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CENTRO UNIVERSITÁRIO DO NORTE CURSO EM GRADUÇÃO EM DIREITO ADRELY CHAVES DE FRANÇA DÉBORA GREICY SANTOS DE SOUZA ELINY KERLEN SANTOS MENDONÇA JODSON MONTEIRO FONSECA LUIZ HENRIQUE CALDAS OSMAR DA SILVA MACEDO RENATO SOARES CARLOS CONSTITUIÇÃO Concepções e Classificações Manaus - AM 2019 ADRELY CHAVES DE FRANÇA DÉBORA GREICY SANTOS DE SOUZA ELINY KERLEN SANTOS MENDONÇA JODSON MONTEIRO FONSECA LUIZ HENRIQUE CALDAS OSMAR DA SILVA MACEDO RENATO SOARES CARLOS CONSTITUIÇÃO Concepções e Classificações Trabalho apresentado para obtenção de nota á Disciplina de Teoria da Constituição e dos Direitos Fundamentais, no curso de Graduação em Direito no Centro Universitário do Norte – UNINORTE. Professor: Fernando Bruno A. de Araújo. Manaus - AM 2019 “Uma sociedade só é democrática quando ninguém for tão rico que possa comprar alguém e ninguém seja tão pobre que tenha de se vender a alguém.” Jean-Jacques Rousseau SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ______________________________________________________5 2. A CONSTITUIÇÃO __________________________________________________6 3. CONCEPÇÕES DE CONSTITUIÇÃO___________________________________7 3.1 Constituição em Sentido Sociológico_____________________________________ 9 3.2 Constituição em Sentido Politico_________________________________________12 3.3 Constituição em Sentido Jurídico ________________________________________14 3.3.1 Constituição no Sentido Lógico - Jurídico ________________________________14 3.3.2 Constituição no Sentido Jurídico – Positivo _______________________________15 3.4 Constituição em Sentido Normativo ______________________________________17 3.5 Constituição em Sentido Cultural ________________________________________19 4. CLASSIFICAÇÕES DE CONSTITUIÇÃO ______________________________19 4.1 Quanto à forma _______________________________________________________21 4.2 Quanto à sistemática ___________________________________________________21 4.3 Quanto à origem ______________________________________________________23 4.4 Quanto ao modo de elaboração___________________________________________24 4.5 Quanto ao conteúdo ou quanto à identificação das normas _____________________25 4.6 Quanto à estabilidade/ alterabilidade/ mutabilidade/ plasticidade/ consistência______28 4.7 Quanto à extensão _____________________________________________________28 4.8 Quanto à função ou estrutura _____________________________________________29 4.9 Quanto à dogmática_____________________________________________________29 4.10 Quanto à correspondência com a realidade (critério ontológico - essência)_________29 4.11 Quanto ao sistema______________________________________________________31 4.12 Quanto à origem de sua decretação________________________________________31 4.13 Quanto ao Conteúdo Ideológico __________________________________________31 5. CLASSIFICAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988_______________32 CONCLUSÃO____________________________________________________________33 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ________________________________________34 INTRODUÇÃO A Constituição é de essencial importância e relevância na construção social, visto ser a lei fundamental e suprema de um Estado. Neste contexto, o presente trabalho abordará quanto às concepções e a classificações das Constituição, visto as suas variadas formas de se conceituar e os critérios para se classificar uma Constituição. E diante, as diferentes formas de se compreender as concepções de Constituição, na qual, está associada à ideia de lei suprema, da maneira que se observa, a Constituição pode assumir diferentes sentidos, sendo eles: sociológico, político, jurídico e, ainda, o cultural, na qual, serão elencadas as teorias que descrevem as visões particulares ao seu principal expoente, descrevendo a forma e como a Constituição encontra o seu fundamento na sua visão. E de modo, que as Constituições podem se apresentarem de diferentes maneiras, sendo de épocas diversas, países diferentes ou através da analise das diversas constituições, será descrito os critérios que podem ser adotados para classificar as constituições, na qual irá ajudar a compreender as constituições. 2. CONSTITUIÇÃO A Constituição é o sistema de normas, escritas, em documento único ou de modo esparso, ou não, que fundam e regulam a ordem jurídica estatal e nas quais estão consignados os preceitos, ideais e aspirações máximas do povo, o titular do poder constituinte originário, segundo a moderna doutrina, tudo o que é tido por essencial ao bom funcionamento das instituições e ao atingimento da finalidade do Estado que, sintetizada por muitos na expressão “bem comum”, nada mais é do que a felicidade de todos e a de cada um. Em breve conceito, José Afonso da Silva (2005, p. 37) afirma que a Constituição “é o simples modo de ser do Estado”. Mais detalhadamente (2005, p. 37/38), o doutrinador ensina que: "A constituição do Estado considerada sua lei fundamental, seria, então, a organização dos seus elementos essenciais: um sistema de normas jurídicas, escritas ou costumeiras, que regula a forma do Estado, a forma de seu governo, o modo de aquisição e o exercício do poder, o estabelecimento de órgãos, os limites de sua ação, os direitos fundamentais do homem e as respectivas garantias. Em síntese, a constituição é o conjunto de normas que organiza os elementos constitutivos do Estado". Para Paulo Bonavides (2008), a Constituição, em seu aspecto material, é o conjunto de normas pertinentes à organização do poder, à distribuição da competência, ao exercício da autoridade, à forma de governo, aos direitos da pessoa humana, sejam eles individuais ou sociais. Tem-se que o Constitucionalismo Moderno foi marcado por grande teorização, principalmente após a promulgação da Constituição americana, em 1776 e da Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, em 1789. A força das ideias dispostas em tais cartas, bem como a disseminação dos pensamentos liberais levou a consolidação da Constituição no sentido de ser lei fundamental dos Estados. Nesse contexto, as correntes filosóficas e doutrinais desenvolverem diversas explicações e entendimentos para a Constituição. Assim, é notável a existência várias formas de compreensão referente à Constituição, bem como, várias concepções associadas a essa ideia de lei suprema. Dependendo da maneira que se observa, a Constituição pode assumir diferentes sentidos, posto que a doutrina apresenta diversos conceitos de constituição baseadas nos aspectos sociológico, político, jurídico e cultural. O conceito de constituição varia de acordo com as concepções ideológicas e filosóficas de quem o formula e, portanto, do sentido que lhe seja dado. As Constituições, devido as suas diversas maneiras de serem apresentadas, sendo elas, de épocas diversas, através da analise de outras constituições e países diferentes, a partir deste contexto, poderão ser classificadas de acordo com diversos critérios, assim facilitando a compreensão. 3. CONCEPÇÕES DE CONSTITUIÇÃO Em virtude do principio da supremacia da Constituição, toda e qualquer norma de ordenamento jurídico deve, obrigatoriamente, ser compatível com seuconteúdo. As diferentes formas de se compreender o Direito acabam por produzir diferentes concepções de Constituição, conforme o ponto de vista da análise realizada. Destacando – se as seguintes concepções: 3.1 CONSTITUIÇÃO EM SENTIDO SOCIOLÓGICO - FERDINAND LASSALE A concepção Constitucional em seu sentido sociológico encontra em FERDINAND LASSALLE o seu maior expoente, em seu ensaio “O que é uma Constituição?”, analisa e concebe a Constituição como um fato social e não como uma norma propriamente dita, na qual, considera que uma determinada constituição só seria legítima se representasse o efetivo poder social, sendo nessas situações denominada de constituição real. As questões constitucionais não eram questões jurídicas, e sim questões políticas, não aceitava a força normativa da constituição escrita. Ferdinand Lassale (apud José Afonso da Silva, 2005, p. 38) afirma que a constituição de um país é “a soma dos fatores reais do poder que regem nesse país”, sendo o documento denominado constituição apenas uma “folha de papel”. Sendo os fatores reais de poder que atuam dentro de cada sociedade, é essa força ativa e eficaz que informa todas as leis e instituições jurídicas vigentes. Assim, ele suscitou a diferenciação entre a Constituição jurídica ou escrita e a Constituição real ou efetiva. Segundo seu pensamento, a Constituição real é, em essência, a soma dos fatores reais de poder, sendo tais fatores os verdadeiros regentes da sociedade. A Constituição escrita, por sua vez, é um documento, uma mera folha de papel, que objetiva organizar a vida política de uma nação. Dessa forma, tem-se que a Constituição jurídica é apenas um papel, já a Constituição real, esta não é jurídica, mas sim política. Ele dissocia, assim, a constituição jurídica, pautada no dever - ser (de Hans Kelsen) da constituição real, que se situa no plano do ser. De acordo com Lassale, a constituição escrita só será valida se for capaz de se ajustar à Constituição real, ou seja, uma determinada constituição só é legítima se representar o efetivo poder social. A Constituição deve ser o reflexo das forças sociais que estruturam o poder, sendo representação efetiva dos anseios da sociedade. Caso o texto constitucional não expresse esses fatores reais de poder, tal texto não terá validade, conforme defende Lassale (2002, p. 68): “De nada serve o que se escreve numa folha de papel se não se ajusta à realidade, aos fatores reais e efetivos do poder”. Assim, a Constituição jurídica deve corresponder à constituição real para que possa prosperar, e sempre que houver colisão entre a Constituição escrita e a Constituição real, esta prevalecerá, uma vez que, aquela não passaria de uma folha de papel, que poderia ser descartada. Se fosse transferido o pensamento de Lassale para nossa Constituição Federal de 1988, serviria como exemplo o artigo 3º - CF/88, pois não se ajustaria a realidade de nosso país, pela descrição e fatos expostos a seguir: E neste contexto, afirma Lenza (2006, p. 43) que Ferdinand Lassale concebe a Constituição no sentido sociológico afirmando que "uma constituição só seria legítima se representasse o efetivo poder social, refletindo as forças sociais que constituem o poder", no caso de isso não acontecer, ela seria ilegítima, caracterizando uma "simples folha de papel". Então, a Constituição seria "uma somatória dos fatores reais do poder dentro da sociedade". Assim, através de Lassale, houve o reconhecimento de que os fatores políticos, sociais e econômicos são relevantes para a compreensão do fenômeno constitucional. Destacando a importância da relação entre o documento escrito e as forças determinantes do poder para termos uma Constituição. 3.2 CONSTITUIÇÃO EM SENTIDO POLÍTICO - CARL SCHMITT Defendendo a ideia de que o poder constituinte é a vontade política. Assim, o poder constituinte nasce a Constituição como ato do poder estatal. Dessa forma, para Schmitt, a Constituição só é válida quando surge através de um poder constituinte e é estabelecida por sua vontade. Em sua obra “Teoria da Constituição”, Carl Schmitt afirma que o real fundamento da Constituição está na decisão política que antecede a elaboração da própria Constituição. Sem tal decisão não seria possível à organização do Estado. A unidade e a ordenação de uma Constituição relacionam-se, exatamente, a existência da unidade política de um povo, posto que uma norma tenha validade, uma vez que se encontra positivamente ordenada em virtude de uma vontade existente. A Teoria da Constituição, nesse sentido, é a teoria do que forma um Estado, isto é, da unidade política de um povo. E de acordo com Schmitt (2003, p.29), “A constituição tem sua existência inteiramente condicionada a uma decisão política fundamental”. Segundo Schmitt a Constituição é ato proveniente de um poder soberano (unidade política) que dita à ordem social, a política e a jurídica. O direito só se manifesta se provir de uma deliberação de caráter pessoal: A Constituição em sentido positivo surge mediante um ato do poder constituinte. (...) Este ato constitui a forma e modo da unidade política, cuja existência é anterior. Não é, pois, que a unidade política surja porque se haja ‘dado uma Constituição’. A Constituição em sentido positivo contém somente a determinação consciente da concreta forma de conjunto pela qual se pronuncia ou decide a unidade política. (SCHMITT, 1932, p. 24). E continua: “A essência da Constituição não está contida numa lei ou numa norma. No fundo de toda normatização reside uma decisão política do titular do poder constituinte, quer dizer, do Povo na Democracia e do Monarca na Monarquia autêntica”. (SCHMITT, 1932, p.27). Dessa forma, Schmitt estabelece uma diferenciação entre Constituição e Lei Constitucional. Pois a Constituição, num sentido político, é a decisão política fundamental. Assim, o que não é decisão política fundamental é, na verdade, Lei Constitucional. O pensamento de Schimitt se fosse aplicada em nossa Constituição Federal de 1988, poderia ser citada como Lei Constitucional o art. 242, § 1º e § 2º da CRFB/88, in verbis: “Art. 242. O princípio do art. 206, IV, não se aplica às instituições educacionais oficiais criadas por lei estadual ou municipal e existentes na data da promulgação desta Constituição, que não sejam total ou preponderantemente mantidas com recursos públicos.§ 1º O ensino da História do Brasil levará em conta as contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro.§ 2º O Colégio Pedro II, localizado na cidade do Rio de Janeiro, será mantido na órbita federal.” Essa distinção feita por Schmitt distinguindo a Constituição das leis constitucionais, de uma forma mais clara, é que para ele a Constituição dispõe apenas sobre matérias de grande relevância jurídica, como exemplo, a organização do Estado. Da maneira, que as leis constitucionais, seriam normas que fazem parte formalmente do texto constitucional. A Constituição representa os aspectos fundamentais do Estado, ou seja, as decisões políticas que não podem ser modificadas. Enquanto, as leis constitucionais estão no texto escrito, mas não são decisão política fundamental, podendo ser reformadas. 3.3 CONSTITUIÇÃO EM SENTIDO JURÍDICO - HANS KELSEN Em sua Teoria Pura do Direito, o pensamento de Hans Kelsen, a Constituição é um puro "dever - ser", ou seja, seria a norma pura. Uma vez, que Kelsen entende que o ordenamento jurídico é um sistema hierárquico de normas, no qual a validade de uma norma está relacionadaà sua adequação a outra norma, sendo esta de hierarquia superior. O autor atribuiu um sentido jurídico a Constituição, afastando das ideias valorativas, sociológicas, ou políticas. Dessa forma, qualquer referencial exterior ao sistema jurídico deve rejeitado, pois o que determina a validade da norma é exatamente a sua conformidade com norma superior. Assim, é indiferente o conteúdo ou valor das normas, importando, apenas, a sua vinculação formal ao sistema normativo. Para Kelsen, a norma máxima da estrutura hierárquica não tem sua validade verificada. Nesse sentido, tal norma superior é norma fundamental, sendo alicerce de validade para todo o sistema jurídico. Em sua obra, Kelsen defende a existência de um escalonamento de normas. Uma norma, de hierarquia inferior, busca validação em norma superior, e assim sucessivamente, até chegar à Constituição. Essa é exatamente a ideia da pirâmide de Kelsen, na qual as normas na base buscariam validade nas normas do vértice. Nesse sentido, a Constituição seria o fundamento de validade de todo o sistema infraconstitucional, ou seja, todas as normas abaixo da Constituição devem estar em conformidade com a norma máxima de acordo com o entendimento de Kelsen (2006. p 246.): A ordem jurídica não é um sistema de normas jurídicas ordenadas no mesmo plano, situadas umas ao lado das outras, mas é uma construção escalonada de diferentes camadas ou níveis de normas jurídicas. A sua unidade é produto da relação de dependência que resulta do fato de a validade de uma norma, se apoiar sobre essa outra norma, cuja produção, por seu turno, é determinada por outra, e assim por diante, até abicar finalmente na norma fundamental–pressuposta. A norma fundamental hipotética, nestes termos – é, portanto, o fundamento de validade último que constitui a unidade desta interconexão criadora. A Constituição, segundo Kelsen, pode ser entendida em dois sentidos: o lógico-jurídico e jurídico-positivo. A Constituição, em sentido jurídico-positivo, é o fundamento positivo de validade da ordem jurídica. Enquanto, a Constituição, no sentido lógico-jurídico, é o fundamento lógico de validade de todo ordenamento jurídico. 3.1.1 - CONSTITUIÇÃO NO SENTIDO LÓGICO - JURÍDICO A Constituição, em sentido lógico-jurídico, não é tangível, existindo, apenas, no campo das ideias, sendo uma Constituição de norma fundamental hipotética, cujo objetivo é ser base lógica de validade da Constituição jurídico -positiva. Existe uma concordância social que converge no sentido cumprir o que está estabelecido na Constituição jurídico - positiva. Assim, esta norma constitui apenas uma ordem, dirigida a todos, de obediência à Constituição. 3.3.2 - CONSTITUIÇÃO NO SENTIDO JURÍDICO - POSITIVO Já no sentido jurídico-positivo, a Constituição corresponde à norma positiva suprema, ou seja, a norma fundamental de todo o ordenamento jurídico. Seu fundamento está na norma fundamental hipotética. Para Kelsen, em caso de conflito entre a Constituição jurídico - positiva e a realidade social, a Constituição prosperará, assim, a realidade social terá que se amoldar a Constituição. Deste modo, fundamento de validade das normas está na hierárquica entre elas, posto que toda norma apoia sua validade na norma imediatamente superior. CONCEPÇÕES MODERNAS SOBRE A CONSTITUIÇÃO 3.4 CONSTITUIÇÃO EM SENTIDO JURÍDICO - NORMATIVA - KONRAD HESSE A força normativa da Constituição, titulo do livro traduzido para o português pelo Ministro Gilmar Mendes, na qua, Konrad Hesse desenvolve a concepção jurídica – normativa, e apesar de muitas vezes sucumbir à realidade, a Constituição possui uma força normativa capaz de conformar esta mesma realidade, modificando-a. Bastando que para isso exista “vontade de Constituição” e não apenas “vontade de poder”. Defendendo que o papel do direito constitucional é dizer aquilo que deve ser (e não o que é), e a Constituição tem uma força normativa capaz de conformar a realidade. Sendo uma crítica à concepção Sociológica de Ferdinand Lassalle, de modo, que defende a ideia que a Constituição escrita possui força normativa, ela obriga e pode mudar a realidade, pois tem o poder de mudança ao seu contexto, havendo o choque entre a Constituição escrita e o poder. De maneira, que a Constituição escrita tem força para mudar a realidade, visto que a mesma poderá limitar o poder do governante. CONCEITO DE HANS KELSEN CONCEITO DE KONRAD HESSE Para a concepção jurídica, norma é o texto concretizado dentro de um contexto. É possível alteração na norma tanto mexendo no texto (por meio de emenda, por exemplo), como, sem nem mexer no texto, analisando-se essa norma dentro de um contexto diferente. Um exemplo claro é o caso da União homo afetiva. A constituição, desde 1988, protege o direito a família. Em 1988, caso o STF se deparasse com uma situação envolvendo união entre pessoas do mesmo sexo, ele certamente não entenderia pela juridicidade dessa situação, pois o contexto (realidade) existente naquela época era completamente diferente. Então, quem vai interpretar a constituição tem que aliar o texto ao contexto. Neste contexto, esse tipo de interpretação não pode ser feito uma única vez, sendo necessário aliar o texto ao contexto, podendo ser que daqui a 30 anos a norma já não seja mais a mesma, posto que o contexto terá mudado novamente. Logo, toda vez que um interprete for se deparar com uma situação similar, ele tem que fazer novamente esse movimento (aliar o texto ao contexto). É o que a doutrina chama de círculo hermenêutico (pré - compreensão que tem que ser feita pelo intérprete diante do contexto. O intérprete tem que fazer isso o tempo todo). Deste modo, a Constituição na concepção de Hesse é um sistema aberto de normas e princípios, cujo sua alteração não só ocorre de maneira formal (por emendas), de modo, que a mudança social também altera a Constituição. A norma constitucional está em constante dialogo com os fatos. Por tais razões, vem prevalecendo desde a 2º Guerra Mundial, e alguns autores a classificam dentro da Concepção Cultural, ao passo que outros preferem classificá-la dentro da Concepção Jurídica. Vale mencionar ainda, que a Concepção Jurídica Normativa é uma antítese a Concepção Sociológica e que tem ela grande importância para o Supremo Tribunal Federal - STF, pois dela decorre, por exemplo, a relativização da coisa julgada. 3.6 CONSTITUIÇÃO EM SENTIDO CULTURAL – J. H. MEIRELLES TEIXEIRA Sob a concepção culturalista, a constituição é um produto da sociedade, um fato cultural influenciado por fatores das mais diversas ordens (reais, espirituais, racionais, voluntaristas etc), resultando no que J. H. Meirelles Teixeira (apud Lenza, 2014, p. 89) denomina de “Constituição Total”: um conglomerado de normas que, proveniente da vontade da unidade política, influencia e é influenciado pela cultura e pelas variáveis que sobre ela atuam (econômicas, sociológicas, jurídicas e filosóficas), definindo questões relativas ao Estado e ao poder político. Diante a constituição tem aspecto sociológico, político e jurídico, ou seja, ela reúne todas as concepções anteriores em uma só, visto que não são antagônicas, mas complementares. Ou seja, vista a constituição de vários ângulos, remete ao conceito de Constituição total, que é aquela que não só estabelece normas sobre os poderes, mas sobre todos os aspectos da vida social, reunindotodas as demais concepções. Segundo eles a constituição é fruto da cultura de um país. O que faz pensando que existe um aspecto sociológico, político e jurídico. É assim chamada porque a Constituição é condicionada por uma determinada cultura e ao mesmo tempo é um elemento condicionante desta cultura. Sob o aspecto material ou substancial, o que caracteriza uma norma constitucional é o seu conteúdo, não sendo levado em consideração o seu modo de aprovação ou exteriorização (Lenza, 2014, p. 86). Nesse sentido, a Constituição encerra um “conjunto de normas fundamentais condicionadas pela cultura total, e ao mesmo tempo condicionante desta, emanadas da vontade existencial da unidade política, e reguladora da existência, estrutura e fins do Estado e do modo de exercício e limites do poder politico” (J.H. Meirelles Teixeira, Curso de Direito Constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 1991, p. 77-78, citado por Marcelo Novelino, Direito Constitucional. 2ª ed., São Paulo: Método, 2008, p.44). 4. CLASSIFICAÇÕES DE CONSTITUIÇÃO Após a visão sobre concepções da Constituição, abordemos a Classificação das Constituições, sendo elas: 4.1 - QUANTO À FORMA Essa classificação é bastante criticada, pois toda constituição é escrita e não - escrita. ESCRITA: São formadas por um diploma jurídico, ou seja, por um conjunto de regras jurídicas organizadas em um único documento, regulamentando os elementos essenciais de um Estado. A Constituição escrita vem toda reunida num único documento. É chamada de ‘codificada’, vem toda em um mesmo ‘Código’. Dizendo de forma grosseira, vem toda num mesmo livro, reunido. Podemos chamar de documento escrito e único, de modo, que J.J. Gomes Canotilho chama de ‘constituição instrumental’. Ao ser feito a associação com o conceito moderno de constituição, o qual coloca essa característica dentro da qualificação de ‘constituição ideal’, pois, a constituição ideal deve ser escrita, consignar a separação dos poderes, conceder direitos e garantir a participação popular. Ainda segundo J.J. Canotilho, sendo a constituição reunida num documento único, teremos maiores condições de avaliar com certeza aquilo que está dentro da norma e aquilo que está fora da norma: os direitos que temos ou não, aquilo que estamos ou não autorizados a fazer. Um aspecto importante a ser ressaltado é o de que uma constituição escrita é formulada num determinado momento do tempo por um órgão constituinte, especificamente incumbido de tal tarefa, da maneira que a Constituição escrita é Codificada, reunida em documento único. A nossa Constituição Federal, por exemplo, se apresenta basicamente de forma escrita, e como é bastante prolixa, há pouco espaço para se ter costumes como regras. De maneira, que o costume constitucional no Brasil é o voto de liderança, posto que determinadas matérias sobre as quais há consenso, quem vota a matéria são as lideranças, sendo uma aprovação simbólica. De acordo com Pedro Lenza, “[...] seria a constituição formada por um conjunto de regras sistematizadas e organizadas em um único documento, estabelecendo as normas fundamentais de um Estado [...]”. NÃO – ESCRITA: as Constituições não escritas são baseadas nos usos e costumes de uma sociedade. Seus “textos constitucionais” são formados por documentos esparsos, não existindo um diploma jurídico único e codificado. De modo, que ao se referir a normas que não estão propriamente reunidas em apenas um diploma legal, não estão consolidadas em um único livro. Nesta forma de organização constitucional, as são normas esparsas, presentes em diplomas legais diversos, mas que possuem status constitucional. São normas que, dada a sua importância, possuem a alcunha de constituição. Não necessariamente estamos falando de leis, mas também de costumes e jurisprudência, ou seja, posições reiteradamente assumidas pelo Poder Judiciário. Uma característica muito importante e que deve ser sabida é a de que esta Constituição não é formulada num determinado momento histórico, por um órgão constituinte: uma Constituição não - escrita é formulada com o passar do tempo, conforme a evolução da própria sociedade. Um exemplo clássico é o da Constituição Inglesa, toda ela baseada em leis esparsas, costumes e jurisprudência e tendo vários documentos escritos. Segundo Pedro Lenza, “[...] seria aquela constituição que, a o contrário da escrita, não traz as regras em um único texto solene e codificado. É formada por ‘textos’ esparsos, reconhecidos pela sociedade como fundamentais, e baseia-se nos usos, costumes, jurisprudência, convenções [...]”. 4.2 - QUANTO À SISTEMÁTICA As Constituições quanto ao critério sistemático, se classificam: REDUZIDAS OU UNITÁRIAS: Seriam aquelas que se materializariam em um só código básico e sistemático, como as brasileiras. VARIADAS: São aquelas que se distribuíam em vários textos e documentos esparsos, sendo formadas de várias leis constitucionais, destacando – se a belga de 1830 e a francesa de 1875. Nesse mesmo sentido, Bonavides distingue as Constituições codificadas das legais. CODIFICADAS/ ORGÂNICAS/ UNITEXTUAIS: Corresponde às reduzidas de Pinto Ferreira, na qual, seriam aquelas que se acham contidas inteiramente num só texto, com os seus princípios e disposições sistematicamente ordenados e articulados em títulos, capítulos e seções, formando em feral um único corpo de lei. Desta maneira, a Constituição se apresenta como um código e o que caracteriza um código é a sistematização de suas normas, como o caso da nossa CRFB/88, que se divide sistematicamente de forma codificada. NÃO CODIFICADAS/ INORGÂNICAS/ PLURITEXTUAIS/ LEGAIS: Denominadas ainda, Constituições escritas não formais, e que equivalem às variadas de Pinto Ferreira, na qual seriam aquelas escritas que se apresentam esparsas ou fragmentadas em vários textos. Haja vista a titulo ilustrativo, a Constituição Francesa de 1875. Compreendida ela Leis Constitucionais, elaboradas poderes públicos, de organização do Senado e de relações entre os poderes. 4.3 QUANTO À ORIGEM PROMULGADA/ DEMOCRÁTICA/ VOTADA/ POPULAR: é feita por representantes do povo (titular do Poder Constituinte) e estes representantes têm que ser eleitos para o fim específico de elaborar a Constituição, refletindo uma manifestação do povo. Desta forma, assim tem a atuação de uma assembleia constituinte, com representantes eleitos pelo voto popular. Assim, não há que se falar em imposição, mas sim em representação. A nossa Constituição se encaixa nesta classificação, posto que ela é democrática, porque foi elaborada por representantes eleitos especificamente para este fim (Assembleia Nacional Constituinte). A alguns autores afirmam que a nossa Constituição não seria democrática porque na Assembleia Constituinte alguns parlamentares não foram eleitos para este fim específico de promulgar a Constituição, mas afirmar isso seria um rigorismo excessivo. E de acordo com Pedro Lenza, “também chamada de democrática, votada ou popular, é aquela constituição fruto de uma Assembleia Nacional Constituinte, eleita diretamente pelo povo, e m no me dele, atuar, nascendo, portanto, da deliberação da representação legítima popular [...]”. OUTORGADA: é a constituição imposta, de maneira unilateral, pelo agente revolucionário (grupo ou governante), que não recebeu do povo a legitimidade para em nome dele atuar. No Brasil, as constituições outorgadas foram as de 1824, 1937, 1967. Vale ressaltar, que a constituições outorgadas recebem, por alguns estudiosos, o apelido de “CartasConstitucionais”. E segundo Pedro Lenza, “são as constituições impostas, de maneira unilateral, pelo agente revolucionário (grupo, ou governante), que não recebeu do povo a legitimidade para em nome dele atuar [...]”. CEZARISTA: é uma constituição Outorgada, que para tentar dar legitimidade a essa constituição imposta é submetida a um plebiscito (consulta prévia) ou referendo (consulta posterior). Mesmo submetida a plebiscito ou referendo, a Constituição não se torna democrática. Deste modo, as Constituições chamadas Cesaristas, se tem a participação popular através de referendo ou plebiscito. PACTUADA: Uadi Lammêgo Bulos (apud Lenza, p. 85) inclui na classificação quanto à origem as chamadas constituições pactuadas, verificadas quando há pluralidade de líderes detentores do poder constituinte, que acordam entre si os termos da Carta constitucional. Assim, surge através de um pacto entre o rei e a assembleia, são aquelas em que o poder constituinte originário se concentra nas mãos de mais de um titular. Por isso mesmo, trata-se de modalidade anacrônica, dificilmente ajustando-se à noção moderna de Constituição, intimamente associada à ideia de unidade do poder constituinte. Um exemplo é a Constituição Espanhola de1930. 4.4 QUANTO AO MODO DE ELABORAÇÃO HISTÓRICA: A Constituição é costumeira, consuetudinária (não é escrita), vai se formando lentamente, não surge de uma só vez em um só momento, de modo que for sendo elaborada ao mesmo passo que a sociedade for evoluindo, pois é formada lentamente, tão lento quanto o amadurecimento da sociedade, posto que a formação da constituição vai se dando conforme as ideias forem sendo transformadas. Não se trata de ruptura momentânea, mas de uma lenta formação. Deste modo, a Constituição histórica é lenta, de acordo, com a evolução no tempo, como por exemplo, a Constituição Inglesa. Segundo Pedro Lenza, “constituem-se através de um lento e contínuo processo de formação ao longo da história, reunindo a história e as tradições de um povo [...]”. DOGMÁTICA: Sempre escrita, surge em um só momento, de uma só vez, é fruto das ideias, dos dogmas predominantes naquele momento histórico, cuja Constituição formada num determinado momento, refletindo tudo aquilo que saltava aos olhos em tal curto espaço de tempo. Estas Constituições refletem as ideias e o humor reinante naquele específico momento de formulação de suas normas. Vicente Paulo ressalta isso quando cita o exemplo da Constituição da República de 1988, que foi criada num momento delicado para a sociedade brasileira, a qual acabava de passar por um momento triste de desprezo pelos direitos individuais, qual fosse o da Ditatura Militar: desta forma, a constituinte de 1988 acabou por gerar um documento muito preocupado em esmiuçar tudo o que dissesse respeito a tais direitos, sendo um documento até mesmo prolixo em diversos aspectos. A nossa constituição não preza tanto pelos direitos do indivíduo pelo fato de a evolução da sociedade brasileira ter levado a tal resultado, por sua evolução ao longo dos séculos, posto que a Constituição assim o faz por causa do momento que nossa sociedade tinha acabado de viver, quando de sua elaboração. Deste modo, a Constituição dogmática é o retrato momentâneo da sociedade. Para Pedro Lenza afirma as Constituições dogmáticassão “[...] e laboradas de um só jato, reflexivamente, racionalmente, por uma Assembleia Constituinte [...]”. 4.5 QUANTO AO CONTEÚDO OU QUANTO À IDENTIFICAÇÃO DAS NORMAS Este critério distingue as constituições de acordo com o modo de identificação de suas normas: pelo conteúdo ou pela forma de elaboração. CONSTITUIÇÃO EM SENTIDO MATERIAL: que se identifica por consagrar um conjunto de normas estruturais de uma dada sociedade politica. São consideradas normas materialmente constitucionais as que tratam de matérias típicas de uma constituição, quais sejam, estrutura do Estado, organização dos poderes e direitos e garantias fundamentais. O conteúdo típico de uma Constituição é: Direitos fundamentais, Estrutura do Estado e Organização dos poderes – DEO. É uma classificação típica das constituições costumeiras. Nas palavras de Pedro Lenza, “será aquele texto que contiver as normas fundamentais e estruturais do Estado, a organização de seus órgãos, os direitos e garantias fundamentais [...]”. CONSTITUIÇÃO EM SENTIDO FORMAL: Compreende o conjunto de normas jurídicas formalizadas de modo diverso do processo legislativo ordinário, o que só é possível no caso de constituições escritas. Dentre os fatores distintivos está o órgão responsável pela elaboração que, no caso de constituições democráticas, é a Assembleia Constituinte. As normas formalmente constituintes são aquelas elaboradas por processos legislativos mais complexos que o ordinário. O caráter constitucional dessa espécie normativa não discorre do conteúdo, mas da forma de elaboração. Em contrapartida, normas referentes a matérias não constitucionais, como a que mantem o Colégio Pedro II na orbita federal, descrito no artigo 242 §2º da CF/88. Segundo Pedro Lenza, “será aquela constituição que elege como critério o processo de sua formação, e não o conteúdo de suas normas [...]”. 4.6 QUANTO À ESTABILIDADE/ ALTERABILIDADE/ MUTABILIDADE/ PLASTICIDADE/ CONSISTÊNCIA Faz-se uma comparação entre a Constituição e as leis de um determinado país e não entre uma Constituição de um país e a de outro, está relacionada ao grau de dificuldade de modificação da Constituição. Na qual, faz comparação entre grau de dificuldade na modificação de leis constitucionais e infraconstitucionais. Podemos ter Constituições imutáveis, fixas, rígidas, semi - rígidas, super-rígidas ou flexíveis e as transitoriamente flexíveis. IMUTÁVEIS/ PERMANENTES/ GRANÍTICAS/ INTOCÁVEIS: São as leis fundamentais antigas criadas com a pretensão de eternidade, tida como imodificáveis sob pena de maldição dos Deuses. De modo, que não era permitem alterações em seu texto, tais exemplos são o Código de Hamurabi e a Lei das XII Tabuas. De acordo com Pedro Lenza, “são aquelas constituições inalteráveis, verdadeiras relíquias históricas e que se pretendem eternas, sendo também denominadas permanentes, graníticas ou intocáveis” FIXAS OU SILENCIOSAS: Não poderiam ser modificadas, de maneira que só poderiam ser modificadas pelo mesmo poder constituinte responsável por sua elaboração, quando convocado para tal. É o caso das constituições francesas da época de Napoleão I. Todavia, ambas as constituições acima citadas têm apenas valor histórico, pois essas duas primeiras classificações não são mais utilizadas. RÍGIDAS: As constituições nesta classificação somente podem ser alteradas por um procedimento de alteração mais dificultoso do que aquele apropriado para a alteração das leis, pois possuem exigências formais especiais, como debates mais amplos, prazos mais dilatados e quórum qualificado, podendo conter matérias insuscetíveis de serem livremente alteradas pelo Poder Constituinte Derivado Reformador, chamadas Clausulas Pétreas. Adotada pela maioria dos Estados Modernos, esta espécie é própria de constituições escritas. Tendo, como exemplo, a Nossa Constituição Federal de 1988, na qual, a rigidez constitucional está prevista no artigo 60 § 2º que estabelece um quórum de votação 3/5 dos membros de cada Casa, em dois turnos de votação, para aprovação das emendas constitucionais. De acordo com Pedro Lenza, “são aquelas constituições que exigem, para a sua alteração (daí preferirmos a terminologiaalterabilidade), um processo legislativo mais árduo, mais solene, mais dificultoso do que o processo de alteração das normas não constitucionais [...]”, ou seja, das leis ordinárias e as leis complementares. SEMIRRÍGIDAS OU SEMIFLEXÍVEIS: possui uma parte rígida e outra parte que é flexível, um exemplo é a Constituição Imperial de 1824, na qual dividia a constituição em duas partes, uma parte deve ser alterada por um processo mais dificultoso e outra parte pode ser alterada assim como as leis. Nas palavras de Pedro Lenza, “é aquela constituição que é tanto rígida como flexível, ou seja, algumas matérias exigem um processo de alteração mais dificultoso do que o exigido para alteração das leis infraconstitucionais, enquanto outras não requerem tal formalidade [...]”. Exemplo clássico foi o da Carta Imperial de 1824. FLEXÍVEIS: São aquelas Constituições que não possuem um processo legislativo de alteração mais dificultoso do que o processo legislativo de alteração das normas infraconstitucionais. Vale dizer, a dificuldade em alterar a Constituição é a mesma encontrada para alterar uma lei que não constitucional, servindo como exemplo, a Constituição Inglesa. Em 2000, a Inglaterra aderiu ao tratado “Human Rights Act”, diante a submissão a esse tratado internacional, passou a haver hierarquia entre as normas, sendo assim, deixou de ser considerada flexível. Segundo Pedro Lenza, “é aquela constituição que não possui um processo legislativo de alterabilidade mais dificultoso do que o processo legislativo de alteração das normas infraconstitucionais [...]” TRANSITORIAMENTE FLEXÍVEIS: São as suscetíveis de reforma, com base no mesmo rito das leis comuns, mas apenas por determinado período, ultrapassado este, o documento constitucional passa a ser rígido. Nessa hipótese, o binômio rigidez/ flexibilidade não coexiste simultaneamente. Apresenta-se de modo alternado. Tendo como exemplo a Constituição de Baden de 1947 e a Carta Irlandesa de 1937 durante os primeiros três anos de vigência. 4.7 QUANTO À EXTENSÃO O critério adotado para tal classificação é a amplitude das matérias contempladas no texto constitucional. CONCISA /SINTÉTICA /SUCINTA /SUMÁRIA /BREVE /CLÁSSICA/ BÁSICA: são breves, sucintas, tratam apenas dos princípios gerais das matérias constitucionais, sem se preocupar com os detalhes. É uma constituição em sentido material. São chamadas também de clássicas, porque as primeiras constituições criadas só tratavam desses temas, como exemplo, a Constituição dos EUA. De acordo com Pedro Lenza, “seriam aquelas enxutas, veiculadoras apenas dos princípios fundamentais e estruturais do Estado [...]”. PROLIXAS/ ANALÍTICAS/ AMPLAS/ LONGAS/ EXTENSAS/ LARGAS/ DESENVOLVIDAS/ VOLUMOSAS/ INCHADAS/ REGULAMENTARES: é a tendência das constituições atuais. O são todas as constituições criadas após o fim do período das ditaduras militares e após a 2ª Guerra Mundial (todas as da América Latina, inclusive a CR/88). Dão maior proteção e estabilidade às matérias por elas consagradas. Segundo Pedro Lenza, “são aquelas que abordam todos os assuntos que os representantes do povo entenderem fundamentais [...]”. 4.8- QUANTO À FUNÇÃO OU ESTRUTURA GARANTIA/ QUADRO/ ESTATUTÁRIA/ ORGÂNICA: tem por finalidade apenas proteger direitos. Característica das constituições clássicas, que surgiram com um objetivo pré-definido, o de proteger e garantir as liberdades individuais em face do Estado. A Constituição seria uma moldura dentro da qual os poderes públicos poderiam agir (por isso se usa o termo “quadro”, que na verdade é uma tradução equivocada de um termo inglês). DIRIGENTE/ PROGRAMÁTICA/ DIRETIVA: Trata-se e daquela Constituição que dirige os rumos do Estado (ela própria – não atribui essa direção aos poderes). É também chamada de programática porque os rumos do Estado são dados por normas programáticas, entretanto o programa de ação traçado por uma norma não é uma diretriz que o poder público segue, mas sim uma obrigatoriedade. As normas programáticas estabelecem uma obrigação de resultado e não de meio (diz que tipo de resultado o Estado deve buscar e não o meio pelo qual o fará, como por exemplo no art. 3º - CR, que traça os objetivos da República federativa do Brasil). As normas que estabelecem os meios geralmente são NE Plena ou NE Contida. A CR/88 é ainda eclética, porque é fruto de várias ideologias, e não de apenas uma ideologia. 4.9 QUANTO À DOGMÁTICA Pinto Ferreira (apud Lenza, 2012, p. 92/93), valendo-se do critério ideológico e lembrando as lições de Paulino Jacques, identifica tanto a Constituição: ORTODOXA: Formada por uma só ideologia, por exemplo, a soviética de 1977, hoje extinta, e as diversas Constituições da China marxista. ECLÉTICA: Formada por ideologias conciliatórias, como a brasileira de 1988 ou a da Índia de 1949. 4.10 QUANTO À CORRESPONDÊNCIA COM A REALIDADE (CRITÉRIO ONTOLÓGICO — ESSÊNCIA) Karl Loewenstein (apud Lenza, 2012, p. 93) distinguiu as Constituições em: NORMATIVAS: Quando há subordinação dos detentores do poder às normas constitucionais que o disciplinam. Regulam efetivamente o processo político do Estado, por corresponderem à realidade política e social, ou seja, limitam, de fato, o poder. NOMINALISTAS/ NOMINATIVAS/ NOMINAIS: Quando há disciplina acerca do poder, insuficientemente concretizada na realidade. Buscam regular o processo político do Estado, mas não conseguem realizar este objetivo, por não atenderem à realidade social. SEMÂNTICAS: Quando o texto constitucional não passa de instrumento dos donos do poder, sem limitação deste. Não têm por objetivo regular a política estatal. Visam apenas a formalizar a situação existente do poder político, em benefício dos seus detentores. Para muitos estudiosos, a Constituição Brasileira de 88 é nominal, mas tende a ser normativa. Como exemplo de argumentação, o Artigo 7º, IV: Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim; A realidade do salário mínimo não condiz com o Art.7º, assim esta é uma norma não condizente com a realidade. 4.11 QUANTO AO SISTEMA Diogo de Figueiredo Moreira Neto (apud Lenza, 2012, p. 94) classifica as constituições em: PRINCIPIOLÓGICA: É aquela em que há predominância dos princípios, normas caracterizadas por elevado grau de abstração, que demandam regulamentação pela legislação para adquirirem concretude. É o caso da CF/88. PRECEITUAL: É aquela em que prevalecem as regras, que se caracterizam por baixo grau de abstração, sendo concretizadas de princípios. 4.12 QUANTO À ORIGEM DE SUA DECRETAÇÃO Lenza (p. 95), citando as lições de Miguel Galvão Teles e Jorge Miranda, afirma que as constituições podem ser: HETERÔNOMAS/ HETEROCONSTITUIÇÕES: Decretadas de fora do Estado por outro (ou outros) Estados(s) ou por organizações internacionais AUTÔNOMAS/ AUTOCONSTITUIÇÕES/ HOMOCONSTITUIÇÕES: Elaboradas pelo próprio Estado, o que é mais comum, como manifestação da soberania estatal. 4.13 CONTEÚDO IDEOLÓGICO André Ramos Tavares (apud Lenza,2012, p. 96) propõe outra classificação, levando em conta o das Constituições, classificando-as em: LIBERAIS OU NEGATIVAS: São constituições que buscam limitar a atuação do poder estatal, assegurando as liberdades negativas aos indivíduos. Podem ser identificadas com as Constituições-garantia. SOCIAIS OU DIRIGENTES: São constituições que atribuem ao Estado a tarefa de ofertar prestações positivas aos indivíduos, buscando a realização da igualdade material e a efetivação dos direitos sociais. Cabe destacar que a CF/88 pode ser classificada como social. Tal classificação possui relação com os direitos humanos de primeira e segunda geração. 5. CLASSIFICAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 Após a apresentação de vasta classificação das constituições, Lenza (2012, p. 98) aplica os conhecimentos obtidos na seguinte caracterização da Constituição da República de 1988: “promulgada, escrita, analítica, formal (cf. nova perspectiva classificatória decorrente do art. 5.º, § 3.º, introduzido pela EC n. 45/2004, sugerida no item 2.3.4), dogmática, rígida/ super-rigida, reduzida, eclética, pretende ser normativa, principiológica, definitiva (ou de duração indefinida para o futuro), garantia, dirigente, social e expansiva”. CONCLUSÃO Concluímos que diante a constituição ser o conjunto de normas que organiza os elementos constitutivos do Estado, e de modo que as Constituições podem se apresentarem de diferentes maneiras, na qual são necessários critérios para classificar as constituições, na qual irá ajudar a compreender as constituições. E tendo em vista, que o conceito de constituição varia de acordo com as concepções ideológicas e filosóficas de quem o formula e, portanto, do sentido que lhe seja dado. De modo que, para Ferdinand Lassale, num sentido sociológico, a Constituição é a soma dos fatores reais de poder que predominam em uma comunidade. É a composição do que realmente o povo necessita e deseja, devendo haver relação entre o documento escrito e as forças determinantes do poder para existir uma Constituição. Todavia, na visão de Carl Schmitt, a Constituição é a decisão política fundamental, é ato proveniente de um poder soberano que dita à ordem social, a política e a jurídica. Já Hans Kelsen, atribuiu a Constituição um sentido jurídico; lei hierarquicamente superior em relação às outras normas, não importando o conteúdo, mas simplesmente a forma como é escalonada. De maneira que para Konrad Hesse, em sua concepção normativa foi feita como antítese a tese de Lassale (sociológica). Ainda que em alguns casos a constituição escrita acabe por sucumbir diante da realidade, em outros ela possui uma força normativa capaz de modificar esta realidade. Para isto, basta que exista uma “vontade de constituição” e não apenas uma “vontade de poder”. E diante as demais concepções anteriores, Meirelles Teixeira defende a concepção culturalista, na qual, em sua visão a constituição tem aspecto sociológico, político e jurídico, ou seja, ela reúne todas as concepções anteriores em uma só, visto que não são antagônicas, mas complementares, ou seja, vista a constituição de vários ângulos, remete ao conceito de Constituição total, que é aquela que não só estabelece normas sobre os poderes, mas sobre todos os aspectos da vida social, reunindo todas as demais concepções. Segundo ele a constituição é fruto da cultura de um país, posto que faz pensando que existe um aspecto sociológico, político e jurídico. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 23ª ed. São Paulo: Malheiros. 2008. KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. Tradução de João Baptista Machado. 7. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006. LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. São Paulo: Método, 2006. LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 16. ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo: Saraiva, 2012. LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 18. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2014. LASSALE, Ferdinand. O que é uma Constituição? trad. Hiltomar Martins Oliveira. Belo Horizonte: Ed. Líder, 2002. NOVELINO, Marcelo. Direito Constitucional. 2ª ed. São Paulo: Editora Método, 2008. SCHMITT, Carl. Teoría de la Constitución. Tradução de Alfredo Gallego Anabitarte. Madrid: Revista de Drecho Privado, 1932. SCHMITT, Carl. Teoría de La Constitución. Presentación de Francisco Ayala. Primera edición em “Alianza Universidad Textos” 1982. Cuarta reimpresión em “Alianza Universidad Textos”. Madrid. España. 2003. SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 25. ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros Editores, 2005.
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