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Ciência Política - Maq e Bodin

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NICOLAU MAQUIAVEL: ÉTICA DE FINS E POLÍTICA
A OBRA DE MAQUIAVEL E SEU CONTEXTO
Vivendo num período conturbado,1 entre as sucessivas disputas de poder, em que despontam as figuras de Savonarola, de Borgia e dos Médicis, quando medram guerras intestinas, e dá-se a multiplicação de milícias privadas e condottieri, bem como a fragmentação da Itália em diversos focos de poder e autoridade, Nicolau Maquiavel (1469/1527) foi um estrategista do poder, diplomata atuante e pensador das causas políticas de seu tempo. Com origem em Florença (Itália), Niccolò Macchiavelli teve vivência política intensa, sobretudo antes do governo dos Médicis, desempenhando diversas campanhas de Estado, tendo sido, inclusive, preso e torturado por suspeita de envolvimento em complô contra o governo dos Médicis, em 1513.2
Sua obra é o retrato de sua experiência política e das causas de Estado com as quais se envolveu em sua época. Assim mesmo, apesar do caráter circunstancial de alguns de seus escritos, sua obra ganha caráter universal e sacramenta-se como leitura obrigatória para a teoria política. Além de basear-se nas experiências dos fatos, na análise percuciente dos acontecimentos, e de abstrair das ações as ideologias e os comportamentos-padrão possíveis, o norte de Maquiavel e a inspiração de seus escritos advinham também da leitura e do convívio com os clássicos.3
Entre suas obras destacam-se: 1. O príncipe (1513/1514); 2. O discurso sobre a primeira década de Tito-Lívio (1512/1519); 3. Discurso sobre a reforma do Estado de Florença (1521); 4. A história florentina de 1251 a 1492 (1520/1525); 5. A arte da guerra (1521); 6. Alguns textos sobre poesia e teatro.4 Figuram ainda entre seus escritos políticos menores alguns textos episódicos que retratam atos políticos de época: Descrição do duque Valentino ao matar Vitellozzo Vitelli, Oliverotto da Fermo, o senhor Pagolo e o duque de Gravina Orsini (1503); Palavras que quero dizer-lhe a respeito da provisão de dinheiro e do modo de tratar os povos rebelados de Valdichiana (1503); Decennale primo (1504); Discurso de organizar o estado de Florença às armas (1506); Esboços escritos em Perúgia a Soderino (1506); Relatório das coisas da Alemanha (1509); Retrato das coisas da França (1510); Discurso das coisas florentinas depois da morte de Lorenzo Médici (1519), entre outros.
O destaque que se costuma dar, em meio aos demais escritos de Maquiavel, é para o texto que representa a suma de seu pensamento político, a saber, O príncipe (De principatibus). A preocupação de Maquiavel não está centrada nem na lei natural, nem na lei ideal que poderia governar a política, mas com o que efetivamente os homens fazem e podem fazer ao estarem em contato com o poder.5 Não é a grande obra do scholar que se encontrará em O príncipe de Maquiavel, escrito entre 1513 e 1514, e muito inspirado na figura magistral de Cesare Borgia, o duque Valentino, mas um “livro vivo”,6 para usar uma expressão de Gramsci, algo que é muito mais fruto da experiência, e muito menos fruto da inteligência, e que repassa experiência de política e de poder como forma de orientação para a condução do Estado e do governo. Ao afastar-se da tradição de Platão, Aristóteles e Santo Tomás de Aquino, retira dos clássicos romanos (Tácito, Tito Lívio, Políbio...) inspiração para a formação de sua regra metodológica de descrição das histórias do poder e das formas de governar: a verdade efetiva (verità effettuale).7
O tratado descreve diversas formas de governo, mas não promete mais do que descrever, por limitação metodológica do escrito, os principados. Da boca de Maquiavel:
“Não tratarei aqui das repúblicas porque, em outra ocasião, discorri longamente sobre o assunto. Ocupar-me-ei somente dos principados e, retomando o raciocínio anterior, discutirei de que forma podem ser governados e mantidos” (Maquiavel, O príncipe, 2. ed., 2001, p. 5).
MAQUIAVELISMO E ÉTICA DO GOVERNO
Maquiavel é, sem dúvida nenhuma, um marco e uma referência no âmbito da política. A faceta mais conhecida de Maquiavel talvez seja aquela herdada por uma tradição distorcida, que não soube compreender o real sentido de suas lições, introduzida no vocabulário mais comum das pessoas com a expressão maquiavelismo, ou maquiavélico, no sentido de se tratar de algo até mesmo diabólico, inescrupuloso, falso, dissimulado.8
No Dicionário de política de Norberto Bobbio, onde se encontra a palavra maquiavelismo, lê-se:
“É uma expressão usada especialmente na linguagem ordinária para indicar um modo de agir, na vida política ou em qualquer outro setor da vida social, falso e sem escrúpulos, implicando o uso da fraude e do engano mais que da violência. ‘Maquiavélico’ é considerado, em particular aquele que quer se mostrar como um homem que inspira sua conduta ou determinados atos por princípios morais e altruísticos, quando, na realidade, persegue fins egoísticos. Esta expressão constitui, portanto, na linguagem ordinária, uma prova da reação que a doutrina de Maquiavel suscitou e continua suscitando na consciência popular, e da tendência que considera essa doutrina como imoral. Esta expressão, além disso, pode ser usada também em sentido técnico, para indicar a doutrina de Maquiavel ou, mais genericamente, a tradição de pensamento baseada no conceito de razão de Estado.”9
Toda essa concepção vocabular constrói-se historicamente a partir da rejeição inicial causada pelos escritos de Maquiavel, sobretudo por representarem uma modificação substancial na metodologia de tratamento da política e de implicarem a constituição de moralidade independente para a política. As implicações teóricas da assunção da posição de Maquiavel conduziram certa tradição relacionada à moralidade cristã a rejeitar seus escritos como imorais, oportunistas e sugestivos da justificativa do poder sem limites do Estado, contaminando até mesmo a interpretação de sua obra.
Em verdade, o que ocorre é que Maquiavel inaugura uma nova ética para a política.10 O maquiavelismo implica orientar e guiar as atitudes práticas dos governantes com base nas próprias práticas humanas relativas ao poder. Próximos ao poder estão o desmando, a vaidade, a corrupção, o favoritismo, a crueldade, o egoísmo, a arrogância, o unilateralismo, o autoritarismo, o interesse particular, a volúpia... e, em vez de ignorar ou maquiar estes irmãos e primos próximos do poder, Maquiavel os tem em consideração ao propor sua análise do poder e das formas de conquistá-lo, administrá-lo e conservá-lo. Os práticos do poder costumam ser medíocres nesse aspecto, pois não se fala das técnicas de gerenciamento do poder nem são elas objeto de comentário, mas de todas valem-se eles e se utilizam para a gestão de suas posições.11 Maquiavel procura sistematizar sua experiência e seus conhecimentos sobre essas técnicas e legá-las para a posteridade e para aqueles que exercem funções de governo.
O maior “pecado” de Maquiavel foi romper com a moralidade convencional, o que foi suficiente para confirmar-se em torno de seu nome e de sua doutrina política a pejorativa conformação de uma ideologia intitulada “maquiavelismo”. Rompeu com a moralidade tradicional no terreno político, porque afirmou não estar o príncipe obrigado a ser adepto ou mesmo exemplo da virtude cristã. Basta ao príncipe ter virtude suficiente para saber administrar as diferenças e os interesses que o cercam para manter-se no poder e construir a estabilidade do governo.12 Fica autorizado dizer, como o faz Weffort (Os clássicos da política,2001, p. 23), que há vícios que são virtudes, na doutrina política de Maquiavel, pois sua preocupação não está em ser ou pregar a moral, mas em falar e ensinar política, cujo sistema de valores não funciona na mesma dimensão dos códigos morais.
A virtù do príncipe não é a mesma virtude apregoada pela Igreja, constituindo-se somente em uma habilidade mundana de administrar o poder e suas instabilidades. Seu comportamento não carece ser verdadeiro, ou muito menos real, mas deve fazer aparentar aquilo de que as pessoas costumam mais valer-separa analisar as outras. Para isso, não a espiritualidade interior do cristão, mas a aparência consciente de ser piedade, fé, integridade, humanidade e religião, que são qualidades bastantes para que o príncipe seja admirado em seu exterior, podendo isso ser correspondente a seu estado de alma, ou não:
“Logo, deve um príncipe cuidar para que jamais lhe escape da boca qualquer coisa que não contenha as cinco qualidades citadas. Deve parecer, para os que o virem e ouvirem, todo piedade, todo fé, todo integridade, todo humanidade e todo religião. Não há nada mais necessário do que parecer ter esta última qualidade. Os homens, em geral, julgam as coisas mais pelos olhos que com as mãos, porque todos podem ver, mas poucos podem sentir. Todos veem aquilo que pareces, mas poucos sentem o que és; e estes poucos não ousam opor-se à opinião da maioria, que tem, para defendê-la, a majestade do estado” (Maquiavel, O príncipe, 2. ed., 2001, p. 85).
Se a moralidade cristã manda não matar, não fazer mal a outrem, não mentir, não se envaidecer... a moralidade política pode demandar esses comportamentos do príncipe, como forma de se manter no poder e conduzir a unidade da sociedade sem os trânsitos e instabilidades de um governo afeiçoado ao respeito absoluto aos mais puros princípios cristãos.13 Mesmo a fama de ser isso ou aquilo não deve preocupar o príncipe; ele é a garantia do Estado:
“Um príncipe deverá, portanto, não se preocupar com a fama de cruel se desejar manter seus súditos unidos e obedientes” (Maquiavel, O príncipe, 2. ed., 2001, p. 79).
É a necessidade e a oportunidade que mostra ao príncipe como agir. São as circunstâncias e a aparência que determinam como deve aparentar ser perante terceiros. Desenvolver essa habilidade de se esquivar de sua própria ruína é a principal preocupação contida no texto de Maquiavel:
“Pois um homem que queria fazer em todas as coisas profissão de bondade deve arruinar-se entre tantos que não são bons. Daí ser necessário a um príncipe, se quiser manter-se, aprender a poder não ser bom e a valer ou não disto segundo a necessidade” (Maquiavel, O príncipe, 2. ed., 2001, p. 73).
Essa habilidade, descrita de modo inteiramente novo e revolucionário por Maquiavel, consiste no que se chama de virtù. Sem virtù não poderá o príncipe resistir no poder. Por isso é que a ideia de virtù governa grande parte da doutrina do principal escrito político de Maquiavel, e é algo que se inscreve logo nas primeiras páginas do tratado:
“Todos os estados, todos os domínios que tiveram e têm poder sobre os homens foram e são ou repúblicas ou principados. Os principados ou são hereditários – nos quais o sangue de seu senhor vem governando há longo tempo – ou são novos. Os novos ou são inteiramente novos, como Milão sob Francesco Sforza, ou são como membros anexos ao estado hereditário do príncipe que os adquire, como é o caso do reino de Nápoles em relação ao rei da Espanha. Os domínios assim formados estão habituados ou a viver sob um príncipe ou a ser livres. E se adquirem ou com armas de outrem, ou com as próprias, graças à fortuna ou à virtù” (Maquiavel, O príncipe, 2. ed., 2001, p. 3).
Pode-se mesmo ler passagem em que Maquiavel faz perceber o quanto a ideia de virtù participa da origem do poder ou, mesmo, da transformação do cidadão comum em governante.
“Quero, a cada um desses modos citados de tornar-se príncipe, por virtù ou por fortuna, aduzir dois exemplos ainda em nossa memória, que são Francesco Sforza e Cesare Borgia” (Maquiavel, O príncipe, 2. ed., 2001, p. 28).
No entanto, a amizade dos poderosos, a fortuna e a tradição podem não ser elementos suficientes para manter-se o poder. Ele demanda algo mais que a simples condição de herdeiro de um trono ou que a posse de muitos bens e propriedades. As tormentas enfrentadas por aquele que efetivamente se faz possuidor do poder, porque o conquistou pela fortuna, apenas, sem virtù, são as mais terríveis, e iniciam-se no exato momento em que alcança seu destino no poder:
“Aqueles que, somente pela fortuna, de cidadãos particulares se tornam príncipes fazem-no com pouco esforço, mas com muito esforço se mantêm. E não encontram dificuldade no caminho porque passam voando por ele: mas todas as dificuldades surgem quando chegam ao destino” (Maquiavel, O príncipe, 2. ed., 2001, p. 27).
Mais importante que a fortuna, e de melhores resultados para o que governa, é estar em posse da virtù:
“Um homem prudente deve sempre seguir os caminhos abertos pelos grandes homens e espelhar-se nos que foram excelentes. Mesmo não alcançando sua virtù, deve, pelo menos, mostrar algum indício dela e fazer como os arqueiros prudentes que, julgando muito distantes os alvos que pretendem alcançar e conhecendo bem o grau de exatidão de seu arco, orientam a mira para bem mais alto que o lugar destinado, não para atingir tal altura com flecha, mas para poder, por meio de mira tão elevada, chegar ao objetivo.
Digo, portanto, que nos principados completamente novos, onde há um novo príncipe, existe maior ou menor a virtù de quem o conquistou. E, como a passagem de simples cidadão a príncipe supõe virtù ou fortuna, parece que uma ou outra dessas duas coisas ameniza em parte muitas das dificuldades. Contudo, aquele que depende menos da fortuna consegue melhores resultados” (Maquiavel, O príncipe, 2. ed. 2001, p. 23).
Maquiavel chega a identificar em certas pessoas o príncipe natural. Ou seja, tratar-se-ia daquele que possui a virtù como qualidade inata de seu ser e que, por sua habilidade, seria capaz de conquistar o poder e fazer-se recebido por aqueles a quem domina:
“Ora o príncipe natural tem menos motivos e menos necessidade de ofender; daí resulta que seja mais amado; e, se vícios excepcionais não o tornarem odioso, é compreensível que seja naturalmente benquisto pelos seus. Com a antiguidade e a continuidade do poder, apagam-se as lembranças e as razões das alterações; pois sempre uma mudança deixa preparadas as fundações da outra” (Maquiavel, O príncipe, 2. ed., 2001, p. 5).
Eis o caminho indicado por Maquiavel, em que a valia dos meios para a manutenção do poder é colocada em segundo plano, pois a finalidade justifica certas posturas próprias de quem administra o poder:
“Homens assim enfrentam grandes dificuldades, defrontando-se em seu caminho com perigos que precisam ser superados com a virtù. Depois de vencerem esses perigos e passarem a ser venerados, tendo aniquilado os que tinham inveja de suas qualidades, tornam-se poderosos, seguros, honrados e felizes” (Maquiavel, O príncipe, 2. ed., 2001, p. 26).
O PRÍNCIPE E O EXERCÍCIO DO PODER
O que se pode esperar do príncipe? O que se pode desejar do poder? Como se pode administrar o poder? Quais as técnicas e as formas de manter a estabilidade do poder? Quais as características que definem a manutenção do poder? São essas as questões que movimentam o pensamento de Maquiavel a fim de estabelecer parâmetros para a atuação política.
Perceba-se que, na análise de Maquiavel, o que se está levando em consideração não é o ato moral do príncipe, mas suas táticas para manter a união e o poder, para manter o Estado e desenvolver sua política de governo. A estabilidade, sobretudo a sua época, é um valor a ser perseguido, e do qual não pode abrir mão o príncipe, visando ao benefício geral.
Sua análise da paz e da guerra, por exemplo, é algo que se faz do modo mais imbricado possível. Para Maquiavel, não há paz sem guerra, de modo que a preocupação do príncipe deve estar incessantemente voltada para o âmbito das cruentas batalhas que poderá a qualquer momento enfrentar, para manter sua hegemonia territorial e ideológica.14 Boas leis e boas armas são as grandes colunas sobre as quais se erguem os grandes Estados:
“Os principais fundamentos de todos os estados, tanto dos novos como dos velhos ou dos mistos, são boas leis e boas armas. Como não se podem ter boas leis onde não existem boas armas, e onde são boas as armas costumam ser boas as leis, deixarei de refletir sobre as leis e falarei das armas.
Digo, portanto,que as armas com que um príncipe defende seu estado ou são próprias, ou mercenárias ou auxiliares ou mistas. As mercenárias e auxiliares são inúteis e perigosas. Quem tem o seu estado baseado em armas mercenárias jamais estará seguro e tranquilo, porque elas são desnudas, ambiciosas, indisciplinadas, infiéis, valentes entre amigos e covardes entre inimigos, sem temor a Deus nem probidade para com os homens” (Maquiavel, O príncipe, 2. ed., 2001, p. 57).
Assim, o príncipe não pode abrir mão de aliar política e guerra,15 e muito menos ignorar a necessidade de manter a milícia em compasso de espera para a ação e em constante processo de aprimoramento para a defesa das fronteiras do Estado. Se a guerra é um mal ou não, não é isso que se está a discutir, mas sua serventia para a manutenção do Estado, recomendando-se ao príncipe que:
“devemos, pois, saber que existem dois gêneros de combates: um com as leis e outro com a força. O primeiro é próprio ao homem, o segundo é o dos animais. Porém, como frequentemente o primeiro não basta, convém recorrer ao segundo. Portanto, é necessário ao príncipe saber usar bem tanto o animal quanto o homem” (Maquiavel, O príncipe, 2. ed., 2001, p. 83).
Percebe-se do que se vem dizendo até o momento que poder e força não são coisas idênticas na doutrina de Maquiavel. Percebe-se mesmo que, apesar de não serem coisas idênticas, há muito de força no poder. Em outras palavras, carece o poder de força para construir-se e estabilizar-se. A força é algo que não se pode negar ao poder, sob pena de se fragilizar e tombar diante do inimigo:
“Para melhor esclarecer este ponto, direi que defino os príncipes que podem governar-se por si mesmos como os que, por abundância de homens ou de dinheiro, são capazes de formar um exército bem proporcionado e travar batalha com quem quer que os ataque. E defino os que têm sempre necessidade de outrem como os que não podem enfrentar o inimigo em campanha, mas precisam refugiar-se atrás dos muros e defendê-los” (Maquiavel, O príncipe, 2. ed., 2001, p. 49).
O belicismo maquiavélico é uma nota característica de uma biografia inteiramente construída sob as disputas do Renascimento (século XVI) da burguesia ascendente das grandes e ricas cidades italianas e de uma Europa dividida por grupos de interesses. Unificação e estabilidade do poder são coisas caras para Maquiavel, que as julga necessárias para a reconstrução de seu mundo e da própria política.
Nesse guia de instruções sobre o comando do poder, uma constatação importante é feita por Maquiavel; segundo ele, a principal dificuldade do principado novo reside na inconstância da obediência, ou seja, parece corresponder a uma necessidade humana variar de príncipe, pois se pensa comumente que se podem alcançar melhorias cada vez maiores:
“Mas é no principado novo que estão as dificuldades. Em primeiro lugar, se não é completamente novo, mas membro anexo a outro (podendo-se chamar o conjunto de principado misto), as alterações nascem principalmente de uma dificuldade natural a todos os principados novos, que consiste no fato de os homens gostarem de mudar de senhor, acreditando com isso melhorar. Esta crença os faz tomar armas contra o senhor atual” (Maquiavel, O príncipe, 2. ed., 2001, p. 7).
Sem dúvida, a confiança é algo que não se conquista tão facilmente, bem como os opositores não são poucos para inflamar as dúvidas na cabeça do povo:
“Devemos convir que não há coisa mais difícil de se fazer, mais duvidosa de se alcançar, ou mais perigosa de se manejar do que ser o introdutor de uma nova ordem, porque quem o é tem por inimigos todos aqueles que se beneficiam com a antiga ordem, e como tímidos defensores todos aqueles a quem as novas instituições beneficiariam” (Maquiavel, O príncipe, 2. ed., 2001, p. 25).
A confiança é algo que se conquista apresentando e construindo uma aparência. É algo que se deve ter como aliado na condução e administração do poder. Isto porque, deve-se advertir, o príncipe não pode assemelhar-se a um tirano ou usurpador. A opressão é algo de que os homens não gostam. Até mesmo admitem a obediência, mas jamais a opressão.
“Mas, tratando do outro caso, em que um cidadão particular se torna príncipe de sua pátria, não por atos criminosos nem outras violências intoleráveis, mas pelo apoio de seus concidadãos (o que se pode chamar principado civil; para alcançá-lo, não é necessário ter muita virtù, nem muita fortuna, mas antes uma astúcia afortunada), digo que se ascenda a este principado ou pelo favor do povo ou pelo favor dos grandes. Pois, em todas as cidades, existem esses dois humores diversos que nascem da seguinte razão: o povo não quer ser comandado nem oprimido pelos grandes, enquanto os grandes desejam comandar e oprimir o povo; desses dois apetites diferentes, nascem nas cidades um destes três efeitos: principado, liberdade ou licença” (Maquiavel, O príncipe, 2. ed., 2001, p. 43).
A melhor via, portanto, para manter-se na condição de dominante é demonstrar (não necessariamente ser) amizade ao povo. Mesmo que o poder tenha sido conquistado por favor dos grandes, a regra é manter a estima destes e conquistar a daqueles que não participaram do processo de sua ascensão ao poder. Essa advertência de Maquiavel ao príncipe também é válida por assinalar os perigos da excessiva impopularidade:
“Portanto, quem se tornar príncipe pelo favor do povo deverá manter sua amizade, o que será fácil, pois tudo que lhe pedem é não serem oprimidos. Mas quem se tornar príncipe pelo favor dos grandes e contra o povo deverá, antes de qualquer outra coisa, procurar conquistá-lo, o que também será fácil, se lhe der proteção” (Maquiavel, O príncipe, 2. ed., 2001, p. 45).
Maquiavel tem diante de si a própria mediocridade dos homens como fator de avaliação de como deve conduzir-se o príncipe. Sabendo que as pessoas que o cercam e o obedecem são volúveis, ao príncipe basta valer-se dessa sua situação de superioridade para evitar ser odiado, pois as pessoas amarão o que ele amar, e farão o que ele fizer. Eis o discipulado daqueles que aparentam ser os mais servis, mas que em verdade são os mais dissimulados, e que estão próximos do poder. Ademais, o povo terá em sua pessoa a consideração de quem poderá representar seus interesses e, não sendo odiado, fará do Estado seu escudo para a ação:
“Assim voltando à questão sobre ser temido e amado, concluo que, como os homens amam segundo sua vontade e temem segundo a vontade do príncipe, deve este contar com o que é seu e não com que é de outros, empenhando-se apenas em evitar o ódio, como dissemos” (Maquiavel, O príncipe, 2. ed., 2001, p. 82).
CONCLUSÕES
A obra de Maquiavel revela preocupação pragmática do autor para com o tema da política. Os assuntos de Estado, na guerra ou na paz, são encaminhados com base nas necessidades mais imediatas do governante na estruturação e condução do poder. Pode-se perceber o quanto ela revela o interesse de imiscuir-se no diário de vida do príncipe, orientando-o para a ação, livrando-o das traições do poder, aconselhando-o a como governar e manter o governo. Nessa preocupação direcionada de Maquiavel, homem de vivência política, há um giro copernicano no âmbito da teoria política: ela deixa de ser o que se idealiza, seja como constituição ideal, seja como Estado ideal, seja como forma de governo ideal, e passa a representar uma orientação para o governo político da sociedade em seus aspectos quotidianos.
O poder é fotografado, por Maquiavel, em plena ação, em pleno movimento, em pleno realismo de cores com as quais se apresenta. Longe de colocá-lo como uma derivação das forças de Deus, e longe mesmo de descrevê-lo dentro de utópicas conformações, sua análise do poder é centrada no que efetivamente é e de acordo com o que se pratica em sociedade. Não há em sua obra um viés teórico idealista, mas empirista. Sua doutrina política parte da experiência, da vivência e da convivência políticas para estruturar-se como teoria, num processo claramente indutivo, e menos dedutivo.
Por esses motivos é que constróiuma ética de fins e não uma ética de meios para a política. Tudo é válido, quando se trata de administrar, conservar e manter o poder. Ao dividir as esferas da crença e valor pessoais do príncipe, e a crença e os valores necessários para a administração do poder, Maquiavel deixa clara a cisão provocada entre ética e poder; quem detém o poder, deve agir para conservá-lo. Por isso foi extremamente criticado, e, sobretudo, por construir uma nova moralidade para a política, tornou-se corriqueiro o uso da palavra maquiavélico em sentidos e contextos os mais diversos, mas sempre significando algo de caráter pejorativo.
_________
1“Neste cenário conturbado, no qual a maior parte dos governantes não conseguia se manter no poder por um período superior a dois meses, Maquiavel passou sua infância e adolescência” (Weffort (Org.), Os clássicos da política, 2001, v. 1, p. 15).
2“Suas tarefas sofreram, no entanto, uma brusca interrupção quando os Médicis recuperaram o poder e voltaram para Florença. O governante Soderini vai para o exílio e é dissolvida a república. Era o ano de 1512. Maquiavel foi demitido, proibido de abandonar o território florentino pelo espaço de um ano, e ficava-lhe vedado acesso a qualquer prédio público. Mas o pior ainda estaria por acontecer: em fevereiro de 1513 foi considerado suspeito, acusado de tomar parte na fracassada conspiração contra o governo dos Médicis. Foi por isso torturado, condenado à prisão e a pagar uma pesada multa” (Weffort (Org.), Os clássicos da política, 2001, v. 1, p. 15).
3“Deste retiro forçado nasceram as obras do analista político. Como o próprio Maquiavel afirmava são textos que resultaram de sua experiência prática e do convívio com os clássicos. O príncipe data dos anos de 1512 a 1513; Os discursos sobre a primeira década de Tito Lívio, de 1513 a 1519; o livro sobre A arte da guerra, de 1519 a 1520; e, por último, sua história de Florença, de 1520 a 1525. Ao lado destas publicações, escreveu a comédia A mandrágora, considerada obra-prima do teatro italiano, uma biografia sobre Castruccio Castracani e uma coleção de poesias e ensaios literários” (Weffort (Org.), Os clássicos da política, 2001, v. 1, p. 16).
4Cf. Prélot e Lescuyer, Histoire des idées politiques, 12. ed., 1994, p. 162.
5“O efeito de se colocar o ato criativo no centro da política é a ênfase na natureza completamente autofundadora da política. Maquiavel rejeita as tradicionais reivindicações universais da filosofia moral fundadas na revelação, na convenção ou na Lei Natural” (Chisholm, Robert, A ética feroz de Nicolau Maquiavel, in Quirino et al. (Org.), Clássicos do pensamento político, 1998, p. 73).
6“O caráter fundamental do Príncipe consiste em que ele não é um trabalho sistemático, mas um livro ‘vivo’ em que a ideologia política e a ciência política fundem-se na forma dramática do mito” (Gramsci, Maquiavel, a política e o estado moderno, 1980, p. 3).
7A reflexão é de Weffort: “Maquiavel rejeita a tradição idealista de Platão, Aristóteles e Santo Tomás de Aquino e segue a trilha inaugurada pelos historiadores antigos, como Tácito, Políbio, Tucídides e Tito Lívio. Seu ponto de partida e chegada é a realidade concreta. Daí a ênfase na verità effettuale – a verdade efetiva das coisas. Esta é sua regra metodológica: ver e examinar a realidade tal como ela é e não como se gostaria que ela fosse” (Weffort (Org.), Os clássicos da política, 2001, v. 1, p. 17).
8“Maquiavélico e maquiavelismo são adjetivo e substantivo que estão tanto no discurso erudito, no debate político, quanto na fala do dia a dia. Seu uso extrapola o mundo da política e habita sem nenhuma cerimônia o universo das relações privadas. Em qualquer de suas acepções, porém, o maquiavelismo está associado à ideia de perfídia, a um procedimento astucioso, velhaco, traiçoeiro. Estas expressões pejorativas sobreviveram de certa forma incólumes no tempo e no espaço, apenas alastrando-se da luta política para as desavenças do cotidiano” (Weffort (Org.), Os clássicos da política, 2001, v. 1, p. 13).
9Bobbio, Matteucci, Pasquino, Dicionário de política, 5. ed., 2000, v. 2, p. 738.
10“Maquiavel não foi simplesmente um técnico da política do poder ou um imoralista. Mais que isto, foi um filósofo político que formulou uma ética para o campo da política” (Chisholm, Robert, A ética feroz de Nicolau Maquiavel, in Quirino et al. (Org.), Clássicos do pensamento político, 1998, p. 74).
11“Costuma-se dizer que as normas de Maquiavel para a atividade política ‘são aplicadas mas não são ditas’; os grandes políticos – diz-se – começam maldizendo Maquiavel, declarando-se antimaquiavélicos, exatamente para poderem aplicar as suas normas ‘santamente’” (Gramsci, Maquiavel, a política e o estado moderno, 1980, p. 10).
12“Certamente O príncipe é sobre o poder – sua aquisição, manutenção e utilização – isso não se pode negar; e esse enfoque do poder leva Maquiavel a romper com a moralidade tradicional. Maquiavel não faz a apologia do fato de que a posse do poder exige atos que não são congruentes com a moralidade cristã, mas não gasta tempo lamentando que o príncipe algumas vezes, talvez a maior parte do tempo, terá de agir de um modo não cristão” (Chisholm, Robert, A ética feroz de Nicolau Maquiavel, in Quirino et al. (Org.), Clássicos do pensamento político, 1998, p. 54).
13“Não cabe nesta imagem a ideia da virtude cristã que prega uma bondade angelical alcançada pela libertação das tentações terrenas, sempre à espera de recompensas no céu. Ao contrário, o poder, a honra, e a glória, típicas tentações mundanas, são bens perseguidos e valorizados. O homem de virtù pode consegui-los e por eles luta” (Weffort (Org.), Os clássicos da política, 2001, v. 1, p. 22).
14“Em O príncipe encontramos a frase: ‘não pode haver boas leis onde não há boas armas, e onde há boas armas deve haver boas leis’. Esta, é natural que se diga, se tornou a máxima que governou a vida de Maquiavel, não só como filósofo, mas como experimentado administrador público e diplomata” (Nisbet, Os filósofos sociais, 1982, p. 73).
15A respeito de Maquiavel: “O que dá maior importância, entretanto, ao modo pelo qual Maquiavel considerava a guerra é sua aguda percepção da necessidade de união entre a política e a guerra. É isso que o marca como o principal pensador político da era moderna, bem como um filósofo e estrategista militar” (Nisbet, Os filósofos sociais, 1982, p. 69).
JEAN BODIN: POLÍTICA E SOBERANIA
BODIN E SEU CONTEXTO
Jean Bodin (1529-1530/1596), nascido em Angers, dedicou-se ao estudo das letras jurídicas, em Toulouse, onde também foi professor da área, assim como advogou em Paris, destacando-se por sua ampla cultura humanística e formação enciclopédica. Em teoria política, destaca-se por ser um autor que enaltece o absolutismo, o poder absoluto,1 e o amplo exercício da soberania, tendo sobre esta discorrido com cientificidade e sistematicidade como nenhum autor da teoria política. De fato, na leitura de Barros, especialista no assunto:
“A primeira exposição sistemática da soberania é normalmente atribuída ao jurista francês Jean Bodin (1529/1930-1596), que reclama justamente da falta de uma clara definição desse conceito. Há, de fato, a necessidade de formular a definição de soberania, porque não existiu nem jurisconsulto nem filósofo político que a tenha definido, embora seja o ponto principal e o mais importante a ser entendido no tratado sobre a República (República I, 8, p. 179)” (Barros, A teoria da soberania de Jean Bodin, 2001, p. 27).
Na análise comparativa entre Bodin (1529-1530/1596), na França, Maquiavel (1469/1527), na Itália, e Hobbes (1588/1679), na Inglaterra, destacam-se propostas e respostas aos problemas de Estado muito diferentes. Os três pensadores propõem o fortalecimento do poder, sua centralização, como forma de conferir maiores poderes ao Estado; esse é o ponto em comum. No entanto, Bodin tem solução que passa pela via do Direito, Maquiavel tem solução que passa pela ideia de virtù, e Hobbes propõe a delegação completa de poderese autonomias de governo ao soberano. Leia-se:
“Mas, o necessário fortalecimento do poder que, como o Florentino e o pensador de Malmesbury, Bodin defende, terá de repousar na ideia objectiva de Direito, e não na virtude política de um déspota eficaz ou na entrega, pelos indivíduos, dos seus direitos subjectivos a um omnipotente ‘Deus Mortal’” (Serra, História da filosofia do direito e do estado, 1990, p. 135).
Bodin escreveu vários trabalhos, sobre diversos assuntos, destacando-se também seus pronunciamentos como advogado. Contudo, cumpre sejam ressaltadas estas duas principais obras: Método para a fácil compreensão da história (1566); Os seis Livros da República (1576), que são de decisiva significação para o tema da política, e, em particular, para o tema da soberania.2 Sua principal obra, Da república, foi escrita em francês e, depois, traduzida para o latim pelas próprias mãos do autor.3 No percurso de sua obra, o que a torna peculiar, entre outros fatores, é o fato de, para opinar sobre o tema da política, passar Bodin necessariamente em revista a tradição e a história das instituições comparadas, de forma que seu conhecimento sobre o tema não é obtuso nem circunscrito.4
Os momentos pósteros da história, após o advento de suas obras, caminham no sentido da centralização e do absolutismo, que se dará, em seu auge, com Luís XIV (O rei sol, Le roi soleil), ao que virá, na sequência, a reação com a Revolução Francesa, no século XVIII (1789). De qualquer forma, o que se quer deixar anotado é o fato de que o temor da desagregação e da desordem sociais, das guerras fratricidas, da intolerância religiosa, da perda de territórios, das disputas político-internacionais assolava a consciência dos pensadores e desafiava as habilidades dos juristas, motivo pelo qual a obra de Jean Bodin faz distinção, à medida que reflete sobre possíveis soluções para os problemas de Estado. Sobre sua influência:
“Embora Bodin tenha relativizado, no decurso das suas análises, o seu conceito absoluto de soberania (passe a contradição de termos), a verdade é que favoreceu, objectivamente, a marcha do regime monárquico francês para o absolutismo” (Serra, História da filosofia do direito e do estado, 1990, p. 140).
SOBERANIA
Bodin preocupa-se em definir o que seja uma república (sinônimo de Estado), e o faz com base na caracterização de alguns elementos primordiais para sua constituição. Sua definição virá representando “o conjunto de famílias ou de colégios submetidos a uma só e mesma autoridade” (Método para a fácil compreensão da história VI, p. 351 B).5
No entanto, dizer que a mera reunião de famílias e/ou colégios dá origem a uma república não basta; o outro elemento caracterizador, apresentado na definição de Bodin, não pode ser olvidado: as famílias e/ou colégios devem estar reunidos sob a mesma autoridade, de modo que o poder aí já se identifica como uma regência centralizada dos diversos grupos. Ajunte-se a isso o fato de que os grupos em convívio numa república constituem seu espaço comum, e partilham de coisas comuns com vistas a certa utilidade geral.6
Toda república é governada a partir da convivência harmônica de três espécies de leis, a saber: a lei moral, cujo âmbito de aplicação e atuação é o foro íntimo de cada indivíduo, governando suas decisões e posturas frente à vida e aos demais indivíduos; a lei doméstica, cuja delimitação se circunscreve ao âmbito da casa, aplicada pelo chefe de família sobre seus dependentes; a lei civil, que se aplica a todos os partícipes da sociedade política, tendo por âmbito de aplicação as relações entre as famílias e os colégios.7
Com base na caracterização do espaço da sociedade, e de suas formas de se organizar por leis, é que surge o mister de se identificar o quarto elemento de distinção da definição bodiniana: a soberania. De fato, é ela definida com o seguinte destaque:
“A soberania é o verdadeiro fundamento, o eixo sobre o qual se move o estado de uma sociedade política e do qual dependem todos os magistrados, leis e ordenanças; ela é que reúne as famílias, os corpos e os colégios, e todos os particulares num corpo perfeito (República I, 2, p. 43)”.8
Ora, nesses termos, a soberania é o cimento das relações sociais, é o solo sobre o qual se constroem os modos de vida e o convívio em sociedade;9 sem ela, torna-se impossível a vida organizada politicamente, inviabilizando-se a ideia e o projeto de existência do Estado. Por isso, sua ampla extensão e significação:
“O uso do adjetivo absoluto implica atribuir ao poder soberano as características de superior, independente, incondicional e ilimitado. Ilimitado porque qualquer limitação é incompatível com a própria ideia de um poder supremo: ‘A soberania não é limitada, nem em poder, nem em obrigações, nem em relação ao tempo’ (República I, 8, p. 181). Incondicional na medida em que este poder deve estar desvinculado de qualquer obrigação: ‘A soberania dada a um príncipe sob condições e obrigações não é propriamente soberania nem poder absoluto’ (República I, 8, p. 187). Independente, pois seu detentor deve ter plena liberdade de ação: ‘Assim como o papa não tem suas mãos atadas, como dizem os canonistas tampouco o príncipe soberano pode ter suas mãos atadas, mesmo se o desejar’ (República I, 8, p. 192). Superior porque aquele que possui o poder soberano não pode estar submetido ou numa posição de igualdade em relação a outros poderes: ‘É preciso que os soberanos não estejam submetidos aos comandos de outrem’ (República I, 8, p. 191)” (Barros, A teoria da soberania de Jean Bodin, 2001, p. 236).
Constituindo algo indivisível por definição,10 pode-se dizer que a soberania é o elemento mais importante caracterizador do Estado. O poder contido na soberania, incontrastável, é também inalienável:
“Os direitos da soberania são considerados inalienáveis, pertencentes apenas ao soberano: ‘É preciso que as marcas da soberania sejam tais que não possam ser convenientes senão ao príncipe soberano; de outro modo, se elas são comunicáveis aos súditos, não se pode dizer que sejam marcas da soberania’ (República I, 10, p. 298)” (Barros, A teoria da soberania de Jean Bodin, 2001, p. 243).
Como consequência disso, quem exerce o poder absoluto, quem exerce a soberania, quem lhe confere existência atual e funcionamento prático não pode estar restrito, constrangido, limitado, castrado, em sua atuação.11 Ocorre que, para Bodin, ser a representação de um poder absoluto é poder agir com a máxima liberdade possível no sentido de fazer cumprir as metas do Estado, o que se torna inviável se, por exemplo, as leis se antepõem a essas intenções do exercente do poder soberano. Em tais condições:
“É preciso que os soberanos possam dar a lei aos súditos e anular ou revogar as leis inúteis para fazer outras; o que não pode ser feito por aquele que está submetido às leis ou por aquele que está sob o comando de outrem” (República I, 8, p. 191).12
Assim, o soberano vive na legalidade, não porque se submete às leis, mas porque confere leis à sociedade. A sociedade sem leis, sem ordem, é o caos, é a anarquia e a bandalheira generalizada. O Estado distingue-se por governar-se a partir de leis que se estabelecem sobre os poderes das famílias e dos colégios. Assim, o soberano confere leis ao povo, para que a sociedade possa cumprir suas metas e fins. Nesse poder de fazer as leis, de dar leis ao povo, também está compreendido o poder de modificá-las, alterá-las, corrigi-las, emendá-las, conforme a necessidade. Essas necessidades repousam sobre a ideia de conveniência do soberano, ou, ainda, na ideia de vontade do soberano, pois é ele o princípio, o meio e o fim das determinações sociais.13 Nas palavras de Bodin:
“A primeira marca do príncipe soberano é o poder de dar lei a todos em geral e a cada um em particular” (República I, 10, p. 306).14
À ideia do legislar acresçam-se estas outras atribuições, todas exclusivas do detentor do poder soberano: nomear, julgar, declarar guerra, julgar, ter sentença de vida ou morte:
“O primeiro e mais importante énomear os mais altos magistrados e definir para cada um o seu ofício; o segundo é promulgar ou anular as leis; o terceiro é declarar a guerra e concluir a paz; o quarto é julgar em última instância, acima de todos os magistrados; e o último é ter o direito de vida e de morte até mesmo nos casos em que a lei não considera a possibilidade de clemência” (Método VI, p. 359 B).15
Formas de exercício da soberania
Com base na noção de soberania é que se forma a tripartição de formas pelas quais ela pode ser exercida.16 Ela é sempre una, indivisível e incontrastável, porém os modos pelos quais pode ganhar conformação e ser exercida é que possibilitam essa divisão, aliás muito semelhante à das formas de governo aristotélicas, em três:
“A soberania pertence necessariamente seja a um só indivíduo, seja a um pequeno número de notáveis, seja ao conjunto de todos ou pelo menos da maioria dos cidadãos, e nós temos, segundo o caso, uma monarquia, uma aristocracia ou uma democracia” (Método VI, p. 368 A).17
Essa tripartição permite a Bodin discorrer também sobre as mudanças e transformações do ordenamento jurídico. Esse tema encontra-se em sua mente pelo fato de seu contexto político-social denunciar a necessidade de reflexão sobre as alterações constantes de governo e das leis. A sua época a fragilidade e a volatilidade do poder estavam evidenciadas.18 E, então, mais uma vez, a ideia de soberania será fundamental para responder à questão, pois se a soberania passa de um para outro governo, então se está diante de uma real modificação do ordenamento jurídico. Eis o critério bodiniano.19
Dos três modos de encarnação e exercício da soberania num Estado, Bodin posiciona-se favoravelmente no sentido da monarquia, pelos argumentos que usa:
“Entre os três estados, o monárquico é considerado a forma mais adequada para a República. Os argumentos utilizados por Bodin para provar sua superioridade são de diferentes procedências. O primeiro vem da história, que revela a aprovação dos povos antigos: ‘Vemos que todos os povos da terra de toda antiguidade, quando se deixaram guiar pela luz natural, não tiveram outra forma de República senão a monarquia’ (República VI, 4, p. 188). Os relatos históricos mostram que os estados populares e aristocráticos, quando estão em perigo, recorrem à forma monárquica: ‘Os estados aristocráticos e populares, vendo-se em perigosa guerra contra os inimigos, ou contra eles mesmos, ou em dificuldade de processar um poderoso cidadão [...] instituem um ditador como monarca soberano, pois sabem que a monarquia é a âncora sagrada, à qual é necessário recorrer em dificuldades’” (República VI, 4, p. 188).
Outro argumento vem da autoridade tanto dos grandes pensadores quanto das leis de Deus:
“Se procurarmos a autoridade, encontraremos as mais altas personalidades afirmando que a monarquia é a melhor forma de estado [...] e mesmo na lei de Deus é dito: quando o povo faz um rei, como os outros povos, não toma um estrangeiro; está bem demonstrado que Deus aprova a monarquia, dando lições ao rei de como deve governar; assim também os outros povos daquele tempo não tinham senão monarcas (República VI, 4, p. 189)” (Barros, A teoria da soberania de Jean Bodin, 2001, p. 321).
No entanto, o argumento definitivo, e que pesa como nenhum, é este dado por Bodin:
“A principal marca de uma República, que é o direito da soberania, não pode estar nem subsistir, falando propriamente, senão numa monarquia, pois só um deve ser soberano numa República. Se são dois, ou três, ou vários, ninguém é soberano, visto que não se pode dar nem receber a lei de um companheiro” (República VI, 4, p. 178).20
LIMITAÇÕES AO PODER SOBERANO
Foi tratado do tema da soberania e do poder absoluto. Analisou-se quais seriam essas características distintivas e que conferem singularidade do poder conferido ao soberano, dando-se autonomia política e de ação ao Estado, na pessoa de seu(s) governante(s). Pela impressão primeira que se tem da definição de soberania, nada há que se possa opor a ela, e, então, ela não possuiria limites. De fato, a impressão não é falsa, mas há algo que a ela se antepõe: são as leis naturais e as leis divinas.21 Veja-se:
“Se o soberano tem seu campo de ação demarcado pelas leis divinas e naturais, algumas leis humanas comuns a todos os povos e pelas fundamentais da República, o que os súditos devem fazer quando forem transgredidos esses limites: obedecer passivamente ou resistir aos comandos do soberano? Se a resistência é legítima, de que maneira ela pode se realizar? A questão da obrigação política tornou-se uma das mais relevantes no debate teórico francês da Segunda metade do século XVI, principalmente em razão do agravamento das guerras de religião, envolvendo católicos e huguenotes” (Barros, A teoria da soberania de Jean Bodin, 2001, p. 268).
Os limites ao poder soberano estão aí. Não são dados por homens, por instituições, por classes sociais, nem por poderes eclesiásticos. São dados pelas leis, anteriores ao soberano, existentes na natureza e criadas por Deus:
“O detentor da soberania está necessariamente submetido à lei divina, segundo Bodin, porque é, antes de mais nada, um súdito de Deus. O soberano não pode transgredi-la em hipótese alguma, devendo observá-la constantemente no exercício do poder. Se está isento das leis positivas, que provêm de sua vontade, o mesmo não acontece diante da lei divina, expressão da vontade de Deus, que ultrapassa e sustenta seu poder: ‘todos os príncipes da Terra estão submetidos à lei divina e não têm poder de contrariá-la, se não querem ser culpados de crime de lesa majestade, fazendo guerra contra Deus’ (República I, 8, p. 192-193)” (Barros, A teoria da soberania de Jean Bodin, 2001, p. 247).
As leis divinas e naturais são, portanto, um parâmetro para definir a diferença entre o monárquico e o tirânico. De fato, o que se há que dizer é que a concentração de poderes e a ilimitação da soberania não são para Bodin sugestões para que o exercente do poder deles se utilize arbitrariamente, pois as leis naturais e divinas antecedem seu poder terreno:
“A maneira mais clara de reconhecer o exercício tirânico do poder, segundo Bodin, é o desrespeito às leis divinas e naturais, que representam o principal limite para o exercício do poder: ‘A mais notável diferença do rei e do tirano é que o rei se conforma às leis de natureza e o tirano as pisoteia’ (República II, 4, p. 57)” (Barros, A teoria da soberania de Jean Bodin, 2001, p. 279).
No entanto, a contradição, numa teoria desse naipe, haveria de surgir. De fato, apesar de o soberano ter limites e dever respeitá-los, ainda assim, em caso de infração à lei divina e à lei natural, não será jamais o povo o julgador de seus procedimentos, de suas condutas. Disso decorre a total impossibilidade de facultar-se ao povo a desobediência sob pretexto de descumprimento das referidas leis. Isso, para Bodin, criaria a instabilidade do poder:22
“Mas a acusação de crueldade, de impiedade e de injustiça no exercício da soberania não pode, em hipótese alguma, justificar a resistência, mesmo que o soberano ordene coisas que são consideradas contrárias às leis de Deus e da natureza” (Barros, A teoria da soberania de Jean Bodin, 2001, p. 279).
Não há autoridade que possa julgar o soberano por sua conduta, pois isso seria mesmo uma afronta à própria soberania. A esse que afronta tal poder, a sentença é uma só, a morte:
“Se o súdito deseja tomar ou violar o estado de seu rei, por qualquer meio que seja, ou deseja, num estado popular ou aristocrático, de companheiro tornar-se senhor, ele merece a morte” (República II, 5, p. 70).23
Bodin está numa encruzilhada, e, entre optar por conceder direitos de resistência e oposição ao povo, ou mesmo às autoridades eclesiásticas,24 sua escolha é pela manutenção do poder soberano, causa e sentido da ordem social:
“Mas entre o poder do sobrenome e a obediência às leis divinas e naturais não existe um intermediário que tenha o direito de exigir seu cumprimento. Nenhum agente social pode obrigar o soberanoa respeitá-las. De fato, elas não são dotadas de eficácia legal, pois não exercem coerção jurídica sobre o soberano” (Barros, A teoria da soberania de Jean Bodin, 2001, p. 248).
CONCLUSÕES
A leitura da obra de Bodin revela uma preocupação intensa com a questão da soberania. É ela o núcleo de seus estudos e de suas pesquisas, e representou algo com significado para a constituição dos limites soberanos do Estado moderno. Sua obra, portanto, fundamenta e justifica, doutrina e esclarece sobre algo que historicamente haveria de se tornar uma realidade concreta e necessária para a modernidade. O conceito de soberania será, na história moderna, vital para a autoafirmação do próprio Estado.
Ademais, a obra de Jean Bodin revela intensa preocupação com o tema do poder, sobretudo do poder absoluto. Esse poder é compreendido no sentido da necessidade de proteção da própria existência da sociedade política. A desordem e o desgoverno são males que Bodin quer ver afastados da sociedade. Por isso, aqui a ideia de soberania ganha a extensão e a dimensão verificadas; é indivisível, incontrastável e absoluta.
_________
1Sobre Bodin: “Bodin est cependant le père du gouvernement absolu par la rigueur et la logique qu’il a mises dans sa construction de la souveraineté” (Prélot, Histoire des idées politiques, 12. ed., 1994, p. 222).
2Sobre a gestação e o paulatino desenvolvimento de sua teoria da soberania por suas obras: “A teoria bodiniana da soberania encontra-se esboçada no Método para a fácil compreensão da história (1566) e claramente enunciada em Os seis Livros da República (1576). Mas já é possível observar sua formação no decorrer de um audacioso projeto de constituição, a partir da reunião e da comparação sistemática dos ordenamentos jurídicos das mais variadas Repúblicas, de um direito universal, isto é, de um conjunto de princípios que receberam aprovação de todos os povos ou pelo menos dos mais conhecidos. Assim, o primeiro capítulo aborda o percurso intelectual de Bodin até a sua elaboração – a formação escolástica com os carmelitas, os estudos jurídicos na Universidade de Toulouse, a forte influência do humanismo jurídico, evidenciada no Discurso ao Senado e ao povo de Toulouse sobre a educação a ser dada aos jovens de uma República (1559), a mudança de perspectiva com a prática forense, o início do processo comparativo dos sistemas legais das principais Repúblicas, a associação entre direito e história – e o segundo capítulo, a inspiração, os recursos utilizados e a realização desse projeto, materializada na Disposição do direito universal (1578), que representa o rompimento definitivo com a autoridade do direito romano, modelo e referência obrigatória do raciocínio jurídico medieval, abrindo caminho para a constituição de um direito nacional” (Barros, A teoria da soberania de Jean Bodin, 2001, p. 27).
3“Bodin escreveu em francês uma obra densa e volumosa em seis livros, intitulada De la republique. Foi em seguida traduzida para o latim pelo próprio autor em 1579” (Mosca, História das doutrinas políticas, 1968, p. 142).
4“No trabalho comparativo de Bodin, a história passa a adquirir um papel preponderante: primeiro, porque possibilita o conhecimento dos diversos ordenamentos jurídicos que já existiram, e depois, porque pode revelar a razão das leis e seus fundamentos sociais e políticos. Daí o seu empenho em elaborar um método para a fácil compreensão da história” (Barros, A teoria da soberania de Jean Bodin, 2001, p. 62).
5Apud Barros, A teoria da soberania de Jean Bodin, 2001, p. 201.
6“A existência de algo em comum entre as várias famílias introduz o terceiro elemento da definição bodiniana. Para a constituição de uma República, não basta a simples associação de várias famílias; elas devem necessariamente partilhar algo. Seria uma contradição entre os termos, argumenta Bodin, não haver algo de comum ou de público numa res publica, como ‘o domínio público, o tesouro público, as ruas, as muralhas, as praças, os templos, os mercados, os usos, as leis, os costumes, a justiça, as penas e outras coisas semelhantes’ (República I, 2, p. 43)” (Barros, A teoria da soberania de Jean Bodin, 2001, p. 223).
7Cf. Barros, A teoria da soberania de Jean Bodin, 2001, p. 233.
8Apud Barros, A teoria da soberania de Jean Bodin, 2001, p. 227.
9Sobre a complexidade do conceito: “O conceito de soberania (souveraineté, majestas na versão latina), destinado a ter tamanha repercussão nos séculos seguintes, é mais complexo do que a sua definição faz supor. Na Republique, soberania é o poder absoluto e perpétuo de uma República; no De republica, o poder supremo sobre os cidadãos e súditos, e desvinculado das leis (summa in cives ac subditos legibusque soluta potestas)” (Serra, História da filosofia do direito e do estado, 1990, p. 136).
10“Segundo Jean Bodin, a soberania é indivisível por definição” (Serra, História da filosofia do direito e do estado, 1990, p. 137).
11“Numa sociedade política, ter poder absoluto significa estar acima das leis civis: ‘Aquele que melhor compreendeu o que é poder absoluto disse que não é outra coisa senão a possibilidade de revogar o direito positivo’ (República I, 8, p. 193)” (Barros, A teoria da soberania de Jean Bodin, 2001, p. 237).
12Apud Barros, A teoria da soberania de Jean Bodin, 2001, p. 237.
13“Essa mudança pode ser explicada pela ênfase dada ao caráter absoluto do poder soberano, que se manifesta essencialmente no poder de criar, de corrigir e de anular as leis civis de acordo com a vontade do seu detentor” (Barros, A teoria da soberania de Jean Bodin, 2001, p. 240).
14Apud Barros, A teoria da soberania de Jean Bodin, 2001, p. 240.
15Idem, ibidem.
16“O conceito de soberania torna-se, então, o centro a partir do qual gravita a teoria política de Bodin. Ele é utilizado, por exemplo, como critério para a classificação dos regimes políticos, para a discussão do problema das mudanças constitucionais e para a escolha da melhor forma de constituição” (Barros, A teoria da soberania de Jean Bodin, 2001, p. 299).
17Apud Barros, A teoria da soberania de Jean Bodin, 2001, p. 300.
18“Portanto no império da razão, o homem pode encontrar soluções capazes de amenizar, caso não seja possível conter, as mudanças políticas. Entre o determinismo das leis naturais e o acaso da fortuna, Bodin aposta na ação do homem virtuoso, no sentido maquiavélico daquele que sabe aproveitar com audácia as circunstâncias favoráveis, para manter o quanto for possível o estado da República” (Barros, A teoria da soberania de Jean Bodin, 2001, p. 314).
19“Só há mudança realmente no ordenamento político, quando o poder soberano muda de mãos. Outras modificações, sejam elas religiosas, econômicas ou sociais, não alteram a constituição da República. A passagem da soberania de um agente para outro, isto é, de um estado para outro, é que determina a verdadeira transformação política” (Barros, A teoria da soberania de Jean Bodin, 2001, p. 306).
20Apud Barros, A teoria da soberania de Jean Bodin, 2001, p. 322.
21“Está, porém, submetido às leis de Deus e da natureza, cujo cumprimento fará recto o seu governo” (Serra, História da filosofia do direito e do estado, 1990, p. 137).
22“Neste caso, embora, em princípio, não seja possível negar aos súbditos um certo direito à desobediência, Bodin afirma ser preferível a tirania à anarquia” (Serra, História da filosofia do direito e do estado, 1990, p. 137).
23Apud Barros, A teoria da soberania de Jean Bodin, 2001, p. 276.
24“Mas isso não implica uma sujeição à autoridade eclesiástica. O soberano é considerado totalmente livre e independente, inclusive diante do sumo pontífice. Se o seu poder vem de Deus, ele não necessita de um intermediário que lhe traduza a vontade divina, pois ela é nítida e inteligível a todos. Na mais fiel tradição dos defensores da liberdade da Igreja galicana, Bodin parece manter suas ideias fundamentais: distinção e independência do poder temporal e do poder espiritual; autoridade limitada do papa sobre o clero francês; autoridade do rei sobrea Igreja francesa” (Barros, A teoria da soberania de Jean Bodin, 2001, p. 247).
FONTE:
BITTAR, Eduardo C. B. Teoria do Estado: filosofia politica e teoria da democracia. 5 ed. Revista. São Paulo: Ed. Atlas, 2016.

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