansão das sociedades anônimas, Hilferding destacou 
temas importantes, como o processo crescente de concentração e centralização de capital nas grandes 
empresas, a formação de cartéis e trustes e o papel dos bancos – que também passavam pelo processo 
de expansão e fusão – na formação das grandes empresas monopolistas. A partir disso, o autor explorou 
os efeitos econômicos e políticos relacionados às transformações na estrutura da economia capitalista.
Com a fusão do capital industrial, diante do processo de concentração e centralização, com o capital 
bancário, Hilferding cunhou o termo capital financeiro. A consequência desse processo seria a formação 
de oligopólios e a diminuição da concorrência no mercado interno, resultando numa tendência de aumento 
de preços. Além disso, o autor destacou o aspecto econômico mais importante desse processo:
A sociedade anônima industrial, para a qual atentaremos primeiro, significa 
antes de tudo uma alteração da função exercida pelo capitalista industrial. Ela 
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transforma em princípio fundamental o que tem sido ocorrência ocasional, 
casual na empresa individual: ou seja, a liberação do capitalista industrial de suas 
funções de empresário industrial. Para o capitalista, essa alteração de função 
atribui ao capital investido na sociedade anônima a função de puro capital 
monetário. O capitalista monetário, enquanto credor, nada tem a ver com o que 
é feito com seu capital no processo de produção, embora esse emprego seja, 
em realidade, a condição necessária da relação de empréstimo. Sua função é 
apenas ceder seu capital monetário e recuperá-lo com os juros depois de certo 
tempo, resumindo-se, pois, sua função numa transação jurídica; assim também 
o acionista atua como simples capitalista monetário. Ele fornece o dinheiro para 
receber (em termos bem genéricos) um rendimento. Assim como o capitalista 
monetário só arrisca determinada soma cujo montante ele mesmo estabelece, o 
acionista também pode optar pelo montante que deseja aplicar e não responde 
por mais que esse total. Há, no entanto, uma diferença a notar entre ambos 
os casos. A taxa de juros para o capital monetário que é posto à disposição 
em forma de ações não é, enquanto tal, determinada previamente; no caso só 
existe o direito de participação no rendimento (lucro) de determinada empresa. 
Uma segunda diferença com relação ao capital de empréstimo reside no fato 
de o retorno do capital aos capitalistas monetários não ser garantido. Nem o 
contrato que define suas relações com a empresa, nem a própria relação em si 
lhes fornece essa garantia (HILFERDING, 1985, p. 111-2).
Essa citação nos permite analisar as diversas consequências desse processo, tal como a mudança do interesse 
do industrial. Antes, esse capitalista, para garantir a extração da mais-valia na forma de lucro, precisava produzir 
mercadorias. A libertação do mundo da produção, de acordo com o autor, ocorre, pois há novas possibilidades de 
apropriação do lucro com o adiantamento de crédito que retornaria na forma de juros. Com isso, o capitalista, 
agora também acionista, pode vender um montante de ações acima do valor do capital investido na empresa.
Oligopólio
Poucos agentes econômicos 
dominam um mercado
Figura 21 
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Uma das consequências desse processo é a possibilidade de lucrar ao lançar ações, o que Hilferding 
chamou de lucro do fundador. Quando uma empresa se torna sociedade anônima ou de capital aberto, 
ela pode lançar ações num montante acima do valor do capital já investido na empresa, isso quando o 
rendimento sobre o capital exceder a taxa de juros corrente dos investimentos. Para elucidar isso, podemos 
fazer a seguinte pergunta: o que é uma ação? Hilferding (1985, p. 114) respondeu da seguinte maneira:
A ação é, pois, sem dúvida, um título de rendimento, um título de dívida 
sobre a futura produção, uma ordem de pagamento de

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