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Furto Privilegiado e a aplicação da teria do pequeno valor na atualidade

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Furto Privilegiado e a aplicação da teria do pequeno valor na atualidade.
Isabela de Sousa Zorgdrager
isabelazorgdrager@gmail.com
Resumo:
Este artigo tem como escopo fazer uma análise do princípio da insignificância e da sua importância para o direito penal, analisando os seus fundamentos e abordando a figura do delito de furto. Haverá um exame acerca da aplicação desse princípio no crime de furto e de como a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal vem se posicionando quanto à aplicação do referido princípio, sobretudo nas situações de crimes de bagatela.
Palavras-chave: Princípio da insignificância. Crime de furto. Aplicação. Magistrados. Tribunais Superiores.
O furto “privilegiado”
Furto privilegiado é aquele previsto no art. 155, § 2º, do CP, in verbis:
Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel
§ 2º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa.
O furto “privilegiado” consiste, na verdade, em um furto com causa de diminuição de pena, nos seguintes termos: “se o criminoso é primário, e é de pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa.”
Quando o objeto subtraído não é de grande valor, a defesa postula a aplicação do princípio da insignificância (art. 386, III, do Código de Processo Penal). Para o caso de não acolhimento do pedido de aplicação do princípio da insignificância, que seja aplicada a causa de diminuição da pena prevista no art. 155, § 2º, do Código Penal.
A distinção entre o enquadramento em uma ou outra situação depende da distinção entre “insignificante” e “pequeno valor”. Na primeira hipótese, o réu é absolvido; na segunda, condenado com a diminuição da pena.
Atualmente, são dois os principais critérios usados na aferição do “pequeno valor”:
Refere-se ao prejuízo efetivamente sofrido pelo ofendido. 
É relativo ao valor da coisa e não ao prejuíz0. Quanto à quantidade que se considera como “pequeno valor” ,tem-se em vista, geralmente, valor igual ou inferior ao salário mínimo, que pode, porém, ser ultrapassado em casos especiais.
Diante de tais considerações, fácil notar a distinção entre os dois institutos. No furto privilegiado, a subtração de coisa de pequeno valor leva à caracterização da tipicidade. Portanto, haverá crime, ainda que o agente seja beneficiado na fase de aplicação da pena. 
Já na subtração de coisa de valor ínfimo ou irrisório, sequer haverá tipicidade, em razão do princípio da insignificância. Isto porque o caráter subsidiário do direito penal impede que este se ocupe de lesões manifestamente irrisórias, deixando a intervenção do ordenamento jurídico para outros ramos do direito. 
 Temos visões que defendem o “pequeno valor” como uma quantia consideravelmente mais alta que uma proposta acusatória.
Para TOLEDO, “o direito penal, por sua natureza fragmentária, só vai até onde seja necessário para a proteção do bem jurídico. Não deve ocupar-se de bagatelas”. Conclui ainda o referido autor que a aplicação de tal princípio “permite que o fato penalmente insignificante seja excluído da tipicidade penal”. 
Diante de tais considerações, fácil notar a distinção entre os dois institutos. No furto privilegiado, a subtração de coisa de pequeno valor leva à caracterização da tipicidade. Portanto, haverá crime, ainda que o agente seja beneficiado na fase de aplicação da pena. 
Já na subtração de coisa de valor ínfimo ou irrisório, sequer haverá tipicidade, em razão do princípio da insignificância. Isto porque o caráter subsidiário do direito penal impede que este se ocupe de lesões manifestamente irrisórias, deixando a intervenção do ordenamento jurídico para outros ramos do direito. 
“Com relação à insignificância (crime de bagatela), sustenta-se que o direito penal, diante de seu caráter subsidiário, funcionando como ultima ratio no sistema punitivo, não se deve ocupar de bagatelas. Com efeito, essa postura decorre do princípio da intervenção mínima, que, no Estado Democrático de Direito, demanda mínima ofensividade ao bem tutelado para legitimar o braço punitivo estatal. O acolhimento da insignificância, no campo penal, gerando atipicidade material, deve respeitar três requisitos: a) consideração do valor do bem jurídico em termos concretos. Há de se avaliar o bem tutelado sob o ponto de vista da vítima, do agressor e da sociedade. Não se pode cultivar um Direito Penal elitista, preocupado apenas com a lesão a bens de valor economicamente superiores à média, pois essa posição afastaria a tutela estatal em relação aos mais pobres. Nem é preciso ressaltar os males advindos desse quadro, que, além de injusto, fomentaria divisão de classes sociais, incentivo para o exercício arbitrário das próprias razões e o descrédito no monopólio punitivo do Estado; b) consideração da lesão ao bem jurídico em visão global. O bem lesado precisa inserir-se num contexto maior, envolvendo o agente do delito, pois a prática de pequenas infrações, com frequência, pode ser tão danosa quanto um único crime de intensa gravidade. Diante disso, réus com maus antecedentes ou reincidentes não merecem a aplicação do princípio da insignificância; c) consideração particular aos bens jurídicos imateriais de expressivo valor social. Não basta o foco no valor individualizado do bem, nem a análise da pessoa do agente. Torna-se essencial captar a essência do bem tutelado, verificando a sua real abrangência e o interesse despertado para a sociedade. Não se pode, por exemplo, tratar a corrupção como algo irrelevante; quem se corrompe por pouco não comete delito de bagatela em face do interesse social relevante despertado pela conduta ilícita (...)”
CRITÉRIO ADOTADO PELO STJ E PELO STF PARA A APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA NO CRIME DE FURTO
Os critérios adotados pela jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça e pelo Supremo Tribunal Federal para a concessão do princípio da insignificância no crime de furto são:
 a) quando a conduta do agente atingir um grau mínimo de ofensividade; b) quando ocorrer a ausência da periculosidade social da sua ação;
 c) quando o seu comportamento atingir um grau insignificante de reprovabilidade; e, 
d) quando houver inexpressividade da lesão jurídica. E, neste sentido, colacionam-se abaixo os seguintes julgados do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal: 
APELAÇÃO CRIME. CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO. FURTO QUALIFICADO. CONDENAÇÃO MANTIDA. TENTATIVA RECONHECIDA. PRIVILEGIADORA. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE.
Furto privilegiado. Tem direito à privilegiadora do art. 155, § 2º, do Código Penal, o réu tecnicamente primário, visto que o crime não foi cometido com grave ameaça ou violência contra pessoa, o fato é de pequena repercussão, a coisa é de pequeno valor – equivalente ao salário mínimo vigente à época do fato – e foi restituída à vítima. Prescrição retroativa reconhecida. APELO PARCIALMENTE PROVIDO. EXTINTA A PUNIBILIDADE, DE OFÍCIO.
(Apelação Crime Nº 70045095742, Quinta Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: 
Diogenes Vicente Hassan Ribeiro, Julgado em 23/05/2012)
Ademais, é relevante notar que a súmula 511 do Superior Tribunal de Justiça (STJ) admite o furto privilegiado-qualificado, “in verbis”: “É possível o reconhecimento do privilégio previsto no § 2º do art. 155 do CP nos casos de crime de furto qualificado, se estiverem presentes a primariedade do agente, o pequeno valor da coisa e a qualificadora for de ordem objetiva.”
“PENAL. FURTO. RESTITUIÇÃO DA RES FURTIVA. EQUIPARAÇÃO A COISA DE PEQUENO VALOR. PRIVILEGIO. DESCABIMENTO.
		- O privilégio legal previsto no art. 155, par. 2º, do Código Penal, somente deve ser reconhecido quando o réu for primário e o furto tiver por objeto coisa de pequeno valor.
		- Embora seja opatrimônio o bem jurídico tutelado na regra penal que define o crime de furto, a ausência de prejuízo à vítima, em virtude da apreensão da res furtiva, não é circunstância caracterizadora do furto privilegiado.
		- Recurso especial conhecido e provido.” (Recurso Especial nº 77218 – SP, Rel. Min. VICENTE LEAL, j. 12/03/1996, D.J.U. de 02/06/1997, p. 23864).

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