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FEB - Aula 4 - Auge e crise da economia acucareira

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Ciências Sociais
Formação Econômica do Brasil
 Prof. Tadeu Silvestre da Silva
Aula 4: Auge e Crise da Economia Açucareira
1. INTRODUÇÃO
“Podemos atribuir ao cultivo da cana-de-açúcar o principal motivo pelo qual as terras brasileiras se mantiveram em mãos portuguesas por tanto tempo. Afinal, qual outro motivo explicaria o fato de um pequeno país, pouco povoado, desprovido de expressivas forças militares, ofuscado pelo poderio do império espanhol e ameaçado pela supremacia dos holandeses pudesse garantir sob o seu domínio uma joia tão preciosa?” (MENDONÇA; PIRES, 2002, p. 51).
Antes de Portugal: experiências de colonização baseavam-se no comércio, na extração de riquezas naturais ou na pilhagem.
Desde a Antiguidade, o imaginário coletivo do europeu já era habitado pela ideia da existência em alguma terra distante de um “paraíso terrestre”. As viagens de Marco Polo ao oriente (séc. XIII-XIV) e depois as os relatos sobre a África e suas minas de ouros apenas reforçaram essas lendas e despertaram a cobiça de viajantes e aventureiros. 
A descoberta América e os relatos do explorador Américo Vespúcio (1454-1512) sobre um suposto “Eldorado”, por sua vez, não só alimentaram a fantasia como tornaram os mitos verdadeira obsessão. 
A sede dos metais preciosos atraiu invasores, após as descobertas espanholas no México e no Peru. Mesmo terem sido encontrados ouro e prata no Brasil, isso não afastou a cobiça dos invasores. Franceses, ingleses e holandeses fizeram incursões a terras brasileiras desde o ciclo do pau-brasil (1500-1555), quando o comércio de especiarias com o Oriente ainda se mantinha mais rentável do que qualquer empreendimento nas inóspitas terras brasileiras.
A posse das novas terras e a resistência aos invasores exigiu a ocupação da nova terra. Um produto de grande aceitação no mercado europeu, até então, uma especiaria, o açúcar foi escolhido para dar início à ocupação do quinhão português na América.
O sistema produtivo desenvolvido pelos portugueses, para dar conta do empreendimento: o plantation. Latifúndios monocultores, baseados na mão-de-obra escrava africana, com produção voltada ao exterior, precisamente ao mercado europeu. Pelas mãos dos portugueses, a especiaria, que chegava a ser presente de rei, converter-se-ia em commodity. O negócio do açúcar articularia ainda a estrutura e a expansão do tráfico de escravos, capturados na África e negociado pelos europeus, como um negócio altamente lucrativo.
2. FATORES DO ÊXITO DA EMPRESA AGRÍCOLA
A - Tecnologia. Experiência acumulada na produção nas ilhas do Atlântico.
Como se buscava fórmula capaz de oferecer perspectivas de lucros aos aventureiros empreendedores e não havia ainda a possibilidade de extração de metais preciosos, optou-se pelo cultivo de um gênero agrícola de grande aceitação e comprovadamente de gerar vantagens comparativas�. Esse produto foi o açúcar, trazido por usineiros portugueses e comerciantes oriundos de ilhas do Atlântico, colônias de Portugal�. 
A administração e a mão de obra. Os portugueses incentivaram a imigração de europeus (administração). A opção pela mão-de-obra negra escrava decorreu do fracasso da escravização do indígena na lavoura da cana-de-açúcar� e da inviabilidade da imigração européia nesse momento histórico (questões de remuneração). 
Grandes contingentes de mão-de-obra escrava, provenientes da África aumentavam a população da colônia. Fins do século XVI: o capital empregado na mão-de-obra escrava beirava os 20% do capital fixo e a população de escravos devia ser de 20.000. 
Plantações de cana-de-açúcar e engenhos: 
Condições: localizadas nas áreas litorâneas do nordeste brasileiro (zona da mata). Clima e solo adequados e localização geográfica favorável ao embarque do açúcar rumo à Europa e o recebimento de escravos da África. As costas nordestinas logo se tornaram uma extensa região de monocultura, constituída de enormes latifúndios. O cultivo da cana-de-açúcar era extensivo (aproveitando a grande disponibilidade de terras). 
Tamanho das fazendas: enormes latifúndios, pois as de médio porte possuíam cerca de oitenta a cem escravos. 
A colônia e a geração da renda. Benefícios apenas aos latifundiários, comerciantes envolvidos no financiamento e na distribuição dessa commodity� e no tráfico de escravos. A economia do açúcar não propiciou desenvolvimento econômico à colônia. Os lucros auferidos iam parar nas mãos dos comerciantes europeus pela importação de bens de consumo por parte da aristocracia rural brasileira, representada por senhores de engenho e fazendeiros.
B - Experiência e organização comercial. Os holandeses dominavam a comercialização do açúcar brasileiro. Importante evitar super-produção. 
Os holandeses financiavam a produção e o refino de açúcar e o fornecimento de escravos (outra atividade praticada por portugueses em colônias africanas). O sistema de transporte holandês, altamente desenvolvido, ainda distribuía o produto na Europa. Os holandeses organizaram o mercado para o açúcar na Europa.
C – Ausência de concorrência. Os Espanhóis se voltaram exclusivamente à extração de ouro e prata.
Um estudo sobre o êxito inicial da empresa agrícola deve considerar também o fato de os espanhóis terem se voltado exclusivamente à extração de metais preciosos, deixando aos portugueses o monopólio do açúcar. 
D - Mão de Obra.
Portugal já possuía experiência no regime escravocrata em seus negócios na África e em outras possessões, a alta rentabilidade do açúcar tornava possível usar escravos importados, que podiam ser adquiridos em larga escala, diferente do trabalhador assalariado europeu e do indígena (nômades, viviam distribuídos nas diversas localidades do território recém-conquistado pelos portugueses).
E - Outros fatores: solo e clima apropriados.
Em conclusão. 
“Caso a defesa das novas terras houvesse permanecido por muito tempo como uma carga financeira para o pequeno reino, seria de esperar que tendesse a relaxar-se. O êxito da grande empresa agrícola do século XVI – única na época – constituiu, portanto, a razão de ser da continuidade da presença dos portugueses em uma grande extensão das terras americanas” (p. 36).
A conjugação de todos esses fatores favoráveis tornou o Brasil grande fornecedor mundial de açúcar. O mercado do produto chegou até a superar, em importância, o mercado das especiarias asiáticas, comércio dominado por ingleses e portugueses. Em um ano favorável, a receita líquida das vendas externas de açúcar beirava os dois milhões de libras esterlinas�. Para se ter uma ideia sobre a dimensão da riqueza gerada e a capacidade e autofinanciamento da empresa, em meados do século XVI, mesmo com os grandes gastos com bens de consumo, efetuados pelos senhores de engenho e donos de canaviais, restaria montante de recursos suficientes para duplicar a capacidade produtiva em apenas dois anos! Mas toda essa renda não permanecia na colônia: o destino de boa parte dessa riqueza ia para o exterior, integrando o que modernamente chamamos de renda de não-residentes. Se por um lado essa forte saída de recursos minguava as possibilidades de multiplicar a riqueza local, por outro lado, isso permitiria o equilíbrio entre produção e comercialização de açúcar, evitando, assim, a superprodução.
3. RAZÕES DO MONOPÓLIO DO AÇÚCAR
Conceitos:
Monopólio: forma de mercado na qual há um único vendedor de um produto ou serviço para um grande número de consumidores.
A vantagem do monopolista: produzir menos do que um mercado de concorrência perfeita, mas cobra um preço mais alto. A oferta do monopolista é igual à oferta e à demanda do mercado.
Um monopólio só poder persistir ao longo do tempo se houver alguma barreira de entrada.
Razões – segundo Celso FURTADO
 
Desinteresse da Espanha pela atividade açucareira
	A Espanha dispunha de condições até melhores para investir no açúcar do que Portugal, pois, além de recursos financeiros, possuía oferta de mão de obra maisqualificada e maior proximidade da Europa. 
	No entanto, “a política espanhola voltava-se a transformar as colônias em sistemas econômicos autossuficientes e produtores de um excedente líquido – na forma de metais preciosos – que se transferia periodicamente para a Metrópole” (FURTADO, p. 38). 
	Os espanhóis:
Concentraram-se nas atividades extrativas do ouro e, assim, limitaram-se a explorar regiões onde houvesse esse metal precioso. 
Não estimularam o intercâmbio entre as suas colônias.
Não fomentaram outras categorias de atividades nas colônias.
Transformações Estruturais geradas pelo afluxo de ouro na Espanha:
Crescimento desmesurado do Estado.
Grande número de pessoas inativas, vivendo de subsídios do governo.
Inflação crônica (em toda a Europa).
Desestímulo ao surgimento de atividades produtivas: desvalorização na sociedade e política da classe ligada a atividades produtivas.
O monopólio açucareiro português e a atividade mineradora espanhola:
O ouro reduziu o poder da classe produtiva espanhola, impossibilitando seu ingresso no mercado do açúcar. A entrada dos espanhóis nesse mercado teria impedido Portugal de desfrutar uma situação de monopólio por tanto tempo.
Portanto, um importante fator do êxito da empresa colonizadora agrícola portuguesa foi o desinteresse inicial e depois a decadência da Espanha:
“Houvesse a colonização espanhola evoluído nesse sentido, e muito maiores teriam sido as dificuldades enfrentadas pela empresa portuguesa para vencer” (p. 40).
A decadência econômica da Espanha, aliás, enfraqueceu suas colônias, já que fora da economia mineradora, nenhuma outra atividade econômica de importância havia sido implantada. 
4. A CRISE DA ECONOMIA AÇUCAREIRA 
Disputas entre Potências Hegemônicas do Século XVI e XVIII
Guerra dos Oitenta Anos (1568-1648) – Independência dos Países Baixos ou Revolta Holandesa frente à Espanha. Durante o conflito, a Holanda ergueu-se como uma potência hegemônica mundial, embora por curto espaço de tempo. Naquele momento, o país concentrava grande poder naval, além de experimentar um crescimento económico, científico e cultural sem precedentes. O processo de secessão iniciou-se quando nobres locais romperam com Felipe II, da Espanha. Era o contexto histórico das guerras religiosas, reflexo a Reforma Protestante. A Holanda era protestante, a Espanha católica e pró-império.
Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) – longa série de conflitos entre os Habsburgos (tendo como principal ator a Espanha e a Áustria) e as outras potências europeias, intimidadas pelo seu expansionismo. Os conflitos, que se estenderam de 1618 a 1648, exauriram a Espanha e tiveram como corolário da disputa entre os poderes dos príncipes frente ao poder do Imperador e a autoridade do papa, o surgimento do sistema de Estados da Idade Moderna.
União Ibérica (1580-1640): Período em que Portugal e Espanha foram governados pelos mesmos reis. Portugal foi anexado pela ESP. D. Sebastião (Portugal) morre prematuramente em 1578 sem deixar sucessores. D. Henrique, seu tio-avô, já idoso e doente, assume o trono, mas falece em 1580, também sem sucessores. A disputa pelo trono cresceu entre quatro pretendentes, até que as tropas espanholas, lideradas pelo Duque de Alba, invadem Portugal e entregam o trono a Felipe II, rei de Espanha, que impõe governo conjunto. Possessões portuguesas passam à Espanha.
Acordo com nobreza portuguesa garante a manutenção de órgãos administrativos portugueses nas colônias, portanto, internamente não houve alterações no Brasil.
Tratado de Tordesilhas começa a ser ultrapassado. Isso estimulou o avanço dos portugueses em direção ao interior, no sul da colônia e na Amazônia.
Inimigos da Espanha na Europa invadem o Brasil em represália ao governo espanhol.
A Holanda, um dos inimigos da Espanha, é impedida de fazer comércio em qualquer possessão espanhola. 
O comércio do açúcar no Brasil, que tinha participação holandesa é atingido. Atingidos em seus interesses, os holandeses passam a assaltar possessões portuguesas na África, na Ásia e invadem o Brasil, tentando romper o bloqueio espanhol ao comércio de açúcar. 
4.1 A ocupação holandesa do Brasil
A anexação de Portugal pela Espanha (1580-1640) marcou o início do processo de desmantelamento da economia açucareira lusitana, tornando diretas as relações comerciais do Brasil com a Holanda. 
O açúcar passou ao controle holandês, sem a intermediação de Portugal. Os holandeses tomam boa parte do nordeste brasileiro e lá ficam longos anos, desfrutando dos lucros dessa empresa. Fundam a Companhia das Índias Ocidentais, para explorar a riqueza proporcionada por esse comércio. 
Somente em meados do século XVII, novamente independentes, os portugueses puseram-se contra os invasores, que foram expulsos definitivamente em 1654. Os holandeses foram obrigados a buscar novas áreas para o cultivo da cana-de-açúcar. 
Os holandeses atacaram o nordeste brasileiro por duas vezes:
	Primeira invasão:
Atacam a Bahia, em 1624, mas fracassam, sendo expulsos em 1625.
Segunda invasão:
Ocupação: 1630 a 1650 – Pernambuco, Itamaracá, Paraíba, Sergipe, Rio Grande do Norte.
Anexação de Portugal pela Espanha: 1580 a 1640.
Guerra dos Oitenta Anos (1580-1648): Holanda contra a Espanha: 1580 a 1609: em jogo a independência. Reinício da guerra após 12 anos de paz, em 1621, estando em jogo os interesses comerciais holandeses na América. 
Em 1654, os holandeses são finalmente expulsos do Brasil, após anos de conflito. Os holandeses levariam o know-how da produção do açúcar para as Antilhas, onde produziriam o produto em condições mais vantajosas do que o açúcar brasileiro.
Um mapa anacrónico do Império Colonial Holandês. Verde claro: territórios administrados por ou provenientes de territórios administrados pelaCompanhia Holandesa das Índias Orientais; verde escuro: territórios da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais.
4.2 A decadência da economia do açúcar 
Auge do açúcar foi a década de 1650. 
Depois, o volume das exportações médias anuais caiu para a metade do preço produto nos melhores anos.
A renda real se reduziu a um quarto da renda real anterior.
A ocupação proporcionou aos holandeses o conhecimento dos aspectos técnicos e organizacionais da produção de açúcar, permitindo a montagem de sua própria produção no Caribe.
A quebra do monopólio era questão de tempo, pois um monopólio sempre atrai forças neste sentido.
Quando os holandeses foram expulsos (década de 1650), a Espanha havia decaído e perdido o controle sobre boa parte de seus domínios territoriais na América Central. Inglaterra e França já haviam se apossado de algumas importantes possessões nas Antilhas e na América do Norte. 
Os neerlandeses aproveitaram-se da guerra anglo-francesa e de conflitos internos nos dois países para fundar colônias nas Antilhas, onde estabeleceram a monocultura do açúcar, iniciando o processo de quebra do monopólio português, principal fator da vertiginosa queda dos lucros (da economia açucareira), ao longo do século XVII, e do consequente empobrecimento da Coroa Portuguesa. 
A moeda portuguesa se desvalorizou e afetou a vida na colônia, pois os termos de troca do açúcar brasileiro vis-à-vis os bens importados são muito afetados.
A queda das exportações do açúcar português está associada à expansão de sua oferta devido à implantação da produção de açúcar em colônias inglesas, francesas e holandesas, a qual gozava de “acesso preferencial aos respectivos mercados dos países de origem” (BAER, 1996, p. 31). 
Desde a fundação da indústria do açúcar, a tarefa mais penosa e menos lucrativa – o plantio e a produção do açúcar bruto –, cabia aos portugueses, enquanto os holandeses se encarregavam do refino e da distribuição. 
Assim, o rompimento com os holandeses já era mais do que suficiente para abater sensivelmente o volume e a lucratividade da empresa lusitana, muito embora isso não tenha significado sua falência. A significativa reduçãona renda foi, em parte, compensada pela redução de custos representada pela criação de escravos nas fazendas, como alternativa à importação de mão-de-obra. 
Algumas áreas antes reservadas ao cultivo da cana foram reaproveitadas para a agricultura de subsistência ou para o abastecimento de gêneros alimentícios da população litorânea. Posteriormente, outras culturas agrícolas – como o tabaco, por exemplo –, alcançaram relativa importância, constituindo-se em breves ciclos de exportação, sobretudo pela influência de fatos de relevância histórica (conflitos internos – guerras religiosas – e externos) que afetaram o mercado mundial e abriram a oportunidade inesperada de abastecer mercados que ficaram órfãos de seus fornecedores exclusivos. 
A economia interna sentiu pouco as conseqüências do declínio das exportações, pois havia fraca relação entre o investimento e a geração de renda�, característica marcante desse período histórico. O fluxo monetário na colônia pouco significativo. Apenas cinco por cento da renda gerada destinava-se ao pagamento de serviços fora das relações entre agentes envolvidos no negócio do açúcar�, sendo que o trabalho assalariado respondia por apenas dois por cento. O homem livre dedicava-se à economia de subsistência, produzindo apenas para seu próprio consumo. 
Talvez o único setor a sofrer com esse retrocesso tenha sido o da pecuária. O recuo das exportações provocou sua atrofia, fazendo-a regredir da criação de gado para exportação à economia de subsistência (à margem do setor monetário). 
Esse fato, conjugado ao à migração da fragilizada economia açucareira para o interior, configura o fenômeno da “involução econômica” (BAER, 1996, p. 30). 
A monocultura açucareira perpetuou um modelo arcaico de organização e de técnicas empregadas na agricultura, tanto no interior quanto nas regiões costeiras. Associado a isso, o sistema escravista manteve subdesenvolvidos os recursos humanos e reproduziu uma estrutura de distribuição de renda altamente concentradora. 
Por fim, os lucros e benefícios do ciclo do açúcar contribuíram apenas para enriquecer os intermediários do comércio do produto. A prosperidade do latifundiário e sua euforia de consumo só puderam ser sustentadas enquanto o produto se manteve em alta no mercado europeu. Principalmente porque o produtor da colônia não investiu seus lucros em infra-estrutura e avanços nas técnicas de cultivo. Em vez disso, utilizou seus ganhos para adquirir bens de luxo importados.
BIBLIOGRAFIA
FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. Rio de Janeiro: Companhia Editora Nacional, 1991.
MENDONÇA, M. G.; PIRES, M. C. Formação econômica do Brasil. São Paulo: Thomson 2002.
� É preciso ter em conta que a primeira atividade econômica de destaque, na colônia, foi inicialmente a extração do pau-brasil, cujas reservas foram rapidamente esgotadas. Apesar disso, a exportação do produto ainda persistiu até o século XIX, em quantidades diminutas. O maior legado dessa economia talvez tenha sido mesmo o de dar o nome ao país.
� Braga Furtado (2000) acrescenta que o açúcar já era cultivado na Ilha da Madeira, território metropolitano, mesmo antes das lavouras nas ilhas do Atlântico, quando portugueses já experimentavam a possibilidade da cultura do produto em regiões tropicais. O produto, trazido do Oriente Médio pelos cruzados tornou-se substituto do mel, era uma especiaria das mais raras, devido a seu elevado preço.
� As populações nativas de Peru e México diferenciavam-se da população indígena brasileira por ser ampla, estável e bem organizada e, por isso, puderam servir à mineração e a atividades agrícolas de apoio. Ademais, os indígenas brasileiros, nômades e altamente vulneráveis a doenças transmitidas por colonizadores, por um lado, contaram com a proteção da Igreja católica (via Companhia de Jesus); por outro lado, o tráfico negreiro articulou-se perfeitamente aos interesses de metropolitanos europeus, que enriqueceram com o negócio da escravidão.
� Commodity é o mesmo que mercadoria, esta sem marca nem tecnologia exclusiva dos produtores. 
� Furtado (1991).
� Em uma economia industrial, o investimento na produção determina o crescimento da renda da coletividade em quantidade idêntica a ela mesma, uma vez que esse montante destina-se à remuneração de fatores de produção (mão-de-obra e matérias-primas, por exemplo).
� “... o engenho realizava um certo monte de gastos monetários, principalmente na compra de gado (para tração) e de lenha (para as fornalhas). Essas compras constituíam o principal vínculo entre a economia açucareira e os demais núcleos de povoamento existentes no país” (Furtado, 1991, p.44).

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