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To Desire Differently: Feminism and the French Cinema Agnès Varda: Woman Seen Sandy Flitterman-Lewis foi uma das maiores escritoras feministas da década de 90, pois contextualizava os objetos de estudo não só com temas históricos do feminismo e da cultura cinematográfica, mas também buscava alternativas para o estereótipo clássico hollywoodiano sobre as mulheres. Escreveu 2 livros: “To Desire Differently: Feminism and the French Cinema”, “New Vocabularies in Film Semiotics” e mais de 30 artigos. Atualmente trabalha como professora, dando aulas como “Femme Fatale em Filmes Noir”, “A Mulher nos Filmes”, “Filme e Sociedade”, “Teorias de Mulheres e o Cinema”, etc. Ela investigou a "busca por uma linguagem cinematográfica capaz de expressar o desejo feminino", exemplificada por autoras como Germaine Dulac e Agnès Varda e por movimentos como o realismo poético, a new wave francesa, etc. Ela levou em consideração o momento histórico em que essas autoras estavam inseridas e consequentemente a influência que elas sofriam. Agnès Varda estava inserida na new wave francesa. Seus princípios feministas não tinham sido expressos publicamente no início da sua carreira, mas ao longo do tempo podemos perceber uma evolução/amadurecimento de seus ideais. "Cleo de 5 às 7” (1961) e "As Duas Faces da Felicidade" (1965), por exemplo, criticam a estrutura patriarcal sobre a exploração sobre a representação e a produção feminina. Só com "Os Renegados" (1985) que o status de feminista e cineasta de Varda se estabelece, apesar de ter tido uma recepção controversa entre as próprias feministas. Esses três filmes analisam as definições de "mulher" e a construção da sexualidade como um processo social complexo. As problemáticas da visão e do desejo feminino sempre assumiram papel central nos filmes de Varda. Para ela não era importante apenas que as mulheres vissem seus filmes, mas sim que as mulheres fossem vistas. A visão da mulher e o discurso cinematográfico trabalhavam juntos para formular um cinema feminista, construindo "o feminino" com as problemáticas do olhar. Varda estava sempre questionando a linguagem cinematográfica. Para ela, essa era uma forma de contestar e subverter os códigos dominantes enquanto inventava novas formas de expressão; quase como uma metáfora para o feminismo. Experimentou vários gêneros como o melodrama, o musical, o cinema-verdade, ensaio-poético, documentário. Em 1958, enquanto estava grávida, Varda gravou o curta de 17 minutos “A Ópera Mouffe”, que marcou o ponto de virada da sua carreira como feminista, quando ela percebeu o cinema como o meio ideal para expressar sua visão. O curta divide a Rua Mouffetard, na França, em diferentes temas de acordo com o ponto de vista de uma grávida: ela queria quebrar o estereótipo de que uma mulher grávida está feliz todo o tempo e que elas também se confrontam com o “espetáculo diário caótico que as cercam”. Ela representa essa dualidade de forma brilhante, mostrando os dois lados da Rua Mouttefard com felicidade, idade, pobreza, esperança e falta de esperança, monotonia, amor, morte, entre outros. “Cleo de 5 às 7” explora a imagem da mulher e a forma como ela é vista. Conta a história de uma cantora que está esperando o resultado para saber se está ou não com uma doença fatal; com isso, ela inicia uma “jornada” espiritual por Paris e acaba se descobrindo. Só então ela para de ser o objeto observado e passa a observar os outros; ela deixa de ser o estereótipo da mulher bonita, alta, loira, objetificada pelos homens e se transforma no observador. Ela inclusive se torna amiga de um soldado, que antes teria passado despercebido para ela, e ambos se relacionam além de classe, sexo ou erotismo. Para Varda, esse era o principal objetivo do feminismo. É somente quando Cleo se recusa a se ver como o mundo a vê que ela é capaz de realmente conhecer a si mesma. As contradições impostas no filme vão além das falas, e em diversos momentos vemos justaposições que reforçam sua mensagem, como por exemplo o jogo de luz e sombra, um homem comendo rãs (grotesco) com a beleza de Cleo, o natural e artificial, vida e morte, a trilha musical que reveza entre drama e comédia. Seu primeiro filme colorido, "As Duas Faces da Felicidade", apostou num visual ultracolorido de modo a discutir o conceito de felicidade numa sociedade regida por códigos patriarcais e o papel da mulher dentro dele. Conta a história de um marceneiro que tem uma família, e se apaixona pela atendente do correio; ele tenta viver essas duas vidas até que sua mulher descobre o romance e é encontrada morta no lago. A partir daí a amante ocupa o lugar da esposa, como se nada tivesse acontecido. Ela reivindica a necessidade de olharmos primeiramente para o objeto fílmico, avaliar as demandas que o filme apresenta para que assim seja possível extrair dele relações de significados extrafílmicos. O sistema cromático de Varda se impõe como elemento central na experiência fílmica, a elaboração visual reaviva o tema central da obra – a substituição de uma mulher pela outra – e Varda une dois campos aparentemente desconexos: a cor e as relações de gênero. O arranjo que Varda estabelece entre cor com os códigos fílmicos prescritos desde o roteiro - discussão da felicidade numa família burguesa patriarcal - emerge de maneira irônica através de uma paleta multicolorida e aparentemente aleatória. Até as transições do filme, que geralmente são pretas, nesse filme ganham cores vivas e quentes. Em “Os Renegados”, Varda misturou técnicas documentais com ficcionais. Utilizando atores e não-atores, ela queria passar uma imagem mais realística que representasse as diferentes classes econômicas existentes no Sul da França. Isso é refletido quando vemos a personagem principal, Mona, passando pelas mais diversas classes da sociedade francesa e como eles reagem a ela, que é uma garota rebelde e está vagando pela estrada no inverno. Varda disse: "Para esse filme, eu inventei uma personagem muito diferente de mim mesma. (...) O filme trata mais sobre o "Efeito Mona", da forma como ela afeta as pessoas com quem se relaciona. Ela é uma pessoa caótica, que força os outros a reagirem sobre ela e tomarem uma atitude a partir daí. Nós não torcemos completamente pela Mona pois ela é egoísta, suja, desagradável; mas ao mesmo tempo nos identificamos pois ela é livre e carrega consigo uma parte de nós, nossos sonhos e nossas lutas." O filme é como um inquérito, os personagens são as testemunhas e contribuem para a construção da personagem de Mona. Ou seja, aqui temos uma visão sociológica de Varda onde as testemunhas constroem a personagem (uma andarilha, sem-teto, uma mulher) questionando acima de tudo o feminismo (ou o machismo) inserido na sociedade.BIBLIOGRAFIA FLITTERMAN-LEWIS, Sandy. Agnès Varda and the Woman Seen. To Desire Differently: Feminism and the French Cinema CARVALHO, Laura. Sob O Domínio da Cor: Cinema e Pintura em Le Bonheur (1965) de Agnès Varda. Revista O Mosaico REINA, Andrei. A Hora e a Vez de Agnès Varda. Revista Bravo! http://womens-studies.rutgers.edu/for-faculty/244-sandy-flitterman-lewis http://www.cinemastudies.rutgers.edu/faculty-navmenu-117/95-sandy-flitterman-lewis
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