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PESQUISA DE CAMPO Aparelhagem

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1. Introdução
1.1 Contribuição Antropológica. 
1.2 A importância do olhar clínico para operadores do Direito.
2. Experiência Etnográfica.
2.1 As luzes, as cores e o subconsciente nas festas de aparelhagem.
2.2 A mistura de músicas como interação social.
2.3 As microrrelações nas festas de aparelhagem e o sentimento de reciprocidade à luz de Malinowski. 
2.4. A moda como forma de linguagem corporal, cultural e pessoal.
3. Relação com Direito: Antropologia Jurídica.
3.1 A Constituição Federal e as normas jurídicas dos segmentos culturais.
3.2 A Lei nº 13.106/15 – Antifumo, venda e consumo de álcool para menores.
3.3 A relação do Direito e a Economia nas festas de aparelhagem.
3.4 A efetividade das leis anti-drogas em clubes noturnos e boates.
3.5 A questão trabalhista e as festas de aparelhagem.
3.6 A infração às Leis Ambientais nas festas de aparelhagem.
4. Considerações Finais / Conclusão
REFE
RÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.
Etnografia Jurídica na Festa de Aparelhagens – Crocodilo Prime
Aline Farias Santos[1: Discente do 1º semestre, turma DIR1N1, e-mail: sfariasaline@gmail.com]
Ana Paula Nunes dos Santos [2: Discente do 1º semestre, turma DIR1N1, e-mail: anapaulanunes2800@gmail.com]
André Luís Faria Nunes[3: Discente do 1º semestre, turma DIR1N1, e-mail: andrefnunes@_hotmail.com]
Daiany Ferreira [4: Discente do 1º semestre, turma DIR1N1, e-mail: ]
David Brito[5: Discente do 1º semestre, turma DIR1N1, e-mail: davidbrito126@gmail.com]
Joyce Coelho da Silva [6: Discente do 1º semestre, turma DIR1N1, e-mail: joyce_coelhinha@hotmail.com]
Paula D’ Fátima Ferreira Cordeiro [7: Discente do 1º semestre, turma DIR1N1, e-mail: paulaferreira182418@gmail.com]
Rafael Santos Brito [8: Discente do 1º semestre, turma DIR1N1, e-mail: silverbdk@gmail.com]
Tamires Karoline Menezes Salomão [9: Discente do 1º semestre, turma DIR1N1, e-mail: tamiresmenezes@oab.org.br]
RESUMO
Este trabalho tem como escopo a pesquisa de campo etnográfica jurídica na Festa de Aparelhagens, no evento Crocodilo Prime, realizado no dia 18 abril de 2019, para captar a realidade social, desse modo, desmitificar estigmas concernentes em relação a esse tipo de festa. Ademais, a contribuição valorosa dessa etnografia utilizada reside nos subsídios que o pesquisador obtém após sua realização, como essencialmente a pesquisa em campo tende a revelar o todo de uma realidade, operador do Direito estará apto a lidar com mais diversas situações em seu ofício, principalmente na busca da justiça. Ressalta-se que o trabalho alcança vários temas que gravitam pela festa desde das luzes, cores, música a linguagem corporal até temas referentes ao ordenamento jurídico como lei antifumo, leis antidrogas e leis ambientais. 
Palavras- Chaves: Festa de Aparelhagens – Crocodilo Prime – Etnografia Jurídica – Realidade Social – Justiça – Ordenamento Jurídico 
1. INTRODUÇÃO
O presente estudo tem como objetivo de expor a contribuição elementar da etnografia que reside na abordagem fidedigna da realidade social, isso nos possibilita, como pesquisadores ou simplesmente na condição de cidadãos, de não recorrermos às abstrações. Essa percepção etnográfica é de suma relevância para diversos campos de pesquisa, notadamente no Direito, cujo é o ramo de nosso estudo, pois permite subsídios para quando nos depararmos com circunstâncias que julgamos alheias ao nosso cotidiano. Ou seja, etnografia nos capacitará de forma honesta de como proceder diante das adversidades em nossas eventuais profissões, sejam elas como advogados, juízes, delegados e etc. De tal forma, isso caracteriza a justificativa do trabalho.
 Desse modo, é necessário ir a campo para nos colocarmos na posição de “observadores participantes”, postura esta que é amplamente deliberada e defendida em trabalhos de métodos qualitativos na seara acadêmica. Nesse sentido, a autora Valladares (2007) baseada no livro Street corner Society de William Foote Whyte preconiza alguns mandamentos que observador participante deve obedecer, dentre eles, está a sensação inicial de desconhecimento por parte do pesquisador, de tal maneira que não sabe de antemão onde está “aterrissando”, logo cairá de “paraquedas” no território a ser analisado. Além do mais, o pesquisador não está sendo esperado pelo grupo, sendo assim, sugerir que mantém o controle da situação, seria um equívoco. Calha citar esse mandamento, uma vez que, de modo sumário, esse sentimento foi experimentado por nossa equipe. 
Seguindo o propósito etnográfico, a autora Mabel Salles (2013) firmada no texto Relativizando: introdução à antropologia social de Roberto da Matta sintetiza que o pesquisador se isola de sua sociedade para fazer parte de outra, quase como se fosse uma espécie de ressocialização, renegando, assim, seus preconceitos, transformando o exótico em familiar. Com esse fim, nos propusemos aceitar o desafio de ir até então ao exótico, com objetivo de transformar em familiar. 
Assim, o nosso objeto de pesquisa foi a Festa Popular de Aparelhagens, com intuito de desmistificar as ideias preconcebidas que orbitam neste tema. A metodologia utilizada foi a pesquisa de campo realizada no dia 18 de abril de 2019, no local Clube Karibe Show, na festa do Crocodilo Prime com participações especiais de funk. Além disso, utilizamos a busca de dados etnográficos colhido através da observação individual e coletiva dos membros da equipe e um levantamento teórico, relacionando o tema à Antropologia Jurídica.
O trabalho proposto foi salutar na medida em que obtivemos experiências inestimáveis no que diz respeito ao nosso processo de reflexão e compreensão de mundo, e como isso nos impactará de modo oportuno em nossos futuros ofícios, nos permitindo uma sensibilidade que até então desconhecíamos.
1.1 CONTRIBUIÇÃO DA ANTROPOLOGIA
	A sociedade pós-moderna caracteriza-se pela sua complexidade aparente, o que denota a ausência de estabilidade e uniformização de pensamentos e comportamentos. Conforme Hall (2006), projetar a existência de um consenso entre os indivíduos nada mais é que um devaneio. Ou seja, não possuímos identidade fixa, essencial ou permanente. Desse modo, depreende-se o grau de heterogeneidade o qual estamos submetidos, além de nos indicar que precisamos compreender e conviver com as diversidades. 
Para isso, emerge a figura da antropologia, que contribui na avaliação das diferenças sociais, étnicas e outras com finalidades de fornecer alternativas de intervenção acerca da realidade social de modo a não negar as diferenças (GUSMÃO, 2008). Contudo, é interessante ressaltar que, a princípio, um trabalho antropológico de viés etnográfico não se estabelece de forma tão simplória quanto subentende ser, pois o pesquisador tem de se despir de concepções elaboradas, sobretudo aniquilar alguns estigmas recorrentes que existem na sociedade. 
Assim, como função de desmistificar estigmas, a antropologia é sinalizada pelo estranhamento e pela comparação. Ou seja, o estranhamento como habilidade do antropólogo de se abismar com questões entendidas como naturais e banais aos olhos dos demais pesquisadores, permitindo a relativização das categorias, fomentando inclusive a desconstrução de verdades. (COSTA, 2014). Dessa maneira, faz-se pertinente a recomendação de que a possibilidade de um estudo ser bem sucedido depende, sem dúvida, das particularidades inerentes aos próprios pesquisadores, que poderão ser mais inclinados ou aptos a trabalhar com maior ou grau de proximidade de seu objeto (VELHO, 2003).
Ademais, verifica-se a variável do multipertecimento que, de certa forma, faz-se presente na medida em que o pesquisador se relacionará com os mais diversos grupos. Segundo Machado (2004), o antropólogo por ter uma formação intelectual – transita por diversos mundos e, ao mesmo tempo, não é efetivamente englobado por nenhum, o que define o exercício fundamental do olhar criterioso. Então, é justamente esse multipertencimento do pesquisador é o quefaz com ele obtenha um “estranhamento crítico diante do próximo (p.18) ”. Isto é, evidencia-se que por mais que etnógrafo esteja em contato com vários segmentos da sociedade, inclusive, com o grupo à qual ele pertence, se agir prudentemente (com a devido distanciamento), por exemplo, saberá sufocar suas preferências a fim de manter-se imparcial. 
	 Salientar essas características pertencentes a um antropólogo demonstra um alto relevo na contribuição da antropologia para a compreensão da sociedade complexa, porque nos remete auferir que seu estudo não é produzido meramente baseado em generalizações, mas fundamentalmente em um trabalho que demanda a seriedade. Percebe-se, de tal modo, que sublinhar tais peculiaridades do antropólogo foi uma questão recorrentemente posta em debate, a exemplo de Malinowski (1978) já discorria sobre isso, bem como Oliveira (2000) expor os três recursos cognitivos imbrincados: olhar, escrever e ouvir. 
	Esses três momentos estratégicos de Oliveira (2000) descrevem o métier antropológico que abarca inicialmente o olhar, o qual inibe uma visão ingênua ou exótica. Esse primeiro exercício oferece uma leitura sensibilizadora e disponível, ainda que não seja possível captar necessariamente o todo. Por essa razão, usa-se o ouvir, de modo que alcança algo que tenha permanecido nas entrelinhas, além de ser incluso aqui o “observador participante” que dialogará e, por sua vez, ouvirá o que as pessoas ou som do ambiente tem a dizer. O último recurso é a escrita, a qual ocorre o processo de materialização do estudo, também requisita do antropólogo uma intensa reflexão, uma vez que a memória, para além das anotações, será um mecanismo bastante utilizado nessa fase. Assim se estabelece uma estruturação compreensível para pesquisa.
1.2 A IMPORTÂNCIA DO OLHAR CLÍNICO PARA OS OPERADORES DO DIREITO. 
	Como já mencionada, a antropologia fornece uma contribuição valorosa no sentido de avaliar as diferentes realidades sociais sedimentada no papel isento do pesquisador. Diante do exposto, é indispensável referenciar, do ponto vista da concretude da função antropológica, de que maneira categoricamente antropologia auxilia a sociedade. É seguro afirmar que existe uma interdisciplinar entre o estudo antropológico e demais ramos, sobretudo no Direito, que é âmbito deste trabalho. Essa interação, inicia-se, precisamente, na graduação com a pesquisa de campo para tais profissionais tenham formação em pesquisa e possam desenvolver estudos aprofundados ao invés de reverberar somente o que está decidido em tribunais (COSTA, 2014).
	Convém acentuar que os trabalhos em campos podem facilitar o Direito para compreender melhor as situações reais, percebendo com mais acerto a realidade e onde os direitos são aplicados, suas instituições, com o propósito de resolver uma das maiores críticas que o Direito recebe na atualidade que é o distanciamento das discussões jurídicas e legais do contexto fático, de modo afastado da sociedade (COSTA, 2014). 
Nesse sentido, o estudo antropológico, também, alavanca investigações interessantes ao permitir que Direito trate de forma mais aprofundada questões empíricas, além de projetar a chamada desnaturalização de suas formas de agir, dos seus conhecimentos e de suas instituições, desse modo, viabilizando uma maior interação com a população, promovendo, assim, o exercício da cidadania. (COSTA, 2014).
	Deduz-se, então, que um dos maiores êxitos da etnografia jurídica consiste nesta interlocução e transparência com a população. Além de ocasionar mudanças significativas, pois um trabalho etnográfico poder ser utilizado como base para formular uma eventual lei que venha posteriormente beneficiar a população, por exemplo. Há, também, possivelmente, maior benefício (na posição de estudantes) o cerne deste trabalho que é o fator sensibilizador o qual impactará e refletirá ações nesta sociedade tão plural como Stuart Hall (2006) defendeu.
	Com viés mais delineador em relação ao tema, a importância do olhar clínico para operadores do Direito nas Festas de Aparelhagens consiste na valorização do evento como mais um segmento que constitui a cultura paraense, questão essa de inteira importância de modo que a cultura é um direito do cidadão, devendo ser respeitada e protegida. Desse modo, valendo-nos de estudantes do curso de Direito para compreender esse universo das Festa de Aparelhagens, além de nos situar como cidadãos, também nos indica um conhecimento aprofundado de nossa região no sentido de preparamos para futuros ofícios que lograremos. Vale ressaltar que por estarmos habituados com algumas disciplinas é natural uma certa correlação de temáticas percebidas na Festa de Aparelhagens com, por exemplo, algumas leis. O que justamente legitima a preocupação de respeitar e proteger a cultura paraense, além de desmistificar estigmas.
	Ademais, essa preocupação tem uma razão de ser, já que o conceito de justiça no Brasil é passível de críticas, até mesmo indagação se existe efetivamente a justiça. Os autores Lima e Baptista (2013) explicam que é notório o descompasso sobre a justiça que o cidadão quer, a justiça que ele obtém do Poder Público. Para o fortalecimento do Estado Democrático de Direito, é necessário, retomando mais uma vez, o olhar clínico do operador do Direito, seja na sua função de advogado, juiz ou delegado, de modo a restabelecer a legitimidade das instituições que é altamente saudável para a democracia. 
2. A EXPERIÊNCIA ETNOGRÁFICA.
O local escolhido para efetuarmos a pesquisa de campo foi decidido pela equipe em uma reunião na terça-feira (09/04/2019) pelos membros presentes através da divulgação da produção do evento pelas mídias sociais, mais especificamente o Instagram e o Facebook. Segundo o flyer o evento, aconteceria uma festa de aparelhagem do Crocodilo Prime no recinto de festas, Karibe Show (Rod. Augusto Montenegro, 4960), dia 18 de abril de 2019, à partir das 22h30, contando com a presença e participação de diversos convidados, como o MC WM, MC Brizola, MC Nego Ney, MC Loiro, MC Gasparzinho, dentre outros DJs (disc jockeys) responsáveis pela dinâmica e interação com o público.
Apesar de todas as informações coletadas ao longo da semana, advindas de ideias preconcebidas e inverídicas, o evento mostrou-se de uma organização maior do que o esperado. Quanto a isso, devemos nos desconstruir sobre essas ideias preconcebidas, como o antropólogo pioneiro da pesquisa de campo, Bronislaw Malinowski diz em sua obra Argonautas do Pacífico (1978):
“Se alguém empreende uma missão, determinado a comprovar certas hipóteses, e se é incapaz de a qualquer momento alterar as suas perspectivas e de as abandonar de livre vontade perante as evidências, escusado é dizer que o seu trabalho será inútil. Mas quantos mais problemas ele levar para o campo, quanto mais habituado estiver a moldar as suas teorias aos factos e a observar estes últimos na sua relação com a teoria, em melhores condições se encontrará para trabalhar. As ideias preconcebidas são prejudiciais em qualquer trabalho científico, mas a prefiguração de problemas é o dom principal do investigador científico, e estes problemas são revelados ao observador, antes de mais, pelos estudos teóricos. “ (MALINOWISKI, 1978, p. 23)
Chegamos ao local por volta das 22h45min. À partir de então, continuamos o nosso olhar etnográfico – visto que já havíamos feito nossas pesquisas e problematizações para levar ao campo. Sobre a importância do olhar, Roberto Cardoso de Oliveira, em sua obra O trabalho do antropólogo: olhar, ouvir e escrever (2000), alerta:
“Talvez a primeira experiência do pesquisador de campo - ou no campo - esteja na domesticação teórica de seu olhar. Isso porque, a partir do momento em que nos sentimos preparados para a investigação empírica, o objeto, sobre o qual dirigimos o nosso olhar, já foi previamente alterado pelo próprio modo de visualiza-lo. Seja qual for esse objeto, ele não escapa de ser apreendido pelo esquema conceitual da disciplina formadora de nos são maneira de vera realidade.” (OLIVEIRA, 2000, p.19)
Mesmo no estacionamento de veículos mostra-se uma organização ao terem funcionários ou flanelinhas identificadas com um colete fluorescente que se encarregam de vigiar os carros em troca de algum “agrado” (dinheiro).
A princípio, todos aqueles que ainda não haviam comprado seus ingressos antecipados em locais de vendas distribuídos em Belém e Ananindeua, poderiam adquirir em uma fila na bilheteria – chamando-nos atenção ao primeiro ponto: a venda ilegal de ingressos por vendedores ambulantes, que muitas vezes, apenas com a lábia, convencem a compra em uma “promoção”, mas acabam revelando de outro evento, acarretando problemas para o comprador ilegal na entrada do Show.
A entrada organizava-se em duas filas – masculina e feminina -, em que dois seguranças na primeira porta, liberava a entrada de cinco pessoas por vez – revezando entre as filas -, afim de não sobrecarregar a próxima etapa da entrada. Somente na segunda etapa da entrada é que os ingressos eram recolhidos na porta de entrada do espaço, certificado a validade do ingresso pelos dois seguranças na porta que também solicitam um documento de identidade com foto. É exatamente nesta etapa que outro ponto nos saltam os olhos: a “peneira” que acontece quando os infratores menores de dezoito anos são proibidos de entrar, mesmo com um acompanhante legal (pai, irmão, tio, primo). Ainda assim, alguns conseguem entrar portando um documento de identidade falsificado e até mesmo, segundo relatos, de outra pessoa; falsidade ideológica.
Entramos no recinto enquanto ainda haviam poucas pessoas, que prontamente distribuíram-se pelo salão acomodando-se em uma área que cumprisse com suas expectativas – geralmente próximo as caixas de som ou do palco, com uma mesa e cadeiras, ou mesmo direcionando aos camarotes e cabines de entrada restrita (“VIP”). O primeiro olhar das pessoas é o de reconhecimento do ambiente em que irão se instalar, como a proximidade do bar, dos banheiros, da saída, de mesas e mesmo das pessoas que estão próximas. A troca de olhares entre os grupos é o primeiro sinal de reconhecimento que irá determinar a partir de ideias preconcebidas e por afinidade, se causará um “estranhamento” ou um sentimento mútuo de parceria. Como Gilberto Velho diz em sua obra: “O que vemos e encontramos pode ser familiar, mas não é necessariamente conhecido e o que não vemos e encontramos pode ser exótico, mas, até certo ponto, conhecido” (VELHO, 2004, p. 126).
Há toda uma preparação antes do evento se iniciar e a escolha dos figurinos tende a ser um dos pontos mais importantes do preparativo, de forma que são escolhidas as peças mais extravagantes, ostentando no brilho e em rendas – sejam em vestidos, bodys, saias, calças, camisetas, etc. Em maioria, as roupas tendem a ser mais justas no corpo, ressaltando e valorizando as curvas do corpo – que será um dos instrumentos de maior interação durante todo o ritual social que são as festas.
Tão breve o salão começa a se encher por diversos grupos de diversos tamanhos – duplas, trios, sextetos ou até com mais de dez pessoas; geralmente que já se conhecem e marcaram de estar ali para se divertir juntos. É bastante interessante perceber que por mais que haja proximidade física entre os grupos distribuídos em um mesmo território, há também um profundo distanciamento, de forma que raramente – salvo exceções – irão se misturar; e os motivos para essas exceções são muitos: afinidade, compartilhamento de bebidas, alguma ocasião divertida ou trágica, ou mesmo por necessidade de se fortalecer mediante a um conflito ou uma situação qualquer.
Conforme a música começa a preencher as caixas de som e reverberam por todo o salão, percebe-se a reação dos corpos à música – até em gestos involuntários como mexer os pés, as mãos, a cabeça, o quadril ou os ombros. As expressões corporais variam de acordo com o grau de identificação com a música. Em casos mais extremos, percebe-se uma coreografia e lábios mexendo-se ao cantarolar a música acompanhando os diversos ritmos.
Através dessas percepções, foi que nós elaboramos o seguinte capítulo, aprofundando em alguns autores que serviram de referencial teórico, de forma bastante cautelosa para nos afastarmos das ideias preconcebidas que Malinowski nos fala, e passamos a “[...] prestar atenção no que aquelas pessoas poderiam nos dizer, torná-las, de algum modo, os interlocutores da pesquisa” (LIMA, 2008, p. 17) para conhecer melhor e analisar etnograficamente, aquele novo espaço que nos era apresentado.
2.1 AS LUZES, AS CORES E O SUBCONSCIENTE NAS FESTAS DE APARELHAGEM.
Nas festas de aparelhagem uma das características principais é o jogo de iluminação, que baseia-se em diversas lâmpadas coloridas dispostas em pontos mais altos – geralmente em painéis – que refletem no público de forma animada, instigando inconscientemente sentimentos nas pessoas.
Um estudo efetuado no ano de 1990 na Universidade de Columbia, nos Estados Unidos pelas pesquisadoras da área de Linguagem e Comunicação, Farina, Perez e Bastos, sobre as relações das cores com o subconsciente humano. Segundo Farina, Perez e Bastos (1990), em sua obra Psicodinâmica das cores, os autores classificam as cores, a exemplo, do vermelho: uma cor quente que interfere no sistema nervoso simpático – o sistema responsável pelos estados de alerta de ataque e defesa. “É como se os olhos fossem nossa máquina fotográfica, com a objetiva sempre pronta a impressionar um filme invisível em nosso cérebro”. (FARINA, 1990)
A relação das cores, segundo Farina, está intimamente ligada ao campo ao qual será utilizada, desta forma, buscando atingir os objetivos traçados, revelando muito a respeito de não só do espectador, mas também de quem a produz. Devido a isso, o estudo das cores é muito importante em diversas áreas das artes visuais, psicologia, estudos sociais, dentre outros. A combinação entre duas ou mais cores – chamado policromatismo – tende a gerar uma harmonização do ambiente ou das pessoas, segundo Farina et al.
“A relação entre a cor e a luz influencia em tudo. Há diferentes tipos de luz, e cada uma delas reage á cor de maneira diferente. Com a Luz de Neon, por exemplo, que emite muitos raios vermelhos e poucos azuis ou verdes que os objetos que sob uma fonte natural de luz pareceriam verdes ou azuis, parecerão pretos, por absorverem muitos raios vermelhos. ” (PEDROSO, 2009)
Assim, ao fazer isso nas festas de aparelhagem, as cores em uma combinação harmônica somado ao som – que estimula outras partes do cérebro – cria-se um ambiente agradável, de animação e excitação, propiciando a comunicação e o estabelecimento das micro-relações – entre o DJ e o público, entre pessoas do mesmo grupo, entre grupos, entre funcionários e o público, e etc., em uma miscelânea de sentimentos despertados inconscientemente por cada um dos sujeitos envolvidos.
2.2 A MISTURA DE MÚSICAS COMO INTERAÇÃO SOCIAL.
As festas de aparelhagem atualmente é o resultado histórico dos ecléticos bailes dançantes presentes na cidade de Belém nos anos 1950 que proporcionavam diversas formas de organização incluindo a orquestras e sonoras, que geralmente aconteciam nos famosos Clubes Sociais e Clubes Suburbanos.
A aparelhagem inicialmente era composta por um amplificador de metal a válvula, toca-discos, caixa de som pequena e projetor sonoro, popularmente conhecida como “boca de ferro”, segundo (COSTA, 2009, p. 382) em seu ensaio sobre as “Festas e espaço urbano: meios de sonorização e bailes dançantes em Belém do Pará nos anos 1950” (2009). Com o passar do tempo, os chamados “Clubes Sociais” pertencentes a zona urbana da cidade de Belém do Pará, ganhou ao público oriunda da classe média-alta da sociedade, com apresentações musicais ao vivo.
“A diversificação dos meios de comunicação (e de sonorização) em meados do século XX está ligada a formas variadas de organização de festas dançantes na cidade. Formas diferentes de uso e acesso aos meios de comunicação/sonorização pela população da cidade apresentam laços com sentidos de distinçãosocial.” (COSTA, 2009, p. 382)
Atualmente, podemos perceber nas festas de aparelhagem a mistura de diversos ritmos reverberadas através de um maquinário oneroso e moderno – tecnologicamente falando -, incluindo um conjunto harmonioso de cores e uma alta capacidade de propagação do som. O doutor em comunicação, Mauro Celso Feitosa Maia em seu ensaio sobre “Música na periferia: as rotinas produtivas do tecnobrega de Belém, do Pará” (2009) diz sobre as aparelhagens:
“As ‘aparelhagens’ de som e uma gama de produtores e artistas do agora chamado movimento do tecnobrega são as expressões mais atuais, desenvolvidas no rastro de episódios típicos de uma indústria cultural da música, no Pará. Agora percebe-se a presença massiva do tecnobrega, do melody e do calipso, principalmente, nas programações de televisões e rádios de Belém, do Brasil e em outros países.” (MAIA, 2009, p.2)
Além disso, pudemos perceber que as interações que as rádios tinham com os grupos para as quais se apresentavam, ainda são presentes de maneira que são feitas homenagens a pessoas, patrocinadores, bairros e diversos grupos sociais; geralmente agradecendo pela participação e por estarem presente no show – gerando um sentimento de reciprocidade da qual falaremos ao longo desse artigo. Esse aspecto, ainda é explicado pelo Dr. Mauro Maia, afirmando que:
“a cultura midiática contemporânea seria a universalização insígnia da associação entre comunicação e tecnologia, mas necessariamente incluindo a função do mercado, elemento essencial na formação econômica da sociedade de modo capitalista” (MAIA, 2009, p. 7)
A música e seus sujeitos envolvidos, portanto, trata-se de mais do que uma simples evolução da indústria fonográfica que fomenta a sociedade capitalista, mas sim uma questão cultural de uma determinada região que propagou-se em diversos países, sendo uma das formas de comunicações e interações sociais, principalmente, é claro, nas festas de aparelhagem.
2.3 AS MICRORELAÇÕES NAS FESTAS DE APARELHAGEM E O SENTIMENTO DE RECIPROCIDADE A LUZ DE MALINOWSKI 
As festas de aparelhagem se destacam por suas estruturas tecnológicas e modernas, com a intenção de surpreender o público com grande espetáculo com recursos e estratégias, no qual falam e se movimentam frente ao público com suas performances se movimentando a várias direções. Buscando o diferencial sempre, que o tornou famoso através de sua animação, atraindo público e com ele estabelecendo uma ligação, sendo que alguns acabam formando equipes, galeras e outros grupos de admiradores, que comparecem com algo que os identificam, costumam se organizar entorno da aparelhagem, do DJ especificamente. 
De modo paralelo à interação entre Djs, equipamentos e público, outros personagens e objetos tecnológicos também foram sendo incorporados às performances da aparelhagem, caso dos dançarinos e dos elementos de pirotecnia, atualmente observando-se dezenas de moving leds que projetam luzes com efeitos especiais sobre outros equipamentos, os quais, por sua vez, emitem fumaça ou explodem serpentinas. (PICANÇO, 2016, p. 74)
A aproximação do público e o DJ é interagir em tempo real, com performances, o DJ canta, dança e dialoga o tempo todo com público, por mensagens enviadas pelo público, o DJ responde com entusiasmo e saudando o público. Estampado também no telão imagens de pessoas, como meio que permite visualizar e acompanhar as performances, no qual é um conjunto de apresentações e sendo que há um momento mais esperado pelo público, com projeções de luzes, fumaça e performáticos, levando o público a uma animação no comando do DJ. 
O antropólogo Bronislaw Malinoswiski, conviveu entre nativos das Ilhas Trobriand, relatou o ritual chamado Kula, que constitui-se na troca de braceletes e colares. No qual os nativos trocam esses presentes com membros de outras Ilhas e desta forma constituem a circulação de bens, amizade, afeto, aliança e reciprocidade. Os presentes trocados são a conexão que proporcionam as ligações sociais entre pessoas, se não houve isso, ficariam distantes e possivelmente inimigos.
O kula não é uma modalidade sub-reptícia e precária de troca. Muito pelo contrário, está enraizado em mitos, sustentado pelas leis da tradição e cingido por rituais mágicos. Todas as transações principais que nele se processam são públicas e cerimoniais, levadas e efeito segundo regras bem definidas. O kula não decorre de impulso momentâneos, mas se realiza periodicamente, em datas pré-estabelecidas, ao longo de rotas comerciais definidas que conduzem a locais fixos de encontros. (MALINOWSKI,1950, p.73)
Observando a festa de aparelhagem, verifica-se uma troca de ritual, mostram reciprocidade, um firmamento, existe uma troca de ambos que sustentam esse vínculo, do dar e do receber. Pois o público que vai e tem suas equipes espera receber do DJ o mesmo valor, reconhecimento que é dado, sendo que pode acontecer uma insegurança com relação a não ser correspondido, com isso pode haver um rompimento. Porém essa reciprocidade não é necessariamente imediata, mas se dará através do dar, receber e retribuir, o DJ buscar atender a todos, para que não receba com negação a reciprocidade daqueles que foi favorecido. Às vezes chamam de ingrato, por não atender as expectativas dadas, que também faz do grupo e expor o outro lado, por não ter recebido a troca que seria a base da aliança.
Nota-se aproximação do DJ com público, que de certa maneira atende as expectativas que são relativamente atendidas no caso musical, porém não é o bastante. O DJ tem um diálogo de empreendimento e lazer, sendo um diálogo ativo com o público, que nesse contexto não é considerado como uma peça a ser atingido no mercado musical, sim uma peça ativa importante por sua vivência divertida que influencia na dedicação na própria aparelhagem. Portanto, percebe-se, claramente, uma similaridade nos rituais vistos por Malinowski e nos quais tivemos a oportunidade de perceber. Ou seja, essa relação do DJ e público pode simbolizar uma versão pós-moderna do Kula.
2.4 A MODA COMO FORMA DE LINGUAGEM CORPORAL, CULTURAL E PESSOAL.
A preparação que antecede a festa em si, baseia-se, em grande parte, na escolha do vestuário adequado para o evento, de forma a cumprir com todas as expectativas e objetivos que o indivíduo pretende passar como uma forma de comunicação corporal e pessoal, e cultural – se analisarmos por um viés sociológico e antropológico das interações em questão. Segundo a Doutora em Comunicação e Cultura Contemporânea da Universidade Federal da Bahia, Renata Pitombo Cidreira, em seu ensaio “A moda como expressão cultural e pessoal” (2010):
“É preciso lembrar que o processo de identificação é uma das estruturas mais normais, e que preside, em geral, a toda agregação social, é a condição mesma da cultura. Identificação esta que se exerce de forma discreta, expandindo-se e contaminando lentamente as práticas banais do cotidiano que servem de cimento ao corpo social.” (CIDREIRA, 2010, p. 10)
Os tipos de vestuário estão intimamente ligados com a ideia de cultura da comunidade ao qual o indivíduo está inserido, mesmo que inconscientemente “contaminado”, como Cidreira cita no trecho acima, e complementa:
“A cultura é o sistema significante através do qual uma ordem social é comunicada, reproduzida, experimentada e explorada. A moda e a indumentária são algumas das maneiras pelas quais a ordem social é experimentada, explorada, comunicada e reproduzida. Através da moda e da indumentária, entre outras instâncias, nos constituímos como seres sociais e culturais. ” (CIDREIRA, 2010, p. 14)
Nesse mesmo ensaio, Cidreira analisa os pensamentos de Pierre Bourdieu, em sua obra “A distinção: crítica social do julgamento” (2007) que irá versar acerca das disposições corporais que caracterizam e individualizam os grupos, como por exemplo, apetrechos de ornamentação – como brincos, colares, anéis, pulseiras -, os tipos de vestuários de acordo com os aspectos econômicos dos indivíduos – se haverá mais brilho ou menos brilho, a presençaou ausência de rendas e tecidos finos, dentre muitos outros.
“O vestuário é dos objetos de consumo onde parece estar clara a personalização do consumo. Tal personalização repousa principalmente na escolha e no vasto universo de estilos. Geladeira é sempre geladeira, salvo leves diferenciações mas camisa pode possuir tantas variações quantas as diferentes personalidades que quisermos retratar; novamente comparece a questão da visibilidade no uso. ” (MIRANDA, GARCIA e MELLO, 1999 p. 6)
Em nossa pesquisa de campo, pudemos perceber com clareza a variedade dessas peças e apetrechos que combinado com a expressão corporal, efetua a comunicação daquele indivíduo não só com o seu grupo, mas com os outros no salão. A maioria das peças escolhidas são mais “extravagantes”, ostentando uma riqueza de brilho e rendas nas diversas peças do vestuário – como saias, calças, vestidos, camisetas, dentre outros. Esse fenômeno explica-se através da reflexão acerca da personalização. “A personalização é mais que argumento publicitário: é conceito ideológico fundamental de sociedade que, personalizando os objetos e as crenças, visa a integrar melhor as pessoas. ” (MIRANDA, GARCIA E MELLO, 1999, p.6)
Desta forma, percebemos que a moda nas festas de aparelhagem – assim como em diversos outros âmbitos – é uma maneira de exprimir mesmo que de maneira inconsciente suas ideias e personalidade, embora apenas isso não defina quem a pessoa realmente é. Assim, podemos encerrar esse tópico com o célebre pensamento de Miranda, Garcia e Mello (1999) sobre a moda e o vestuário, que “[...] é visto como forma de expressão da personalidade, extensão visível e tangível da identidade e dos sentimentos individuais. É forma de comunicação não verbalizada, estabelecida por meio das impressões causadas pela aparência pessoal de cada um. ” (MIRANDA, GARCIA E MELLO, 1999, p. 6)
3. RELAÇÃO COM O DIREITO: ANTROPOLÓGICA JURÍDICA 
	Sabe-se que Antropologia contribui relevantemente para o Direito, esse, por vez, determinado a residi apenas no plano teórico encontra na Antropologia um mecanismo de maior compreensão da realidade. De acordo com Lima e Baptista (2013), essa interdisciplinaridade permite um saber jurídico na figura das leis, possibilitando não só uma maior percepção, mas um fiel entendimento dos valores democráticos e dos institutos jurídicos. 
Na pesquisa empírica, a voz dos operadores do campo e dos cidadãos é ouvida, e o objeto do estudo internaliza a concepção teórica produzida pelos juristas de forma articulada com o mundo prático, dos cartórios e dos tribunais, normalmente olvidado pelos teóricos do dever-se. A pesquisa empírica, articulada através de trabalho de campo, é nada mais nada menos do que a possibilidade de vivenciar a materialização do Direito, deixando de lado, por um momento, o referencial dos códigos e das Leis para explicitar e tentar entender o que de fato acontece e – no caso do Direito – o que os operadores do campo e os cidadãos observados dizem que fazem, sentem e veem acontecer todos os dias enquanto os conflitos estão sendo administrados pelos Tribunais (LIMA, BAPTISTA, 2013, p.14)
Lima e Baptista (2013) destacam que no primeiro momento o pesquisador deixa de lado as Leis, o que é naturalmente compreensível, já que a referência primária é captar a realidade em si, com pensamento voltado unicamente para o objeto de estudo. Contudo, em um segundo momento, essa materialização do Direito não se perfaz com distanciamento das leis, normas e, sobretudo, Constituição Federal, pois é basilar, como operadores do Direito, relacionar a realidade com ordenamento jurídico. Diante disso, o estudo em questão promove a correlação de fatos ocorridos durante a Festa de Aparelhagem, no evento Crocodilo Prime com as normas jurídicas.
3.1 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E AS NORMAS JURÍDICAS DOS SEGMENTOS CULTURAIS.
A Constituição Federal da República tem por objetivo normatizar todas as atividades sociais de um país, de forma que a mesma pode ter a sua ação direta nos objetivos, ou então, indiretamente, como quando serve de base para as Constituições Estaduais e Municipais. Estas últimas não podem contrariar os princípios básicos da Constituição Federal, mas, sim corroborarem o escrito ali. A constituição de uma nação visa instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, sendo fundada na harmonia social e comprometida na ordem interna e internacional, com a solução pacífica de questões e controvérsias. Neste contexto, entende-se que objetivo da básico de uma Constituição, além se ser a “Lei suprema da nação”, será definir os direitos e garantias fundamentais, das pessoas, dentre os quais, o “Direito a Cultura”.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília (DF), 05 de Outubro de 1988.
SEÇÃO II
DA CULTURA
Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais.
§ 1º O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional.
            Dentro dos direitos fundamentais citados na Constituição, tem-se o “direito a cultura” e vendo que é dever do estado garantir o exercício dos direitos culturais, cabe questionar: que direitos seriam estes? Segundo afirma Bernardo Novais da Mata Machado:
 “Os direitos culturais são parte integrante dos direitos humanos, cuja história remonta à Revolução Francesa e à sua Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789), que sustentou serem os indivíduos portadores de direitos inerentes à pessoa humana, tais como direito à vida e à liberdade. ” (MACHADO, 2007).
Cultura também pode ser definida como um o conjunto de manifestações artísticas e sociais, de um povo, aí incluídas música, teatro, danças, arquitetura, rituais religiosos e mitos, língua falada e escrita, hábitos alimentares, invenções, pensamentos, formas de organização social, etc. Como afirma Bernardo Novais da Mata Machado:
 “Os direitos culturais são parte integrante dos direitos humanos, cuja história remonta à Revolução Francesa e à sua Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789), que sustentou serem os indivíduos portadores de direitos inerentes à pessoa humana, tais como direito à vida e à liberdade.” (MACHADO, 2007).
Como toda e qualquer manifestação social, a cultura está submetida a realidade local. Segundo José Márcio Barros:
“cultura refere-se tanto ao modo de vida total de um povo – isso inclui tudo aquilo que é socialmente aprendido e transmitido, quanto ao processo de cultivo e desenvolvimento mental, subjetivo e espiritual, através de práticas e subjetividades específicas, comumente chamadas de manifestações artísticas” (BARROS, 2007, pag.).
Em meio a estes conceitos, focando na sociedade paraense das ultimas décadas, cita-se que surgiu um tipo de evento, nas áreas de periferia, que passou a atrair, majoritariamente, as camadas mais populares da sociedade, um movimento onde organizavam-se uma festa, que era “comandadas” por um disco jóquei (DJ), de uma plataforma, que passou ser denominada “altar sonoro”, (uma espécie de palco com equipamentos de DJ, rodeada por enormes caixas de sons). Nesse quadro, o importante sempre foi ter a nomes, símbolos, pinturas, letreiros, desenhos ou adereços que remetam ao nome da Aparelhagem. O apelo visual da aparelhagem é um de seus pontos fortes.
O aspecto mais impressionante da festa de tecnobrega, sem dúvida, é a grandiloquência visual da aparelhagem, que, através de um enorme telão atrás do DJ, projeta imagens e frases que conduzem o evento. Também existe sistema de iluminação a laser, que lança luzes para todos os lados. Associado a isso, assoma-se a imagem da cabeça do búfalo gigante, que compõe a identidade visual da aparelhagem. É tudo muito grande e brilhante. Extasiante aos olhos. (BRASIL, 2013, p.206)
A ideia de ter adereços que remetam aonome da aparelhagem tem sido elevada a “níveis extremos” com o passar dos anos e evolução tecnológica. Focando na aparelhagem visitada, mas não excluindo outras de Belém (PA), constata-se que o altar sonoro, atualmente, passou a ser construídos em uma estrutura com o formato do animal mesmo, no caso onde foi auferida a visita “in locco”, o altar sonora é um palco que fica no centro de uma estrutura de ferro fabricada no formato de uma cabeça do animal crocodilo.
A maior constatação, no entanto foi a de que as festas de aparelhagem se configuram em um cenário próprio e específico, que ocorre há décadas e em na capital e em muitas cidades do interior, de forma que este evento caracteriza-se por uma delicada relação entre público, aparelhagens, eventos, promotores, música, periferia e pelo público, aí incluídos os fã clubes que passam a acompanhar a cada apresentação das aparelhagens. Cita-se ainda a espetacularização de cada evento e as canções “temas”, uma espécie de música título criada em homenagem a uma aparelhagem específica, que as aparelhagens tem e que tem por finalidade exaltar as qualidades e “virtudes” das aparelhagens, além da as inter - relações pessoais, profissionais, performáticas, articuladas e festivas que ocorrem em cada evento realizado, conforme constatação através do olhar etnográfico.
3.2 A LEI Nº 13.106/15 – ANTIFUMO, VENDA E CONSUMO DE ÁLCOOL PARA MENORES. 
Esse tópico tem como fundamental escopo a análise da vedação de fumar em certos ambientes e a venda de bebidas alcoólicas para menores de 18 anos preditos na lei brasileira Lei Nª 13.106, 17 de Março de 2015 (que se originou da Lei Nª 8.069, de 13 de Julho de 1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente, e revogado no inciso I do art.63 do Decreto- Lei nº 3.688, de 3 de outubro de 1941 – Lei das Contravenções Penais, tornando a mais vigente).
 Um dos principais acontecimentos que sobressaltou-nos em nossa visita – pesquisa de campo – à Casa de Show Karibe foi o excesso de indivíduos fumando em local fechado e a venda de bebidas para menores, uma clara violação da Lei nº 13.106/15, trazendo a importância da pesquisa empírica entre o direito e a antropologia. O método etnográfico não se furta de avaliar questões sensíveis a sociedade como fumo e as bebidas alcoólicas. Para tanto, leis foram elaboradas com intuito de resolver problemas relacionados a estes temas.
Dentro dessa perspectiva legalista, notamos o hábito de fumar em grupo, bem como uma aparência de amabilidade e admiração pelas pessoas como uma forma de status. 
As marcas de cigarro faziam questão de criar cativantes e bem elaboradas propagandas, de patrocinar os carros de fórmula um, de contratar o merchandising para colocar, em filmes, atores de renome fumando uma marca específica. (MARZOLE, 2015, p.12)
No entanto torna-se frequente a decorrência do hábito de fumar, custando doenças e anulando a saúde daqueles que não fumantes pelo motivo de respirar a fumaça afetando a saúde, “tendo em vista que fumar é prejudicial à saúde assim como inalar a fumaça oriunda do fumo, o custo dispendido pelo Estado para tratar doenças originadas pelo uso do tabaco é enorme” (MARZOLE, 2015, p.17).
3.3 A RELAÇÃO DO DIREITO E A ECONOMIA NAS FESTAS DE APARELHAGEM 
Quando se observa a relação do Direito e a economia no âmbito das festas de aparelhagem, analisamos o papel dos convidados e fornecedores, e assim, devemos ter o olhar jurídico, no foco em que residem os agentes das relações de consumo, no caso, relação de consumidores e fornecedores, em que conforme o Código Brasileiro de Defesa do Consumidor, afirma que os direitos dos consumidores colocam-se perante os deveres dos fornecedores de bens e serviços (VASCONCELLOS-GARCIA, 2014, p. 20) 
 De acordo com Marco Antônio Vasconcellos e Manuel Garcia, na obra Fundamentos de Economia, os mesmos afirmam que o poder de monopólio caracteriza-se quando um produtor, ou grupo de produtores aumenta unilateralmente os preços, reduz a quantidade/qualidade do produto ou serviço a fim de aumentar seus lucros (VASCONCELLOS-GARCIA, 2014, p. 21). A partir de uma base jurídica, foi promulgada a Lei nº 8.884/11 e foi reformulada em 29 de maio de 2011, tornando-se a Lei nº 12.529/11, chamada de Lei Antitruste, onde a mesma foi criada no Brasil por Getúlio Vargas, em seu segundo mandato, no período do Estado Novo, que criou o Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência (SBDC), composto por outros três importantíssimos órgãos: a Secretaria de Direito Econômico, a Secretaria de Acompanhamento Econômico e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE).
Nas festas de aparelhagem a Lei Antitruste não é aplicada como deve ser, podendo ser analisado esta problematização do início ao fim da festa; da compra de ingressos até o venda de bebidas, cigarros, etc. Os preços abusivos em relação às bebidas são notórios tanto para bebidas alcoólicas como também para água, refrigerante, pois a maioria destas festas tem um patrocinador oficial ou uma única empresa (princípio de monopólio por determinado tempo) responsável pelo fornecimento de bebidas durante a festa toda, é muito comum vermos em banners e outdoor a empresa responsável em questão, como por exemplo, a empresa de bebidas SKOL, que forneceu aos convidados no estabelecimento escolhido pelos DJ’s e empresários (Karibe Show). 
Sendo a única empresa responsável pelo fornecimento de bebidas do evento, utilizam desta maneira para maximizar seus lucros aumentando os preços das bebidas, que comparadas à fora do evento, são relativamente mais baratas. Este fato ocorre pela falta de concorrência, e assim, a demanda dos produtos aumenta, pois só há uma empresa oferecendo, logo, a empresa obtém o lucro máximo, desrespeitando assim o direito do consumidor. 
Diante disto, conclui-se que cada vez mais as práticas abusivas invadem a relação do direito do consumidor, logo, a legislação em questão precisa proteger e assegurar o direito do consumidor conforme a lei estabelecida. Garcia foi muito feliz em suas palavras ao concluir este pensamento que totalmente concordo: 
 “Logo, mesmo diante de um regime de liberdade de preços, é dever do Poder Público e do Judiciário assegurar o controle do chamado preço abusivo, assim, como não poderia ser diferente, para tanto se impede “a possibilidade de uma elevação nos preços sem que se tenha um motivo (justa causa) como aumento da matéria-prima, o aumento do salário mínimo, que reflita no preço final do produto ou serviço” (GARCIA, 2010, p. 260).
3.4 A EFETIVIDADE DAS LEIS ANTI-DROGAS NAS FESTAS DE APARELHAGEM.
Diferente do que pode ser organizar uma festa de aparelhagem não é tão simples. Além das preocupações com o local adequado, segurança, documentação e outras coisas, os organizadores devem se atentar aos crimes praticados dentro do ambiente festivo, como a circulação de drogas de todos os tipos. Em abril de 2015 órgãos da segurança pública do Pará detiveram 80 pessoas em uma festa. Polícias Civil e Militar em durante a operação denominada "Tango Fox", prenderam em torno de 80 suspeitos para averiguação, na madrugada do sábado para o domingo em uma festa de aparelhagem, no bairro da Terra Firme, em Belém, o objetivo foi combater crimes praticados no interior de uma arena de shows, situada na rua São Domingos, apontada como ponto de venda e consumo de drogas e de articulação para práticas criminosas na área. 
Do total de detidos, dez eram presidiários, alguns usavam tornozeleiras, e havia ainda três adolescentes em situação de risco no estabelecimento. Um foragido da Justiça foi preso no local. Os policiais apreenderam mais de meio quilo de drogas. Um carro roubado foi recuperado. O uso de substâncias psicoactivas pode não provocar problemas ao nível do comportamento e da saúde em curto prazo, mas está frequentemente associado a uma altura particular, sendo um consumo experimental ou ocasional, nesse sentido, percebe-se que no ambiente de uma festa é muito comum a utilização destas substâncias, o comércio é quase que explícito, os vendedoresse posicionam em locais específicos e estratégicos ao público, escondem os entorpecentes em locais inacessíveis a revista da segurança, vendem em pequenas quantidades. 
 A maioria das vezes os utilizadores misturam diferentes substâncias para potencializarem os efeitos de uma dada substância, para obter novos efeitos, para limitar os efeitos secundários ou a descida de uma determinada substância. Algumas pessoas consomem diariamente um produto, por razões culturais (ex: álcool, maconha, cocaína) ou são dependentes e quando vão a uma festa para além destas substâncias, consomem outras adaptadas ao contexto (ex: estimulantes, alucinogéneos) com isso a Lei 11.343, de 23 de agosto de 2006, mais conhecida como Lei de Drogas, não é perfeita, mas tem o mérito de estabelecer um novo sistema. Usuário, dependente e traficante de drogas são tratados de maneira diferenciada. Para os primeiros, não há mais possibilidade de prisão ou detenção, aplicando-lhes penas restritivas de direitos. Para o último, a lei prevê sanções penais mais severas. Mesmo para os traficantes, há distinção entre o pequeno e eventual traficante e o profissional do tráfico, que terá penas mais duras. Para o dependente, pode ser imposto tratamento médico ou atenuar a sua pena. É certo que apenas leis mais severas não inibem o tráfico de drogas, problema não só do Brasil, mas de praticamente todos os países. Somente com políticas públicas, voltadas para o social, principalmente para a educação, é que o fenômeno do narcotráfico poderá ser reduzido. Por outro lado, leis amenas incentivam a criminalidade, principalmente a organizada, que acredita na impunidade. A Lei de Drogas, que bem ou mal cumpre seu papel de coibir e punir o tráfico de drogas e desestimular seu uso, punindo, mesmo que de forma branda, o usuário e o viciado, está sofrendo diversos ataques, que não vão aperfeiçoá-la, pelo contrário, mas piorá-la sobremaneira, passando a ser um convite aberto para os traficantes, que saberão como usá-la em seu favor. Se não bastasse o julgamento no Supremo Tribunal Federal, que deve ocorrer em junho sobre a descriminalização da posse de drogas para consumo pessoal, foi elaborado anteprojeto de lei por uma comissão de juristas, que tem o propósito de reformar grande parte da Lei de Drogas. 
O anteprojeto descriminaliza a posse de drogas para consumo pessoal, que passa a ser considerada infração administrativa, prevendo como punição a perda da droga apreendida e multa de um a cem salários mínimos, podendo ser reduzida a um décimo do valor no caso de o agente não ter condições de pagá-la (art. 28 e 29-A). Será considerada droga para consumo pessoal a posse de até 10 doses, podendo exceder essa quantidade, desde que fique comprovado pelas condições que se desenvolveu a ação, que a droga se destinava ao próprio uso do agente.
3.5 A QUESTÃO TRABALHISTA E AS FESTAS DE APARELHAGEM.
 Durante as pesquisas de campo feitas no teor das aparelhagens, foi observado a participação de dezenas de agentes empenhados na confecção do evento que vão desde os promoters responsáveis em divulgar o evento festivo como a equipe responsável na limpeza pós festa.
 A figura de um profissional que se ocupa com eventos pode se confundir com a visão de alguém que frequenta muitas festas. Mas não se engane, a produção de um evento está longe de ser tarefa fácil. O Produtor de Eventos opera desde o planejamento, passando e auxiliando no acompanhamento até a sua finalização. O profissional da área organiza todos os aspectos relativos à realização de um evento, que pode ser o lançamento de um produto, uma festa de formatura ou casamento e até competições esportivas. O objetivo do produtor é fazer com que o planejamento dê certo no dia do acontecimento, seja de pequeno ou grande porte. Por isso, ele é responsável por inúmeros detalhes, desde o ambiente e alimentação, até a limpeza e segurança do local. O profissional é responsável pelo desenvolvimento de um conceito para o evento, pelo orçamento de cada item, além de organizar o sistema financeiro que visará pagar os funcionários envolvidos. Desde os que trabalham com a limpeza do salão e banheiros. 
O dono da casa de show fica responsável pela contração de alguns funcionários para o desenvolvimento das atividades que antecedem e também durante o evento festivo: tais como os Road's (carregadores de equipamentos estruturais das aparelhagens), segurança do trabalho, os Staf's, que são os agentes responsáveis para dar apoio e proporcionar a segurança da festa e do público, os atendentes, garçons que servem os clientes com as bebidas, o pessoal do restaurante/lanchonete, que são cozinheiros(as) caixa e atendimento, o efetivo para fiscalizar o estacionamento e bilheteria. Nesse sentido, o gerente da aparelhagem fica responsável em fazer a contratação do pessoal de dissolução sonoro: os Djs; equipe de técnicos de som que trabalham auxiliando os equipamentos. Ainda por conseguinte, é perceptível que alguns operadores do evento trabalham inclusive de maneira insalubre, tais como; os garçons que desenvolvem suas atividades mesmo bastante molhados, além do mais ficam expostos aos ruídos sonoros altíssimos emitidos durante o evento, os seguranças que trabalham sem qualificação adequada, como treinamentos e equipamentos de menor potencial ofensivo para adequar-se à segurança, os mantenedores da limpeza, que tem a tarefa de limpar os banheiros inundados. Paradoxalmente, é notório perceber que estão sendo violados direitos destes trabalhadores, assim define-se que o empregador deve proporcionar os meios para proporcionar todo o suporte para manter a integridade física do trabalhador. 
 Conforme o artigo 189 da CLT (Consolidação das leis do trabalho):
"Serão consideradas atividades ou operações insalubres aquelas, que por sua natureza, condições ou métodos de trabalho, exponham os empregados a agentes nocivos a saúde, acima dos limites de tolerância fixados em razão da natureza e da intensidade do agente e do tempo de exposição aos seus efeitos."
Em outras palavras a Constituição Federal estabelece que aquele que trabalha em um ambiente insalubre (que origina doença) tem direito a receber um adicional financeiro por isso, pago mensalmente, o que se verifica é que a nossa lei maior ampara a venda parcelada da saúde de milhares de trabalhadores brasileiros expostos à insalubridade. Uma porcentagem significativa da população brasileira vive na informalidade. Trata-se de um setor em crescimento, cuja atividade é desenvolvida principalmente nas grandes cidades, visto que elas propiciam essa dinâmica.
O desemprego é dos principais fatores responsáveis pelo surgimento dessa opção de trabalho. Além disso, acresce que o desconto no salário de um trabalhador formal é tão grande que as pessoas começaram a perceber que poderiam ter muitos mais rendimentos optando pela informalidade. Dentre as desvantagens, o maior prejuízo é a inexistência de renda fixa, sendo esse o principal fator que resulta na falta de acesso a créditos e financiamentos. Acresce que não há recebimento de ajudas para refeição ou transporte, bem como não há férias pagas ou décimo terceiro e qualquer tipo de licença não é abrangido pelo trabalho informal. É a triste literalidade do versículo bíblico que diz que “o dinheiro é a raiz de todos os males”, nesse particular, entendido como doenças.
 O nível de anacronismo é exorbitante que quando as entidades que “defendem” os interesses dos trabalhadores brigam pelo assunto insalubridade, não é para que se extinga o trabalho insalubre. Ao contrário, o que se busca normalmente é o aumento do adicional de insalubridade. É como se dissessem: “concordamos em vender a saúde de nossos trabalhadores, desde que isso seja feito a um preço melhor”. 
3.6 A INFRAÇÃO ÀS LEIS AMBIENTAIS NAS FESTAS DE APARELHAGEM. 
	O som nada mais é que uma “onda mecânica” (perturbação que se propaga em um meio material, regida por leis da física), com capacidade de propagação no ar. Basicamente, “podemos afirmar queo som é qualquer variação de pressão (no ar, na água...) que o ouvido humano possa captar” (FIORILLO, 2011, P.311). É fato que Sons de qualquer natureza podem se tornar prejudiciais à saúde, bem como, se tornarem insuportáveis quando emitidos em volumes altos, ressaltando que os sons altos podem afetar a saúde, de acordo com a sensibilidade de cada pessoa.
Nesse contexto, salienta-se as possíveis práticas de “Poluição Sonora” ou “Perturbação do Trabalho ou sossego alheios (abusando de instrumentos sonoros ou sinais acústicos) ”, frequentemente associadas a qualquer som, musical ou não, que possua níveis elevados de pressão sonora que ultrapasse os limites do que entende-se ser tolerável aos ouvidos, que, comumente, são associadas as festas de aparelhagem.
A exposição a altos níveis de pressão sonora por um determinado período de tempo, pode provocar lesão auditiva, perda progressiva da audição, perda de audição permanente, estresse, irritabilidade, insônia e até doenças cardiovasculares, dentre outras enfermidades, além de atingir e afetar também crianças, idosos e animais.
Os impactos negativos do som indesejado não se restringem apenas ao sistema auditivo. Sua atuação pode ser percebida em outros órgãos/funções do corpo humano, conforme observa Fiorillo (2001, p. 312):
De fato, os efeitos dos ruídos não são diminutos. Informam os especialistas da área que ficar surdo é só uma das consequências. Diz-se que o resultado mais traiçoeiro ocorre em níveis moderados de ruído, porque lentamente vão causando estresse, distúrbios físicos, mentais e psicológicos, insônias e problemas auditivos. Além disso, sintomas secundários aparecem: aumento da pressão arterial, paralisação do estômago e intestino, má irrigação da pele e até mesmo impotência sexual. Acrescente-se que a poluição sonora e o estresse auditivo são a terceira causa de maior incidência de doenças do trabalho. Além disso, verifica-se que o ruído estressante libera substâncias excitantes no cérebro, tornando as pessoas sem motivação própria, incapazes de suportar o silêncio.
Adequando-se a necessidade de se evitar a propagação de tais males, a carência de cumprir com as obrigatoriedades legais que existem sobre a questão do volume, dentro do que é permitido em lei, e, considerado tolerável por todos os que residem ou se encontram em locais, situados nos arredores de onde realizar-se-á o evento, nesse contexto, os responsáveis pela realização do evento, festa de aparelhagem, devem estar cientes sobre as obrigações legais das normas reguladoras que regem as práticas de “poluição sonora” e “perturbação do trabalho ou sossego alheios”.
Existem legislações pertinentes quanto a regulamentação, horário e níveis permitido de sons, para vários tipos de eventos, aí, incluídos as festas de aparelhagem, além de todo tipo de horário para festas bares e eventos.
BELÉM  (PA). Lei nº 7.990, de 10 de janeiro de 2000.
Art. 1º A emissão e imissão de sons e ruídos em decorrência de quaisquer atividades exercidas em ambientes confinados ou não, no Município de Belém, obedecerão aos padrões, critérios e diretrizes estabelecidas por esta lei, sem prejuízo da legislação federal e estadual aplicável.
Art. 2º É proibido perturbar o sossego e o bem estar público com sons excessivos, vibrações ou ruídos incômodos de qualquer natureza, produzidos por qualquer forma, que ultrapassem os limites estabelecidos nesta lei.
Art. 6º Para os fins desta lei, aplicam-se as seguintes definições:
I - poluição sonora: toda emissão de som, vibração ou ruído que, direta ou indiretamente, seja ofensiva ou nociva à saúde física e mental, à segurança e ao bem estar do indivíduo ou da coletividade, ou transgrida as disposições fixadas na lei;
Para apuração de transgressões que, eventualmente, possam transcorrer, em decorrência do alto volume da sonoridade do evento, existem condutas como as tipificadas na Lei de Crimes Ambientais.
BRASIL. LEI Nº 9.605, DE 12 DE FEVEREIRO DE 1998.
Seção IIID
a Poluição e outros Crimes Ambientais
Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora:
          Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
            Sendo possível ainda, uma outra tipificação penal, no que tange a possível importunação dos residentes e trabalhadores dos arredores, como a do Decreto – Lei nº 3.688/ 1941 (Lei de Contravenções penais):
 
DECRETO – LEI Nº 3.688, DE 03 DE OUTUBRO DE 1941
DAS CONTRAVENÇÕES REFERENTES À INCOLUMIDADE PÚBLICA
Art. 42. Perturbar alguem o trabalho ou o sossego alheios:
I – com gritaria ou algazarra;
II – exercendo profissão incômoda ou ruidosa, em desacordo com as prescrições legais;
III – abusando de instrumentos sonoros ou sinais acústicos;
IV – provocando ou não procurando impedir barulho produzido por animal de que tem a guarda:
Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis.
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
	O trabalho nos demonstra quão é virtuoso realizá-lo, uma vez que nos condiciona ao exercício da reflexão no sentido de analisar, questionar e escrever sobre uma temática (festa de aparelhagens) a qual não estávamos habituados. Essa inciativa de sair do campo familiar e adentrar no exótico é célere na medida que nos revela um mundo além do nosso e, por consequência, nos treina para os mais diversos episódios profissionais ou pessoais que seguramente enfrentaremos. Stuart Hall defendeu a sociedade complexa em que vivemos, torna-se, portanto, mais pertinente abordar suas nuances, não renegando qualquer diferença. Para isso, realizamos a nossa atividade etnográfica na festa do Karibe Show, no dia 18 abril de 2019, justamente com a finalidade de compreender esta realidade exatamente como ela é. Ademais, aporte teóricos nos auxiliaram profundamente na questão de qual caminho trilhar em questão metodológica, a organização. De certo não detínhamos o controle da situação, pois a sensação de expectativa em relação ao novo nos foi tomada, mas não hesitamos em desvendar os estigmas estabelecidos. 
	 Na nossa etnografia, procuramos trabalhar com afinco temas possivelmente novos para alguns, mas extremamente relevante para o todo. Na linguagem corporal, por exemplo, percebemos uma sincronia entre aquelas pessoas que frequentam as festas, ou seja, performance e detalhes pequenos que detonam a cultura da dança. As vestimentas aparentam uma razão de ser, elas por si só caracterizam a cultura das pessoas, não como vulgaridade, como alguns podem entender, mas é a liberdade e autonomia de cada um usar o que se sente melhor. As luzes também dizem muito sobre o lugar, estimulam alegria. Temas esses foram de tamanha importância porque nos retirou da nossa zona de conforto para pesquisarmos e estudarmos o todo deste processo. 
	Adentramos, também, em nossa área, quando correlacionamos fatos com algumas leis, isso evidencia a nossa preocupação, quanto operadores do Direito, de ter o olhar jurídico, de que maneira podemos ajudar a melhorar a nossa realidade, em busca da justiça. Nesse sentido, verificamos como a cultura é fundamental, como ela está posta em nosso ordenamento jurídico. Além disso, abordamos pontos como lei antifumo, leis ambientais, leis trabalhistas e direito e econômico. 
	Portanto, esse trabalho foi salutar, pois nos revelou primeiramente um dom para pesquisa, desconhecíamos de maneira mais estruturada essa função primorosa de organização, aportes teóricos como Malinowski e da preparação inicial que estabelecemos. Convém mencionar a quebra de estigmas em relação a nossa própria visão e como esse resultado exitoso nos trará uma contribuição futura. Para além, também, do debate acadêmico enriquecedor que o trabalho se submete. Conclui-se, então, que transformamos o exótico em familiar. 
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