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51 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 03 /1 9 POLÍTICA SOCIAL NO BRASIL Unidade II 5 O CONTEXTO DA CRISE CAPITALISTA DOS ANOS 1970 E A PERDA DOS DIREITOS SOCIAIS: O DESMONTE DAS POLÍTICAS SOCIAIS NA EUROPA, NOS ESTADOS UNIDOS E NA AMÉRICA LATINA Adentraremos o contexto dos anos 1970 do século XX, iniciamos pela realidade do cenário internacional e, na sequência, voltamos o nosso olhar para a realidade brasileira. Nesse tópico inicial, nos aproximaremos, uma vez mais, do pensamento que orienta o Estado e que o conduz em relação às políticas sociais. Assim, damos início à discussão sobre o neoliberalismo. O termo neoliberalismo advém de acrescermos o prefixo “neo” à palavra liberalismo. Apesar de o liberalismo já ter sido estudado por nós anteriormente, veremos as novas interpretações e roupagens que são a ele conferidas (por isso o prefixo “neo” a partir de 1970). Observação O liberalismo pressupunha a não intervenção do Estado na regulação econômica. O neoliberalismo é uma reação teórica e política ao Estado de Bem-Estar Social ou Welfare State que nasceu na Europa e na América do Norte a partir da Segunda Guerra Mundial, mas que se tornou conhecido e popular somente a partir da década de 1970. Não se trata “apenas” de uma nova versão do já extinto liberalismo, mas uma adaptação dessa concepção considerando a atual fase de desenvolvimento capitalista. Antes de seguirmos nas explicações sobre o neoliberalismo, retomaremos algumas indicações sobre o liberalismo. O liberalismo teria surgido no século XVI e XVII e teve como seus principais representantes David Ricardo e Adam Smith, que também foram seguidos por Maquiavel, Hobbes e Rousseau. Essa forma de compreensão tornou-se no entanto conhecida a partir do século XIX. A corrente liberal primava por análises sobre a vida social que compreendessem “[...] o princípio do trabalho como mercadoria e sua regulação pelo livre mercado” (BEHRING; BOSCHETTI, 2010, p. 56). De tal forma, conforme essas compreensões, cada ser humano, cada indivíduo, precisa buscar ter suas necessidades atendidas pelo trabalho, pelo esforço de cada qual. Se cada indivíduo buscar sua satisfação, a atenção de suas necessidades, de acordo com a corrente liberal, irá influenciar no bem-estar de toda a sociedade. Para os representantes dessa corrente, seria a mão invisível do mercado que regularia a vida das pessoas, mas, cabia a cada indivíduo buscar sua inserção no mercado de trabalho. Aqueles que não 52 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 03 /1 9 Unidade II buscassem alcançar o bem-estar individual poderiam também comprometer o desenvolvimento de toda a sociedade. Essa possibilidade de inserção no mercado de trabalho vem fundada no mérito de cada ser humano em potencializar suas capacidades inatas. O Estado, segundo o liberalismo, era compreendido como um mal necessário somente para garantir a base legal a fim de que o mercado pudesse funcionar. Se o Estado pudesse manter as bases para o mercado, consequentemente estaria possibilitando o bem-estar da sociedade como um todo. Propunha, assim, um Estado mínimo, com apenas três funções a desempenhar: “[...] a defesa contra os inimigos externos; a proteção de todo o indivíduo de ofensas dirigidas por outros indivíduos; e o provimento de obras públicas, que não possam ser executadas pela iniciativa privada” (BEHRING; BOSCHETTI, 2010, p. 60). Behring e Boschetti (2010, p. 62), buscando sistematizar as principais colocações do liberalismo, nos indicam o predomínio do individualismo, o bem-estar individual maximiza o bem-estar coletivo; predomínio da liberdade e competitividade; naturalização da miséria; predomínio da lei da necessidade; manutenção de um Estado mínimo, as políticas sociais estimulam o ócio e o desperdício e por isso a política social deve ser apenas um paliativo. Foi derivando dessas compreensões, mas sob novas roupagens, que surgiu o neoliberalismo. O grande teórico que representou essa tendência foi Friedrich Hayek, sua obra preponderante, nesse sentido, foi o livro O Caminho da Servidão, publicado em 1944. No entanto, não foi o único a defender esse formato de organização estatal, conforme veremos. Consideramos ser interessante conhecer os autores a quem nos referimos, deve-se, ao menos, haver uma imagem mental dos mais comentados no material proposto. O Caminho da Servidão não é apenas um documento que expressa posições contrárias ao Estado de Bem-Estar Social, mas, para Anderson (1995, p. 9), precisa ser compreendido como sendo: “[...] um ataque apaixonado contra qualquer limitação dos mecanismos de mercado por parte do Estado, denunciadas como uma ameaça letal à liberdade, não somente econômica, mas também política”. Ou seja, totalmente contrário à intervenção estatal na regulação econômica e nas expressões da questão social. Hayek também se manifestava contrário à democratização e ao comunismo. Seu principal alvo seria o Partido Trabalhista Inglês, e suas críticas foram especialmente enfatizadas durante a eleição geral, em 1945, na Inglaterra. Aliás, para Hayek, os sindicatos vinham alcançando um poder exagerado e que deveria, sem dúvida, ser minimizado. Todavia, nesse momento, as colocações de Hayek não encontraram assento na realidade, já que o keynesianismo vinha conseguindo manter a extração dos lucros e o crescimento econômico. Mesmo assim nos diz Anderson (1995) que Hayek, em 1947, organizou uma reunião na pequena estação de Mont Pèlerin, na Suíça, convocando um grupo seleto de pessoas que também pensava de acordo com ele. Dentre esses teóricos, o autor elenca: “[...] Milton Friedman, Karl Popper, Lionel Robbins, Ludwing von Mises, Walter Eucken, Walter Lippmann, Michael Polanyi, Salvador de Madariaga [...]” (ANDERSON, 1995, p. 10), dentre os quais os que mais se destacaram, além de Hayek, foram Friedman e Popper. 53 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 03 /1 9 POLÍTICA SOCIAL NO BRASIL Partindo dessa reunião inicial, foi criada a Sociedade de Mont Pèlerin, que funcionava como uma organização contrária ao Welfare State. Essa sociedade atuava, segundo Anderson (1995, p. 10), como uma espécie de “[...] francomaçonaria neoliberal”, ou seja, uma sociedade, com poucos membros, escolhidos, e que combatia, com veemência, o Estado de Bem-Estar Social. Essa organização chegou até a realizar reuniões e eventos de grande porte a cada dois anos. Contudo, nesse momento, como o keynesianismo vinha conseguindo manter a economia crescendo, os postulados de Hayek não tiveram aceitação. Somente a partir da década de 1970 que eles foram mais divulgados e aceitos. Isso aconteceu porque dali em diante tivemos uma grande crise capitalista. Nela, buscaram encontrar os possíveis motivadores da sua ocorrência, um dos fatores identificados fora a suposta excessiva intervenção do Estado na regulação econômica e nas expressões da questão social. A crise fora identificada como resultante do excesso do poder que vinha sendo conferido ao Estado. Pereira (2008) nos diz que a crise era interpretada, pelos neoliberais, com base em três argumentos básicos. No caso, os gastos sociais eram tidos como responsáveis pela crise, conforme dissemos previamente. Isso porque o gasto social seria responsável por gerar o déficit orçamentário dos Estados. Este seria o primeiro argumento. O segundo deles defendia que a intervenção do Estado inibe a liberdade do mercado, desestimulando o capitalista a investir. E, por fim, o terceiro fator justificava que a proteção social causaria um ônus para as classes mais ricas e evita que os mais pobres busquem economizar e guardar dinheiro. Assim, por conta disso,no argumento neoliberal, teria acontecido a crise capitalista. Ou melhor dizendo, ela aconteceria porque: 1) [...] o excessivo gasto governamental com políticas sociais públicas é nefasto para a economia, porque gera o déficit orçamentário que, por sua vez, consome a poupança interna, aumenta as taxas de juros e diminui a taxa de inversão produtiva. Consequentemente, tal déficit estimula a emissão de moeda ou empréstimo de dinheiro do sistema bancário, aumentando, assim, a oferta monetária e a inflação. Para enfrentar esse problema, a única solução prevista seria cortar substancialmente o gasto público para liberar recursos para a inversão privada; 2) [...] a regulação do mercado pelo Estado é negativa porque, ao cercear o livre jogo mercantil, tal regulação desestimula o capitalista de investir. Isso, por sua vez, impede o desenvolvimento econômico e a criação de empregos. A solução seria a desregulação do mercado de trabalho e da comercialização da força laboral; 3) [...] a proteção social pública garantida, sob a forma de política redistributiva, é perniciosa para o desenvolvimento econômico, porque onera as classes possuidores, além de aumentar o consumo das classes populares em detrimento da poupança interna. Neste caso, a melhor solução é diminuir o efeito redistributivo das políticas sociais, o que supõe a flexibilização ou retração da sua garantia (PEREIRA, 2008, p. 127). 54 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 03 /1 9 Unidade II Consequentemente, um argumento que pressupõe, como se observa, que o Estado, apenas ele, é responsável pela crise capitalista e não a compreende como algo inerente a esse sistema. Como vemos, não são apenas argumentos sob a ótica da economia, mas assumem um caráter moralizador ao se firmar a primazia do trabalho como forma de atender as necessidades das pessoas, e não por meio do Estado, das políticas sociais. O neoliberalismo trata-se, no entanto, de um projeto ideológico, político e econômico idealizado e que propõe uma série de orientações que evocam a necessidade de alteração no formato exercido até então no que diz respeito à regulação econômica. Todavia seus postulados não ficaram restritos a economistas e estadistas, exerceram influência na vida social como um todo e chegaram à sociedade, sobretudo, através dos meios de comunicação social. Isso fez com que houvesse, por parte da sociedade uma “satanização do Estado”, já que tudo que é público passa a ser compreendido como ruim, como negativo. Já o mercado passa a ser santificado. Portanto, temos: Por um lado, a satanização do Estado: o Estado é tido como o diabo, responsável por todas as desgraças e infortúnios que afetam a sociedade capitalista. Por outro lado, a exaltação e a santificação do mercado e da iniciativa privada, vista como a esfera da eficiência, da probidade e da austeridade, justificando a política das privatizações (IAMAMOTO, 2001, p. 35). Se o Estado não tinha competência para gerir, quem deveria fazê-lo era o mercado. Os argumentos de Hayek, contrários ao Welfare State, não se esgotam nesses princípios e estavam assentados em uma série de outras justificativas, ou seja, não era uma indisposição gratuita. Bem, Hayek defendia que a intervenção do Estado resultava em uma diminuição da concorrência que deveria, naturalmente, mover o mercado. Para ele, a intervenção também seria responsável por tolher a liberdade dos indivíduos, dos cidadãos em geral (ANDERSON, 1995). Estado este que, ao transgredir o princípio da liberdade individual, teria criado condições objetivas de desestimulo aos homens para o trabalho produtivo, uma vez que acabavam escolhendo viver sob as benesses do aparelho estatal do que trabalhar (COUTO, 2010, p. 69). Pereira (2008), aliás, nos diz que é estabelecido agora um novo conceito de Estado de Bem-Estar Social. Segundo essa compreensão: 1) [...] o Estado Social é despótico porque, além de impedir a economia de funcionar, nega aos usuários dos serviços sociais oportunidades de escolhas e autonomia de decisão; 2) [...] o Estado Social, comparado ao mercado, é ineficiente e ineficaz na administração de recursos; 55 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 03 /1 9 POLÍTICA SOCIAL NO BRASIL 3) [...] o Estado Social é paternalista e, por isso, moralmente condenável porque incentiva a ociosidade e a dependência, ao mesmo tempo que, com a sua carga de regulamentações, desestimula o capitalista de investir; 4) [...] o Estado Social é perdulário porque gasta vultosos recursos para obter modestos resultados; 5) [...] que o Estado Social é corrupto (PEREIRA, 2008, p. 37). Ou seja, o Estado de Bem-Estar Social passa a ser rechaçado pelo argumento neoliberal. Hayek nos diz ainda que outro erro do Welfare State seria o combate à desigualdade e ao desemprego. A desigualdade era compreendida como algo bom, que estimulava o comércio, e o desemprego, tido como algo natural, necessário. Seria até positiva a manutenção de um nível estimado de desempregados, para constituir assim uma mão de obra para o mercado de trabalho, esta sobrante e naturalmente não incorporada que estaria à mercê das necessidades capitalistas. Desafiando o consenso oficial da época, eles argumentavam que a desigualdade era um valor propositivo – na realidade imprescindível em si –, pois disso precisavam as sociedades ocidentais. Esta mensagem permaneceu na teoria por mais ou menos 20 anos (ANDERSON, 1995, p. 10). Porém, o nível de desigualdade e de desemprego, para Hayek, não vinha sendo mantido pelo Estado de Bem-Estar Social, e, em partes, isso acontecia porque havia grande gasto na área social e ainda uma incorporação às requisições dos movimentos de sindicatos. Dessa maneira, como seria possível manter a taxa de desemprego? Somente se o sindicato fosse enfraquecido. Behering e Boschetti (2010, p. 129) indicam que grande parte dos países que aderiram ao neoliberalismo conseguiram colaborar no processo de manutenção da taxa de desemprego, sendo que, na grande totalidade deles, o desemprego quase dobrou, exceto no Japão. Os níveis foram mais elevados na União Europeia e na OCDE. Cabe destacar aqui que o OCDE faz menção à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, nela, estão incluídos apenas países que possuem elevado PIB e também altos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH). Participam da OCDE os países Áustria, Bélgica, Dinamarca, França, Grécia, Islândia, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Noruega, Países Baixos, Portugal, Reino Unidos, Suécia, Suíça e Turquia. O Estado deveria se mostrar forte apenas para inibir o controle dos sindicatos e controlar os gastos do recurso que era destinado à área social. Deveria também mostrar-se isento no que diz respeito à intervenção na economia, contrapondo-se totalmente ao keynesianismo. Para isso, seria necessária uma disciplina extremamente rígida que de fato se mostrasse capaz de reduzir os custos na área social e reestabelecer a taxa natural de desemprego. Com isso, ou seja, com a ampliação do desemprego, os sindicatos seriam automaticamente desarticulados. Como será possível organização sindical se não há trabalhadores? (ANDERSON, 1995). 56 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 03 /1 9 Unidade II Somente se o Estado conseguisse minimizar a intervenção na área social e tornasse possível a minimização dos sindicatos, seria possível garantir um padrão de desenvolvimento econômico estável. Caso contrário, estaríamos condicionados a vivenciar um processo de profunda crise capitalista. Assim, para Hayek, “Esses dois processos destruíram os níveis necessários de lucros de empresas desencadearamprocessos inflacionários que não podiam deixar de terminar numa crise generalizada das economias de mercado” (ANDERSON, 1995, p. 11), referindo-se ao gasto na área social e ao poder dos sindicatos. Hayek ainda defendia que o Estado deveria organizar uma redução dos impostos sobre os rendimentos dos mais ricos, ou seja, os que tinham os salários mais elevados iriam pagar menos impostos dos que os segmentos mais empobrecidos. Couto (2010) ainda nos diz que além da desregulamentação das atividades econômicas e sociais desenvolvidas por parte do Estado, temos a proposta pela reversão das nacionalizações processadas a partir do segundo período pós-guerra e portanto a abertura das economias ao mercado internacional, ao capital externo. Porém, mesmo no caso da influência neoliberal não tivemos no mundo uma experiência única, a exemplo do Estado de Bem-Estar Social. Assim, tivemos países em que observamos maior adesão aos postulados de Hayek e outros nos quais tivemos um formato não tão incidente, mas, em geral, grande parte dos Estados acabaram adequando-se ao receituário neoliberal. Anderson (1995) indica-nos que um dos primeiros Estados em que tivemos a adesão ao neoliberalismo teria sido o governo de Margaret Thatcher, na Inglaterra, no ano de 1979. Thatcher, no entanto, não foi a única no momento tendo sido seguida por outros estadistas como Reagan nos Estados Unidos em 1980, Khol na Alemanha em 1982 e Schlüter na Alemanha em 1983. Nesse período, apenas a Suécia e a Áustria mantiveram o padrão de Estado de Bem-Estar Social. O governo de Thatcher, no entanto, foi pioneiro e nos termos de Anderson (1995), teria sido um dos que mais conseguiu oferecer concreticidade aos princípios neoliberais. Assim sendo: Os governos Thatcher contraíram a emissão monetária, elevaram as taxas de juros, baixaram drasticamente os impostos sobre os rendimentos altos, aboliram controles sobre os fluxos financeiros, criaram níveis de desemprego massivos, aplastaram greves, impuseram uma nova legislação anti-sindical e cortaram gastos sociais (ANDERSON, 1995, p. 12). Além disso, Thatcher promoveu um amplo programa de privatização das empresas públicas rentáveis, tais como a habitação, que antes era predominantemente pública, das indústrias de aço, da eletricidade, do petróleo e ainda do sistema de água e o gás. Outro Estado importante no sentido de adesão aos princípios neoliberais foi o governo dos Estados Unidos, com Reagan. Reagan reduziu os impostos para os mais ricos, elevou os juros e eliminou a greve, aliás, conseguiu desarticular um único movimento grevista que se mostrava forte durante seu período de presidência. 57 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 03 /1 9 POLÍTICA SOCIAL NO BRASIL Apesar disso, nos Estados Unidos, o poder público não conseguiu gastar menos do que se esperava, já que Reagan investiu recursos públicos vultosos para custear um sistema militar, resultando assim em um enorme déficit público. Lembre-se de que nesse momento o mundo assistia à segunda fase da Guerra Fria e havia uma verdadeira corrida armamentista entre os Estados Unidos e a União Soviética. Como a União Soviética mantinha sua imagem ainda associada ao comunismo e como para o ideal neoliberal, o comunismo era algo a ser combatido, mesmo a dívida pública dos Estados Unidos foi aceita. Acreditava-se que a corrida armamentista poderia comprometer de forma negativa a economia russa. Dentre os gastos que consumiram os recursos do Estado, temos, por exemplo, o custeio de uma nova geração de foguetes (ANDERSON, 1995), inaugurando então a chamada Guerra Fria. Saiba mais Para complementar as informações sobre o período e a Guerra Fria, recomendamos os filmes: ADEUS Lênin. Dir. Wolfgang Becker, 2002. 118 minutos. BOA Noite, Boa Sorte. Dir. George Clooney, 2005. 93 minutos. DR. FANTÁSTICO. Dir. Stanley Kubrick, 1964. 93 minutos. JOGOS DE poder. Dir. Mike Nichols, 2007. 97 minutos. PLATOON. Dir. Oliver Stone, 1987. 120 minutos. TREZE dias que abalaram o mundo. Dir. Roger Donaldson, 2000. 145 minutos. Porém, e na Europa, que fora considerada o berço do Welfare State, também tivemos a adesão ao neoliberalismo? Anderson (1995) nos diz que sim, apesar de observamos que nos países europeus tivemos um neoliberalismo um pouco mais “cauteloso”. Portanto, em que pese as diferenciações observadas na Europa, a partir da adesão ao neoliberalismo, temos a ênfase na necessidade de uma disciplina orçamentária por parte do Estado, além de cortes não tão brutais nos gastos sociais e com pouco enfretamento em relação aos sindicatos. Todavia, mesmo os governos de esquerda, que se diziam mais defensores do Welfare State, ainda que de forma tímida, aderiram à doutrina neoliberal. É o caso dos seguintes: Mitterrand na França; González na Espanha; Soares em Portugal; Craxi na Itália e Papandreou na Grécia. Anderson (1995, p. 13) nos indica que Grécia e França mantiveram “[...] uma política de deflação, de pleno emprego e de proteção social”. Na França, essa forma de organização teria durado até meados de 1982, quando não mais se sustentou. No final dos anos 1980, observamos a ampliação em escala massiva do desemprego que atingiu níveis extremamente alarmantes. 58 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 03 /1 9 Unidade II A Espanha, de acordo com Anderson (1995), teria adotado uma política um pouco diferenciada em relação à Grécia e à França e, nesse país, tivemos o favorecimento do capital financeiro, a privatização de empresas públicas que pudessem oferecer lucro ao capital, resultando na ampliação significativa dos níveis de desemprego. Consta que, no final da década de 1980, o desemprego atingia uma média de 20 % da população espanhola. E, comenta-se, também, que esse desemprego não demonstrava ser algo que preocupasse o governo espanhol, ou seja, uma expressão mais que definidora da adesão ao neoliberalismo. Além desses governos, na Áustria e na Nova Zelândia, observamos o desmonte do sistema de seguridade social antes constituído, colaborando com a adesão do Estado ao receituário neoliberal. Apesar disso, a Áustria não promoveu um desmonte completo e acabou figurando com a Suécia como um dos poucos países europeus que não processou o desmonte completo do Welfare State. No continente asiático, por outro lado, apenas o Japão resistiu à sedução neoliberal. Contudo, passados alguns anos do grande desenvolvimento da ideologia neoliberal, considerando o período do final da década de 1980, em que grande parte dos países já tinha aderido ao neoliberalismo, podemos nos perguntar se o receituário neoliberal conseguiu atender aos objetivos a que se propôs. Respondendo a esse quesito, Anderson (1995) diz que foi possível constatar a queda da taxa de inflação de 8,8 % para 5,2 % e o aumento da taxa de lucro de 4,2 %. Também se verificou que houve uma derrota do movimento sindical na Europa e uma ampliação do desemprego. Segundo informa-nos o autor, no final dos anos de 1980, tivemos uma ampliação de 8 % do desemprego e uma queda de 20 % dos salários, inclusive dos mais altos. Consequentemente, olhando sobre os aspectos supracitados, podemos dizer que o neoliberalismo até conseguiu alcançar os objetivos a que se propôs. No entanto, no que diz respeito ao crescimento, ao desenvolvimento ou, mais propriamente, no que concerne à ampliação da taxa de crescimento e à extração da mais-valia, Anderson (1995) nos informa que os objetivos propostos pelo ideal neoliberal não foram alcançados. Mesmo com todos os esforços, com a retração estatal, infelizmente, não observamos que o capitalismo vivenciou um novo crescimento. O autor ainda nos diz que, se por um lado, houve redução dos gastos com política social,por outro, os Estados precisaram aumentar os recursos para auxiliar o grande número de desempregados que foram sendo gerados e ainda para custear a pensão para idosos que, via de regra, não podiam trabalhar, mas também não podiam permanecer abandonados à própria sorte, demandando, assim, a intervenção estatal. Um novo fenômeno aconteceu na década de 1990, mais especificamente, no ano de 1991. Trata-se de outra crise capitalista que se espalhou pelo mundo. Só na Europa, em decorrência da crise, tivemos a ampliação do desemprego que chegou a atingir uma média de 38 milhões de desempregados. Partindo dessa realidade, Anderson (1995) nos diz que o imaginado é que fosse processada uma reação ao neoliberalismo, no sentido de contrapor-se a essa ideologia. No entanto, o autor nos diz que aconteceu verdadeiramente o inverso, ou seja, o neoliberalismo se vestiu de uma nova roupagem e ganhou um novo alento, uma nova vitalidade e força. 59 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 03 /1 9 POLÍTICA SOCIAL NO BRASIL No que diz respeito ao posicionamento dos Estados, observamos que na Inglaterra tivemos a eleição de Major, que apenas sucedeu Thatcher, sendo que essa sucessão referiu-se também a herdar e desenvolver práticas semelhantes às do governo antecessor. A Itália, então governada por Berlusconi, aderiu aos princípios neoliberais e processou um intenso esforço para potencializar as privatizações de empresas públicas, prática comum na Áustria e na Alemanha durante esse período. A grande perda, no entanto, foi a Suécia, que também passou a adotar os princípios do neoliberalismo com maior veracidade, resultando assim na derrocada de um dos sistemas de proteção social mais significativos de que se tem notícia e que fora durante muito tempo símbolo do Welfare State. Além desses Estados, de acordo com Anderson (1995), tivemos a manutenção da adesão ao liberalismo nos Estados Unidos, com Clinton; na Polônia, com Balcerowicz; na Rússia, com Gaidar; na República Tcheca, com Klaus. Nos Estados Unidos, durante o governo de Clinton, houve uma busca pela redução do déficit orçamentário e uma ação contrária à delinquência, compreendida com um mal a ser combatido e como uma prática carregada de valores preconceituosos e de práticas coercitivas. Porém é de Klaus, da República Tcheca, que temos outro exemplo significativo de adesão aos princípios neoliberais. Klaus demonstrava grande aceitação aos postulados de Hayek e Friedman, esse estadista fez todos os esforços para consolidar um estado neoliberal de fato. A frase de Klaus é extremamente representativa de suas intenções. Vejamos: O sistema social da Europa ocidental está demasiadamente amarrado por regras e pelo controle excessivo. O Estado de bem-estar, com todas as suas transferências de pagamentos generosos desligados de critérios, de esforços ou de méritos, destrói a moralidade básica do trabalho e o sentido de responsabilidade individual. Há excessiva proteção e burocracia. Deve-se dizer que a revolução thatcheriana, ou seja, anti-keynesiana ou liberal, parou – numa avaliação positiva – no meio do caminho na Europa ocidental e é preciso completá-la (ANDERSON, 1995, p. 18). Uma posição descrita por Anderson como “extremista” (1995, p. 18), mas comum no período que estamos estudando. O autor nos diz ainda que tivemos a adesão ao neoliberalismo na América Latina, sendo as experiências mais expressivas a do Chile, da Bolívia e aquela desenvolvida no México, na Argentina e no Peru. A experiência do Chile é provavelmente a mais emblemática. Ela teria acontecido em meados de 1970 durante o governo de Pinochet e se deu antes da experiência da Inglaterra. Na experiência chilena, temos presente a influência de Friedman por meio da redução dos gastos na área social, além de estimular a manutenção do chamado nível de desemprego. O governo chileno ainda conseguiu desarticular o movimento dos sindicatos e organizou um sistema político sustentado pela ditadura e pela repressão excessiva, ou conforme nos diz Anderson (1995, p. 19): 60 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 03 /1 9 Unidade II O Chile de Pinochet começou seus programas de maneira dura: desregulação, desemprego massivo, repressão sindical, redistribuição de renda em favor dos ricos, privatização de bens públicos [...] O neoliberalismo chileno, bem entendido, pressupunha a abolição da democracia e a instalação de uma das mais cruéis ditaduras militares do pós-guerra. Adequando-se perfeitamente ao receituário neoliberal que também se contrapunha às formas de participação popular. Em que pese todas as considerações ao regime chileno, Anderson (1995) nos diz que a economia chilena cresceu consideravelmente, sendo que chegou a ser tida como exemplo do governo a ser seguido, sobretudo pelo governo inglês. “[...] a economia chilena cresceu a um ritmo bastante rápido sob o regime de Pinochet, como segue fazendo com a continuidade da política econômica dos governos pós-Pinochet dos últimos anos” (ANDERSON, 1995, p. 20), sendo que esse padrão de governo seria seguido ainda nos dias atuais. Saiba mais Um texto jornalístico, muito interessante, que evoca as várias expressões do neoliberalismo pode ser lido para uma análise crítica do caso chinelo. Veja o modelo a seguir: MATHEUS. A ditadura de Pinochet não fez do Chile um “Paraíso Neoliberal”. Voyager, 2016. Disponível em: <https://voyager1.net/politica/ falso-paraiso-neoliberal/>. Acesso em: 11 mar. 2019. Observe, nesse texto, todos os efeitos da adesão à agenda neoliberal para o Chile. Além da experiência chilena, temos a Bolívia, no ano de 1985, com a consolidação do regime neoliberal por Jeffrey Sachs. Sachs preparou as bases para o governo do general Banzer, algo também aplicado por seu sucessor Victor Paz Estenssoro. Na Bolívia, no entanto, a intervenção não esteve voltada a combater o movimento sindical e trabalhista, mas sim a conter os níveis elevadíssimos de inflação. Outrossim, não tivemos a consolidação de um regime ditatorial como no Chile. Esses regimes, até a década de 1980, foram hegemônicos na América Latina, ou seja, apenas Chile e Bolívia possuíam Estados já adequados aos princípios neoliberais. A partir da década de 1990, tivemos a adesão de outros Estados, citados anteriormente sendo esses: [...] a presidência de Salinas, no México, em 88, seguida da chegada ao poder de Menem, na Argentina, em 89, da segunda presidência de Carlos Andrés Perez, no mesmo ano, na Venezuela, e da eleição de Fujimore, no Peru, em 90. 61 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 03 /1 9 POLÍTICA SOCIAL NO BRASIL Nenhum desses governantes confessou ao povo, antes de ser eleito, o que efetivamente fez depois de eleito. Menem, Carlos Andrés e Fujimore, aliás, prometeram exatamente o oposto das políticas radicalmente antipopulistas que implementaram nos anos 90 (ANDERSON, 1995, p. 20-21). Consequentemente, os valores neoliberais também se mostraram influentes nos estados latino-americanos. Porém, falar de neoliberalismo demanda essencialmente discutir o documento que se convencionou denominar por Consenso de Washington. O Consenso de Washington foi um documento elaborado em Washington, nos Estados Unidos, no ano de 1989. Foi feito a partir de uma reunião em que os representantes dos países mais ricos do mundo e ainda responsáveis por organismos financeiros internacionais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) buscaram encontrar alternativas para superar o subdesenvolvimento observado em alguns países. Assim, os representantes envolvidos no Consenso de Washingtonbuscavam encontrar uma solução para o subdesenvolvimento (COUTO, 2010). Como “conclusão” dessa reunião, identificou-se que o subdesenvolvimento, que afetava grande parte dos países, devia-se ao excesso de gastos destes na área social. No caso, para que o subdesenvolvimento pudesse ser superado, era necessário que houvesse uma redução dos gastos nessa área. Para condicionar os países à adesão do que era posto pelo Consenso de Washington, a concessão de empréstimos ficou condicionada à aceitação de tais princípios. Assim, se um país desejasse receber recursos na modalidade de empréstimo, por exemplo, do FMI ou do BID, seria necessário reduzir os gastos na área social. Couto (2010) nos diz que em decorrência disso, os serviços sociais foram sendo desmantelados em todo o mundo. As políticas sociais passam a ser novamente residuais, pontuais. Evoca-se, a partir de então, a ação da caridade em relação às expressões da pobreza, e o Estado vai, aos poucos, minimizando suas intervenções na área social. A política social passa a ser destinada apenas a atender os mais empobrecidos e, dentre estes, os mais vulnerabilizados, pondo fim, assim, ao caráter universal que antes perpassava as ações em política social. “Retorna-se a política da meritocracia, onde ser pobre é atributo de acesso a programas sociais, que devem ser estruturados na lógica da concessão e da dádiva, contrapondo-se ao direito” (COUTO, 2010, p. 71). Há, assim, uma mutação na qual os poderes universais de proteção social são substituídos pela particularização dos benefícios sociais. Apesar de aceito por grande a totalidade dos Estados, sobretudo a partir da década de 1990, teóricos e filósofos vinculados à corrente marxista têm se contraposto a essa forma de compreensão sobre o papel do Estado. Na sequência, veremos como esses formatos de Estado foram constituídos na realidade brasileira, partindo de colocações que nos deixam conhecer a consolidação do Sistema de Seguridade Social, bem como bem como as propostas para o desmonte desse sistema. 62 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 03 /1 9 Unidade II 5.1 Os anos 1980 e o Sistema de Seguridade Social no Brasil A década de 1980 foi a que evidenciou os processos de democratização de nosso país. A grande expressão desse processo de abertura democrática foi a eleição presidencial de Tancredo Neves e José Sarney, no ano de 1985. Essa foi a primeira eleição direta que tivemos em nosso país, a eleição desses presidentes deu-se devido à popularidade de Tancredo Neves (COUTO, 2010). No entanto, Tancredo Neves veio a falecer e, como sabemos, quem governou o país fora o vice-presidente, José Sarney. Esse presidente, por sua vez, buscou reorganizar o processo econômico por meio de planos de regulação econômica, mas também buscou alcançar a hegemonia popular, já que era latente sua impopularidade frente o povo brasileiro. No âmbito do plano econômico, destaca-se o Plano Cruzado, que consistiu em uma série de medidas para recuperar o crescimento econômico do país. No que se referem ao Plano Cruzado, as medidas de congelamento dos preços, dos salários e do câmbio geraram um clima favorável junto à população, especialmente a assalariada, que respondeu aos apelos do próprio governo para ser fiscalizadora dos abusos dos preços (COUTO, 2010, p. 144). No caso, os preços deveriam ser fiscalizados por todos os brasileiros e, aliás, havia uma cartilha com sugestão de preços para uma série de mercadorias. Os salários, porém, permaneceram congelados, ou seja, eles não podiam ser elevados. No âmbito do processo de democratização, no governo Sarney, que são oferecidas as bases para o movimento constituinte. Esse movimento impulsionou a democratização e resultou na elaboração da Constituição de 1988. Essa Constituição foi marcada por profundas mudanças, mas o que indicaremos é a mudança em relação à política social. O governo Sarney, no que diz respeito à política social, desenvolveu raríssimas intervenções. No caso, a que se tornou mais popular e marca desse governo foi o chamado Programa do Leite. Segundo Behring e Boschetti (2010), essas intervenções eram desenvolvidas concedendo-se leite para as populações empobrecidas, mas essa era uma intervenção de caráter focalista, assistencialista e compensatória frente às desigualdades sociais cada vez mais latentes em nosso país. No âmbito das condições de vida da população, Couto (2010) chama a nossa atenção para os níveis cada vez mais elevados de pobreza e que atingia grande parcela da população brasileira, apesar de várias intervenções do Estado para recuperar a economia brasileira. Expandiu-se o estoque de pobreza, resultante dos períodos anteriores, mas especialmente dos governos militares, que, com suas orientações econômicas de desenvolvimento, produziram um país com uma péssima distribuição de renda e aumentaram a parcela da população demandatária das políticas sociais (COUTO, 2010, p. 141). 63 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 03 /1 9 POLÍTICA SOCIAL NO BRASIL Esse empobrecimento motivou a organização das políticas sociais, mas também veio balizada pela pressão popular, que exigia condições melhores de vida para a população, sobretudo por meio de políticas sociais. Temos como representativa desse período uma gama de movimentos sociais e de pressões populares, dentre os quais, destacamos o Movimento de Reforma Sanitária, que reivindicou, como sabemos, saúde pública, de direito de todos os cidadãos, independentemente de contribuição. Observação A seguridade social brasileira incorpora intervenções na área da assistência social, da saúde e da previdência social. No que concerne à política social, é a partir da Constituição de 1988 que foi firmado o que se convencionou chamar por seguridade social. A seguridade social passa, a partir de então, a ser composta de políticas de saúde, previdência social e saúde. Vejamos o artigo 194 da Constituição Federal, em que é feita menção à composição do Sistema de Seguridade Social brasileiro. “Art. 194 – A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social” (BRASIL, 1988). As ações do sistema em questão passaram a abrir a possibilidade de serem partilhadas pelo Estado com a sociedade civil, porém a primazia de responsabilidade é do poder público, quer seja no âmbito do Governo Federal, do Estado ou do município. Os recursos para o financiamento, porém, devem advir de diversas fontes, dentre as quais, conforme posto no artigo 195 da referida Constituição: I – do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre: (Alterado pela EC-000.020-1998) a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício; b) a receita ou o faturamento; c) o lucro; II - do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, não incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo regime geral de previdência social de que trata o Art. 201; III – sobre a receita de concursos de prognósticos; 64 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 03 /1 9 Unidade II IV – do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar (BRASIL, 1998). Portanto, por diversas fontes de recursos, dentro das especificidades de cada intervenção, deve-se ter como norte os seguintes objetivos, conforme preconiza o parágrafo único do artigo 194: I – universalidadeda cobertura e do atendimento; II – uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais; III – seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços; IV – irredutibilidade do valor dos benefícios; V – equidade na forma de participação no custeio; VI – diversidade da base de financiamento; VII – caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do Governo nos órgãos colegiados. Assim, essas foram as bases iniciais para a organização do Sistema de Seguridade Social. Na sequência, discorreremos sobre as políticas que integram esse sistema, começando pela política de saúde. No entanto, é fundamental que se considere que aqui oferecemos informações sobre a legislação fundamental que orienta essas intervenções. Porém, dada a amplitude das intervenções relacionadas a essas políticas, é importante atentar-se para o fato de que não esgotaremos todas as informações sobre as intervenções nas áreas da saúde, assistência e previdência social. Começamos, assim, a apresentar as indicações com relação à área da saúde. Importante frisar que o presente material foi elaborado com base na legislação vigente durante o ano de 2018. Com a mudança presidencial, pode haver alterações na disposição das políticas sociais em questão. 5.2 A política social de saúde É importante destacar que até então apenas os segmentos que contribuíam com um regime de previdência privada é que tinham o atendimento de saúde. Grande parcela da população permanecia dependendo da caridade ou da filantropia prestada, sobretudo por meio de Santas Casas. Porém, com a Constituição Federal isso mudou substancialmente. Logo, a política de saúde passa a ser tida como direito de cidadão e dever do Estado. A partir de então, a saúde deixa de ser uma política contributiva e passa a ser extensiva a toda a população. A saúde só foi regulamentada, no entanto, pela Lei Orgânica da Saúde, publicada em 1990, ou LOS, conforme ficou 65 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 03 /1 9 POLÍTICA SOCIAL NO BRASIL popularmente conhecida. A LOS foi organizada para que fosse possível regulamentar o direito à saúde posto na Constituição. No entanto, a política de saúde teve um rol de legislações normativas para que fosse regulamentada e não será possível aqui detalharmos todos esses documentos. Cabe, entretanto, destacar que foi um marco o fato de que, a partir de então, a saúde não precisava mais ser contributiva, e sim direito de todos os cidadãos. Todavia, para compreendermos melhor essas intervenções, faremos aqui menção apenas à LOS, da qual teremos informações básicas sobre a política social de saúde. Segundo o disposto da Lei nº 8.080 (BRASIL, 1990), no artigo 2º, a política de saúde passa a ser “[...] um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício”, ou seja, não mais algo alcançado apenas para quem contribuísse, e mais, de responsabilidade do Estado. Reza a lei que o Estado pode contar com a sociedade civil, inclusive podendo contratar serviços vinculados à iniciativa privada, porém o poder público passa a ser o grande responsável por executar e organizar as ações no âmbito da saúde pública. Para a referida normativa, o Estado deverá ainda formular intervenções não só na área da saúde, mas em outras, como, por exemplo, nas políticas sociais e econômicas, tendo em vista o bem-estar da população. Diante disso, é possível observar que a compreensão do que influencia na manutenção dos estados saúde-doença muda, ou seja, considera-se que a ocorrência de determinadas patologias está também relacionada às condições sociais e econômicas vivenciadas pela população. Diante de tais colocações, a LOS possui como objetivos, conforme o artigo 5º: I – a identificação e divulgação dos fatores condicionantes e determinantes da saúde; II – a formulação de política de saúde destinada a promover, nos campos econômico e social, a observância do disposto no § 1º do art. 2º desta lei; III – a assistência às pessoas por intermédio de ações de promoção, proteção e recuperação da saúde, com a realização integrada das ações assistenciais e das atividades preventivas (BRASIL, 1990). Portanto, a saúde passa a ser desenvolvida por meio de ações preventivas, tais como a identificação e divulgação de fatores que condicionam ou determinam o estado de saúde. A dimensão curativa prevalece, dada a necessidade dela, mas a partir da LOS, a concepção de saúde vai além da simples dimensão cura e tratamento. O texto da LOS ainda disciplina que devem ser empreendidas ações de vigilância sanitária e epidemiológica, de saúde do trabalhador e de assistência terapêutica integral, o que, por sua vez, mostra-se também inovador, visto que os aspectos psicológicos são destacados como merecedores de atenção pela política social de saúde. A LOS ainda indica os princípios que devem nortear as ações em saúde, quer seja na esfera pública, quer seja na esfera privada, tal como elencado no artigo 7º. Vejamos quais são esses princípios: 66 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 03 /1 9 Unidade II I – universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência; II – integralidade de assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema; III – preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e moral; IV – igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de qualquer espécie; V – direito à informação, às pessoas assistidas, sobre sua saúde; VI – divulgação de informações quanto ao potencial dos serviços de saúde e a sua utilização pelo usuário; VII – utilização da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades, a alocação de recursos e a orientação programática; VIII – participação da comunidade; IX – descentralização político-administrativa, com direção única em cada esfera de governo [...] X – integração em nível executivo das ações de saúde, meio ambiente e saneamento básico; XI – conjugação dos recursos financeiros, tecnológicos, materiais e humanos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios na prestação de serviços de assistência à saúde da população; XII – capacidade de resolução dos serviços em todos os níveis de assistência; e XIII – organização dos serviços públicos de modo a evitar duplicidade de meios para fins idênticos Logo, como podemos observar, a saúde deve ser prestada por meio de uma série de atividades organizadas com base nos princípios informados. Assim, segundo esse modelo de saúde, não basta “apenas” o tratamento de doenças, mas torna-se importante a participação dos usuários, a informação sobre os serviços, dentre outros aspectos afins. 67 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 03 /1 9 POLÍTICA SOCIAL NO BRASIL A referida legislação ainda segue fazendo orientações sobre a saúde da população indígena, o atendimento domiciliar, a assistência terapêutica e, ainda, tece uma série de considerações sobre a prestação de serviços de saúde por empresas privadas. Também é proferida uma série de orientações sobre a questão do financiamento das ações na área da saúde. Todavia, o que podemos concluir é que essa legislação representa uma tentativa de constituir no país uma política social de saúde, tal como posto na Constituição de 1988. Apesar disso, temos que avançar naárea, tendo em vista que as ações empreendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) nem sempre são colocadas em prática tal como idealizadas em lei. Muitas vezes, cabe a nós, assistentes sociais, lutar para que o que está posto na lei seja de fato efetivado na prática. A seguir, observe a notícia reproduzida. Carência de recursos do SUS é o grande desafio do novo governo Escassez de recursos do SUS se agrava pelo aumento da demanda com a impossibilidade de a população pagar planos de assistência A carência que abate o Sistema Único de Saúde (SUS) é o principal desafio para os próximos anos. A lenta recuperação econômica que mantém um contingente de milhões de desempregados afastou a população dos planos de saúde e, consequentemente, aumentou o volume de atendimentos públicos, que conta com recursos escassos. Para minimizar o problema, um dos caminhos apontados por observadores do setor é o investimento em atenção básica. Segundo eles, dessa forma, a longo prazo, o custo em medicina especializada cairá. Internacionalmente reconhecido como um dos principais programas de saúde pública do mundo, o SUS completou três décadas exigindo uma reinvenção de sua estrutura. A Organização Pan-americana da Saúde (Opas) está preocupada com o que ocorrerá com a população devido ao subfinanciamento da saúde pública. A entidade teme que avanços, como vacinação, combate à mortalidade infantil, redução de doenças — como a Aids —, e a distribuição de medicamentos fiquem severamente comprometidos. Alcides Miranda, presidente do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde, classifica como “crônico” o subfinanciamento do SUS. “Esse é um problema que acompanha o programa desde o início. O sistema sempre operou com menos dinheiro do que necessita. É matemática, não tem como ampliar atendimento sem investimento”, explica. Ele aponta dois pontos para tentar diminuir o déficit. O primeiro é o investimento em atenção primária, que são serviços básicos, como consultas e tratamentos menos invasivos. “Quando se diagnostica uma doença em sua fase inicial, o tratamento é menos penoso ao paciente e mais barato aos cofres públicos. Para cada dólar investido na prevenção, US$ 4 seriam economizados em serviços de saúde”, acrescenta. 68 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 03 /1 9 Unidade II O especialista diz que esse ciclo reduziria gastos com atenção especializada, como grandes cirurgias e internações longas. “Não é o tempo de um mandato, mas sim uma política de estado que poria fim nisso”, conclui. Além disso, é preciso, segundo Alcides, a regionalização de saúde. “Nenhum município com mais de 10 mil habitantes consegue disponibilizar todos os serviços de saúde. A ideia de atenção integral só é viável no conceito de região”, avalia. Ele dá dicas do que poderia reforçar o caixa da saúde. “Não temos uma política tributária com relação de produtos nocivos à saúde. Esses erros persistem e precisam ser corrigidos. Uma política pública só se legitima quando tem valor de uso. O SUS tem mais que isso, ele prioriza os mais pobres, os mais vulneráveis. Precisamos ajustá-lo à sua realidade”, adverte. Dificuldades A demora no atendimento dos hospitais públicos já virou marca registrada para quem só tem a rede pública como alternativa. O aposentado Aurino Braz, 78 anos, conta que priorizar a saúde se tornou uma via de mão única, já que o estado não propicia atendimento adequado à população. “É muito demorado. Sempre tive que esperar anos para fazer qualquer tipo de procedimento”, reclama o morador do Sol Nascente, área carente de Ceilândia. Ele conta que passou mais de quatro anos esperando uma cirurgia para a revascularização do miocárdio (ponte de safena) e só foi atendido quando infartou. “Eu sabia que demoraria, porque a fila de cirurgia sempre é grande. Mas não esperava que eu tivesse que chegar a esse ponto para ser atendido. Me senti jogado, como se não tivesse importância para o meu estado. Só prestamos quando estamos trabalhando e produzindo. Depois que nos aposentamos, não representamos mais nada para o país”, lamenta. Apesar de ter feito a cirurgia, ele ainda espera atendimento e, desta vez, para um procedimento mais simples: um exame de rotina. “Já tem três anos e, sinceramente, eu não estou positivo quanto ao atendimento. Sei que vai demorar bastante”, disse. Para ele, que vive com R$ 1.032 da aposentadoria e sustenta a casa com a filha desempregada e a neta, ainda criança, a regra é esperar. “O que eu recebo como aposentado não dá para pagar nem os meus remédios controlados. Não posso me dar ao luxo de fazer exame particular quando tenho que colocar comida na mesa”, acrescenta. Palavra de especialista Falta de qualidade “Grande parte das mazelas do Sistema Único de Saúde se dão nos níveis secundários e terciários de atenção. Houve um investimento expressivo na atenção primária de saúde, que é a parte responsável pela saúde básica e o projeto saúde da família. No entanto, em relação aos cuidados intermediários e especializados, como serviços ambulatoriais e clínicas especializadas, não houve o mesmo investimento. Há um déficit grande em relação ao 69 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 03 /1 9 POLÍTICA SOCIAL NO BRASIL contingente de servidores, materiais e infraestrutura oferecidos na saúde pública. Nós temos grandes vazios assistenciais. O próximo governo terá que se debruçar em resolver questões, principalmente de funcionários, já que, com a saída dos médicos cubanos, algumas regiões ficaram com equipes incompletas. O problema da saúde brasileira não se limita apenas ao acesso público do serviço. Há, sim, uma falta de qualidade na rede particular de saúde. Os consumidores pagam caro por um atendimento que não é de qualidade. E tudo por conta da falta de competição. Se a gente tivesse um acesso mais diversificado, nós teríamos um melhor desempenho por parte da rede privada. O serviço público também corrobora para a falta de atendimento de qualidade no setor privado. Se o Sistema Único de Saúde fosse eficiente e oferecesse todos os serviços da forma adequada, a rede privada teria que se empenhar muito mais para atrair a população para os famosos planos de saúde.” Helena Eri Shimizu, professora do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade de Brasília (UnB). Fonte: Correio Braziliense (2018). A precariedade dos serviços de saúde, conforme preconizado no texto prévio, contrapõem-se ao dispositivo constitucional e às leis correlatas e que primam pela qualidade da política social de saúde no Brasil. O texto indica que a carência de recursos seria um dos principais problemas para garantir um SUS de qualidade. Está de acordo com essa colocação? O que poderia ser feito para melhorar a saúde pública no Brasil? As informações elencadas apenas nos auxiliam em uma compreensão sobre a política social de saúde, mas não esgotam todos os dados sobre essa intervenção. Tendo tais colocações arroladas, passaremos a discorrer sobre a política de assistência social. Deixamos antes uma reflexão: a saúde posta nos dispositivos legais tem sido efetivada na prática? Passaremos agora ao estudo da política de assistência social. Saiba mais Indicamos as referências teóricas a seguir para uma melhor compreensão da política social de saúde. COSTA, M. D. H. da. O trabalho nos serviços de saúde e a Inserção dos(as) Assistentes Sociais. Serviço Social e Saúde, FNEPAS, 2006. Disponível em: <http://www.fnepas.org.br/pdf/servico_social_saude/texto2-7.pdf> Acesso em: 11 mar. 2019. 70 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 03 /1 9 Unidade II NOGUEIRA, V. M. R.; MIOTO, R. S. T. Desafiosatuais no Sistema Único de Saúde – SUS e as Exigências para os Assistentes Sociais. Serviço Social e Saúde, FNEPAS, 2006. Disponível em: <http://www.fnepas.org.br/pdf/ servico_social_saude/texto2-4.pdf>. Acesso em: 11 mar. 2019. Neles vemos uma série de reflexões sobre a atuação do assistente social na política de saúde. Vale a pena a leitura e a reflexão do que os autores destacam nesses artigos. 5.3 A política social de assistência social A assistência social é uma política social que integra o tripé da seguridade social, porém, com uma esfera de atuação totalmente distinta da saúde e da previdência social. Conhecê-la é condição para que se possa compreender, de maneira plena, acerca da seguridade social brasileira. Saiba mais Indicamos o material a seguir como apoio para compreensão da Política Nacional de Assistência Social (PNAS). TEIXEIRA, S. M. Trabalho Interdisciplinar no CRAS: um novo enfoque e trato a pobreza. Textos e Contextos, Porto Alegre, v. 9, n. 2, p. 286-297, ago./ dez. 2010. Disponível em: <http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/ fass/article/viewFile/7032/5781>. Acesso em: 11 mar. 2019. Nele vemos uma clara menção à PNAS, além de destacar a relevância da ação interdisciplinar no Centro de Referência de Assistência Social (Cras), equipamento essencial à assistência social. A assistência social por sua vez adquiriu o status de política social, passando a ser responsabilidade do Estado e não mais uma intervenção pontual e que contava apenas com a sociedade civil. A assistência social, porém, só foi regulamentada a partir da Lei Orgânica da Assistência Social, ou Loas, promulgada em 1993. No âmbito da regulamentação, a assistência social demorou um pouco mais em relação à política de saúde, visto que ela só passou a ter uma regulamentação específica a partir de 2004, quando foi publicada a PNAS. Porém, essa não foi a única normativa da política de assistência social, sendo que foram organizadas uma série de normativas, resoluções, decretos para regulamentar as intervenções assistenciais. A assistência social passa também a ser organizada sob a perspectiva da prioridade da responsabilidade do Estado. Sendo agora regulamentada com uma política que provê mínimos sociais para todos os segmentos que dela necessitarem, independentemente de haver contribuição prévia. E, para isso, é constituída uma série de intervenções, benefícios e serviços para que a política de assistência social seja operacionalizada na prática. 71 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 03 /1 9 POLÍTICA SOCIAL NO BRASIL Tomando como referência a Loas, observamos que a assistência social passa a ser compreendida como [...] direito do cidadão e dever do Estado, é Política de Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas (BRASIL, 1993). A partir dessa definição, é possível incorrer que as ações na área da assistência social precisam ser compreendidas como direito e não benesse, e, mais, que são de primazia de responsabilidade do Estado. Além disso, decorrendo da definição anterior, podemos inferir que se trata de política social não contributiva e destinada à provisão de mínimos, ou seja, a garantia de atendimento das necessidades básicas. Contudo, aproximando-nos das Loas, poderemos também compreender outras informações sobre essa intervenção, dentre as quais os objetivos, as diretrizes e princípios, além de destacar as modalidades de proteção organizadas. Já com relação aos objetivos postos no artigo 2º, a Loas (BRASIL, 1993) destaca os seguintes: I – a proteção social, que visa à garantia da vida, à redução de danos e à prevenção da incidência de riscos, especialmente: (Redação dada pela Lei nº 12.435, de 2011) a) a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011) b) o amparo às crianças e aos adolescentes carentes; (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011) c) a promoção da integração ao mercado de trabalho; (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011) d) a habilitação e reabilitação das pessoas com deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; e (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011) e) a garantia de 1 (um) salário-mínimo de benefício mensal à pessoa com deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família; (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011) II – a vigilância socioassistencial, que visa a analisar territorialmente a capacidade protetiva das famílias e nela a ocorrência de vulnerabilidades, de ameaças, de vitimizações e danos; (Redação dada pela Lei nº 12.435, de 2011) III – a defesa de direitos, que visa a garantir o pleno acesso aos direitos no conjunto das provisões socioassistenciais (BRASIL, 1993). 72 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 03 /1 9 Unidade II É objetivo dessa política realizar a proteção social, tendo em vista a proteção à vida, a redução de danos e prevenção de riscos. O foco de tais ações deve ser orientado a família, maternidade, crianças e adolescentes e idosos. A legislação ainda destaca que se faz necessária uma intervenção das pessoas com deficiência. Sobre a proteção social, a Loas ainda destaca que há programas de proteção social básica e de proteção social especial. No que diz respeito à proteção social básica, ela é compreendida segundo o artigo 6º, como sendo: [...] conjunto de serviços, programas, projetos e benefícios da assistência social que visa a prevenir situações de vulnerabilidade e risco social por meio do desenvolvimento de potencialidades e aquisições e do fortalecimento de vínculos familiares e comunitários (BRASIL, 1993). São intervenções preventivas e destinadas a resolver situações em que as pessoas atendidas ainda não tiveram o vínculo familiar rompido. A proteção social básica deverá ser desenvolvida no Cras ou em equipamentos conveniados com tal finalidade. O Cras torna-se a grande representação de intervenção da assistência social no Brasil, porém, não é o único. Por exemplo, no texto indicado anteriormente, temos um interessante relato sobre a prática desenvolvida no Cras. Se ainda não o leu, recomendamos que o faça substancialmente, para que entenda ainda mais a respeito do tema. Já a proteção social especial é descrita, no mesmo artigo, parágrafo único, como sendo um: [...] conjunto de serviços, programas e projetos que tem por objetivo contribuir para a reconstrução de vínculos familiares e comunitários, a defesa de direito, o fortalecimento das potencialidades e aquisições e a proteção de famílias e indivíduos para o enfrentamento das situações de violação de direitos (BRASIL, 1993). São situações e pessoas que, além da vulnerabilidade social, vivenciaram a fragilização dos vínculos familiares. Já os serviços de proteção social especial deverão ser executados no âmbito do Centro de Referência Especializado da Assistência Social ou Creas, e também em equipamentos conveniados. A seguir, observe a descrição, em uma notícia, de uma intervenção desenvolvida pelo Creas de Manhuaçu, em Minas Gerais. CREAS orienta pessoas em situação de rua e limpa ponte na Baixada MANHUAÇU (MG) – Em mais uma intervenção bem-sucedida na semana passada, a Prefeitura de Manhuaçu, através da Secretaria de Trabalho e Desenvolvimento Social e o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), realizaram a limpeza de uma ponte, que fica no bairro Baixada, e orientou usurários de drogas. 73 Re vi sã o: K le be r - D ia gr amaç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 03 /1 9 POLÍTICA SOCIAL NO BRASIL A intervenção foi feita especificamente na ponte localizada próximo à Casa Leitão, que vinha sendo usada por moradores de rua e usuários de drogas. De acordo com a coordenadora do Creas, Glenda Miranda, a intervenção foi realizada com êxito. “Recebemos pedido dos moradores locais para que fizéssemos a retirada de pessoas que usam o local para consumo de drogas. Também retiramos pertences e orientamos os usuários sobre seus direitos e deveres”, comentou a coordenadora. Os moradores locais também foram orientados a fechar o acesso da ponte para que os usuários de drogas não voltassem a utilizar o espaço novamente. Nas ações, o Creas contou com os trabalhos de funcionários do Serviço Autônomo de Limpeza Urbana (Samal), diretor Romilson Barroso, Jurandir, Jose Carlos, Adeir, Jonatam; bem como com policiais militares tenente Suelen e sargentos Macdarlley e Ageu. Programa Reintegrar Os trabalhos realizados na semana passada fazem parte do Programa Reintegrar, que visa especificamente a garantia de direitos das pessoas em situação de rua. A campanha é permanente e busca sensibilizar a população sobre a conduta frente aos indivíduos em situação de rua. Por isso, nos casos em que a pessoa em situação de rua cometer algum delito, furtar, provocar transtornos ou mesmo coagir alguém a dar dinheiro é importante que seja acionada a Polícia Militar. Serviços Oferecidos Abordagem diárias às pessoas em situação de rua (migrante ou não); oferta de passagens ao migrante conforme convênio do Município. Escala de plantão aos sábados de 7 h às 11 h; albergue municipal com oferta de jantar, banho, pernoite e café da manhã (uso de acordo com regimento interno); encaminhamento e triagem para a Casa de Acolhimento Bom Samaritano; acompanhamento das famílias dos usuários; encaminhamento e acompanhamento dos indivíduos que possuem dependência de álcool e outras drogas e desejam tratamento para o CAPS-AD. Secretaria de Comunicação Social – Prefeitura de Manhuaçu Adaptado de: Portal Caparaó (2018). Nela vemos a ação desenvolvida, que, como podemos supor, está muito além da concessão de benefícios eventuais, historicamente vinculados à assistência social. Temos uma experiência diferenciada desenvolvida nos grupos mais vulneráveis de uma dada sociedade. Também é posto como objetivo de tal política realizar a vigilância socioassistencial que se baseia no levantamento de dados sobre o território a fim de instrumentalizar a intervenção a ser desenvolvida. E, 74 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 03 /1 9 Unidade II por outro lado, é destacada, ainda, a importância da defesa dos direitos, sendo que as ações nessa área são tidas como direito, e não mais como concessão. E, para que tais ações sejam colocadas em prática, a Loas ainda destaca uma série de princípios e objetivos. Os princípios são descritos no artigo 4º: I – supremacia do atendimento às necessidades sociais sobre as exigências de rentabilidade econômica; II – universalização dos direitos sociais, a fim de tornar o destinatário da ação assistencial alcançável pelas demais políticas públicas; III – respeito à dignidade do cidadão, à sua autonomia e ao seu direito a benefícios e serviços de qualidade, bem como à convivência familiar e comunitária, vedando-se qualquer comprovação vexatória de necessidade; IV – igualdade de direitos no acesso ao atendimento, sem discriminação de qualquer natureza, garantindo-se equivalência às populações urbanas e rurais; V – divulgação ampla dos benefícios, serviços, programas e projetos assistenciais, bem como dos recursos oferecidos pelo Poder Público e dos critérios para sua concessão (BRASIL, 1993). Portanto, os serviços devem ser universais, respeitar a dignidade do cidadão, ser organizados de forma que não haja discriminação e devem ser amplamente divulgados. Precisam ainda considerar com maior destaque a necessidade social e não a comprovação de renda. Já as diretrizes estão postas no artigo 5º: I – descentralização político-administrativa para os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, e comando único das ações em cada esfera de governo; II – participação da população, por meio de organizações representativas, na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis; III – primazia da responsabilidade do Estado na condução da política de assistência social em cada esfera de governo (BRASIL, 1993). E, nesse sentido, a legislação se torna precursora ao destacar a importância de que a assistência social seja organizada de forma descentralizada e não mais centrada no Governo Federal e que seja uma política que viabilize a participação popular. A participação popular passa a ser viabilizada por meio de conselhos e conferências. Na sequência, reafirma a relevância da primazia de responsabilidade do Estado na gestão da política de assistência social. 75 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 03 /1 9 POLÍTICA SOCIAL NO BRASIL No que diz respeito aos benefícios, a assistência social elenca uma série de benefícios, programas e projetos a serem desenvolvidos no âmbito da política, sendo que tais colocações são empreendidas a partir do artigo 20. Dentre os benefícios, são apresentados o de prestação continuada e os benefícios eventuais. Os benefícios eventuais são destinados a provisões de mínimos em situações emergenciais. O Benefício de Prestação Continuada (BPC) consiste na concessão de um salário mínimo destinado ao idoso a partir de 65 anos ou ao portador de necessidades especiais que comprovem não ter meios para garantir a sobrevivência ou de tê-las providas por seus familiares. Os programas, por sua vez, de acordo com o artigo 24 (BRASIL, 1993) “[...] compreendem ações integradas e complementares com objetivos, tempo e área de abrangência definidos para qualificar, incentivar e melhorar os benefícios e os serviços assistenciais”. Os programas tendem a complementar os benefícios e os serviços desenvolvidos no âmbito da assistência social. Assim, a Loas foi revisada no ano de 2011 e nossas colocações estão embasadas já na revisão da lei em questão. No entanto, é preciso atentar para o fato de que somente no ano de 2004, com a PNAS, que a assistência social adquire uma regulamentação mais específica. Partindo desses dispositivos, é organizada uma série de serviços para atender o público alvo da assistência social. E, dessa forma, concluímos nossas exposições sobre a PNAS. Recomendamos a leitura das indicações de texto contidas também nos itens “Saiba Mais”, a fim de aprofundar-se nos temas. Na sequência, realizaremos uma discussão sobre a previdência social. 5.4 A previdência social A previdência social é a terceira política social que integra a seguridade social no Brasil. A previdência social, por sua vez, mantém seu caráter contributivo, mas há uma série de categorias que podem contribuir com o regime de previdência social. Assim, diferentemente da saúde e da assistência social que não exigem contribuição, para a previdência social é basal a contribuição. A previdência social passou a ser operacionalizada por meio do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS), sendo que esse órgão foi criado no ano de 1990, durante o então governo do presidente Fernando Collor de Mello. Atualmente, a previdência social organiza a contribuição dos brasileiros para que possam ser atendidos quando não mais puderem trabalhar, por exemplo nos casos de doença, acidentes, ou idade. Quaisquer dos benefícios da previdência social requerem contribuição prévia. No entanto, há um rol imenso de benefícios operacionalizados pela previdência social brasileira,dentre os quais podemos destacar as aposentadorias, os auxílios e as pensões. Com relação às aposentadorias, temos as modalidades especial, por idade, por invalidez e por tempo de contribuição. Os auxílios, por sua vez, estão agrupados de acordo com as categorias acidente, doença e reclusão. As pensões são por morte e especial, além de salário-família, salário-maternidade e a previdência social também faz a administração do BPC (BRASIL, 2013). 76 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 03 /1 9 Unidade II Vejamos as explicações, resumidas sobre cada benefício. A aposentadoria especial trata-se de: [...] Benefício concedido ao segurado que tenha trabalhado em condições prejudiciais à saúde ou à integridade física. Para ter direito à aposentadoria especial, o trabalhador deverá comprovar, além do tempo de trabalho, efetiva exposição aos agentes nocivos químicos, físicos, biológicos ou associação de agentes prejudiciais pelo período exigido para a concessão do benefício (15, 20 ou 25 anos) (BRASIL, 2013). Já a aposentadoria por idade concede o direito para trabalhadores urbanos do sexo masculino com mais de 65 anos e do gênero feminino com 60 anos, mas, em ambos os casos, é necessária contribuição. Essa modalidade de aposentadoria também pode ser solicitada pelo trabalhador rural com 60 anos para os homens e 30 anos para as mulheres (BRASIL, 2013). A aposentadoria por invalidez é concedida sempre que o trabalhador, por doença ou acidente, seja incapacitado para a atividade laboral. Já a aposentadoria por tempo de contribuição, por sua vez, faz referência a uma modalidade em que [...] Para ter direito à aposentadoria integral, o trabalhador homem deve comprovar pelo menos 35 anos de contribuição e a trabalhadora mulher, 30 anos. Para requerer a aposentadoria proporcional, o trabalhador tem que combinar dois requisitos: tempo de contribuição e idade mínima (BRASIL, 2013). Agora, passaremos a discutir sobre os auxílios que são benefícios para socorrer o contribuinte em um momento desvalido e, portanto, não são aposentadoria. De tal forma, o auxílio-acidente é devido ao trabalhador que sofreu um acidente que o incapacitou para a vida laboral; o auxílio-doença destina-se a atender o contribuinte que seja acometido por doença que o impeça de trabalhar por mais de 15 dias e o auxílio reclusão refere-se a um benefício concedido para a família do trabalhador preso, desde que ele tenha contribuído com o regime previdenciário (BRASIL, 2013). E, por fim, as pensões são recursos pagos para alguns momentaneamente e outros vitalícios. Nos termos postos, a pensão por morte é destinada ao familiar do trabalhador quando este falece; a pensão especial por outro lado refere-se ao benefício pago aos portadores da Síndrome da Talidomida. Cabe destacar que trata-se de uma síndrome que acomete crianças em que as mães na gestação ingeriram talidomida, resultando em malformação ou ausência dos membros (BRASIL, 2013). Temos ainda as pensões salário-família, salário-maternidade e BPC. Sobre o BPC, já explicamos quando realizamos o estudo da política de assistência social, restando apenas explicar sobre o salário-família e o salário-maternidade. O salário-família é [...] benefício pago aos segurados empregados, exceto os domésticos, e aos trabalhadores avulsos com salário mensal de até R$ 915,05, para auxiliar no sustento dos filhos de até 14 anos de idade ou inválidos de qualquer idade” (BRASIL, 2013). 77 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 03 /1 9 POLÍTICA SOCIAL NO BRASIL Já o salário-maternidade: [...] é devido às seguradas empregadas, trabalhadoras avulsas, empregadas domésticas, contribuintes individuais, facultativas e seguradas especiais, por ocasião do parto, inclusive o natimorto, aborto não criminoso, adoção ou guarda judicial para fins de adoção, ou seja, são benefícios diferenciados pagos aos contribuintes para situações (BRASIL, 2013). Consequentemente, há um rol de serviços que são organizados, além da aposentadoria. Sempre que uma pessoa necessita do auxílio, precisa recorrer ao Instituto INSS. Nesse Instituto, há uma grande quantidade de técnicos, profissionais administrativos e peritos, médicos e assistentes sociais, para avaliação de determinados benefícios como o BPC. Como é possível inferir, cada tipo de aposentadoria, pensão ou auxílio possui determinadas especificidades. O que apresentamos foi apenas uma explicação sucinta obtida no site da previdência social. É necessário reforçar ainda que vivenciamos ao final de 2018 uma proposta de reforma previdenciária, ou seja, as indicações aqui subscritas com relação aos regimes de aposentadorias e pensões poderão sofrer alterações. Com isso, concluímos nossos estudos sobre a seguridade social brasileira, ao menos no que concerne a sua constituição atual. Na sequência, discorreremos sobre a influência que o ideal neoliberal traz para as políticas sociais, sobretudo as políticas de seguridade social. Saiba mais Para informações adicionais sobre a seguridade social brasileira, acesse: <www.mds.gov.br>. <www.previdenciasocial.gov.br>. <www.saude.gov.br>. Em tais sites, há muitos dados sobre os serviços desenvolvidos, além de normativas e atualizações constantes. Dessa maneira, concluímos análise do contexto dos anos 1980 e também apresentamos informações sobre o Sistema de Seguridade Social constituído naquele momento e que vigora até hoje. Na sequência, avançaremos no estudo sobre o neoliberalismo, agora, considerando a sua influência no Estado brasileiro. 78 Re vi sã o: K le be r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 03 /1 9 Unidade II 6 O AVANÇO DO NEOLIBERALISMO NO BRASIL Realizamos algumas observações sobre o neoliberalismo no decurso desse livro-texto. Porém, consideramos que seja importante retomar parte de nossas colocações. Assim, destacaremos os princípios que orientam essa forma de compreensão dos fenômenos sociais e, sobretudo, o papel do Estado na sociedade contemporânea. Atrelado a essa análise, idealizamos ainda tecer considerações sobre o desenvolvimento de tal concepção na realidade brasileira, especificamente no que diz respeito ao papel assumido pelo Estado brasileiro para atender os dispositivos neoliberais. Antes de iniciarmos tais colocações, será necessário ainda retomar a compreensão sobre o keynesianismo, uma forma de entendimento do papel do Estado que antecedeu o neoliberalismo. Assim sendo, é importante relembrar que as ideias keynesianas começam a se desenhar na Europa no período em que o capitalismo vivenciava sua fase madura e consolidada. Nessa época, configurou-se um estágio em que houve um intenso processo de monopolização do capital por meio da intervenção do Estado na economia. Partindo disso, é preciso pontuar que a monopolização conduz à formação dos oligopólios privados em diversas formas de fusão (BEHRING; BOSCHETTI, 2010). Assim, grandes empresas compram outras, menores, para terem o domínio dos mercados. Vejamos a seguir uma notícia apenas para ilustrar o que estamos discutindo: Exclusividade na venda de cerveja no Carnaval afeta concorrência, diz Fazenda Cade afirma que vai investigar a denúncia, que envolve casos em 19 cidades, inclusive o Rio BRASÍLIA – A exclusividade na venda de bebidas em festas como o carnaval entrou na mira de órgãos de defesa da concorrência e do consumidor. A Secretaria de Promoção da Produtividade e Advocacia da Concorrência (Seprac), ligada ao Ministério da Fazenda, enviou um parecer a órgãos fiscalizadores alertando para o risco de monopólio de marcas patrocinadoras das festividades. A investigação começou em 2017 e envolveu casos
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