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Livro Texto Direito e Legislação Ambiental Unidade III

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DIREITO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL 
Unidade III
5 LEI DOS CRIMES AMBIENTAIS – LEI Nº 9.605/98
Neste tópico, faremos algumas considerações preliminares para aplicação do Direito Criminal e Penal 
na proteção do meio ambiente.
Como já vimos até aqui, tanto a nossa atual Constituição Federal de 1988 quanto todas as regras que 
compõem o sistema jurídico brasileiro asseguram e estabelecem garantias instrumentais, que atribuem 
competências específicas e expressas para a concretização da proteção ao meio ambiente.
Nesse sentido, o direito “criminal ambiental” é mais uma das formas de tutela (proteção) para assegurar 
um meio ambiente equilibrado, possibilitando a sua utilização pelas sociedades na modernidade.
Como tudo o que cerca a proteção ambiental é um direito novo para a nossa organização societal, desde 
a necessidade de adaptação para os usos dos recursos naturais até a necessidade do desenvolvimento 
de novas tecnologias, tornando menor o uso de recursos naturais e energia, os desafios impostos pela 
necessidade de se proteger o meio ambiente não poderiam ser menores para o Direito Penal.
Os desafios que a proteção ao meio ambiente impôs ao Direito fez que estruturas de organização do 
seu sistema, construídas durante séculos, tivessem de ser revistas, e isso pode ser mais bem-percebido na 
utilização do Direito Penal para a finalidade de proteção ambiental. Notaremos que as adaptações passaram 
a exigir que sua realização seja feita a partir de uma estrutura própria, conforme, inclusive, indicado pela 
própria Constituição Federal de 1988, que nos deixou diversos sinais para essa nova interpretação.
Até por esses indícios constitucionais, teremos de continuar nossa abordagem sempre fazendo 
remissões tanto à Constituição Federal de 1988 quanto aos textos legais que tratam da proteção 
ambiental pelo viés do Direito Penal, tornando nossos raciocínios inteligíveis dentro de uma lógica 
penal preexistente.
Desta forma, temos que os fundamentos da proteção do meio ambiente através do Direito Penal, 
previstos pela Constituição, não são os mesmos utilizados de maneira clássica na proteção de direitos 
materiais (vida, liberdade etc.), muito menos os mesmos mecanismos processuais ordinariamente utilizados.
 Observação
A necessidade de adaptação dos institutos jurídicos penais ocorre 
porque, à medida que a sociedade identifica novos bens que devam 
ser protegidos juridicamente, de natureza “supraindividual”, como é o 
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ambiental, ou seja, um bem de todos, também passa a exigir a construção 
de uma nova visão lógica sobre o Direito Criminal que dê conta de proteger, 
o que escapa à lógica apenas de proteção do indivíduo, conformando a lei 
ao atendimento de maneira mais efetiva de proteção desses direitos, que, 
conforme visto no início deste trabalho, passaram a ser denominados de 
“difusos” e/ou “coletivos”.
Por isso, antes de adentrarmos propriamente em algumas das previsões contidas especificamente 
na Lei dos Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/98), talvez seja necessário entendermos o correto sentido de 
uma lei quando trata da proteção do meio ambiente sob a perspectiva de um sistema de interpretação 
legal voltada para o Direito Penal em nosso país.
Esse esforço se deve à perspectiva de nos fazer compreender como o sistema de interpretação das 
leis penais interfere no Direito Ambiental, bem como quais adaptações interpretativas do Direito Penal 
clássico foram necessárias para a consolidação de uma Lei dos Crimes Ambientais no Brasil. E mais, nos 
permitirá pressentir como este sistema ainda está em processo de construção e aperfeiçoamento.
Detalhando um pouco mais, podemos dizer que o sistema do Direito Criminal convencional teve de 
sofrer adaptações para contemplar os temas ambientais, dando a este novo ramo características peculiares, 
ou seja, características que só podem ser observadas no que agora se chama Direito Criminal Ambiental.
Em relação ao Direito Criminal como é convencionalmente aplicado, os estudiosos e doutrinadores 
sobre a questão ambiental, como Fiorillo e Pegorari (2012), destacam dentre as principais diferenças 
notadas, por exemplo, a aplicação da prospecção ou o caráter preventivo que tal direito passa a assumir 
diante do desafio de proteção ambiental, o que contraria completamente a aplicação do caráter 
retrospectivo/repressivo comumente atribuído à matéria penal na proteção de outros bens da sociedade.
Essa alteração de característica atribuída às questões ambientais pelo Direito Penal implica o 
reconhecimento da necessidade de tutelar (proteger) o bem antes que o mal (dano) esteja completamente 
consumado. Melhor explicando, é a possibilidade de paralisar imediatamente o potencial dano, mesmo 
que para isso não se saiba com certeza se ele iria ou não se concretizar. Ao mesmo tempo, essa 
possibilidade da aplicação preventiva do direito pode representar a aplicação da uma penalidade ao 
potencial poluidor pela paralisação imediata de suas atividades, antevendo os efeitos de uma suposta 
condenação que poderá ou não vir no final do processo.
Desta forma, podemos dizer que a lógica da aplicação da prospecção ou do caráter preventivo 
contraria o Direito Penal convencional e a aplicação do seu caráter retrospectivo/repressivo, porque não 
exige a aplicação de pena apenas após o dano consumado, conforme comumente podemos perceber. 
Exemplo: só pode ser processado ou condenado por homicídio, roubo ou lesão aquele que tenha cometido 
assassinato, roubado ou lesionado outra pessoa, no Direito Penal convencional, utilizando assim o seu 
caráter retrospectivo/repressivo; ou seja, exige-se a consumação dos verbos matar, roubar, ferir. Já para a 
aplicação do Direito Criminal Ambiental, a existência de indícios de lesão ao meio ambiente pode ser capaz 
de paralisar uma atividade produtiva pela simples possibilidade de ela estar relacionada a um eventual ou 
potencial dano ambiental, aplicando neste caso a prospecção ou o caráter preventivo da norma.
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Naturalmente, desta lógica derivam outras consequências, pois o Direito Ambiental Penal se opera 
mediante o caráter preventivo. As demandas e ações que ingressam no sistema do Poder Judiciário 
buscando a defesa de um bem ambiental tendem a conceder a antecipação da tutela penal, ou seja, o 
pedido principal almejado na ação judicial tende a ser antecipado, para que o bem ambiental não corra 
o risco noticiado e seja protegido até que o Poder Judiciário tenha convencimento de que o bem não 
corre mais perigo.
Com isso, podemos avançar em nosso aprofundamento teórico, afirmando que a proteção penal 
ambiental está atrelada tanto à criação de crimes de perigo concreto como de crimes ambientais de 
perigo abstrato, crimes ambientais de mera conduta e de normas penais em branco. Além disso, a sua 
aplicação estará sempre remetida à existência de elementos normativos dos tipos (verbos), ou seja, a 
previsão legal e antecipada da conduta humana condenável, conforme restará prescrito em texto legal, 
assim como feito na Lei dos Crimes Ambientais.
Mas antes de avançarmos se faz necessário entender cada um dos elementos mencionados no 
parágrafo anterior, por isso faremos a seguir algumas considerações elucidativas.
Para Jesus (2010), os crimes de perigo se diferenciam dos crimes de dano quando estes são os que se 
consumam com a efetiva lesão do bem juridicamente protegido (exemplos: homicídio, lesões corporais 
etc.). Nesse tipo de crime, houve a perdada vida e/ou lesões no corpo da vítima. Já nos crimes de perigo, o 
autor nos alerta de que estes são os que se consumam apenas pela possibilidade de dano.
Continuando nossa análise baseada nos esclarecimentos de Jesus (2010), este nos ensina que o perigo 
pode ser presumido (abstrato) ou concreto, esclarecendo que o presumido ou abstrato: “é considerado 
pela lei em face de determinado comportamento positivo ou negativo. É a lei que o presume juris et 
de jure. Não precisa ser provado”, portanto “resulta da própria ação ou omissão. Já o perigo concreto é 
aquele não presumido, isto é, que precisa ser investigado e comprovado” (JESUS, 2010, p. 229).
Já Mirabete e Fabbrini (2009), ao nos explicar sobre os crimes de mera conduta, ensinam que “trata-se 
de uma das classificações dos crimes quanto ao seu resultado”, e “a lei não exige qualquer resultado 
naturalístico, contentando-se com a ação ou omissão do agente”; portanto, “não sendo relevante o 
resultado material, há uma ofensa (de dano ou de perigo) presumida pela lei diante da prática da 
conduta” (MIRABETE; FABBRINI, 2009, p. 120). É quando a lei já previu uma expectativa de ofensa a 
um bem considerado juridicamente importante para a sociedade, vinculando o agente mais próximo da 
atividade-risco ao dano, independentemente de ele vir ou não a ocorrer.
Por fim, esclarecemos que a lei penal em branco refere-se àquelas leis que não são autoaplicáveis, ou 
que necessitam de complementação legal advinda de outras normas ou regulamentações, mas que uma 
vez regulamentadas passam a ser objeto da aplicação do Direito Criminal Ambiental.
Sendo assim, é importante destacar que, devido à constatação de que os danos ambientais em boa 
parte são considerados irreversíveis, na mesma ordem a legislação ambiental também foi estabelecida 
dessa forma, para evitar que tais danos ambientais simplesmente ocorressem. Se não fosse assim, haveria 
o risco de a proteção penal do meio ambiente ser considerada dispensável.
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Ademais, o princípio da prevenção norteia a proteção constitucional do meio ambiente, incluindo 
nessa lógica também a proteção do bem ambiental sob o ponto de vista do Direito Penal.
Avançando um pouco mais, podemos dizer também que outra novidade trazida pela Constituição 
Federal de 1988 foi a previsão de punição penal, não apenas da pessoa física (indivíduo infrator), mas 
também da pessoa jurídica (empresas ou instituições de direito público ou privado), o que ocorreu como 
reflexo de um amadurecimento conceitual e como opção de política criminal, posta a característica 
notada por diversos teóricos de que hoje vivemos em uma sociedade de risco, além da necessidade 
de colocar a atribuição da culpabilidade a partir de um conceito moderno de responsabilidade social, 
conforme será mais bem-analisado posteriormente.
Mesmo que diversas condutas humanas em relação ao meio ambiente tenham se tornado reprimíveis 
eticamente, moralmente e socialmente, é o Direito Criminal Ambiental que apresenta sanções penais 
aplicáveis especificamente aos tipos de condutas indesejadas; isso só poderá ocorrer quando tais 
condutas estiverem perpetradas na lei.
Porém, não basta a vontade do legislador infraconstitucional para transformar qualquer 
conduta em crime: a criação de sanções deve ser estabelecida conforme orientações do texto 
constitucional, e estas, aplicadas de acordo com a natureza de quem comete a conduta legalmente 
proibida, pois em âmbito penal a aplicação da pena não deve extrapolar a figura de quem cometeu 
a conduta legalmente reprovável. Por esse princípio, devemos sempre verificar a existência da 
estreita correspondência entre a responsabilização da conduta do agente e a pena a ser aplicada, 
visando atingir as finalidades das penas, que se voltam, nos casos do Direito Criminal Penal, à 
prevenção, em primeiro lugar, e depois à repressão.
Por essa abordagem, o legislador buscou dar à criação das infrações penais ambientais e suas 
respectivas sanções outra ferramenta, capaz de assegurar o direito ao meio ambiente em sentido amplo. 
Ao prever a proteção da fauna, da flora, dentre outras proteções específicas, a proteção ambiental 
através do Direito Criminal busca assegurar o direito à vida em todas as suas manifestações.
Portanto, quando nos referimos à proteção da tutela penal do meio ambiente na atualidade, 
seguramente estamos falando das novas interpretações e abordagens que só foram possíveis após a 
Constituição Federal de 1988 e potencializadas dez anos após, com a edição que passou a dispor sobre 
as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente e dar 
outras providências, conforme passaremos a entender.
Porém, antes de avançarmos para aspectos específicos da interpretação da Constituição Federal 
e da Lei nº 9.605/98 (Lei de Crimes Ambientais), é importante termos a noção de que esta lei não 
representa um rol taxativo em relação às possibilidades de atribuição de responsabilidades e penalidades 
em se tratando da matéria ambiental. Ela seguramente é um importante marco legal que concentra 
grande parte das reflexões e possibilidades de punição para condutas indesejadas, mas que pode ser 
complementada por outras regras e até não prever alguns tipos de condutas específicas que podem 
estar previstas em outros institutos legais.
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Nesse sentido, é importante guardar a informação de que a Lei de Crimes Ambientais é complementada 
por inúmeras normas penais e administrativas (as chamadas normas penais em branco), além de em 
alguns casos, ser complementada por outros regulamentos federais, estaduais e municipais, bem como 
por resoluções internas de órgãos encarregados da gestão ambiental, por determinação legal, como é o 
caso do próprio Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) como 
órgão ligado ao Poder Executivo Federal, do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) como órgão 
consultivo e deliberativo em âmbito nacional e do Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema) como 
órgão consultivo e deliberativo no âmbito do Estado de São Paulo, por exemplo.
Detalhando um pouco mais as várias interfaces que devem ser consideradas na aplicação do Direito 
Criminal Penal, devemos lembrar que, com a necessidade de se levar em conta os aspectos ambientais 
em todos os ramos produtivos da sociedade moderna, o tema ambiental passou a incidir sobre as mais 
variadas legislações, surgindo daí nestas recomendações e punições específicas em relação ao meio 
ambiente. Nesse sentido, a título de exemplo, podemos mencionar diversas outras leis esparsas que 
foram promulgadas a partir de 1988 e que também tratam de questões relacionadas ao meio ambiente 
e suas mais variadas formas, tais como: Lei nº 7.679/89 – dispõe sobre as possibilidades de proibição 
da atividade pesqueira; Lei nº 7.802/89 – dispõe sobre o uso de agrotóxicos; Lei nº 7.803/89 – alterou a 
Lei nº 4.771/65, que dispõe sobre o Código Florestal; Lei nº 7.804/89 – alterou a Lei nº 6.938/81 (Política 
Nacional do Meio Ambiente); Lei nº 7.805/89 – alterou o Decreto-Lei nº 227/67, que dispõe sobre o 
Código de Minas; Lei nº 8.974/95 – trata das regras sobre o patrimônio genético etc.
Conforme visto até aqui, podemos concluir que o Direito Criminal Ambiental é mais uma importante 
ferramenta utilizada pela sociedade moderna na intenção de tutelar, ou seja, de proteger o meio 
ambiente. Verificamos também que a utilização do Direito Criminal na proteção do meio ambiente 
requereu uma série de adaptações do instituto penal em si. No mais, antes da análise do texto legalcontido na Lei nº 9.605/98 (Lei de Crimes Ambientais), faz-se necessário revermos qual conceito de 
“meio ambiente” a ser protegido é o adotado por esta lei; só assim poderemos dar a justa medida da 
interpretação de suas previsões.
Pois bem, entender de qual meio ambiente trata a proteção trazida pela Lei de Crimes Ambientais 
nos remete necessariamente a entender o que é considerado meio ambiente por nossa sociedade. E essa 
definição foi inicialmente cunhada pelo art. 3º, inciso I, da Lei nº 6.938/81 (Política Nacional do Meio 
Ambiente), que foi a primeira a definir meio ambiente como “o conjunto de condições, leis, influências e 
interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”.
Conforme tivemos oportunidade de verificar, o referido conceito está em constante transformação 
e juridicamente foi ampliado pela Constituição Federal de 1988, que passou a considerar como passível 
de proteção, além do meio ambiente natural – composto por atmosfera, elementos da biosfera, águas, 
mar territorial, solo, subsolo, recursos minerais, fauna e flora –, o meio ambiente artificial (espaço 
urbano construído pelo homem), o meio ambiente cultural (delimitado pelo art. 216 da CF como sítios 
arqueológicos, patrimônio paisagístico e arquitetônico tombado), o meio ambiente do trabalho (local de 
desenvolvimento das atividades laborais, visando à proteção da dignidade humana e da vida), além da 
proteção do patrimônio genético.
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Desde então, os padrões para o entendimento do que deve ser protegido como meio ambiente em nossa 
sociedade devem ser buscados no artigo 225 da Constituição Federal, que passou a indicar os elementos 
estruturais para uma tutela ambiental, assim descrito: “Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente 
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se 
ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.
Fiorillo e Pegorari (2012), ao analisar o texto do artigo 225 da Constituição Federal e sua ampliação 
conferida ao conceito jurídico de meio ambiente, evidenciam suas principais concepções fundamentais, 
destacando os seguintes aspectos: a) a afirmação expressa de que todos têm direito ao meio ambiente 
ecologicamente equilibrado, portanto a qualidade ambiental não pode ser justificativa para se promover 
qualquer tipo de descriminação, devendo ser algo garantido a todos os brasileiros; b) o de que o direito 
ao meio ambiente ecologicamente equilibrado diz respeito à existência de um bem de uso comum do 
povo e essencial à sadia qualidade de vida, criando em nosso ordenamento o bem ambiental; c) o de que 
a Constituição Federal, enquanto lei maior em nosso território, determina tanto ao Poder Público como 
à coletividade o dever de defender e preservar o bem ambiental; d) o de que a defesa e a preservação 
do bem ambiental estão vinculadas não só às presentes, mas também às futuras gerações, criando uma 
solidariedade entre elas.
Todos esses aspectos nos sugerem que a tutela/proteção constitucional do meio ambiente deve ser 
orientada pelos seguintes indicativos:
• O Direito Ambiental está estritamente ligado à necessidade de proteção à vida em todas as suas formas.
• A Constituição Federal dá ao Direito Ambiental um caráter transcendental, ou seja, este deve ser 
abordado em seu caráter transdisciplinar, na medida em que coloca a todos os outros segmentos 
o dever de proteger o meio ambiental a partir de qualquer atividade produtiva ou de prestação 
de serviço, como um direito intergeracional, e, com isso, apresenta um alargamento conceitual de 
meio ambiente.
Para o Direito, o destinatário do Direito Ambiental é a pessoa humana; por mais que seja notada 
a proteção da vida em todas as suas formas, ela se dará com maior ou menor intensidade, a partir 
de uma perspectiva humana.
Por esta perspectiva, não fará sentido a proteção do meio ambiente, se ela não estiver inserida 
no princípio constitucional de proteção da dignidade da pessoa humana, função elementar do 
Estado Democrático de Direito.
Indo mais além, podemos dizer que, na medida em que se relaciona à dignidade, a proteção ao 
meio ambiente também se vincula ao conteúdo do que é considerado dignidade humana (isto é, 
a educação, lazer, trabalho, saúde etc.).
Através da constatação do caráter transcendental e intergeracional que a proteção ambiental 
ganha em nossa Constituição, podemos notar como as previsões contidas no artigo 225, antes 
transcritas, se aproximam e necessitam de uma leitura integrada para que façam sentido na 
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sociedade brasileira. É por esta via, por exemplo, que a previsão elementar, indicada no artigo 6º 
da Constituição Federal de 1988, ao estabelecer os direitos sociais a educação, lazer, trabalho e 
saúde, também integra o que pode ser considerado proteção do meio ambiente no Brasil atual, 
rompendo com uma visão apenas biologizante sobre o tema. Essa visão ampliada também se 
impõe como necessária para a proteção ambiental a partir do exercício de um Direito Criminal 
Ambiental.
• Uma leitura sob a concepção transversal dos aspectos ambientais constitucionais, o artigo 225 
da Constituição Federal e a proteção ao meio ambiente no Brasil também deve ser interpretada 
de acordo com o que prevê o Preâmbulo da Constituição Federal, ou seja, dentro do que é 
apresentado como direitos que devem ser perseguidos por toda a Constituição Federal. Assim, 
uma leitura correta e justa do artigo 225, dentro dos preceitos constitucionais, deve ser feita de 
maneira inquestionável a propiciar dignidade, igualdade e justiça entre os indivíduos e grupos que 
compõem o povo brasileiro.
• Da mesma maneira, a proteção do meio ambiente, prevista no artigo 225 da Constituição Federal, 
também se relaciona aos artigos 1º, 3º e 5º da Constituição Federal, ou seja, uma leitura sobre 
a proteção do meio ambiente deve estar apta a aplicar limites dentro de uma concepção de 
proporcionalidade capaz de unir interesses que até podem ser considerados antagônicos.
Em outras palavras, dentro da previsão do artigo 1º da Constituição Federal, por exemplo, a 
proteção do meio ambiente deve ser capaz de se impor, mesmo diante da previsão explícita 
de que em nossa nação devemos manter tanto a dignidade humana quanto os valores sociais 
do trabalho e da livre-iniciativa. Da mesma forma, a proteção ao meio ambiente deve ser 
congregada às necessidades da promoção do desenvolvimento nacional e do bem de todos, 
constantes no artigo 3º. Além disso, o direito à vida, a função social da propriedade e o direito 
de ação popular, conforme as previsões contidas no início do artigo 5º e em seus incisos XXIII 
e LXXIII, também compõem instrumentos que se relacionam diretamente com a proteção do 
meio ambiente no Brasil.
• Em se tratando das competências para criação de regras, que devem ou não ser adotadas na gestão 
ambiental pela União, bem como pelos Estados e Municípios, através dos mais variados órgãos 
públicos, também devemos observar os parâmetros constitucionais, seguindo as suas orientações 
para o ordenamento infraconstitucional, o que logicamente se estende para a criação dos tipos 
penais e suas respectivas punições atribuídas.
• Como não poderia ser diferente, o Brasil, ao se consolidar, após o processo de redemocratização, 
em 1988, como um Estado Democrático de Direito, acabou por colocar a proteção ao meio 
ambiente como expressão de um direito à cidadania. Por sua vez, a aplicação deste conceito às 
relações envolvendo aproteção do meio ambiente é mais complexa do que parece, posto que o 
conceito moderno de cidadania é apresentado cada vez mais com novas dimensões. No início, 
mais precisamente no final do século XVIII, o conceito de cidadania formal era formulado apenas 
enquanto a obtenção do status de igualdade entre os indivíduos em um Estado Nacional. Depois, 
após a Segunda Grande Guerra Mundial, muito influenciado por estudiosos das Ciências Sociais, 
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esse conceito sofreu ampliação, passando, através do conceito da cidadania substantiva, a só ser 
atingido quando garantidos ao indivíduo amplos direitos sociais, políticos e civis. Hoje, novamente 
passando por uma ampliação de sua abrangência, há quem diga que a cidadania na modernidade só 
pode ser atingida quando, além da igualdade, grupos diferenciados dentro do território do Estado 
Nacional tenham também o direito a ser diferentes, sendo este o caso, por exemplo, dos indígenas, 
das comunidades quilombolas e dos outros grupos de povos e comunidades tradicionais que em 
geral existem no Brasil e que ocupam áreas relevantes também do ponto de vista ambiental.
De qualquer maneira, o Direito Ambiental, quando somado à cidadania no Estado Democrático de Direito, 
inclui os direitos de solidariedade entre indivíduos e as futuras gerações, como explicado em momento 
anterior, quando tratamos dos direitos difusos, que traduzem uma forma coletiva de cidadania, e quando 
falamos da responsabilidade das presentes gerações por utilizar os recursos naturais sem comprometer o 
seu uso pelas gerações futuras, garantindo por estas vias a efetivação de direitos fundamentais.
Vistos os indicativos constitucionais do que deve ser tutelado como meio ambiente, resta-nos 
entender como o Direito Penal considerado em suas próprias bases vai passar a contemplar a proteção 
do meio ambiente em sua sistemática.
 Lembrete
Devemos começar considerando que na área penal a Constituição 
Federal de 1988 se voltou para diversas formas de criminalidade, sendo 
elas: econômica, social, financeira, popular e ambiental.
De acordo com os raciocínios desenvolvidos neste trabalho até aqui, podemos dizer que o Direito 
Ambiental constitucional apresenta duas vertentes de atuação: a) a primeira expressa na imposição do 
seu efeito negativo, ou seja, no sentido de impor ao indivíduo um comportamento de não se destruir 
o meio ambiente, impondo o dever de sempre buscar sua preservação; e b) depois, por outro lado, 
a imposição de um dever positivo de atuação perante outras pessoas, físicas ou jurídicas (de direito 
público ou privado), fiscalizando condutas condenáveis para que o infrator se abstenha em favor do meio 
ambiente. Como mais uma possibilidade, surge o Direito Penal como mais um instrumento coercitivo 
diante da ineficácia de outros meios de proteção ambiental, somando-se a eles nesse objetivo.
É importante termos a compreensão de que a imposição de preceitos constitucionais, como os até 
aqui elencados, acaba por vincular materialmente toda a cadeia de legisladores do Congresso Nacional 
na escolha dos bens jurídicos que devem ser protegidos, bem como na escolha da forma mais adequada 
para a atuação da política criminal quando da edição de uma nova lei.
Além disso, os preceitos constitucionais também são importantes na medida em que também acabam 
por vincular a ação do Poder Judiciário, pois este deve cumprir seu papel na atualização constitucional, 
ou seja, deve interpretar as leis ordinárias de acordo com os preceitos da Constituição e com a evolução 
desejada pela sociedade no tempo.
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Como já foi possível perceber até aqui, quando adentramos mais especificamente na análise da 
proteção penal do bem ambiental, não basta nos apropriarmos apenas do texto legal, por exemplo, do 
que está expresso na Lei de Crimes Ambientais, em comento neste tópico. É necessário ir além, abordando 
com clareza alguns conceitos considerados chave para a aplicação do Direito Penal em benefício do 
meio ambiente, sendo eles: bem jurídico; delito; e lesividade. Conceitos estes que ainda serão associados 
aos princípios da subsidiariedade e da fragmentariedade, legitimando a intervenção penal nessa nova 
era de pretensões jurídicas da qual faz parte o direito ao meio ambiente.
Podemos entender por bens jurídicos todos os valores essenciais à manutenção da convivência 
harmônica e pacífica dos homens em sociedade. Estes bens naturalmente estão atrelados ao critério de 
utilidade para o homem. Até por isso, sua relevância estará sempre identificada pelo Estado, que opta 
pela tutela/proteção jurídica desses bens, transformando-os em “bens jurídicos”.
Tomando a sociedade moderna consciência da importância do meio ambiente para a sobrevivência 
do homem sobre a Terra, naturalmente este bem passou a compor interesse também da ciência do 
Direito Penal, que por sua vez passa a exercer uma racional concretização, seleção e individualização dos 
interesses merecedores de proteção penal. Sendo assim, a pena imposta é uma consequência ocasionada 
pela condição axiológica do bem, e este tem sua relevância para a sociedade exatamente na proteção 
exercida pela pena.
Até por essa ordem de importância atribuída à proteção dos bens jurídicos através de uma pena 
protetiva, merece destaque a importância galgada pela proteção do meio ambiente na modernidade, pois 
o meio ambiente saiu de um quase anonimato para ser incluído em um seleto rol de bens penalmente 
protegidos no Brasil. Há autores que destacam essa evidente diferença entre tutelar e proteger um bem 
da vida, e incluí-lo no seleto rol dos bens jurídico-penais significaria um estágio avançado de proteção. 
Destacando que, para ser legítima a tutela penal, é necessário que o bem seja “digno” dessa proteção e 
que a lesão ou ameaça efetivamente mereça uma sanção penal, por se tratar de um bem indispensável 
para a manutenção da ordem social e da vida sobre a Terra.
Devemos convir que, quando um bem jurídico é protegido sob a guarida da legislação criminal, 
qualquer um que ouse violar a proteção da lei penal acaba muito mais exposto socialmente do que 
quando o bem é protegido apenas civil e administrativamente. Nesse sentido, a urgência na proteção do 
bem acaba sendo refletida pela simples tutela penal atribuída ao bem pela sociedade. Seu estabelecimento 
deve ser observado tendo em vista a proporcionalidade entre a relevância do bem jurídico protegido e 
as consequências sociais estigmatizadoras (da prestação de serviços à comunidade, do pagamento de 
fiança e até do encarceramento), inexistentes nos outros ramos do Direito.
No entanto, a aplicação das penas também sofre limitações, também fixadas na força das previsões 
contidas na Constituição Federal, pois este é o instrumento legitimado para ajudar tanto na concretização 
do conceito de bem jurídico a ser protegido – não apenas orientando o legislador, mas também com 
força vinculante limitativa do poder punitivo do Estado –, quanto trazendo limitações constitucionais 
ao legislador penal que podem ser observadas, por exemplo, nos direitos e garantias fundamentais dos 
indivíduos, traduzidos em princípios que devem ser levados em consideração quando da aplicação das 
sanções penais previstas para os crimes ambientais.
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É inegável, portanto, que exista uma “dignidade penal” na atribuição dessa importância aos bens 
ambientais, pois as interferências do Direito Penal geralmente são reservadas a valores ou interessessociais, constitucionalmente relevantes, que guardam, por sua vez, intrínseca relevância com a dignidade 
da pessoa humana.
Ao mesmo tempo, a necessidade de se proteger um bem penalmente revela o fracasso ou a 
necessidade de se complementar todo tipo de proteção antes dispensada ao bem jurídico em questão. 
É o que alguns dizem ser a “carência de tutela penal”, que se refere ao princípio da subsidiariedade, ou 
seja, a necessidade de criminalização de uma atitude em relação a um bem só se torna legítima quando 
a proteção dispensada pelos outros ramos do Direito não foi suficiente para proteger o bem jurídico, o 
que, no caso em comento, ocorre em relação à proteção do meio ambiente.
Esse mergulho conceitual nos induz a acreditar que a inclusão da proteção ambiental através de 
um Direito Criminal Ambiental não se deu em vão. Podemos afirmar que a missão do Direito Penal em 
relação ao meio ambiente no Estado Democrático e Social de Direito vem para subsidiar a proteção dos 
bens jurídicos mais importantes na sociedade, contendo condutas inaceitáveis e inconciliáveis com as 
condições de uma convivência pacífica, livre e materialmente segura dos cidadãos com o lugar, o país e 
o planeta que habitam.
Como bem jurídico o meio ambiente ganha uma proteção que se tornou e se torna cada vez 
mais legítima, na medida em que cada vez mais proteger o meio ambiente se assemelha a proteger a 
própria dignidade da pessoa humana, devendo ser observadas as especificidades e a multiplicidade que 
representam as diversas manifestações de vida.
Mas a proteção penal do ambiente tem se desenvolvido como algo capaz de proteger os bens relacionados 
a um aspecto geral, isto é, de caráter supraindividual, ou seja, coletivos ou difusos, privilegiando esta 
possibilidade em detrimento de uma proteção do meio ambiente enquanto um bem pertencente a um 
determinado indivíduo. Além disso, como bem jurídico protegido penalmente, o meio ambiente, ao figurar 
inclusive como direito fundamental reconhecido pela Constituição Federal de 1988, atende a uma visão 
constitucional positivista; ou seja, a partir da sua aceitação como um bem jurídico-penal, ele passa a ser 
reconhecido como um conceito partindo das normas jurídicas hierarquicamente superiores às demais, 
quais sejam, aquelas que decorrem diretamente da Constituição Federal.
Por essa abordagem, podemos entender a importância dada aos bens ambientais para a sociedade 
na recente história do Direito brasileiro. Essa nova percepção da importância dos bens ambientais fez 
a Constituição determinar a proteção criminal desses bens, elevando a relevância do bem jurídico em 
análise e dando maior visibilidade quanto à proteção desses bens a instituições e órgãos oficiais, o que 
se traduz na necessidade de sua proteção em âmbito penal.
Quanto aos delitos, estes estão estritamente ligados ao próprio conceito de crime, ou seja, 
penalmente, haverá delito quando o ato praticado for típico (ou seja, previsto expressamente em Lei 
Penal), antijurídico (ou seja, contrário ao direito, ou que é permitido, recaindo sobre ele juízo reprovável) 
e culpável (ou seja, que se possa revelar a existência do grau de intenção – dolo – ou culpabilidade em 
relação ao agente que o praticou).
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Assim, no Direito Penal, assim como qualquer direito não é estático, as proteções jurídicas de 
determinados bens podem ser alteradas, variando de acordo com o momento histórico e com o grupo 
social que se estuda; portanto, cada sociedade atribui ao bem o valor que acha justo. Seguindo esta 
lógica, alguns bens jurídicos, ao longo do tempo, deixam de ter relevância penal, assim como novas 
relações se apresentam como merecedoras de tutela. Foi o que aconteceu em relação à proteção do 
meio ambiente, que até pouco tempo atrás não contava com muitas proteções, mas que cada vez mais 
passa a requerer maior atenção e influenciar o desenvolvimento das demais atividades produtivas.
Notamos que, na história recente, os bens ambientais e vários outros foram ameaçados, de modo que 
a sua destruição atingiu potenciais que ameaçaram a existência da própria sociedade que integramos. 
Essa ameaça ocorreu até como consequência do grau do avanço tecnológico da modernidade, que 
aumentou, muito, o grau de exploração dos recursos naturais, expondo-nos à condição de viver em uma 
sociedade chamada “pós-moderna” ou “de risco”, na medida em que o “progresso” e o “crescimento” 
passaram a caminhar com um grau de destruição que colocou em risco a própria manutenção da 
dignidade humana e da vida.
Essa situação expôs alguns fatores, como a intensificação com que a tecnologia passou a fornecer 
novidades não experimentadas, salientando os riscos impostos à qualidade devida por seus impactos; 
consequentemente, a falta de dados sobre os resultados dessas novas tecnologias passou a exigir a aplicação 
do princípio da precaução, até que fossem satisfeitas as insuficiências de informações científicas quanto 
aos resultados que a aplicação da tecnologia poderia causar, ou até que se pudesse dimensionar sem 
maiores surpresas o potencial danoso que a nova tecnologia ou atividade pudesse causar.
Mesmo sendo o princípio da precaução a regra-padrão que deve ser seguida na aplicação das leis 
ambientais – até pelas características de difícil reparação do dano causado ao meio ambiente –, não 
podemos deixar de mencionar que, por uma questão prática, excepcionalmente também pode ser 
aplicado às infrações penais ambientais o princípio da insignificância.
De acordo com o que nos ensina Milaré (2004), mesmo ao considerarmos o direito ao meio ambiente 
ecologicamente equilibrado um dos direitos fundamentais da pessoa humana, o que, por si só, justifica 
a imposição de sanções penais contra atos que representem sua agressão, também é justificável, pela 
ampla gama de situações que se encontram como decorrentes de impacto humano sobre o meio 
ambiente, que a tutela/proteção penal do ambiente só seja chamada a intervir em casos nos quais as 
agressões atinjam valores fundamentais da sociedade, alcançando um nível intolerável, ou que sejam 
objeto de intensa reprovação do corpo social. Do contrário, a necessidade de controle das atividades 
humanas sobre o meio ambiente, pelas instituições do Estado, não seria possível de ser atingida.
Conforme adiantamos anteriormente, a necessidade de dar proteção ao meio ambiente e a escolha 
da nossa sociedade de dar aos direitos ambientais um status jurídico privilegiado dentro do sistema de 
proteção criminal fez a estrutura penal em vigor também passar por adaptações para receber esta nova 
demanda. Assim, novamente reforçamos que, ao tratar dos bens relacionados aos chamados direitos 
de terceira geração, como o meio ambiente, a ordem econômica etc., enquanto bens jurídicos difusos, 
torna-se indispensável uma análise dos seus respectivos sistemas de proteção, que foram criados 
atendendo à característica supraindividual.
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Desta forma, temos a instituição de um sistema constitucional e legal criado para proteger o meio 
ambiente, denominado de Direito Criminal Ambiental, que, por sua vez, surgiu e passou a ser objeto de 
diversas teorias, forjadas com a intenção de explicar uma nova forma de tutela/proteção penal ajustada 
aos novos paradigmas ambientais, sem desfigurar, no entanto, os preceitos do Direito Penal tradicional.
Baseando-nos na análise de Fiorillo e Pegorari (2012), podemos detectar os esforços dos teóricos 
na tentativa de desvelar características que tiveram de ser incorporadas à Teoria do Direito Criminal, 
quando aplicada à proteção do meio ambiente. O primeirodeles reside na Teoria sobre a Imaterialidade 
de Alguns Bens Supraindividuais, em que os bens imateriais e transindividuais também são aproveitáveis 
diretamente aos indivíduos, pois são bens jurídicos intermediários. Sob os auspícios dessa teoria, 
poderíamos entender que a proteção ao meio ambiente pode ser detectada, por exemplo, através da 
manutenção de índices satisfatórios da poluição do ar que, por sua vez, são traduzidos como uma 
possibilidade de se atingir a proteção da saúde pública em um determinado local.
Ora, segundo essa teoria, atingir um bem supraindividual ambiental, ou seja, “a qualidade do ar”, é o 
mesmo que garantir segurança para a saúde individual do cidadão. Ao passo que, se o bem supraindividual, 
ambiental não for assegurado para todos, não se estará assegurando, por via de consequência, garantia 
de direito que também atinge diretamente a cada indivíduo, ameaçando a qualidade ambiental que 
também deve estar disponível para cada um.
Segundo essa Teoria Interpretativa, não se pode considerar que a lesividade ocorrida por um agente, 
no caso, o condutor de um carro com alto índice de emissão de poluente, através de uma conduta 
isolada, possa ser considerada insignificante, pois a permissão para que tal fato ocorra impunemente 
pode estimular tal ocorrência de maneira reiterada, por um grande número de outras pessoas, o que 
certamente causaria uma lesão irreparável ao bem jurídico supraindividual meio ambiente, causando 
a poluição do ar e a consequente lesão a um bem também individual daquele que tivesse sua saúde 
atingida. Por óbvio, estaríamos diante da Teoria dos Delitos Acumulativos, ou seja, causados por um 
acúmulo de atitudes causadas por um número incalculável de agentes.
Outras teorias que passaram a compor o campo do Direito Criminal Ambiental dizem respeito à 
aplicação específica em alguns microssistemas da tutela/proteção ambiental, como é o caso das teorias 
que se ocuparam de possibilitar a existência da aplicação de culpa sobre a relação existente entre 
as pessoas jurídicas e suas práticas relacionadas à realização de infrações penais ambientais. Sobre 
essa possibilidade, temos a observar que é primeira vez que uma norma penal pode ser atribuída para 
responsabilizar, inclusive com a aplicação da imposição de restrição da liberdade, uma pessoa jurídica, o 
que pode ocorrer através de seus representantes legais.
Além dessas teorias, como a proteção do meio ambiente apresenta características de imaterialidade 
(ou seja, nem sempre a proteção do bem pode ser palpável, por exemplo, a atribuição de responsabilidade 
pela poluição do ar) e da transcendência dos bens supraindividuais, verifica-se que a doutrina estrangeira 
vem sugerindo a adoção de soluções que passam pela utilização da atribuição de responsabilidade de 
maneira objetiva (independente de se provar que o bem ambiental foi lesionado pela empresa x ou 
y, todas respondem) e pela criação de crimes de perigo abstrato, em que o empreendedor assume de 
maneira direta a responsabilidade por eventuais danos.
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A verdade é que o encaixe perfeito entre o novo Direito Criminal Ambiental, conforme sugerido 
pela Constituição Federal, e o Direito Penal tradicional nem sempre é possível, pois este novo direito 
possui características peculiares, que demandaram esforços. Porém, se considerarmos o papel cada vez 
mais preponderante que a proteção do meio ambiente está ganhando em nossa sociedade, somado às 
possibilidades adaptativas existentes no nosso sistema jurídico, esse cenário tenderá a se aprimorar e a 
se consolidar em nossa sociedade como algo cada vez mais respeitável e com penas cada vez mais duras 
para aqueles que insistem em desrespeitar os limites de exploração do meio ambiente.
 Observação
Observando as características iniciais atribuídas ao Direito Criminal 
Ambiental, podemos passar à análise mais apurada da Lei nº 9.605/98 (Lei 
de Crimes Ambientais) e de seus dispositivos, que estão divididos em duas 
partes: a Parte Geral, compreendida entre os artigos 2º e o 28, em que 
se encontram previstas as normas penais e processuais penais gerais; e a 
Parte Especial, em que se encontram descritas as condutas consideradas 
infrações penais ambientais propriamente ditas.
Iniciaremos nossa análise da Lei de Crimes Ambientais pela leitura do que dispõe o artigo 2ª, que 
assim está transcrito:
Art. 2º. Quem, de qualquer forma, concorre para a prática dos crimes 
previstos nesta Lei, incide nas penas a estes cominadas, na medida da sua 
culpabilidade, bem como o diretor, o administrador, o membro de conselho e 
de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou mandatário de pessoa 
jurídica, que, sabendo da conduta criminosa de outrem, deixar de impedir a 
sua prática, quando podia agir para evitá-la.
Pela leitura deste artigo já é possível perceber que a Parte Geral da Lei dos Crimes Ambientais, Lei 
nº 9.605/98, muitas vezes apenas repete a redação contida no Código Penal, ou no Código de Processo 
Penal, embora em outros trechos também crie institutos aplicáveis somente aos crimes ambientais. 
Portanto, nas partes em que remete a institutos preexistentes, a lei se preocupa em se apoiar em bases 
sólidas; já nas partes em que a lei traz novos institutos, notamos a aplicação do princípio da especialidade, 
conforme possibilidade contida no art. 12 do próprio Código Penal, em que graças a este princípio é 
possível a adaptação dos institutos penais aos objetivos da norma.
O caso descrito é justamente o que acontece em relação ao dispositivo previsto no artigo 2º desta lei, 
transcrito anteriormente, em que podemos perceber na primeira parte que houve apenas uma repetição 
da redação constante no artigo 29 do Código Penal, que prevê que: “Quem, de qualquer modo, concorre 
para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade”.
O que pode ser percebido é que, de outra forma, o artigo 2º da Lei de Crimes Ambientais, conforme 
anteriormente descrito, apenas buscou outra forma de tratar do concurso de agentes na conduta 
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criminosa, admitindo a coautoria e a participação, seja por ação ou omissão, de pessoas físicas e/ou 
jurídicas. Aliás, em se tratando de infrações ambientais, podemos dizer que o concurso de agentes é 
bastante comum, já que na maioria das vezes os delitos das pessoas jurídicas são perpetrados através de 
pessoas físicas, que de alguma forma estão interligadas.
Desta forma, vale a pena elucidar os requisitos capazes de configurar o concurso de pessoas, sendo 
eles: a) existência de dois ou mais agentes na conduta criminosa; b) nexo causal entre a lesão ao bem e 
a conduta do agente; c) vínculo psicológico entre os agentes (liame subjetivo); d) identidade de infração; 
e) existência de fato punível. A ausência de um dos requisitos leva à inexistência de concurso criminoso 
e à aplicação da pena a apenas um agente.
As coincidências em relação a outras previsões legais contidas no Código Penal não param por aí, 
pois na segunda parte do artigo 2º transcrito anteriormente também há ainda outra previsão similar, 
agora conforme a disposição do art. 13, § 2º, do Código Penal, em que consta o dever jurídico de 
agir atribuído para diretores, administradores, membros de conselhos e de órgãos técnicos, auditores, 
gerentes, prepostos ou mandatários de pessoa jurídica.
Nesse sentido, ambos os institutos colocam as pessoas citadas pela lei na posição de “garantidores” 
para que a conduta criminosa não seja realizada. Desta forma, podemos asseverar que o artigo 2º traz 
uma previsão especial de punição pela omissão que se tornapenalmente relevante, pois possibilita a 
punição de todas aquelas pessoas que passam a deixar de agir em concurso, o que ocorre no momento 
do comportamento omissivo de deixar de agir, quando deveria conter a conduta criminosa.
Para Fiorillo e Pegorari (2012), a previsão do artigo 2º trata-se, na verdade, do chamado crime 
omissivo impróprio, espúrio ou comissivo por omissão, isto é, aquele em que o tipo penal descreve uma 
ação, mas a inércia do agente, ou seja, quem podia e devia agir para evitar o seu resultado naturalístico, 
é que caracteriza a sua produção.
Nesse sentido, os autores lembram que deve existir uma relação de causalidade entre o fato atribuído 
e o agente criminoso, ou seja, ele deve ser beneficiado pela omissão detectada, bem como deve estar 
presente o binômio “dever/poder agir” para evitar o resultado, conforme prescrição legal. Assim, o poder 
de agir é a possibilidade real e efetiva de alguém, na situação concreta e em conformidade com as 
possibilidades de qualquer homem, evitar o resultado penalmente previsto como relevante.
5.1 Responsabilidade ambiental penal da pessoa jurídica
Conforme antecipado em vários trechos deste trabalho, outra característica que marca a 
popularmente chamada Lei dos Crimes Ambientais, Lei nº 9.605/98, é o tratamento especial que ela 
dispensa às pessoas jurídicas em relação à atribuição de responsabilidades no caso do seu envolvimento 
em crimes ambientais; essa previsão está inicialmente contida nos artigos 3º e 4º da referida lei, que 
assim dispõe:
Art. 3º. As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e 
penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja 
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cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu 
órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade.
Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das 
pessoas físicas, autoras, coautoras ou partícipes do mesmo fato.
Art. 4º. Poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua 
personalidade for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à 
qualidade do meio ambiente.
Interpretando a previsão legal anterior, temos que a responsabilidade penal indicada na Lei de 
Crimes Ambientais se dá em estrito atendimento à determinação constitucional do artigo 225, § 3º, da 
Constituição Federal.
Assim, nota-se que a responsabilidade atinge tanto as pessoas físicas como as pessoas 
jurídicas, expandindo a noção sobre quem pode ser sujeito ativo para os delitos ambientais. Afinal, 
convenhamos que, embora um dano ambiental possa ocorrer através da conduta ativa ou omissiva 
de um agente, pessoa física, muitas vezes ele agiu para atender a ordens ou interesses de pessoas 
jurídicas, portanto acertou a lei em buscar mecanismos com o intuito de inibir as más práticas 
ambientais das empresas.
Até por lidar com este novo contexto, podemos notar que a Lei nº 9.605/98 seguiu coerente a 
esta lógica de responsabilização das pessoas jurídicas, posto que os tipos penais constantes, ou seja, 
as condutas que podem ser consideradas criminosas pela lei, na maior parte dos dispositivos admite 
qualquer pessoa como sujeito ativo (são crimes comuns), tanto pessoa física como pessoa jurídica.
Ressalvamos, no entanto, que a única exceção à regra anterior notada está na seção que trata dos 
“crimes contra a administração ambiental”, que vem prevista nos artigos 66 e 67. O que tecnicamente 
não poderia ser diferente, uma vez que trata na verdade de crimes próprios, porque exige que o agente 
seja funcionário público como característica peculiar para o sujeito ativo da conduta criminosa.
Como toda tentativa de opor novidade ao sistema jurídico, devemos lembrar, no entanto, que as 
previsões constitucional e legal de atribuir responsabilidade penal à pessoa jurídica já foram objetos de 
diversas discussões entre estudiosos e operadores do Direito.
Os que argumentam contrariamente à possibilidade de a pessoa jurídica ser responsabilizada 
penalmente alegam que essas não seriam dotadas de imputabilidade penal, ou seja, por se tratar de 
uma abstração jurídica, seria impossível impor uma punição penal de reclusão ou detenção a este ser 
abstrato, vez que a empresa não age por si, mas através da vontade de seus administradores; assim, 
consideram que a pessoa jurídica deve submeter-se apenas às sanções administrativas e não penais.
No entanto, este posicionamento não tem sido muito bem-sucedido, principalmente porque 
quem advoga posicionamento contrário afirma que a possibilidade de responsabilização penal da 
pessoa jurídica deriva de previsão expressa e inquestionável decorrente do artigo 225, parágrafo 
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3º da Constituição Federal e, ainda que não se enquadre nos institutos clássicos do Direito Penal, 
desperta no legislador a necessidade de criar novos mecanismos jurídicos capazes de impor maior 
responsabilidade às pessoas jurídicas, dada a importância da proteção ambiental atribuída por nossa 
sociedade na modernidade.
Na prática, percebemos que a vontade do legislador, tanto constitucional como infraconstitucional, 
não é inviabilizar as atividades empresariais das pessoas jurídicas, até porque, se assim fosse, ele estaria 
agindo de forma contrária à lei que garante, como vimos, a proteção do valor social do trabalho e da 
livre-iniciativa; o que o legislador tem buscado é imputar maior responsabilidade à tomada de decisão 
das pessoas jurídicas, nem que para isso tenha de atribuir responsabilidade àquele indivíduo que agiu 
em seu nome.
Ao analisar a lei, notamos que, de forma sábia, o legislador dispôs sobre os institutos de forma que 
não configure problema a atribuição de culpabilidade ao infrator pelos atos criminosos, na medida em 
que o artigo 225 da Constituição Federal de 1988 deixa claro que, quando a conduta lesiva for praticada 
por decisão do(s) representante(s) legal(is) da empresa e em benefício dela, seus sócios, diretores e 
gerentes possuem, sim, culpa, de forma que se criou uma espécie de responsabilidade reflexa.
Assim sendo, inicialmente, deve ser verificada a culpabilidade no nível da pessoa física, ou seja, se 
a pessoa física que causou a lesão ao meio ambiente for sócia, gerente, diretora etc. de pessoa jurídica, 
ou ainda se restará detectado que ao final a pessoa jurídica foi beneficiada pela conduta daquele 
agente, resta também configurado que a culpabilidade deve ser atribuída à pessoa jurídica. Só após esta 
verificação inicial é que restará estabelecida a responsabilidade penal também da pessoa jurídica.
Através dessa lógica fica estabelecida o que para o Direito Penal é considerada a responsabilidade 
reflexa ou por ricochete, também chamada responsabilidade indireta ou de dupla imputação. Esse 
tipo de responsabilidade ganha este nome porque constitui alternativa apresentada para a aceitação 
da responsabilidade penal da pessoa jurídica, dentro do que se espera por uma chamada Teoria da 
Responsabilidade Social da empresa. Essa nova lógica, nascida da necessidade de adaptação do Direito 
Penal às novas necessidades supraindividuais, resolve o problema da culpabilidade no campo do juízo de 
reprovação social e criminal, pois, como veremos, para a punição da pessoa jurídica, não seria possível 
trabalhar com as tradicionais noções de culpabilidade, tipicidade e ilicitude, que se referem à conduta 
individual da pessoa humana.
Por isso, na nova Lei de Crimes Ambientais, a estrutura tradicional da teoria do delito foi preservada, 
ou seja, o legislador prevê e codifica condutas que devem ser consideradas criminosas, prescrevendoa punição destinada ao infrator; mas a responsabilidade recebeu ampliação conforme necessidade 
encontrada para alcançar a pessoa jurídica, atingindo a moral econômica e de mercado que a configura.
Isso porque a responsabilidade penal dos entes coletivos, pessoas jurídicas, não pode ser entendida 
como se faz nos casos da responsabilidade penal tradicional, pois, enquanto tradicionalmente a 
responsabilidade da pessoa física é baseada na culpa, na responsabilidade individual e subjetiva (ou seja, 
comprovada), a responsabilidade da pessoa jurídica, por ser uma abstração, deve ser entendida à luz de 
uma responsabilidade social do papel da empresa na sociedade.
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No mais, devemos considerar que em tese a pessoa jurídica deriva de uma composição administrativa 
gerencial, tomando suas atitudes através de seus órgãos, cujas ações e omissões se confundem e são 
consideradas como da própria pessoa jurídica.
Com as alterações políticas sugeridas pela Constituição Federal de 1988 para responsabilizar 
penalmente as pessoas jurídicas pelos danos ambientais, há uma autorização político-constitucional 
expressa para que os conceitos clássicos da Teoria do Crime sejam alterados nestas condições, nascendo 
dessa necessidade uma teoria, chamada de Teoria da Dupla Imputação, que tanto consiste na atuação 
da pessoa física que age em nome e no interesse da pessoa jurídica para cometer crimes, como se utiliza 
da personalidade e a da culpabilidade dos representantes das empresas e dos interesses da pessoa 
jurídica que, somados, preenchem de modo satisfatório todos os elementos do Delito.
 Lembrete
Quando uma pessoa jurídica estiver envolvida em crime ambiental, 
teremos na apuração e na responsabilização penal o concurso necessário 
entre pessoa física e pessoa jurídica, sendo esta a forma encontrada de 
fazer as teorias clássicas do Direito Penal atingirem também essa nova 
modalidade de crime.
Este raciocínio tem-se consolidado como unânime no pensamento da maior parte da doutrina 
construída ultimamente; além disso, os próprios tribunais estão consolidando esse posicionamento como 
o mais correto em se tratando da aplicação da responsabilidade penal às pessoas jurídicas, conforme 
levantamento realizado por Fiorillo e Pegorari (2012), que nos trazem a transcrição de alguns julgados 
nesse sentido, conforme transcrito a seguir:
Processual penal. Recurso Especial. Crimes contra o meio ambiente. Denúncia 
rejeitada pelo E. Tribunal a quo. Sistema ou teoria da dupla imputação. 
Admite-se a responsabilidade penal da pessoa jurídica em crimes ambientais 
desde que haja a imputação simultânea do ente moral e da pessoa física 
que atua em seu nome ou em seu benefício, uma vez que “não se pode 
compreender a responsabilização do ente moral dissociada da atuação de 
uma pessoa física, que age com elemento subjetivo próprio” (STJ, REsp n. 
889528 – SC, Rel. Min. FELIX FISCHER, 5ª Turma, DJ 17/04/2007).
Recurso ordinário em mandado de segurança – direito processual penal 
– crime ambiental – Responsabilização da pessoa jurídica – possibilidade – 
trancamento da ação penal – inépcia da denúncia – ocorrência. 1. Admitida 
a responsabilização penal da pessoa jurídica, por força de sua previsão 
constitucional, requisita a actiopenalis, para a possibilidade, a imputação 
simultânea da pessoa moral e da pessoa física que, mediata, ou imediatamente, 
no exercício de sua qualidade ou atribuição conferida pelo estatuto social 
pratique o fato-crime, atendendo-se, assim, ao princípio do nullum crimen 
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sine actio humana. 2. Excluída a imputação aos dirigentes responsáveis pelas 
condutas incriminadas, o trancamento da ação penal, relativamente à pessoa 
jurídica é de rigor. 3. Recurso provido. Ordem de habeas corpus concedida de 
ofício (RMS 16.696/PR – Relator Ministro Hamilton Carvalhido – DJ 13.03.06).
Superior Tribunal de Justiça – Processo REsp 564960/SC; Recurso Especial 
2003/0107368-4 – Relator(a) Ministro Gilson Dipp – Quinta Turma. Data 
do Julgamento 02/06/2005. Data da Publicação/Fonte DJ 13.06.2005, p. 
331, RDR, v. 34, p. 419. Criminal. Crime ambiental praticado por pessoa 
jurídica. Responsabilização penal do ente coletivo. Possibilidade. Previsão 
constitucional regulamentada por lei federal. Opção política do legislador. 
Forma de prevenção de danos ao meio ambiente. Capacidade de ação. 
Existência jurídica. Atuação dos administradores em nome e proveito da pessoa 
jurídica. Culpabilidade como responsabilidade social. Corresponsabilidade. 
Penas adaptadas à natureza jurídica do ente coletivo. Recurso provido. 
I. Hipótese em que pessoa jurídica de direito privado, juntamente com dois 
administradores, foi denunciada por crime ambiental, consubstanciado em 
causar poluição em leito de um rio, através de lançamento de resíduos, tais 
como graxas, óleo, lodo, areia e produtos químicos, resultantes da atividade 
do estabelecimento comercial. II. A Lei Ambiental, regulamentando preceito 
constitucional, passou a prever, de forma inequívoca, a possibilidade de 
penalização criminal das pessoas jurídicas por danos ao meio ambiente. 
III. A responsabilização penal da pessoa jurídica pela prática de delitos 
ambientais advém de uma escolha política, como forma não apenas de 
punição das condutas lesivas ao meio ambiente, mas como forma mesmo 
de prevenção geral e especial. IV. A imputação penal às pessoas jurídicas 
encontra barreiras na suposta incapacidade de praticarem uma ação de 
relevância penal, de serem culpáveis e de sofrerem penalidades. V. Se a 
pessoa jurídica tem existência própria no ordenamento jurídico e pratica 
atos no meio social através da atuação de seus administradores, poderá vir 
a praticar condutas típicas e, portanto, ser passível de responsabilização 
penal. VI. A culpabilidade, no conceito moderno, é a responsabilidade 
social, e a culpabilidade da pessoa jurídica, neste contexto, limita-se à 
vontade do seu administrador ao agir em seu nome e proveito. VII. A pessoa 
jurídica só pode[rá] ser responsabilizada quando houver intervenção 
de uma pessoa física, que atua em nome e em benefício do ente moral. 
VIII. De qualquer modo, a pessoa jurídica deve ser beneficiária direta ou 
indiretamente pela conduta praticada por decisão do seu representante 
legal ou contratual ou de seu órgão colegiado. IX. A atuação do colegiado 
em nome e proveito da pessoa jurídica é a própria vontade da empresa. A 
coparticipação prevê que todos os envolvidos no evento delituoso serão 
responsabilizados na medida de sua culpabilidade. X. A Lei Ambiental 
previu para as pessoas jurídicas penas autônomas de multas, de prestação 
de serviços à comunidade, restritivas de direitos, liquidação forçada e 
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desconsideração da pessoa jurídica, todas adaptadas à sua natureza 
jurídica. XI. Não há ofensa ao princípio constitucional de que “nenhuma 
pena passará da pessoa do condenado [...]”, pois é incontroversa a 
existência de duas pessoas distintas: uma física – que de qualquer forma 
contribui para a prática do delito – e uma jurídica, cada qual recebendo 
a punição de forma individualizada, decorrente de sua atividade lesiva. 
XII. A denúncia oferecida contra a pessoa jurídica de direito privado deve 
ser acolhida, diante de sua legitimidade para figurar no polo passivo da 
relação processual penal. XIII. Recurso provido, nos termos do voto do 
Relator (FIORILLO; PEGORARI, 2012, p. 34-42).
Pelos julgadoscolacionados anteriormente, não restam dúvidas de que os tribunais superiores estão 
se utilizando da mesma construção teórica prevista no artigo 3º, parágrafo único, da Lei de Crimes 
Ambientais, considerando para fins de atribuição de responsabilidade penal das pessoas jurídicas a 
aplicação do concurso de agentes, reconhecendo também por esta via a possibilidade de coautoria ou 
participação entre pessoas físicas e jurídicas, na realização de atos criminosos contra o meio ambiente.
Porém, devemos notar que a previsão legal não exige necessariamente o concurso, apenas faz 
referência à possibilidade de sua ocorrência, fixando inclusive a possibilidade da responsabilidade da 
pessoa física, apresentando, nesse sentido, sistemas paralelos de responsabilização, conforme também 
será verificado mais adiante.
Tecendo maiores considerações sobre a distinção existente entre a responsabilidade da pessoa jurídica 
e a pessoa física, devemos observar que a doutrina da responsabilidade penal por consequência não 
desconsidera a autonomia entre a pessoa física e a jurídica, ao contrário, admite inclusive a possibilidade 
de haver responsabilização de ambas as pessoas na realização das infrações. Ao menos é o que se pode 
verificar pela possibilidade de penalizá-las simultaneamente, conforme autoriza o art. 3º, parágrafo 
único, da Lei nº 9.605/98.
Depois, embora alguns autores possam apontar como inconstitucional a atribuição de 
responsabilidade por via reflexa, o que não é o entendimento dos tribunais conforme notado 
anteriormente, não se pode esquecer que ela deriva de uma norma constitucional originária, ou seja, 
a própria Lei de Crimes Ambientais, construída a partir da interpretação de dispositivo constitucional. 
Mesmo que levássemos em conta o princípio da unidade constitucional, a aplicação da norma, mesmo 
que destoante do sistema, deve ser feita pelo entendimento mínimo de uma exceção necessária, 
aplicável somente aos crimes ambientais.
Por estes argumentos não pode prosperar a afirmação de que a pessoa jurídica não possui 
culpabilidade, pois, embora esse elemento seja considerado fundamental para o Direito Penal em geral, 
para o Direito Ambiental ele parece crucial e elementar.
De fato, essa discussão em torno da responsabilidade penal da pessoa jurídica é algo crucial, 
tanto para a aplicação da norma penal ambiental na atualidade, como para a construção de novas 
possibilidades jurídicas de regulamentação da atividade empresarial e a atribuição de responsabilidades 
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pelo futuro do planeta. Por isso, tantas teorias e debates se fazem necessário; dentro dessa concepção, 
duas outras teorias ainda foram criadas: a primeira e a Teoria da Ficção, que remonta ao teórico von 
Savigny (séc. XVIII), segundo a qual a pessoa jurídica não seria dotada de capacidade de ação (consciência 
e vontade), característica inerente apenas à pessoa física, único sujeito ativo possível de delito; depois, 
contrariamente, a Teoria da Realidade, orgânica ou da personalidade real, concebida por Otto von Gierke, 
que atribui à pessoa jurídica autonomia, vontade e capacidade de ação.
Conforme visto, tanto a Lei nº 9.605/98 como a prática dos tribunais acabaram por consagrar a 
segunda teoria em detrimento da primeira, adotando como mais adequada a Teoria da Realidade 
para a proteção ambiental em relação às pessoas jurídicas na atualidade, adaptando-se aos preceitos 
constitucionais para atender à necessidade de prevenção e repressão de delitos que atingem bens 
jurídicos ambientais, sobretudo diante do incremento dos danos causados e dos crimes cometidos no 
âmbito das empresas.
Assim, a Lei nº 9.605/98 abandonou a chamada Teoria da Ficção, criada por von Savigny e 
tradicional em nosso sistema penal, segundo a qual as pessoas jurídicas são pura abstração, carecendo 
de vontade própria, consciência e finalidade, imprescindíveis para se ligarem ao fato típico, ou seja, 
prescrição legal, bem como de imputabilidade e capacidade para lhe ser atribuível qualquer culpa. 
Caiu, desta forma, a afirmativa de que as pessoas jurídicas são, por isso, incapazes de delinquir, 
sustentada na premissa de que faltam aos entes coletivos capacidade de ação no sentido estrito 
do Direito Penal (consciência e vontade), capacidade de culpabilidade (imputabilidade, potencial 
consciência da ilicitude e exigibilidade de conduta diversa), além da capacidade de pena (princípio da 
personalidade da pena – a pena deve recair sobre o autor do delito, e não sobre todos os membros da 
corporação, bem como tem por escopo a ideia de retribuição, intimidação e reeducação). Agora todas 
essas limitações teóricas se encontram superadas.
Outros argumentos que sempre são utilizados para deslegitimar a responsabilidade penal da pessoa 
jurídica se relacionam à impossibilidade de se impor pena privativa de liberdade às pessoas jurídicas, 
característica marcante do Direito Penal, que de fato não é aplicável à pessoa jurídica, fator que segundo 
alguns autores descaracterizaria a tutela penal.
Porém, independentemente da veracidade das alegações, o que importa de fato é que o Código 
Penal prevê alternativas a esta alegação, listando outras espécies de penas, conforme pode ser verificado 
da leitura do artigo 32 do Código Penal, que assim dispõe sobre a possibilidade de penas privativas 
de liberdade, restritivas de direitos, além da pena de multa. Portanto, levando ainda em consideração 
que a Constituição Federal estabelece as espécies de penas aplicáveis e em nenhum momento limita 
a aplicação da responsabilidade penal à imposição de pena privativa de liberdade, devemos considerar 
que as pessoas jurídicas podem ser responsabilizadas pelas demais possibilidades de pena, cumprindo 
por outra via a vontade do legislador em punir pessoas jurídicas infratoras dos tipos penais ambientais.
A previsão de penas alternativas, como aplicação de multa ou de prestação social, dentre outras 
possibilidades, encontra guarida na permissão constitucional contida no artigo 5º, inciso XLVI da 
Constituição Federal, que assim dispõe:
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XLVI – a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as 
seguintes:
a) privação ou restrição da liberdade;
b) perda de bens;
c) multa;
d) prestação social alternativa;
e) suspensão ou interdição de direitos.
Assim, a lei que disciplina os crimes ambientais, pautada pela permissão constitucional citada 
anteriormente, estabeleceu no artigo 21 que as sanções próprias aplicáveis às pessoas jurídicas, em 
atendimento às suas peculiaridades, poderiam ser outras que não as de privação ou restrição da 
liberdade, até pela impossibilidade de aplicação do instituto jurídico, conforme antes explicado, passando 
a discipliná-las da seguinte maneira:
Art. 21. As penas aplicáveis isolada, cumulativa ou alternativamente às 
pessoas jurídicas, de acordo com o disposto no art. 3º, são:
I – multa;
II – restritivas de direitos;
III – prestação de serviços à comunidade.
Outro método punitivo para pessoas jurídicas que merece destaque na Lei de Crimes Ambientais é a 
previsão contida no artigo 10 da referida lei, que busca a punição através da limitação das possibilidades 
de negócio da pessoa jurídica. Essa limitação reside na interdição temporária de direitos até a proibição 
de contratar com o Poder Público, de receber incentivos fiscais ou de receber quaisquer outros benefícios 
públicos, bem como de participar de licitações, pelo prazo de cinco anos, no caso de crimes dolosos, ou 
seja, em que restou configurada a vontade da empresa de cometer o crime, e de três anos, no decrimes 
culposos, em que não houve a intenção da empresa de cometê-lo. Talvez esse instrumento punitivo seja 
a previsão mais eficaz e atemorizante que leve a uma maior responsabilidade ambiental pelas grandes 
empresas que desejam negociar com o Estado.
Finalmente, há quem argumente contrariamente à atribuição de responsabilidade da empresa, 
alegando que os sócios que não têm direito a voto ou veto podem ser atingidos pela responsabilidade 
penal mesmo que não tenham participado da decisão que levou ao cometimento do crime ambiental. 
Nesse sentido, a aplicação da pena, para estes teóricos, se afiguraria como violadora do princípio da 
intranscendência, extrapolando os limites de que cometeu a infração e atingindo pessoa alheia a ele, no 
caso, o sócio sem poderes de voto e de veto.
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A posição teórica contrária a estes argumento sustenta que este motivo não é suficiente para se 
deixar de atribuir a responsabilidade penal a empresas e pessoas jurídicas, pois em contraposição alega 
que, também quando a pessoa física é punida penalmente, outras pessoas não diretamente ligadas à 
infração penal acabam sendo indiretamente atingidas; exemplo disso pode ser verificado na família de 
um condenado preso, que da mesma forma acaba privada do contato familiar diário e, até mesmo, da 
participação da renda daquele que foi condenado.
No entanto, mesmo diante de mais este argumento contra essa opção político-constitucional de 
inclusão da responsabilidade penal da pessoa jurídica em danos ambientais, a jurisprudência nacional 
tem consolidado essa nova possibilidade, conforme pode ser verificado nos julgados colacionados:
A 5ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, em 2 de junho de 2005, condenou 
uma pessoa jurídica de direito privado em razão de ter praticado crime 
ambiental ao causar poluição em leito de um rio por meio de lançamento 
de resíduos de graxas, óleo, produtos químicos, areia e lodo resultante da 
atividade do estabelecimento comercial, conforme prevê o artigo 54, § 2º, 
V, e artigo 60 da Lei nº 9.605/98 (STJ, REsp 564.960-SC, 2003/0107368-4, 
Rel. Min. Gilson Dipp, julgado em 02/6/2005, DJ 13.06.2005, p. 331). O 
Ministro Relator Gilson Dipp ressaltou que “a decisão atende a um antigo 
reclamo de toda a sociedade contra privilégios inaceitáveis de empresas 
que degradam o meio ambiente [...]. A Constituição Federal de 1988, 
consolidando uma tendência mundial de atribuir maior atenção aos 
interesses difusos, conferiu especial relevo à questão ambiental [...]”. Em 
sentido contrário: STJ, REsp 622.724-SC, Rel. Min. Felix Fischer, j. 18/11/04 
(FIORILLO; PEGORARI, 2012, p. 42).
Dados os cuidados tomados tanto pelo legislador constitucional como pelo legislador 
infraconstitucional, nos parece que a questão principal hoje não mais se relaciona à atribuição ou 
não da responsabilidade à pessoa jurídica, o que até pelos julgamentos das cortes nacionais parece 
estar pacificado.
Até porque a previsão, para que a responsabilidade penal seja atribuída também pela lei 
infraconstitucional, é algo que deriva de previsão expressa da própria Constituição Federal que legitima 
e valida o que dispõe a Lei de Crimes Ambientais, por exemplo.
Hoje, porém, o maior desafio da discussão que cerca os delitos ambientais e a atuação das pessoas 
jurídicas deve ocorrer diante de eventuais lacunas legislativas, ou seja, de possíveis condutas prejudiciais 
ao meio ambiente e que ainda não foram objeto de previsões punitivas pela legislação.
Da mesma forma, outras preocupações devem ocorrer diante da necessidade de se criar mecanismos 
que garantam a efetiva viabilização da aplicação de sanções penais às empresas, o que, por um lado, 
reduziria a sensação de impunidade e, por outro, colocaria maior seriedade na gestão administrativa das 
empresas diante do desafio ambiental que se apresenta.
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Nesse sentido, o critério da aplicabilidade prática e da efetividade dos dispositivos legais que preveem 
as punições para lesões ou ameaças de lesões aos bens ambientais se tornará cada vez mais algo exigível, 
até porque é exponencial o desenvolvimento econômico e tecnológico das empresas, o que impõe cada 
vez mais e com mais velocidade o incremento de formas cada vez mais significativas da devastação 
ambiental; sem dúvida, para o Direito, criar condições de responder à altura e com velocidade aos 
desafios que as tecnologias de exploração impõem é uma aspiração constante.
Esperamos até aqui ter dirimido quaisquer dúvidas que possam pairar sobre a possibilidade de atribuir 
responsabilidade penal à pessoa jurídica pelas condutas lesivas praticadas contra o meio ambiente; essa 
não é só uma expectativa: trata-se de um clamor popular da modernidade.
Sendo assim, o legislador foi corajoso ao permitir a punição dessas empresas, por atender à tendência 
mundial de responsabilização; porque boa parte dos delitos ambientais é praticada por pessoas jurídicas, 
públicas ou privadas, ou ainda em benefício destas; ou por se alinhar às necessidades de proteção 
trazidas pela globalização e sua influência no desenvolvimento econômico e tecnológico na chamada 
sociedade da informação e/ou sociedade de risco.
5.2 Desconsideração da personalidade jurídica
Conforme visto anteriormente, o artigo 2º da Lei de Crimes Ambientais, baseado em permissão 
constitucional, pode atribuir ao diretor, ao administrador, ao membro de conselho e de órgão técnico, 
ao auditor, ao gerente, ao preposto ou ao mandatário de pessoa jurídica a responsabilidade por crimes 
ambientais, desde que estas pessoas saibam da conduta criminosa da pessoa jurídica ou de outrem e 
deixem de impedir a sua prática, quando podiam agir para evitá-la.
Devemos notar que a condenação como responsável penal pelo dano não exime da responsabilidade 
por reparar o dano causado. Mas nem sempre a atuação dos órgãos da pessoa jurídica assume esse 
dever, podendo esse ônus até ser objeto de conflitos internos na estrutura administrativa da pessoa 
jurídica condenada e entre os seus membros mencionados no artigo 2ª da legislação.
Antevendo possíveis conflitos que pudessem impedir ou dificultar a reparação do dano pela 
pessoa jurídica, o legislador infraconstitucional decidiu se antecipar e incluir no artigo 4º da Lei de 
Crimes Ambientais a Teoria da Desconsideração da Personalidade Jurídica, evitando, com isso, eventual 
frustração ao ressarcimento de prejuízos causados ao meio ambiente.
Conforme nos explica Andreucci (2009), a Lei de Crimes Ambientais se antecipou, se apropriando de 
uma discussão que já havia sido iniciada sobre a responsabilidade das pessoas jurídicas ao longo do tempo. 
Vejam: em outros tempos, a sociedade pregava o fortalecimento indiscriminado e a qualquer custo das 
atividades empresariais, porque era essa a lógica do progresso pautada pelo crescimento ilimitado.
Sob esta ótica, foram sendo criados mecanismos jurídicos, cada vez mais eficazes, que objetivavam 
a proteção da autonomia patrimonial da pessoa jurídica, assegurando cada vez mais uma distinção 
total entre as atividades empresariais e a vida econômica de seus integrantes. Esse tipo de segurança 
jurídica aos donos dos meios de produção visava incentivar a iniciativa privada, que, por meio das 
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Unidade III
atividades econômicas, deveria promover o desenvolvimento da economia, reduzindo a necessidade de 
intervenção estatal.
Em tese, assegurar a autonomia das empresas era quase o mesmo que proteger a pessoa e o 
patrimônio

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