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A Análise Monetária de Wikssel

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A análise monetária de Wicksell
Autor(es): Ferreira, Rui Viseu
Publicado por: Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra
URL
persistente: URI:http://hdl.handle.net/10316.2/26101
Accessed : 22-Apr-2019 17:21:07
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impactum.uc.pt
A análise monetária de Wick eH 
A. INTRODUÇÃO 
1. Aspectos bibliográficos 
Johan Gustav Knut WrcKsELL nasceu a 20 de Dezembro 
de 1851 em Estocolmo e morreu com 75 anos a 3 de Maio de 
1926 (1). Foi contemporâneo de Bohm-Bowerk, Pareto, 
Von Wieser, Menger, W alras, Marshall, Wagner e ainda 
dos seus compatriota Davidson e Cassei, cujos trabalhos 
influenciaram o seu pensamento de várias maneiras. 
Em 1869, com 18 anos, começou o período de estudos, 
na Universidade de Uppsala, que se estendeu durante três 
décadas durante as quais obteve graus académicos em 
matemática e física, direito e economia. 
Wicksell começou a sua carreira académica como 
matemático depois de cm 1885 ter obtido um grau 
académico de altos estudos em mecânica, matemática e 
física . Mas o seu interesse social e o seu desejo de trabalhar 
para uma melhoria da situação da classe operária (2), 
(1) Escreveu as suas obras durante os últimos 20 anos do século 
passado e os primeiros 25 deste século. Neste período a Suécia era um país 
pobre e atrasado. A classe trabalhadora vivia na miséria e havia uma 
muito grande emigração para os Estados Unidos. 
(2) De acordo com LINDAHL (1956), pág. 4. A mudança do objecto 
de estudo da matemática para a economia tem a ver, no dizer de Um 
(1962), com a sua preocupação com o alcoolismo que teria como causas a 
pobreza, reforçada pelo aumento populacional. 
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conduziu- ao e tudo da ec nomia. Naquela época não se 
podia e tudar cconomi na Suéci a um ruvcl uperior já que 
a ciência económica era somente en inada nas fa uldades de 
direito. Assim até 1890 estudou econ mia em univer-
sidades inglesa, francesa, germânica c austríaca. 
A ua preocupação inicial foi a questão populacional 
endo ne te a pecto um neo-malthusiano. 
O períod m i pr dutivo como economista teórico foi 
entre 1890 e princípio da I Guerra Mundial cm que 
escreveu a maior parte da sua obras. Entre 1890 e 1899 não 
tendo uma regular po ição académica lev u a que passasse 
por problema~ financeiros (3). 
O seu primciro grande tratado foi publicado em 1892, 
em alemão, c m o título Valor, Capital e Renda. Apesar do 
reconhecimento internacional desta obra, foi recebida com 
indiferença aquando da sua publicação quer na Alemanha 
quer na Suécia. Uma das razõe para este facto era o 
domínio, entre os cononústas alemãe , da escola histórica. 
Wicksell tentou apre entar este trabalho como tese de 
doutoramento na Univer idade de Uppsala, ma foi-lhe 
recusado. 
Wicksell virou-se então para as fmanças públicas e em 
Maio de 1895 obteve um alto grau académico cm economia 
política. 
Nesse mesmo ano obteve também o doutoramento 
com um trabalho nesta área. Em 1896 publica o seu segundo 
trabalho sobre fmanças públicas. Mas o lugar efectivo na 
Faculdade de Filosofia de Uppsala foi-lhe recusado com o 
(3) Estas dificuldades estão relacionadas com a sua reputação de 
nã<H>rtodoxo em termos sociais e religiosos. Em 19010 lugar obtido na 
Universidade de Iund é considerado por UHR (1951) como urna vitória 
da liberdade académica. 
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argumento de que a sua tese pertenci:1. à faculdade de 
Direito. Sendo-lhe negada a carreira universitária sem um 
grau académico em direito, obteve-o entre 1896 e 1899 com 
especialização em direito fmanceiro. 
Entretanto, em 1898, acabou o seu segundo tratado, 
traduzido como Juro e Preços. 
Wicksell serviu somente um ano como docente na 
Universidade de UPPS().la, porque cm 1900 abriu um lugar 
de direito financeiro e economia na Universidade de Lund. 
Depois de disputar o lugar com G. Cassei obteve-o em 1901 
c exerceu-o até 1916. Em 1901 publicou o primeiro volume 
das suas Lições de Economia Pof{tica, que são uma refor-
mulação, com alterações na teoria do capitél.l do seu Valor, 
Capital e Renda (1892). Em 1906 o segundo volume das 
«Lições») foi dado a estampa, representando uma reedição 
reformulada de Juro e Preços. 
Quando da sua retirada do ensino muda-se para um 
subúrbio de Estocolmo de onde entre 1916-1926 exerceu 
uma acção decisiva nos debates económicos do seu tempo, 
intervindo como um homem da ciência e não como um 
político, sendo considerado o decano dos economistas 
suecos. Neste período desenvolve U111 programa anti-
inflação, que vai desenvolvendo e aperfeiçoando numa série 
de artigos entre 1915-1925. 
Em 1925 está preocupado em rever a sua análise, que 
publicou no 2. o volume das sua~ «Lições», à luz da expe-
riência sueca durante a guerra e no pós-guerra. Esta foi a sua 
última contribuição para a ciência económica já que a morte 
retirou-o do convívio dos vivos em 1926. 
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2. A Teoria económica no tempo de Wicksell 
Q uand Wick eU come ou os eu e tudos econó-
micos, por v lta de 1885, os marginalistas tinham conse-
guido impôr a ua concepções económicas. O mo da 
matemática trouxe ao economistas uma metodologia 
uperior ao empiri m e téril da e cola rustórica Alemã. Era 
o método deduti o da uce siva apr ximações que 
permitiam ao ec nomi ta ab trair- e do detalhe e in ter-
relaçõe confu a e i olar a força deci iv:\s capazes de 
explicar a complexa realidade que a teoria económica 
procura compreender. Mas esta teorias não estavam ainda 
totalmente desenvolvidas nem coordenadas uma com as 
outras, que ó veio a acontecer durante o anos noventa do 
século em curso. Wicksell de empenhou um papel signi-
ficativo ne te desenvolvimento. 
Depoi da rev lução marginalista de 1870, não existia 
wn único istcma de economia política; todavia, todas as 
escolas, s m diferença apreciáveis, partilhavam o mesmo 
conceito de análise: o equilíbrio geral. A divergência incidia 
sobre o pontos mel/os importantes como a modalidade 
técnica para descrever o equilíbrio. É uma questão à qual 
aparece ligado o nome de Walras, mas que está implícita em 
Marshall e nas obras principais da e cola austríaca (Wieser, 
Menger, Bohm-Bowerk). 
Por volta de 1890 o edifício teórico dos marginalistas 
parecia estar completo. Ma faltava-lhe a integração lógica 
das diversas partes construídas pelos diversos arquitectos. 
Menger, Wieser e Bohm-Bowerk trabalhavam cada um 
em especialidades separada, aparentemente incapazes de 
chegar à síntese das suas teorias. Menger especializou-se na 
teoria da utilidade marginal e empenhou- e numa batalha
metodológica contra a Escola Histórica Alemã, parti-
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cularmente com Schmoller. Weiser concentrou-se nos 
problemas do desenvolvimento econ6mico e social s6 
voltando à teoria pura cm 1913. Bõhm-Bowerk perdeu-se 
com as polémicas com os marxistas e com as teorias 
produtivas do juro. 
Marshall e Edgeworth cm Inglaterra, aceitando a teoria 
da utilidade marginal, insistiam num outro determinante, o 
custo real. Marshall, por outro lado, não aceitava parte da 
concepção de Bõhm-Bowerk. 
A escola de Lausanne, centrada à volta de Walras e dos 
seus seguidores, Pareto e Barone, parecia mais bem colocada 
para a síntese devido ao método de equilíbrio geral e da 
análise matemática-funcional das causas e interrelações 
multiplas e mútuas. Mas, discordavam de certos aspectos da 
teoria austríaca, especialmente da concepção de Bõhm-
Bowerk da produção e capital. 
Wicksell resolveu-se a tentar consolidar os ganhos 
fcitos pelos mais representativos da nova doutrina num 
sistema coordenado; dos seus esforços resultou o tratado 
Valor, Capital e Renda e mais tarde as suas Lições-I. Para 
conseguir o seu objectivo utilizou como núcleo o sistema 
Walrasiano, aperfeiçoando-o com os contributos dos outros 
expoentes desta doutrina, cm especial na parte relativa ao 
capital. 
3. A teoria monetária antes de Wicksell: Walras 
Todos os trabalhos dos autores marginalistas, de Bõhm-
-Bowerk a Marshall passando por Walras, são incapazes de 
dar conta dos movimentos gerais dos valores c das 
quantidades a que chamam de movimentos de curta 
duração, de longa duração, etc .. A lei dos mercados de Say 
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permanec válida. Em última análi e são as mercadoria que 
e trocam contra a mercadoria. Ma e ta te e nã nos 
explica porque variam preç e a quantidades da 
mercadoria trocada. A fê rma de ultrapa ar e ta que tão é 
intr duzir a procura de moeda. E tes autores fá-lo-ão 
justapond à te ria econónúca geral uma teoria da moeda 
que lhe é heter génea ou que, pelo menos, lhe é exteri r. 
O fact r m netári apar ce com um multiplicador que 
afecta de um mesmo coeficiente s diferente preços 
relativ . De um lado temo uma te ria d preços relativos 
em term ubjectiv, do outr uma te ria quantitativa da 
moeda em termo mecânicos. De uma à outra, nenhuma 
pas agem é pos ível. Uma conciliação puramente verbal 
opera-se na afirmação de que a moeda é um véu que basta 
levantar para encontrar os fenómenos reai : os movimentos 
do preço absolutos não modificam os preços relativos ou as 
condiçõe de pr dução, a m eda é neutra. 
Vejamos em particular a teoria de um destes autores, 
Walras (I). No que re peita à parte monetária limita-se a 
introduzir, justap ndo à parte real, a teoria quantitativa da 
moeda. De facto, WaLras considera a p:\rtir da IV edição a 
moeda di tinta do numerário, uma moeda sem valor 
intrúl ec e atribui a sua procura à utilidade do «service 
d'approvi ionnément» que rende. Na ua construção a 
m eda é um dos muitos capitais circulantes que satisfazem 
«as neces idades de aprovisionamento». O consumidores-
explica Walras - u am capital circulante nas duas formas 
de stocks de ben de consumo e de reserva monetária, com 
vista a futuras aquisições ou investimento; os empresários 
usam-no na forma de stocks de matérias-primas, bens 
(1) Seguimos de perto a interpretação deste autor de FABBRINI 
(1951). 
77 
acabados e reserva monetária. A reservas monetárias são 
necessárias para as aquisições de bens de consumo ou erviços 
produtiv s, u para reconstituir os stocks, quando não são 
sincronizávei com as venda. A procura de moeda é devia, 
consequentemente, somente ao motivo transacção. 
A partir desta concepçã de moeda, a reserva monetária 
c mo stocks do vários bens são introduzidos no esquema 
de equilíbrio geral e as quantidades oferecidas e procuradas 
ão função de todos os preços, compreendend os dos 
capitais circulantes e da moeda (a taxa de juro). 
A análi e marginal i ta torna-se, assim, extensível à 
111 eda: derivando a função utilidade determina-se a 
quantidade efectiva oferecida e procurada de reserva 
monetária de cada indivíduo e, por agregação, de conjunto 
dos indivíduos; o «tâtonnement», mediante a variação do 
preço da moeda (a taxa de juro), elimina o excedente de 
oferta (ou da procura) totais. 
A Walras deve reconhecer-se portanto, o mérito de 
haver incluído a equação de «cash-balance» no sistema de 
equilíbrio geral e de tê-la obtido com o método típico da 
análise do equilíbrio, respeitando a simetria do sistema. 
De f.:1.cto verifica-se uma diferença fundamental entre o 
«tâtonnement» desta fase e os das fases precedentes, as que 
explicam o equilíbrio da troca, da troca e da produção e da 
troca, produção e capitalização. O equilíbrio monetário 
vem depois de alcançado o equilíbrio de troca, produção e 
capitalização e, portanto, fora do sistema de equações do 
eqtúlíbrio económico geral. Durante este ajustamento 
verificam-se oscilações somente num preço, o preço do 
serviço de aprovisionamento da moeda, não influindo na 
procura e oferta efectivas dos vários bens e não sendo 
necessárias oscilações de preços nos outros mercados. 
A consequência é de que os preços de equilíbrio relativos 
78 
p dem er determinad omente n mcrcado de bens, 
c m numa cc n mia c m numerári ,ma sem moeda. O 
preços relativ não ã perturbad pela determinaçâo do 
rúvel ab luto de equilíbri d s preç , fcctuada no 
mercado mon tári . 
Devid a e ta brep sição do pr cesso de formação 
dos preç a te ria m nctária não é mai integrada com a 
teoria da pr duçã e da capitalização e a extensão da análise 
marginali ta à m eda não se verifica de facto. 
O erro fundamental de Walras é de não considerar o 
((real bal nce fcct», pelo qual uma alt raçã do rúvel de 
preços prov ca uma variação no valor real da reserva 
mon tária wn aumento u uma diminuiçã da procura de 
moeda e COl1 equentemente uma repercussão obre o preço 
das mercad rias. Este crro deve-se a uma inadmissível 
eparação entre a equações do istema, resolvendo sepa-
radamente aquelas que determinam os preços relativos das 
mercadorias daquela que determinam o rúvel absoluto. 
Concluindo, Walras procura extender a análise mar-
ginalista aos D nómenos monetário, p lo que substitui a 
equação da teoria quantitativa pela equação de Cambridge. 
Mas não soube ju tificar no processo dinâmico que leva ao 
equilíbrio a relação desta com a troca, produção e 
capitalização. A teoria monetária para Walra depois de 
tanto trabalho e refmamento da análise, volta a ser a que 
enunciara na primeira dição: a teoria quantitativa. 
4. A teoria monetária antes de Wicksell: os ante-
cedentes 
4.1. A teoria monetária é menos abstracta que a maior 
parte da teoria económica, na medida cm que não pode 
79 
evitar uma relação com a realidade, a qual não existe, de 
Fc rma imediata, a maior parte das vezes na «outra» teoria 
económica. Esta relação com a realidade condiciona por sua 
vez a pertinência da teoria monetária. A passagem de 
moeda metálica para papel moeda condiciona a teoria 
m netária, mas dizer que a moeda metálica deu lugar à 
moeda de crédito, não é, contudo, ir ao cerne da questão. 
A alteração crucial da moeda, de moeda metálica para notas 
ou depósitos bancário, é uma simples parte de um 
desenvolvimento profundo, o desenvolvimento do sistema 
financeir . 
A maior parte dos economistas clássicos situava a sua 
análise monetária numa economia representada por um 
modelo de moeda metálica, quando no tempo de Ricardo o 
desenvolvimento do crédito já era apreciável. Ao tentar 
tratar o sistema monetário como se fosse um sistema 
metálico, Ricardo estava a olhar para o passado. O sistema 
monetário em termos do qual ele
pensava era já, no seu 
tempo, uma coisa do passado. Era o sistema em que todo o 
empréstimo era de longo prazo, a taxa de juro era 
inteiramente determinada pela poupança c investimento, o 
nível de actividade era somente determinado pelos factores 
reais do sistema, e a quantidade de moeda actuava somente 
obre o nível de preços. 
Houve pelo menos um dos seus contemporâneos para 
quem esta análise não se ajustava na medida em que se 
colocava na óptica da moeda de crédito. Este autor era 
Henry THORNTON (1) e que tinha uma teoria de curto prazo 
a partir da análise de uma economia de crédito. Para Hicks 
(1) Escreveu A.n Ellquiry into the Nature and Effects of the Paper 
Credit of Great Britain (1802), seis anos antes de qualquer dos escritos de 
Ricardo. A sua teoria foi por n6s estudada a partir das referências 
encontradas em Um (1962) e HICKS (1967) . 
80 
(1967) c te autor tem a melhor análi c do funcionamento 
de um i tema de crédit entre s velhos econ mistas. 
Thornt n não m nte reconheceu que nos períodos 
curt a cau a monetárias podem ter efeit s reais, mas 
também que num i tema de crédit o reverso pode 
acontecer. A cau a re i têm efeitos m netário . O sis-
tema de crédit expandir-sc-á automaticamente se houver 
causa reai a pr mover uma expansão da actividade e 
contrair-se-á se h uver pânico ou se houver alterações na 
procura de capital que provoquem c ntracçõe. Algumas 
destas expansõe e contracções seriam desejáveis, outras não. 
Assim haveria a necessidade que o sistema de crédito fosse 
gerido. 
E te autor parece ter influenciado Wicksell dada a 
proximidade de po içõe, mas aparentemente Wicksell 
nunca o leu porque nunca se lhe refere, enquanto discute 
certo escritos de Tooke c Ricardo. Parece ter sido 
Davidson o primeiro autor sueco seu contemporâneo a 
redescobrir Thornton quando em 1916 e creveu um artigo 
sobre este autor que expõe sucintamente a sua teoria do 
movimento dos preços devido à divergência entre a taxa de 
lucro e a taxa de juro. Ao ler este artigo Wicksell ficou 
surpreendido por encontrar ideias similares às suas num 
autor anterior a Ricardo. 
Thornton tomou claro que a depreciação da libra-papel 
foi devido à emissão de notas resultantes da máxima taxa de 
desconto legal do Banco de Inglaterra ser inferior à taxa de 
lucro mercantil durante as guerras napoleónicas. Como 
resultado desta situação previu um processo inflacionista 
cumulativo enquanto esta situação persistisse. Esta emissão 
adicional de nota do Banco poderia nunca se ter tornado 
excessiva mesmo com escassez derivada da guerra e uma 
taxa de desconto fixa se assistíssemos a um aumento dos 
81 
preços mai rápidos que os custos o que faria com que as 
notas extras aumentassem ou mantivessem a alta taxa de 
lucr . 
4.2. Uma pOSlçao semelhante foi tomada por 
RICARDO poucos anos depois no seu trabalho The High Price 
of Bullioll (1811), argumento que se manteve com os seus 
PrincipIes of PoliticaI Economy and Taxation (1817). Mas 
Ricardo, pelas limitações derivadas do seu modelo ser de 
moeda metálic2., nunca extendeu a sua análise em termos de 
implicações para a estabilidades dos preços. Wicksell tinha 
consciência da limitação do seu modelo ao referir que 
Ricardo nunca o poderia ter feito ao defender o padrão-
-ouro como meio de conseguir uma moeda de valor estável. 
4.3. A essência da tcoria dos anti-bulionistas e da 
posição da Banking School foi que variações na procura de 
investimento influem no nível de preços e nas variações 
quantitativas da moeda. Thomas TOOKE foi o expoente na 
divulgação desta ideia (1). 
Esta observação de Tooke causou consternação. Com 
base na teoria quantitativa, os períodos de aumento da 
produção de ouro eram considerados períodos de elevação 
de preços e queda das taxas de juro. Com o seu estudo 
empírico demonstrou que os períodos de elevação dos 
preços são períodos de mais elevada actividade de inves-
timento e aumento das taxas de juro e de desconto, e vice-
-versa. 
(1) Escreveu Enquiry inta Currtncy PrincipIe (1846) e Histari' af 
Prices and the State af Circu!atian, 1792-1856, publicado em seis volwnes 
entre 1838 e 1857. 
6 
82 
Esta aparente contradição nã foi resolvida satis-
fatoriamente até Wicks 11 o fazer no eu JIUO e Preços. 
Partindo de uma situação de equilíbrio, ades oberta de 
novas minas de uro aumentará a pr cura de bens de 
equipament e ben de consum numa primeira fase, para 
equipar as mina e atisfazer as necessidade de consumo dos 
seus operários. P r i a descoberta de nova minas levará a 
um aumento da xportações dos país e que não produzem o 
ouro, o que provocará um aumento do preços. Como 
resultado as taxas de juro «reais» aumentarão, e com elas a 
procura de fundos para investir. Se s bancos estivessem a 
emprestar o máximo que podiam antes da descoberta do 
ouro, haverá com o aumento da procura um aumento das 
taxas de juro monetárias, pelo menos no intervalo entre a 
nova descoberta e a entrada do ouro como contrapartida das 
exportações para crédito dos produtores de ouro. 
Tooke teria razão ao afLImar que o aumento do preço 
precede o amnento da quantidade de moeda e que é 
acompanhado por um aumento das taxas de juro. P r outro 
lado, os quantitativistas não estavam errados ao inferirem 
que n? cquência da descoberta de orno, os preços subiriam e 
a taxa de juro diminuiria. Contudo, esta era uma análise de 
longo prazo, enquanto a de Tooke se aplicava ao curto prazo 
ou à fase transitória. 
4.4. A variação na procura de investimento implica 
desajustamentos entre a procura e a oferta agregada e 
consequentemente põe em causa a aplicação da lei de Say à 
análise de curto prazo; era uma ideia profundamente 
enraizada, mesmo se nem sempre claramente expressa, no 
pensamento dos «não-ortodoxos» da escola clássica. Teriam 
sido Sismondi e Malthus os responsáveis por esta concepção, 
83 
cmbora utros, nomeadamente Bentham e Mill (1) tenham 
contribuído para ela. 
É peculiar que Wickscll, que construiu a sua teoria com 
base na probabilidade e na constatação frequente de 
desajustamentos de curto prazo entre a oferta e a procura 
agregadas (reveladas por diferenças entre as taxas de juro real 
e nominal), nunca tenha mencionado Sismondi e Malthus. 
O segundo aparece referido a prop6sito da sua teoria da 
população. Não surpreenderá se o seu silêncio em relação a 
estes autores seja devido à sua rejeição dos estrangulamentos 
devidos a uma teoria do subconsumo. Esta será prova-
velmente a r~.zão pelo qual insiste que a sua explicação da 
flutuação dos preços não deverá ser tomada como uma 
teoria do sobre-investimento dos ciclos econ6micos. 
4.5. Outros, nomeadamente Walras, Edgeworth, 
Jevons e Giffen, provavelmente influenciaram os conceitos 
de Wicksell sobre crédito, bancos e velocidade de circulação 
da moeda com os seus trabalhos sobre estes assuntos (2). 
Contudo, a referência de Wickscll a estes escritores é 
escassa, e não discute as suas posições em profundidade. 
(1) JOHN STUART MILL na clnfluence of Consumption upon 
Productiont (no seu Essays on UlIsettled Questiolls) apresentou uma teoria 
de curto prazo. Mas é notável que 110S seus Principies (1848 - o cEssa}'» 
foi publicado em 1844, mas escrito antes) não encontremos qualquer 
referência à sua análise de curto prazo. HICKS (1967) considera que a teoria 
do Essay não foi explicitada nos Prh"iples por ser «perigosa.. É de 
salientar que a obra de Mill de 1844 surja depois da ocorrência das duas 
primeiras crises de uma série de «crises de crédito. ocorridas no século XIX 
em lnglaterra. 
(2) LÉON W ALltAS: Théorie lIIathelllatique du BiIlet de Banque (1879) 
e Théorie de la lIIonllaie (1884); EOGWORTH: Mathematical theorie of Banking 
(1886); JBVONS : MOlley and the mechanism of Exchange (1875) e 
lnvestigatioons in Currency and Finance (1884); GIFFBN: Essays
in Finance 
(1886) . 
84 
Finalmente vem Mar hall. Referências no Juro e Preços 
(pág. 46, 76, 158 e 183) mostram que Wick cll e tava 
fanúliarizado com Evidetlce mzd Memorando de Mar hall 
anterior a 1886. Os comentários de Wicksell eram breves e 
não realçavam nada em especial nas posições de Marshall. 
No entanto, parece que Wicksell não estava a par do artigo 
de Marshall «Remedies for Flutuation of General Prices» 
(Março, 1887). Este artigo apresenta o essencial das posições 
deste autor sobre a análi e monetária. Por outro lado, 
Marshall ignorava o trabalho de Wicksell apesar das 
conferência por e te proferidas em 1906 em Inglaterra e do 
artigo publicado em 1907 no Economic J ournal «The 
influence of Interest and Prices», já que Money, Credit alld 
Commerce (1922) não se refere a Wicksell. 
Em Inglaterra as posições monetárias de Wicksell s6 
tiveram impacto com a discussão de Keynes de Juro e Preços 
no seu Tratado da Moeda (1930). Por esta razão Uhr (1962) 
entende que Marshall deve ser tratado como um antecedente 
de Wicksell, apesar de contemporâneos, porque nunc2. se 
conseguiu emancipar da teoria quantitativa. Foi Keynes 
quem pela primeira vez qualificou a análise monetária de' 
Marshall comparativamente à de Wicksell como per-
tencendo a uma época mais prinútiva no desenvolvimento 
da teoria monetária. 
B. A TEORIA MONETÁRIA DE WICKSELL 
1. O conceito de moeda 
Wicksell na sua definição de moeda começa logo por se 
distanciar da teoria quantitativa mecanicista quando na parte 
central da sua análise, o seu tratamento do equilíbrio entre o 
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8S 
«mercado monetário» e o «mercado de bens» emprega a 
seguinte deftnição « ... economically spealcing, money is a 
quantity in two dimensio~ls, quantity of value on the one hand 
and velocity of turnover or circulation on the other. These 
two dimensions multiplied together give the efftciency of 
money (Helfferich) or its power to facilitate the turno ver of 
goods during a given time, in the course, for exemple, of 
one consumption year» (1). Desta forma Wicksell começa 
logo por abandonar a hipótese de uma velocidade de 
circulação da moeda constante, hipótese esta característica 
dos quantitativist2.s mecanicistas. 
A distinção entre moeda e as mercadorias ordinárias 
resulta do facto de a moeda, diferentemente dos outros bens 
não possuir uma utilidade djrecta, somente uma indirecta, a 
utilidade dos bens que pode comandar. Mais, diferen-
temente dos outros bens, a moeda não é consumida pelo seu 
uso. Permanece em circulação e a sua quantidade é igual ao 
agregado dos «cash balances». Como uma «quantidade de 
valor», é igual ao valor real do agregado dos «cash balances». 
Isto também explica o paradoxo de poupar, nomeadamente, 
qua quando todos tentam aumentar os seus «cash balances» 
ao mesmo tempo, ninguém tem sucesso, porque sendo dada 
a quantidade, a sua taxa de circulação declina enquanto o seu 
valor aumenta na medida em que descem os preços (2). 
Quanto às funções da moeda importa destacar como 
função principal a de meio de troca, que é a função que 
permite correlacionar rácios de troca de mercadorias uns 
com os outros, facilitando assim o equilíbrio do mercado. 
Tomada isoladamente a sua função de meio de troca é neutra 
em relação (i. é, determinada independentemente de) aos 
(') WICKSELL (1906), pág. 19. Itálicos acrescentados. 
(2) WICKSELL (1906), pág. 8-9 e 20. 
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preços relativ s das mercadorias cujas relações de troca ã 
correlacionada p r mei daquela. 
Num mercado perfeito os preços relativos são deter-
minados por wna intervenção mútua da preferência dos 
conswnidor s e do cu tos de produção. Claramente, as 
condições que determinam o preços relativos não deter-
minam o valor da moeda, porque preço rdativo do meio 
de troca em relação a i mesmo é igual à unidade. 
Desta análi e resulta a distinção entre o «mercado 
monetário» e «mercado de bens» já que as força que 
determinam o «valor» na duas esferas não são as mesma. 
2. A velocidade de circulação da moeda 
De acordo com Uhr (1962) a doutrina monetária de 
Wicksell pode ser discutida do ponto de vista de se ter a 
função de reserva de valor como ponto d.e partir.a (1) e apa-
recendo e tritarnente as ociada à velocidade de circulação da 
moeda. 
Wicksell parte de uma economia cm equilíbrio de 
pleno-empre-go, presumivelmente devido ao facto de as 
funções da moeda poderem ser melhor compreendidas em 
circunstâncias em que não operem fora do habitual. O seu 
conceito de velocidade de circulação foi expresso da seguinte 
manelra: 
«The period during wich any piece of money is on 
average retained in the safe, between a salc and a subscquent 
purchse, may be c~llcd the average period of idleness; and 
the inverted value of this period of time, expressed as a wút 
(say a year) will be the average velocity of circulation .. . 
(1) UHR (1962) , pág. 218. 
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Included in the circulation of money is of coursc the 
transfer of money from one person to another by mcans of 
loans or advances» (1). 
Apesar de :? sua concepção de V não ser muito clara, a 
qual s6 receberá melh r elaboração com Fisher, podemos 
verifto.r que as alterações no valor de V dependem dos 
motivos que alteram a procura de moeda quer através de um 
enfoque macroecon6mico que ponha especial relevo nos 
aspectos institucionais, quer através do comum enfoque 
microeconómico (2). 
Wicksdl apresenta o enfoque microecon6mico bali-
zado pelo aspecto institucional, a sua hipótese de uma 
economia de crédito pura, como se veriftca dos motivos que 
compõe a procura de moeda: (a) procura de dinheiro para 
transacções; (b) reserva pelo motivo de precaução; (c) para 
acumub.r poupanças à espera J.e oportunidades de inves-
timento; (O.) par2. liquidar grandes parcelas de capital c; 
(e) para ter um fornecimento de moeda ou notas de banco 
quando se torna difícil:? sua obtenção. Os motivos (a) e (b) 
servem como m2.rgem de segur:?nça, enquanto os motivos 
(c) e (e) serão nulos cm termos líquidos quando as poupanças 
são investidas e não ocorrem pânicos fmanceiros. Final-
mente, (d), a procura para liquid~.r grandes parcelas de 
capital, é vista como um imprevisível mas pouco importante 
motivo. Está relacionado com sÍtu2.ções de partilha, legados 
ou conflitos entre partes (3). 
(I) WICKSBLL (1906), pág. 60. Wicksell dedica o cap. III, o 
capítulo central em termos das hipóteses do seu argumento, ao estudo da 
velocidade de circulação e ao sistema de crédito: .the velocity of 
circulation of money, banking and crediu. 
(2) Estes dois enfoques foram explicitados por BOISSIEU (1977) que 
considera como exemplo do enfoque micro económico as análises dos 
keynesianos e monetaristas . 
(3) WICKSELL apresenta estes argumentos no seu Juro e Preços e vem 
citado por UHR (1962), pág. 221. 
Havendo indicado que V é uma função de varlas 
variáveis, deixou para os outros a tarefa de investigar a sua 
determinação em detalhe enquanto devotava a ua atenção 
mais para os aspectos macroeconómicos, como a variação 
potencial de V como parte de MV a partir do crédito, 
que analisaremos de seguida. 
3. O desenvolvimento do crédito como um aumento 
virtual de V 
Na sua análise dos aspectos institucionais, em especial 
do sistema de crédito, Wicksell faz uso da constatação de 
que quando os pagamentos são feitos por uma compensação 
mútua, o uso da moeda diminui. A moeda que de outra 
maneira teria sido usada na ausência de crédito está agora 
livre. Assim o desenvolvimento do crédito aumenta a 
virtual velocidade de circulação de um dado stock
monetário. Com base nesta constatação começa a ver os 
sistemas monetários existentes a uma nova luz e a classi-
ficá-los de acordo com o grau de desenvolvimento do 
sistema de crédito. Num extremo há uma economia de 
troca pura onde não há crédito. Neste caso V depende 
claramente dos hábitos de pagamento e em termos práticos 
pode ser considerada uma constante e a teoria quantitativa é 
válida. Logo que haja crédito, V torna-se variável ou 
elástica. 
Deste ponto de vista a progressiva substituição de 
crédito por moeda metálica, ao afectar de forma progressiva 
os pagamentos, é visualizada em termos de uma evolução 
das instituições bancárias. Os bancos comerciús desen-
volvem-se, o que obvia o uso de moeda para pagamentos, 
sendo esta convertida em depósitos à vista. Um banco 
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central é criado para· centralizar as reservas dos bancos 
privados. Este facto torna possível uma expansão múltipla 
dos depósitos e da notas. O banco central adquire poderes 
para exercer um control sobre a expansão do crédito, 
principalmente pela sua habilidade em manipular a taxa de 
desconto e em condicionar a política de crédito dos bancos 
privados via operações de «open-market». 
No mercado de crédito puro V torna-se infmitamente 
elástica. Consequentemente a oferta de moeda deixa de ser 
um obstáculo ao desenvolvimento económico, sujeitando-se 
somente aos termos cm que os bancos centrais controlam o 
crédito. Nestas circunstâncias os poderes das instituições 
bancárias serão medidos pela sua capacidade para adoptarem 
uma política de crédito racional, que Wickscll entende 
como uma política capaz de manter o valor da moeda, a 
unidade de cont;)., constante (1). 
(1) JONUNG (1978), retoma a análise Wickselliana de v com ênfase 
nos aspectos institucionais para determinar a procura de moeda de longo 
prazo. Considerando existir urna curva de v em u no longo prazo, a parte 
decrescente (1870-1920) seria explicada, de acordo com Wicksell, pelo 
processo de monetarização que consiste em dois aspectos interdepen-
dentes: a) o uso crescente da moeda na sua função de meio de pagamento, 
resultado da diminuição da troca em espécie e da produção para 
autoconsumo; b) o crescimento dos bancos comerciais oferecendo ao 
público notas e facilidades nos depósitos. 
A parte crescente (1920-1970) seria explicada por (A) um aumento 
da sofisticação fmanceira e (B) um aumento da estabilidade e segurança 
económica. A «sofisticação fmanceira. descreve duas tendências; 
primeiro, o aparecimento de um largo número de substitutos da moeda 
como títulos, acções e outros activos fmanceiros; e segundo, o 
desenvolvimento de vários métodos para economizar a moeda, como o 
cartão de crédito, transferência de fundos por meios electrónicos ou 
telefone, etc.. O aumento da estabilidade e segurança económica reduz a 
procura de moeda pelos motivos precaução e reserva de valor, e está 
associada ao peso crescente da segurança social e ao sucesso do modelo de 
crescimento dos pós-guerra. 
Assim as variações em v serianl o resultado de alterações 
institucionais que provocariam substituições: primeiro a substittúção de 
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4. O valor da moeda pode ser afectado por variações 
na velocidade de circulação 
Nesta altura será útil levantar a questão de como o valor 
da moeda é determinado na análi e de Wicksdl através da 
função da m cda com reserva de valor que a parece 
associada ao conceit de velocidade de circulação da moeda. 
C ntudo, WickscU não o demomtra explicitamente. Em 
vez disso pre cupa- e com o problema d vai r da moeda 
d ponto de vista da procura agregada, deixando a 
velocidade de circulação implícita. 
Com erá evidente, o «modelo» seguinte será grosseiro 
na medida em que todas as alterações de grandeza dos «cash 
balances» têm de vir expres os em variações de V se 
reflectem a concepção de Wicksdl sobre a função de reserva 
de valor da moeda. 
O modelo assume uma economia fechada operando em 
livre concorrência e total utilização dos recursos. É uma 
economia com um sistema de crédito puro e está 
inicialmente em equilíbrio monetário, o qual, para sim-
plificar, pode ser considerado como o que tem o nível de 
preços, P, associado a uma produção corrente, O, constante. 
A moeda será uma «Ulúc.;>.de de conta». Em termos 
agregados é a quantidade de valor multiplicada pela 
velocidade de circulação - M. V. Sendo M a quantidade de 
valor igual ao somatório dos «cash balances», o valor real do 
qual depende a qualquer momento P, sendo ° e V 
constantes. Comequentemente, V = PO/M depende da 
activos reais por moeda na forma de notas e depósitos e outras formas de 
pagamento e de reserva de valor; segundo a substituição da moeda por 
novos activos. A análise de WickseIl explicaria a parte decrescente da 
curva, enquanto a parte crescente seria explicada por uma extensão desta 
análise, mantendo uma grande ênfase nas alterações institucionais. 
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disposiçã da comunidade para acumular reservas de valor 
na forma de moeda. A quantidade de moeda armazenada é 
l/V = M/PO, com M e ° dados; um aumento na 
disposição para guardar valores líquidos pode somente ter 
como resultado uma redução de V c uma diminuição de P, e 
VI cc-versa. 
Sendo M, por definição, igual em qualquer momento à 
procura e oferta de moeda, alterações no «valor da moeda~, 
i. é em P, têm que ser consideradas entre as forças que 
operam sobre a disposiçã de guardar valores líquidos, ou 
seja, que operam sobre a procura de moeda. Como vimos, o 
maior e mais variável dos dementos da procura de moeda é 
a procura líquida pelos poupadores de saldos nos quais 
possam guardar o valor das suas poupanças enquanto estas 
esperam a oportunidade de investimento. Num «sistema em 
ordem» eSt;!. procura líquida deve ser nula. 
Se o sistema não está «em ordem~, ou seja, e está em 
desequilíbrio, então os dep6sitos criados a favor dos 
empresários (os créditos conhecidos) podem ser superiores à 
poupança acumulada . 
Para facilitar a análise vamos ignorar os outros 
elementos da procura de moeda, em especial os relacionados 
com o motivo transacção e precaução (os motivos (a) e (b) 
referidos), reconhecendo-os, no entanto, como sendo 
capazes de variações independentes num sistema que esteja 
cm ou pr6ximo do equilíbrio. 
Assim, em equilíbrio 1 = S, ambos considerados ex-
ante; nestas circunstâncias P será constante. Mas se I excede 
S ex-ante , V tem de aumentar, desde que M se mantenha 
constante. O contrário acontecerá se I for menor que S, 
ex-ante . Consideremos as variações de V, como sendo d V. 
Então se I > S, temos: 
[M (V + dV)]. l /O = P' com P' > P 
92 
Mas se I < S, temo : 
[M (V + dV)]. 1;0 = P" com P" < P 
Contud , V tem um preço de oferta, a taxa de desconto 
ou taxa de juro de empréstimo, i, o qual é determinado pelos 
bancos centrais. Esta taxa também determina fluxo de 
saldos d poupança. Mas se bancos estão activamente 
empenhad s na criação de depósitos, V pode aumentar 
indefrnidamente d ponto de vista da oferta, indepen-
dentemente d"s p upança. Se V aumenta ou não para um 
vaI r dado de i, para o qual o fluxo de p upanças c a 
di posição para armazenar valore líquidos têm que ser 
também dado, dependc da procura de investimento. 
A procura de inve timento, é por sua vez, função da taxa de 
retorno e perada do novo capital investido, a taxa de juro 
real de Wicksell, r. Para i dado, o investimento deve 
alcançar uma gr;mdeza que iguale r a i. Se, devido à inércia 
ou a uma falha de política, o banco central mantém i 
constante enquanto r aumenta, I excede S c a consequência é 
um aumento dos preços.
O aumento de P toma-se 
cumulativo desde que o aumento inicial de P aumente r cada 
vez mais . 
Este processo cumulativo continua até o banco central, 
ou uma crise, pará-lo com um aun1ento suficiente de i, ou 
uma diminuição suficiente de r. Mas se em vez de um 
«sistema de crédito puro» tivermos um sistema de padrão-
ouro, ao aumento cumulativo dos preços sobrevem um 
dreno da liquidez interna que delapida as reservas de ouro do 
banco central e força-o a parar o processo cumulativo com 
um aumento da taxa de desconto. 
Da tradicional teoria quantitativa da moeda pouco 
ficou. NW11a economia de crédito «um aumento da 
quantidade de moeda» pode somente ocorrer com o 
consentimento e cooperação do banco central. Se tal 
93 
aumento ocorre é devido a um aumento da procura de 
moeda, devido a um aumento de r relativamente a í. Ma 
então o aumento da quantidade de moeda torna-se num 
aumento de criação de dep6sitos, i. é, um aumento de V. 
Assim Wicksdl tran forma a teoria quantiativa numa teoria 
de velocidade de circulação da moeda. Como consequência 
Wicksell torna claro que a ~nálise monetária tem de 
proceder à desqualificação da lei de Say no curto prazo por 
meio de uma análise agregada da procura-oferta. Esta 
desqualificação depende da existência de um sistema 
bancário, criador de moeda, que torne possível um oferta de 
crédito elástica e dependente da diferença entre j e r. 
5. O mercado monetário versus mercado de bens 
Wicksell definiu o valor da moeda e os meios de o 
medir como segue: « We mcan by value of money exact1y 
the same thing as the exchange value of money, its 
purchasing power as against goods and services. To us, 
therefore, the vaI ue of money and the price levei are 
synonymous, or more correcty, correlative ideas» (1). 
Desta definição e da dupla dimensão do conceito de 
moeda, decorre a necessidade de uma análise na base da 
procura e oferta agregadas para determinar o valor de troca 
da moeda . 
A sua crítica construtiva à teoria quantiativa tomou-se 
o ponto de partida para investigar as condições do equilíbrio 
monetário. Entre os defeitos da teoria quantitativa ele notou 
em particular o conceito uni-dimensional de moeda e o 
mecanismo associado de que alterações de curto prazo na 
(1) WICKSBLL (1906), pág. 129. 
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quantidade de m eda implic m alteraç-e pr p rCl nalS no 
nível do preç . 
Para res lver problema de c m a moeda agr gada 
p de exceder u ser inferior à oferta de bens Wicksell LU 
u o de categ rias di tintas tai como o «mercad de bens~ c o 
«mercad monetário». A ua suge tão d dois mercados é 
um frutuo o mei analítico. Keyne utiliza um método 
análogo quando distingue entre «a circulação industrial~ e a 
«circulação financ ira)), n Tre(/(ise 011 Money, cap. 15. 
P,trl Uhr (1962) (I) a moderna contrapartida desta ideia 
está para as teorias do rendimento e emprego na ênfase dada 
à falta da nece ária co rdenação entre os agentes econ6-
mico que poupam e dos que tomam as decisões de investir. 
No juro e Preços Wicksell analisa o «mercado de bens~ 
cm tcrm s de uma economia de troca pura. Uma relação 
neste mercado tcm uma importância estratégica na sua 
teoria, a saber. a proporção na qual a produção corrente é 
dividida em «presente» ou bens de consumo c «futura» ou 
bens de capital. Dada a preferência de tempo dos receptores 
de rendimento ao escolherem o uso a dar ao rendimento real 
tntre con umo c poupança real, a taxa de juro natural 
reflecte a produtividade marginal do capital correspondente 
ao investimento real de equilíbrio. 
A razão da defmição de «mercado de bens» foi explicitar 
que os preços relativos são deternúnados pelas condições de 
produção e de consumo de que dependem. não exercendo 
qualquer influência sobre o nível absoluto de preços, ou seja, 
justificando a separação entre «mercado de bens» c «mercado 
monetário~. 
Mas para esta separação ser efectiva não era necessário 
construir o mercado de bens em termos de uma economia de 
(I) Pág. 226. 
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95 
tr ca pura em moeda,já que nesta não se poderia comparar 
a taxa de produtividade marginal dos diversos bens. Uma 
vez monetarizado o «mercado de bens» cm termos de uma 
moeda com um valor constante, Wicksell substitui a 
definição de taxa natural por taxa real de juro definida em 
termos de valor de troca como o valor da produtividade 
marginal do capital real, o que aconteceu nas Lições-II, 
pág. 190 e seguintes. 
No mercado monetário as transacções seriam mediadas 
pelo banco central e pelo sistema de bancos privados 
independentes. Embora Wicksdl reconhecesse a xistência 
de bancos de investimentos especiais, não diferenciava as suas 
funções das dos bancos comerciús. 
Os bancos recebiam poupanças dos recebedores de 
rendimento, incluindo firmas e ('mprest~vam-nas aos 
empresários-investidores a uma taxa de juro monetária, que 
seria uma média das taxas de juro diferenciadas. Se os 
bancos não abusassem da criação de depósitos e o público do 
desinvestimento, a taxa de juro monetária tenderia a 
estabelecer a competição a um nível tal que o investimento 
igualasse a poupança. 
A procura de fundos de investimento é determinada 
pela taxa de j uro real. A oferta de crédito é elástica (devido 
à variabilidade de V tornada possível pela passiva ou 
deliberada criação de depósitos pelos bancos) pelo que a 
oferta de fundos para investimento não precisa de ser igual a 
curto prazo à poupança. Se o fluxo de poupança é dado a 
uma dada taxa de juro monetária, o aumento da taJQ de juro 
real aumenta a procura de fundos para investir excedendo a 
poupança, e a diferença é tornada possível pela expansão do 
crédito bancário. 
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6. A natureza do equilíbrio monetário 
Na pr pria palavra de Wick eH, a condiçõe de 
equilíbri em ambo os mercad s de ben e erviços foram 
expresso c 111 segucm: 
«That 1 an rate which is a direct expressioll of the real 
rate, we call the n rmal rate ... The rate of it/terest at which the 
dell/and for loall capital alld the st~pply of salJitlgs exactly agree, 
alld Ulhich morc or less correspotlds to the expected yield on the 
lIel/l!y created real capitallllill thw be the normal or llatural real 
rate. It is esswtialy I'ariable. If the prospects of mployment 
of capital become more promising. demand will increase 
and will at fir t exceed supply; interest rates will then ris e as 
the demand from entrepreneur contract until a new 
equilibrium is reached at a lighthy higher rate of interest. 
At the same time eqHi!ibri'/I1/ II/HSt ipso facto obtain ... itl the 
market for goods (//ld serllices, so t"at II/ages alld prices remaitl 
unchatlged. The sum of money incomc will then usualy 
exceeel. the money value of consumption goods annualy 
produced, but the excess of income - i. c. what is annualy 
saved and invested in production - will not produce any 
demand for pre ent goods but only for labor or land for 
future production» (I) . 
As im o equilíbrio no mercado monetário implica: 
a) equilíbrio no mercado de bens; 
b) a taxa de juro normal ou de equilíbrio no mercado 
monetário; a qual mantcrá os preços estáveis no mercado 
de bens. 
(1) WICKSElL (1906), pág. 192-193. Itálicos acrescentados. 
97 
a) As condições do equi [{brio monetário 
A análise de Wicksell mantém as hipóteses de livre 
iniciativa e pleno emprego sem considerar o Estado na sua 
componente de gastos e impostos. 
A taxa de juro normal ou de equilíbrio é, como foi 
mostrado, aquela que iguala a procura de fundos de 
investimento (ex-ante) ao fluxo de poupança das pessoas e 
empresas. Para uma dada taxa de juro monetária o 
investimento é uma função da taxa de juro real de tal forma 
que só se realiza para
projectos que excedam ou igualem a 
taxa de juro monetária. Mas em livre concorrência, 
respeitando-se a condição de equilíbrio anterior, teremos 
que os preços igualam os custos de produção. Conse-
quentemente, o equilíbrio monetário entre investimento e 
poupança implica um equilíbrio no mercado de bens 
traduzido na igualdade custo-preço. 
Para que o equilíbrio monetário se mantenha (i. é, com 
ausência de expansão do crédito) com ganhos adicionais no 
mercado de bens, derivados de taxas de juros real superiores 
nalguns sectores em relação a outros, deverá haver a dupla 
coincidência de que (a) a procura de investimento se tenha 
expandido na directa proporção do aumento dos ganhos, e 
(b) os ganhos serão poupados na totalidade (1). 
Em qualquer caso, se a condição necessária para 
preservar o equilíbrio monetário é permanecer a igualdade 
(I) O equilíbrio de custo igual ao preço no mercado de bens não 
implica necessariamente preços estáveis e um nível geral de preços 
invariante a não ser que se assuma funções de produção constantes. Se a 
produtividade aumenta, o equilíbrio é igualmente preservado a preços 
variando inversamente com a alteração da produtividade, com o 
rendimento monetário constante ou com os preços constantes e o 
rendimento monetário aumentando na proporção do aumento da 
produtividade. 
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custo-preço n mercado de bens quando a produtividade 
aumenta, i to por si 6, não garante a manutmção do 
equilíbrio m netári . A condição suficiente erá (a) se o 
nível de preços varia inversamente com s alterações na 
produtividade, então o rendimento rcal da comunidade 
deverá ser repartido para consumo e investimento na mesma 
proporção que o aumento do produto nacional é feito com 
base em bens de consumo e bens de investimento ou (b) se o 
nível de preços é estável quando a produtividade aumenta, 
então o aumento do rendimento monetário da comunidade 
será repartido em poupança e consumo na proporção 
adequada. Não existe, é claro, nenhuma razão para acreditar 
que este duplo ajustamento será conseguido automati-
camente. 
b) O equiUbrio no mercado monetário como sendo distinto 
do equiUbrio dos preços relativos no mercado de bens 
A distinção entre os dois mercados considerados por 
Wicksell é reforçada pela natureza do equilíbrio nestes 
mercados. O equilíbrio no mercado de bens foi descrito 
como estável devido a forças que o trazem permanente-
mente para o equilíbrio. Mas o equilíbrio monetário é pelo 
contrário descrito como (Jabide» ou neutro em carácter. Se 
qualquer força, uma divergência entre i e r, mover o sistema 
da sua posição de equilíbrio, este reagirá como um cilindro 
num plano. A força desequilibrante levará o cilindro 
cumulativamente cada vez mais longe do ponto de partida. 
E se a força propulsora se esgota, o cilindro permanecerá no 
ponto para onde se deslocou sem qualquer tendência para 
regressar à sua posição inicial (1). 
(1) WICXS.ELL (1906), pág. 196-197. 
99 
A principal força (por muitos anos para Wicksell, a 
única) permitindo a ligação entre as forças de determinação 
do valor no mercado de bens e no mercado monetário, 
respectivamente, são os movimentos cumulativos de preços 
enquadrados por discrepâncias entre as taxas de juro 
monetária e real. 
De um ponto de vista microecon6mico, indivíduos e 
firmas activos no mercado de bens não têm qualquer meio 
de influenciar o nível geral de preços. Somente o banco 
central e o sistema bancário estão em posição de ver o 
mercado monetário como um todo. Mas mesmo estes não 
têm um controle directo sobre o lado da procura, ou seja, 
sobre o investimento que é fllilção da taxa de juro real que é 
variável e não pode ser conhecida directamente, porque as 
expectativas empresariais da qual deriva não estão registadas 
em nenhum sítio. Os únicos indícios são os movimentos de 
preços a que dão lugar depois de algum tempo ap6s a 
alteração da taxa monetária. É por isso que os bancos não 
podem fazer melhor do que ajustar o nível das taxas 
monetárias com um desfazamento em relação à taxa real. 
7. O processo cumulativo 
Na formulação apresentada, a teoria de Wicksell tem 
um alcance limitado. Pode dizer-se que, por um lado, uma 
situação fixa de equilíbrio supõe como condição que j = r, 
e, por outro lado, o equilíbrio ficará perturbado devido a 
um processo cumulativo se essa igualdade não existe. Por 
conseguinte, pode-se criticar a teoria de Wicksell pela 
mesma razão que a teoria quantitativa: ser estática. 
Mas a teoria contém um elemento dinâmico, o facto de 
q ue uma divergência entre os dois tipos de juro conduz a um 
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processo de alta u baixa. Este será p nt central. núcleo 
da sua teoria confc rme a opiniã da grande mai ria dos 
aut res c mo Myrdal (1956). Marjolin (1941). Magaud 
(1950) e que é de ignado por processo cumulativo (I). 
Wicksell entende por pr cesso cumulativo a diver-
gência acidental entre a duas taxa de jur • que provcca um 
movimento geral de alta ou baixa de preços que tende a 
pros eguir espontaneamente. desde que a divergência se 
mantenha. A divergência entre as taxas de juro deve-se ao 
facto da taxa de juro real variar em virtude da inovação. 
cre cimento da população. abertura de novos mercados. etc. 
Por uma destas razões a taxa real de juro aumenta enquanto 
a taxa monetária permanece constante. A pr cura de 
investimento aumenta pala um nível superior à oferta da 
poupança voluntária e tal aumento é alimentado pela criação 
de depósitos pelo sistema bancário. O aumento da procura 
de investimento gera uma procura adicional de bens de 
capital que aumenta os preços e provoca uma alteração na 
repartição do rendimento a favor dos empresários. Os 
últimos. por sua vez procuram expandir o investimento com 
base na expectativa de lucros. atraindo recursos de outros 
sectores nomeadamente do sector que produz bens de 
consumo aumentando os salários e as rendas. Assim a 
produção de bens de consumo diminui enquanto o 
rendimento monetário e os gastos do consumo dos 
trabalhadores e proprietários aumenta. Por isso os preços 
dos bens de consumo aumentam. e este aumento por sua vez 
faz elevar a expectativa de lucros na indústria de bens de 
capital. Este facto induz nova expansão que leva a um 
aumento dos salários e rendas com novo decréscimo da 
(1) A interpretação contrária, nomedamente a de PATlNKIN (1952) 
será exposta mais à frente, na secção C deste trabalho-
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produção de bens de consumo c um subsequente novo 
aumento nos seus preços, etc .. Este processo pode continuar 
indefmidamente até a ruper-inflação acabar numa crise no 
decurso da qual taxa monetária de juro aumente. Pode 
aumentar acima da taxa de juro real provocando um 
processo cumulativo deflacionista, ou pode aumentar para 
um nível idêntico ao desta chegando-se a um novo 
equilíbrio, com preços mais elevados do que na situação 
inicial. 
Wicksell não insiste que o processo cumulativo 
necessariamente tem de terminar em crises de ruper-inflação 
ou deflação; nem exclui a possibilidade de poder haver forças 
que gerem eventualmente um novo equilíbrio sem crises. 
Ele ficou contente por haver demonstrado que a discre-
pância entre as duas taxas « .. .is strong enough to expIain 
actual price flutuations wruch manifest1y can not be due to 
variations in the quantity of goleI .. . » (1). 
8. A importância da análise de Wicksell 
Numa certa medida, as suas conclusões aparecem como 
sucedâneas da teoria quantitativa, pois que a criação de um 
poder de compra complementar engendra variação
nos 
preços. Por sua vez, é de referenciar que este poder de 
compra não resulta somente da actividade do instituto 
emissor mas de toda a organização bancária. Por outro lado, 
a origem destes movimentos provém da atitude dos 
empresários, ou seja de um factor extra-monetário (2). 
(1) WICKSELL (1906), pág. 200. 
(2) Conforme MAGAUD (1960), pág. 69. 
Maria de Fatima
Realce
102 
8.1. O pr blema fWldamental da análise de Wicksell 
poderá er con iderad c mo da estabilidade dos preço c, 
cm última estância, da neutralidade da moeda. Mas 
enquant a teoria precedente tenderia a c n iderar a moeda 
neutra por definição, Wicksell tem c nsciência da diferença 
que existe entre uma economia de troca e uma economia 
monetária e que, por con equência, a presença da moeda 
influenciada de modo es mcial o andamento da economia, 
em especial realçando os aspectos instituci nais que poten-
ciam o papel da moeda na economia, como é o ca o da 
chamada economia de crédito pura. 
Ao evidenciar o papel da moeda e dos factores 
institucionais a da ligados introduz na análise o mercado 
monetário como elemento chave da actividade económica. 
A validade da lei de Say, que pode ser considerada numa 
relação de complementaridade com a teoria quantitativa, 
vem posta em causa na base de que a procura agregada 
monetária pode ser maior que a oferta global, evidenciando, 
assim, a existência de uma análise monetária macroeco-
nó mica não derivada da Cl.gregação da análise microeco-
nómica. 
8.2. A refutação da equiproporcionalidade da varia-
ção dos preços como consequência de uma variação da 
quantidade de moeda conduziu-o a examinar a hipótese de 
invariabilidade da velocidade de circulação na qual se 
fundamenta a teoria quantitativa. A sua crítica baseia-se 
quer em aspectos microeconómicos como as preferências 
por moeda e saldos de caixa reais quer cm aspectos 
macroeconómicos como factores institucionais àcerca da 
presença e desenvolvimento do «moderno» sistema bancário. 
Este último aspecto leva-o a centrar a sua crítica à teoria 
103 
quantitativa no aspecto institucional ao constatar a varia-
bilidade de V associada à política creditícia. 
Tal proposição leva-o ao exame da natureza do papel da 
taxa de juro, distinguindo entre taxa de juro real e taxa de 
juro monetári?, sendo a primeira a que iguala investimento à 
poupança e corresponde ao rendimento da produção e a taxa 
de juro monetária o preço do u o da moeda. 
A individualização do carácter monetário da taxa de 
juro permite-lhe afirmar que na presença do crédito 
bancário a iguald?de entre as duas taxa.s não é mais dada por 
definição mas torna-se uma condição de equilíbrio a realizar 
já que a não iguale.ade influencia a economia. 
8.3. O sistema bancário pode cirar moeda e a 
quantid;-.de de moeda toma-se endógena. Desta forma o 
sist ma bancário pode responder a uma procura de moeda 
sem que haja a correspondente poupança. Poupança e inves-
timento tornam-se assim grandezas separadas que depen-
dem de sujeitos económicos sem qualquer relação entre si. 
A taxa de juro monetária torna-se uma variável 
exógena ao andamento do sistema, passando a depender da 
administração da banca e da discricionalidade da política 
creditícia. Esta taxa de jmo é também a única reguladora da 
circulação monetária, pois se a oferta se adequa sempre à 
procura (ex-post), esta última não tem influência sobre o 
preço da moeda (falta a Wicksell uma curva de oferta de 
moeda), enquanto as variações da taxa de juro monetária 
têm, pelo contrário, influência sobre a procura de moeda. 
A procura de moeda varia em função da taxa de juro 
real e da taxa de juro monetária pelo que teremos um 
aumento (diminuição) da procura de moeda para inves-
timento de cada vez que a primeira é maior (menor) que a 
segunda. 
1'04 
8.4. À luz de tas contribuições Wick eU define o 
equilíbri 111 netári c mo caracterizad pela igualdade 
entre r e i. Se a duas taxa não coincidem, inve timento e 
poupança deixam de c incidir, o lucro deixa de ser nulo e s 
preço deixam de cr e táveis geram~. -se um processo 
cwnulativo, explicado pelo mcrcado monetário, já que o 
mercado de ben tem mecam mos que garantem o 
equillbrio. 
A existência de dois mercado é reforçada pela natureza 
do equillbrio, já que é o mercado monetário que leva a um 
processo de desequilíbrio cumulativo. Portanto, este 
desequilíbrio só será controlado pela intervenção do sistema 
bancário ao ajustar a taxa de juro monetária ao eu nível 
natural. Neste ponto de equillbrio, todavia, os preços não 
voltam ao nível precedente, ficando no nível que atingiram. 
8.5. Da sua análi e re ulta uma inversão de ordem 
causal em relação à teoria quantitativa que vai da quantidade 
de moeda (exógena) para os preços e depois para a taxa de 
juro(M ~ P ~ i), enquanto para Wicksell desenvolve-se da 
taxa de juro para a moeda (endógena) e depois para os preços 
(i ~ M ~ P). Por outro lado, e no de envolvimento da 
inflação a taxa de juro tendesse a crescer, como pretendia a 
tradição da época, levaria à interrupção do processo 
cumulativo (1). 
8.6. Por outro lado, a variação dos preços relativos e 
da estrutura produtiva cm situação inRaccionária é um 
problema em aberto. Uma diminuição da taxa de juro 
significa, enquanto factor de capitalização, um aumento do 
valor dos bens de capital que se podem produzir e isto 
(1) PICOLO (1984), pág. 14. 
105 
constituÍrá um e tímulo a aumentar a produçã . Reali-
zar-se-á, portanto, uma pa sagem da produção menos 
capitalista para a mais capitalista, com uma consequente 
transferência de recurs sd sector dos bens de consumo para 
sector de bens de investimento. Esta alteraçã da e trutura 
produtiva, em condições de plena ocupação, provocará um 
aumento dos preço dos bens de consumo; havendo uma 
variação da estrutura de preços relacionada com a distri-
buição do rendimento. Os instrumentos creditícios podem 
induzir, consequentemente, com a sua acção, fenómeno de 
poupança forçada que levam a que os rendimentos nã 
cresçam tanto como o prcç s. 
8.7. Na base destas considerações é possível chegar-se 
em Wicksell a uma relação entre inflação, distribuição e 
acumulação, cm que a inflação precede a acumulação pois 
que é aquela que sanciona a distribuição do rendimento dos 
capitalistas-poupadores para os empreendedores e a des-
locação de recursos do sector de bens de consumo para o 
sector de bens de investimento, fenómeno induzido pela 
diferença de taxas. O processo na sua totalidade evidência, 
portanto, uma integração estrutural entre aspectos mone-
tários e aspectos reais numa única dimensão (I). 
A relação que se estabelece entre inflação, distribuição e 
acumulação, põe em evidência a situação de desequilíbrio 
como constituindo a norma de comportamento da eco-
nomia enquanto economia monetária e correspondendo ao 
momentos em que a acumulação tende a acelerar-se. 
(I) PICOLO (1984), pág. 16. 
106 
9. Os desenvolvimentos na teoria monetária de 
Wicksell 
As críticas à teoria de Wicksell durante a sua vida 
reduzem-se a 6 questões. A primeira e a mais importante foi 
a objecção de Davidson à sua norma de estabilização dos 
preços como um guia apropriado da política monetária em 
condições de alter ção d produtivid:tde. 
As outras 5 questões foram também postas por 
Davidson num contexto ou noutro. Desta, as primeiras três 
foram colocadas com maior incidência independentemente 
de Davidson por Ludwig Von Mi es, a quarta por 
Akermam, e a quinta por ahlin. As questões centram-se 
sobre (a) independência entre as taxas de juro real e 
monetária; (b) a interdependência entre o mercado mone-
tário e o mercado de bem; (c) o problema da determinação 
do peso absoluto do nível de preços; (d) algumas limitações 
ao controle monetário pelo banco central: (e) a influência das 
antecipações
empresariai e a diferença nas estruturas de 
mercado sobre a taxa real de juro e sobre o movimento do 
nível de preço . 
9.1. Examinaremos estas cinco últimas questões pri-
meiro, e de acordo com Uhr (1962) referimo-nos a eles 
como «questões menores», não porque sejam menos 
significativas que a questão central no debate entre Wicksell 
e Davidson, mas porque exerceram uma influência menor 
sobre o pensamento de Wick~ell do que a controvérsia com 
Davidson. 
(a) A possibilidade de divergência entre as duas taxas 
de juro seria refutável se as duas taxas fossem consideradas 
interdependentes de tal forma que o movimento de uma 
face à outra levasse a segunda a ajustar-se ao lÚVel da 
107 
primeira sem um desfazamento apreciável, o processo 
cumulativo deixaria de ocorrer ou seria de curta duração e 
fraca amplitude. 
Esta é a posição de Davidson e Von Mises que baseiam 
os seus argumentos na hipótese de padrão-ouro, o que o 
próprio Wicksell também estabeleceu, face à mesma 
hipótese, aceitando que o processo cumulativo seria mais 
curto cm tais condições que num sistema de crédito puro. 
Dos argumentos apresentados por Von Mises des-
taca-se o de que a taxa de juro real seria reduzida até ao nível 
da taxa de juro monetária pela formação de capital resultante 
da «poupança forçada». Wicbell não exclui a sequência de 
Von MisC'S ~.iscordando, contudo, da sua duração e 
amplitude já que considera que a poupança voluntária 
devido à descida da taxa de juro monetária não é 
suficientemente compensada pela «poupança forçad:>.» resul-
tante da subida dos preços dos bens de consumo. 
(b) e (c) A interdependência do «mercado monetário. 
e do «mercado de bens» e a determinação do peso absoluto 
dos preços relativos - uma questão metodológica. 
A questão metodológica é a da rdação entre a teoria do 
valor marginalista e a teoria monetária, e obviamente, não 
pode ser deixada da maneira como Wicksell a deixou, 
mesmo depois de ter modificado a sua posição em relação ao 
facto que alterações na produção têm repercussões no 
mercado monetário. 
Um dos obstáculos para a fusão das duas, naquele 
tempo, era o facto de a teoria do valor vir defmida cm 
termos de economia de troca sem moeda. A crítica de Von 
Mises constitui uma tentativa infrutífera de aplicação da 
análise marginalista à teoria da moeda, procurando a fusão 
da teoria do valor e da teoria monetária. 
A análise de Davidson rclativamente a este problema 
108 
parte de uma perspectiva Ricardiaria sobre a teoria do val r 
que e centrava s bre uma interpretaçã d valor em termo 
de cu t reai. P rque «valor objectivo» da mercadoria 
altera- e m vari, çõe na ferta d s recur os pr dutivo e 
c m alteraçoc na pr dutividade deste recurso, Davids n, 
não estava ati feito c ma defmição de Wick eH de valor da 
m eda com recípr c de um índice do túvel de preços, 
ape ar de nã ter tuna alternativa. Mai, in i tiu que o 
movimento d s preç nã sã nece ariamente o resultado 
de altcraçõe n valor da m eda. A pr dut vidade era 
também uma fi rça que actuava de fi rma deci iva sobre o 
val r bjectivo d s bcn e erviç se 11 tÚvcl geral de preços. 
Haveria também utras influências com os preços rígidos e 
o awncnt do grau da imperfi ições de mercado. Como 
consequência, pensava que as condições afectando a 
produçã e a venda da mercadorias deveriam receber uma 
atenção ao túvel da teoria monetária. 
(d) S bre as limitaçõe ao controle dos bancos centrais 
há a referir que Akermall colocando o caso de emissão de 
moeda para financiar «c.espesas improdutivas» em arma-
mento, num montante igual à poupança anual e consi-
derando que os bancos mantêm a taxa de juro normal, a 
moeda aumentada não levará a um correspondente aumento 
da procura. Tal só acontecerá com uma taxa de juro 
«subnormal», o que conduzirá a uma procura adicional por 
parte dos empresários e ao consequente aumento dos preços. 
Wicksell contra-argumenta dizendo que a nova moeda 
aumenta os preços imediatamente, em especial o preço dos 
bens de consumo, já que a moeda compete em todos os 
mercados com a pré-eJcistente. Não haverá assim. um 
problema de um aumento de «idle balances» já que com o 
awnento dos preços a procura de moeda aumenta. A única 
maneira de as «despesas improdutivas» poderem ser con-
1 9 
finadas no seu impact ao t tal da poupança anual seria se 
fossem financiada pelo governo com empréstimos jW1tO do 
público, empréstimo não admissíveis para uso colateral com 
o crédito bancário. Finalmente, o desvio da poupança 
privada geradora de investimento para despesas impro-
dutivas, seria compensada em parte pela poupança forçada, 
resultante do aumento do preços que ocorreria apesar de os 
bancos manterem as taxas «normai I). 
Davidson explicita que o caso de Akerman requer que o 
banco central não somente deve refrear a criação de notas e a 
extensão do crédito com base nos empréstimos ao governo, 
mas também aumentar a taxa de juro monetária parél um 
uIvei supernormal para restringir o uso privado do crédito, 
de forma que a moeda criada permaneça sem uso na medida 
em que a esse nível de taxa de juro monetária os 
empresários não aumentem a sua procura. Davidson realça 
que se o banco central tem sucesso aumentando as taxas de 
juro monetárias para prevenir aumento dos preços é o novo 
potencial de capital real que paga a despesa improdutiva. 
Se os bancos mantêm a taxa de juro «normal» deixando os 
preços aumentar serão os bens de consumo e serviços a pagar 
a factura. 
(e) O impacto das expectativas empresariais e as 
diferenças nas estruturas de mercado sobre a taxa de juro real 
c sobre o movimento dos preços. 
Ohlin atacou a distinção de Davidson entre inflação 
devido a causas monetárias e outras, podendo as primeiras 
(as previstas por Wicksell) ser evitadas por um ajustamento 
adequado da taxa de juro. Para Ohlin, Davidson assumiu 
que «o aumento de escassez das mercadorias» ·resultando da 
falta de matérias-primas, declíneo da eficiência do trabalho, 
tendências monopolísticas, etc., seriam (A) afectadas pela 
produção de todas as mercadorias . uniformemente e (B) 
110 
neutra l\ pr duziriam altcraçõe in igniflcantes na partilha 
do rendiment ,em relaçã à inflaçã nã relaci nada com 
causas monetárias, pelo que seria preferível aceitá-la do que 
tentar debelá-la. 
Para explicitar a sua análise que vem introduzir factores 
não monetário na explicação da inflação, contrariamente à 
análise de Wics li, Ohlin parte de um aumento de preços na 
indúsu-ia devido a um aumento de monop6lio neste ramo, 
enquanto a agricultura permanece competitiva. Os recursos 
abandonado pela indústria são aproveitados pela agri-
cultura, cujo aumento de produção compensa em parte o 
declínio na indústria. Mas a produção total tende a dimi-
nuir porque o recursos transferidos para a agricultura são 
utilizados com uma produtividade marginal menor do que 
em relação ao seu uso anterior na indústria. O declínio na 
produção tende a aumentar o nível de preços proporcional-
mente se os banco mantiverem a taxa de juro «IlOImal». 
Mas diz Ohlin, a escassez não será uniforme e a 
distribuição do rendimento não erá afectada unifor-
memente devido ao aumento de preços. Segwldo, mesmo 
que os bancos mantenham as taxas de juro «normais», o que 
implica um aumento devido ao aumento de r, o aumento 
dos preços pode er cumulativo. Sê-Io ou não depende se a 
trustiflcação das manufactura é feita por previsões de preços 
unilaterais e Lworáveis. Se assim for, r aumenta mais do que 
a escassez influenciara e inicia-se um processo cumulativo. 
Desta análise surge uma crítica a Wicksell por não levar 
em conta os outros factores na explicação da inflação, 
factores esses que não actuam uniformemente como 
pretendia Davidson. 
9.2. A modiflcação da norma de política monetária 
- a polémica entre Davidson e Wicksell.
111 
A prescrição de wicksdl de estabilização dos preço 
como uma norma para a política monetária foi contestada 
por Davidson. Este esteve na base de uma polémica com 
Wicksell no Ekonomisk Tidskrifl entre 1906-1909. 
A posição de Davidson era que a estabilização dos 
preços é somente consistente com a manutenção do 
equilíbrio se a produtividade é constante, mas se a última se 
altera, a norma apropriada é deixar os preços variar na 
proporção inversa da alteração na produtividade. Se 
tivessemos um equilíbrio inicial c a produtividade aumen-
tasse tal significava que r aumentaria e portanto os bancos 
deveriam aumentar a ta~a de juro monetárié'. do mesmo 
montante. Se tal s verificasse, o rendimento monetário 
permaneceria constante, mas o aumento da produtividade 
siglúficaria maior produção a qual teria de ser vendida a 
preços menores. Se os bancos insistissem na estabilização dos 
preços, teriam de reduzir i para prevenir o declínio dos 
preços. Desta forma j tornava-se «subnormal~ e originava 
um processo cumulativo. 
É somente no ano de 1925, depois da Suécia ter testado 
uma inflação severa durante a I Guerra Mundial, e depois de 
Wicksell ter publicado a substância das suas próprias análise 
monetária em artigos no Ekonomisk Tidskrifl entre 1918-23, 
que este reconhece a pertinência destes argumentos. A sua 
concepção aparece como uma admissão de que os bancos 
não podem efectivamente prevenir a inflação que resulta da 
«escassez de mercadorias», i. é, do equivalente de um declínio 
na produtividade. causada por bloqueamento e outras 
desolações causadas pela guerra (1). Ainda que Wicksell 
(1) Esta posição aparece num seu artigo sobre cThe monetary 
problem of the Scandinavian Countriest , traduzido e aparecendo em 
apêndice ao ltJterest allJ Prices. Estas duas obras são do conhecimento do 
autor através da obra de UHR (1962) . 
112 
p c a c n iderar a norma de estabilização dos preços como 
imperfeita, c n idera-a a única viável, em especial num 
mundo em paz nde não haverá caU:l de «escassez de 
mercadoria» relacionada c m a guerra u qualquer outra 
ocasião inflacioni ta devido ao decréscim de pr dutividade. 
Quant ao aumento de produtividade considerava-os tão 
in ignificante c com um movimento secular, que não 
alterariam equilíbrio de curto prazo. Quanto à norma de 
David on con iderava-a um perfecci nismo c, mesmo 
admitindo-a, a existência da competição imperfeita blo-
queava a sua aplicabilidade. A escolha seria então entre a sua 
norma ou nenhuma norma. 
c. PO ICIONAMENTO DA OBRA DE WICKSELL 
E SEUS DESENVOLVIMENTOS NA TEORIA 
MONETÁRIA 
1. A interpretação tradicional da obra de Wicksell 
A interpretação tradicional da teoria monetária de 
Wicksdl concentrou-se na individualização de um meca-
nismo de reajustamento automático das duas taxas de forma 
a preservar a não influência no longo prazo dos fenómenos 
monetários sobre a economia real, na sequência das críticas 
atrás apresentadas por Davidson e Von Mises. 
O chefe de fila desta orientação pode er considerado 
Don Patinkin (1952) (1), o qual ustcnta que num mundo 
regulado pelo padrão-ouro (factor institucional abandonado 
(1) No seu livro AJltecipatio"s of tlle general theory, Basil Blackwell, 
1982, PAnNKIN rea[,.rma a sua tese de 1952: «it seemed to me over twenty-
five years, and continues to seem to me todaY»i (pág. 42). 
113 
por Wicksell a favor do sistema de crédito puro) o aumento 
da procura de crédito e o consequente aumento dos preços 
determinam um dreno interno das reservas dos bancos que 
os induz a aumentar a taxa de juro monetária de modo a que 
esta s iguale à taxa natural e faça cessar os pedidos de 
crédito. De tal modo o equilíbrio seria garantido pela força 
do sistema e o processo cumulativo viria a constituir um 
estável processo reequilibrGl.dor que transmite a variação da 
qUé'mtidade de moeda aos preços através da taxa de juro: 
«Thus the operation of a cumulative process does not 
imply that the system is instable, and that, after the inicial 
disturbancc, it continuously moves away from an equi-
librium po ition. On the contrary, through its effects on 
bank reserves, the cumula tive process in Wickseli' s analysis 
plays the role of the fundamental equilibrating mechanism 
forcing the banks to cleminate any discrepancy between the 
rate they set and real rate, and thus restoring equilibrium to 
the loan market (1)>>. 
Um, outro exemplo da análise tradicional, mas menos 
rígida, é a de Fabbrini (1957) que começa por dizer que a 
análise de Wickseli «é um peca to, perché nelia teoria 
Wicksclliana sono riuniti gli elementi essenziali per la 
fusine non solo dei due indirizzi prevalenti nelia teoria 
monetaria des suo tempo-quelio rappresentanto deli' equa-
zine degli sacambi c la teoria del credito e delie banche, in 
base alla quale iI valore o prezzo delia moenta e iI saggio 
d' interesse dei prestiti a breve termine, ma anche delia teoria 
monetaria e della teoria generale del valore, eleminando la 
lacuna del Walras, relativa ao 'real balance effect'» (2). 
(1) PATlNKIN (1952), pág. 839. 
(2) FABBRINl (1957), pág. 16. 
8 
114 
Depoi chama a Wick eH de «di identc» pela ua recusa 
de meter em primeiro plall estes c nceitos, intr duzind 
no quadro do equilíbrio geral uma equação do tipo «cash 
balance equation», explicando que a quantidade de moeda e 
o «real balan e effect» têm wn papel meno directo que a 
divergência entre taxas de juro. 
Em seguida realça que pr ce o dinâmico que leva à 
posição de equilíbri ,o chamado pr ces o cumulativo, não 
é necessariamente um proce s expIo ivo, p ndo em relevo 
o mecarúsmo de reaju tamento quer pela variação das taxas 
quer pelo mecanismo da poupança forçada. Ma reconhece 
que a tax:a de juro natural é um fenómeno transitório e 
explica-o como uma repetição do err de Walra de utilizar 
uma duplicação no processo de determinação dos preços e de 
considerar os preços relativos sujeitos a um processo 
(equilíbrio estático) e os preços monetários a um outro 
processo (equilíbrio neutral) (1). 
No contributo de Wicksell, Fabbrini considera inte-
ressante notar, sobretudo, o acento posto no inserimento 
orgânico nos modelos económicos da procura de moeda e de 
uma função da reserva líquida, em geral, que abre a via a 
Robertson e a Pigou para inserirem, por sua vez, a 
preferência pela liquidez, bem como haver demonstrado que 
a considerada lei de Say não tem validade em todos os casos, 
criando wn precedente para a análise de Keynes da «Teoria 
Geral» (2). 
Realça ainda que o processo cumulativo pode ser 
considerado como uma «teoria rudimentar do ciclo» (3). 
Qualquer de tas dua análises, mesmo a mais flexível de 
Fabbrini, não leva em conta que o processo cumulativo 
(I) FABBRlNl (1957), pág. 19. 
(2) Ilib, pág. 20. 
(3) Ilib, pág. 21. 
115 
Wickselliano, sendo devido a um desequilíbrio entre 
poupança e investimento, mete, por isso mesmo, em 
evidência que a instabilidade é relacionável com a pr6pria 
característica do sistema econ6mico, já que a taxa de juro 
natural varia continuamente cm relação a todos os elementos 
que definam o andamento da economia e portanto os bancos 
não podem, mesmo que queiram, manter a taxa monetária 
permanentemente ao nível da taxa natural, pelo que pode ser 
a pr6pria política creditícia dos bancos, com o seu lado 
descricionário, a induzir o processo cumulativo. 
2. A teoria monetária de Wicksell e a teoria 
Keynesiana 
Pelo menos quatro constrastes interligados são-nos 
apontados por, Leijonhufud (1981), Uhr (1962) e Lindahl 
(1956) entre a teoria monetária de Wicksell e a teoria do 
rendimento-emprego na tradição de Keynes. 
a) O factor comum entre Wicksell e Keynes é o facto 
de que não se estabelece automaticamente o equilíbrio entre 
o investimento e a poupança, pelo que um certo mecanismo

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