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Biodireito: Reflexões sobre Ética e Direito na Biotecnologia

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Prévia do material em texto

2018
Biodireito
Profª Georgia Fontoura
Profª Liliani Carolini Thiesen
Copyright © UNIASSELVI 2018
Elaboração:
Profª Georgia Fontoura
Profª Liliani Carolini Thiesen
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
 
340.0202
F677b Fontoura, Georgia
Biodireito / Georgia Fontoura; Liliani Carolini Thiesen. 
Indaial: UNIASSELVI, 2018.
 187 p. : il.
ISBN 978-85-515-0142-9
1. Direito Público e Privado.
I. Centro Universitário Leonardo da Vinci
 
III
ApresentAção
Caro acadêmico, vivemos em tempos de rápidas e profundas 
transformações geradas pelas inovações tecnocientíficas, que tem colocado a 
humanidade frente a inúmeros dilemas éticos e jurídicos. 
Você já parou para pensar sobre o impacto da biotecnologia em nossas 
vidas? De que forma as relações e a vida em nosso entorno se modificaram 
com o avanço tecnológico e científico? Quais os parâmetros éticos e jurídicos 
mínimos para a conduta humana frente às inovações tecnológicas? Em que 
medida devemos prosseguir com este progresso científico sem conhecer os 
possíveis impactos para o ecossistema e as gerações futuras? Os benefícios 
oriundos desse avanço científico são igualmente distribuídos?
Bem, estas são algumas questões que iremos aprofundar e refletir 
juntos neste Livro de Estudos. 
Na Unidade 1, iremos compreender a origem da Bioética, o processo 
histórico do desenvolvimento deste conceito no mundo científico e acadêmico, 
sua interface com o Biodireito e os Direitos Humanos, bem como os desafios 
interpostos pela biotecnologia nos dias atuais.
A Unidade 2 trará informações acerca da evolução da pesquisa em seres 
humanos e seus princípios ético-jurídicos, iremos conhecer o projeto genoma 
humano, que é um dos maiores e mais ambiciosos projetos científicos de todos 
os tempos, vamos explorar o mundo da engenharia genética e biotecnologia, que 
com suas extraordinárias descobertas biotecnológicas trouxeram a clonagem 
humana e os organismos geneticamente modificados, além de conhecer a 
legislação sobre os dados genéticos humanos e aspectos bioéticos. 
Já a Unidade 3 abordará temas referentes ao ciclo da vida humana, 
começando com a reprodução humana assistida e a esterilização humana 
artificial, teremos um vislumbre do mercado de tráfico de órgãos, o funcionamento 
do transplante de órgãos no Brasil e sua legislação, os conceitos de eutanásia, 
distanásia e ortotanásia e o posicionamento do direito brasileiro sobre esse tema. 
Por fim, conheceremos a terapia com células-tronco, seu conceito, seu histórico, 
aspectos bioéticos e os aspectos legais da utilização de células-tronco. 
 
Está será uma longa jornada de reflexões e aprendizagens sobre temas 
polêmicos e contemporâneos, fomentadores de debates éticos e questionamentos 
jurídicos. Portanto, à medida que avançar em seus estudos, você poderá constatar 
que são de suma importância para sua carreira profissional e humana.
Desejamos a você uma ótima leitura! 
Bons estudos!
Profª Georgia Fontoura
Profª Liliani Carolini Thiesen
IV
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto 
para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
V
VI
VII
UNIDADE 1 - BIOÉTICA, BIODIREITO E BIOTECNOLOGIA .................................................1
TÓPICO 1 - BIOÉTICA E O NASCIMENTO DO BIODIREITO:
EVOLUÇÃO, CONCEITO E PRINCÍPIOS .......................................................................................3
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................3
2 BIOÉTICA ............................................................................................................................................3
2.1 ORIGEM .........................................................................................................................................4
2.2 CONCEITO .....................................................................................................................................9
2.3 PRINCÍPIOS ...................................................................................................................................11
2.4 CLASSIFICAÇÃO ..........................................................................................................................13
3 BIODIREITO ......................................................................................................................................14
3.1 CONCEITO .....................................................................................................................................14
3.2 PRINCÍPIOS ...................................................................................................................................16
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................20
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................21
TÓPICO 2 - BIOÉTICA À LUZ DOS DIREITOS HUMANOS ....................................................23
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................23
2 DIREITOS HUMANOS E ASPECTOS BIOÉTICOS ...................................................................23
2.1 CONCEITO E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS HUMANOS .............................24
2.2 DECLARAÇÃO UNIVERSAL SOBRE BIOÉTICA E DIREITOS HUMANOS .....................30
3 PRINCÍPIO DA DIGNIDADE HUMANA COMO FUNDAMENTO
 DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO ............................................................................31
4 BIOÉTICA E O DIREITO DE PERSONALIDADE ......................................................................33
4.1 DIREITO À VIDA ..........................................................................................................................35
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................38
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................44
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................45TÓPICO 3 - BIODIREITO E BIOTECNOLOGIA ...........................................................................47
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................47
2 BIOTECNOLOGIA .............................................................................................................................47
2.1 ATIVIDADES BIOTECNOLÓGICAS ..........................................................................................48
2.2 REGULAÇÃO LEGAL DA BIOTECNOLOGIA ........................................................................49
2.3 IMPACTOS DA BIOTECNOLOGIA ...........................................................................................50
3 BIOTECNOLOGIA, BIOSSEGURANÇA E BIODIREITO
 EM ÂMBITO NACIONAL E INTERNACIONAL .......................................................................52
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................55
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................58
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................59
UNIDADE 2 - BIODIREITO E EXPERIMENTAÇÕES CIENTÍFICAS
EM SERES HUMANOS E ANIMAIS ................................................................................................61
TÓPICO 1 - PESQUISA COM SERES HUMANOS E
ASPECTOS ÉTICO-JURÍDICOS ........................................................................................................63
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................63
sumário
VIII
2 PESQUISA COM SERES HUMANOS ...........................................................................................63
2.1 HISTÓRICO ....................................................................................................................................64
2.2 PRINCÍPIOS ÉTICO-JURÍDICOS ................................................................................................69
2.3 ASPECTOS LEGAIS NO ÂMBITO NACIONAL E INTERNACIONAL ...............................71
2.4 RESPONSABILIDADE CIVIL EM FACE DAS PESQUISAS EM SERES HUMANOS: 
EFEITOS DO CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ................................................74
3 MÉTODOS ALTERNATIVOS ..........................................................................................................74
4 COMITÊS DE ÉTICA EM PESQUISA ............................................................................................75
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................77
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................78
TÓPICO 2 - ENGENHARIA GENÉTICA E PESQUISAS COM GENOMA HUMANO .........79
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................79
2 ENGENHARIA GENÉTICA E BIOTECNOLOGIA .....................................................................79
3 PROJETO GENOMA HUMANO ....................................................................................................83
3.1 HISTÓRICO ....................................................................................................................................85
3.2 LEGISLAÇÃO SOBRE OS DADOS GENÉTICOS HUMANOS ..............................................86
4 MANIPULAÇÃO GENÉTICA E SEUS LIMITES: IMPACTOS ÉTICO-JURÍDICOS ..........91
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................94
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................95
TÓPICO 3 - CLONAGEM E BIODIREITO ......................................................................................97
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................97
2 CLONAGEM HUMANA ...................................................................................................................97
2.1 CONCEITO .....................................................................................................................................100
2.2 HISTÓRICO ....................................................................................................................................101
3 CLONAGEM REPRODUTIVA E TERAPÊUTICA .......................................................................102
4 ASPECTOS ÉTICO-JURÍDICOS ....................................................................................................104
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................108
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................109
TÓPICO 4 - ORGANISMOS GENETICAMENTE MODIFICADOS:
A QUESTÃO DOS ALIMENTOS TRANSGÊNICOS ....................................................................111
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................111
2 ALIMENTOS TRANSGÊNICOS .....................................................................................................111
2.1 CONCEITO .....................................................................................................................................112
2.2 HISTÓRICO ....................................................................................................................................113
2.3 IMPACTOS, RISCOS E BIOSSEGURANÇA .............................................................................115
3 ALIMENTOS TRANSGÊNICOS NO BRASIL .............................................................................118
3.1 EVOLUÇÃO ..................................................................................................................................118
3.2 PERSPECTIVA ................................................................................................................................121
4 DEBATES ATUAIS SOBRE A SEGURANÇA DOS ALIMENTOS
 TRANSGÊNICOS E O DIREITO DOS CONSUMIDORES ......................................................121
4.1 ROTULAGEM ................................................................................................................................121
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................123
RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................124
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................125
UNIDADE 3 - BIODIREITO E O DIREITO À VIDA: NOVAS TÉCNICAS
CIENTÍFICAS E IMPACTOS ÉTICO-JURÍDICOS ........................................................................127
TÓPICO 1 - REPRODUÇÃO HUMANA ASSISTIDA E SUAS
CONSEQUÊNCIAS ÉTICO-JURÍDICAS .........................................................................................129
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................129
IX
2 REPRODUÇÃO HUMANA ASSISTIDA ......................................................................................1292.1 CONCEITO .....................................................................................................................................129
2.2 HISTÓRICO ...................................................................................................................................131
2.3 EVOLUÇÃO NO BRASIL .............................................................................................................133
3 ASPECTOS BIOÉTICOS DA REPRODUÇÃO HUMANA ASSISTIDA ................................134
4 ESTERILIZAÇÃO HUMANA ARTIFICIAL .................................................................................137
4.1 TIPOS DE ESTERILIZAÇÃO .......................................................................................................137
4.2 QUESTÃO DA PATERNIDADE ..................................................................................................139
5 PERSPECTIVAS E DEBATES ATUAIS SOBRE REPRODUÇÃO
 HUMANA ASSISTIDA .....................................................................................................................141
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................142
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................144
TÓPICO 2 - BIODIREITO E OS TRANSPLANTES DE ÓRGÃOS E TECIDOS ......................145
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................145
2 TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS E TECIDOS.................................................................................145
2.1 ESPÉCIES DE TRANSPLANTE ...................................................................................................146
2.2 PRESERVAÇÃO DE ÓRGÃOS PARA TRANSPLANTE .........................................................147
3 ASPECTOS BIOÉTICOS E LEGAIS DO TRANSPLANTE
 DE ÓRGÃOS E TECIDOS ................................................................................................................148
3.1 MERCADO DE ÓRGÃOS E TECIDOS HUMANOS ................................................................150
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................152
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................153
TÓPICO 3 - EUTANÁSIA E DIREITO À MORTE DIGNA ..........................................................155
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................155
2 EUTANÁSIA ........................................................................................................................................155
2.1 CONCEITO .....................................................................................................................................156
2.2 HISTÓRICO ....................................................................................................................................157
2.3 EUTANÁSIA E O CÓDIGO PENAL ...........................................................................................158
3 BIOÉTICA DA EUTANÁSIA ...........................................................................................................159
3.1 ARGUMENTOS ÉTICOS DA EUTANÁSIA ..............................................................................160
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................162
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................163
TÓPICO 4 - ASPECTOS BIOÉTICOS DA TERAPIA COM CÉLULAS-TRONCO ..................165
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................165
2 TERAPIA COM CÉLULAS-TRONCO ............................................................................................165
2.1 CONCEITO .....................................................................................................................................165
2.2 HISTÓRICO ....................................................................................................................................167
3 ASPECTOS BIOÉTICOS DA TERAPIA GÊNICA DE CÉLULAS GERMINATIVAS ..........168
3.1 EXPERIMENTAÇÃO COM CÉLULAS-TRONCO EMBRIONÁRIAS ...................................169
3.2 ASPECTOS LEGAIS DA UTILIZAÇÃO DE CÉLULAS-TRONCO ........................................170
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................171
RESUMO DO TÓPICO 4......................................................................................................................173
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................174
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................175
X
1
UNIDADE 1
BIOÉTICA, BIODIREITO E 
BIOTECNOLOGIA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade tem por objetivos:
• compreender o que é Bioética, Biodireito e Biotecnologia;
• identificar os princípios que envolvem a Bioética e o Biodireito;
• estabelecer a interface entre a Bioética e o Direito;
• estimular a reflexão de padrões éticos e potencializar a visão humanística 
acerca do Direito;
• refletir acerca dos benefícios, impactos e riscos da biotecnologia e biomedicina;
• apresentar a evolução do conceito de direitos humanos, sua relação e im-
portância para os debates bioéticos.
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você 
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO 1 – BIOÉTICA E O NASCIMENTO DO BIODIREITO: EVOLUÇÃO, 
CONCEITO E PRINCÍPIOS
TÓPICO 2 – BIOÉTICA À LUZ DOS DIREITOS HUMANOS
TÓPICO 3 – BIODIREITO E BIOTECNOLOGIA
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
BIOÉTICA E O NASCIMENTO 
DO BIODIREITO: EVOLUÇÃO, 
CONCEITO E PRINCÍPIOS
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, seja bem-vindo a esta caminhada para estudar 
e compreender os principais temas que envolvem os debates bioéticos, o 
desenvolvimento do Biodireito face às relações advindas das descobertas 
científicas e biotecnológicas, bem como os dilemas contemporâneos acerca dos 
impactos e riscos do desenvolvimento tecnológico para a humanidade. 
O conhecimento determina o modo de pensar, agir e intervir na vida, 
com consequências para os seres humanos e todo ecossistema. Cada vez mais 
os avanços da ciência têm afetado as relações e a vida dos seres humanos e das 
outras espécies, produzindo novas realidades que permitiram a interferência na 
natureza e no próprio indivíduo.
Como você pode perceber, a Bioética e o Biodireito estudam e debatem 
temas polêmicos e contemporâneos que envolvem a vida e a tecnologia. Você 
já parou para pensar quais seriam os limites éticos que envolvem a manutenção 
da vida? Qual o impacto que a tecnologia tem em sua vida? Ou a rapidez das 
transformações que tivemos em nossa sociedade no último século devido ao 
avanço científico? 
Afinal, o que é bioética? O que é e para que serve o biodireito? E quais as 
relações entre ambos? Estes são justamente alguns dos pontos que estudaremos 
nesta unidade. A partir do próximo tópico você poderá se aprofundar sobre a 
origem, definições e princípios bioéticos, bem como o impacto nas relações 
humanas e seus decorrentes conflitosjurídicos na sociedade hodierna. 
Estão preparados para desbravar e refletir? Então, vamos aos estudos! 
2 BIOÉTICA
 
O desenvolvimento das ciências biomédicas, da engenharia genética e 
da biotecnologia provocou uma série de mudanças nas perspectivas da vida. 
Neste sentido, compreende-se que, na medida em que essas tecnologias vêm 
avançando, os paradigmas em torno da ética na vida humana, bem como os riscos 
ao ecossistema, são questões fundamentais a serem refletidas atualmente.
UNIDADE 1 | BIOÉTICA, BIODIREITO E BIOTECNOLOGIA
4
2.1 ORIGEM 
A bioética, enquanto ciência, tem sua origem em meio às profundas 
mudanças sociais, políticas e culturais ocorridas principalmente após a Segunda 
Guerra Mundial (1939-1945). O desenvolvimento científico e tecnológico, por um 
lado, provocou imensos progressos para a época, e por outro, abusos e ações 
cruéis, especialmente nas pesquisas envolvendo seres humanos.
Durante a vigência do nazismo, o ordenamento jurídico alemão legitimava 
uma política racista pautada nos princípios da eugenia. Dentre os experimentos 
realizados nos campos de concentração podem-se citar: o congelamento humano, 
para simular as condições de batalha do exército alemão no leste da Europa; 
infecção com malária, para teste de medicamentos para imunização da doença; 
exposição ao gás mostarda, para testes de tratamentos das feridas causadas 
pelo gás; infecção com bactérias que provocavam o tétano, para investigar a 
eficácia da sulfonamida – um agente antimicrobiano sintético –; testes dos limites 
fisiológicos do consumo de água do mar; exposição à radiação, como método 
para esterilização; experimentos com crianças com objetivo de torná-las mais 
fortes e com traços mais próximos ao padrão ariano.
 
Deste modo, em decorrência de tamanhas atrocidades que aconteceram 
durante a Segunda Guerra Mundial, foi constituído o Tribunal Militar Internacional 
de Nuremberg para julgamento de dirigentes nazistas. Em 19 de agosto de 1947 
foram divulgadas as sentenças das 24 pessoas acusadas, sendo 20 médicos, e um 
outro documento, que ficou conhecido como Código de Nuremberg.
FIGURA 1 – JULGAMENTO DE NUREMBERG
FONTE: Disponível em: <https://www.ushmm.org/learn/timeline-of-events/1942-1945/
international-military-tribunal>. Acesso em: 25 out. 2017.
TÓPICO 1 | BIOÉTICA E O NASCIMENTO DO BIODIREITO: EVOLUÇÃO, CONCEITO E PRINCÍPIOS
5
DICAS
Se você quiser conhecer mais sobre o Tribunal de 
Nuremberg, assista ao filme “O Julgamento de Nuremberg”, que retrata 
um dos acontecimentos mais emblemáticos da história, em 1947, na 
Alemanha. Nesse julgamento, alguns líderes nazistas reconhecem seus 
atos e pedem desculpas à humanidade, outros afirmam que estavam 
apenas cumprindo ordens legais, culminando em um marco histórico 
na crítica ao positivismo jurídico.
FONTE: Disponível em: <https://culturaeviagem.wordpress.com/2014/04/02/o-
-filme-o-julgamento-de-nuremberg-aula-de-historia-direito-e-filosofia-para-
-a-humanidade-refletir/>. Acesso em: 25 out. 2017.
O Código de Nuremberg é considerado um marco histórico para a bioética, 
pois pela primeira vez um documento internacional estabelecia parâmetros 
éticos, recomendados internacionalmente, a serem observados nas pesquisas que 
envolvam seres humanos. Esse Código estabeleceu as bases do consentimento 
informado e alguns princípios basilares que devem ser assegurados:
1. O consentimento voluntário do ser humano é absolutamente 
essencial. Isso significa que as pessoas que serão submetidas ao 
experimento devem ser legalmente capazes de dar consentimento; 
essas pessoas devem exercer o livre direito de escolha sem qualquer 
intervenção de elementos de força, fraude, mentira, coação, astúcia 
ou outra forma de restrição posterior; devem ter conhecimento 
suficiente do assunto em estudo para tomarem uma decisão. Esse 
último aspecto exige que sejam explicados às pessoas a natureza, a 
duração e o propósito do experimento; os métodos segundo os quais 
será conduzido; as inconveniências e os riscos esperados; os efeitos 
sobre a saúde ou sobre a pessoa do participante, que eventualmente 
possam ocorrer, devido à sua participação no experimento. O dever 
e a responsabilidade de garantir a qualidade do consentimento 
repousam sobre o pesquisador que inicia ou dirige um experimento 
ou se compromete nele. São deveres e responsabilidades pessoais que 
não podem ser delegados a outrem impunemente. 
2. O experimento deve ser tal que produza resultados vantajosos 
para a sociedade, que não possam ser buscados por outros métodos 
de estudo, mas não podem ser feitos de maneira casuística ou 
desnecessariamente. 
3. O experimento deve ser baseado em resultados de experimentação 
em animais e no conhecimento da evolução da doença ou outros 
problemas em estudo; dessa maneira, os resultados já conhecidos 
justificam a condição do experimento. 
4. O experimento deve ser conduzido de maneira a evitar todo 
sofrimento e danos desnecessários, quer físicos, quer materiais. 
5. Não deve ser conduzido qualquer experimento quando existirem 
razões para acreditar que pode ocorrer morte ou invalidez permanente; 
exceto, talvez, quando o próprio médico pesquisador se submeter ao 
experimento. 
6. O grau de risco aceitável deve ser limitado pela importância do 
problema que o pesquisador se propõe a resolver. 
UNIDADE 1 | BIOÉTICA, BIODIREITO E BIOTECNOLOGIA
6
7. Devem ser tomados cuidados especiais para proteger o participante 
do experimento de qualquer possibilidade de dano, invalidez ou 
morte, mesmo que remota. 
8. O experimento deve ser conduzido apenas por pessoas 
cientificamente qualificadas. 
9. O participante do experimento deve ter a liberdade de se retirar no 
decorrer do experimento. 
10. O pesquisador deve estar preparado para suspender os 
procedimentos experimentais em qualquer estágio, se ele tiver 
motivos razoáveis para acreditar que a continuação do experimento 
provavelmente causará dano, invalidez ou morte para os participantes 
(CÓDIGO DE NUREMBERG, 1949, p. 181-182).
Diante desses acontecimentos, a compreensão de que a relação médico-
paciente sempre será benevolente e de que a ciência sempre estará atuando 
em prol da humanidade foi colocada sob questionamento. Para Lopes (2014), o 
Julgamento de Nuremberg abala dois grandes paradigmas: o do paternalismo 
médico e o da suposta neutralidade científica.
Segundo Pessini e Garrafa (2013), as raízes do neologismo “bioética” 
acontecem em dois momentos distintos. Até pouco tempo, o bioquímico Van 
Rensselaer Potter era reconhecido como a primeira pessoa a utilizar o neologismo 
“bioethics”. Contudo, pesquisas recentes descobrem que, em 1927, o teólogo alemão 
Paul Max Fritz Jahr publicou o artigo “Bioética: uma revisão do relacionamento 
ético dos humanos em relação aos animais e plantas" na Revista Kosmos.
Até pouco tempo, a divulgação do termo bioética foi atribuída a Van 
Rensselaer Potter através do artigo “Bioética: Ciência da Sobrevivência” (1970), 
que posteriormente compõe um capítulo de seu livro “Bioética: Ponte entre a 
ciências e as humanidades” (1971).
FIGURA 2 – VAN RENSSELAER POTTER E SUA OBRA “BIOETHICS: BRIGET TO THE FUTURE”
FONTE: Disponível em: <https://alchetron.com/Van-Rensselaer-Potter>. Acesso em: 7 ago. 2017.
TÓPICO 1 | BIOÉTICA E O NASCIMENTO DO BIODIREITO: EVOLUÇÃO, CONCEITO E PRINCÍPIOS
7
FIGURA 3 – EDIÇÃO DA REVISTA KOSMOS EM QUE FOI 
PUBLICADO ARTIGO SOBRE BIOÉTICA DE FRITZ JAHR
FONTE: Disponível em: <https://bioamigo.com.br/category/histo 
ria-da-medicina/>. Acesso em: 9 ago. 2017.
Potter justificou que a escolha do termo radical bios (vida) se refere aos seres 
vivos e às ciências biológicas, e ethos (ética) se refere ao conjunto de valores humanos. 
Em sua obra, caracterizou a bioética como uma ponte, estabelecendo uma interface 
entre as ciências e a humanidade que garantiriaa possibilidade do futuro, considerando 
a Bioética como uma “ciência da sobrevivência”. Para ele, a participação do homem 
na evolução biológica poderia garantir sua sobrevivência na Terra. “Eu proponho o 
termo Bioética como forma de enfatizar os dois componentes mais importantes para 
se atingir uma nova sabedoria, que é tão desesperadamente necessária: conhecimento 
biológico e valores humanos” (POTTER, 1971, p. 2). 
No final da década de 1980, Potter ampliou o conceito da bioética ponte, 
enfatizando sua característica interdisciplinar e mais abrangente, denominando-a de 
global. Uma ética global para preservar a sobrevivência humana, de modo a relacionar 
todos os aspectos do viver, envolvendo a saúde e a questão ecológica. Posteriormente, 
em 1998, Potter expõe a ideia de bioética profunda, a qual compreende o planeta como 
um grande sistema biológico entrelaçado e interdependente, em que o centro não é o 
ser humano, mas a própria vida (PESSINI; GARRAFA, 2013).
Até pouco tempo Potter era reconhecido como o primeiro a utilizar o 
neologismo bioética. Contudo, nos anos 1990 foi descoberto pelo professor Rolf 
Lother, da Universidade Humboldt de Berlim, um histórico artigo do alemão Fritz 
Jahr que já cunhava o termo. 
Segundo Goldim (2006), Jahr caracterizou a bioética como o reconhecimento 
de obrigações éticas para com todos os seres vivos, não apenas com os seres humanos. 
Em seu artigo, desenvolveu a ideia do imperativo bioético que ampliava o imperativo 
moral de Kant para todas as formas de vida: “Respeita cada ser vivo em princípio 
como uma finalidade em si e trata-o como tal na medida do possível” (JAHR, 1927 
apud GOLDIM, 2006, p. 86). 
UNIDADE 1 | BIOÉTICA, BIODIREITO E BIOTECNOLOGIA
8
Hans-Martin Sass (2011) reúne uma coletânea dos ensaios escritos por 
Jahr e apresenta um escrito sobre seu imperativo bioético de forma sistematizada, 
apontando sua visão bioética e a expansão das ideias de Kant. Nesse sentido, Sass 
(2011, p. 273-275) identifica alguns aspectos sobre o imperativo bioético de Jahr:
1. Uma nova disciplina acadêmica: o imperativo bioético deve ser 
“desenvolvido para educar e nortear as atitudes coletivas e individuais 
morais e culturais e exige novas responsabilidades e respeito com todas as 
formas de vida”.
2. Uma nova Ética de Virtude integradora e fundamental: o Imperativo 
Bioético baseia-se nas evidências históricas e outros indícios de que a 
compaixão é um fenômeno empírico estabelecido da alma humana.
3. Um novo Princípio da Regra de Ouro: o Imperativo Bioético reforça 
e complementa os deveres e o reconhecimento morais com os irmãos no 
contexto kantiano e tem de ser seguido em relação à cultura humana e 
obrigações morais mútuas entre os seres humanos.
4. Uma nova Regra de Cuidados com a Saúde Pessoal e Ética na Saúde 
Pública: o Imperativo Bioético inclui obrigações com o corpo e a alma de 
alguém enquanto ser vivo.
5. Uma nova Regra de Cuidados com a Saúde Pública e Ética: Jahr 
expressa uma visão crítica e conservadora sobre as questões de saúde 
pública, na qual cumprir as obrigações com alguém é também um dever 
com os outros e a saúde pública, realçando a estreita interação dos cuidados 
com a saúde pessoal e pública.
6. Uma nova Regra de Gestão Global e Ética: Jahr propõe uma regra 
universal ética de cuidar positivamente e proativamente da saúde e da 
vida deste globo como parte de um cosmos vivo, que resulta no imperativo 
bioético “Respeite cada ser vivo por questão de princípios e trate-o, se 
possível, como tal!”.
7. Uma nova Regra de Gestão e Ética Corporativa: o Imperativo Bioético 
tem de reconhecer, guiar e cultivar a luta pela vida entre as formas de vida 
e os ambientes vivos culturais e naturais.
8. Uma nova Regra de Terminologia e Ética Terminológica: Jahr inventou 
o termo bioética, pois via a necessidade de uma terminologia clara e 
precisa para definir nosso relacionamento com as formas de vida da 
realidade como diferente em relação às formas inanimadas e estabelecer 
a gestão da ciência e tecnologia mais modernas e suas aplicações de modo 
moralmente responsável.
9. Uma nova Regra e Ética de Diferenciação: ao inventar o termo Bioética, 
Jahr seguiu a diferenciação da terminologia da ciência mais moderna, para 
analisar as formas de natureza viva a partir de outras formas de natureza 
inanimada.
10. Uma Nova Regra de Interação e Regra de Integração na Ética: para Jahr, 
a ética ao animal e a ética social são campos diferentes, mas se interagem 
e se integram, trazendo formas e tons diferentes do Imperativo Bioético e 
descrevendo a multiplicidade de obrigações éticas no século XXI.
Como podemos perceber, o conceito desenvolvido por Jahr é mais amplo 
que o de Potter, pois estende a visão bioética a todas as formas de vida, atribuindo, 
assim, deveres dos seres humanos para com os animais e as plantas. 
Garrafa (2006) estabelece quatro etapas do desenvolvimento histórico da 
bioética: fundação, momento em que se estabeleceram suas bases conceituais; 
expansão e consolidação, relacionada à expansão do conceito na década de 80; 
revisão crítica, quando iniciam as críticas ao principialismo e a necessidade de 
equidade e universalidade no atendimento sanitário e no acesso aos benefícios do 
desenvolvimento científico e tecnológico; ampliação conceitual, com a Declaração 
TÓPICO 1 | BIOÉTICA E O NASCIMENTO DO BIODIREITO: EVOLUÇÃO, CONCEITO E PRINCÍPIOS
9
Universal de Bioética e Direitos Humanos ocorre sua ampliação para os campos 
social e ambiental.
 
Em sua origem, a Bioética teria um compromisso com o equilíbrio 
e preservação da relação dos seres humanos com o ecossistema e a própria 
vida (DINIZ, 2008). Posteriormente, passou a relacionar-se mais às questões 
biomédicas, e, com o passar dos anos, teve sua compreensão epistemológica e 
sua abrangência ampliadas, envolvendo diversos aspectos relacionados à vida e 
ao viver em dignidade.
2.2 CONCEITO
Em especial a partir dos anos 1970, a bioética tomou forma enquanto campo 
da ciência. É uma área interdisciplinar, complexa e sistemática, que visa aplicar os 
fundamentos éticos à biociência e biomedicina. Trata, essencialmente, dos grandes 
dilemas da humanidade, na reflexão de parâmetros mínimos éticos capazes de 
garantir a preservação da biodiversidade e da sobrevivência humana digna. 
Bioética originou-se para dar respostas concretas aos conflitos oriundos 
do avanço tecnológico e científico. Para Barboza (2001, p. 32), “O homem passou a 
interferir em processos até então monopolizados pela natureza, inaugurando uma 
nova era que poderá se caracterizar pelo controle de determinados fenômenos 
que escapavam ao seu domínio”.
NOTA
Etimologicamente, Bioética vem do grego – bios (vida) + ethos (ética), ou seja, 
a ética da vida, aquela que se relaciona às condições éticas da vida, ética aplicada à vida.
De acordo com Maria Helena Diniz (2008, p. 11), a Bioética seria, em 
sentido amplo:
[...] uma resposta ética às novas situações oriundas da ciência no âmbito 
da saúde, ocupando-se não só dos problemas éticos, provocados pelas 
tecnociências biomédicas e alusivos ao início e fim da vida humana, às 
pesquisas em seres humanos, às formas de eutanásia, à distanásia, às 
técnicas de engenharia genética, às terapias gênicas, aos métodos de 
reprodução humana assistida, à eugenia, à eleição do sexo do futuro 
descendente a ser concebido, à clonagem dos seres humanos, à maternidade 
substitutiva, à escolha do tempo para nascer ou morrer, à mudança de sexo 
em caso de transexualidade, à esterilização compulsória de deficientes 
físicos ou mentais, à utilização da tecnologia do DNA recombinante, às 
práticas laboratoriais de manipulação de agentes patogênicos, etc., como 
também dos decorrentes da degradação do meio ambiente, da destruição 
do equilíbrio ecológico e do uso de armas químicas.
UNIDADE 1 | BIOÉTICA, BIODIREITOE BIOTECNOLOGIA
10
Para Goldim (2006), a Bioética é uma reflexão compartilhada, complexa 
e interdisciplinar sobre a adequação das ações que envolvem a vida e o viver. 
Um diálogo interdisciplinar, segundo Maluf (2015, p. 8), tem por finalidade “a 
compreensão da realidade através de sua complexidade física, biológica, política 
e social. Analisa até onde vão os limites da interferência humana em questões que 
envolvem os seres vivos [...]”.
Reich (1995, p. 21) define a bioética como o “[...] estudo sistemático das 
dimensões morais – incluindo visão moral, decisões, conduta e políticas – das 
ciências da vida e atenção à saúde, utilizando uma variedade de metodologias 
éticas em um cenário interdisciplinar”.
Maluf (2015) a caracteriza como o estudo transdisciplinar entre biologia, 
medicina, filosofia (ética) e direito (biodireito) que investiga as condições necessárias 
para uma administração responsável da vida humana, animal e responsabilidade 
ambiental. Portanto, considera questões em que não há consenso moral, como a 
clonagem, o aborto, os transgênicos, as pesquisas com células-tronco, assim como a 
responsabilidade dos cientistas em suas pesquisas e aplicações.
Deste modo, podemos perceber que a bioética trata do campo da moral 
que envolve a ética da vida, ou como sintetizam Pessini e Barchifontaine (1996, p. 
11), “a bioética estuda a moralidade da conduta humana no campo das ciências 
da vida”. Alguns autores a definem como ética aplicada à vida, com o objetivo 
de preservar a dignidade humana por meio de princípios basilares para uma 
conduta ética em relação à vida.
IMPORTANT
E
Afinal, o que é ética? E qual sua diferença com a moral?
FONTE: Disponível em: <https://cdn-images-1.
medium.com/max/1200/1*uH9yKW8-l7Ip9J4e 
wWXB1w.jpeg>. Acesso em: 8 ago. 2017.
Os termos ética e moral, embora relacio-
nados entre si, possuem conceitos distin-
tos que comumente causam dúvidas. Éti-
ca e moral se complementam, entretanto 
possuem origem etimológica e significa-
dos diferentes.
Ética provém do grego ethos, que significa 
“morada”, “hábitat”, “modo de ser”, é a par-
te da filosofia que estuda a moral e que visa 
questionar e fundamentar as regras morais. 
A ética é teórica e reflexiva, implica em uma 
reflexão pessoal sobre uma regra moral, de 
modo racional e crítico, e conduz a forma 
como o indivíduo deve se comportar em seu 
meio social.
Moral origina do termo do latim Morales, que significa “relativo aos hábitos ou costumes”, é 
o conjunto de normas e valores que regem o comportamento do indivíduo na sociedade. A 
moral é prática e está relacionada ao agir humano, à sua conduta, e é socialmente definida.
TÓPICO 1 | BIOÉTICA E O NASCIMENTO DO BIODIREITO: EVOLUÇÃO, CONCEITO E PRINCÍPIOS
11
Segundo André Soares e Walter Piñero (2002), a história da bioética pode 
ser dividida em três fases:
• de 1960 a 1977: fase em que se originam os primeiros grupos de médicos e 
cientistas preocupados com os novos avanços científicos e tecnológicos. É 
neste período que se formam os primeiros comitês de bioética no mundo;
• de 1978 a 1997: fase em que é publicado o Relatório de Belmont (1978), que 
possui grande impacto na bioética clínica; é realizada a primeira fecundação in 
vitro bem-sucedida; ocorrem importantes progressos pela engenharia genética; 
são criados os grupos de estudo em bioética: Grupo Internacional de Estudo 
em Bioética, Associação Europeia de Centros de Ética Médica, Associação 
Interdisciplinar José Acosta, Comitê Consultivo Nacional de ética da França e 
o Convênio Europeu de Biomedicina e Direitos Humanos.
• de 1998 até hoje: descobertas significativas no campo da biotecnologia e 
biomedicina trazem conflitos de valores éticos, como: clonagem humana, 
descoberta quase total do genoma humano e a falência dos sistemas de saúde 
pública nos países em desenvolvimento.
A bioética, enquanto área de pesquisa complexa, requer estudos por meio 
de metodologia interdisciplinar. Isto significa que profissionais de diferentes 
áreas devem participar das discussões em torno das questões éticas relacionadas 
ao impacto da tecnologia e da ciência em nossas vidas.
O progresso científico é promotor de novos conhecimentos que passaram 
por alterações no olhar para a vida humana, tanto do ponto de vista individual 
como coletivo. O que até bem pouco tempo atrás eram barreiras intransponíveis, 
com o avanço tecnológico passaram a ser elementos dentro de um cotidiano 
tangível e imerso em infinitas possibilidades para a humanidade.
Os diálogos em torno da ética e as concepções morais em torno da vida, 
do viver, da liberdade e dignidade humana também se alteraram. À medida em 
que a ciência expande suas possibilidades, as questões éticas são questionadas 
e repensadas por outros prismas. Entretanto, nem tudo que é cientificamente 
possível é eticamente aceitável.
2.3 PRINCÍPIOS
Os princípios bioéticos remontam aos fundamentos envolvendo a 
pesquisa com seres humanos do Relatório de Belmont. Este relatório, publicado 
em 1978, definiu três princípios básicos orientadores para a ética da pesquisa 
envolvendo seres humanos: o respeito pelas pessoas, a beneficência e a justiça. 
Embora o relatório se refira apenas às pesquisas envolvendo seres humanos, os 
estudos desenvolvidos acabaram se aplicando ao conjunto do campo bioético.
UNIDADE 1 | BIOÉTICA, BIODIREITO E BIOTECNOLOGIA
12
Com base nesses estudos, a obra clássica de Beauchamp e Childress, Principles 
of Biomedical Ethics, publicada em 1979, estabeleceu princípios éticos para a prática 
médica, ampliando os definidos pelo Relatório de Belmont para a pesquisa em seres 
humanos. Nessa obra, o princípio de respeito pelas pessoas, tratado pelo Relatório 
de Belmont, foi substituído pelo da autonomia, e o princípio da beneficência foi 
desdobrado em beneficência e maleficência. A obra consagra o “principialismo” 
como um método de raciocínio e decisão em bioética (LOPES, 2014). 
Como você pode perceber, os princípios são elementos basilares da 
bioética e são construídos historicamente, conjuntamente ao desenvolvimento 
da concepção desta área. Então, vamos agora conhecer os principais princípios 
bioéticos e suas definições.
Princípio da Autonomia
Este princípio enseja o domínio do paciente sobre a própria vida (corpo e 
mente), ou seja: o reconhecimento da capacidade da pessoa para se autogovernar, 
de modo livre e sem influências externas, em respeito à capacidade de decisão e 
ação do ser humano (SÁ; NAVES, 2011).
Deste modo, pressupõe-se a considerar o paciente como um sujeito 
partícipe do processo de tratamento, com liberdade de decisão sobre sua vida. 
“Considera o paciente capaz de autogovernar-se, ou seja, de fazer suas opções 
e agir sob a orientação dessas deliberações tomadas, devendo, por tal razão, ser 
tratado com autonomia” (DINIZ, 2008, p. 14).
 Sendo, nesse sentido, necessário o consentimento e a informação acerca 
dos processos de intervenção e tratamento. Desse princípio decorre a exigência 
de consentimento livre e informado, que se encontra normatizado no Brasil pelo 
artigo 15 do Código Civil, Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, pelo 
Código de Ética Médica, Resolução nº 1.931/09 do Conselho Federal de Medicina, 
e demais legislações relacionadas às relações médico-paciente ou atividades 
associadas às pesquisas científicas.
Princípio da Beneficência
O profissional da saúde só pode usar o tratamento para o bem do paciente, 
ou seja, sua conduta deve primar por auxiliar ou socorrer sem prejudicar ou 
causar mal ou dano ao paciente.
Impõe ao profissional da saúde ou biólogo o dever de dirigir esforços 
no sentido do benefício do paciente ou ser pesquisado. Deve se abster de 
procedimentos duvidosos, que pouco ou nada trazem benefício para o paciente 
ou para a espécie envolvida (SÁ; NAVES, 2011).
Segundo Diniz (2008), sãoregras dos atos de beneficência não causar dano 
e maximizar os benefícios, minimizando possíveis agravos. Assim, esse princípio 
incute uma obrigação ética de maximizar o benefício e minimizar o prejuízo.
TÓPICO 1 | BIOÉTICA E O NASCIMENTO DO BIODIREITO: EVOLUÇÃO, CONCEITO E PRINCÍPIOS
13
Princípio da Não maleficência
É um desdobramento do princípio da beneficência, ou seja, a obrigação de 
não acarretar dano intencional, cuja finalidade é reduzir os efeitos adversos das 
ações diagnósticas e terapêuticas no ser humano. Abstenção de procedimentos 
duvidosos ou que possibilitem gerar riscos ou danos em todos os âmbitos.
Princípio da Justiça
Estabelece como condição fundamental a equidade, ou seja, a obrigação 
ética de tratar cada indivíduo de modo imparcial e de igualdade, em respeito 
às diferenças nos diversos aspectos sociais, culturais, religiosos, financeiros ou 
outros que interfiram na relação médico-paciente ou científica.
Envolve a imparcialidade na distribuição dos riscos e benefícios, de modo 
que os recursos devem ser proporcionados de forma equitativa, assim como os 
benefícios, riscos e encargos, ao que se denomina justiça distributiva. Deste modo, 
prevê a igualdade no acesso, nos custos sociais, emocionais e físicos, na garantia 
de funcionalidade, eficiência e equidade.
Como prelecionam Sá e Naves (2011, p. 35), “[...] justa é a intervenção que 
leva em conta os valores do paciente, bem como sua capacidade de deliberação e 
unidade psicofísica”. Desta forma, a justiça prima pela liberdade de pensamento e 
de consciência, pela autonomia da vontade, que, no caso da intervenção biomédica, 
deve maximizar os benefícios com o menor risco e custo possível. Aos custos 
devemos prever não somente os financeiros, mas os emocionais, físicos e sociais.
2.4 CLASSIFICAÇÃO
A bioética pode ser classificada segundo dois campos de atuação: a bioética 
das situações emergentes e a bioética das situações persistentes. Volnei Garrafa 
(2006) sinaliza que a Cátedra UNESCO de Bioética da Universidade de Brasília 
tem utilizado esta classificação como forma de sistematização e compreensão de 
seu estudo da seguinte forma:
• Bioética das situações emergentes: se ocupa dos temas mais recentes 
relacionados ao desenvolvimento biotecnocientífico e sua relação com a 
cidadania, dignidade humana e os direitos humanos, como a engenharia e 
manipulação genética, a reprodução humana assistida, doação e transplante 
de órgãos e tecidos humanos, questões relacionadas à biossegurança. 
• Bioética das situações persistentes: relativa aos temas que existem desde a 
Antiguidade, e persistem como dilemas cotidianos, como o aborto, a eutanásia, 
o racismo, a exclusão social e discriminação.
Como pudemos perceber, a bioética possui uma pluralidade de conceitos 
e definições, e, de acordo com sua temática, tem sido também dividida por alguns 
UNIDADE 1 | BIOÉTICA, BIODIREITO E BIOTECNOLOGIA
14
autores em microbioética e macrobioética. Iremos apontar a definição utilizada 
por Adriana Caldas Maluf (2015) e Maria Helena Diniz (2008).
A microbioética é o ramo da bioética que trata das relações entre médicos 
e pacientes, entre as instituições de saúde pública ou privada e entre estas 
instituições e os profissionais de saúde. Cuida mais especificamente das questões 
emergentes que surgem dos conflitos entre a evolução científica e os limites da 
dignidade da pessoa humana.
A macrobioética é o ramo da bioética que trata das questões envolvendo 
a vida no sentido amplo, relacionada ao macrossistema da vida, como o meio 
ambiente, a biodiversidade, a sustentabilidade. Tem por objetivo o estudo das 
questões ecológicas em busca da preservação da vida e trata, mais especificamente, 
das questões persistentes.
3 BIODIREITO 
O avanço tecnológico na área da biomedicina e biotecnologia deu origem 
ao que chamamos de bioética. Como vimos, a bioética é a ciência que estuda 
os aspectos de interação com a vida, seja ela humana ou não, e visa estabelecer 
valores e critérios éticos relacionados à sobrevivência e qualidade de vida na 
Terra. Os novos aspectos jurídicos decorrentes dessas relações deram origem ao 
biodireito, que é o ramo do direito que regula as relações decorrentes da inovação 
tecnológica e os aspectos que envolvem a proteção da vida humana e das espécies.
As perspectivas éticas, jurídicas e médicas relacionam-se com o direito à 
vida e ao modo de viver, envolvem situações como o nascer, a qualidade de vida, 
necessidade de intervenção médica e o morrer. Segundo Sá e Naves (2011), são 
acontecimentos naturais ou humanos que trazem consequências jurídicas, fatos 
jurídicos que criam, modificam ou extinguem situações e/ou relações jurídicas.
 
Importa salientar que as normas e princípios da bioética não são coercitivos, 
assim, é necessário que o direito regulamente atitudes lícitas, definindo seus 
contornos com base no princípio da dignidade da pessoa humana, estabelecendo 
regras e limites à investigação (LOUREIRO, 2009).
 
3.1 CONCEITO
O biodireito é um novo ramo do conhecimento em que se intercruzam a 
bioética e o direito, ou seja, a bioética é o estudo dos valores éticos relacionados 
à biomedicina e à biotecnologia, e o biodireito é a regulamentação jurídica da 
problemática da bioética, a consolidação normativa desses valores. Este ramo 
possui como escopo o estudo das relações jurídicas entre o direito e os avanços 
tecnológicos conectados à medicina e à biotecnologia; peculiaridades relacionadas 
ao corpo e à dignidade da pessoa humana (MALUF, 2015). 
TÓPICO 1 | BIOÉTICA E O NASCIMENTO DO BIODIREITO: EVOLUÇÃO, CONCEITO E PRINCÍPIOS
15
Segundo a professora de Direito Jussara Nasser Ferreira (1998-1999, p. 
51), o biodireito é o “[...] conjunto de normas esparsas que têm por objeto regular 
as atividades e relações desenvolvidas pelas biociências e biotecnologias, com o 
fim de manter a integridade e a dignidade humana frente ao progresso, benefício 
ou não, das conquistas científicas em favor da vida”.
O biodireito, por ser uma construção recente, não possui suas normas 
organizadas ou codificadas, ou mesmo estruturadas em uma única lei. No 
ordenamento jurídico brasileiro, o biodireito está disposto de forma esparsa 
em diversos princípios constitucionais, códigos e em legislações que abordam 
os temas bioéticos e da biociência, tanto em nível nacional quanto internacional, 
recepcionados pela legislação brasileira.
Maria Helena Diniz (2008, p. 7-8) entende o biodireito como o estudo 
jurídico que toma por fontes imediatas a bioética e a biogenética e tem a vida 
como objeto principal, “[...] salientando que a verdade científica não poderá 
sobrepor-se à ética e ao direito, assim como o progresso científico não poderá 
acobertar crimes contra a dignidade humana, nem traçar, sem limites jurídicos, 
os destinos da humanidade”.
Nesse âmbito, o Biodireito transita na linha tênue entre os limites do 
respeito às liberdades individuais e a coibição de abusos contra o indivíduo ou a 
espécie humana. Para Maria Celeste Cordeiro Leite dos Santos, “O biodireito face 
à Bioética enfrenta hoje dois critérios filosóficos conflitantes: o da santidade da 
vida humana e o da qualidade da vida” (1993, p. 94).
Cabe ao biodireito a atribuição de normatizar os efeitos e impactos da 
biociência e das atividades biomédicas, de modo a tutelar a dignidade e a vida, 
impondo limites às pesquisas científicas e à biotecnologia. Para Meirelles (2008, 
p. 6), daí emerge a finalidade do biodireito, “[...] fixar normas coercitivas que 
delimitem as atuações biotecnológicas, no sentido de ver respeitada a dignidade, 
a identidade e a vida do ser humano”.
As questões de biodireito estão vinculadas aos Direitos Humanos e à 
internacionalização de tais direitos, não sendo mais, portanto, preocupações que 
se limitam apenas ao âmbito interno do Estado.Deste modo, objetiva a proteção da 
dignidade humana frente às constantes inovações biotecnológicas e biomédicas. 
Conforme menciona Meirelles (2008, p. 4-5):
A Bioética propõe limites à biotecnologia e à experimentação, com a 
finalidade de ver protegidas a dignidade e a vida da pessoa humana 
como prius sobre qualquer valor. Porém, a norma moral é insuficiente 
porque, ainda que alcance a dimensão social da pessoa humana, 
opera apenas no plano interno da consciência, impondo-se, portanto, 
um novo ramo do dever ser, mediante o qual se regulem as relações 
intersubjetivas à luz dos princípios da Bioética. Necessário, por isso, 
que as normas sejam jurídicas, e não somente éticas, pois somente o 
caráter coercitivo daquelas impedirá ao científico sucumbir à tentação 
experimentalista e à pressão de interesses econômicos.
UNIDADE 1 | BIOÉTICA, BIODIREITO E BIOTECNOLOGIA
16
O estudo dos dilemas bioéticos na seara do direito é importante para que 
seja possível verificar em que medida a biotecnologia alcança o bem comum, 
assim como quais são seus riscos potenciais e futuros a toda humanidade.
É inegável que alguns avanços na área da biociência foram significativos 
na melhoria da qualidade de vida, assim como o acesso tecnológico. Essas novas 
realidades produziram transformações significativas na sociedade, modificando 
profundamente as relações jurídicas, e é aí que se insere o biodireito. Por exemplo, 
pelas técnicas de reprodução humana assistida, pessoas que antes estavam 
impossibilitadas por distintas razões, passaram a alcançar a possibilidade de gerar 
filhos, entretanto, essa possibilidade trouxe consigo uma série de dilemas éticos e 
jurídicos, como a determinação de maternidade e paternidade, o direito sucessório, 
a manutenção e utilização de bancos de sêmen pós-morte, entre outros.
O biodireito associa-se principalmente com as seguintes áreas específicas 
do Direito: o Direito Constitucional, Direito Civil, Direito Penal, Direito 
Ambiental e Direito do Consumidor. Dentre os princípios e direitos fundamentais 
assegurados constitucionalmente relacionados ao campo do biodireito, pode-se 
destacar: dignidade humana (art. 1º, III), promoção do bem de todos sem qualquer 
forma de discriminação (art. 3º, IV), inviolabilidade do direito à vida (art. 5º), 
direito à informação (art. 5º, XIV e XXXII), direito à saúde (art. 196), princípio da 
igualdade (art. 5º), direito à liberdade e justiça (preâmbulo e em diversos artigos). 
Entretanto, é necessário salientar que o rápido avanço tecnológico não 
acompanha o desenvolvimento legal. Diante de temas polêmicos e de constantes 
transformações no campo da bioética, não é possível regular as temáticas de 
modo fechado ou absoluto, caracterizando o biodireito pela ausência de regulação 
estruturada, em muitos casos de lacunas normativas. Desse modo, os princípios 
e direitos fundamentais possuem a função de suprir a lacuna ou vazio existente 
entre a esfera ética e as normas jurídicas constitutivas do biodireito.
Assim, o biodireito consegue determinar caminhos definitivos aos dilemas 
bioéticos, ou determina apenas critérios para análise e solução das situações 
expostas? Importa ressaltar que os critérios e leituras do biodireito podem ir se 
modificando com o passar do tempo, tendo em vista que o avanço tecnológico 
pode apresentar respostas a questões éticas polêmicas na sociedade, bem como 
apresentar riscos não previstos decorrentes dos mesmos avanços.
3.2 PRINCÍPIOS
Estudamos anteriormente os princípios basilares da bioética, sua definição 
e construção histórica. O biodireito, diferentemente da bioética, não possui um 
documento que defina seus princípios orientadores, ou mesmo que englobe 
temas já pacificados na doutrina ou na jurisprudência. A fonte dos princípios do 
biodireito, além dos princípios fundamentais da bioética, deve compor princípios 
globais já pacificados em documentos que envolvam a bioética, e também os que 
envolvem os direitos humanos.
TÓPICO 1 | BIOÉTICA E O NASCIMENTO DO BIODIREITO: EVOLUÇÃO, CONCEITO E PRINCÍPIOS
17
No Brasil, os conflitos biojurídicos devem ancorar suas soluções em 
conformidade com os princípios fundamentais da Constituição Federal de 
1988, assim como em documentos internacionais já ratificados pelo país. Desse 
modo, pode-se constatar que diversos princípios podem ser aplicados na área do 
biodireito. Iremos conhecer e estudar alguns deles na sequência.
Princípio da Precaução
Aplica-se de modo preventivo como forma de proteção a riscos, 
mesmo ainda desconhecidos, provenientes de determinada prática médica e/
ou biotecnológicas. Nesse princípio, a ameaça oriunda das incertezas de uma 
atividade causar danos às espécies ou ao meio ambiente pode ser irreversível, 
portanto, deve ser afastada a prática do ato antes que ocorra, devido ao risco 
potencial. 
Para Maluf (2015), esse princípio implicaria na necessidade de comprovar 
a inexistência de quaisquer consequências maléficas, diretas ou indiretas, ao ser 
humano ou ao ecossistema, antes de se efetuar pesquisa ou experimento científico. 
Trata-se de uma limitação à ação profissional, na qual impõe ao interessado o 
dever de comprovar a inexistência de risco, sob pena de proibição da atividade 
científica antes mesmo de sua realização.
O princípio da precaução está previsto de forma implícita no art. 225 
da Constituição Federal brasileira, e foi expressamente incorporado ao Direito 
Ambiental em decorrência da Eco-92. O texto da Convenção Quadro das Nações 
Unidas sobre a Mudança do Clima, estabelecido a partir da Eco-92 e da Agenda-21, 
foi aprovado pelo Decreto Legislativo nº 1, de 1994, que trata em seu artigo 3º 
sobre a necessidade da adoção de medidas de precaução para prever, evitar ou 
minimizar as causas da mudança de clima e mitigar seus efeitos negativos. Dispõe 
ainda que, se surgirem ameaças de danos sérios ou irreversíveis, a falta de plena 
certeza científica não deve ser motivo para postergar essas medidas, de modo a 
assegurar benefícios mundiais seguros e com menor custo possível.
Princípio da Autonomia
O princípio da autonomia está interligado ao da dignidade humana, pois 
prima pelo respeito à liberdade de cada ser humano, desde que não afete o outro 
ou a coletividade. A autonomia enseja a capacidade de autodeterminação de uma 
pessoa, gerenciando sua vida conforme sua vontade, sem influência ou coação de 
outras pessoas. 
Nas relações biomédicas, deve ser respeitada a capacidade de decisão do 
paciente, enquanto sujeito partícipe, sendo assegurado o direito à informação sobre 
todo processo de tratamento. O princípio da autonomia está diretamente ligado ao 
consentimento prévio do paciente, pois a liberdade de escolha e decisão somente 
será plena se a informação for fornecida de modo compreensível, de modo a 
viabilizar o conhecimento e consciência das possibilidades terapêuticas. 
UNIDADE 1 | BIOÉTICA, BIODIREITO E BIOTECNOLOGIA
18
Assim, o consentimento livre e informado possui a finalidade de incutir 
ao pesquisador ou profissional da saúde o dever de informar, de forma clara e 
adequada, em nome da proteção da autonomia da escolha individual. Importa 
dar ênfase aos casos que envolvem indivíduos com autonomia reduzida ou 
incapazes de consentir (art. 3º e 4º Código Civil), situações quando se transfere o 
consentimento, total ou parcial, aos responsáveis legais.
 Alguns autores, como Bruno Torquato Naves e Maria de Fátima F. de Sá, 
preferem a utilização da expressão “autonomia privada” ao invés de “autonomia 
da vontade”, segundo entendimento de que a vontade não seria suficiente para 
criar Direito, pois não cabe a ele perquirir sobre o conteúdo da consciência de 
cada ser. Nesse entendimento hermenêutico substitui-se a carga individualista 
da autonomia da vontade, restando ao direito analisar a manifestação concreta da 
vontade, conferindo, atravésda autonomia, concessão de poderes de atuação à 
pessoa, determinando o conteúdo, a forma e os efeitos de um ato jurídico. Contudo, 
importa ressaltar que a autonomia privada é determinada em conformidade 
com o próprio ordenamento jurídico, estabelecendo os “limites” e o conteúdo 
dos poderes conferidos aos particulares em caso de tensão principiológica nas 
situações fáticas (SÁ; NAVES, 2011).
Princípio da Responsabilidade
Este princípio relaciona-se ao da precaução, pois ambos tratam dos 
malefícios que as intervenções biomédicas ou biotecnológicas podem causar, 
sendo que a responsabilidade ocorre quando a lesão ou dano já se concretizou. 
Assim, ocorre após o ato ou fato e visa minimizar ou reparar os malefícios 
causados por determinada ação. 
Princípio da Dignidade 
Refere-se à proteção da vida humana em todos seus aspectos, seja físico, 
psíquico ou espiritual. Está relacionado ao princípio da sacralidade da vida, 
na garantia do desenvolvimento pleno do ser humano, de modo individual e 
interligado a toda coletividade. Iremos tratar mais profundamente sobre este 
princípio no próximo tópico desta unidade.
Princípio da Sacralidade da vida
Como apontamos, este princípio está diretamente interligado ao princípio 
da dignidade humana. Encontra-se positivado no art. 5ª da Constituição Federal 
brasileira, e refere-se à inviolabilidade da vida humana, bem como a importância 
de sua proteção.
Princípio da Justiça
Tal qual o princípio bioético da justiça, este princípio incute o dever de 
garantir a equidade e a universalidade na distribuição justa dos benefícios dos 
serviços de saúde, partindo do pressuposto de que o direito à saúde e à vida é 
um direito fundamental e humano. Em sentido amplo, relaciona-se ao dever da 
TÓPICO 1 | BIOÉTICA E O NASCIMENTO DO BIODIREITO: EVOLUÇÃO, CONCEITO E PRINCÍPIOS
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administração pública de garantir o acesso à saúde e à vida em dignidade, fazendo-
se uma obrigação sua execução através de programas sociais e políticas públicas.
O sociólogo português Boaventura de Sousa Santos (2003, p. 56) sintetiza de 
modo célebre essa questão ao afirmar que “temos o direito a ser iguais quando a nossa 
diferença nos inferioriza; e temos o direito a ser diferentes quando a nossa igualdade 
nos descaracteriza. Daí a necessidade de uma igualdade que reconheça as diferenças 
e de uma diferença que não produza, alimente ou reproduza as desigualdades”. 
Nestes termos estão incutidas a justiça, a equidade, a igualdade e a diferença.
Na prática, na distribuição dos riscos e benefícios, assim como na relação 
médico-paciente, deve-se observar o princípio da igualdade, atuando sem 
distinção de cor, nacionalidade, opção política ou sexual, crença e condição social 
ou financeira. Entretanto, deve garantir o direito à diferença, em respeito aos 
aspectos sociais, culturais e religiosos. Como exemplo, podemos citar o direito 
à recusa no tratamento médico, como no caso da transfusão de sangue para 
determinados grupos religiosos, em respeito à vontade do paciente. Entretanto, 
o direito ao tratamento médico não pode sofrer qualquer forma de discriminação 
ou seletividade em relação à sua cor, nacionalidade ou condição social.
Princípio da Ubiquidade
Decorre da necessidade de proteção global de experimentos e ações que 
podem colocar em risco a vida humana e todas as espécies. Envolve o direito 
ao patrimônio genético humano, incutindo o dever de preservar a manutenção 
das características essenciais da espécie humana, em nome dos riscos às futuras 
gerações e ao planeta.
Relaciona-se ao Direito Ambiental, na visão de que o bem ambiental 
é onipresente, assim como a integridade genética, em interligação com toda 
biodiversidade. Afinal, os impactos ambientais negativos refletem não somente 
para a localidade, mas para toda vida no planeta.
Assim, toda vez que uma política for elaborada ou uma atividade realizada 
neste sentido, deverá levar em consideração esse princípio, bem como a proteção 
constitucional da vida e da qualidade de vida e o direito das futuras gerações.
Princípio da Cooperação entre os povos
Este princípio decorre da solidariedade entre as nações em prol do bem 
comum. Envolve o livre intercâmbio de experiências científicas e de mútuo auxílio 
tecnológico e financeiro entre os países, tendo em vista a preservação ambiental 
e das espécies. Essa conduta não abala a soberania ou autodeterminação dos 
povos e nações.
O âmbito do biodireito está vinculado ao princípio da ubiquidade e ao 
princípio da justiça, ao prever a proteção da espécie humana e da biodiversidade, 
assim como na repartição dos benefícios e ônus decorrentes das pesquisas 
científicas (MALUF, 2015).
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Neste tópico, você aprendeu que:
• A bioética, enquanto ciência, tem sua origem em meio às profundas mudanças 
sociais, políticas e culturais ocorridas principalmente após a Segunda Guerra 
Mundial.
• As raízes do neologismo “bioética” acontecem em dois momentos distintos: 
com o bioquímico Van Rensselaer Potter, em 1970, e com o teólogo alemão 
Paul Max Fritz Jahr, em 1927.
• A bioética originou-se para dar respostas concretas aos conflitos oriundos do 
avanço tecnológico e científico.
• Bioética é o estudo complexo, interdisciplinar e sistemático sobre a conduta, 
os conflitos e controvérsias morais em torno da vida e do viver, a ética das 
ciências da vida.
• A bioética pode ser dividida entre macrobioética e microbioética. E seus temas 
classificados por situações persistentes e emergentes.
• São princípios bioéticos a autonomia, a beneficência, a não maleficência e a 
justiça.
• O biodireito é um novo ramo do estudo jurídico que intercruza a Bioética e o 
Direito. 
• Pode-se citar como os princípios basilares do biodireito, decorrentes de 
diversos estudos e legislações nacionais e internacionais: precaução, dignidade, 
autonomia, sacralidade da vida, responsabilidade, justiça, ubiquidade, 
cooperação entre os povos.
RESUMO DO TÓPICO 1
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1 Cite e explique três princípios bioéticos.
2 No que se relaciona às formas de classificação da bioética, a doutrina 
divide seus temas por dois diferentes campos de atuação: a macrobioética e a 
microbioética. Descreva cada um desses campos e identifique seus temas de 
atuação.
3 Biodireito é o ramo do direito que regula as relações decorrentes da inovação 
tecnológica e os aspectos que envolvem a proteção da vida humana e das 
espécies. Assinale a alternativa que não constitui um princípio do biodireito:
a) ( ) justiça
b) ( ) razoabilidade 
c) ( ) precaução
d) ( ) autonomia
AUTOATIVIDADE
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TÓPICO 2
BIOÉTICA À LUZ DOS 
DIREITOS HUMANOS
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Estudaremos, neste tópico, a bioética e os direitos humanos, a importância 
da inter-relação entre essas duas áreas como fundamento e parâmetro para 
solução de conflitos bioéticos, assim como a ampliação do conceito de bioética a 
partir de uma leitura dos direitos humanos.
As complexas realidades vividas em diferentes contextos no globo trazem 
desafios emergentes para a pauta da bioética. Como pensar na ética da/e na vida 
nessas distintas realidades? Se a bioética trata das questões concernentes ao 
direito à vida, como pensá-la em realidades com gritantes desigualdades sociais 
e populações em extrema vulnerabilidade?
O processo de globalização, o veloz desenvolvimento tecnológico, o 
impacto ecológico das atividades humanas, a gritante desigualdade social em 
diferentes escalas e lugares, todas essas questões emergem debates éticos e 
contestam valores sociais, culturais e econômicos. 
Nesse sentido, estudar a bioética remete compreender as relações humanas 
na atualidade, assim como seus dilemas éticos e sociais. Para tanto, é necessário 
compreender a construção histórica dos direitos essenciais ao ser humano, os 
valores morais e éticos incutidos na sociedade,e adentrar em um universo de 
ruptura de paradigmas e de reflexões sobre o horizonte futuro da humanidade.
2 DIREITOS HUMANOS E ASPECTOS BIOÉTICOS
É incontestável a inter-relação entre os direitos humanos e a bioética. 
Podemos começar pela condição basilar para a existência humana: a vida. Sem 
ela, não há direitos ou quaisquer dilemas em torno da existência humana. 
 
A bioética, ao tratar os dilemas do termo bios, da vida, e do modo de 
atuação do homem em relação a ela, possui vinculação direta com a construção 
dos direitos mínimos para a existência humana, ou seja, os direitos humanos. 
Estes direitos são construídos historicamente pelo homem para traçar parâmetros 
mínimos da existência e das relações humanas, seja com o meio onde vive ou 
entre si. Conforme instrui Dalmo Dallari (s.d., s.p.): 
UNIDADE 1 | BIOÉTICA, BIODIREITO E BIOTECNOLOGIA
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A consciência dos direitos humanos é uma conquista fundamental da 
humanidade. A bioética está inserida nessa conquista e, longe de se 
opor a ela ou de existir numa área autônoma que não a considera, é 
instrumento valioso para dar efetividade aos seus preceitos numa esfera 
dos conhecimentos e das ações humanas diretamente relacionada com 
a vida, valor e direito fundamental da pessoa humana.
Neste âmbito, os dilemas biojurídicos possuem como ancoradouro os 
princípios fundamentais dos direitos humanos, bem como os valores morais e 
éticos de determinada sociedade, positivados ou não em sua Constituição.
2.1 CONCEITO E EVOLUÇÃO 
HISTÓRICA DOS DIREITOS HUMANOS 
Os direitos humanos são fruto de um longo processo histórico de lutas 
por necessidades básicas essenciais para a condição de ser humano. Desse modo, 
conforme Hanna Arendt (1979), os direitos humanos não são um dado, mas 
um elemento construído, uma invenção humana em constantes processos de 
construção e reconstrução. Portanto, uma criação podendo contar com avanços, 
mas também retrocessos. Uma batalha, conceitual, teórica, mas também travada 
no campo prático. 
Ao longo de toda a história da humanidade, a luta pela sobrevivência 
levou os seres humanos a construírem formas de adaptabilidade ao meio que 
envolvem as dinâmicas das estruturas vigentes. Nesse sentido, as lutas e batalhas 
em torno dos aspectos essenciais da sobrevivência levaram os seres humanos a 
constantes embates que dizimaram civilizações inteiras em incontáveis guerras 
e massacres. Esses acontecimentos levaram também diversos sujeitos a pensar 
e construir mecanismos para evitá-los, de modo a possibilitar uma vida digna e 
pacífica entre todos os seres. 
Nessa perspectiva, foram incontáveis os pensadores que atuaram 
buscando esforços centrados em um bem comum. Um desses exemplos que traz 
no cerne de seu pensamento o amálgama desse objetivo é Confúcio (551 a.C.-479 
a.C.), com sua célebre frase: “Não faça aos outros o que não quer que seja feito a 
você”.
No entanto, foi reconhecido pela Organização das Nações Unidas um 
evento ocorrido seis séculos antes de Cristo como o precursor da Declaração 
dos Diretos Humanos. Quando Ciro, rei da antiga Pérsia, conquista a Babilônia 
e cria ações até então inovadoras e impensadas, liberta os escravos, declarando 
liberdade de escolha para as religiões. Estas definições foram transcritas em um 
cilindro de argila, e é conhecido como o Cilindro de Ciro. E por tal importância, 
sendo traduzido para os seis idiomas oficiais da ONU. 
TÓPICO 2 | BIOÉTICA À LUZ DOS DIREITOS HUMANOS
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FIGURA 4 – CILINDRO DE CIRO, RECONHECIDO COMO A PRIMEIRA DECLARAÇÃO 
DOS DIREITOS HUMANOS
FONTE: Disponível em: <http://imperiopersaaquemenida.blogspot.com.br/2011/10/
el-cilindro-de-ciro-traduccion.html>. Acesso em: 11 out. 2017.
Nesse sentido, acredita-se que os feitos de Ciro tenham sido difundidos 
integral ou parcialmente e as suas civilizações contemporâneas e as posteriores, 
como na China, na Índia e chegando à Europa por Grécia, tenham tido inspirações 
nesta declaração para buscar balizas de convivência. Consequentes documentos 
afirmam tal assertiva, como a Carta Magna (1215), a Constituição dos Estados 
Unidos (1787) e a Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789).
Sendo assim, convencionou-se estabelecer que os direitos humanos 
possuem um processo de constante adaptação aos desafios do momento presente, 
consolidando-se como um elemento em vívida disputa. Assim, alguns autores 
estabelecem os direitos humanos como portadores de dimensões ou gerações, 
marcados pelo processo histórico e possuindo características de cada período.
Diversos autores tratam sobre a classificação linear da construção e 
evolução dos direitos em “gerações” ou “dimensões”. Há divergência nesse 
entendimento, devido à compreensão da não linearidade desses direitos ou 
hierarquização, mas sim o processo histórico que o determinou e que o recria 
através do tempo. Trataremos deste assunto a partir do entendimento do jurista 
Antonio Carlos Wolkmer (2013).
Direitos de primeira dimensão: direitos civis e políticos, são os 
direitos individuais vinculados à liberdade, igualdade, propriedade, 
segurança e resistência às diversas formas de opressão. Estes direitos 
são entendidos como atributos naturais, inalienáveis e imprescritíveis. 
Surgem no contexto do constitucionalismo político clássico, com marco 
na declaração de independência dos Estados Unidos (1776) e Revolução 
Francesa (1789). Este período esteve associado às lutas por independência, 
e busca por liberdade e demais valores que derivam desta, resultando na 
efetivação da liberdade.
UNIDADE 1 | BIOÉTICA, BIODIREITO E BIOTECNOLOGIA
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Direitos de segunda dimensão: direitos sociais, econômicos e 
culturais, com caráter positivo por exigir atuações do Estado. Surgem entre 
meados do século XIX e início do século XX em meio às tensões pelos graves 
impasses socioeconômicos provocados pelo processo de industrialização e 
os decorrentes problemas sociais ocasionados. Esses processos possibilitam 
o nascimento do Estado de Bem-Estar Social. Naquele período, as 
transformações advindas da Revolução Industrial (consolidada no século 
XIX na Europa e se expandindo por territórios que possuíam vínculos com 
a Europa) levaram a sociedade a buscar direitos vinculados com as novas 
demandas, relacionados à educação, à saúde etc. 
Direitos de terceira dimensão: direitos metaindividuais, direitos 
coletivos e difusos. Possuem como característica a titularidade do coletivo, 
a proteção de categorias ou grupos de pessoas, e a indivisibilidade, pois não 
podem ser satisfeitos ou lesionados de forma fracionada, mas atingem a toda 
a coletividade. Nas últimas décadas, as transformações sociais ampliaram os 
sujeitos desses direitos coletivos, passando a ser incluídos nesta dimensão, 
como: os direitos de gênero, os direitos da criança, os direitos do idoso, os 
direitos dos deficientes físicos e mentais, os direitos das minorias (étnicas, 
religiosas, sexuais); e os novos direitos da personalidade (a intimidade, a 
honra, a imagem). Já no século XX esses direitos coletivos expõem uma ótica 
que tem no direito valores expansivos e de alcance global, dando assim um 
enfoque mundial e universal, como a paz, o meio ambiente etc.
 
Direitos de quarta dimensão: são os “novos” direitos referentes 
à biotecnologia, à bioética e à regulação da engenharia genética. São 
direitos que possuem a especificidade de tratar sobre a vida humana, 
como a reprodução humana assistida, o aborto, a eutanásia, transplantes 
de órgãos, a clonagem humana e outros. Resultam das preocupações 
com a regulamentação ética diante dos avanços das ciências biomédicas e 
biotecnológicas, e também os riscos advindos dessas ciências. 
E, ainda, os direitos de quinta dimensão: os “novos” direitos 
advindos das tecnologias de informação, do ciberespaço e da realidade 
virtual em geral. Estes direitos emergem das transformações

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