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Autor: Prof. Euclides Pedrozo Junior Colaborador: Prof. Maurício Felippe Manzalli Economia Internacional Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 Professor conteudista: Euclides Pedrozo Junior Economista pela Universidade São Judas Tadeu, mestre e doutor em Economia pela Fundação Getulio Vargas (FGV). Atualmente, é professor titular da Universidade Paulista (UNIP) no Curso de Ciências Econômicas. Também leciona como professor convidado nos cursos de mestrado profissionalizante em Economia da Escola de Economia de São Paulo (EESP/FGV) e pós‑graduação em Direito dos Contratos na Escola de Direito de São Paulo (FGV Direito SP‑GVLaw). Como pesquisador e consultor, possui larga experiência em avaliação de impacto socioeconômico de políticas públicas, organização industrial e economia internacional. Autor dos livros Microeconomia em Concorrência Perfeita e Microeconomia em Concorrência Imperfeita. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) P372e Pedrozo Junior, Euclides. Economia Internacional. / Euclides Pedrozo Junior. – São Paulo: Editora Sol, 2016.. 184 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXII, n. 2‑074/16, ISSN 1517‑9230. 1. Economia Internacional. 2. Contas Nacionais. 3. Mercado de Câmbio. I. Título. CDU 33(100) Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona‑Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Ana Luiza Fazzio Juliana Mendes Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 Sumário Economia Internacional APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8 Unidade I 1 TEORIA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL: PRODUTIVIDADE DO TRABALHO E VANTAGENS COMPARATIVAS ..................................................................................................................... 11 1.1 O mercantilismo e os primórdios da Teoria do Comércio Internacional ....................... 11 2 O CONCEITO DE VANTAGENS ABSOLUTAS ............................................................................................ 13 2.1 Vantagens comparativas e ganhos do comércio ..................................................................... 22 3 O CONCEITO DE CUSTO DE OPORTUNIDADE ........................................................................................ 24 3.1 Razões para a existência de comércio internacional ............................................................. 26 4 O MODELO RICARDIANO .............................................................................................................................. 27 4.1 Caracterização do Modelo Ricardiano: mercados competitivos ....................................... 28 4.2 Caracterização do Modelo Ricardiano: Fronteiras de Possibilidade de Produção (FPP) .............................................................................................................................................. 33 4.3 Determinação do nível de produção ............................................................................................ 39 4.4 Determinação dos preços.................................................................................................................. 42 4.5 Modelagem do comércio internacional ...................................................................................... 44 4.6 Ganhos na troca ................................................................................................................................... 52 Unidade II 5 AS BASES DO COMÉRCIO: DOTAÇÃO DE FATORES E MODELO HECKSHER‑OHLIN ............... 58 5.1 O Modelo de Fatores Específicos .................................................................................................... 58 5.1.1 Estrutura do modelo .............................................................................................................................. 59 5.1.2 Fronteira de possibilidades de produção ....................................................................................... 60 5.1.3 Preços, salários e alocação de trabalho entre os setores ........................................................ 63 5.1.4 Comércio internacional e distribuição de renda ........................................................................ 67 5.2 O Modelo Hecksher‑Ohlin (H‑O) .................................................................................................... 74 5.2.1 Estrutura básica do Modelo H‑O ...................................................................................................... 75 5.2.2 Hipóteses do Modelo H‑O ................................................................................................................... 75 5.2.3 Efeitos do comércio internacional no Modelo H‑O .................................................................. 87 5.2.4 Efeitos de mudanças nos preços relativos no comércio internacional ............................. 91 5.2.5 Preço dos fatores, preço dos bens e distribuição de renda .................................................... 96 5.2.6 Comércio internacional entre economias com dois fatores de produção ...................... 98 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 6 RESTRIÇÕES À PRÁTICA DE COMÉRCIO INTERNACIONAL ............................................................100 6.1 Efeitos do livre‑comércio sobre o bem‑estar ..........................................................................100 6.2 Efeitos de tarifa sobre as importações ......................................................................................106 6.3 Efeitos de quotas sobre as importações ...................................................................................110 6.4 Efeitos da aplicação de dumping.................................................................................................114 6.5 Outros instrumentos de política comercial .............................................................................117 Unidade III 7 CONTAS NACIONAIS DE UMA ECONOMIA ABERTA, BALANÇO DE PAGAMENTOS E TAXA DE CÂMBIO ..........................................................................................................................................1197.1 Contas Nacionais de uma economia aberta ...........................................................................119 7.1.1 Contas Nacionais e agregados macroeconômicos .................................................................. 119 7.1.2 Conta‑corrente ..................................................................................................................................... 127 7.1.3 Poupança e conta‑corrente ............................................................................................................. 128 7.1.4 Poupança privada e poupança do governo .............................................................................. 129 7.2 Balanço de pagamentos ..................................................................................................................135 7.2.1 Características gerais e estrutura .................................................................................................. 135 7.2.2 Identidade fundamental do balanço de pagamentos .......................................................... 142 7.2.3 Transações com reservas oficiais ................................................................................................... 143 7.3 Taxa de câmbio ....................................................................................................................................145 8 MERCADO DE CÂMBIO, MERCADO DE MOEDA E TAXA DE JUROS ...........................................150 8.1 Equilíbrio do mercado de câmbio ................................................................................................151 8.1.1 Paridade descoberta de juros ...........................................................................................................151 8.1.2 Paridade coberta de juros ................................................................................................................. 157 8.1.3 Prêmio de risco ......................................................................................................................................161 8.2 Mercado monetário, taxa de juros e câmbio ..........................................................................161 8.2.1 O mercado monetário ........................................................................................................................ 162 8.2.2 Interações de curto prazo dos mercados monetário e cambial ........................................ 168 8.2.3 Interações de longo prazo ................................................................................................................ 172 8.3 Integrando os elementos: dinâmica da taxa de câmbio a médio e longo prazos .............173 8.4 Limites da política monetária: armadilha da liquidez e estagnação prolongada ..............176 7 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 APRESENTAÇÃO Num ambiente pós‑crise financeira de 2008, em que os Estados Unidos, o Brasil e outras economias avançadas do mundo continuam a sofrer com taxas de crescimento do PIB persistentemente baixas, taxas altas de desemprego e movimentos políticos que provocam, cada vez mais, ações econômicas protecionistas – e, por vezes, xenófobas –, as discussões relativas ao livre‑comércio são repletas de emoção, tensão e histeria. Entretanto, o comércio internacional exerceu um papel fundamental no crescimento econômico dos países. Ademais, as transações internacionais têm se tornado extremamente importantes para os países que almejam os diversos benefícios que acompanham as trocas de bens e serviços entre nações. Isso também é verdade em relação ao movimento internacional de capitais, que dá origem a diversas transações que compõem as finanças internacionais, com impacto na taxa de câmbio, na taxas de juros e nos investimentos estrangeiros diretos. O objetivo deste livro‑texto é permitir que os estudantes do curso de Economia não se deixem levar pelas emoções e soluções superficiais e obtenham uma compreensão abrangente dos modelos teóricos que orientam o comércio e as finanças internacionais. A principal característica deste material é a apresentação desses modelos teóricos e a discussão de suas implicações no contexto das aplicações em um mundo real. Armados de uma compreensão abrangente dos fundamentos teóricos, que levam bens, serviços, capitais e ideias a serem transacionados além das fronteiras nacionais, os estudantes de Economia Internacional poderão prever os efeitos de alterações nas políticas comercial e macroeconômica dos países. Contarão, ainda, com ferramentas para a tomada de decisões sensatas e bem‑informadas para si e as instituições globais. Nesse contexto, o objetivo da disciplina Economia Internacional é apresentar ferramentas analíticas e modelos de avaliação do impacto das políticas comercial e macroeconômica no bem‑estar da sociedade. Além disso, procura mostrar as soluções de livre‑comércio que podem melhorar a situação dos indivíduos afetados pelas imperfeições dos mercados, seja via intervenção governamental, seja via mercado. O livro‑texto é uma introdução à Economia Internacional e destinado a estudantes que estão tomando seu primeiro contato com o assunto. O nível de exigência não é mais do que aquele padrão de cursos introdutórios de Economia. Aqueles que tiveram os fundamentos básicos das teorias microeconômica e macroeconômica vão encontrar as ferramentas necessárias para a compreensão dos modelos ensinados no contexto desta obra. Este material não tem o objetivo de seguir rigorosamente todos os modelos microeconômicos e macroeconômicos existentes. No entanto, serve de referência para os fundamentos e as ferramentas necessários aos alunos, que devem conhecê‑los tanto do ponto de vista acadêmico quanto do profissional. Em razão disso, sempre que possível, é indicado ao aluno complementar os tópicos aqui contidos com a leitura dos principais livros de Economia Internacional Intermediária, como Krugman, Obstfeld e Melitz (2015), Feenstra e Taylor (2014) e Appleyard, Field e Cobb (2010). 8 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 Por ser uma obra condensada, o texto corrido é substituído pela apresentação de modelos, gráficos e muitos exemplos de aplicação. Para aqueles alunos com dificuldades na utilização de ferramentas microeconômicas e macroeconômicas, é indicada a leitura de Pindyck e Rubenfeld (2014) e Mankiw (2014). Apesar de o conhecimento dos modelos econômicos e a realização dos exercícios serem essenciais para a formação do aluno, é preciso que ele absorva a intuição por trás dos modelos, ou seja, tenha uma compreensão elementar sobre o funcionamento da economia internacional. As ferramentas aqui apresentadas são utilizadas para analisar algumas questões importantes da sociedade contemporânea, como: vantagens comparativas e absolutas decorrentes do livre‑comércio, mobilidade de fatores de produção, distribuição de renda, leis do salário mínimo, tarifas sobre importações, barreiras comerciais, taxas de câmbio, balança de pagamentos, finanças internacionais, mobilidade internacional de capitais e crise financeira. Sem recorrer a gráficos e equações, alguns livros de divulgação da Ciência Econômica ajudam a entender esses problemas de maneira objetiva. Os principais autores, nesse sentido, são Harford (2007, 2009), Wheelan (2014) e Akerloff e Shiller (2015). Bons estudos! INTRODUÇÃO Iniciaremos nosso estudos elucidando o que é comércio internacional com os principais tópicos: Modelo Ricardiano de Comércio; efeito do livre‑comércio sobre salários e emprego; comércio interindustrial e intraindustrial; barreiras comerciais, como tarifas, quotas e barreiras não tarifárias; estratégias comerciais, dumping e direitos compensatórios.Serão apresentados os princípios básicos que norteiam as transações comerciais entre países, ou seja, as vantagens comparativas. Serão expostos os ganhos decorrentes do comércio em salário e emprego, isto é, as razões para que possamos crer que o livre‑comércio internacional seja benéfico a todos os agentes econômicos. O primeiro modelo a ser estudado com esse objetivo é o ricardiano, demonstrando que dois países poderão negociar para seu benefício mútuo, mesmo quando um deles for mais eficiente do que o outro na produção. Em seguida veremos modelos que retratam a importância dos fatores de produção e o resultado em bem‑estar decorrentes da prática de política comercial. Demonstraremos o impacto do uso de fatores específicos e não específicos nas trocas. Em relação ao papel dos recursos no comércio internacional, seguiremos com a apresentação do Modelo Hecksher‑Ohlin. Esse modelo, em particular, fornecerá informações referentes ao benefício do comércio quando os países exportarem mercadorias cuja produção fizer uso intensivo dos fatores abundantes no local de produção, ao mesmo tempo que importarem as mercadorias cuja exigência de recursos for escassa localmente. 9 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 Também serão retratados os ganhos e as perdas de bem‑estar decorrentes da aplicação política que reduzem a prática do livre‑comércio, como a instituição de tarifas e quotas de importação, barreiras comerciais não tarifárias e dumping. Estudaremos as finanças internacionais, em específico, as práticas de políticas macroeconômicas globais, como: • Déficits de transações correntes não sustentáveis, investimento estrangeiro direto, influxo de capitais de curto prazo e seus efeitos sobre a taxa de câmbio. • Políticas monetária e fiscal, demanda por moeda, resultados de balança comercial, paridade de juros e seus efeitos sobre a taxa de câmbio. • Políticas cambiais: câmbio fixo versus câmbio flexível. • Bolhas de preços de ativos especulativos e contágio global. Por fim, examinaremos as formas pelas quais se realizam e se registram os pagamentos internacionais – balanço de pagamentos, taxa de câmbio e ajuste automático da balança de pagamentos – que servirão de base para a abordagem do mercado de ativos para inferirmos o equilíbrio entre moeda, taxa de juros e taxa de câmbio. Por esse aspecto, a paridade de juros será a relação fundamental a ser estudada. Finalmente, utilizaremos esse modelo para analisar o overshooting da taxa de câmbio, as metas de inflação, o comportamento das taxas de câmbio reais, o efeito das crises de balança de pagamentos sob taxas de câmbio fixas, bem como as causas e os efeitos da intervenção do Banco Central no mercado cambial. 11 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 ECONOMIA INTERNACIONAL Unidade I 1 TEORIA DO COMÉRCIO INTERNACIONAL: PRODUTIVIDADE DO TRABALHO E VANTAGENS COMPARATIVAS 1.1 O mercantilismo e os primórdios da Teoria do Comércio Internacional A partir do século XVI, houve grande crescimento econômico mundial proporcionado pela expansão das Grandes Navegações e pelas descobertas de novas terras na América, na Ásia e na África. Crescimento este que promoveu o aparecimento de uma classe capitalista e o nascimento dos Estados Nacionais, ávidos por enriquecimento e poder. Esses desejos, em conjunto, geraram a doutrina e a prática mercantilistas. O mercantilismo pregava que o Estado deveria ser forte o suficiente para garantir o transporte marítimo e a proteção das colônias; assim, essa doutrina requeria grandes gastos para manter exércitos e armadas. Desse modo, para preservar os impérios, havia a necessidade de controle de toda a atividade econômica com o objetivo de assegurar incremento de riqueza. O mercantilismo focava a maximização da balança comercial, e as exportações de matérias‑primas (produtos agrícolas, especiarias etc.) eram cada vez mais incentivadas a fim de proporcionar saldos comerciais (medidos em metais preciosos) ao país: quanto mais ouro e prata o país acumulasse, mais rico ele seria. As importações, porém, eram desencorajadas por altas tarifas sobre os produtos estrangeiros. Observação Balança comercial é a diferença entre o valor das exportações e o valor das importações determinada pelas condições macroeconômicas do país. Portanto, o comércio para os mercantilistas era um jogo de soma zero, com vencedores que ganhavam apenas às expensas dos perdedores. Lembrete Na teoria econômica, um jogo de soma zero se refere àquele em que o ganho de um agente econômico representa, necessariamente, a perda para o outro. Em contrapartida, no jogo de soma não zero não haverá, necessariamente, um perdedor, podendo o ganho de um agente ser bom para o outro. 12 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 Unidade I Um efeito colateral do acúmulo de riquezas em metais preciosos – a partir da troca por bens exportados – era o crescimento da demanda por moeda (metais preciosos), que acarretava aumento da inflação. Essa situação, regularmente, arruinava os países que adotavam a política mercantilista. O filósofo e ensaísta escocês David Hume, em 1752, foi o primeiro a articular a Teoria Quantitativa da Moeda em que, simplesmente, aumentar a quantidade de dinheiro na economia não representava nada para o aumento da riqueza real (APPLEYARD et al., 2010). Na verdade, o crescimento quantitativo da moeda significava apenas que era necessário mais dinheiro para trocar pelos mesmos produtos e serviços que antes. Saiba mais Os agentes econômicos acumulam moeda para liquidar transações. Assim, a quantidade de moeda existente na economia está intimamente relacionada à quantidade de dinheiro ($) necessária para pagamentos pela aquisição de bens e serviços. A equação quantitativa da moeda fornece a relação entre quantidade de moeda e valor total das transações realizadas e liquidadas em moeda: M x V = P x T Onde: M = quantidade de moeda; V = velocidade de circulação da moeda; P = nível geral de preços; e T = número de transações. Para saber mais acerca do assunto, leia: MANKIW, N. G. Inflação: causas, efeitos e custos sociais In: Macroeconomia. 8. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2014. Cap. 6. O mercantilismo predominou do século XVI a meados do século XVIII. Entretanto, nesse mesmo período, articulava‑se uma revolução cultural, religiosa, política, social e econômica que culminou no estabelecimento de doutrinas liberais e, consequentemente, no predomínio do liberalismo a partir da segunda metade do século XVIII. Embora o mercantilismo seja apresentado aqui apenas num contexto histórico, é importante observar que o espírito inerente a essa teoria permanece vivo ao longo da história econômica. Exportações e importações, de modo geral, são qualificadas do ponto de vista normativo: exportações são consideradas um “bem” para a economia, enquanto as importações são tratadas como um “mal”, por “eliminar” postos de trabalho. Esse senso comum sempre vai aflorar quando o crescimento econômico desacelerar. O mercantilismo tem apelo popular e uma intuição perigosa. Por sua vez, o livre‑comércio, como será explicado ao longo deste livro‑texto, não é intuitivo, não é fácil de ser compreendido e é difícil de ser defendido com sucesso, especialmente quando se estiver vivendo em meio a uma desaceleração econômica profunda e duradoura. 13 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 ECONOMIA INTERNACIONAL 2 O CONCEITO DE VANTAGENS ABSOLUTAS Adam Smith foi o primeiro a articulara possibilidade de que o comércio internacional não seja um jogo de soma zero e, de fato, uma dependência excessiva das exportações possa ser contraproducente. Ele mostrou que diferentes países usam quantidades variadas de insumos para a produção dos mesmos bens. Desse modo, as diferenças internacionais no custo de produção nas diversas atividades poderiam incentivar a troca de mercadorias entre os países. Saiba mais Foi em sua obra máxima, A Riqueza das Nações, publicada em 1776, que Adam Smith formulou sua teoria sobre a defesa do comércio exterior, expondo que, se cada país se especializasse na atividade econômica em que fosse mais eficiente e se houvesse livre‑comércio entre os vários países, todos ficariam numa melhor situação em comparação com a situação sem comércio exterior. Para saber mais acerca do assunto, leia: SMITH, A. A riqueza das nações: uma investigação sobre sua natureza e suas causas. v. 1. São Paulo: Nova Cultural, 1996. (Coleção Os Economistas). Assim, cada país deveria especializar‑se apenas na fabricação dos bens que pudesse produzir com a menor quantidade de recursos (insumos de produção); dessa forma, a produção mundial seria maximizada. Em seguida, com o livre‑comércio, cada país, ao final da negociação, culminaria numa maior quantidade de bens produzidos e consumidos do que antes do comércio, no emprego dos mesmos recursos e, portanto, na melhoria de bem‑estar de todos os países. Essa teoria proposta por Adam Smith foi chamada de Teoria das Vantagens Absolutas, pois compara as diferenças absolutas de custo de produção entre os países. Lembrete Vantagem absoluta: cada país deve exportar as mercadorias que produzem mais eficientemente, pois o trabalho absoluto requerido por unidade produzida é menor que o do parceiro comercial. A Teoria das Vantagens Absolutas de Adam Smith pode ser vista a partir de um modelo com as seguintes hipóteses: • O mundo é composto por dois países: A e B. • Cada país pode produzir dois bens: produtos têxteis (T) e produtos alimentícios (F). 14 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 Unidade I • Há apenas um fator de produção: o trabalho (L). Dessa forma, as funções de produção de T e F podem ser descritas como: T = f(L) e F = f(L) A quantidade de trabalho requerida para produzir uma unidade de um bem é denominada de coeficiente técnico de produção e pode ser denotada da seguinte forma: a L x Lx y y y= (1.1) Onde: aLx é a quantidade de trabalho requerida para produzir uma unidade do bem x no país y; Ly é a força de trabalho disponível no país y; e xy é a quantidade do bem x produzida no país y. Assim, por exemplo, os coeficientes técnicos de produção de têxteis e alimentos no país A podem ser denotados por: t xteis a L T alimentos a L T T A A A F A F Fê : ; := = Como exemplo, utilizaremos as unidades de trabalho requeridas para a produção dos bens em cada país disponibilizadas na tabela a seguir: Tabela 1 – Quantidades de trabalho requeridas na produção dos países A e B País Produtos têxteis (t)(em homens/metro) Produtos alimentícios (f) (em homens/saca) Razão de preços (autarquia) A aT A =1 aF A = 4 1F:4T (ou 1T : 1/4F) B aT B = 2 aF B = 3 1F : 3/2T (ou 1T : 2 / 3F) Pela tabela anterior, podemos observar que no país A são necessários: um trabalhador para produzir uma unidade (um metro) de tecido e dois trabalhadores para produzir uma unidade (uma saca) de produtos alimentícios. No país B, por sua vez, são necessários: dois trabalhadores para produzir um metro de tecido e três trabalhadores para produzir uma saca de alimentos. Nota‑se, dessa forma, que: • No país A, a quantidade de homens que esse país necessita para produzir uma unidade de alimentos poderia ser deslocada para o setor têxtil, produzindo, assim, quatro vezes mais unidades de tecidos. De outro modo, com a mesma quantidade de trabalhadores necessários para produzir um metro de tecido, o setor agrícola produziria apenas 0,25 saca de alimentos, por isso a razão de preços em autarquia entre os dois produtos é igual a 1F:4T (ou 1T: 0,25F). 15 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 ECONOMIA INTERNACIONAL • No país B, dada a quantidade de homens que esse país necessita para produzir uma saca de alimentos, ele poderia produzir uma unidade e meia de tecido. Alternativamente, com a mesma quantidade de trabalhadores requeridos para produzir uma unidade de produto têxtil, o setor alimentício produziria apenas 2/3 de uma saca, por isso a razão de preços em autarquia entre os dois produtos é igual a 1F : 1,5T (ou 1T : 0,67F). Observação Na teoria econômica, autarquia é a qualidade de um país ser autossuficiente. Esse termo se aplica ao país que mantém as suas atividades sem comércio exterior. Comparando agora os resultados dos setores, internacionalmente: • O país A, em comparação ao país B, é mais produtivo no setor têxtil, pois requer apenas uma unidade de trabalho para produzir uma unidade do produto, enquanto o outro país necessita de dois trabalhadores para produzir o mesmo bem. Portanto, A é mais produtivo na fabricação de têxteis, ou seja, possui vantagem absoluta na produção desse bem. • O país B, em comparação ao país A, é mais produtivo no setor alimentício, pois requer apenas três unidades de trabalho para produzir uma unidade do produto, enquanto o outro país ocupa quatro trabalhadores para produzir o mesmo bem. Logo, o país B é mais produtivo em alimentos, ou seja, possui vantagem absoluta na produção desse bem. Dessa forma, conclui‑se que é mais vantajoso para o país A alocar toda a sua mão de obra na produção de têxteis e importar alimentos do país B, por ser mais barato que produzi‑lo localmente. Já para o país B é mais vantajoso alocar toda a sua mão de obra na produção de alimentos e importar tecidos do país A, por ser mais barato que produzi‑lo domesticamente. Podemos verificar as diferenças de produtividade entre os países por meio de uma ferramenta gráfica. Para tanto, lançaremos mão de um conceito microeconômico essencial – Fronteira de Possibilidades de Produção (FPP), que representa todas as possibilidades de produção alcançadas em um país com os insumos e as tecnologias existentes. Também representa a medida da eficiência produtiva de um país, de tal sorte que uma alocação de insumos será dita eficiente se não for possível aumentar a produção de um bem sem diminuir a de outro. A eficiência produtiva e a FPP são ilustradas graficamente na figura a seguir. Toda a área interior à curva representa o conjunto de possibilidades de produção de um país. 16 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 Unidade I Características da Fronteira de Possibilidades de Produção (FPP): • A FPP mostra todas as combinações de produção das mercadorias T e F, que são Pareto‑eficientes. • O ponto E1 encontra‑se sobre a FPP: não é possível aumentar (diminuir) a produção de T sem diminiur (aumentar) a de F. O mesmo ocorre no ponto E2. • No ponto E3 é possível aumentar (diminuir) a produção de F sem alterar a produção de T. Entretanto, o ponto E3 não representa a eficiência produtiva no sentido de Pareto, pois não se encontra sobre a FPP. E1A1 A2 B2B1 E2 FPP E3 Produção do bem T Produção do bem F Figura 1 – Fronteira de Possibilidade de Produção (FPP) e eficiência produtiva de um país Na Teoria Microeconômica, sabemos que uma função de produção está associada a modelos lineares e não lineares, dependendo da quantidade de insumos utilizada. Em uma função de produçãonão linear, além de certo nível de eficiência, os custos para produzir uma unidade a mais de cada produto tornam‑se maiores. Nesse caso, temos uma indústria de custos crescentes. Custos totais ($/unidade) • Região de custos decrescentes: em razão do uso de insumos aquém do nível de eficiência máxima Eficiência máxima • Região de custos crescentes: em razão do uso de insumos além do nível de eficiência máxima Curva de custo médio Produção do bem T Figura 2 – Curva de custo médio e regiões de produção de acordo com o nível de eficiência Com custos crescentes, à medida que se vai abrindo mão de um bem pelo outro, mantendo‑se constante o nível de produção total, os custos totais vão aumentando. Nesse caso, a FPP assume um 17 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 ECONOMIA INTERNACIONAL formato côncavo, como poderá ser visto no gráfico (a) da figura seguinte. Para efeito de análises, utilizaremos modelos de FPP lineares que caracterizam indústrias com custos constantes, ou seja, cada unidade produzida de dois bens diferentes custa o mesmo, independentemente da produção total. Com custos constantes, a FPP se caracteriza por apresentar uma forma linear, como demonstrado no gráfico (b) a seguir. Produção do bem T Produção do bem F (a) FPP não linear – Custos crescentes Produção do bem T Produção do bem F (b) FPP não linear – Custos constantes Figura 3 – FPP não linear e FPP linear De acordo com o nosso exemplo, as FPPs dos países A e B assumiriam os formatos identificados na figura a seguir. Note que a declividade da FPP do país A (–4) é maior (em valores absolutos) que a do país B (–1,5). Isso denota que A produz mais o bem T (têxteis), enquanto B produz mais o bem F (alimentos). Produção do bem T Produção do bem F 4 1 3 2 (a) FPP do país A (b) FPP do país B Produção do bem T Produção do bem F inclina o FPP a aF A T Açã ⇒−( ) = − = −/ /4 1 4 inclina o FPP a aF B T Bçã ⇒−( ) = − = −/ / ,3 2 15 Figura 4 – FPPs dos países A e B para a produção dos bens T e F 18 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 Unidade I As quantidades produzidas pelas firmas, em cada país, dependem das condições de demanda. Os consumidores domésticos vão adquirir as mercadorias de acordo com suas preferências. Assim, eles procurarão maximizar seu bem‑estar consumindo combinações dos bens T e F de forma tal que lhes proporcione a máxima satisfação, dada a sua renda limitada por uma restrição orçamentária. Assumindo‑se indústria de custos constantes, a FPP será igual à restrição orçamentária. Nesse caso, na ausência de comércio internacional, a produção doméstica (Y) e o consumo doméstico (C) deverão ocorrer no mesmo ponto, ou seja, onde a mais alta curva de indiferença encontra a FPP, conforme a figura a seguir. Essa proposição também é conhecida como condição de market clearing. Lembrete A condição de market clearing é aquela em que há um preço que iguala as quantidades ofertadas e demandadas em um determinado mercado. Quando um país consumir apenas o que for capaz de produzir internamente, será dito que ele produz e consome em seu ponto de autarquia. Produção do bem T Produção do bem F 4 1 Y = C Y = CQT QT QF QF 3 2 (a) Produção do país A (b) Produção do país B Produção do bem T Produção do bem F Figura 5 – Produção dos bens T e F nos países A e B A base para o comércio (troca de mercadorias) entre os países ocorrerá quando ambas as nações se especializarem na produção da mercadoria com menor custo e importarem o bem produzido de modo mais barato em outro país. Exemplo de aplicação Ausência de comércio Seja uma economia mundial composta por dois países, Inglaterra (I) e Portugal (P), que produzem dois produtos, tecido (T) e vinho (V), mas não comercializam entre si. Os coeficientes técnicos de produção estão expostos a seguir: 19 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 ECONOMIA INTERNACIONAL Tabela 2 País Coeficientes técnicos Tecido (horas/metro) Vinho (horas/barril) Inglaterra aT I =1 aV I = 4 Portugal aT P = 2 aV P = 3 Inglaterra e Portugal possuem uma força de trabalho de 1.200 horas/trabalhador (L1 = 1.200 e LP = 1.200). Cada país aloca metade de suas horas de trabalho na produção de tecido e vinho. Dessa forma: L L L L T I V I T P V P = = = = 600 600 Qual o nível de produção nacional na ausência de comércio (autarquia)? Para obtermos a produção de cada setor, basta dividir a quantidade de trabalho pelo coeficiente técnico de produção. Dessa forma, a produção dos dois segmentos econômicos nos países será: T1 = 600/1 = 600 V1 = 600/4 = 150 TP = 600/2 = 300 VP = 600/3 = 200 Considerando que a demanda agregada da economia desses países é exatamente igual à produção (condição de market clearing), os valores de produção (Y) e consumo (C), nacional e internacional, podem ser verificados na tabela seguinte: Tabela 3 País Produção (Y) Consumo (Y = C) Tecido Vinho Total Tecido Vinho Total Inglaterra 600 150 750 600 150 750 Portugal 300 200 500 300 200 500 Total 900 350 1.250 900 350 1.250 20 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 Unidade I Portanto, as produções da Inglaterra e de Portugal sob autarquia serão, respectivamente, de 750 e 500 unidades de produto. Já a produção mundial será de 1.250 unidades de produto. Os gráficos a seguir mostram as FPPs de cada país. Esses gráficos demonstram que Inglaterra e Portugal são produtivos, respectivamente, em tecido e vinho. T T V V 600 300 L/aT = 1.200 L/aT = 600 Y = 500 Incl. = –1,5 Y = 750 Incl. = –4 L/av = 300 L/aT = 400150 200 (a) FPP da Inglaterra (b) FPP de Portugal Figura 6 Produção quando os dois países decidirem abrir-se ao comércio Pelos dados anteriores, Inglaterra tem vantagem absoluta em produzir tecidos e Portugal tem vantagem absoluta em produzir vinhos. Considerando que haja especialização completa, ou seja, Inglaterra e Portugal passem a alocar toda a sua força de trabalho na produção de tecidos e vinhos, respectivamente (LT I =1 200. e LV P =1 200. ), a produção de cada setor passa a ser: TI = 1.200/1 = 1.200 VP = 1.200/3 = 400 Como o consumo máximo de tecido na Inglaterra é de 600 unidades, haverá um excedente de 600 unidades (1.200 – 600 = 600) que poderá ser exportado para Portugal. Em contrapartida, o consumo máximo de vinho em Portugal é de 200 unidades, de modo que haverá um excedente de 200 unidades (400 – 200 = 200), que poderá ser exportado para a Inglaterra. A produção e o consumo de cada segmento – nacional e internacional – poderão ser representados pela seguinte tabela: 21 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 ECONOMIA INTERNACIONAL Tabela 4 País Produção (Y) Consumo (Y = C) Tecido Vinho Total Tecido Vinho Total Inglaterra 1.200 0 1.200 600 200 800 Portugal 0 400 400 600 200 800 Total 1.200 400 1.600 1.200 400 1.600 Nesse caso, as produções da Inglaterra e de Portugal sob livre‑comércio serão, respectivamente, de 1.200 e 400 unidades de produto. Com isso, a produção mundial aumentará para 1.600 unidades de produto. Por sua vez, o consumo doméstico dessas mercadorias, em ambos os países, é de 800 unidades, considerando o montante de produtos importados de cada paíse o consumo dos produtos fabricados domesticamente. T T V V 600 300 L/aT = 1.200 L/aT = 600 M M X X C = 800 C = 800 L/av = 300 L/aT = 400150 200 200 (a) FPP da Inglaterra Obs.: M = importação; X = exportação (b) FPP de Portugal Figura 7 Observa‑se que o consumo agregado, como medida do bem‑estar da sociedade, aumentou nos dois países sob livre‑comércio. Logo, o comércio foi mutuamente benéfico, representando um jogo de soma positiva. Ademais, os gráficos anteriores demonstram que o comércio internacional altera a declividade da FPP, ampliando as possibilidades de produção e consumo. Esse exemplo mostra que a especialização e as trocas aumentam a eficiência do trabalho e, com isso, proporcionam acréscimo na produção e melhoria no bem‑estar, conforme afirmava Adam Smith. De acordo com a Teoria das Vantagens Absolutas, as razões pelas quais os países comercializam bens uns com os outros podem ser assim elencadas: 22 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 Unidade I • Diferenças na tecnologia utilizada em cada país. • Diferenças nas quantidades totais de recursos disponíveis (trabalho, por exemplo). • Diferenças de custos de offshoring (processo de produção em vários países e montagem final em um único país). • Razões geográficas: proximidade e abundância de recursos naturais. 2.1 Vantagens comparativas e ganhos do comércio As limitações da Teoria da Vantagem Absoluta decorrem de vários fatores. O primeiro deles, de acordo com nosso exemplo de aplicação anterior, advém da introdução de um terceiro país na negociação comercial, que não é nem o mais eficiente produtor de têxteis, nem o mais eficiente produtor de itens alimentícios. Infelizmente, de acordo com a Teoria das Vantagens Absolutas de Adam Smith, esse terceiro país seria alijado do comércio internacional. Mesmo quando apenas dois países negociarem entre si, verificaremos que uma pequena alteração nas quantidades requeridas de trabalho impedirá a ocorrência de livre‑comércio. Consideremos o seguinte exemplo descrito na tabela a seguir: Tabela 5 – Condições de produção em Portugal e na Inglaterra País Vinho (V) (em horas/ barril) Tecido (T) (em horas/ metro) Razão de Preços (autarquia) Portugal (P) aV P = 8 aT P = 9 1V : 8/9T (ou 1T : 9/8V) Inglaterra (I) aV I =12 aT I =10 1V : 6/5T (ou 1T : 5/6F) Ao analisar os dados da tabela anterior, verificamos que Portugal possui vantagens absolutas tanto na produção de vinho (8 horas versus 12 horas) quanto na de tecido (9 horas versus 10 horas). Nesse caso, pela Teoria das Vantagens Absolutas, não haveria comércio, pois para Portugal é mais barato fabricar localmente os produtos dos dois segmentos econômicos. David Ricardo, no início do século XIX, demonstrou que não era necessária a existência de vantagem absoluta para que a especialização e o comércio fossem vantajosos. Mesmo que um país apresentasse vantagens absolutas em todos os segmentos econômicos sobre o outro, ainda seria vantajoso o comércio, desde que ele se especializasse na produção do bem em que sua vantagem absoluta fosse maior. Ao mesmo tempo, o país que apresentasse desvantagem absoluta poderia obter o máximo concentrando os seus recursos na produção do bem em que sua desvantagem absoluta fosse menor. 23 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 ECONOMIA INTERNACIONAL No exemplo apresentado na tabela anterior, observamos que: • Em primeiro lugar, Portugal pode superar a Inglaterra na produção de ambas as mercadorias. Todavia, sua vantagem absoluta é maior na produção de vinho e menor na de tecido (1V:8/9T). Logo, Portugal tem vantagem comparativa na produção de vinho – sua vantagem absoluta é maior (custos menores de produção) – e desvantagem comparativa na produção de tecido – sua vantagem absoluta é menor (custos maiores de produção). Dessa forma, Portugal ganha ao se especializar na produção de vinho e adquirir tecido da Inglaterra. • Por sua vez, a Inglaterra tem desvantagem absoluta na produção de ambas as mercadorias. Todavia, sua vantagem absoluta é maior na produção de tecido e menor na produção de vinho (1T:5/6F). Dessa forma, a Inglaterra tem vantagem comparativa na produção de tecido – sua desvantagem absoluta é menor (custos menores de produção) – e desvantagem comparativa na produção de vinho – sua desvantagem absoluta é maior (custos maiores de produção). Logo, a Inglaterra ganha ao se especializar em tecido e adquirir vinho de Portugal. Portanto, de acordo com os dados da tabela anterior, tanto Portugal quanto Inglaterra podem beneficiar‑se com o comércio, desde que cada um deles se especialize de acordo com sua vantagem comparativa. Neste caso, Portugal produzirá vinho para consumo próprio e o excedente será exportado para a Inglaterra em troca do tecido produzido por lá. Já a Inglaterra produzirá tecido para o seu próprio consumo e o excedente será exportado para Portugal em troca do vinho produzido por este. Tanto a vantagem absoluta quanto a vantagem comparativa podem ser formalmente representadas pelos coeficientes técnicos de produção. Dados dois bens, X e Y; dois países, Local e Estrangeiro (denotado por *); e um fator de produção, o trabalho (L), os coeficientes técnicos de produção podem ser descritos como: • aLX = quantidade de trabalho requerida para produzir uma unidade do bem X no país Local; • aLX * = quantidade de trabalho requerida para produzir uma unidade do bem X no país Estrangeiro; • aLY = quantidade de trabalho requerida para produzir uma unidade do bem Y no país Local; • aLY * = quantidade de trabalho requerida para produzir uma unidade do bem Y no país Estrangeiro. Dessa forma, um país apresenta vantagem absoluta no comércio internacional caso: • a aLX LX< * : nesse caso, o país Local tem vantagem absoluta na produção de X; • a aLY LY * < : nesse caso, o país Estrangeiro tem vantagem absoluta na produção de Y. Por sua vez, uma vantagem comparativa no comércio internacional pode ser demonstrada da seguinte forma: 24 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 Unidade I a a a a LX LY LX LY < * * (1.2) Nesse caso, o país Local tem vantagem comparativa na produção de X e o país Estrangeiro tem vantagem comparativa na produção de Y. De acordo com a equação (1.2), portanto, um país terá vantagem comparativa nos produtos e serviços se ele produzir mais eficientemente do que outro país. 3 O CONCEITO DE CUSTO DE OPORTUNIDADE Para entendermos melhor a questão da eficiência relativa na produção – contida na definição das vantagens comparativas no comércio entre países –, devemos apresentar o conceito de custo de oportunidade. Observação Em microeconomia, custo de oportunidade representa aquilo que um agente econômico pode deixar de ganhar em uma ação econômica por escolher uma segunda opção. O custo real em termos microeconômicos, em oposição ao custo representado em unidades monetárias, é denominado custo de oportunidade. Para exemplificar esse conceito, podemos utilizar novamente os dados da tabela anterior como comparação dos custos de oportunidade do tecido em termos do vinho, em ambos os países. Em Portugal, para se obter um metro de tecido, é necessário deixar de produzir 1,125 barril de vinho. Na Inglaterra, obtém‑se um metro de tecido deixando‑se de produzir 0,833 barril de vinho. Ao mesmo tempo, o custo de um barril de vinho é 0,889 metro de tecido em Portugal e 1,2 metro de tecido na Inglaterra. Dessa forma, recursos produtivos escassos devem ser utilizados na produçãodo bem com maior potencial. Generalizando, o custo real de um bem X pode ser medido em termos do custo de oportunidade de outros bens, por exemplo, um bem Y cuja produção (ou consumo) é sacrificada para se produzir (ou consumir) uma unidade do bem X. O custo de oportunidade de produzir uma unidade do bem X em termos do bem Y pode ser calculado a partir da quantidade de trabalho requerida para produzir uma unidade do bem X, dividida pela quantidade de trabalho requerida para produzir uma unidade de Y. Logo, o custo de oportunidade em um dado país, Local ou Estrangeiro, pode ser representado, respectivamente, pelas fórmulas: a a e a a LX LY LX LY * * (1.3) Na tabela seguinte podemos observar os custos de oportunidade de Portugal e Inglaterra na produção de cada bem. Em destaque, as células que representam as vantagens comparativas, 25 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 ECONOMIA INTERNACIONAL conforme a equação (1.2). A eficiência relativa de cada país, portanto, é retratada pelo menor custo de produção relativo, medido pelo custo de oportunidade. Tabela 6 – Custos de oportunidade em Portugal e na Inglaterra País Vinho (V) Tecido (T) Unidades de trabalho Custo de oportunidade Unidades de trabalho Custo de oportunidade Portugal (P) aV P = 8 a aV P T P/ / ,= =8 9 0 889 aT P = 9 a aT P V P/ / ,= =9 8 1125 Inglaterra (I) aV I =12 a aV I T I/ / ,= =12 10 12 aT I =10 a aT I V I/ / ,= =10 12 0 833 Com base no que acabamos de aprender sobre custo de oportunidade, podemos formular o conceito definitivo de vantagem comparativa. Lembrete Vantagem comparativa: um país A possuirá vantagem comparativa na produção do bem X se o custo de oportunidade de produzir uma unidade de X em A (em termos de Y) for menor do que o custo de oportunidade de se produzir uma unidade de X em B (em termos de Y). Exemplo de aplicação Seja uma economia mundial composta por dois países, Local e Estrangeiro, que produzem café (X) e chá (Y). Os coeficientes técnicos de produção, em unidades de trabalho, são os seguintes: Tabela 7 País Coeficientes técnicos Café (X) Chá (Y) Local aLX = 1 aLY = 2 Estrangeiro aLX * = 8 aLY * = 4 Os custos de oportunidade na produção de café e chá, em ambos os países, são verificados na tabela a seguir: 26 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 Unidade I Tabela 8 País Café (X) Chá (Y) Unidades de trabalho Custo de oportunidade Unidades de trabalho Custo de oportunidade Local aLX = 1 aLX/aLY = 1/2 = 0,5 aLY = 2 aLY/aLX = 2/1 = 2 Estrangeiro aLX * = 8 a aLX LY * */ /= =8 4 2 aLY * = 4 a aLY LX * */ / ,= =4 8 0 5 Portanto, para produzir uma unidade de café (em termos de chá) no país Local é requerida 0,5 unidade de trabalho. Nesse caso, se uma unidade de trabalho for transferida para o segmento produtivo de café, a produção desse bem dobrará. Esse resultado é idêntico para a produção de chá no país Estrangeiro. Aplicando a relação (1.2), em termos da produção de café, obtemos: a a a a LX LY LX LY < ⇒ < * * ,0 5 2 O custo de oportunidade de produzir uma unidade de café, em termos de chá, no país Local é menor do que no país Estrangeiro. Logo, existe vantagem comparativa para o país Local produzir café. Quanto à produção de chá, temos que: a a a a LY LX LY LX * * ,< ⇒ <0 5 2 Dessa forma, o custo de oportunidade para produzir uma unidade de chá, em termos de café, no país Estrangeiro é menor do que no país Local. Logo, existe vantagem comparativa para o país Estrangeiro produzir chá. 3.1 Razões para a existência de comércio internacional A partir dos conceitos de vantagem comparativa e custo de oportunidade, o livre‑comércio internacional proporcionaria benefícios a todos os participantes. As principais vantagens, ou seja, as razões básicas para a existência de comércio internacional, seriam os ganhos com as trocas e a especialização. De acordo com a Teoria das Vantagens Comparativas, os motivos pelos quais os países deveriam participar do comércio internacional seriam: • As diferenças entre os países em quantidade e utilização de recursos. • A possibilidade de se auferir economias de escala, ou seja, redução nos custos médios de produção à medida que a escala produtiva aumenta. 27 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 ECONOMIA INTERNACIONAL Assim, um país Local possuirá vantagem comparativa sobre outro país estrangeiro na produção de determinada mercadoria X quando seu custo médio de produção (CMex), em comparação ao custo médio de produção de outras mercadorias (CMey), for mais baixo do que o custo médio de produção dessa mercadoria no país Estrangeiro ( CMex * ), em relação ao custo médio de outras mercadorias nesse país ( CMey * ). Logo, a vantagem comparativa na produção de um bem por um país pode ser representada por: CMe CMe CMe CMe x y x y < * * Observação Vantagem absoluta: um país é mais eficiente do que o outro. Vantagem comparativa: um país tem menos custos de oportunidade (eficiência relativa) do que o outro. 4 O MODELO RICARDIANO Veremos um exemplo detalhado do Modelo Ricardiano de Comércio entre dois países, Local e Estrangeiro. As hipóteses básicas desse modelo são as seguintes: I. Existência de dois países: Local (economia doméstica) e Estrangeiro (representado por *). II. Cada país produz dois segmentos econômicos: têxtil (T) e agrícola (A). III. Utilização de um único fator escasso de produção: o trabalho (L). IV. Toda mão de obra é homogênea e recebe a mesma remuneração (w) em todos os setores. Logo, só existe diferença de remuneração entre os países. V. A produtividade da mão de obra é constante. VI. As economias dos países são perfeitamente competitivas. 28 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 Unidade I Saiba mais Ao contrário da escola mercantilista, David Ricardo argumentou que um país deve exportar ativamente, porém evitando altas tarifas sobre importações de bens estrangeiros. Ricardo sofisticou a Teoria do Comércio Exterior ao propor um modelo de vantagens comparativas pelo qual mostrou que os países poderiam ser beneficiados ao se engajarem no livre‑comércio. A Teoria do Comércio sem Barreiras de Ricardo é o princípio fundamental de muitas instituições internacionais, como a Organização das Nações Unidas, o Banco Mundial e a Organização Mundial do Comércio. Para saber mais acerca do assunto, leia: RICARDO, A. Princípios de Economia Política e Tributação. São Paulo: Nova Cultural, 1996. (Coleção Os Economistas). 4.1 Caracterização do Modelo Ricardiano: mercados competitivos A fim de obter uma melhor compreensão dos principais conceitos do Modelo Ricardiano, tomaremos, inicialmente, a hipótese (III), segundo a qual o trabalho é o único fator de produção para ambos os produtos. As quantidades de produção têxtil no Local e no Estrangeiro são denotadas, respectivamente, por QT e QT * . Por sua vez, as quantidades de produção agrícola, em cada país, são representadas por QA e QA * . Considerando que em L e L* a oferta de trabalho no país Local e no Estrangeiro, respectivamente, é alocada para gerar especificamente cada um dos produtos, podemos representar os coeficientes técnicos de produção, ou seja, a tecnologia de produção empregada, como: a L Q a L Q LT T T LT T T = =; * * * (2.1)a L Q a L Q LA A A LA A A = =; * * * (2.2) Onde: • aLT = quantidade de trabalho requerida para produzir uma unidade de produto têxtil no país Local; • aLT * = quantidade de trabalho requerida para produzir uma unidade de produto têxtil no país Estrangeiro; 29 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 ECONOMIA INTERNACIONAL • aLA = quantidade de trabalho requerida para produzir uma unidade de produto agrícola no país Local; • aLA * = quantidade de trabalho requerida para produzir uma unidade de produto agrícola no país Estrangeiro. As quantidades produzidas de determinado bem ou serviço dependem da tecnologia disponível no país. Assumimos que as produções têxteis e agrícolas no país Local possam ser representadas genericamente como uma função da quantidade de trabalho alocada em cada setor, ou seja: QT = f(LT) (2.3) QA = f(LA) (2.4) A produtividade marginal (PMg) e a produtividade média (MPe) são medidas formais das características da tecnologia utilizada na produção. A produtividade média do país Local na produção de têxteis e bens agrícolas é obtida pela divisão da quantidade total produzida de cada bem pela quantidade de trabalho alocada em cada setor: PMeL Q LT T T = PMeL Q LA A A = A produtividade marginal do país Local na produção de têxteis e bens agrícolas, por sua vez, é determinada a partir da derivação das funções de produção, definidas em (2.3) e (2.4), em relação às respectivas quantidades de mão de obra alocada em cada setor: PMgL Q LT T T = ∂ ∂ (2.5) PMgL Q LA A A = ∂ ∂ (2.6) Assumimos que as expressões do produto marginal do trabalho estabelecidas em (2.5) e (2.6) obedecem à Lei dos Rendimentos Decrescentes do fator de produção variável. 30 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 Unidade I Observação A Lei dos Rendimentos Decrescentes de fator, considerando que o fator de produção variável seja o trabalho (L), é definida pela redução da produtividade marginal desse fator à medida que se acrescentam unidades de trabalho na produção. Supondo que os demais fatores de produção diferentes de L sejam fixos, podemos descrever a Lei da seguinte forma: ∂ ∂ < PMgL L 0 De acordo com a hipótese (V), os países apresentam produtividade da mão de obra constante. Isso significa dizer que as produtividades marginal e média do trabalho, independentemente do bem produzido, são idênticas (PMgL = PMeL). Para provar essa hipótese, sejam: PMeL Q L = (2.7) PMgL Q L = ∂ ∂ (2.8) Tomando a derivada de (2.7) em relação à quantidade produzida (Q), obtemos: ∂ ∂ = ∂ ∂ − ∂ ∂ = ∂ ∂ − = ∂ ∂ − PMeL Q Q L L Q L L L Q L L L Q L L Q L Q L2 2 2 1 1 1 Rearranjando os termos e utilizando as expressões definidas em (2.7) e (2.8): ∂ ∂ ⋅ = − PMeL Q L PMgL PMeL PMgL PMeL PMeL Q L= + ∂ ∂ ⋅ (2.9) Pela hipótese (IV) do modelo, temos que ∂PMeL/∂Q = 0, ou seja, o acréscimo de unidades de trabalho na produção não altera a produtividade média do fator de produção. Aplicando essa hipótese em (2.9), obtemos, finalmente: PMgL = PMeL 31 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 ECONOMIA INTERNACIONAL Esta é a Hipótese Ricardiana de Retornos Constantes de Escala. Esse resultado pode ser replicado tanto para os diversos segmentos econômicos de produção quanto para os países em destaque. Exemplo de aplicação Seja a economia de um país cujo produto doméstico (Q) é obtido a partir da seguinte função de produção: Q = f(L) = 600L2 – L3 Onde L é a oferta total de trabalho no país. As produtividades média e marginal desse país são, respectivamente: PMeL Q L L L L L L= = − = − 600 600 2 3 2 PMgL Q L L L= ∂ ∂ = −1 200 3 2. A fim de obter a quantidade de trabalhadores necessária para alcançar a produção máxima nesse país, devemos tomar a produtividade marginal de L e igualá‑la a zero: PMgL = 0 1.200L — 3L2 = 0 L(1.200 –3L) = 0 L = 400 Portanto, 400 trabalhadores proporcionam a máxima produção desse país: 32.000.000 de unidades. O produto per capita (por trabalhador) seria de 80.000. Qual número de trabalhadores permite que as produtividades média e marginal sejam iguais? Fazendo PMeL = PMgL, obtemos: 600L – L2 = 1.200L – 3L2 1.200 – 600L = 3L2 – L2 600L – 2L2 = 0 L(600 – 2L) = 0 L = 300 32 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 Unidade I De fato, quando tomarmos a derivada de PMeL em relação a L e igualarmos a zero, encontraremos o produto médio máximo: ∂ ∂ = PMeL Q 0 600 – 2L = 0 L = 300 Aplicando esse valor (L = 300) nas expressões de PMeL e PMgL, chegamos ao mesmo resultado, 90.000, que é o produto máximo alcançado por trabalhador nesse país. Pela hipótese (VI) do modelo, a qual assegura que as economias são competitivas, temos que as firmas devem maximizar lucro igualando a receita marginal ao custo marginal de produção. Como todas as informações de produção e consumo são completas e os agentes são tomadores de preço, o lucro econômico de longo prazo deve tender a zero. O custo total de produção (CT) de uma firma competitiva, em qualquer setor ou país, deve ser representado por: CT = CF + CV(Q) (2.10) Em que CF é a parcela de custos fixos de produção e CV é a parcela de custos variáveis, ou seja, variam de acordo com a produção (Q), que é definida conforme a função de produção: Q = f(L) De acordo com a hipótese (IV) do modelo, consideraremos uma remuneração w homogênea para cada trabalhador L. Dessa forma, podemos reescrever (2.10) como: CT = CF + wL (2.11) O custo marginal de produção (CMg) é obtido a partir da derivação de (2.11) em relação a Q: CMg CT Q wL Q w L Q = ∂ ∂ = ∂( ) ∂ = ∂ ∂ (2.12) Sabemos por (2.8) que PMgL = ∂Q/∂L. Substituindo esse resultado em (2.12), obtemos, finalmente: CMg w PMgL = 1 (2.13) Logo, o custo marginal de produção é igual à multiplicação da remuneração do fator trabalho pelo inverso de sua produtividade marginal. 33 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 ECONOMIA INTERNACIONAL A receita total de vendas (RT) de uma firma é dada pela multiplicação das quantidades produzidas (Q) e pelo preço de mercado do bem (P): RT = PQ (2.14) A receita marginal de vendas (RMg) é obtida a partir da derivação de (2.14) em relação a Q: RMg RT Q PQ Q P Q Q P= ∂ ∂ = ∂( ) ∂ = ∂ ∂ = (2.15) Portanto, de acordo com (2.15), a receita marginal de vendas de uma firma competitiva deve igualar‑se ao preço de mercado do bem. Igualando a receita marginal (2.15) com ao custo marginal (2.13), obtemos a relação de market clearing, em que: P w PMgL = (2.16) 4.2 Caracterização do Modelo Ricardiano: Fronteiras de Possibilidade de Produção (FPP) Para caracterizar o Conjunto de Possibilidades de Produção (CPP) dos países, devemos partir da definição das necessidades de unidades de trabalho na produção. Como exemplo, vamos representar a produção de têxteis na economia Local: QT = f(LT) Nesse segmento econômico, as quantidades de trabalho requeridas para a produção, de acordo com (2.1), podem ser representadas por: a L QLT T T = (2.17) Rearranjandoos termos da equação (2.17) em termos de QT, chegamos a: Q L aT T LT = Q L a T T LT = 1 (2.18) 34 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 Unidade I O que a equação (2.18) nos diz é que a produtividade média do trabalho no setor têxtil é igual ao inverso da necessidade de trabalho requerida nesse setor. Portanto, de acordo com a premissa (V) do modelo: ∂ ∂ = = = Q L PMgL PMeL a T T T T LT 1 Assim, a quantidade requerida de trabalho no setor têxtil passa a ser representada por: a PMgLLT t = 1 (2.19) Como PMgL = PMeL, a relação expressa em (2.19) passa a ser descrita por: a PMeLLT t = 1 a Q L L QLT T T T T = = 1 / A quantidade de trabalho unitária requerida no setor têxtil é dada pelo inverso da produtividade média do setor, que é igual à razão entre a quantidade de trabalhadores alocada nesse segmento e a quantidade produzida, conforme apontado na equação (2.17). Refazendo essa expressão em termos do total de mão de obra alocada no setor têxtil, obtemos: LT = aLT ⋅ QT (2.20) Logo, a oferta de trabalho do setor têxtil será contratada de acordo com sua produtividade média e o nível de produção do segmento. Por analogia, o outro setor e os outros países terão como resultado: L a QA LA A= ⋅ (2.21) L a QT LT T * * *= ⋅ (2.22) L a QA LA A * * *= ⋅ (2.23) Entretanto, cada país pode gerar produtos têxteis e agrícolas conforme a tecnologia e a quantidade de mão de obra disponível. Nesse caso, a restrição do fator trabalho, em cada país, deve ser apresentada como: 35 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 ECONOMIA INTERNACIONAL L L LT A+ ≤ L L LT A * * *+ ≤ De acordo com os segmentos econômicos utilizados, a FPP de um país deve mostrar a possibilidade máxima de produção do setor têxtil do país, dada uma determinada produção de bens agrícolas. Os pontos sobre a FPP mostram que os recursos estão plenamente empregados na produção dos setores têxtil e agrícola. Usando as restrições tecnológicas e de trabalho, podemos representar o CPP da indústria do país Local da seguinte forma: L L LT A+ ≤ a Q a Q LLT T LA A+ ≤ Q L a a a QA LA LT LA T≤ − (2.24) O CPP é o conjunto composto por todas as possíveis combinações de produção dos setores têxteis e agrícolas. O fator limitante, dada a tecnologia, é apenas a oferta disponível de mão de obra em cada país. O CPP da indústria doméstica também pode ser observado na figura a seguir: A L/aLA CPP Custo de oportunidade: –aLT/aLA L/aLT T FPP Q L a a a QA LA LT LA T: = Figura 8 – FPP do país Local para a produção de produtos têxteis (T) e agrícolas (A) Na figura anterior, todos os pontos interiores (abaixo da FPP) representam a CPP, ou seja, as possibilidades de produção da indústria doméstica. L/aLA denota a oferta de trabalho máxima a ser alocada no setor agrícola. Analogamente, L/aLT deve representar a oferta de trabalho máxima a ser 36 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 Unidade I alocada no setor têxtil. Além disso, a FPP do país Local pode ser descrita conforme a equação (2.23), porém sem o sinal de desigualdade, isto é: Q L a a a QA LA LT LA T= − (2.25) Isso denota o limite máximo de produção da indústria doméstica ou, ainda, o pleno emprego dos fatores de produção. Ao derivarmos (2.25) em termos de QT, obtemos: ∂ ∂ = − Q Q a a A T LT LA (2.26) Esta é a inclinação da FPP. Além disso, o resultado em (2.26) representa o custo de oportunidade de produção de têxteis em termos de produtos agrícolas domesticamente. Similarmente ao procedimento anterior, a FPP do país Estrangeiro será: Q L a a a QA LA LT LA T * * * * * *= − (2.27) De forma análoga, ao derivarmos (2.27) em termos, agora, de QT * , obtemos: ∂ ∂ = − Q Q a a A T LT LA * * * * (2.28) Esta é a inclinação da FPP. Além disso, o resultado em (2.28) representa o custo de oportunidade entre gerar produtos têxteis e agrícolas no exterior. Tomemos, como exemplo, as necessidades unitárias de trabalho no país doméstico descritas na tabela a seguir: Tabela 9 – Necessidades unitárias de trabalho nos países Local e Estrangeiro País Coeficientes técnicos de produção (unidades de trabalho) Produtos têxteis (T) Produtos agrícolas (A) Local aLT = 1 aLA = 2 Estrangeiro aLT * = 8 aLA * = 4 Nesse caso, o custo de oportunidade no país Local (T/A) pode ser definido da seguinte forma: para produzir uma unidade a mais de produto têxtil, deve‑se abrir mão de 0,5 unidade de trabalho 37 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 ECONOMIA INTERNACIONAL no setor agrícola. Por esse mesmo exemplo, o custo de oportunidade no país Estrangeiro (T/A) é entendido da seguinte forma: para produzir uma unidade a mais de produto têxtil, deve‑se abrir mão de duas unidades de trabalho no setor agrícola. Em ambos os casos estamos apresentando uma situação tal que um setor deve abrir mão de unidades de trabalho e, consequentemente, reduzir sua produção em favor do aumento de unidades de trabalho em outro segmento, acompanhado de aumento em sua produção, sem que os recursos deixem de ser plenamente empregados. Portanto, essa é uma relação negativa que combina com o sinal negativo das expressões (2.26) e (2.28), bem como com o formato decrescente da FPP na figura anterior. Além disso, a FPP linear de ambos os países denota que o custo de oportunidade dos produtos têxteis em termos dos produtos agrícolas é constante. Exemplo de aplicação FPP do país Local Suponha que no país Local sejam produzidos dois tipos de mercadorias: têxteis (T) e agrícolas (A). As necessidades unitárias de trabalho requeridas na produção desses bens estão transcritas na tabela anterior. Dessa forma: aLT = 1; aLA = 2 A oferta total de mão de obra no país Local é de 1.000 trabalhadores (L = 1.000). Para encontrar a FPP do país Local, devemos substituir os valores desse exemplo na equação (2.25): Q L a a a QA LA LT LA T= − Q QA T= − 1 000 2 1 2 . QA = 500 – 0,5 QT As produções máximas de mercadorias têxteis e agrícolas são dadas por: Q L aT LT = = = 1 000 1 1 000 . . Q L aA LA = = = 1 000 2 500 . 38 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 Unidade I O custo de oportunidade, por sua vez, é definido a partir do resultado em (2.26): − = − = − a a LT LA 1 2 0 5, Dessa forma, a FPP do país Local pode ser definida conforme a figura a seguir: A L/aLA = 500 CPP FPP: QA = 500 – 0,5QT L/aLT=1.000 T Custo de oportunidade: a aLT LA/ ,= − = 1 2 0 5 Figura 9 FPP do país Estrangeiro Suponha que no país Estrangeiro sejam produzidos dois tipos de mercadorias: têxteis (T) e agrícolas (A). As necessidades unitárias de trabalho requeridas na produção desses bens foram apresentadas também na tabela anterior. Dessa forma: a aLT LA * *= =8 4; A oferta total de mão de obra no país Estrangeiro é de 6.000 trabalhadores (L* = 6 000. ). Para encontrar a FPP do país Estrangeiro, devemos substituir os valores desse exemplo na equação (2.27): Q L a a a QA LA LT LA T * * * * * *= − Q QA T * *.=− 6 000 4 8 4 Q QA T * *.= −1 500 2 39 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 ECONOMIA INTERNACIONAL As produções máximas de mercadorias têxteis e agrícolas são dadas por: Q L a T LT * * * . = = = 6 000 8 750 Q L a A LA * * * . .= = = 6 000 4 1 500 O custo de oportunidade, por sua vez, é definido a partir do resultado em (2.28): − = − = − a a LT LA * * 8 4 2 Dessa forma, a FPP do país Estrangeiro pode ser definida conforme a figura a seguir: A L*/a*LA = 1.500 CPP FPP: Q*A = 1.500 – 2Q * T L*/a*LT=750 T Custo de oportunidade: − = − = −a aLT LA * */ 8 4 2 Figura 10 4.3 Determinação do nível de produção A menos que a produção de um país seja direcionada por um planejador central, os produtores domésticos de bens e serviços devem ser orientados a produzir a quantidade desejada pelos consumidores, que varia de acordo com as preferências deles. Há duas regras básicas oriundas da Teoria Microeconômica que norteiam as preferências dos consumidores: • Os consumidores são racionais, logo preferem sempre mais de uma determinada cesta de mercadorias. • A satisfação dos consumidores no consumo de determinada cesta de mercadorias cresce a uma taxa decrescente (utilidade marginal decrescente), ou seja, há um ponto de máxima satisfação (ou bem‑estar) no consumo de determinada cesta de mercadorias. 40 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 Unidade I Essas hipóteses indicam como os consumidores escolhem suas mercadorias. Nesse caso, eles escolherão sempre as cestas de mercadorias (conjunto de bens de consumo) que se situam sobre a curva de indiferença mais à direita possível. Saiba mais Uma curva de indiferença indica um nível de utilidade ou satisfação constante em todas as cestas de consumo situadas sobre essa curva. Nesse caso, o consumidor estaria igualmente satisfeito (ou indiferente) com a escolha dessas cestas de mercadorias, que estão sobre a mesma curva de indiferença. Sobre essas proposições da Teoria do Consumidor, bem como as derivações matemáticas dessas curvas, leia: PINDYCK, R. S.; RUBINFELD, D. L. Demanda Individual e Demanda de Mercado. In: Microeconomia. 8. ed. São Paulo: Pearson, 2014. No entanto, o consumidor não poderá escolher qualquer cesta de mercadorias. Ele deverá obedecer a uma restrição orçamentária, que define o conjunto de cestas que um consumidor pode comprar (QT; QA), dado um montante limitado de renda (Y) e os preços dessas mercadorias (PT; PA). Assim, o consumidor maximiza seu bem‑estar consumindo a cesta de mercadorias, que se encontra sobre a curva de indiferença que tangencia a restrição orçamentária. A T QA Y/PA E U2 U2 U0 Y/PTQT Preço relativo: PT/PA Curvas de indiferença Restrição orçamentária: Q Y P P P QA A T A T= − Figura 11 – Decisão de consumo doméstico entre dois bens (T e A) No gráfico da figura anterior, qualquer cesta de consumo abaixo da reta de restrição orçamentária poderia ser adquirida pelo consumidor, mas lhe geraria uma satisfação menor. As cestas acima da reta 41 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 ECONOMIA INTERNACIONAL de restrição orçamentária não poderiam ser consumidas. A única cesta de consumo que maximiza o bem‑estar do consumidor encontra‑se no ponto E. A inclinação da restrição orçamentária representa o número de unidades de produtos agrícolas de que o consumidor deve abrir mão para obter uma unidade adicional de produto têxtil. Portanto, a inclinação da restrição orçamentária pode ser representada por: ∂ ∂ = − Q Q P P A T T A (2.29) Na cesta ótima E, a reta orçamentária é tangente à curva de indiferença. Nesse ponto, a inclinação da restrição orçamentária (–PT/PA) e da curva de indiferença são iguais. Podemos constatar, também, que o formato da restrição orçamentária é muito parecido com o da FPP (figura anterior). Isso se deve ao fato de que os preços dos bens precisam ser determinados pelo seu custo de produção. Dessa forma, o trade‑off, que discutimos na análise da FPP, reflete‑se na análise da restrição orçamentária ao mostrar simplesmente o preço relativo entre dois bens. Logo, em nível nacional, FPP e restrição orçamentária são idênticas. Observação Em contabilidade social, podemos dizer que a identidade entre FPP e restrição orçamentária é similar à identidade fundamental das contas nacionais: a Renda Nacional Bruta (RNE) deve ser igual ao Produto Nacional Bruto (PNB). A PT/PA OR DR T QA L/aT aLT/aLA U1 E*’E* QT L/aLT Preço relativo: PT/PA QT/QA QT/QA FPP Q L a a a QA LA LT LA T: = − Figura 12 – Produção doméstica de dois bens (T e A) e equilíbrio de autarquia Portanto, produção e consumo são determinados a partir das quantidades consumidas que maximizam o bem‑estar do consumidor, dada a restrição orçamentária. O ponto E*, na figura anterior, 42 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 Unidade I é conhecido como ponto de autarquia. Nele, a oferta é igual à demanda e não existe excesso nem escassez (de oferta ou demanda). A partir desse ponto, é possível traçar as curvas de oferta relativa (OR) e demanda relativa (DR): OR Q Q DR Q Q L a L a a a A T A T LA LT LT LA = = = = / / Em equilíbrio, temos que OR= DR. Isso significa que, na ausência de comércio internacional, a economia doméstica vai produzir mercadorias têxteis ou agrícolas de tal forma que os preços relativos sejam iguais às suas necessidades relativas de trabalho (custo de oportunidade): OR DR a a P P LT LA T A = ⇒ = Já o ponto E*’representa o equilíbrio do mercado doméstico com economia fechada. Nesse ponto, o país não necessita participar de nenhuma interação econômica global. Além disso, sabemos agora que, se ambos os bens estiverem sendo produzidos domesticamente, os preços desses bens serão dados pela inclinação da FPP. 4.4 Determinação dos preços Vimos que o preço de mercado que vigora conforme as firmas maximizam o lucro numa economia competitiva (CMg = RMg) deve ser aquele expresso na equação (2.16), em que é igualado à razão entre o salário pago aos trabalhadores de cada setor (w) e a produtividade marginal do trabalho (PMgL). Para determinarmos a produção, devemos observar os preços relativos dos dois bens produzidos em cada país: • PT: preço do produto têxtil ($/unidade); • PA: preço do produto agrícola ($/unidade). Utilizando o resultado da condição de maximização de lucro em (2.16) para o setor têxtil, obtemos: P w PMgLT T T = Por (2.19), o inverso da produtividade marginal do trabalho (1/PMgLT) é exatamente a quantidade de trabalho unitária requerida para produzir uma unidade de produto têxtil. Logo: 43 Re vi sã o: A na F az zi o - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 26 /0 9/ 20 16 ECONOMIA INTERNACIONAL P w a w aT T LT T LT= = ⋅1/ Rearranjando os termos da equação anterior para w: w P aT T LT = (2.30) O salário a ser pago no setor têxtil deve representar a relação entre o preço do produto têxtil e as quantidades unitárias de trabalho requeridas para produzir uma unidade de produto desse setor. De modo análogo, a remuneração do trabalho no setor agrícola será: w P aA A LA
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