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Aula 3 – PROVISÕES CONTÁBEIS E DESPESAS QUE NÃO AFETAM O CAIXA Autora: Profa. Ms. Geni Vanzo 2 Olá prezados (as) alunos (as), Mais uma porta no nosso trajeto!! Esta já é a terceira........estamos evoluindo! Na aula anterior revimos os conceitos e tratamento das contas de resultado, isto é receitas e despesas. Destas, podemos inferir que receitas, em algum momento, representarão entradas de caixa e que despesas, ao contrário, representarão saídas de caixa. Nesta aula vamos aprender que nem sempre as despesas afetarão diretamente o caixa da entidade, como também, iremos aprender a usar corretamente o termo "provisões", cujo uso, por muito tempo, não retratou corretamente o significado da palavra e que, atualmente, em função da adoção de normas contábeis internacionais deve retratar o que realmente representam. E que importância tem isto na Contabilidade Financeira? Enorme!! Vejam só....se o objetivo é tomar decisões de cunho financeiro, ao analisarmos o resultado de uma entidade, bem como os seus passivos (obrigações com terceiros), ao identificarmos quais são os valores que não irão significar saídas de caixa, saberemos que o fluxo financeiro não será afetado por tais valores, o que nos permitirá tomar decisões mais seguras. Muito bem!! Mas, antes de estudarmos esse assunto tão importante e interessante, vamos estabelecer nossos objetivos. Ao final desta aula, deveremos ser capazes de: Com esses propósitos, esta aula será estruturada da seguinte forma: 1. Provisões: conceito e efeitos no resultado 1.1 Diferença entre provisões contábeis e previsões/estimativas 1.2 Constituição de provisões 1.3 Reversão de provisões e de perdas estimadas 1.4 Principais provisões 1.4.1 Perdas estimadas para créditos de liquidação duvidosa 1.4.2 Provisão para ajuste a valor de mercado ou a valor justo 1.4.3 Ajuste a valor presente 2. Despesas que não afetam o caixa 2.1 Depreciação do Imobilizado OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM � Entender qual a diferença entre "provisões" e "previsões"; � Usar corretamente o termo "provisão", de acordo com o seu real significado; � Contabilizar as principais provisões contábeis; � Conhecer e contabilizar as principais despesas que não afetam o caixa. 3 2.2 Amortização e Exaustão Bom estudo a todos! 1. Provisões: conceitos e efeitos no resultado Provisão caracteriza o ato de prover alguma coisa, ou seja, abastecer com algum tipo de recurso, em outras palavras, reservar recursos. Em Contabilidade, o significado não é diferente, provisiona-se recursos quando se tem conhecimento de que estes serão necessários no futuro As "provisões", segundo Greco e Arend (2012, p. 387) representam "parcelas consideradas despesas, destinadas a cobrir perdas prováveis ou estimadas pela não realização de valores registrados em contas do Ativo, ou que representam obrigações específicas, a serem cumpridas no futuro, lançadas em contas do Passivo". Fica claro nessa definição que as provisões para fins contábeis não só abrangem as reservas de recursos para saldar as obrigações futuras, como também, aqueles recursos necessários a cobrir possíveis perdas de valor dos ativos. FLASH BACK Lembram-se das Contas Redutoras ou Retificadoras do Ativo? Algumas contas do Ativo têm a função de "deduzir" dos saldos de outras contas do mesmo grupo, valores que se destinam a ajustar esses saldos de forma a que, obedecendo ao Princípio da Prudência, os respectivos ativos sejam demonstrados pelo seu menor valor. Tais contas são chamadas de "redutoras" ou "retificadoras". Até pouco tempo atrás, o termo "provisão" foi amplamente utilizado na contabilidade para referência e registro de qualquer obrigação ou, ainda, na redução de ativos para ajustes a seu menor valor, conforme preconizado por Greco e Arend, citados no parágrafo anterior. Exemplo: Provisão para Pagamentos a Efetuar; Provisão para Perdas por Desvalorização, Provisão para Créditos de Liquidação Duvidosa, etc. Entretanto, o processo de convergência para as Normas Internacionais de Contabilidade (IFRS), oficialmente iniciado com a emissão da Lei nº 11.638, de dezembro de 2007, requer que se ajuste velhos hábitos a concepções mais modernas e que, no caso em questão, realmente, melhor informam o usuário da informação contábil. Assim, seguindo os conceitos internacionais, expressos particularmente no Pronunciamento Técnico CPC 25 – Provisão e Passivo e Ativo Contingentes, do Comitê de Pronunciamentos Contábeis, o termo "provisão", na Contabilidade, deve referir-se apenas aos passivos (obrigações) com prazo ou valor incerto (estimados). Para os valores que representam a redução de ativos, registrados nas contas redutoras, deve- se adotar a expressão "perdas estimadas". Desta forma, a conta Provisão para Créditos de Liquidação Duvidosa, por exemplo, passa a ser chamada por Perdas Estimadas para Créditos de Liquidação Duvidosa. 4 1.1. Diferença entre provisões contábeis e previsões/estimativas Na realidade, como já vimos, as provisões contábeis, como "provimento" de recursos e considerando sua definição "ao pé da letra", poderiam dizer respeito a obrigações já constituídas (líquidas e certas) ou, ainda, a obrigações ou passivos, cujo valor está sendo estimado, isto é "previsto", sem que se tenha absoluta certeza da sua ocorrência. Entretanto, a que se distinguir as seguintes situações: a) Contas a pagar - são passivos a pagar por conta de bens ou serviços fornecidos ou recebidos e que tenham sido faturados ou formalmente acordados com o fornecedor, isto é, obrigações reais já assumidas. Ou seja, não há em que se falar em reserva de recursos, visto que se trata de uma obrigação conhecida que deve ser efetivamente paga (passivos genuínos). Estas não são verdadeiras provisões, uma vez que já são obrigações reais, onde subentende-se que o provimento de recursos para pagamento já deve estar previsto no fluxo de caixa da entidade, visto que não há incerteza sobre a necessidade da respectiva liquidação. b) Provisões derivadas de apropriações por competências – são obrigações já existentes que, para atendimento ao Princípio da Competência, são registradas no período a que se referem, mas, para pagamento futuro. Assim como as contas a pagar, são obrigações que podem ser consideradas reais, visto que o grau de incerteza nesses casos é absolutamente irrelevante. Pode-se, então, afirmar que também não são verdadeiras provisões. Exemplos: salários, 13º. Salário, férias, encargos sociais, etc., que deverão ser registrados como Salários a Pagar, 13º. Salário a Pagar, Férias a Pagar, Encargos Sociais a Pagar, etc. c) Provisões destinadas a cobrir possíveis obrigações futuras, sobre as quais se tenha razoável certeza da liquidação – são provisões constituídas, utilizando-se valores estimados, destinadas a fazer face a "possíveis" obrigações futuras – ainda não são obrigações constituídas. Por exemplo, no caso de processos trabalhistas em andamento. Tem-se razoável certeza de que a maioria das causas trabalhistas são ganhas pelo reclamante, o que obriga que a possibilidade de a entidade ter que pagar o valor estimado correspondente seja registrado contabilmente, ou seja, "provisionado". Esta sim, caracteriza uma provisão na acepção completa da palavra! A entidade estará provisionando recursos diante da "quase certeza" de que ocorrerá desembolsos futuros. Iudícibus et al (2010, p. 333), assim explica o que deve ser considerado como provisão: "As provisões podem ser distinguidas de outros passivos quando há incertezas sobre os prazos e valores que serão desembolsados ou exigidos para sua liquidação". É corretoafirmar portanto que: 5 � Os valores que correspondem a perdas estimadas pela não realização de ativos (contas redutoras) devem ser tratados como: PERDAS ESTIMADAS (Ex.: Perdas estimadas para créditos de liquidação duvidosa). � Os valores resultantes de obrigações reais (contas a pagar e provisões derivadas de apropriações por competência) devem ser tratados como: VALORES A PAGAR (Ex.: Férias a pagar). � Provisões sobre as quais há incertezas sobre os prazos e valores de realização devem ser tratadas como: PROVISÕES (Provisão para riscos trabalhistas). Neste ponto, vale ressaltar um assunto que não será estudado a fundo neste momento, mas, que deve ser abordado por estar correlacionado às provisões. Trata-se dos "passivos contingentes". A palavra contingência nos remete à possibilidade de que alguma coisa venha ou não a acontecer, isto é, uma situação de incerteza. Por conseguinte, entende-se que um passivo contingente é uma obrigação que pode se concretizar. Neste caso, tais passivos não são reconhecidos contabilmente. Em outras palavras, não serão constituídas provisões para passivos contingentes. Ora......mas, por que, se as provisões são constituídas justamente quando há incertezas sobre os prazos e valores de realização de uma obrigação? "O termo "contingente" é utilizado para passivos e ativos não reconhecidos em virtude de sua existência depender de um ou mais eventos futuros incertos que não estejam totalmente sob o controle da instituição". Iudícibus et al (2010, p. 333). O Pronunciamento Técnico CPC 25, em seu Apêndice C, fornece o seguinte exemplo (10-A) de passivo contingente que, num primeiro momento não é reconhecido, mas, que num segundo momento, torna-se apto para ser considerado como provisão: Exemplo –Caso judicial Após um casamento em 20X0, dez pessoas morreram, possivelmente por resultado de alimentos envenenados oriundos de produtos vendidos pela entidade. Procedimentos legais são instaurados para solicitar indenização da entidade, mas esta disputa o caso judicialmente. Até a data da autorização para a publicação das demonstrações contábeis do exercício findo em 31 de dezembro de 20X0, os advogados da entidade aconselham que é provável que a entidade não será responsabilizada. Entretanto, quando a entidade elabora as suas demonstrações contábeis para o exercício findo em 31 de dezembro de 20X1, os seus advogados aconselham que, dado o desenvolvimento do caso, é provável que a entidade será responsabilizada. (a) Em 31 de dezembro de 20X0 Obrigação presente como resultado de evento passado que gera obrigação – Baseado nas evidências disponíveis até o momento em que as demonstrações contábeis foram aprovadas, não há obrigação como resultado de eventos passados. Conclusão – Nenhuma provisão é reconhecida. A questão é divulgada como passivo contingente, a menos que a probabilidade de qualquer saída seja considerada remota. 6 (b) Em 31 de dezembro de 20X1 Obrigação presente como resultado de evento passado que gera obrigação – Baseado na evidência disponível, há uma obrigação presente. Saída de recursos envolvendo benefícios futuros na liquidação – Provável. Conclusão – Uma provisão é reconhecida pela melhor estimativa do valor necessário para liquidar a obrigação. As condições para que uma provisão seja reconhecida contabilmente serão discutidas no próximo tópico. 1.2 Constituição de provisões O Pronunciamento Técnico CPC 25, em seu item 14, determina que uma "provisão" somente deve ser reconhecida quando atender as seguintes condições, de forma cumulativa, ou seja "todas" devem ser atendidas ao mesmo tempo: S e ess as con diç ões não for em satisfeitas, nenhuma provisão deverá ser reconhecida. O que é uma obrigação presente? É aquela obrigação onde há evidências disponíveis que permitam concluir que é provável que ela venha a existir. O que é um evento passado? É aquele evento/acontecimento que tem condições de criar obrigações. Entende-se que uma obrigação é criada quando a sua liquidação for obrigatória, isto é, a entidade não terá outra alternativa a não ser liquidar a obrigação. O que é probabilidade de saída de recursos? É a possibilidade, sobre a qual se tem razoável certeza, de que será necessária a saída de recursos que incorporem benefícios econômicos (ativos representados por dinheiro, bens ou direitos) para liquidação da obrigação. O que é estimativa confiável? É a estimativa que resulta de um conjunto de possibilidades possíveis previstas pela entidade para mensuração do valor a ser provisionado, considerando os riscos e incertezas envolvidas. Será constituída pela melhor estimativa de desembolso para liquidação da obrigação na data do Balanço. Mensuração do valor da provisão ou perda estimada 7 Já vimos que o "valor estimado" deverá representar a melhor estimativa de desembolso para liquidação da obrigação, mas, como determinar qual é a melhor estimativa? O Pronunciamento Técnico CPC 25 assim esclarece: "As incertezas que rodeiam o valor a ser reconhecido como uma provisão são tratadas por vários meios de acordo com as circunstâncias. Quando a provisão a ser mensurada envolve uma grande população de itens, a obrigação é estimada ponderando-se todos os possíveis desfechos pelas suas probabilidades associadas. O nome para esse método estatístico de estimativa é “valor esperado”. Portanto, a provisão será diferente dependendo de a probabilidade de uma perda de um dado valor ser, por exemplo, de 60 por cento ou de 90 por cento. Quando houver uma escala contínua de desfechos possíveis, e cada ponto nessa escala é tão provável como qualquer outro, é usado o ponto médio da escala." (CPC 25, item 39) O mesmo item do citado pronunciamento fornece o seguinte exemplo (adaptado pela autora): "Uma entidade vende bens com uma garantia segundo a qual os clientes estão cobertos pelo custo das reparações de qualquer defeito de fabricação que se tornar evidente dentro dos primeiros seis meses após a compra. Se forem constatados defeitos menores em todos os produtos vendidos, a entidade irá incorrer em custos de reparação correspondentes a $1 milhão. Se forem constatados defeitos maiores em todos os produtos vendidos, a entidade irá incorrer em custos de reparação de $ 4 milhões. A experiência passada da entidade e as expectativas futuras indicam que, para o próximo ano, 75 por cento dos bens vendidos não terão defeito, 20 por cento dos bens vendidos terão defeitos menores e 5 por cento dos bens vendidos terão defeitos maiores." Assim, a entidade irá avaliar a probabilidade de uma saída para as obrigações de garantias como um todo. O valor esperado do custo das reparações é: Cálculo do Valor Estimado (75 % x 0) + 75% do custo de reparação de bens vendidos que não terão defeito, ou seja zero. (20 % x $1 milhão) + 20% do custo de reparação de bens vendidos que apresentarem defeitos menores. (5 % de $4 milhões) = 5% do custo de reparação de bens vendidos que apresentarem defeitos maiores. $ 400.000 Valor "estimado" da provisão Esta pode ser considerada a melhor estimativa de valor do desembolso necessário para fazer face a liquidação da obrigação presente na data do Balanço. 8 Como ficaria a contabilização dessa provisão? Vamos lá...... D Despesas com Provisão para Reparos de Bens Vendidos $ 400.000 Conta de Resultado C Provisão para Reparos de Bens Vendidos $ 400.000 Conta de Passivo Valor referente ao provisionamento de custos de possíveis reparos em bens vendidos Como ficaria esse lançamento em razonetes? Constituímos uma provisão, certo? Mas, no caso de umaperda estimada, como seria a respectiva contabilização? Vamos supor a seguinte situação: Uma entidade tem Duplicatas a Receber, contabilizadas em seu Ativo, no valor de $ 800.000. Historicamente, ao longo dos últimos três anos, foi constatada uma inadimplência média de 20% do total das Duplicatas a Receber nesses períodos. Assim, em obediências aos princípios contábeis, a entidade irá constituir uma conta redutora do ativo Duplicatas a Receber, a fim de demonstra-lo pelo seu menor valor, ou seja, aquele valor que, provavelmente, será efetivamente recebido. Primeiramente, vamos calcular qual seria o valor da perda estimada: 20% x 800.000 = 160.000 Agora, vamos contabilizar esse valor: D Despesa com Perdas Estimadas com Créditos de $160.000 Conta de D C D C 400.000 400.000 400.000 400.000 Despesas c/ Provisão p/ Reparos Provisão para Reparos de Bens 9 Liquidação Duvidosa Resultado C Perdas Estimadas com Créditos de Liquidação Duvidosa $ 160.000 Conta de Ativo Valor referente a perdas estimadas para créditos de liquidação duvidosa E os razonetes? No Balanço Patrimonial, teríamos: Duplicatas a Receber....................................................................... $ 800.000 (-) Perdas Estimadas para Créditos de Liquidação Duvidosa..........($ 160.000) Mais adiante vamos voltar a conversar sobre essa possível perda com créditos de liquidação duvidosa. Reavaliação do valor das provisões As provisões constituídas devem ser reavaliadas, em cada data de Balanço, e ajustadas para refletir, exatamente, a melhor estimativa de desembolso para liquidação nessas datas. Quando necessário, as provisões devem ser revertidas, parcial ou integralmente ou, ainda, complementadas. No exercício seguinte recalcula-se o valor das perdas estimadas e realiza-se nova constituição, após a realização das perdas efetivas por meio da baixa dos créditos realmente não recebidos (vide item 1.4.1). 1.3 Reversão de provisões e de perdas estimadas As reversões de provisões e das perdas estimadas decorrem das respectivas reavaliações realizadas periodicamente. Quando não foram utilizadas, tais provisões ou perdas estimadas devem ser revertidas a crédito do resultado e, quando for o caso, constitui-se nova provisão ou perda estimada. D C D C 160.000 160.000 160.000 160.000 Estimadas p/ de Liq DuvidosaCréditos de Liq Duv Despesa c/ Perdas Perdas Estimadas para Créditos 10 Vamos voltar ao exemplo anterior e supor que, ao final do período, somente foram gastos $ 320.000 do valor provisionado para reparos em bens vendidos. Como ficaria o lançamento contábil da reversão de parte da provisão anteriormente constituída? 1 – Baixa da provisão pelo valor efetivamente gasto: D Provisão para Reparos de Bens Vendidos $ 320.000 Conta de Passivo C Caixa ou Bancos $ 320.000 Conta de Ativo Valor referente ao pagamento de reparos de bens vendidos 2 – Reversão "parcial" da provisão originalmente constituída: D Provisão para Reparos de Bens Vendidos $ 80.000 Conta de Passivo C Receita de Reversão de Provisões $ 80.000 Conta de Resultado Valor referente a reversão parcial de provisão constituída para custos de reparos em bens vendidos Vejam os razonetes: D C D C 320.000 400.000 320.000 80.000 Provisão para Reparos de Bens Caixa D C D C 320.000 400.000 80.000 80.000 - 80.000 Reparos de Bens Receita de Reversão de Provisões Provisão para 11 Da mesma forma, após a reavaliação do valor de uma perda estimada, em se constando mudanças no valor originalmente contabilizado, deve-se proceder a reversão parcial ou total desse valor. Vamos supor que no exemplo dado anteriormente relativo a perdas estimadas para a carteira de Duplicatas a Receber, o setor de cobrança da entidade foi extremamente eficiente e 30% dos possíveis inadimplentes pagaram seus débitos dentro do período base. Conclui-se que metade da perda estimada foi desnecessária. Assim, é preciso reverter esse valor da perda estimada excedente. Vamos calcular qual seria esse valor: Perdas estimadas = $160.000 Valor dos débitos liquidados pelos inadimplentes = 30% x 160.000 = $ 48.000 Valor da perda estimada realizada = 160.000 – 48.000 = $ 112.000 Portanto, $ 48.000 é o valor da perda estimada a ser revertido. Vamos contabilizar? 1 – Pelo recebimento dos créditos: D Caixa $ 48.000 Conta de Ativo C Duplicatas a Receber $ 48.000 Conta de Ativo Recebimento de duplicatas a receber de diversos clientes 2 – Pela reversão parcial das perdas estimadas: 12 D Perdas Estimadas para Créditos de Liquidação Duvidosa $ 48.000 Conta de Ativo C Receita de Reversão de Provisões $ 48.000 Conta de Resultado Valor referente a reversão parcial de provisão constituída para créditos de liquidação duvidosa Os razonetes seriam os seguintes: 1 – Pelo recebimento dos créditos: 2 – Pela reversão parcial da perda estimada 1.4 Principais provisões Sempre que ocorrerem eventos que justifiquem a constituição de provisões ou o ajuste do valor de ativos pela constituição de perdas estimadas, estas devem ser realizadas em função do que dispõe o Princípio da Prudência. São exemplos de provisões: � Provisão para garantias de produtos, bens ou serviços; D C D C 48.000 160.000 48.000 112.000 48.000 Perdas Estimadas para Créditos de Liq Duvidosa Receita de Reversão de Provisões D C D C 48.000 800.000 48.000 752.000 Caixa Duplicatas a Receber 13 � Provisão para riscos fiscais; � Provisão para riscos trabalhistas; � Provisão para danos ambientais causados pela entidade; � Provisão para penalidades por quebra de contratos; � Provisão para contratos de construção; � Provisão para ajuste a valor de mercado; � Provisão para ajuste a valor presente; entre outras. São exemplos de perdas estimadas: � Perdas estimadas para créditos de liquidação duvidosa; � Perdas estimadas em estoques; � Perdas estimadas para redução ao valor realizável líquido; � Perdas estimadas por valor não recuperável de ativos imobilizados; entre outras. Vamos destacar algumas dessas provisões e perdas estimadas para ilustrar o nosso estudo. 1.4.1 Perdas estimadas para créditos de liquidação duvidosa Como visto anteriormente, a constituição de perdas estimadas para créditos de liquidação duvidosa condiciona-se à existência da incerteza do recebimento pela entidade das suas contas a receber. Há que se ressaltar que tais perdas são "estimadas", ou seja, não são ainda efetivas, razão pela qual a legislação fiscal não permite a sua dedução na base de cálculo do Imposto de Renda e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido das empresas. Tal estimativa, no entanto, deve ser feita em consonância do que é previsto pelas normas internacionais e, também, em função do Princípio Contábil da Prudência. O conceito que embasa a constituição de tal perda, segundo Iudícibus et al (2010, p. 57), "é inerente à estimativa do valor recuperável do ativo", visando atender à valorização da informação ao usuário da contabilidade, demonstrando o real valor que se espera obter em termos de benefícios econômicos futuros pelo ativo correspondente. Mensuração A mensuração do valor a ser contabilizadocomo perdas estimadas em créditos de liquidação duvidosa está condicionada às peculiaridades de cada empresa, geralmente são estudadas as situações que envolvem os clientes já em inadimplência ou, ainda, que já estejam prestes a serem declarados inadimplentes, além de outros aspectos relativos à probabilidade ou não de recebimentos dos créditos como, por exemplo, experiências já ocorridas ou outras mudanças no contexto de atuação da entidade. Como se pode perceber, deve ser feita uma "seleção" dos casos que possam ser considerados na composição do valor da perda. Contabilização 14 Contabilmente, as perdas com estimativas de crédito de liquidação duvidosa contemplam as seguintes situações: � Constituição da perda estimada (já estudada no item 1.2 retro); � Reversão da perda estimada quando constituída em excesso, buscando adequá-la ao valor efetivamente perdido (já estudada no item 1.3 retro); � Realização da perda estimada quando a entidade considerar que os créditos aos quais elas se refere realmente não serão recebidos, ou seja, são incobráveis; e � Baixa dos créditos como perdas efetivas do período quando o valor da estimativa já constituída tenha sido inferior às perdas realmente incorridas. Vamos exemplificar as três últimos situações, visto que as duas primeiras já foram demonstradas. 1 - Realização da perda estimada quando a entidade considerar que os créditos aos quais elas se refere realmente não serão recebidos, ou seja, são incobráveis No exemplo trabalhado anteriormente, foi constituída uma perda estimada no valor de $ 160.000, tendo sido revertida posteriormente o valor de $ 48.000, permanecendo um saldo de perdas estimadas no valor de $ 112.000. Os créditos a receber de alguns clientes, no valor de $ 83.000, computado nesse saldo, foi considerado incobrável, ou seja, não há qualquer possibilidade de recebimento pela entidade em questão. Isto significa que a perda deixou de ser "estimada" e passou a ser "realizada", isto é tornou-se uma perda real. Vejamos como seria a contabilização: D Perdas Estimadas para Créditos de Liquidação Duvidosa $ 83.000 Conta de Ativo C Duplicatas a Receber $ 83.000 Conta de Ativo Valor da realização de perdas estimadas referentes a créditos incobráveis Usando razonetes: D C D C 48.000 160.000 800.000 48.000 83.000 83.000 29.000 669.000 Perdas Estimadas para Créditos Duplicatas a de Liq Duvidosa Receber 15 2 - Baixa dos créditos como perdas efetivas do período quando o valor da estimativa já constituída tenha sido inferior às perdas realmente incorridas Ao final do ano base, a nossa entidade concluiu que a sua carteira de duplicatas a receber, na realidade, tinha um número maior de créditos "podres", ou seja, de créditos sem condições de recebimento, cujo valor de $ 55.000 excedia o saldo da perdas estimadas. Nesse caso, em se considerando que se trata de perda real, o valor excedente deverá ser levado diretamente ao resultado do período, da seguinte forma: Valor das perdas efetivas = ............................. $ 55.000 (-) Saldo das perdas estimadas =...................... ($ 29.000) Valor a ser contabilizado como perdas do período = $ 26.000 D Despesas de Vendas / Perdas com créditos de liquidação duvidosa $ 26.000 Conta de Resultado D Perdas Estimadas para Créditos de Liquidação Duvidosa $ 29.000 Conta de Ativo C Duplicatas a Receber $ 55.000 Conta de Ativo Valor da realização de perdas efetivas com créditos incobráveis Os razontes seriam estes: 1.4.2 Provisão para ajuste a valor de mercado ou a valor justo Embora muito usada em finanças, a expressão "valor de mercado", passou a fazer parte do cotidiano contábil com maior intensidade muito recentemente, assim como a expressão "valor justo" (fair value), introduzida juntamente com as normas internacionais de contabilidade. Em alguns momentos, essas expressões podem se confundir e significarem a mesma coisa. O valor de mercado é aquele valor que um mercado estaria disposto a pagar por um ativo ou aceitar para liquidação de um passivo em qualquer data. Assim, D C D C D C 48.000 160.000 800.000 48.000 26.000 83.000 83.000 29.000 55.000 - 614.000 26.000 de Liq Duvidosa Duplicatas a Receber Perdas Efetivas com Créditos de Liq Duvidosa Perdas Estimadas para Créditos 16 subentende-se que para que algo seja avaliado a valor de mercado deve "existir" um mercado ativo, o que nem sempre ocorre. O valor justo é o valor de uma transação justa realizada com terceiros à organização, sem qualquer tipo de favorecimento, isto é, o quanto alguém de fora da organização estaria disposto a pagar por um ativo, ou aceitar para a liquidação de um passivo, sem qualquer tipo de concessão. Na realidade, é também um valor de mercado, mas, independe da existência de um mercado ativo, pois pode ser apurado de outras formas como, por exemplo técnicas de apreçamento1. Assim, pode-se afirmar que, quando houver mercado, o valor justo será o mesmo que o praticado nesse mercado. Muito bem......... mas, quando se faz provisão para valor de mercado ou valor justo? Em situações muito específicas. Por enquanto, a título de exemplo, vamos estudar somente a hipótese dos estoques de matérias-primas e outros materiais utilizados na produção. Outras situações serão estudadas no curso, mais à frente. No caso dos estoques citados, o § 1º. do art. 183 da Lei nº 6.404/76, alterado pela Lei nº 11.941/08, determina que estes tenham seus valores ajustados de forma a refletirem o seu valor justo: "preço pelo qual possam ser repostos, mediante compra no mercado", o que significa preço de reposição, ou seja, o quanto tais estoques custariam se fossem adquiridos no mercado na data do Balanço. IMPORTANTE: - O ajuste do valor dos estoques somente será contabilizado quando o valor justo for MENOR que o valor contábil. - Deverá ser apurado o custo de reposição de CADA material componente do estoque. Na ocorrência de um valor justo menor que o valor contábil, este deverá ser ajustado por meio de uma provisão. Essa provisão a valor de mercado dos estoques é chamada Perda Estimada para Redução ao Valor Realizável Líquido. Bem.....mas, vamos ver como funciona na prática? Imagine que uma indústria 1 Técnicas de apreçamento: são técnicas de atribuição de preços Por que valor realizável líquido? Porque alguns estoques para serem realizados / vendidos incorrem em despesas como comissões, fretes, taxas, concessão de descontos, etc. O valor realizável líquido é o valor justo descontado de todas as despesas necessárias para a realização dos bens componentes do estoque. Fonte: Clippart 17 moveleira tem em seus estoques os seguintes materiais: Materiais Custo unitário Quantidade Custo total Valor realizável líquido Diferença de valor unitário abaixo do mercado PARAFUSOS 1,80 1.500 2.700,00 1,50 0,30 GRAMPOS 0,60 2.000 1.200,00 0,65 - PREGOS 0,50 3.000 1.500,00 0,60 - Somente os parafusos apresentam valor de mercado menor que o valor contábil do custo: $ 0,30 por peça. Calculemos então o valor da perda estimada para redução do valor do estoque de parafusos ao valor realizável líquido respectivo: Materiais Valor unitário de mercado Quantidade Valor total (mercado) Valor contábil Valor da provisão ≠ PARAFUSOS 1,50 1.500 2.250,00 2.700,00 450,00 Portanto, o valor a ser contabilizadocomo perda estimada para redução do valor do estoque é de $ 450,00, uma vez que, para os demais itens do estoque não houve diferença a MENOR entre o valor do custo e o valor de mercado. Vamos contabilizar? D Despesa com Perda Estimada para Redução ao Valor Realizável Líquido $ 450,00 Conta de Resultado C Perda Estimada para Redução ao Valor Realizável Líquido $ 450,00 Conta de Ativo (Redutora) Valor estimado para perdas na redução do valor dos estoques ao valor realizável líquido O ajuste a valor justo também é aplicável a outros ativos que, como já foi mencionado, serão estudados ao seu devido tempo. O objetivo, a esta altura do nosso aprendizado, é conhecer esse importante conceito para a gestão financeira das entidades. 1.4.3 Ajuste a valor presente 18 Outra expressão corriqueira na área de finanças – Ajuste a Valor Presente!! Vamos ver o que ela significa para a Contabilidade. Iudícibus et al (2010, p. 103) faz a seguinte afirmação: A contabilidade sempre teve um desafio quando se trata de evidenciar a essência das operações referindo-se à apuração dos resultados das empresas, considerando os juros embutidos nos preços das transações a prazo em relação aos correspondentes preços à vista. Sabemos que em qualquer transação a prazo SEMPRE haverá a cobrança de juros embutida no respectivo valor. É importante conhecer tal valor, visto que ele afeta tanto o resultado quanto os ativos das entidades. Como isto ocorre? Imagine uma entidade que vende seus produtos a prazo. Obviamente que ela vai embutir no custo do produto o custo financeiro do prazo concedido ao cliente. Já vimos anteriormente que, ao vender um produto, a contrapartida correspondente é a conta de Receita de Vendas, a primeira conta que aparece na Demonstração do Resultado e que representa a principal fonte de receitas de qualquer empresa. Para visualizarmos melhor, vamos supor que a indústria moveleira citado anteriormente vendeu, a prazo, num determinado período, móveis para escritório no valor de $ 600.000, sendo que $ 100.000, corresponde aos juros embutidos na operação. Vamos contabilizar essa venda: D Duplicatas a Receber $600.000 Conta de Ativo C Receita Bruta de Vendas $600.000 Conta de Resultado Valor referente a venda de móveis para escritório O custo dos produtos vendidos foi de $ 300.000, portanto, seria assim contabilizado: D Estoques $300.000 Conta de Ativo C Custo dos Produtos Vendidos $300.000 Conta de Resultado Valor referente ao custo dos produtos vendidos no período Na Demonstração do Resultado, teríamos a seguinte representação: Receita Bruta de Vendas.................................. $ 600.000 (-) Custo dos Produtos Vendidos......................($ 300.000) Lucro Bruto....................................................... $ 300.000 19 A primeira análise que qualquer usuário da informação contábil faria seria em cima do quanto a entidade está obtendo de receita na sua principal atividade – venda de produtos. Ela é uma indústria que foi criada para obter resultados positivos "fabricando móveis" e não obtendo receita financeira de juros, pois não é uma instituição financeira. Assim, o referido usuário não conseguirá perceber que naquela receita informada como sendo de vendas, existe um valor de $ 100.000 que, na realidade não provém da atividade "fabricar móveis". Esta é a primeira distorção! Outra distorção no resultado: o custo dos produtos vendidos que está sendo confrontado com a receita é o custo da atividade, não embute juros e, portanto, tal confrontação está distorcendo o lucro bruto. Sabendo-se que os juros representam a cobrança pela diferença do valor do dinheiro no tempo, pode-se afirmar que os preços cobrados em transações como essas não correspondem ao valor "efetivo" dessas transações. Puxa......mas como fazer, então? Nas operações de curto prazo, os juros embutidos não costumam ser relevantes e, portanto, tais distorções são imateriais, mas, em operações de longo prazo, tendem a ser mais significativas. Assim, nessas operações de longo prazo, ou ainda, nas operações de curto prazo, mas como valores de juros significativos, a Lei nº 6.404/76, alterada pela Lei nº 11.638/07, determina que "os elementos do ativo decorrentes de operações de longo prazo serão ajustados a valor presente, sendo os demais ajustados quando houver efeito relevante". Tudo bem, entendemos, mas, para ajustar tais operações temos, primeiro, que entender o que é VALOR PRESENTE (VP), certo?! Presente = HOJE, portanto, valor presente é o valor da transação, que tem juros embutidos pelo respectivo prazo da operação, trazido a valor de hoje, ou seja, sem esses juros. Em outras palavras, valor presente = valor de hoje. Se utilizarmos o exemplo anterior, qual seria o valor presente daquela transação? Grosseiramente, uma vez que não conhecemos a taxa de juros utilizada e nem o prazo das transações, pode-se afirmar que o valor presente da operação é: $ 600.000 (valor da venda) - $ 100.000 (valor dos juros) = $ 500.000 (VP) Em situações reais, a determinação do ajuste a valor presente requer, basicamente, as seguintes informações: 1. O valor do fluxo futuro de caixa (entradas e saídas de caixa ocorridas por conta do ativo ou passivo analisado) 2. A data em que o fluxo futuro de caixa vai ocorrer 20 3. A taxa de desconto a ser utilizada para o cálculo do valor presente A taxa de desconto corresponderá à taxa efetiva da transação ou, nos casos em que essa taxa não for indicada, utiliza-se uma taxa de mercado aplicável, praticada em transações semelhantes. O ajuste a valor presente da nossa transação seria contabilizado, no momento da venda, da seguinte forma: D Receita Bruta de Vendas $100.000 Conta de Resultado C VP – Receita Financeira Comercial a Apropriar $100.000 Conta de Ativo (Redutora) Valor referente ao ajuste a valor presente de vendas a prazo do período Assim, no Balanço Patrimonial teríamos a seguinte representação no Ativo Duplicatas a Receber.................................................... $ 600.000 (-) VP – Receita Financeira Comercial a Apropriar........($ 100.000) À medida em que transcorre o prazo da operação, a receita financeira correspondente ao ajuste a valor presente vai sendo apropriada, de acordo com o regime de competência: D VP – Receita Financeira Comercial a Apropriar Pelo valor da parcela mensal dos juros Conta de Ativo C Receita Financeira Comercial Idem Conta de Resultado Valor referente à apropriação de receita financeira comercial no período Vimos um exemplo sobre uma conta de Ativo, mas, e para as contas de Passivo, o ajuste a valor presente também é aplicável? Sem dúvida! Se a entidade tem uma obrigação, cujo valor contempla juros embutidos, deverá efetuar o ajuste da mesma forma. 21 Para exemplificar, vamos supor que uma entidade adquiriu uma máquina a prazo no valor total de $ 27.865, correspondente a 5 parcelas iguais de $ 5.573. Os juros embutidos correspondem a uma taxa de 20% ao ano. Quando descontamos os juros do valor total, trazendo-o ao seu valor presente, temos que o seu valor real na data da compra é de $ 20.000, ou seja, o valor dos juros corresponde a $ $ 7.865. Vamos contabilizar esse ajuste: D Máquinas (pelo valor presente) $ 20.000 Conta de Ativo Não Circulante D Encargos Financeiros a Decorrer $ 7.865 Conta de Passivo (Redutora) C Financiamentos $ 27.865 Conta de Passivo Valor referente ao ajuste a valor presente na compra de máquina a prazo No Passivo do Balanço Patrimonial as contas seriam demonstradas como segue:Financiamentos .............................................................. $ 27.865 Encargos Financeiros a Decorrer.....................................($ 7.865) À medida em que transcorre o prazo do financiamento, o encargo financeiro correspondente ao ajuste a valor presente vai sendo apropriado, de acordo com o regime de competência: D Despesa de Encargos Financeiros sobre Financiamentos Pelo valor da parcela mensal dos juros Conta de Resultado C Encargos Financeiros a Decorrer Idem Conta de Passivo (Redutora) Valor referente à apropriação de encargos financeiros sobre financiamentos no período 22 Os procedimentos ora estudados conferem mais qualidade à informação contábil, visto que as Demonstrações Contábeis apresentam maior valor preditivo, possibilitando que o usuário da informação a utilize de forma útil no processo de tomada de decisões. Quer ficar por dentro de assuntos do mercado financeiro? Conviver melhor com essas expressões valor justo, valor de mercado, valor presente, etc.? Navegue neste site: http://g1.globo.com/economia/mercados/ 1.5 Despesas que não afetam o caixa Quando pensamos em despesas, a primeira coisa que nos vem à cabeça são os gastos, não é mesmo?! Em nossa aula passada, inclusive, fizemos exatamente essa relação entre gastos e despesas! Mas, vejam só.......se retomarmos o conceito que é dado pela Resolução CFC nº 1374/2011 do Conselho Federal de Contabilidade que aprovou a Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil- Financeiro emitido pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis – CPC, veremos que as despesas não representam só "gastos". Vamos analisar o que nos diz esse normativo: Despesas são decréscimos nos benefícios econômicos durante o período contábil, sob a forma da saída de recursos ou da redução de ativos ou assunção de passivos, que resultam em decréscimo do patrimônio líquido, e que não estejam relacionados com distribuições aos detentores dos instrumentos patrimoniais. (Grifo nosso) O conceito de despesa deixa claro que ela pode representar, além da saída de recursos (gastos), a redução de ativos e, também a assunção de passivos (compras a prazo para consumo) e que, principalmente, representam "decréscimo do patrimônio líquido". Justamente porque as despesas refletem um decréscimo do patrimônio é que elas merecem tanta atenção por parte dos gestores e demais interessados na análise do desempenho das organizações. Neste tópico vamos estudar as despesas que não afetam o caixa das entidades, ou seja, aquelas despesas que representam reduções de ativos. E quais seriam elas? Nos tópicos anteriores desta aula vimos algumas dessas despesas – as provisões e perdas estimadas – que não constituem saídas de caixa, mas, reduzem os ativos e o patrimônio líquido das entidades. Tais despesas são constituídas com a finalidade de reduzir os ativos a seus valores realizáveis, proporcionando maior transparência às Demonstrações Contábeis e, portanto, a confiabilidade nesses demonstrativos por parte dos seus usuários. Neste tópico, vamos estudar mais algumas despesas que também não representam saídas de caixa, mas, sim, o desgaste ou a amortização de ativos e que, por outro lado, também irão reduzir os ativos a que se referem a seus valores realizáveis. 23 Como comentamos ligeiramente no início, conhecer essas despesas é de fundamental importância para diversos fins de análise, mas, sobretudo, no que se refere à gestão financeira das organizações. Tanto é assim, que elas são expurgadas do cálculo de um dos indicadores financeiros mais utilizados atualmente – o EBTDA – Earning Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization que traduzido literalmente para o português, significa "lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização", o qual vamos aprender a usar futuramente. Por ora, vamos conhecer tais despesas. Está curioso (a)?? Quer saber um pouco mais sobre o EBTIDA, antes de estudarmos esse assunto?? Consulte o site: http://www.valor.com.br/valor-investe/o- estrategista/2876970/apos-abusos-calculo-do-ebitda-agora-e-lei 1.5.1 Depreciação do Imobilizado Os bens do Ativo Imobilizado têm um tempo limitado de durabilidade, exceto os terrenos que não têm limitação para sua vida econômica. Todos os demais sofrem desgaste pelo uso ou outras intercorrências como, por exemplo, obsoletismo, muito comum em equipamentos de alta tecnologia. Assim, sempre considerando que os ativos devem ser demonstrados pelo seu valor realizável, o desgaste pelo uso ou o esgotamento gradual da vida econômica desses ativos deve ser refletido na contabilidade. Por outro lado, considerando que tal desgaste contribui para a geração das receitas da entidade, eles devem ser confrontados com tais receitas na demonstração dos resultados. Exemplo: O desgaste da máquina na preparação da terra para a plantação deve, necessariamente, ser computado na apuração do resultado em função da sua contribuição para a geração da receita na venda do produto final obtido. A seguir, podemos observar um exemplo de obsolescência muito comum no caso de bens que envolvem tecnologia. Dependendo do segmento de atuação da entidade, ela, necessariamente, deverá trocar seus equipamentos, periodicamente, em função da necessidade de acompanhar a evolução tecnológica dos mesmos. 24 Exemplo de obsolescência: Evolução de equipamentos Sobre o assunto, a legislação determina que: "A diminuição do valor dos elementos dos ativos imobilizado e intangível será registrada periodicamente nas contas de: (a) depreciação, quando corresponder à perda de valor dos direitos que têm por objeto bens físicos sujeitos a desgastes ou perda de utilidade por uso, ação da natureza ou obsolescência (...)" (Lei nº 6.404/76, art. 183 § 2º.) Ressalte-se que a legislação não menciona percentuais ou qualquer outra regra para que seja apurado o valor do desgaste, ela cita somente "perda de valor", de onde se pode depreender que qualquer outro parâmetro de medida que não seja o desgaste efetivo do bem pelo uso, ação da natureza ou obsolescência tem outros fins que não o de retratar o valor realizável do ativo como, por exemplo, os percentuais determinados pela legislação fiscal. Tais percentuais têm efeito exclusivo na apuração de tributos e não devem se sobrepor às normas contábeis. IMPORTANTE: Não confundir legislação fiscal com Normas Contábeis! Assim, os valores a serem depreciados devem ser mensurados de forma a retratar a perda do benefício econômico que o bem é capaz de gerar ao longo do tempo, trazendo o ativo respectivo ao seu valor realizável na data do Balanço. Evidentemente que deve ser considerada a relação entre o custo e o benefício de se manter um critério apurado na mensuração desses valores, além da materialidade dos mesmos quando comparados com os percentuais permitidos pela legislação fiscal para esse cálculo. Valor depreciável Para determinar o valor a ser depreciado deverá ser considerada o valor estimado da vida útil econômica do bem e seu valor residual (*), considerando as condições gerais do respectivo uso, características técnicas e outros fatores que possam influenciar essa estimativa. O valor a ser apropriado a título de depreciação de cada bem do Ativo Imobilizado deve ser determinado pela diferença entre o valor de custo do bem e o seu valor residual. Tal valor deverá ser apropriado, periodicamente, no decorrer da vida útil estimada do bem. (*) Valor residual = É o valor que a entidade espera obter por um ativo ao final da sua vida útil, líquido dos custos necessários para a sua venda, com razoável certeza.25 O valor residual e a vida útil de um ativo imobilizado devem ser reavaliados, no mínimo, uma vez por ano, regularmente. A estimativa de vida útil econômica de um bem do Imobilizado é definida tomando-se por base o tempo de utilidade esperada para o ativo que, segundo Iudícibus et al (2010, p. 249), pode ser traduzida no: � Período de tempo durante o qual a entidade espera utilizar o ativo; ou � No número de unidades de produção ou unidades semelhantes que a entidade espera obter pela utilização do ativo. O Pronunciamento Técnico – CPC 27 – Ativo Imobilizado cita a necessidade de se considerar os seguintes fatores na determinação da vida útil de um ativo: � Uso esperado, avaliado com base na capacidade de produção física esperadas do ativo; � Desgaste físico normais relacionados a fatores operacionais como uso em vários turnos, manutenção, reparos, entre outros; � Obsolescência técnica ou comercial por mudanças ou melhorias na produção ou demanda pelo produto gerado pelo ativo; � Limites legais, contratuais ou semelhantes ao tempo de uso do ativo (leasing, por exemplo). Métodos de cálculo da depreciação Mensurado o valor depreciável do item do Imobilizado, deve-se adotar um dentre os vários métodos para calcular a depreciação a ser contabilizada periodicamente. O método escolhido também deve ser revisado, no mínimo, anualmente. A seguir, vamos estudar os métodos mais tradicionais para cálculo da depreciação. Método das quotas constantes Esse método é utilizado pela grande maioria das empresas, sendo conhecido como método linear. Sua apuração consiste em dividir o valor depreciável pelo tempo de vida útil do bem, sendo representado pela seguinte fórmula: Depreciação = (Valor de custo do bem - valor residual) ÷ vida útil Exemplo: Suponha um bem do Imobilizado com as seguintes características: � Custo = $ 10.000 � Vida útil estimada = 5 anos, correspondente a 60 meses � Sem valor residual estimado A quota mensal de depreciação será: $ 10.000 ÷ 60 = $ 166,67 a.m. Método da soma dos dígitos dos anos Esse método é uma outra forma, também linear, de calcular a depreciação. Sua apuração consiste em: � Soma dos algarismos que compõem o número de anos de vida útil do bem; � Determinação do valor da depreciação anual utilizando-se uma fração em que o denominador é a soma dos algarismos, obtida em (a), e o numerador corresponde a (n) no primeiro ano, (n-1) no segundo ano, (n-2) no terceiro 26 ano, e assim por diante, adotando-se para "n" o número total de anos de vida útil esperada. Exemplo: Utilizando-se os mesmos dados do exemplo anterior, tem-se: Vida útil de 5 anos => 1 + 2 + 3 + 4 + 5 = 15 (denominador da fração) Frações: 5 / 15; (5 - 1) / 15; (5 – 2) / 15; (5 – 3) / 15; (5 – 4) / 15 Ano Fração Valor depreciável Depreciação anual 1 5 / 15 10.000 3.333,33 2 (5 - 1) / 15 10.000 2.666,67 3 (5 – 2) / 15 10.000 2.000,00 4 (5 – 3) / 15 10.000 1.333,33 5 (5 – 4) / 15 10.000 665,67 Como pode ser observado na tabela acima, trata-se de um método que contempla valores maiores de depreciação no início da vida útil do bem e valores menores para o seu final, partindo do pressuposto de que os bens, quanto mais novos, menos precisam de manutenção e reparos. Método de unidades produzidas Trata-se de um método que tem por base uma estimativa do número total de unidades que devem ser produzidas pelo bem a ser depreciado. A quota anual é calculada utilizando-se a seguinte fórmula: O resultado obtido será uma fração que representará o percentual de depreciação a ser aplicado no ano. É um método de aplicação restrita, visto que exige estimativas nem sempre possíveis de serem realizadas com todos os tipos de bens. Método de horas de trabalho Este método baseia-se na representação da estimativa de vida útil do bem em horas de trabalho, sendo que para o cálculo da quota anual é utilizada a seguinte fórmula: Como vimos, há várias formas de se calcular o valor da depreciação e aqui abordamos somente algumas delas. Vamos, então, aprender como contabiliza-la: = Anual Quota de Depreciação nº de unidades produzidas no ano X produzidas durante a vida útil do bem nº de unidades estimadas a serem = Anual durante a vida útil do bem Quota de nº de horas de trabalho no período X Depreciação nº de horas de trabalho estimadas 27 D Despesas de Depreciação (ou Custos de Produção) (*) Pelo valor da parcela mensal da quota de depreciação Conta de Resultado (ou de Ativo, quando for custo) C Depreciação Acumulada Idem Conta de Resultado Valor referente a quota de depreciação do período (*) Custos de Produção = quando se tratar de bens utilizados diretamente na produção de bens ou serviços, a depreciação deve compor o custo desses bens ou serviços. Experimente fazer a contabilização em razonetes! Aspectos importantes relativos à depreciação do Ativo Imobilizado Vamos salientar alguns aspectos que merecem especial atenção: � A depreciação de um bem deve ser reconhecida a partir do momento em que o Imobilizado a ser depreciado está "disponível para uso", ou seja está no local e nas condições necessárias para começar a funcionar. � Quando o bem deixar de pertencer ao Ativo Imobilizado, ou seja, não será mais utilizado no processo produtivo e será destinado à venda, a respectiva depreciação deve parar de ser reconhecida. � A vida útil do bem deve ser reavaliada periodicamente e as quotas de depreciação ajustadas, quando necessário. Vimos que as despesas de depreciação não afetam o caixa da entidade, no que se refere à contrapartida como saída de caixa, mas, vale salientar que alguns autores defendem que outra posição. Iudícibus et al (2010, p. 248), por exemplo, defende que, indiretamente afeta sim, visto que houve uma saída de caixa para aquisição do bem que está sendo depreciado e que tal saída deve ser recuperada pelas receitas geradas pela empresa. Mas, não vamos entrar no mérito dessa discussão, por enquanto. O fato é que, usualmente, as análises financeiras consideram tais despesas como não representativas de saídas de recursos. 1.5.2 Amortização e Exaustão Amortização O significado do termo amortização, aqui utilizado, não deve ser confundido com o que se usa quando se paga uma parcela de qualquer dívida, isto é, com "amortização de dívidas" ou quaisquer outros. A amortização que vamos estudar agora diz respeito à perda de valor do capital aplicado em certos direitos. O artigo 183, § 2º., da Lei nº. 6.404/76, já citado anteriormente, define em seu item "b", o que vem a ser a amortização de que vamos tratar, determinando que: "A diminuição do valor dos elementos dos ativos imobilizado e intangível será registrada periodicamente nas contas de: (...) 28 (b)Amortização, quando corresponder à perda do valor do capital aplicado na aquisição de direitos de propriedade industrial ou comercial e quaisquer outros com existência ou exercício de duração limitada, ou cujo objeto sejam bens de utilização por prazo legal ou contratualmente limitado (...)".(Lei nº 6.404/76, art. 183 § 2º.) No que se refere à diminuição dos elementos dos ativos imobilizados, já foi estudada a depreciação, restando, portanto, os elementos do ativo intangível. Vamos defini-lo, só para efeito de compreendermos quando estarão ou não sujeitos à amortização. Oportunamente, voltaremos a estuda-lo em detalhes. Os ativos intangíveis, como o próprio nome sugere, são ativos que não são visivelmente identificáveis. O Pronunciamento Técnico – CPC 04 – Ativos Intangíveis o define como sendo um "ativo não monetário identificável sem substância física", em outraspalavras, sem "corpo". Normalmente, representam os direitos citados no artigo 183, anteriormente mencionado. São exemplos de intangíveis: marcas e patentes, softwares, direitos de exploração de serviços públicos mediante concessão ou permissão do Poder Público, fundo de comércio adquirido, entre vários outros. A amortização ou não de uma ativo intangível está condicionada à sua vida útil: � Ativo com vida útil definida (vida útil conhecida) – amortizável (amortization approach); � Ativo com vida útil indefinida (ilimitada ou impossível de determinar de maneira confiável) – não amortizável, mas, sujeitos a testes de recuperação (impairment approach). Nosso foco, portanto, são os ativos intangíveis com vida útil definida, sujeitos a amortização. O valor amortizável do ativo intangível é o seu custo, partindo-se do pressuposto de que tal ativo não terá valor residual. Abaixo destacamos os pontos importantes que constam do item 97 do CPC 04, já citado, que normatiza o tratamento dos ativos intangíveis: � O valor amortizável do ativo intangível deve ser apropriado, sistematicamente, ao longo da sua vida útil; � A amortização se inicia a partir do momento em que o ativo intangível estiver disponível para uso, quando for o caso; � A amortização deverá cessar quando o ativo intangível correspondente for classificado como mantido para venda ou na data de sua baixa, o que ocorrer primeiro; � A despesa de amortização deve ser reconhecida no resultado. Métodos de cálculo da amortização O método de amortização a ser utilizado deve refletir o padrão de consumo pela entidade dos benefícios econômicos futuros que serão gerados pelo ativo intangível respectivo. Se esse padrão de consumo não for possível de ser determinado, a amortização deve ser feita utilizando-se o método linear, ou seja, dividir o valor amortizável pelo tempo da vida útil determinada. Em outras palavras, uma entidade adquire um ativo intangível esperando que ele gere benefícios econômicos futuros, aliás, esta é uma das condições básicas para 29 que um bem ou direito seja considerado como ativo, certo? O padrão de consumo desse benefício dependerá da sua natureza. Por exemplo, uma entidade adquire o direito de utilizar a marca de um produto por tempo determinado. O padrão de consumo desse direito dependerá de como a entidade pretende explorar essa marca. Quanto ao método linear, este é bem transparente. Vamos exemplificar utilizando um ativo intangível muito comum em todas as empresas – softwares. Supondo que uma entidade adquira um software específico para as suas atividades com prazo de vida útil de dois anos, por $ 50.000. A quota de amortização mensal corresponderá a: $ 50.000 ÷ 24 meses = 2.083,33 A contabilização da quota de amortização seria a seguinte: D Despesa de Amortização $ 2.083,33 Conta de Resultado C Amortização Acumulada $ 2.083,33 Conta de Ativo Valor referente ao ajuste a quota de depreciação do período Com relação aos ativos intangíveis com vida útil indefinida, voltaremos a eles no decorrer do curso. Exaustão A exaustão é aplicada a ativos representados por recursos naturais como, por exemplo, minas, jazidas, etc. Tais recursos, à medida em que são explorados, se exaurem, ou seja, se desgastam. O objetivo da exaustão, segundo Iudícibus (2010, p. 251), é "distribuir o custo dos recursos naturais durante o período em que tais recursos são extraídos ou exauridos". Método de cálculo da exaustão Para o cálculo do valor a ser contabilizado como exaustão utiliza-se o método de unidades produzidas / extraídas. Encontra-se o percentual correspondente a extração do recurso natural no período em relação à possança2. Esse cálculo pode ser representado pela seguinte equação: Encontrado esse percentual, ele deve ser aplicado ao custo de aquisição ou de prospecção dos recursos naturais explorados. 2 Possança: termo utilizado em geologia para representar a espessura de um estrato geológico (cada uma das camadas de rochas sedimentares); capacidade de produção de uma mina ou jazida. = Quota de Extração do período Exaustão % Possança total 30 Exemplo: Suponhamos que, num determinado ano, uma mineradora extraiu 10.000 toneladas de minério de ferro de sua mina, cuja possança total era de 100.000 toneladas. Vamos calcular o percentual de exaustão: 10.000 t ÷ 100.000 t = 10% Aplicando esse percentual ao valor contábil das jazidas de $ 50.000, tem-se: $ 50.000 x 10% = $ 5.000 – valor da quota de exaustão do período. Contabilizando: D Despesa de Exaustão $ 5.000,00 Conta de Resultado C Exaustão Acumulada $ 5.000,00 Conta de Ativo Valor referente à quota de exaustão do período Muito bem.......encerramos o que pretendíamos estudar nesta aula! Quantos conceitos novos e importantes, não é?!! Antes de finalizarmos, vamos, como de hábito, refletir sobre o que aprendemos e verificar se alcançamos ou não os objetivos propostos no início da aula. S e fico u alg um a dúvi da, não siga adiante! Volte e tente sanar a dúvida, antes de começar a Aula 4. Mas, se está confortável com o aprendizado até aqui, vamos em frente!! Na aula 4 o desafio será elaborarmos juntos um demonstrativo contábil de fundamental importância para a avaliação do desempenho da entidade – a Demonstração do Resultado do Exercício – DRE. VAMOS RELEMBRAR? OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM � Entendemos a diferença entre "provisões" e "previsões"? � Aprendemos como usar corretamente o termo "provisão", de acordo com o seu real significado? � Sabemos contabilizar as principais provisões contábeis? � Conhecemos e sabemos contabilizar as principais despesas que não afetam o caixa? FONTE: Clippart 31 Nesta aula, foram abordados conceitos importantes que auxiliam em diversas análises sobre o patrimônio e a gestão financeira das entidades. Vimos os conceitos de provisões e a sua diferença em relação às previsões para cumprimento de obrigações e constatamos que: - Os valores que correspondem a perdas estimadas pela não realização de ativos (contas redutoras) devem ser tratados como: PERDAS ESTIMADAS; - Os valores resultantes de obrigações reais (contas a pagar e provisões derivadas de apropriações por competência) devem ser tratados como: VALORES A PAGAR; e que - Provisões sobre as quais há incertezas sobre os prazos e valores de realização devem ser tratadas como: PROVISÕES. Também conhecemos os conceitos e aprendemos a contabilizar a constituição e a reversão de algumas perdas estimadas e provisões, entre elas a de Perdas Estimadas para Créditos de Liquidação Duvidosa, uma das mais conhecidas. Na sequência, estudamos também os conceitos de valor justo e de valor presente que, por sua vez, são causas de ajustes que, assim como as perdas estimadas e as provisões, têm por finalidade trazer ativos e passivos aos seus valores efetivos de realização na data do Balanço Patrimonial. Por fim, foram abordadas as despesas que, assim como as provisões constituídas e as perdas estimadas não afetam diretamente o caixa, como a depreciação, amortização e exaustão. QUESTÕES PARA REFLEXÃO E AUTO-AVALIAÇÃO Para consolidar os conceitos sobre PECLD – Perdas Estimadas com Créditos de Liquidação Duvidosa, vamos resolver uma questão de concurso público. Mas, veja só.......o aprendizado autônomo para ser produtivo e eficaz requer que DESAFIEMOS nossas dificuldades, o que significa que NÃO DEVEMOS OLHAR A SOLUÇÃO, antes de tentarmos resolver a questão. Assim, resista bravamente à tentação de olhar a resposta! Dica: Para resolver a questãouse razonetes, pois facilita o raciocínio Prova: ESAF - 2012 - Receita Federal - Analista Tributário da Receita Federal - Prova 2 - Área Informática. Disciplina: Contabilidade Geral. Assuntos: Perdas Estimadas com Créditos de Liquidação Duvidosa - PECLD (antiga PDD) A empresa Confiante Ltda. apresenta a seguinte movimentação com créditos a receber e clientes: Fonte: Clippart 32 � No balanço de 2010, em 31/12: tinha créditos a receber de R$ 2.800,00 e provisão para perdas prováveis de R$ 84,00. � Durante o exercício de 2011, contabilizou o recebimento de créditos R$ 980,00; a baixa por não recebimento R$ 120,00; a incorporação de novos créditos a receber R$ 1.700,00; o desconto de duplicatas no banco R$ 500,00. Em 31/12/2011, para fins de balanço, deverá fazer um nova provisão para perdas prováveis, no montante de a) R$ 51,00 b) R$ 84,00 c) R$ 87,00 d) R$ 102,00 e) R$ 171,00 PENSANDO........................................................ Fonte: Clippart 33 Contas a Receber (SI) 2.800 980 (1) (2) 84 84 (SI) (1) 980 (3) 1.700 120 (2) 51 (5) (4) 500 (SF) = Saldo Final 1.700 (3) 500 (4) (2) 36 (5) 51 (SF) 87 Bancos Conta MovimentoPECLD Receitas de Vendas Descontadas Duplicatas PECLD Despesas com (SI) = Saldo Inicial (2010) Solução: Vamos montar os razonetes e fazer os lançamentos contábeis dos eventos indicados no enunciado: No balanço de 2010, em 31/12: tinha créditos a receber de R$ 2.800,00 e provisão para perdas prováveis de R$ 84,00. Portanto, estes são os saldos iniciais (SI) de 2011. Acompanhe os débitos e créditos pelos números indicados em cada lançamento: (1) Em 2011, recebimento de créditos R$ 980,00; (2) Em 2011, baixa por não recebimento R$ 120,00; � Aqui, tem-se que foi efetuada uma baixa de crédito incobrável de $ 120, ou seja, houve uma perda real de $120,00. Ora, parte desse total já era uma perda estimada - $ 84,00 – portanto, essa estimativa deve ser baixada. Veja que, na realidade essa perda foi constituída em 2010 e, portanto, foi computada no resultado daquele ano. � Mas, o valor baixado foi de $ 120,00, certo?? Isto significa que, se desse total $84,00 refere-se a despesas de 2010, a diferença, isto é, $ 36,00, refere-se a despesas de 2011, razão pela qual deve ser apropriada a débito da respectiva conta. (3) Em 2011, incorporação de novos créditos a receber R$ 1.700,00; (4) Em 2011, desconto de duplicatas no banco R$ 500,00. (5) Em 2011, constituição de perdas estimadas no valor de $ 51,00. 34 Sabe-se que o percentual de perdas estimadas utilizado pela entidade é de 3%. Esse percentual aplicado pelos créditos incorporados em 2011, representa o valor de $ 51,00, portanto, este é o valor que deve ser contabilizado relativo às perdas estimadas sobre esses novos créditos. $ 1.700,00 x 3% = $ 51,00 Assim, conclui-se que o total de perdas estimadas constituídas em 2011 corresponderá a: $ 36,00 (créditos já baixados) + $ 51,00 = $ 87,00 A alternativa correta, portanto, é a "c" = $ 87,00 E aí??? Acertou??? Sim? ☺☺ PARABÉNS!!! Não? �� Refaça passo a passo os seus cálculos para saber onde errou. LEITURAS RECOMENDADAS DOMINGUES, João Carlos de A.; GODOY, Carlos Roberto. Redução ao valor recuperável de ativos: um estudo nas empresas do setor petrolífero mundial. Revista de Educação e Pesquisa em Contabilidade. v.6, n 4 (2012). Disponível em: http://www.repec.org.br/index.php/repec/article/view/306/679 SITES RECOMENDADOS www.cfc.org.br www.cpc.org.br www.receita.fazenda.org.br REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GRECO, Alvísio; AREND, Lauro. Contabilidade: teoria e prática básicas. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2012. IUDÍCIBUS, Sérgio de et al. Manual de contabilidade societária. São Paulo: Atlas, 2010. MARION, José C. Contabilidade empresarial. 12 ed. São Paulo: Atlas, 2006
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