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20327006_SENTENCA_E_RECURSOS

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1 06. Sentença e Recursos.docx 
 
 
 
 
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8. SENTENÇA 
 
Dentre os atos praticados pelos juízes, destaca-se, por óbvio, a sentença, ato no qual consagra, efetiva-
mente, a aplicação da lei ao caso concreto, escopo do exercício da função jurisdicional. 
Contudo, o Código de Processo Penal de 1941, embora abordando a classificação das decisões no art. 
800, várias vezes, atribuía a nomenclatura sentença a atos que, no processo penal, não são assim considerados. 
Esta técnica acabou por influenciar os operadores do direito que, muitas vezes, chamam de sentença decisões 
que, no processo penal,não são assim consideradas. 
Portanto, para iniciar o estudo sobre as sentenças, no qual se destaca o princípio da correlação ou con-
gruência, tema dos mais cobrados em concursos em geral, faz-se necessário compreender a diferença entre as 
espécies de decisões do processo penal. 
 
8.1. Classificação das decisões no Processo Penal 
 
A classificação das decisões no Processo Penal (art. 800 do CPP), em processos de conhecimento de na-
tureza condenatória (onde o autor – Ministério Público ou ofendido – pretende a condenação do réu) possui um 
critério diferente daquele adotado no Processo Civil. 
Enquanto no Processo Civil as decisões podem ser classificadas em interlocutórias e sentenças, as deci-
sões no processo penal condenatório são classificadas em: 
 
D
e
c
is
õ
e
s
 
Interlocutórias 
Interlocutórias simples 
Interlocutórias mistas ou com força de 
definitivas 
Terminativas 
Não terminativas 
Definitivas 
Terminativas de Mérito 
Sentenças 
Condenatórias 
Absolutórias 
Próprias 
Impróprias 
 
Decisões Interlocutórias Simples 
As decisões interlocutórias simples são aquelas por meio das quais o juiz, no curso do processo, resolve 
questões incidentes. 
São exemplos de interlocutórias simples as decisões em que o juiz defere ou indefere provas, decreta a 
prisão ou concede a liberdade. 
 
Decisões Interlocutórias Mistas ou com força de definitivas 
São decisões interlocutórias mistas ou com força de definitivas aquelas através das quais o juiz determina 
alterações significativas no procedimento (alteram significativamente o rumo do procedimento) ou através das 
quais o juiz põe fim ao procedimento, sem apreciação do mérito (equiparam-se a uma extinção do processo sem 
julgamento do mérito). Assim, podem ser: 
* Terminativas (ex: decisão de rejeição da denúncia ou queixa, impronúncia etc.) 
* Não Terminativas (ex.: decisões que suspendem o processo, pronúncia, desclassificação na 1a. fase do proce-
dimento do Júri, etc.). 
 
Decisões Definitivas 
No processo penal, somente são consideradas decisões definitivas aquelas que fazem coisa julgada ma-
terial, dispondo sobre o mérito da causa e impedindo um novo processo pelo mesmo fato. Assim: 
* Terminativas de Mérito 
São decisões terminativas de mérito ou definitivas em sentido estrito as decisões em que o juiz simples-
mente reconhece a extinção da punibilidade, por exemplo, extinção da punibilidade pela prescrição, pela deca-
dência ou pela morte. 
* Sentenças 
 Sentenças Condenatórias são aquelas em que o juiz julga procedente o pedido de condenação, funda-
mentando a decisão e aplicando uma pena ao réu (art. 387 do CPP). Nesta decisão, o juiz ainda deverá 
analisar se é ou não necessária a prisão do réu, utilizando-se, para tanto, do art. 312 do CPP. O réu só 
será preso se houver necessidade, uma vez que é presumidamente inocente até o trânsito em julgado da 
sentença condenatória. 
 
 
 
 
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 Sentenças Absolutórias são aquelas em que o juiz julga improcedente o pedido do autor, absolvendo o 
réu por uma das hipóteses indicadas no art. 386 do CPP (inexistência do fato, o fato não constitui crime, 
negativa de autoria, excludentes de ilicitude ou culpabilidade, insuficiência de provas etc.). 
Quando a sentença absolve o réu por uma excludente de culpabilidade ou causa de isenção de pena, mas re-
conhece que o mesmo detém certa periculosidade para a sociedade, diz-se que houve uma absolvição imprópria, 
pois o juiz o absolve, mas aplica a medida de segurança, determinando que o réu permaneça em tratamento. Este 
tratamento pode chegar a uma internação no manicômio judiciário. Se o motivo da absolvição for qualquer outro 
(não sendo aplicada Medida de Segurança), diz-se que a sentença é de absolvição própria. 
 
8.2. Requisitos ou partes da sentença 
 
No Processo Penal, a sentença , no Processo de Conhecimento ou Cognição, possui o nome de DENÚN-
CIA ou de QUEIXA-CRIME, dependendo se o crime é de ação penal de iniciativa pública ou privada. 
Nos termos do art. 41 do Código de Processo Penal, são REQUISITOS DA DENÚNCIA OU DA QUEIXA-CRIME: 
Art. 381. A sentença conterá: 
I - os nomes das partes ou, quando não possível, as indicações necessárias para identificá-las; 
II - a exposição sucinta da acusação e da defesa; 
III - a indicação dos motivos de fato e de direito em que se fundar a decisão; 
IV - a indicação dos artigos de lei aplicados; 
V - o dispositivo; 
VI - a data e a assinatura do juiz. 
 
Relatório (art. 381, I e II, do CPP) 
A sentença deve apresentar um histórico do que ocorreu no processo, com a indicação do número do pro-
cesso, do nome e identificação das partes, um resumo da acusação, a data do recebimento da exordial, um resu-
mo das teses de defesa do réu, e um resumo da instrução, com a indicação das provas colhidas. 
A ausência do relatório torna nula a sentença, salvo se houver sido proferida nos Juizados Especiais Cri-
minais, onde o relatório é dispensável (art. 81, § 3o., da Lei 9.099/95). 
 
Fundamentação ou motivação (art. 381, III e IV, CPP) 
É na fundamentação que o juiz demonstra as razões do seu convencimento, devendo utilizar-se das pro-
vas existentes nos autos para concluir sobre a aplicação das normas legais. Esta é a parte mais relevante da sen-
tença, através da qual as partes e a própria sociedade exercem o controle da decisão proferida, verificam o res-
peito aos princípios da imparcialidade e igualdade, bem como se restaram consagrados o contraditório, a ampla 
defesa e demais garantias necessárias ao devido processo legal. 
O Código de Processo Penal não apresenta maiores explicações sobre o que seria necessário à funda-
mentação da sentença. Contudo, o novo Código de Processo Civil (Lei 13.105/2015) muito bem abordou o tema 
em seu art. 489, motivo pelo qual entendemos deva, tal dispositivo, ser aplicado subsidiariamente ao processo 
penal. 
 
Dispositivo (art. 381, V, CPP) 
É o desfecho da sentença, ou seja, o momento em que o juiz apresenta a conclusão de seu raciocínio do 
julgador, acolhendo ou não o pedido da exordial. O dispositivo é a parte conclusiva dos fundamentos apresenta-
dos na fundamentação, devendo estar de acordo com esta. 
 
Autenticação (art. 381, VI, CPP) 
A validação da sentença somente ocorrerá com a aposição de data, nome e assinatura do juiz. 
 
8.3. Sentença vazia, sentença suicida e sentença autofágica 
 
Estes são conceitos comumente utilizados no processo penal, os quais precisam ser diferenciados. 
Chamamos de sentença vazia aquela desprovida de fundamentação. A sentença vazia é absolutamente nula, 
devendo ser arguida tal nulidade como preliminar na apelação. 
A sentença é suicida quando dispositivo e fundamentação são contraditórios. Esta contrariedade poderá 
ser atacada através de embargos de declaração. Não havendo modificação através do julgamento dos embargos 
pelo próprio juiz sentenciante, deverá a contrariedade ser arguida como preliminar de nulidade na apelação. 
Não podemos confundir sentença suicida com sentença autofágica. Entende-se por sentença autofágica ou efeito 
autofágico da sentença a hipótese em que o juiz, embora considerando a existência do crimee a culpabilidade do 
réu, reconhece extinta a sua punibilidade por algum motivo. Como exemplos podemos citar a sentença em que o 
 
 
 
 
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juiz concede o perdão judicial, ou ainda aquela em que, após ter condenado o agente, o juiz declara a prescrição 
pela pena concretamente aplicada. 
 
 
9. RECURSOS EM ESPÉCIE 
 
9.1. Princípios 
 
9.1.1. Taxatividade 
O princípio da taxatividade determina que os recursos devem estar expressamente previstos em lei, não 
sendo possível a adoção da analogia em matéria recursal. Exatamente por tal motivo, no processo penal, vigora a 
regra da irrecorribilidade das interlocutórias, uma vez que, ausente a previsão de recurso na norma processual 
penal para a maioria das decisões dessa natureza, impossível utilizarmos, por exemplo, o agravo do processo 
civil. 
 
9.1.2. Unirrecorribilidade 
Unirrecorribilidade significa dizer que de cada decisão só caberá a interposição de um único recurso. Se 
houver previsão legal de dois ou mais recursos para uma mesma decisão, deve-se optar pelo mais amplo ou o 
mais benéfico. 
 
9.1.3. Fungibilidade 
Dispõe o art. 579 do CPP: 
Art. 579. Salvo a hipótese de má-fé, a parte não será prejudicada pela interposição de um recurso por 
outro. 
Parágrafo único. Se o juiz, desde logo, reconhecer a impropriedade do recurso interposto pela parte, 
mandará processá-lo de acordo com o rito do recurso cabível. 
 
Assim, a parte não será prejudicada pelo erro na interposição de um recurso distinto daquele que estaria 
previsto em lei, devendo o magistrado admitir o recurso como se fosse o recurso cabível no caso concreto. 
Contudo, o princípio da fungibilidade, como ocorre também no Processo Civil, tem exceções: a má-fé e o 
erro grosseiro. Exemplo de má-fé seria a utilização de um recurso com maior prazo de interposição porque perdi-
do o prazo do recurso realmente cabível. Neste exemplo, o juiz não aplicará a fungibilidade. 
 
9.1.4. Voluntariedade (Disponibilidade - ?) 
Dispõe o art. 574 do CPP: 
Art. 574. Os recursos serão voluntários, excetuando-se os seguintes casos, em que deverão ser interpos-
tos, de ofício, pelo juiz: 
I - da sentença que conceder habeas corpus; 
II - da que absolver desde logo o réu com fundamento na existência de circunstância que exclua o crime 
ou isente o réu de pena, nos termos do art. 411. 
 
Como já indicado, recursos têm natureza jurídica de desdobramento do direito de ação ou do desdobra-
mento do direito de defesa, assim mais do que justificável o princípio da voluntariedade dos recursos, uma vez 
que o interesse em desdobrar o direito de ação e insistir na pretensão deduzida no pedido de condenação é do 
autor. Da mesma forma, quem tem interesse em continuar resistindo à pretensão deduzida é o réu. 
Conclui-se que quem pode recorrer são as partes, uma vez que seriam os interessados na reforma de 
uma decisão. 
O art. 574, entretanto, menciona hipóteses de recurso de ofício por parte do juiz. Ora, juízes, embora su-
jeitos da relação processual, não são partes, e também não possuem interesse em que suas próprias decisões 
sejam reformadas. Assim, o que o Código chama de recurso é, em verdade, considerada condição suspensiva da 
eficácia da decisão, reexame necessário ou duplo grau de jurisdição obrigatório. 
Portanto, quem recorre é a parte, que detém voluntariedade na interposição dos recursos (recorre se qui-
ser, se houver interesse na reforma da decisão proferida). 
Mesmo o Ministério Público, que no momento da propositura da ação é regido pelo princípio da obrigatori-
edade, não está obrigado a recorrer. O recurso do Ministério Público também depende do interesse do mesmo 
na reforma da decisão, seja enquanto parte autora, seja enquanto custos legis. 
No entanto, voluntariedade e disponibilidade nem sempre andam de mãos dadas, para o réu, e também 
para o ofendido na hipótese de ação penal privada, o recurso é disponível, mas para o Ministério Público na hipó-
tese de ação penal pública, vigora a INDISPONIBILIDADE, conforme preleciona o art. 576 do CPP. 
 
 
 
 
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Art. 576. O Ministério Público não poderá desistir de recurso que haja interposto. 
 
Assim, recursos são sempre voluntários para as partes. Da mesma forma, e em consequência à voluntari-
edade, recursos são disponíveis tanto para o réu quanto para o ofendido, na ação penal privada. Entretanto, tal 
disponibilidade não atinge o MP, para quem o recurso, se interposto, será indisponível. 
 
9.1.5. Personalidade 
O princípio da personalidade dos recursos, tão marcante no processo civil, é de certa forma mitigado no 
Processo Penal. 
Importante destacar que no Processo Penal o sistema é favorável ao réu. Na verdade, favorável à liberda-
de, e muito embora somente um indivíduo tenha apelado da decisão, se o tribunal der provimento ao recurso por 
critérios objetivos. Portanto, não havendo critérios pessoais, a decisão benéfica aproveitará os demais réus, 
ainda que os mesmos não tenham recorrido. 
Na verdade, a personalidade dos recursos acaba por só atingir a acusação, tendo marcante exceção na 
extensibilidade das decisões benéficas, o que é garantido pelo art. 580 do CPP. 
Art. 580. No caso de concurso de agentes (Código Penal, art. 25), a decisão do recurso interposto por um 
dos réus, se fundado em motivos que não sejam de caráter exclusivamente pessoal, aproveitará aos ou-
tros. 
 
A extensibilidade das decisões benéficas também alcança Habeas Corpus e Revisão Criminal. 
 
9.1.6. Proibição da Reformatio in Pejus 
No Processo Penal, em regra, quando o autor recorre, desdobra o mesmo o direito de ação e, portanto, 
tudo que ocorreu no curso do processo em decorrência do direito de ação é devolvido ao Tribunal. 
Contudo, quando somente o réu apela, ele está desdobrando seu direito de defesa e, em consequência, 
somente a matéria de defesa é devolvida para o tribunal, motivo pelo qual “ne reformatio in pejus” ou “non re-
formatio in pejus”, ou seja, está proibida a reforma para pior. 
O princípio da proibição da reformatio in pejus é consagrado no art. 617 do CPP e possui incidência direta 
ou indireta. 
Art. 617. O tribunal, câmara ou turma atenderá nas suas decisões ao disposto nos arts. 383, 386 e 387, 
no que for aplicável, não podendo, porém, ser agravada a pena, quando somente o réu houver apelado da 
sentença. 
 
 
9.1.7. Dialeticidade 
Os recursos são dialéticos. Na verdade, o processo é um processo de partes, que possuem, a princípio, 
interesses antagônicos. Daí a dialeticidade que impõe seja garantido o contraditório e a ampla defesa. 
A dialeticidade está, tecnicamente, associada à ideia de motivação, sendo necessário garantir-se, através 
das razões e das contrarrazões, o exercício do contraditório também durante a fase recursal. 
Assim, embora o Código de Processo Penal preveja, no art. 601, que o recurso de apelação possa subir 
independentemente das razões, tal entendimento ofende, frontalmente, a dialeticidade e o contraditório, enten-
dendo-se, após a Constituição de 1988, a imprescindibilidade das mesmas. 
 
 
9.2. Apelação 
 
9.2.1. Cabimento 
 
É cabível o recurso de apelação nas seguintes hipóteses: decisões definitivas, absolutórias ou condenató-
rias proferidas pelo juiz singular (art. 593, inc. I, do CPP); decisões definitivas em sentido estrito e decisões com 
força definitiva (que não configurem sentenças absolutória ou condenatória - art. 593, inc. II, do CPP), desde que 
não caiba Recurso em Sentido Estrito; e das sentenças proferidas no Tribunal do Júri (art. 593, inc. III, do CPP). 
 
9.2.2. Forma e prazo de interposição 
 
A apelação pode ser interposta por petição, elaborada por advogado ou defensor, ou por termo nos autos. 
Ou seja, o réu pode, ele próprio, apelar por termo nos autos. Trata-se da consagração da autodefesa.Quando o 
próprio réu apela, o juiz, admitindo o recurso, intimará o advogado constituído, caso exista, para apresentação de 
 
 
 
 
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razões recursais. Lembrando que no Processo Penal o prazo de interposição é geralmente distinto do prazo das 
razões. 
O procedimento recursal para Apelação possui uma duplicidade de prazo. Há o prazo de interposição (5 
dias) e um prazo diferenciado para a apresentação das razões recursais (8 dias). Assim, uma vez interposto tem-
pestivamente o recurso de apelação, sendo o mesmo admitido pelo juiz a quo, mandará o magistrado intimar o 
recorrente para apresentação das razões recursais. 
O prazo para as razões recursais é impróprio, devendo as mesmas serem admitidas ainda que apresenta-
das fora do prazo estipulado na lei. Apresentadas as razões, o juiz intimará o recorrido para a apresentação de 
suas contrarrazões. 
A única exceção a essa duplicidade de prazos é observada nos Juizados Especiais, uma vez que a Lei 
9.099/95 estabelece prazo de 10 (dez) dias, com razões inclusas. 
O Código de Processo Penal estabelece serem as razões recursais dispensáveis. Hoje, entretanto, o me-
lhor entendimento é o de que, face o contraditório e a ampla defesa constitucionalmente garantidos, devam as 
mesmas ser apresentadas. Admite ainda o CPP a apresentação das razões na segunda instância, o que deve ser 
indicado na petição de interposição. 
 
9.2.3. Proibição da reformatio in pejus, reformatio in pejus indireta e Reformatio in mellius 
 
Devemos nos lembrar de que a apelação é um recurso que, em regra, devolve toda a matéria ao tribunal, 
em consequência de uma interposição genérica (apelação plena). Contudo, como recurso da defesa tem natureza 
jurídica de desdobramento do direito de defesa, não seria razoável que a mesma, ao resistir à pretensão deduzida 
pela acusação, viesse a se prejudicar do recurso interposto. Consequentemente, está proibida a reformatio in 
pejus (art. 617 do CPP). Da mesma forma, está vedada a reformatio in pejus indireta, ou seja, se, em um recurso 
exclusivo da defesa, o tribunal reconhece e declara uma nulidade, devolvendo o processo ao juízo de 1º. grau, a 
nova sentença, válida, não poderá ser mais gravosa ao réu que aquela que foi declarada nula. 
A proibição da reformatio in pejus chega, inclusive, a ter repercussões em recursos da acusação, confor-
me se observa da Súmula 160 do STF, que impede que a acusação se beneficie da própria torpeza: 
 
Súmula 160 do STF - É nula a decisão do tribunal que acolhe, contra o réu, nulidade não arguida no re-
curso da acusação, ressalvados os casos de recurso de ofício. 
 
 
 
Resumindo: está proibida a reformatio in pejus 
Quando somente a defesa recorre, não será possível a piora da decisão, direta ou indiretamente. 
Além disso, ainda que o recurso seja interposto pela acusação, se esta não arguir nulidade, a mesma não poderá 
ser reconhecida em prejuízo do réu. 
 
Mas a recíproca não é verdadeira, quando o recurso é interposto exclusivamente pela acusação, como foi 
desdobrado o direito de ação, toda a matéria existente no processo é devolvida ao tribunal, que poderá, ainda que 
o recurso tenha por objetivo agravar a situação do réu, beneficiá-lo. Ocorre, neste caso, a reformatio in mellius. 
Apesar do firme entendimento doutrinário, do Superior Tribunal de Justiça e dos Tribunais inferiores no 
sentido da possibilidade da reformatio in mellius, o Supremo Tribunal Federal nunca foi a ela muito favorável. A 
Suprema Corte sempre entendeu que a reformatio in mellius acarretaria violação ao princípio da isonomia, com-
preendendo que se a defesa não pode prejudicar-se de seu recurso, deveria tal direito ser igualmente garantido à 
acusação. 
Além disso, ainda que o STF seja contrário à aplicação da reformatio in mellius, fato é que reconhecida 
eventual ilegalidade de decisão que acarrete ameaça ou cerceamento da liberdade, o STF, ainda que contrário à 
reformatio in mellius, concederá habeas corpus de ofício para assegurar ao réu o direito que eventualmente pos-
sua. 
 
9.2.4. Apelação nos juizados especiais criminais 
 
A apelação nos Juizados Especiais Criminais está prevista no art. 82 da Lei 9.099/95: 
 
Art. 82. Da decisão de rejeição da denúncia ou queixa e da sentença caberá apelação, que poderá ser jul-
gada por turma composta de três Juízes em exercício no primeiro grau de jurisdição, reunidos na sede do 
Juizado. 
 
 
 
 
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§ 1º A apelação será interposta no prazo de dez dias, contados da ciência da sentença pelo Ministério 
Público, pelo réu e seu defensor, por petição escrita, da qual constarão, as razões e o pedido do recorren-
te. 
§ 2º O recorrido será intimado para oferecer resposta escrita no prazo de dez dias. 
§ 3º As partes poderão requerer a transcrição da gravação da fita magnética a que alude o § 3º do art. 65 
desta Lei. 
§ 4º As partes serão intimadas da data da sessão de julgamento pela imprensa. 
§ 5º Se a sentença for confirmada pelos próprios fundamentos, a súmula do julgamento servirá de acór-
dão. 
 
Não há grandes diferenças entre esta modalidade de apelação e aquela prevista no CPP, salvo em rela-
ção ao prazo e forma de interposição. 
Na Lei 9.099/95, o prazo da apelação é de 10 dias, não existindo prazo diferenciado para a apresentação 
das razões. São, portanto, 10 dias para a interposição com as razões recursais já inclusas. 
Importantíssimo ressaltar que a apelação do art. 82 da Lei 9.099/95 é cabível da decisão que homologa a 
transação penal (art. 76, § 5o., da lei), da rejeição da denúncia ou queixa e da sentença. 
 
9.3. Recurso em sentido estrito 
 
9.3.1. Cabimento 
 
O Recurso em Sentido Estrito é taxativo, numerus clausus, não admitindo interpretação analógica ou ex-
tensiva. No entanto, atualmente, vigora o entendimento de que, embora não seja possível interpretação extensiva 
e analogia, é possível a interpretação lógica e sistemática de seus incisos. Por tal motivo, entende-se que, apesar 
de não previstas no art. 581 do CPP, seria cabível o recurso em sentido estrito das decisões de rejeição do adita-
mento à denúncia, de indeferimento de prisão temporária e da decisão que concede a suspensão condicional do 
processo do art. 89 da Lei 9.099/95. 
 
Art. 581. Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou sentença: 
I - que não receber a denúncia ou a queixa; 
II - que concluir pela incompetência do juízo; 
III - que julgar procedentes as exceções, salvo a de suspeição; 
IV – que pronunciar o réu; 
V - que conceder, negar, arbitrar, cassar ou julgar inidônea a fiança, indeferir requerimento de prisão pre-
ventiva ou revogá-la, conceder liberdade provisória ou relaxar a prisão em flagrante; 
VI - (Revogado pela Lei nº 11.689, de 2008) 
VII - que julgar quebrada a fiança ou perdido o seu valor; 
VIII - que decretar a prescrição ou julgar, por outro modo, extinta a punibilidade; 
IX - que indeferir o pedido de reconhecimento da prescrição ou de outra causa extintiva da punibilidade; 
X - que conceder ou negar a ordem de habeas corpus; 
XI - que conceder, negar ou revogar a suspensão condicional da pena; 
XII - que conceder, negar ou revogar livramento condicional; 
XIII - que anular o processo da instrução criminal, no todo ou em parte; 
XIV - que incluir jurado na lista geral ou desta o excluir; 
XV - que denegar a apelação ou a julgar deserta; 
XVI - que ordenar a suspensão do processo, em virtude de questão prejudicial; 
XVII - que decidir sobre a unificação de penas; 
XVIII - que decidir o incidente de falsidade; 
XIX - que decretar medida de segurança, depois de transitar a sentença em julgado; 
XX - que impuser medida de segurança por transgressão de outra; 
XXI - que mantiver ou substituir a medida de segurança, nos casos do art. 774; 
XXII - que revogar a medida de segurança;XXIII - que deixar de revogar a medida de segurança, nos casos em que a lei admita a revogação; 
XXIV - que converter a multa em detenção ou em prisão simples. 
 
Contudo, devemos ressaltar que nas hipóteses dos incisos XII, XVII, XIX, XX, XXI, XXII e XXIII, todos inci-
dentes da execução, não mais cabível o recurso em sentido estrito, e sim o agravo em execução do art.197 da Lei 
de Execuções Penais, face o princípio da especialidade. 
 
 
 
 
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Já no inciso XI (que conceder, negar ou revogar a suspensão condicional da pena), dependerá do mo-
mento em que a decisão for proferida. Se proferida no ‘corpo’ da sentença condenatória, o recurso cabível será 
apelação, mas se proferida durante o processo de execução, cabível o agravo do art. 197 da LEP. 
Quanto ao inciso XXIV (que converter a multa em detenção ou em prisão simples), referida conversão foi 
banida do ordenamento jurídico, devendo a aberrante decisão ser atacada via habeas corpus. 
 
9.3.2. Prazo (5 dias para interpor e 2 para razões e contrarrazões ) 
 
Como indicado anteriormente, o prazo no Processo Penal é, na apelação, no recurso em sentido estrito e 
no agravo em execução, dúplice, existindo o momento para interposição, que no recurso em sentido estrito é de 5 
(cinco) dias, e uma vez interposto o recurso, se admitido, o juiz determinará a intimação do recorrente para apre-
sentar razões em 2 (dois) dias. Apresentadas as razões, o juiz intimará a parte contrária (recorrida), para apresen-
tar as contrarrazões, também em 2 (dois) dias. 
 
9.3.3. Juízo de retratação (em dois dias após razões e contrarrazões) 
 
O procedimento do recurso em sentido estrito possui o efeito iterativo ou regressivo, significa que ele tem 
juízo de retratação. Assim, uma vez interposto o recurso em sentido estrito, o juiz, após apresentadas as razões e 
contrarrazões, levará os autos conclusos para retratar-se da decisão, devendo fazê-lo dentro de 2 dias. 
 
 
 
 
 
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9.4. Agravo em Execução (art. 197 da LEP) 
 
Dispõe o art. 197 da Lei de Execuções Penais (Lei 7.210/84): 
Art. 197. Das decisões proferidas pelo Juiz caberá recurso de agravo, sem efeito suspensivo. 
 
Importante lembrar que, com o advento da Lei de Execuções Penais, os incisos XI, XII, XVII, XIX, XX, XXI, XXII, 
XXIII e XIV do art. 581 do CPP foram derrogados. 
Como verificamos, embora a LEP faça previsão do agravo para qualquer decisão proferida pelo Juízo de Execu-
ções, não trouxe aquela lei qualquer previsão de procedimento. Como o agravo acabou por substituir hipóteses 
antes elencadas no art. 581 do CPP, que trata do recurso em sentido estrito, adota-se para o agravo de execução 
o procedimento previsto para aquele recurso. 
Neste sentido manifestou-se o STF na Súmula 700: 
 
Súmula 700 do STF - É de cinco dias o prazo para interposição de agravo contra decisão do juiz da exe-
cução penal. 
 
 
9.5. Embargos no processo penal 
 
9.5.1. Embargos de declaração 
 
Não existem diferenças excepcionais ou preocupações com os embargos de declaração no Processo Pe-
nal, sendo o tratamento a tal recurso o mesmo que aquele a ele dispensado no Processo Civil, ou seja, cabível 
quando houver omissão, dúvida ou ambiguidade na decisão. 
A diferença entre Processo Civil e Processo Penal ocorre apenas no prazo de oposição dos embargos. No 
Processo Penal, o prazo para oposição dos Embargos de Declaração é de 2 (dois) dias. Entretanto, na Lei 
9.099/95, o prazo é de 5 dias. 
Contudo, o CPP foi omisso no tocante aos efeitos dos embargos de declaração sobre o prazo do outro re-
curso. Diante da omissão do CPP, o art. 3º nos remete à aplicação subsidiária Código de Processo Civil. Assim, 
de acordo com a posição majoritária, uma vez opostos os Embargos de Declaração o prazo para a apelação é 
interrompido. 
Exceção ocorre no caso de decisões proferidas em sede de Juizados Especiais, já que a Lei 9.099/95 é 
expressa, indicando que haverá suspensão do prazo para apelar. 
 
9.5.2. Embargos infringentes e de nulidade: efeitos 
 
Trata-se de um recurso exclusivo da defesa, somente sendo possível sua interposição ou oposição em fa-
vor do réu. 
Em um primeiro momento, portanto, somente o réu seria legitimado para os embargos infringentes, embo-
ra haja posicionamento de que o Ministério Público, enquanto custos legis, também teria legitimidade. Contudo, 
ainda que possível, deve ficar claro que somente poderá ser interposto em benefício do réu. 
O prazo para oposição dos Embargos Infringentes e de Nulidade é de 10 dias, com razões inclusas. 
Os Embargos Infringentes e de Nulidade têm os mesmos efeitos da Apelação. Contudo, o efeito devolutivo 
nos Embargos Infringentes e de Nulidade restringe-se ao voto vencido, que será reanalisado por um colegiado 
composto por cinco desembargadores. 
 
9.5.3. Embargos de divergência: Cabimento; legitimidade; efeitos 
 
Os Embargos de Divergência dependem da interposição de um Recurso Extraordinário ou de um Recurso 
Especial, ou ainda de processos de competência originária dos tribunais superiores. Quando duas Turmas diver-
gem em relação ao tema, possível Embargos de Divergência para o pleno. Aplicam-se as regras do Código de 
Processo Civil quando não houver disposição expressa na Lei no. 8.038/90 ou Regimento Interno dos Tribunais. 
 
9.5.4. Embargos infringentes nos processos de competência originária do STF (art. 333 do RISTF) 
 
 
 
 
 
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No julgamento da Ação Penal Originária no. 470, o STF decidiu, por maioria, pelo cabimento do recurso de 
Embargos Infringentes previsto no art. 333 do seu Regimento Interno (RISTF) aos casos em que, nos processos 
de sua competência originária, existirem 4 (quatro) votos vencidos favoráveis ao réu. 
Lembrando que são processos de competência originária aqueles em que o acusado, em razão da prerro-
gativa de função, é julgado diretamente pelo tribunal para o qual possui a prerrogativa. Nestes casos, aplica-se o 
procedimento previsto nos artigos 1o. a 12 da Lei no. 8.038/90, e o réu perde o direito a apelar. 
Contudo, com o novo entendimento do STF, quando o réu for julgado no próprio STF em razão da prerro-
gativa, embora não haja chance de apelação, ainda será cabível a oposição dos embargos infringentes se 4 (qua-
tro) dos Ministros da Corte proferirem votos favoráveis aos acusados. Vejamos o que dispõe o art. 333 do RISTF: 
 
Art. 333. Cabem embargos infringentes à decisão não unânime do Plenário ou da Turma: 
I – que julgar procedente a ação penal 
Parágrafo único. O cabimento dos embargos, em decisão do Plenário, depende da existência, no mínimo, 
de quatro votos divergentes, salvo nos casos de julgamento criminal em sessão secreta. 
 
E o art. 334 do RISTF dispõe que: 
 
Art. 334. Os embargos de divergência e os embargos infringentes serão opostos no prazo de quinze dias, 
perante a Secretaria, e juntos aos autos, independentemente de despacho. 
 
Contudo, importante ressaltar que os referidos embargos infringentes, que em nenhum momento se con-
fundem com o recurso de mesmo nome previsto pelo CPP, só é possível nos casos em que o acusado dotado da 
prerrogativa de função seja julgado pelo Plenário do STF, não sendo admissível no caso de julgamento pelas 
Turmas. 
Atualmente, somente são julgados pelo Plenário do STF os detentores dos cargos indicados no inciso I do 
art. 5o do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal (RISTF): 
 
Art. 5º. Compete ao Plenário processar e julgar originariamente: 
I – nos crimes comuns, o Presidente da República, o Vice-Presidente da República, o Presidente do Se-
nado Federal, o Presidente da Câmara dos Deputados, os Ministros do Supremo Tribunal Federal e o 
Procurador-Geral da República, bem como apreciarpedidos de arquivamento por atipicidade de conduta; 
 
9.6. Carta testemunhável 
 
A carta testemunhável encontra-se prevista nos art. 639 e seguintes do CPP, dos quais destacamos: 
 
Art. 639. Dar-se-á carta testemunhável: 
I - da decisão que denegar o recurso; 
II - da que, admitindo embora o recurso, obstar à sua expedição e seguimento para o juízo ad quem. 
Art. 640. A carta testemunhável será requerida ao escrivão, ou ao secretário do tribunal, conforme o caso, 
nas quarenta e oito horas seguintes ao despacho que denegar o recurso, indicando o requerente as peças 
do processo que deverão ser trasladadas. 
Art. 644. O tribunal, câmara ou turma a que competir o julgamento da carta, se desta tomar conhecimen-
to, mandará processar o recurso, ou, se estiver suficientemente instruída, decidirá logo, de meritis. 
 
Ressalte-se que deve a parte utilizar a carta testemunhável quando, interposto um recurso, não for o 
mesmo admitido, ou, sendo o mesmo admitido, quando o juiz não providenciar sua subida. 
Entretanto, é importante lembrar que só será possível a utilização da carta testemunhável quando não 
houver outro recurso previsto para a hipótese. Veja o seguinte exemplo: interposta apelação, se o juiz a quo não a 
admite, cabível recurso em sentido estrito, diante de sua previsão no art. 581, inc. XV, do CPP, e não carta teste-
munhável. Mas, do não recebimento do recurso em sentido estrito, para o que não há previsão de outro recurso, 
cabível carta testemunhável. 
Crítica existe sobre a verdadeira natureza jurídica da carta testemunhável, já que a mesma se presta, na 
verdade, a promover a análise do recurso interposto pelo tribunal, conforme se verifica do art. 644 do CPP. 
 
9.7. Correição Parcial ou Reclamação 
 
A regra no Processo Penal é a irrecorribilidade das decisões interlocutórias simples, embora possa haver 
previsão legal de recurso em sentido estrito nestas hipóteses. Contudo, o recurso em sentido estrito é taxativo, 
 
 
 
 
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não admitindo interpretação extensiva ou analogia. Quando a decisão for interlocutória simples e não houver pre-
visão legal de recurso em sentido estrito e referida decisão ofender os preceitos que regem o regular processo, 
será possível a utilização da correição parcial ou reclamação prevista no Regimento Interno dos Tribunais. 
 
Assista aos vídeos relativos às NULIDADES: 
 
https://www.youtube.com/watch?v=KpIFPWWbhGA 
https://www.youtube.com/watch?v=vaTk9_6BzT4 
https://www.youtube.com/watch?v=YGztd9NKk4c 
https://www.youtube.com/watch?v=YJyNHebQy44 
https://www.youtube.com/watch?v=HVYqoOiySHs 
 
Se possível, assista aos vídeos sobre Sentença: Emendatio e Mutatio Libelli também em meu canal do 
YouTube Ana Cristina Mendonça. 
 
https://www.youtube.com/user/anacristinamendonca 
 
 
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