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Características da Narrativa e Argumentação Jurídica

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Aula 1:
Características dos Textos Narrativo e Argumentativo
NARRATIVA JURÍDICA
A narrativa jurídica tem como ponto de partida a narração dos fatos que geraram a situação fática, começando sempre pela causa de pedir mais remota (origem do negócio jurídico/relação com Direito material) e terminando com a causa de pedir próxima (descumprimento da obrigação pelo réu), indicando o porquê de seu pedido. 
Sendo assim, o advogado do autor deverá narrar e descrever, primeiramente, os fatos que originaram o seu direito (causa de pedir remota/ nascimento do Direito material):
	O autor celebrou contrato de locação com o réu, em 29 de setembro de 2014, por prazo indeterminado, do imóvel localizado na Rua Francisco Rocha, nº 49, em Angra dos Reis, Estado do Rio de Janeiro, pagando aluguel de R$2000,00 (dois mil reais) com vencimento todo dia 20 de cada mês.
Em seguida, o advogado deverá narrar que houve violação ou ameaça de violação ao direito do autor (causa de pedir próxima), descrevendo os fatos e encerrando a sua narrativa jurídica. 
Exemplo: 
	O réu deixou de pagar os aluguéis dos meses de abril, maio e junho de 2015, perfazendo o total de R$ 6.000,00 (seis mil reais), conforme demonstrativo em anexo.
Nos parágrafos apresentados, podem ser destacados os seguintes elementos da narrativa, tão essenciais ao contexto jurídico ou ao mundo real: 
• O quê? Contrato de locação
• Quem? Partes processuais: autor e réu
•Como? Modo como os fatos aconteceram: narrativa propriamente dita 
•Onde? Angra dos Reis, Estado do Rio de Janeiro
• Quando? 29 de setembro de 2014
• Por quê? Inadimplência do réu 
	O credor é titular de um direito de crédito em face do devedor. O contrato foi feito e pactuado entre as partes: o credor teria direito ao pagamento de R$ 1.000,00 (mil) reais, em 7 de outubro de 2015 (dia do vencimento).
	O contrato foi firmado, em 7 de outubro de 2014, e o credor já dispõe do crédito no dia do vencimento, mas o devedor nega-se a cumprir a sua obrigação. 
	Constata-se que o direito de crédito nasceu com a realização do contrato, em 7 de outubro de 2014 (causa remota). No dia do vencimento, em outubro de 2015, o devedor negou-se a cumprir a sua obrigação. Tornou-se, portanto, inadimplente, violando o direito patrimonial do credor de obter a satisfação do seu crédito (causa de pedir próxima).
ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA
Manuel Atienza (2003, p.18) afirma que argumentar: “[...] é uma atividade que consiste em dar razões a favor de ou contra uma determinada tese que se trata de defender ou de refutar.” 
É fato que a arte de argumentar encontra-se presente na atividade jurídica a todo momento: o advogado deve argumentar para convencer o juiz de que seus argumentos são válidos e que ele deve decidir a seu favor, deve argumentar com o cliente, demonstrando quais são as opções que ele possui para solucionar o seu problema e qual delas é a mais indicada ou, então, persuadi-lo de que ele é o advogado certo para a causa e que aquele é o valor justo de honorários. 
ATIENZA, Manuel. As razões do Direito: teorias da argumentação jurídica. São Paulo: Landy, 2003. 
A argumentação implica produzir razões em favor daquilo que se afirma, mostrar que razões são pertinentes e o porquê de rebater outras razões que justificariam uma conclusão distinta. Percebe-se, assim, que argumentar é uma atividade muito complexa, o que destaca ainda mais a importância do uso de argumentos consistentes e de qualidade. 
Imagine essa situação fática:
O cliente de um determinado hotel fica ferido porque, enquanto ele dormia, se soltou do teto um pedaço de gesso. Surge, então, a questão de – se a administração do hotel se comportou negligentemente e deve, por isso, indenizar o cliente. 
Cada uma das partes (o advogado do hotel e o do cliente) deve formular uma tese e desenvolver uma argumentação, que poderia ser assim sintetizada: o laboratório de sismologia informa que no dia D à hora H se registrou um terremoto de baixa intensidade. 
Tese A - A queda do gesso foi causada pelo terremoto e não por negligência. 
Argumento 1 
Um terremoto dessa intencidade pode ter causado a queda do gesso. 
Argumento 2 
O doutor Y, sismógrafo de fama nacional, está disposto a dar o seu parecer sobre essa possibilidade. 
Argumento 3 
O edifício do hotel foi tão afetado pelo terremoto quanto as outras construções, mas só com relação ao hotel havia informação da existência de condições de insegurança. 
Tese B - A queda do gesso foi causada por neglegência do hotel, não pelo terremoto. 
Argumento 1 
No dia D, inspetores de edifícios da cidade indicaram que hotel X reunia condições de insegurança e fizeram referência à queda de gesso. 
 Argumento 2 
Dois dias antes da data indicada, chamou-se um profissional para reparar o gesso dos tetos. O serviço foi marcado para dois dias depois da data do acidente. 
Argumento 3 
Não há notícia de outros danos causados pelo terremoto. 
Narração
Argumentação
Objetivos
ExporosfatosrelevantesdocasoconcretoasersolucionadonoJudiciário.
Defenderumatesecompatívelcom ointeresseda partequeoadvogadorepresentaparasustentaçãodopedidoquesepretendeteracolhidopeloJudiciário.
Importânciadofato
CadafatorepresentaumainformaçãoquecompõeasituaçãofáticaaserconhecidapeloJudiciário.
Ofatonarradoéinterpretadoàluzdeordenamentojurídicoetransformadoemelementodepersuasão,queéoraciocínio,parasustentaçãodadefesadatesepretendida(descritivo-valorativo-normativo).
Narração
Argumentação
Tempo verbalutilizado
Paraosfatosqueseiniciaramnopassadoequeperduramatéomomentodanarração.
Ofuturonãoéutilizadoporquefatosfuturossãoincertos,hipotéticos.
Presente.Pretéritoperfeitosódeveserutilizadopararetomarosfatos(provas,inícios)relevantesdanarrativacomosquaissedefenderáatese.
Pessoa dodiscurso
Utiliza-se daterceirapessoado singularparamarcaraimpessoalidadedoadvogado,passando,assim,maiorveracidadeaosfatosnarrados.
Utiliza-se daterceirapessoado singularembuscademaiorpersuasãoeveracidadeparaosargumentosformulados.
Narração
Argumentação
Organização
Osfatossãodescritosenarradosemordem(pretérito),poisjáocorreram.
Osargumentossãoorganizadosemumalinhaderaciocíniológica,coesaecoerentes,embuscadoconvencimentodoauditório.Édegranderelevânciaaevidênciadasprovas.
Elementosconstitutivosdanarrativa
Oquê? (fatogeradordoconflito/pedido);
Quem? (partesprocessuais);
Onde? (local dofato);
Quando(hora,dia,mêseanodofato);
Como? (modocomoosfatosocorreram);
Porquê? (razão/motivo/consequência).
Narração
Argumentação
Estruturadaargumentação
Fatogeradordoconflito;
Apresentaçãodateseaserdefendida;
Construçãodeargumentosconsistentesparasustentaçãodatese;
seleçãodosargumentosparadefesadatesedeformapersuasiva.
Naturezadotexto
Anarrativapossuinaturezainformativa, masétambémentendidacomoumexcelenterecursopersuasivoaserviçodaargumentação.
Dicas para produção de narrativa jurídica
1. Não inicie a narrativa jurídica pela data ou outro elemento similar (lugar, horas), pois o texto deve ser iniciado sempre pelo seu protagonista e na narrativa jurídica o protagonista é o autor. Logo, inicie a narrativa jurídica sempre pelo autor da Petição Inicial. Não há necessidade de qualificá-lo, pois as descrições do autor já foram feitas anteriormente, em outro momento (Qualificação das Partes). 
2. Não faça uma narrativa jurídica confusa, ora usando o nome civil das partes, ora usando as nomenclaturas autor e réu. Esse procedimento afeta a clareza textual.
3. Na narrativa jurídica, a repetição da nomenclatura autor e réu faz-se necessária à clareza do texto. 
Dicas para produção de narrativa jurídica
4. Se usar Autor com a primeira letra maiúscula ou todo ele em caixa alta, ou até negritado, adotar o mesmo critério para a parte contrária. Não estabelecer diferenças de estilo de escrita entre as partes para evitar interpretações distorcidas.5. Não se posicione na narrativa jurídica, com a intenção de defender uma tese, isto é, não se justifica, não se fundamenta neste primeiro momento; narram-se apenas os fatos relevantes (fatos simples- auxiliam na composição da lide) e os relevantes juridicamente (fato jurídico - deste advêm consequências jurídicas/direito subjetivo lesionado) necessários à compreensão da lide. 
6. Não fazer resumo dos fatos, mas sim a narração dos fatos. Logo narrar e resumir são institutos bem distintos. Para isso, a cada parágrafo narrar e descrever apenas um fato, sempre que possível acompanhado de uma prova ou de um indício, e as circunstâncias em que o fato ocorreu. 
Dicas para produção de narrativa jurídica
7. Não se usa na narrativa jurídica, elaborada pelos representantes legais das partes, nomenclatura jurídica nem tampouco dispositivos legais. Nesse elemento trabalha-se apenas com NARRAÇÃO e DESCRIÇÃO DOS FATOS, PROVAS e CIRCUNSTÂNCIAS em que o fato aconteceu. 
8. Evite a expressão “Ocorre que” (verbo + a conjunção integrante “que”) em sua narrativa jurídica, que vem sendo usada frequentemente nos textos jurídicos, mas sem preservar o sentido de sua etimologia. 
Dicas para produção de narrativa jurídica
9. Cuidado! O advérbio “onde” indica o lugar (estático) em que se está ou em que se passa algum fato. Geralmente, refere-se a verbos que exprimem permanência. O advérbio “onde” não deve ser usado em situações em que a ideia de lugar, mesmo que metaforicamente, não esteja presente. Em termos práticos, “onde” pode ser substituído por: em que lugar, no qual, em que. 
10. Prefira a voz ativa à voz passiva. Exemplo: “A Autora e a avó materna cuidaram da criança, durante cinco anos, e o menor nunca recebeu a visita ou auxílio financeiro do Réu, mesmo tendo este reconhecido a paternidade”. Em vez de: “Durante cinco anos, a criança foi cuidada por sua mãe e sua avó materna, nunca tendo o menor recebido visita ou auxílio financeiro do genitor, mesmo tendo este reconhecido a paternidade”. A voz ativa possui força mais persuasiva. 
Dicas para produção de narrativa jurídica
11. Priorize a ordem direta (verbo + sujeito + o restante) em nome da clareza: O autor comprou um aparelho de ar condicionado fabricado pela “G” S. A., empresa sediada no Rio de Janeiro, em função da chegada do verão, em 15 de janeiro de 2015.
12. Lembrar-se sempre de que da narrativa lógica dos fatos que advém a conclusão, isto é, dos fatos narrados decorre logicamente o pedido. 
13. Depois de selecionar os fatos, narre-os em ordem cronológica ou linear. 
Exemplo de narrativa jurídica
A Autora teve um relacionamento esporádico com o Réu, do qual nasceu Pedro. Durante cinco anos, somente a Autora e a avó materna cuidaram da criança, nunca tendo o menor recebido visita ou auxílio financeiro do Réu, mesmo tendo ele reconhecido a paternidade.
Entretanto, em 10 de setembro de 2015, a Autora, a pedido do Réu, pai da criança, levou o menor para a cidade de Belo Horizonte/MG para que conhecesse os avós paternos, sobretudo o avô, que se encontra acometido de neoplasia maligna.
Quando chegou à casa do Réu, a Autora foi agredida fisicamente por ele e outros familiares, sendo expulsa do local sob ameaça de morte e obrigada a deixar seu filho Pedro com eles contra sua vontade e o Réu fez questão, ainda, de reter todos os documentos da criança (certidão de nascimento e carteira de vacinação).
Exemplo de narrativa jurídica
Em seguida, ainda sob coação física, a Autora foi forçada a ingressar em um ônibus e retornar ao Rio de Janeiro. Assim, com sua vida em risco, a Autora, desesperada, deixou o menor e viajou às pressas para a cidade do Rio de Janeiro/RJ, onde reside com sua mãe, a fim de buscar auxílio.
Desde essa data (10/9/2015) o menor se encontra em outro Estado, na posse do Réu e de seus familiares, e a Autora, que sempre cuidou de seu filho Pedro, não sabe o que fazer, pois o Conselho Tutelar da Cidade do Rio de Janeiro já foi notificado, mas, até o momento não conseguiu fazer contato com o Réu.

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