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Em 1869, com 18 anos, começou o período de estudos, na Universidade de Uppsala, que se estendeu durante três décadas durante as quais obteve graus académicos em matemática e física, direito e economia. Wicksell começou a sua carreira académica como matemático depois de cm 1885 ter obtido um grau académico de altos estudos em mecânica, matemática e física . Mas o seu interesse social e o seu desejo de trabalhar para uma melhoria da situação da classe operária (2), (1) Escreveu as suas obras durante os últimos 20 anos do século passado e os primeiros 25 deste século. Neste período a Suécia era um país pobre e atrasado. A classe trabalhadora vivia na miséria e havia uma muito grande emigração para os Estados Unidos. (2) De acordo com LINDAHL (1956), pág. 4. A mudança do objecto de estudo da matemática para a economia tem a ver, no dizer de Um (1962), com a sua preocupação com o alcoolismo que teria como causas a pobreza, reforçada pelo aumento populacional. Maria de Fatima Realce 72 conduziu- ao e tudo da ec nomia. Naquela época não se podia e tudar cconomi na Suéci a um ruvcl uperior já que a ciência económica era somente en inada nas fa uldades de direito. Assim até 1890 estudou econ mia em univer- sidades inglesa, francesa, germânica c austríaca. A ua preocupação inicial foi a questão populacional endo ne te a pecto um neo-malthusiano. O períod m i pr dutivo como economista teórico foi entre 1890 e princípio da I Guerra Mundial cm que escreveu a maior parte da sua obras. Entre 1890 e 1899 não tendo uma regular po ição académica lev u a que passasse por problema~ financeiros (3). O seu primciro grande tratado foi publicado em 1892, em alemão, c m o título Valor, Capital e Renda. Apesar do reconhecimento internacional desta obra, foi recebida com indiferença aquando da sua publicação quer na Alemanha quer na Suécia. Uma das razõe para este facto era o domínio, entre os cononústas alemãe , da escola histórica. Wicksell tentou apre entar este trabalho como tese de doutoramento na Univer idade de Uppsala, ma foi-lhe recusado. Wicksell virou-se então para as fmanças públicas e em Maio de 1895 obteve um alto grau académico cm economia política. Nesse mesmo ano obteve também o doutoramento com um trabalho nesta área. Em 1896 publica o seu segundo trabalho sobre fmanças públicas. Mas o lugar efectivo na Faculdade de Filosofia de Uppsala foi-lhe recusado com o (3) Estas dificuldades estão relacionadas com a sua reputação de nã<H>rtodoxo em termos sociais e religiosos. Em 19010 lugar obtido na Universidade de Iund é considerado por UHR (1951) como urna vitória da liberdade académica. Maria de Fatima Realce Maria de Fatima Realce Maria de Fatima Realce Maria de Fatima Realce Maria de Fatima Realce 73 argumento de que a sua tese pertenci:1. à faculdade de Direito. Sendo-lhe negada a carreira universitária sem um grau académico em direito, obteve-o entre 1896 e 1899 com especialização em direito fmanceiro. Entretanto, em 1898, acabou o seu segundo tratado, traduzido como Juro e Preços. Wicksell serviu somente um ano como docente na Universidade de UPPS().la, porque cm 1900 abriu um lugar de direito financeiro e economia na Universidade de Lund. Depois de disputar o lugar com G. Cassei obteve-o em 1901 c exerceu-o até 1916. Em 1901 publicou o primeiro volume das suas Lições de Economia Pof{tica, que são uma refor- mulação, com alterações na teoria do capitél.l do seu Valor, Capital e Renda (1892). Em 1906 o segundo volume das «Lições») foi dado a estampa, representando uma reedição reformulada de Juro e Preços. Quando da sua retirada do ensino muda-se para um subúrbio de Estocolmo de onde entre 1916-1926 exerceu uma acção decisiva nos debates económicos do seu tempo, intervindo como um homem da ciência e não como um político, sendo considerado o decano dos economistas suecos. Neste período desenvolve U111 programa anti- inflação, que vai desenvolvendo e aperfeiçoando numa série de artigos entre 1915-1925. Em 1925 está preocupado em rever a sua análise, que publicou no 2. o volume das sua~ «Lições», à luz da expe- riência sueca durante a guerra e no pós-guerra. Esta foi a sua última contribuição para a ciência económica já que a morte retirou-o do convívio dos vivos em 1926. Maria de Fatima Realce Maria de Fatima Realce 74 2. A Teoria económica no tempo de Wicksell Q uand Wick eU come ou os eu e tudos econó- micos, por v lta de 1885, os marginalistas tinham conse- guido impôr a ua concepções económicas. O mo da matemática trouxe ao economistas uma metodologia uperior ao empiri m e téril da e cola rustórica Alemã. Era o método deduti o da uce siva apr ximações que permitiam ao ec nomi ta ab trair- e do detalhe e in ter- relaçõe confu a e i olar a força deci iv:\s capazes de explicar a complexa realidade que a teoria económica procura compreender. Mas esta teorias não estavam ainda totalmente desenvolvidas nem coordenadas uma com as outras, que ó veio a acontecer durante o anos noventa do século em curso. Wicksell de empenhou um papel signi- ficativo ne te desenvolvimento. Depoi da rev lução marginalista de 1870, não existia wn único istcma de economia política; todavia, todas as escolas, s m diferença apreciáveis, partilhavam o mesmo conceito de análise: o equilíbrio geral. A divergência incidia sobre o pontos mel/os importantes como a modalidade técnica para descrever o equilíbrio. É uma questão à qual aparece ligado o nome de Walras, mas que está implícita em Marshall e nas obras principais da e cola austríaca (Wieser, Menger, Bohm-Bowerk). Por volta de 1890 o edifício teórico dos marginalistas parecia estar completo. Ma faltava-lhe a integração lógica das diversas partes construídas pelos diversos arquitectos. Menger, Wieser e Bohm-Bowerk trabalhavam cada um em especialidades separada, aparentemente incapazes de chegar à síntese das suas teorias. Menger especializou-se na teoria da utilidade marginal e empenhou- e numa batalha metodológica contra a Escola Histórica Alemã, parti- Maria de Fatima Realce Maria de Fatima Realce Maria de Fatima Realce Maria de Fatima Realce 75 cularmente com Schmoller. Weiser concentrou-se nos problemas do desenvolvimento econ6mico e social s6 voltando à teoria pura cm 1913. Bõhm-Bowerk perdeu-se com as polémicas com os marxistas e com as teorias produtivas do juro. Marshall e Edgeworth cm Inglaterra, aceitando a teoria da utilidade marginal, insistiam num outro determinante, o custo real. Marshall, por outro lado, não aceitava parte da concepção de Bõhm-Bowerk. A escola de Lausanne, centrada à volta de Walras e dos seus seguidores, Pareto e Barone, parecia mais bem colocada para a síntese devido ao método de equilíbrio geral e da análise matemática-funcional das causas e interrelações multiplas e mútuas. Mas, discordavam de certos aspectos da teoria austríaca, especialmente da concepção de Bõhm- Bowerk da produção e capital. Wicksell resolveu-se a tentar consolidar os ganhos fcitos pelos mais representativos da nova doutrina num sistema coordenado; dos seus esforços resultou o tratado Valor, Capital e Renda e mais tarde as suas Lições-I. Para conseguir o seu objectivo utilizou como núcleo o sistema Walrasiano, aperfeiçoando-o com os contributos dos outros expoentes desta doutrina, cm especial na parte relativa ao capital. 3. A teoria monetária antes de Wicksell: Walras Todos os trabalhos dos autores marginalistas, de Bõhm- -Bowerk a Marshall passando por Walras, são incapazes de dar conta dos movimentos gerais dos valores c das quantidades a que chamam de movimentos de curta duração, de longa duração, etc .. A lei dos mercados de Say Maria de Fatima Realce 76 permanec válida. Em última análi e são as mercadoria que e trocam contra a mercadoria. Ma e ta te e nã nos explica porque variam preç e a quantidades da mercadoria trocada. A fê rma de ultrapa ar e ta que tão é intr duzir a procura de moeda. E tes autores fá-lo-ão justapond à te ria econónúca geral uma teoria da moeda que lhe é heter génea ou que, pelo menos, lhe é exteri r. O fact r m netári apar ce com um multiplicador que afecta de um mesmo coeficiente s diferente preços relativ . De um lado temo uma te ria d preços relativos em term ubjectiv, do outr uma te ria quantitativa da moeda em termo mecânicos. De uma à outra, nenhuma pas agem é pos ível. Uma conciliação puramente verbal opera-se na afirmação de que a moeda é um véu que basta levantar para encontrar os fenómenos reai : os movimentos do preço absolutos não modificam os preços relativos ou as condiçõe de pr dução, a m eda é neutra. Vejamos em particular a teoria de um destes autores, Walras (I). No que re peita à parte monetária limita-se a introduzir, justap ndo à parte real, a teoria quantitativa da moeda. De facto, WaLras considera a p:\rtir da IV edição a moeda di tinta do numerário, uma moeda sem valor intrúl ec e atribui a sua procura à utilidade do «service d'approvi ionnément» que rende. Na ua construção a m eda é um dos muitos capitais circulantes que satisfazem «as neces idades de aprovisionamento». O consumidores- explica Walras - u am capital circulante nas duas formas de stocks de ben de consumo e de reserva monetária, com vista a futuras aquisições ou investimento; os empresários usam-no na forma de stocks de matérias-primas, bens (1) Seguimos de perto a interpretação deste autor de FABBRINI (1951). 77 acabados e reserva monetária. A reservas monetárias são necessárias para as aquisições de bens de consumo ou erviços produtiv s, u para reconstituir os stocks, quando não são sincronizávei com as venda. A procura de moeda é devia, consequentemente, somente ao motivo transacção. A partir desta concepçã de moeda, a reserva monetária c mo stocks do vários bens são introduzidos no esquema de equilíbrio geral e as quantidades oferecidas e procuradas ão função de todos os preços, compreendend os dos capitais circulantes e da moeda (a taxa de juro). A análi e marginal i ta torna-se, assim, extensível à 111 eda: derivando a função utilidade determina-se a quantidade efectiva oferecida e procurada de reserva monetária de cada indivíduo e, por agregação, de conjunto dos indivíduos; o «tâtonnement», mediante a variação do preço da moeda (a taxa de juro), elimina o excedente de oferta (ou da procura) totais. A Walras deve reconhecer-se portanto, o mérito de haver incluído a equação de «cash-balance» no sistema de equilíbrio geral e de tê-la obtido com o método típico da análise do equilíbrio, respeitando a simetria do sistema. De f.:1.cto verifica-se uma diferença fundamental entre o «tâtonnement» desta fase e os das fases precedentes, as que explicam o equilíbrio da troca, da troca e da produção e da troca, produção e capitalização. O equilíbrio monetário vem depois de alcançado o equilíbrio de troca, produção e capitalização e, portanto, fora do sistema de equações do eqtúlíbrio económico geral. Durante este ajustamento verificam-se oscilações somente num preço, o preço do serviço de aprovisionamento da moeda, não influindo na procura e oferta efectivas dos vários bens e não sendo necessárias oscilações de preços nos outros mercados. A consequência é de que os preços de equilíbrio relativos 78 p dem er determinad omente n mcrcado de bens, c m numa cc n mia c m numerári ,ma sem moeda. O preços relativ não ã perturbad pela determinaçâo do rúvel ab luto de equilíbri d s preç , fcctuada no mercado mon tári . Devid a e ta brep sição do pr cesso de formação dos preç a te ria m nctária não é mai integrada com a teoria da pr duçã e da capitalização e a extensão da análise marginali ta à m eda não se verifica de facto. O erro fundamental de Walras é de não considerar o ((real bal nce fcct», pelo qual uma alt raçã do rúvel de preços prov ca uma variação no valor real da reserva mon tária wn aumento u uma diminuiçã da procura de moeda e COl1 equentemente uma repercussão obre o preço das mercad rias. Este crro deve-se a uma inadmissível eparação entre a equações do istema, resolvendo sepa- radamente aquelas que determinam os preços relativos das mercadorias daquela que determinam o rúvel absoluto. Concluindo, Walras procura extender a análise mar- ginalista aos D nómenos monetário, p lo que substitui a equação da teoria quantitativa pela equação de Cambridge. Mas não soube ju tificar no processo dinâmico que leva ao equilíbrio a relação desta com a troca, produção e capitalização. A teoria monetária para Walra depois de tanto trabalho e refmamento da análise, volta a ser a que enunciara na primeira dição: a teoria quantitativa. 4. A teoria monetária antes de Wicksell: os ante- cedentes 4.1. A teoria monetária é menos abstracta que a maior parte da teoria económica, na medida cm que não pode 79 evitar uma relação com a realidade, a qual não existe, de Fc rma imediata, a maior parte das vezes na «outra» teoria económica. Esta relação com a realidade condiciona por sua vez a pertinência da teoria monetária. A passagem de moeda metálica para papel moeda condiciona a teoria m netária, mas dizer que a moeda metálica deu lugar à moeda de crédito, não é, contudo, ir ao cerne da questão. A alteração crucial da moeda, de moeda metálica para notas ou depósitos bancário, é uma simples parte de um desenvolvimento profundo, o desenvolvimento do sistema financeir . A maior parte dos economistas clássicos situava a sua análise monetária numa economia representada por um modelo de moeda metálica, quando no tempo de Ricardo o desenvolvimento do crédito já era apreciável. Ao tentar tratar o sistema monetário como se fosse um sistema metálico, Ricardo estava a olhar para o passado. O sistema monetário em termos do qual ele pensava era já, no seu tempo, uma coisa do passado. Era o sistema em que todo o empréstimo era de longo prazo, a taxa de juro era inteiramente determinada pela poupança c investimento, o nível de actividade era somente determinado pelos factores reais do sistema, e a quantidade de moeda actuava somente obre o nível de preços. Houve pelo menos um dos seus contemporâneos para quem esta análise não se ajustava na medida em que se colocava na óptica da moeda de crédito. Este autor era Henry THORNTON (1) e que tinha uma teoria de curto prazo a partir da análise de uma economia de crédito. Para Hicks (1) Escreveu A.n Ellquiry into the Nature and Effects of the Paper Credit of Great Britain (1802), seis anos antes de qualquer dos escritos de Ricardo. A sua teoria foi por n6s estudada a partir das referências encontradas em Um (1962) e HICKS (1967) . 80 (1967) c te autor tem a melhor análi c do funcionamento de um i tema de crédit entre s velhos econ mistas. Thornt n não m nte reconheceu que nos períodos curt a cau a monetárias podem ter efeit s reais, mas também que num i tema de crédit o reverso pode acontecer. A cau a re i têm efeitos m netário . O sis- tema de crédit expandir-sc-á automaticamente se houver causa reai a pr mover uma expansão da actividade e contrair-se-á se h uver pânico ou se houver alterações na procura de capital que provoquem c ntracçõe. Algumas destas expansõe e contracções seriam desejáveis, outras não. Assim haveria a necessidade que o sistema de crédito fosse gerido. E te autor parece ter influenciado Wicksell dada a proximidade de po içõe, mas aparentemente Wicksell nunca o leu porque nunca se lhe refere, enquanto discute certo escritos de Tooke c Ricardo. Parece ter sido Davidson o primeiro autor sueco seu contemporâneo a redescobrir Thornton quando em 1916 e creveu um artigo sobre este autor que expõe sucintamente a sua teoria do movimento dos preços devido à divergência entre a taxa de lucro e a taxa de juro. Ao ler este artigo Wicksell ficou surpreendido por encontrar ideias similares às suas num autor anterior a Ricardo. Thornton tomou claro que a depreciação da libra-papel foi devido à emissão de notas resultantes da máxima taxa de desconto legal do Banco de Inglaterra ser inferior à taxa de lucro mercantil durante as guerras napoleónicas. Como resultado desta situação previu um processo inflacionista cumulativo enquanto esta situação persistisse. Esta emissão adicional de nota do Banco poderia nunca se ter tornado excessiva mesmo com escassez derivada da guerra e uma taxa de desconto fixa se assistíssemos a um aumento dos 81 preços mai rápidos que os custos o que faria com que as notas extras aumentassem ou mantivessem a alta taxa de lucr . 4.2. Uma pOSlçao semelhante foi tomada por RICARDO poucos anos depois no seu trabalho The High Price of Bullioll (1811), argumento que se manteve com os seus PrincipIes of PoliticaI Economy and Taxation (1817). Mas Ricardo, pelas limitações derivadas do seu modelo ser de moeda metálic2., nunca extendeu a sua análise em termos de implicações para a estabilidades dos preços. Wicksell tinha consciência da limitação do seu modelo ao referir que Ricardo nunca o poderia ter feito ao defender o padrão- -ouro como meio de conseguir uma moeda de valor estável. 4.3. A essência da tcoria dos anti-bulionistas e da posição da Banking School foi que variações na procura de investimento influem no nível de preços e nas variações quantitativas da moeda. Thomas TOOKE foi o expoente na divulgação desta ideia (1). Esta observação de Tooke causou consternação. Com base na teoria quantitativa, os períodos de aumento da produção de ouro eram considerados períodos de elevação de preços e queda das taxas de juro. Com o seu estudo empírico demonstrou que os períodos de elevação dos preços são períodos de mais elevada actividade de inves- timento e aumento das taxas de juro e de desconto, e vice- -versa. (1) Escreveu Enquiry inta Currtncy PrincipIe (1846) e Histari' af Prices and the State af Circu!atian, 1792-1856, publicado em seis volwnes entre 1838 e 1857. 6 82 Esta aparente contradição nã foi resolvida satis- fatoriamente até Wicks 11 o fazer no eu JIUO e Preços. Partindo de uma situação de equilíbrio, ades oberta de novas minas de uro aumentará a pr cura de bens de equipament e ben de consum numa primeira fase, para equipar as mina e atisfazer as necessidade de consumo dos seus operários. P r i a descoberta de nova minas levará a um aumento da xportações dos país e que não produzem o ouro, o que provocará um aumento do preços. Como resultado as taxas de juro «reais» aumentarão, e com elas a procura de fundos para investir. Se s bancos estivessem a emprestar o máximo que podiam antes da descoberta do ouro, haverá com o aumento da procura um aumento das taxas de juro monetárias, pelo menos no intervalo entre a nova descoberta e a entrada do ouro como contrapartida das exportações para crédito dos produtores de ouro. Tooke teria razão ao afLImar que o aumento do preço precede o amnento da quantidade de moeda e que é acompanhado por um aumento das taxas de juro. P r outro lado, os quantitativistas não estavam errados ao inferirem que n? cquência da descoberta de orno, os preços subiriam e a taxa de juro diminuiria. Contudo, esta era uma análise de longo prazo, enquanto a de Tooke se aplicava ao curto prazo ou à fase transitória. 4.4. A variação na procura de investimento implica desajustamentos entre a procura e a oferta agregada e consequentemente põe em causa a aplicação da lei de Say à análise de curto prazo; era uma ideia profundamente enraizada, mesmo se nem sempre claramente expressa, no pensamento dos «não-ortodoxos» da escola clássica. Teriam sido Sismondi e Malthus os responsáveis por esta concepção, 83 cmbora utros, nomeadamente Bentham e Mill (1) tenham contribuído para ela. É peculiar que Wickscll, que construiu a sua teoria com base na probabilidade e na constatação frequente de desajustamentos de curto prazo entre a oferta e a procura agregadas (reveladas por diferenças entre as taxas de juro real e nominal), nunca tenha mencionado Sismondi e Malthus. O segundo aparece referido a prop6sito da sua teoria da população. Não surpreenderá se o seu silêncio em relação a estes autores seja devido à sua rejeição dos estrangulamentos devidos a uma teoria do subconsumo. Esta será prova- velmente a r~.zão pelo qual insiste que a sua explicação da flutuação dos preços não deverá ser tomada como uma teoria do sobre-investimento dos ciclos econ6micos. 4.5. Outros, nomeadamente Walras, Edgeworth, Jevons e Giffen, provavelmente influenciaram os conceitos de Wicksell sobre crédito, bancos e velocidade de circulação da moeda com os seus trabalhos sobre estes assuntos (2). Contudo, a referência de Wickscll a estes escritores é escassa, e não discute as suas posições em profundidade. (1) JOHN STUART MILL na clnfluence of Consumption upon Productiont (no seu Essays on UlIsettled Questiolls) apresentou uma teoria de curto prazo. Mas é notável que 110S seus Principies (1848 - o cEssa}'» foi publicado em 1844, mas escrito antes) não encontremos qualquer referência à sua análise de curto prazo. HICKS (1967) considera que a teoria do Essay não foi explicitada nos Prh"iples por ser «perigosa.. É de salientar que a obra de Mill de 1844 surja depois da ocorrência das duas primeiras crises de uma série de «crises de crédito. ocorridas no século XIX em lnglaterra. (2) LÉON W ALltAS: Théorie lIIathelllatique du BiIlet de Banque (1879) e Théorie de la lIIonllaie (1884); EOGWORTH: Mathematical theorie of Banking (1886); JBVONS : MOlley and the mechanism of Exchange (1875) e lnvestigatioons in Currency and Finance (1884); GIFFBN: Essays in Finance (1886) . 84 Finalmente vem Mar hall. Referências no Juro e Preços (pág. 46, 76, 158 e 183) mostram que Wick cll e tava fanúliarizado com Evidetlce mzd Memorando de Mar hall anterior a 1886. Os comentários de Wicksell eram breves e não realçavam nada em especial nas posições de Marshall. No entanto, parece que Wicksell não estava a par do artigo de Marshall «Remedies for Flutuation of General Prices» (Março, 1887). Este artigo apresenta o essencial das posições deste autor sobre a análi e monetária. Por outro lado, Marshall ignorava o trabalho de Wicksell apesar das conferência por e te proferidas em 1906 em Inglaterra e do artigo publicado em 1907 no Economic J ournal «The influence of Interest and Prices», já que Money, Credit alld Commerce (1922) não se refere a Wicksell. Em Inglaterra as posições monetárias de Wicksell s6 tiveram impacto com a discussão de Keynes de Juro e Preços no seu Tratado da Moeda (1930). Por esta razão Uhr (1962) entende que Marshall deve ser tratado como um antecedente de Wicksell, apesar de contemporâneos, porque nunc2. se conseguiu emancipar da teoria quantitativa. Foi Keynes quem pela primeira vez qualificou a análise monetária de' Marshall comparativamente à de Wicksell como per- tencendo a uma época mais prinútiva no desenvolvimento da teoria monetária. B. A TEORIA MONETÁRIA DE WICKSELL 1. O conceito de moeda Wicksell na sua definição de moeda começa logo por se distanciar da teoria quantitativa mecanicista quando na parte central da sua análise, o seu tratamento do equilíbrio entre o Maria de Fatima Realce 8S «mercado monetário» e o «mercado de bens» emprega a seguinte deftnição « ... economically spealcing, money is a quantity in two dimensio~ls, quantity of value on the one hand and velocity of turnover or circulation on the other. These two dimensions multiplied together give the efftciency of money (Helfferich) or its power to facilitate the turno ver of goods during a given time, in the course, for exemple, of one consumption year» (1). Desta forma Wicksell começa logo por abandonar a hipótese de uma velocidade de circulação da moeda constante, hipótese esta característica dos quantitativist2.s mecanicistas. A distinção entre moeda e as mercadorias ordinárias resulta do facto de a moeda, diferentemente dos outros bens não possuir uma utilidade djrecta, somente uma indirecta, a utilidade dos bens que pode comandar. Mais, diferen- temente dos outros bens, a moeda não é consumida pelo seu uso. Permanece em circulação e a sua quantidade é igual ao agregado dos «cash balances». Como uma «quantidade de valor», é igual ao valor real do agregado dos «cash balances». Isto também explica o paradoxo de poupar, nomeadamente, qua quando todos tentam aumentar os seus «cash balances» ao mesmo tempo, ninguém tem sucesso, porque sendo dada a quantidade, a sua taxa de circulação declina enquanto o seu valor aumenta na medida em que descem os preços (2). Quanto às funções da moeda importa destacar como função principal a de meio de troca, que é a função que permite correlacionar rácios de troca de mercadorias uns com os outros, facilitando assim o equilíbrio do mercado. Tomada isoladamente a sua função de meio de troca é neutra em relação (i. é, determinada independentemente de) aos (') WICKSELL (1906), pág. 19. Itálicos acrescentados. (2) WICKSELL (1906), pág. 8-9 e 20. Maria de Fatima Realce Maria de Fatima Realce Maria de Fatima Realce Maria de Fatima Realce Maria de Fatima Realce Maria de Fatima Realce Maria de Fatima Realce 86 preços relativ s das mercadorias cujas relações de troca ã correlacionada p r mei daquela. Num mercado perfeito os preços relativos são deter- minados por wna intervenção mútua da preferência dos conswnidor s e do cu tos de produção. Claramente, as condições que determinam o preços relativos não deter- minam o valor da moeda, porque preço rdativo do meio de troca em relação a i mesmo é igual à unidade. Desta análi e resulta a distinção entre o «mercado monetário» e «mercado de bens» já que as força que determinam o «valor» na duas esferas não são as mesma. 2. A velocidade de circulação da moeda De acordo com Uhr (1962) a doutrina monetária de Wicksell pode ser discutida do ponto de vista de se ter a função de reserva de valor como ponto d.e partir.a (1) e apa- recendo e tritarnente as ociada à velocidade de circulação da moeda. Wicksell parte de uma economia cm equilíbrio de pleno-empre-go, presumivelmente devido ao facto de as funções da moeda poderem ser melhor compreendidas em circunstâncias em que não operem fora do habitual. O seu conceito de velocidade de circulação foi expresso da seguinte manelra: «The period during wich any piece of money is on average retained in the safe, between a salc and a subscquent purchse, may be c~llcd the average period of idleness; and the inverted value of this period of time, expressed as a wút (say a year) will be the average velocity of circulation .. . (1) UHR (1962) , pág. 218. Maria de Fatima Realce Maria de Fatima Realce R7 Included in the circulation of money is of coursc the transfer of money from one person to another by mcans of loans or advances» (1). Apesar de :? sua concepção de V não ser muito clara, a qual s6 receberá melh r elaboração com Fisher, podemos verifto.r que as alterações no valor de V dependem dos motivos que alteram a procura de moeda quer através de um enfoque macroecon6mico que ponha especial relevo nos aspectos institucionais, quer através do comum enfoque microeconómico (2). Wicksdl apresenta o enfoque microecon6mico bali- zado pelo aspecto institucional, a sua hipótese de uma economia de crédito pura, como se veriftca dos motivos que compõe a procura de moeda: (a) procura de dinheiro para transacções; (b) reserva pelo motivo de precaução; (c) para acumub.r poupanças à espera J.e oportunidades de inves- timento; (O.) par2. liquidar grandes parcelas de capital c; (e) para ter um fornecimento de moeda ou notas de banco quando se torna difícil:? sua obtenção. Os motivos (a) e (b) servem como m2.rgem de segur:?nça, enquanto os motivos (c) e (e) serão nulos cm termos líquidos quando as poupanças são investidas e não ocorrem pânicos fmanceiros. Final- mente, (d), a procura para liquid~.r grandes parcelas de capital, é vista como um imprevisível mas pouco importante motivo. Está relacionado com sÍtu2.ções de partilha, legados ou conflitos entre partes (3). (I) WICKSBLL (1906), pág. 60. Wicksell dedica o cap. III, o capítulo central em termos das hipóteses do seu argumento, ao estudo da velocidade de circulação e ao sistema de crédito: .the velocity of circulation of money, banking and crediu. (2) Estes dois enfoques foram explicitados por BOISSIEU (1977) que considera como exemplo do enfoque micro económico as análises dos keynesianos e monetaristas . (3) WICKSELL apresenta estes argumentos no seu Juro e Preços e vem citado por UHR (1962), pág. 221. Havendo indicado que V é uma função de varlas variáveis, deixou para os outros a tarefa de investigar a sua determinação em detalhe enquanto devotava a ua atenção mais para os aspectos macroeconómicos, como a variação potencial de V como parte de MV a partir do crédito, que analisaremos de seguida. 3. O desenvolvimento do crédito como um aumento virtual de V Na sua análise dos aspectos institucionais, em especial do sistema de crédito, Wicksell faz uso da constatação de que quando os pagamentos são feitos por uma compensação mútua, o uso da moeda diminui. A moeda que de outra maneira teria sido usada na ausência de crédito está agora livre. Assim o desenvolvimento do crédito aumenta a virtual velocidade de circulação de um dado stock monetário. Com base nesta constatação começa a ver os sistemas monetários existentes a uma nova luz e a classi- ficá-los de acordo com o grau de desenvolvimento do sistema de crédito. Num extremo há uma economia de troca pura onde não há crédito. Neste caso V depende claramente dos hábitos de pagamento e em termos práticos pode ser considerada uma constante e a teoria quantitativa é válida. Logo que haja crédito, V torna-se variável ou elástica. Deste ponto de vista a progressiva substituição de crédito por moeda metálica, ao afectar de forma progressiva os pagamentos, é visualizada em termos de uma evolução das instituições bancárias. Os bancos comerciús desen- volvem-se, o que obvia o uso de moeda para pagamentos, sendo esta convertida em depósitos à vista. Um banco Maria de Fatima Realce Maria de Fatima Realce Maria de Fatima Realce Maria de Fatima Realce R9 central é criado para· centralizar as reservas dos bancos privados. Este facto torna possível uma expansão múltipla dos depósitos e da notas. O banco central adquire poderes para exercer um control sobre a expansão do crédito, principalmente pela sua habilidade em manipular a taxa de desconto e em condicionar a política de crédito dos bancos privados via operações de «open-market». No mercado de crédito puro V torna-se infmitamente elástica. Consequentemente a oferta de moeda deixa de ser um obstáculo ao desenvolvimento económico, sujeitando-se somente aos termos cm que os bancos centrais controlam o crédito. Nestas circunstâncias os poderes das instituições bancárias serão medidos pela sua capacidade para adoptarem uma política de crédito racional, que Wickscll entende como uma política capaz de manter o valor da moeda, a unidade de cont;)., constante (1). (1) JONUNG (1978), retoma a análise Wickselliana de v com ênfase nos aspectos institucionais para determinar a procura de moeda de longo prazo. Considerando existir urna curva de v em u no longo prazo, a parte decrescente (1870-1920) seria explicada, de acordo com Wicksell, pelo processo de monetarização que consiste em dois aspectos interdepen- dentes: a) o uso crescente da moeda na sua função de meio de pagamento, resultado da diminuição da troca em espécie e da produção para autoconsumo; b) o crescimento dos bancos comerciais oferecendo ao público notas e facilidades nos depósitos. A parte crescente (1920-1970) seria explicada por (A) um aumento da sofisticação fmanceira e (B) um aumento da estabilidade e segurança económica. A «sofisticação fmanceira. descreve duas tendências; primeiro, o aparecimento de um largo número de substitutos da moeda como títulos, acções e outros activos fmanceiros; e segundo, o desenvolvimento de vários métodos para economizar a moeda, como o cartão de crédito, transferência de fundos por meios electrónicos ou telefone, etc.. O aumento da estabilidade e segurança económica reduz a procura de moeda pelos motivos precaução e reserva de valor, e está associada ao peso crescente da segurança social e ao sucesso do modelo de crescimento dos pós-guerra. Assim as variações em v serianl o resultado de alterações institucionais que provocariam substituições: primeiro a substittúção de Maria de Fatima Realce Maria de Fatima Realce Maria de Fatima Realce 4. O valor da moeda pode ser afectado por variações na velocidade de circulação Nesta altura será útil levantar a questão de como o valor da moeda é determinado na análi e de Wicksdl através da função da m cda com reserva de valor que a parece associada ao conceit de velocidade de circulação da moeda. C ntudo, WickscU não o demomtra explicitamente. Em vez disso pre cupa- e com o problema d vai r da moeda d ponto de vista da procura agregada, deixando a velocidade de circulação implícita. Com erá evidente, o «modelo» seguinte será grosseiro na medida em que todas as alterações de grandeza dos «cash balances» têm de vir expres os em variações de V se reflectem a concepção de Wicksdl sobre a função de reserva de valor da moeda. O modelo assume uma economia fechada operando em livre concorrência e total utilização dos recursos. É uma economia com um sistema de crédito puro e está inicialmente em equilíbrio monetário, o qual, para sim- plificar, pode ser considerado como o que tem o nível de preços, P, associado a uma produção corrente, O, constante. A moeda será uma «Ulúc.;>.de de conta». Em termos agregados é a quantidade de valor multiplicada pela velocidade de circulação - M. V. Sendo M a quantidade de valor igual ao somatório dos «cash balances», o valor real do qual depende a qualquer momento P, sendo ° e V constantes. Comequentemente, V = PO/M depende da activos reais por moeda na forma de notas e depósitos e outras formas de pagamento e de reserva de valor; segundo a substituição da moeda por novos activos. A análise de WickseIl explicaria a parte decrescente da curva, enquanto a parte crescente seria explicada por uma extensão desta análise, mantendo uma grande ênfase nas alterações institucionais. Maria de Fatima Realce Maria de Fatima Realce Maria de Fatima Realce 91 disposiçã da comunidade para acumular reservas de valor na forma de moeda. A quantidade de moeda armazenada é l/V = M/PO, com M e ° dados; um aumento na disposição para guardar valores líquidos pode somente ter como resultado uma redução de V c uma diminuição de P, e VI cc-versa. Sendo M, por definição, igual em qualquer momento à procura e oferta de moeda, alterações no «valor da moeda~, i. é em P, têm que ser consideradas entre as forças que operam sobre a disposiçã de guardar valores líquidos, ou seja, que operam sobre a procura de moeda. Como vimos, o maior e mais variável dos dementos da procura de moeda é a procura líquida pelos poupadores de saldos nos quais possam guardar o valor das suas poupanças enquanto estas esperam a oportunidade de investimento. Num «sistema em ordem» eSt;!. procura líquida deve ser nula. Se o sistema não está «em ordem~, ou seja, e está em desequilíbrio, então os dep6sitos criados a favor dos empresários (os créditos conhecidos) podem ser superiores à poupança acumulada . Para facilitar a análise vamos ignorar os outros elementos da procura de moeda, em especial os relacionados com o motivo transacção e precaução (os motivos (a) e (b) referidos), reconhecendo-os, no entanto, como sendo capazes de variações independentes num sistema que esteja cm ou pr6ximo do equilíbrio. Assim, em equilíbrio 1 = S, ambos considerados ex- ante; nestas circunstâncias P será constante. Mas se I excede S ex-ante , V tem de aumentar, desde que M se mantenha constante. O contrário acontecerá se I for menor que S, ex-ante . Consideremos as variações de V, como sendo d V. Então se I > S, temos: [M (V + dV)]. l /O = P' com P' > P 92 Mas se I < S, temo : [M (V + dV)]. 1;0 = P" com P" < P Contud , V tem um preço de oferta, a taxa de desconto ou taxa de juro de empréstimo, i, o qual é determinado pelos bancos centrais. Esta taxa também determina fluxo de saldos d poupança. Mas se bancos estão activamente empenhad s na criação de depósitos, V pode aumentar indefrnidamente d ponto de vista da oferta, indepen- dentemente d"s p upança. Se V aumenta ou não para um vaI r dado de i, para o qual o fluxo de p upanças c a di posição para armazenar valore líquidos têm que ser também dado, dependc da procura de investimento. A procura de inve timento, é por sua vez, função da taxa de retorno e perada do novo capital investido, a taxa de juro real de Wicksell, r. Para i dado, o investimento deve alcançar uma gr;mdeza que iguale r a i. Se, devido à inércia ou a uma falha de política, o banco central mantém i constante enquanto r aumenta, I excede S c a consequência é um aumento dos preços. O aumento de P toma-se cumulativo desde que o aumento inicial de P aumente r cada vez mais . Este processo cumulativo continua até o banco central, ou uma crise, pará-lo com um aun1ento suficiente de i, ou uma diminuição suficiente de r. Mas se em vez de um «sistema de crédito puro» tivermos um sistema de padrão- ouro, ao aumento cumulativo dos preços sobrevem um dreno da liquidez interna que delapida as reservas de ouro do banco central e força-o a parar o processo cumulativo com um aumento da taxa de desconto. Da tradicional teoria quantitativa da moeda pouco ficou. NW11a economia de crédito «um aumento da quantidade de moeda» pode somente ocorrer com o consentimento e cooperação do banco central. Se tal 93 aumento ocorre é devido a um aumento da procura de moeda, devido a um aumento de r relativamente a í. Ma então o aumento da quantidade de moeda torna-se num aumento de criação de dep6sitos, i. é, um aumento de V. Assim Wicksdl tran forma a teoria quantiativa numa teoria de velocidade de circulação da moeda. Como consequência Wicksell torna claro que a ~nálise monetária tem de proceder à desqualificação da lei de Say no curto prazo por meio de uma análise agregada da procura-oferta. Esta desqualificação depende da existência de um sistema bancário, criador de moeda, que torne possível um oferta de crédito elástica e dependente da diferença entre j e r. 5. O mercado monetário versus mercado de bens Wicksell definiu o valor da moeda e os meios de o medir como segue: « We mcan by value of money exact1y the same thing as the exchange value of money, its purchasing power as against goods and services. To us, therefore, the vaI ue of money and the price levei are synonymous, or more correcty, correlative ideas» (1). Desta definição e da dupla dimensão do conceito de moeda, decorre a necessidade de uma análise na base da procura e oferta agregadas para determinar o valor de troca da moeda . A sua crítica construtiva à teoria quantiativa tomou-se o ponto de partida para investigar as condições do equilíbrio monetário. Entre os defeitos da teoria quantitativa ele notou em particular o conceito uni-dimensional de moeda e o mecanismo associado de que alterações de curto prazo na (1) WICKSBLL (1906), pág. 129. Maria de Fatima Realce Maria de Fatima Realce Maria de Fatima Realce 94 quantidade de m eda implic m alteraç-e pr p rCl nalS no nível do preç . Para res lver problema de c m a moeda agr gada p de exceder u ser inferior à oferta de bens Wicksell LU u o de categ rias di tintas tai como o «mercad de bens~ c o «mercad monetário». A ua suge tão d dois mercados é um frutuo o mei analítico. Keyne utiliza um método análogo quando distingue entre «a circulação industrial~ e a «circulação financ ira)), n Tre(/(ise 011 Money, cap. 15. P,trl Uhr (1962) (I) a moderna contrapartida desta ideia está para as teorias do rendimento e emprego na ênfase dada à falta da nece ária co rdenação entre os agentes econ6- mico que poupam e dos que tomam as decisões de investir. No juro e Preços Wicksell analisa o «mercado de bens~ cm tcrm s de uma economia de troca pura. Uma relação neste mercado tcm uma importância estratégica na sua teoria, a saber. a proporção na qual a produção corrente é dividida em «presente» ou bens de consumo c «futura» ou bens de capital. Dada a preferência de tempo dos receptores de rendimento ao escolherem o uso a dar ao rendimento real tntre con umo c poupança real, a taxa de juro natural reflecte a produtividade marginal do capital correspondente ao investimento real de equilíbrio. A razão da defmição de «mercado de bens» foi explicitar que os preços relativos são deternúnados pelas condições de produção e de consumo de que dependem. não exercendo qualquer influência sobre o nível absoluto de preços, ou seja, justificando a separação entre «mercado de bens» c «mercado monetário~. Mas para esta separação ser efectiva não era necessário construir o mercado de bens em termos de uma economia de (I) Pág. 226. Maria de Fatima Realce 95 tr ca pura em moeda,já que nesta não se poderia comparar a taxa de produtividade marginal dos diversos bens. Uma vez monetarizado o «mercado de bens» cm termos de uma moeda com um valor constante, Wicksell substitui a definição de taxa natural por taxa real de juro definida em termos de valor de troca como o valor da produtividade marginal do capital real, o que aconteceu nas Lições-II, pág. 190 e seguintes. No mercado monetário as transacções seriam mediadas pelo banco central e pelo sistema de bancos privados independentes. Embora Wicksdl reconhecesse a xistência de bancos de investimentos especiais, não diferenciava as suas funções das dos bancos comerciús. Os bancos recebiam poupanças dos recebedores de rendimento, incluindo firmas e ('mprest~vam-nas aos empresários-investidores a uma taxa de juro monetária, que seria uma média das taxas de juro diferenciadas. Se os bancos não abusassem da criação de depósitos e o público do desinvestimento, a taxa de juro monetária tenderia a estabelecer a competição a um nível tal que o investimento igualasse a poupança. A procura de fundos de investimento é determinada pela taxa de j uro real. A oferta de crédito é elástica (devido à variabilidade de V tornada possível pela passiva ou deliberada criação de depósitos pelos bancos) pelo que a oferta de fundos para investimento não precisa de ser igual a curto prazo à poupança. Se o fluxo de poupança é dado a uma dada taxa de juro monetária, o aumento da taJQ de juro real aumenta a procura de fundos para investir excedendo a poupança, e a diferença é tornada possível pela expansão do crédito bancário. Maria de Fatima Realce Maria de Fatima Realce 96 6. A natureza do equilíbrio monetário Na pr pria palavra de Wick eH, a condiçõe de equilíbri em ambo os mercad s de ben e erviços foram expresso c 111 segucm: «That 1 an rate which is a direct expressioll of the real rate, we call the n rmal rate ... The rate of it/terest at which the dell/and for loall capital alld the st~pply of salJitlgs exactly agree, alld Ulhich morc or less correspotlds to the expected yield on the lIel/l!y created real capitallllill thw be the normal or llatural real rate. It is esswtialy I'ariable. If the prospects of mployment of capital become more promising. demand will increase and will at fir t exceed supply; interest rates will then ris e as the demand from entrepreneur contract until a new equilibrium is reached at a lighthy higher rate of interest. At the same time eqHi!ibri'/I1/ II/HSt ipso facto obtain ... itl the market for goods (//ld serllices, so t"at II/ages alld prices remaitl unchatlged. The sum of money incomc will then usualy exceeel. the money value of consumption goods annualy produced, but the excess of income - i. c. what is annualy saved and invested in production - will not produce any demand for pre ent goods but only for labor or land for future production» (I) . As im o equilíbrio no mercado monetário implica: a) equilíbrio no mercado de bens; b) a taxa de juro normal ou de equilíbrio no mercado monetário; a qual mantcrá os preços estáveis no mercado de bens. (1) WICKSElL (1906), pág. 192-193. Itálicos acrescentados. 97 a) As condições do equi [{brio monetário A análise de Wicksell mantém as hipóteses de livre iniciativa e pleno emprego sem considerar o Estado na sua componente de gastos e impostos. A taxa de juro normal ou de equilíbrio é, como foi mostrado, aquela que iguala a procura de fundos de investimento (ex-ante) ao fluxo de poupança das pessoas e empresas. Para uma dada taxa de juro monetária o investimento é uma função da taxa de juro real de tal forma que só se realiza para projectos que excedam ou igualem a taxa de juro monetária. Mas em livre concorrência, respeitando-se a condição de equilíbrio anterior, teremos que os preços igualam os custos de produção. Conse- quentemente, o equilíbrio monetário entre investimento e poupança implica um equilíbrio no mercado de bens traduzido na igualdade custo-preço. Para que o equilíbrio monetário se mantenha (i. é, com ausência de expansão do crédito) com ganhos adicionais no mercado de bens, derivados de taxas de juros real superiores nalguns sectores em relação a outros, deverá haver a dupla coincidência de que (a) a procura de investimento se tenha expandido na directa proporção do aumento dos ganhos, e (b) os ganhos serão poupados na totalidade (1). Em qualquer caso, se a condição necessária para preservar o equilíbrio monetário é permanecer a igualdade (I) O equilíbrio de custo igual ao preço no mercado de bens não implica necessariamente preços estáveis e um nível geral de preços invariante a não ser que se assuma funções de produção constantes. Se a produtividade aumenta, o equilíbrio é igualmente preservado a preços variando inversamente com a alteração da produtividade, com o rendimento monetário constante ou com os preços constantes e o rendimento monetário aumentando na proporção do aumento da produtividade. 7 Maria de Fatima Realce Maria de Fatima Realce Maria de Fatima Realce Maria de Fatima Realce Maria de Fatima Realce Maria de Fatima Realce Maria de Fatima Realce 98 custo-preço n mercado de bens quando a produtividade aumenta, i to por si 6, não garante a manutmção do equilíbrio m netári . A condição suficiente erá (a) se o nível de preços varia inversamente com s alterações na produtividade, então o rendimento rcal da comunidade deverá ser repartido para consumo e investimento na mesma proporção que o aumento do produto nacional é feito com base em bens de consumo e bens de investimento ou (b) se o nível de preços é estável quando a produtividade aumenta, então o aumento do rendimento monetário da comunidade será repartido em poupança e consumo na proporção adequada. Não existe, é claro, nenhuma razão para acreditar que este duplo ajustamento será conseguido automati- camente. b) O equiUbrio no mercado monetário como sendo distinto do equiUbrio dos preços relativos no mercado de bens A distinção entre os dois mercados considerados por Wicksell é reforçada pela natureza do equilíbrio nestes mercados. O equilíbrio no mercado de bens foi descrito como estável devido a forças que o trazem permanente- mente para o equilíbrio. Mas o equilíbrio monetário é pelo contrário descrito como (Jabide» ou neutro em carácter. Se qualquer força, uma divergência entre i e r, mover o sistema da sua posição de equilíbrio, este reagirá como um cilindro num plano. A força desequilibrante levará o cilindro cumulativamente cada vez mais longe do ponto de partida. E se a força propulsora se esgota, o cilindro permanecerá no ponto para onde se deslocou sem qualquer tendência para regressar à sua posição inicial (1). (1) WICXS.ELL (1906), pág. 196-197. 99 A principal força (por muitos anos para Wicksell, a única) permitindo a ligação entre as forças de determinação do valor no mercado de bens e no mercado monetário, respectivamente, são os movimentos cumulativos de preços enquadrados por discrepâncias entre as taxas de juro monetária e real. De um ponto de vista microecon6mico, indivíduos e firmas activos no mercado de bens não têm qualquer meio de influenciar o nível geral de preços. Somente o banco central e o sistema bancário estão em posição de ver o mercado monetário como um todo. Mas mesmo estes não têm um controle directo sobre o lado da procura, ou seja, sobre o investimento que é fllilção da taxa de juro real que é variável e não pode ser conhecida directamente, porque as expectativas empresariais da qual deriva não estão registadas em nenhum sítio. Os únicos indícios são os movimentos de preços a que dão lugar depois de algum tempo ap6s a alteração da taxa monetária. É por isso que os bancos não podem fazer melhor do que ajustar o nível das taxas monetárias com um desfazamento em relação à taxa real. 7. O processo cumulativo Na formulação apresentada, a teoria de Wicksell tem um alcance limitado. Pode dizer-se que, por um lado, uma situação fixa de equilíbrio supõe como condição que j = r, e, por outro lado, o equilíbrio ficará perturbado devido a um processo cumulativo se essa igualdade não existe. Por conseguinte, pode-se criticar a teoria de Wicksell pela mesma razão que a teoria quantitativa: ser estática. Mas a teoria contém um elemento dinâmico, o facto de q ue uma divergência entre os dois tipos de juro conduz a um 100 processo de alta u baixa. Este será p nt central. núcleo da sua teoria confc rme a opiniã da grande mai ria dos aut res c mo Myrdal (1956). Marjolin (1941). Magaud (1950) e que é de ignado por processo cumulativo (I). Wicksell entende por pr cesso cumulativo a diver- gência acidental entre a duas taxa de jur • que provcca um movimento geral de alta ou baixa de preços que tende a pros eguir espontaneamente. desde que a divergência se mantenha. A divergência entre as taxas de juro deve-se ao facto da taxa de juro real variar em virtude da inovação. cre cimento da população. abertura de novos mercados. etc. Por uma destas razões a taxa real de juro aumenta enquanto a taxa monetária permanece constante. A pr cura de investimento aumenta pala um nível superior à oferta da poupança voluntária e tal aumento é alimentado pela criação de depósitos pelo sistema bancário. O aumento da procura de investimento gera uma procura adicional de bens de capital que aumenta os preços e provoca uma alteração na repartição do rendimento a favor dos empresários. Os últimos. por sua vez procuram expandir o investimento com base na expectativa de lucros. atraindo recursos de outros sectores nomeadamente do sector que produz bens de consumo aumentando os salários e as rendas. Assim a produção de bens de consumo diminui enquanto o rendimento monetário e os gastos do consumo dos trabalhadores e proprietários aumenta. Por isso os preços dos bens de consumo aumentam. e este aumento por sua vez faz elevar a expectativa de lucros na indústria de bens de capital. Este facto induz nova expansão que leva a um aumento dos salários e rendas com novo decréscimo da (1) A interpretação contrária, nomedamente a de PATlNKIN (1952) será exposta mais à frente, na secção C deste trabalho- Maria de Fatima Realce Maria de Fatima Realce Maria de Fatima Realce Maria de Fatima Realce Maria de Fatima Realce tOl produção de bens de consumo c um subsequente novo aumento nos seus preços, etc .. Este processo pode continuar indefmidamente até a ruper-inflação acabar numa crise no decurso da qual taxa monetária de juro aumente. Pode aumentar acima da taxa de juro real provocando um processo cumulativo deflacionista, ou pode aumentar para um nível idêntico ao desta chegando-se a um novo equilíbrio, com preços mais elevados do que na situação inicial. Wicksell não insiste que o processo cumulativo necessariamente tem de terminar em crises de ruper-inflação ou deflação; nem exclui a possibilidade de poder haver forças que gerem eventualmente um novo equilíbrio sem crises. Ele ficou contente por haver demonstrado que a discre- pância entre as duas taxas « .. .is strong enough to expIain actual price flutuations wruch manifest1y can not be due to variations in the quantity of goleI .. . » (1). 8. A importância da análise de Wicksell Numa certa medida, as suas conclusões aparecem como sucedâneas da teoria quantitativa, pois que a criação de um poder de compra complementar engendra variação nos preços. Por sua vez, é de referenciar que este poder de compra não resulta somente da actividade do instituto emissor mas de toda a organização bancária. Por outro lado, a origem destes movimentos provém da atitude dos empresários, ou seja de um factor extra-monetário (2). (1) WICKSELL (1906), pág. 200. (2) Conforme MAGAUD (1960), pág. 69. Maria de Fatima Realce 102 8.1. O pr blema fWldamental da análise de Wicksell poderá er con iderad c mo da estabilidade dos preço c, cm última estância, da neutralidade da moeda. Mas enquant a teoria precedente tenderia a c n iderar a moeda neutra por definição, Wicksell tem c nsciência da diferença que existe entre uma economia de troca e uma economia monetária e que, por con equência, a presença da moeda influenciada de modo es mcial o andamento da economia, em especial realçando os aspectos instituci nais que poten- ciam o papel da moeda na economia, como é o ca o da chamada economia de crédito pura. Ao evidenciar o papel da moeda e dos factores institucionais a da ligados introduz na análise o mercado monetário como elemento chave da actividade económica. A validade da lei de Say, que pode ser considerada numa relação de complementaridade com a teoria quantitativa, vem posta em causa na base de que a procura agregada monetária pode ser maior que a oferta global, evidenciando, assim, a existência de uma análise monetária macroeco- nó mica não derivada da Cl.gregação da análise microeco- nómica. 8.2. A refutação da equiproporcionalidade da varia- ção dos preços como consequência de uma variação da quantidade de moeda conduziu-o a examinar a hipótese de invariabilidade da velocidade de circulação na qual se fundamenta a teoria quantitativa. A sua crítica baseia-se quer em aspectos microeconómicos como as preferências por moeda e saldos de caixa reais quer cm aspectos macroeconómicos como factores institucionais àcerca da presença e desenvolvimento do «moderno» sistema bancário. Este último aspecto leva-o a centrar a sua crítica à teoria 103 quantitativa no aspecto institucional ao constatar a varia- bilidade de V associada à política creditícia. Tal proposição leva-o ao exame da natureza do papel da taxa de juro, distinguindo entre taxa de juro real e taxa de juro monetári?, sendo a primeira a que iguala investimento à poupança e corresponde ao rendimento da produção e a taxa de juro monetária o preço do u o da moeda. A individualização do carácter monetário da taxa de juro permite-lhe afirmar que na presença do crédito bancário a iguald?de entre as duas taxa.s não é mais dada por definição mas torna-se uma condição de equilíbrio a realizar já que a não iguale.ade influencia a economia. 8.3. O sistema bancário pode cirar moeda e a quantid;-.de de moeda toma-se endógena. Desta forma o sist ma bancário pode responder a uma procura de moeda sem que haja a correspondente poupança. Poupança e inves- timento tornam-se assim grandezas separadas que depen- dem de sujeitos económicos sem qualquer relação entre si. A taxa de juro monetária torna-se uma variável exógena ao andamento do sistema, passando a depender da administração da banca e da discricionalidade da política creditícia. Esta taxa de jmo é também a única reguladora da circulação monetária, pois se a oferta se adequa sempre à procura (ex-post), esta última não tem influência sobre o preço da moeda (falta a Wicksell uma curva de oferta de moeda), enquanto as variações da taxa de juro monetária têm, pelo contrário, influência sobre a procura de moeda. A procura de moeda varia em função da taxa de juro real e da taxa de juro monetária pelo que teremos um aumento (diminuição) da procura de moeda para inves- timento de cada vez que a primeira é maior (menor) que a segunda. 1'04 8.4. À luz de tas contribuições Wick eU define o equilíbri 111 netári c mo caracterizad pela igualdade entre r e i. Se a duas taxa não coincidem, inve timento e poupança deixam de c incidir, o lucro deixa de ser nulo e s preço deixam de cr e táveis geram~. -se um processo cwnulativo, explicado pelo mcrcado monetário, já que o mercado de ben tem mecam mos que garantem o equillbrio. A existência de dois mercado é reforçada pela natureza do equillbrio, já que é o mercado monetário que leva a um processo de desequilíbrio cumulativo. Portanto, este desequilíbrio só será controlado pela intervenção do sistema bancário ao ajustar a taxa de juro monetária ao eu nível natural. Neste ponto de equillbrio, todavia, os preços não voltam ao nível precedente, ficando no nível que atingiram. 8.5. Da sua análi e re ulta uma inversão de ordem causal em relação à teoria quantitativa que vai da quantidade de moeda (exógena) para os preços e depois para a taxa de juro(M ~ P ~ i), enquanto para Wicksell desenvolve-se da taxa de juro para a moeda (endógena) e depois para os preços (i ~ M ~ P). Por outro lado, e no de envolvimento da inflação a taxa de juro tendesse a crescer, como pretendia a tradição da época, levaria à interrupção do processo cumulativo (1). 8.6. Por outro lado, a variação dos preços relativos e da estrutura produtiva cm situação inRaccionária é um problema em aberto. Uma diminuição da taxa de juro significa, enquanto factor de capitalização, um aumento do valor dos bens de capital que se podem produzir e isto (1) PICOLO (1984), pág. 14. 105 constituÍrá um e tímulo a aumentar a produçã . Reali- zar-se-á, portanto, uma pa sagem da produção menos capitalista para a mais capitalista, com uma consequente transferência de recurs sd sector dos bens de consumo para sector de bens de investimento. Esta alteraçã da e trutura produtiva, em condições de plena ocupação, provocará um aumento dos preço dos bens de consumo; havendo uma variação da estrutura de preços relacionada com a distri- buição do rendimento. Os instrumentos creditícios podem induzir, consequentemente, com a sua acção, fenómeno de poupança forçada que levam a que os rendimentos nã cresçam tanto como o prcç s. 8.7. Na base destas considerações é possível chegar-se em Wicksell a uma relação entre inflação, distribuição e acumulação, cm que a inflação precede a acumulação pois que é aquela que sanciona a distribuição do rendimento dos capitalistas-poupadores para os empreendedores e a des- locação de recursos do sector de bens de consumo para o sector de bens de investimento, fenómeno induzido pela diferença de taxas. O processo na sua totalidade evidência, portanto, uma integração estrutural entre aspectos mone- tários e aspectos reais numa única dimensão (I). A relação que se estabelece entre inflação, distribuição e acumulação, põe em evidência a situação de desequilíbrio como constituindo a norma de comportamento da eco- nomia enquanto economia monetária e correspondendo ao momentos em que a acumulação tende a acelerar-se. (I) PICOLO (1984), pág. 16. 106 9. Os desenvolvimentos na teoria monetária de Wicksell As críticas à teoria de Wicksell durante a sua vida reduzem-se a 6 questões. A primeira e a mais importante foi a objecção de Davidson à sua norma de estabilização dos preços como um guia apropriado da política monetária em condições de alter ção d produtivid:tde. As outras 5 questões foram também postas por Davidson num contexto ou noutro. Desta, as primeiras três foram colocadas com maior incidência independentemente de Davidson por Ludwig Von Mi es, a quarta por Akermam, e a quinta por ahlin. As questões centram-se sobre (a) independência entre as taxas de juro real e monetária; (b) a interdependência entre o mercado mone- tário e o mercado de bem; (c) o problema da determinação do peso absoluto do nível de preços; (d) algumas limitações ao controle monetário pelo banco central: (e) a influência das antecipações empresariai e a diferença nas estruturas de mercado sobre a taxa real de juro e sobre o movimento do nível de preço . 9.1. Examinaremos estas cinco últimas questões pri- meiro, e de acordo com Uhr (1962) referimo-nos a eles como «questões menores», não porque sejam menos significativas que a questão central no debate entre Wicksell e Davidson, mas porque exerceram uma influência menor sobre o pensamento de Wick~ell do que a controvérsia com Davidson. (a) A possibilidade de divergência entre as duas taxas de juro seria refutável se as duas taxas fossem consideradas interdependentes de tal forma que o movimento de uma face à outra levasse a segunda a ajustar-se ao lÚVel da 107 primeira sem um desfazamento apreciável, o processo cumulativo deixaria de ocorrer ou seria de curta duração e fraca amplitude. Esta é a posição de Davidson e Von Mises que baseiam os seus argumentos na hipótese de padrão-ouro, o que o próprio Wicksell também estabeleceu, face à mesma hipótese, aceitando que o processo cumulativo seria mais curto cm tais condições que num sistema de crédito puro. Dos argumentos apresentados por Von Mises des- taca-se o de que a taxa de juro real seria reduzida até ao nível da taxa de juro monetária pela formação de capital resultante da «poupança forçada». Wicbell não exclui a sequência de Von MisC'S ~.iscordando, contudo, da sua duração e amplitude já que considera que a poupança voluntária devido à descida da taxa de juro monetária não é suficientemente compensada pela «poupança forçad:>.» resul- tante da subida dos preços dos bens de consumo. (b) e (c) A interdependência do «mercado monetário. e do «mercado de bens» e a determinação do peso absoluto dos preços relativos - uma questão metodológica. A questão metodológica é a da rdação entre a teoria do valor marginalista e a teoria monetária, e obviamente, não pode ser deixada da maneira como Wicksell a deixou, mesmo depois de ter modificado a sua posição em relação ao facto que alterações na produção têm repercussões no mercado monetário. Um dos obstáculos para a fusão das duas, naquele tempo, era o facto de a teoria do valor vir defmida cm termos de economia de troca sem moeda. A crítica de Von Mises constitui uma tentativa infrutífera de aplicação da análise marginalista à teoria da moeda, procurando a fusão da teoria do valor e da teoria monetária. A análise de Davidson rclativamente a este problema 108 parte de uma perspectiva Ricardiaria sobre a teoria do val r que e centrava s bre uma interpretaçã d valor em termo de cu t reai. P rque «valor objectivo» da mercadoria altera- e m vari, çõe na ferta d s recur os pr dutivo e c m alteraçoc na pr dutividade deste recurso, Davids n, não estava ati feito c ma defmição de Wick eH de valor da m eda com recípr c de um índice do túvel de preços, ape ar de nã ter tuna alternativa. Mai, in i tiu que o movimento d s preç nã sã nece ariamente o resultado de altcraçõe n valor da m eda. A pr dut vidade era também uma fi rça que actuava de fi rma deci iva sobre o val r bjectivo d s bcn e erviç se 11 tÚvcl geral de preços. Haveria também utras influências com os preços rígidos e o awncnt do grau da imperfi ições de mercado. Como consequência, pensava que as condições afectando a produçã e a venda da mercadorias deveriam receber uma atenção ao túvel da teoria monetária. (d) S bre as limitaçõe ao controle dos bancos centrais há a referir que Akermall colocando o caso de emissão de moeda para financiar «c.espesas improdutivas» em arma- mento, num montante igual à poupança anual e consi- derando que os bancos mantêm a taxa de juro normal, a moeda aumentada não levará a um correspondente aumento da procura. Tal só acontecerá com uma taxa de juro «subnormal», o que conduzirá a uma procura adicional por parte dos empresários e ao consequente aumento dos preços. Wicksell contra-argumenta dizendo que a nova moeda aumenta os preços imediatamente, em especial o preço dos bens de consumo, já que a moeda compete em todos os mercados com a pré-eJcistente. Não haverá assim. um problema de um aumento de «idle balances» já que com o awnento dos preços a procura de moeda aumenta. A única maneira de as «despesas improdutivas» poderem ser con- 1 9 finadas no seu impact ao t tal da poupança anual seria se fossem financiada pelo governo com empréstimos jW1tO do público, empréstimo não admissíveis para uso colateral com o crédito bancário. Finalmente, o desvio da poupança privada geradora de investimento para despesas impro- dutivas, seria compensada em parte pela poupança forçada, resultante do aumento do preços que ocorreria apesar de os bancos manterem as taxas «normai I). Davidson explicita que o caso de Akerman requer que o banco central não somente deve refrear a criação de notas e a extensão do crédito com base nos empréstimos ao governo, mas também aumentar a taxa de juro monetária parél um uIvei supernormal para restringir o uso privado do crédito, de forma que a moeda criada permaneça sem uso na medida em que a esse nível de taxa de juro monetária os empresários não aumentem a sua procura. Davidson realça que se o banco central tem sucesso aumentando as taxas de juro monetárias para prevenir aumento dos preços é o novo potencial de capital real que paga a despesa improdutiva. Se os bancos mantêm a taxa de juro «normal» deixando os preços aumentar serão os bens de consumo e serviços a pagar a factura. (e) O impacto das expectativas empresariais e as diferenças nas estruturas de mercado sobre a taxa de juro real c sobre o movimento dos preços. Ohlin atacou a distinção de Davidson entre inflação devido a causas monetárias e outras, podendo as primeiras (as previstas por Wicksell) ser evitadas por um ajustamento adequado da taxa de juro. Para Ohlin, Davidson assumiu que «o aumento de escassez das mercadorias» ·resultando da falta de matérias-primas, declíneo da eficiência do trabalho, tendências monopolísticas, etc., seriam (A) afectadas pela produção de todas as mercadorias . uniformemente e (B) 110 neutra l\ pr duziriam altcraçõe in igniflcantes na partilha do rendiment ,em relaçã à inflaçã nã relaci nada com causas monetárias, pelo que seria preferível aceitá-la do que tentar debelá-la. Para explicitar a sua análise que vem introduzir factores não monetário na explicação da inflação, contrariamente à análise de Wics li, Ohlin parte de um aumento de preços na indúsu-ia devido a um aumento de monop6lio neste ramo, enquanto a agricultura permanece competitiva. Os recursos abandonado pela indústria são aproveitados pela agri- cultura, cujo aumento de produção compensa em parte o declínio na indústria. Mas a produção total tende a dimi- nuir porque o recursos transferidos para a agricultura são utilizados com uma produtividade marginal menor do que em relação ao seu uso anterior na indústria. O declínio na produção tende a aumentar o nível de preços proporcional- mente se os banco mantiverem a taxa de juro «IlOImal». Mas diz Ohlin, a escassez não será uniforme e a distribuição do rendimento não erá afectada unifor- memente devido ao aumento de preços. Segwldo, mesmo que os bancos mantenham as taxas de juro «normais», o que implica um aumento devido ao aumento de r, o aumento dos preços pode er cumulativo. Sê-Io ou não depende se a trustiflcação das manufactura é feita por previsões de preços unilaterais e Lworáveis. Se assim for, r aumenta mais do que a escassez influenciara e inicia-se um processo cumulativo. Desta análise surge uma crítica a Wicksell por não levar em conta os outros factores na explicação da inflação, factores esses que não actuam uniformemente como pretendia Davidson. 9.2. A modiflcação da norma de política monetária - a polémica entre Davidson e Wicksell. 111 A prescrição de wicksdl de estabilização dos preço como uma norma para a política monetária foi contestada por Davidson. Este esteve na base de uma polémica com Wicksell no Ekonomisk Tidskrifl entre 1906-1909. A posição de Davidson era que a estabilização dos preços é somente consistente com a manutenção do equilíbrio se a produtividade é constante, mas se a última se altera, a norma apropriada é deixar os preços variar na proporção inversa da alteração na produtividade. Se tivessemos um equilíbrio inicial c a produtividade aumen- tasse tal significava que r aumentaria e portanto os bancos deveriam aumentar a ta~a de juro monetárié'. do mesmo montante. Se tal s verificasse, o rendimento monetário permaneceria constante, mas o aumento da produtividade siglúficaria maior produção a qual teria de ser vendida a preços menores. Se os bancos insistissem na estabilização dos preços, teriam de reduzir i para prevenir o declínio dos preços. Desta forma j tornava-se «subnormal~ e originava um processo cumulativo. É somente no ano de 1925, depois da Suécia ter testado uma inflação severa durante a I Guerra Mundial, e depois de Wicksell ter publicado a substância das suas próprias análise monetária em artigos no Ekonomisk Tidskrifl entre 1918-23, que este reconhece a pertinência destes argumentos. A sua concepção aparece como uma admissão de que os bancos não podem efectivamente prevenir a inflação que resulta da «escassez de mercadorias», i. é, do equivalente de um declínio na produtividade. causada por bloqueamento e outras desolações causadas pela guerra (1). Ainda que Wicksell (1) Esta posição aparece num seu artigo sobre cThe monetary problem of the Scandinavian Countriest , traduzido e aparecendo em apêndice ao ltJterest allJ Prices. Estas duas obras são do conhecimento do autor através da obra de UHR (1962) . 112 p c a c n iderar a norma de estabilização dos preços como imperfeita, c n idera-a a única viável, em especial num mundo em paz nde não haverá caU:l de «escassez de mercadoria» relacionada c m a guerra u qualquer outra ocasião inflacioni ta devido ao decréscim de pr dutividade. Quant ao aumento de produtividade considerava-os tão in ignificante c com um movimento secular, que não alterariam equilíbrio de curto prazo. Quanto à norma de David on con iderava-a um perfecci nismo c, mesmo admitindo-a, a existência da competição imperfeita blo- queava a sua aplicabilidade. A escolha seria então entre a sua norma ou nenhuma norma. c. PO ICIONAMENTO DA OBRA DE WICKSELL E SEUS DESENVOLVIMENTOS NA TEORIA MONETÁRIA 1. A interpretação tradicional da obra de Wicksell A interpretação tradicional da teoria monetária de Wicksdl concentrou-se na individualização de um meca- nismo de reajustamento automático das duas taxas de forma a preservar a não influência no longo prazo dos fenómenos monetários sobre a economia real, na sequência das críticas atrás apresentadas por Davidson e Von Mises. O chefe de fila desta orientação pode er considerado Don Patinkin (1952) (1), o qual ustcnta que num mundo regulado pelo padrão-ouro (factor institucional abandonado (1) No seu livro AJltecipatio"s of tlle general theory, Basil Blackwell, 1982, PAnNKIN rea[,.rma a sua tese de 1952: «it seemed to me over twenty- five years, and continues to seem to me todaY»i (pág. 42). 113 por Wicksell a favor do sistema de crédito puro) o aumento da procura de crédito e o consequente aumento dos preços determinam um dreno interno das reservas dos bancos que os induz a aumentar a taxa de juro monetária de modo a que esta s iguale à taxa natural e faça cessar os pedidos de crédito. De tal modo o equilíbrio seria garantido pela força do sistema e o processo cumulativo viria a constituir um estável processo reequilibrGl.dor que transmite a variação da qUé'mtidade de moeda aos preços através da taxa de juro: «Thus the operation of a cumulative process does not imply that the system is instable, and that, after the inicial disturbancc, it continuously moves away from an equi- librium po ition. On the contrary, through its effects on bank reserves, the cumula tive process in Wickseli' s analysis plays the role of the fundamental equilibrating mechanism forcing the banks to cleminate any discrepancy between the rate they set and real rate, and thus restoring equilibrium to the loan market (1)>>. Um, outro exemplo da análise tradicional, mas menos rígida, é a de Fabbrini (1957) que começa por dizer que a análise de Wickseli «é um peca to, perché nelia teoria Wicksclliana sono riuniti gli elementi essenziali per la fusine non solo dei due indirizzi prevalenti nelia teoria monetaria des suo tempo-quelio rappresentanto deli' equa- zine degli sacambi c la teoria del credito e delie banche, in base alla quale iI valore o prezzo delia moenta e iI saggio d' interesse dei prestiti a breve termine, ma anche delia teoria monetaria e della teoria generale del valore, eleminando la lacuna del Walras, relativa ao 'real balance effect'» (2). (1) PATlNKIN (1952), pág. 839. (2) FABBRINl (1957), pág. 16. 8 114 Depoi chama a Wick eH de «di identc» pela ua recusa de meter em primeiro plall estes c nceitos, intr duzind no quadro do equilíbrio geral uma equação do tipo «cash balance equation», explicando que a quantidade de moeda e o «real balan e effect» têm wn papel meno directo que a divergência entre taxas de juro. Em seguida realça que pr ce o dinâmico que leva à posição de equilíbri ,o chamado pr ces o cumulativo, não é necessariamente um proce s expIo ivo, p ndo em relevo o mecarúsmo de reaju tamento quer pela variação das taxas quer pelo mecanismo da poupança forçada. Ma reconhece que a tax:a de juro natural é um fenómeno transitório e explica-o como uma repetição do err de Walra de utilizar uma duplicação no processo de determinação dos preços e de considerar os preços relativos sujeitos a um processo (equilíbrio estático) e os preços monetários a um outro processo (equilíbrio neutral) (1). No contributo de Wicksell, Fabbrini considera inte- ressante notar, sobretudo, o acento posto no inserimento orgânico nos modelos económicos da procura de moeda e de uma função da reserva líquida, em geral, que abre a via a Robertson e a Pigou para inserirem, por sua vez, a preferência pela liquidez, bem como haver demonstrado que a considerada lei de Say não tem validade em todos os casos, criando wn precedente para a análise de Keynes da «Teoria Geral» (2). Realça ainda que o processo cumulativo pode ser considerado como uma «teoria rudimentar do ciclo» (3). Qualquer de tas dua análises, mesmo a mais flexível de Fabbrini, não leva em conta que o processo cumulativo (I) FABBRlNl (1957), pág. 19. (2) Ilib, pág. 20. (3) Ilib, pág. 21. 115 Wickselliano, sendo devido a um desequilíbrio entre poupança e investimento, mete, por isso mesmo, em evidência que a instabilidade é relacionável com a pr6pria característica do sistema econ6mico, já que a taxa de juro natural varia continuamente cm relação a todos os elementos que definam o andamento da economia e portanto os bancos não podem, mesmo que queiram, manter a taxa monetária permanentemente ao nível da taxa natural, pelo que pode ser a pr6pria política creditícia dos bancos, com o seu lado descricionário, a induzir o processo cumulativo. 2. A teoria monetária de Wicksell e a teoria Keynesiana Pelo menos quatro constrastes interligados são-nos apontados por, Leijonhufud (1981), Uhr (1962) e Lindahl (1956) entre a teoria monetária de Wicksell e a teoria do rendimento-emprego na tradição de Keynes. a) O factor comum entre Wicksell e Keynes é o facto de que não se estabelece automaticamente o equilíbrio entre o investimento e a poupança, pelo que um certo mecanismo
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