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Interpretação das normas constitucionais Interpretação das normas constitucionais: Interpretar as normas constitucionais significa compreender, investigar o conteúdo semântico dos enunciados linguísticos que formam o texto constitucional . Desta forma, cumpre apontar que a Constituição de um Estado deve ser interpretada pelo exegeta (intérprete) , que buscará o real significado dos termos constitucionais. 1.1- Peculiaridades justificantes de uma hermenêutica constitucional: A interpretação constitucional é extremamente importante, na medida em que a Constituição dará validade para as demais normas do ordenamento jurídico. Assim, devemos decifrar o verdadeiro alcance da Constituição . a fim de sabermos a abrangência de uma norma infraconstitucional. Todavia, a constituição possui peculiaridades que impedem a realização de uma interpretação idêntica ao modo interpretativo das normas infraconstitucionais (gramatical ,histórico, etc.) e dentre estas peculiaridades, cumpre destacar quatro pontos principais, os quais justificam métodos hermenêuticos próprios: Inicialidade: Esse caráter de inicialidade , que do ângulo estritamente interpretativo impõe que seus termos e vocábulos sejam interpretados a partir dela mesma. Se se tratar de palavras de uso comum é este que deverá prevalecer. Se se tratar contudo, de um termo técnico, o que deve-se tomar em conta é toda tradição existente em torno dele. O que não se pode é erigir uma fonte normativa qualquer como especialidade credenciada a fornecer-lhe o verdadeiro sentido. A constituição não pode valer-se de parâmetros ,critérios e princípios que não os nela mesmo substanciados . Conteúdo marcantemente político: A constituição é o “estatuto político do fenômeno político” na síntese conceitual de Canotilho. Não é fácil o disciplinar juridicamente da atividade política, faz-se necessário incorporar ao texto uma serie de princípios que tem mais caráter ideológico do que uma exata precisão jurídica . Assim acontece com a Federação, a República, a separação de poderes, a democracia, a liberdade , dentre outros. Estrutura de linguagem caracterizada pela síntese : A Constituição é de linguagem marcadamente Lacônica. Este seu laconismo faz com que regras constitucionais suscitem problemas hermenêuticos não encontrados nos demais ramos do direito, ao menos com igual nível de dificuldade . O efeito imediato desse fenômeno é o sentido de maior unidade de que se reveste a Constituição. Esse fator, por sua vez, contraindica, uma interpretação isolada das normas. Predominância das chamadas normas de estrutura , tendo por destinatário o próprio legislador ordinário : Não há dúvidas que , o núcleo das constituições são formados por um conjunto de normas com caráter eminentemente organizatório ,isto é: normas que conferem ou outorgam competências. 1.2- Fontes interpretativas São vários modos de onde nascem, surge, as formas de interpretação das normas constitucionais. Verifica-se que podemos classificar a interpretação como: Autêntica: É a interpretação realizada pelo próprio órgão que editou a norma a ser interpretada, declarando seu sentido, alcance e conteúdo, por meio de uma outra norma jurídica . Obviamente uma norma constitucional somente poderá receber interpretação autêntica por outra norma constitucional, tendo-se assim a vontade do poder constituinte. Judicial: É a interpretação realizada por órgão jurisdicional, demostrando a orientação que os juízos e tribunais vem dando á norma. Doutrinária: Também conhecido como interpretação “cientifica” , se refere á interpretação feita por estudiosos e cultores do direito. 1.3- Objeto da interpretação constitucional O objeto da interpretação constitucional é a norma constitucional. 1.4- Finalidade da interpretação constitucional A interpretação constitucional é necessária para solucionar, nos casos concretos, o conflito entre bens e direitos constitucionalmente protegidos, bem como para conferir eficácia e aplicabilidade a todas as normas constitucionais . O objeto da interpretação é o de achar o resultado constitucionalmente “correto” através de um procedimento racional e controlável, criando deste modo certeza e previsibilidade jurídica e não o acaso, ou a decisão pela decisão. 1.5- Métodos de interpretação: É um conjunto de métodos ,desenvolvidos pela doutrina e pela jurisprudência com base em critérios ou premissas (filosóficas, metodológicas, epistemológicas) diferentes mas, em geral, reciprocamente complementares. a) Método jurídico (Hermenêutico clássico): Consoante este método a constituição deve ser encarada como uma lei e , todos, os métodos tradicionais de hermenêutica deverão ser utilizado na tarefa interpretativa. b) Método tópico- Problemático: Por meio deste método, parte-se de um problema concreto para a norma , atribuindo-se a interpretação um caráter prático e na busca da solução dos problemas concretizados . c) Método hermenêutico concretizador: Parte-se da Constituição para o problema, destacando-se os seguintes pressupostos interpretativos (pressupostos hermenêuticos-constitucionais): Pressupostos subjetivos Pressupostos objetivos Circulo hermenêutico d) Método cientifico- espiritual: A analise da norma constitucional não se fica na literalidade da norma, mas parte da realidade social e dos valores subjacentes do texto da constituição. e) Método normativo- estruturante: O interprete deve identificar o conteúdo da norma constitucional mediante analise de sua concretização normativa em todos os níveis. A tarefa da investigação compreende a interpretação do texto da norma e também a verificação dos modos de sua concretização na realidade social. f) Método de comparação constitucional: A interpretação comparativa pretende captar a evolução de institutos jurídicos, normas e conceitos nos vários ordenamentos jurídicos , identificando suas semelhanças e diferenças com o intuito de esclarecer o significado que deve ser atribuído a determinados problemas concretos. 1.6- Princípios da interpretação constitucional Além dos métodos de interpretação acima transcritos e como diretrizes de sua aplicação ,a doutrina identifica a existência de determinados princípios específicos de interpretação constitucional. a) Principio da unidade da constituição: As normas constitucionais se inter-relacionam, acarretando em uma vontade única, sendo esta vontade obtenível por meio de uma interpretação sistemática. Sendo necessário que o interprete procure as recíprocas implicações de preceitos e princípios até chegar a uma vontade unitária da constituição. b) principio do efeito integrador: Significa que , na resolução de problemas jurídico-constitucionais ,deve-se dar primazia aos critérios ou pontos de vista que favorecem a integração política e social e o reforço da unidade política. c) Princípio da máxima efetividade: O interprete deve atribuir á norma constitucional o sentido que lhe confira maior eficácia, mais ampla efetividade social. d) Principio da justeza ou da conformidade funcional: O interprete máximo da constituição no caso Brasileiro , o Supremo Tribunal Federal, ao concretizar a norma constitucional , será responsável por estabelecer a força normativa da constituição. e) Principio da concordância prática: É da decorrência lógica do principio da unidade da constituição, exigindo que os bens jurídicos constitucionalmente protegidos possam coexistir harmonicamente , sem predomínio, em abstrato, de uns sobre os outros. f) Principio da força normativa da constituição: O interprete deve valorizar as soluções que possibilitem a atualização normativa, a eficácia e a permanência da constituição. g) Principio da interpretação conforme a constituição: Diante das normas plurissignificativas ou polissêmicas ( que possuem mais de uma interpretação) ,deve-se preferir a interpretação que mais se aproxima da constituição. 1.7- Forçada realidade face a norma jurídica: Pode-se concluir que a hermenêutica constitucional procura a concretização da norma constitucional ou seja, a interpretação constitucional considera os fatos do mundo real além objeto do texto (relevância da realidade concreta do mundo). 1.8- Efeitos da interpretação constitucional na unidade do sistema jurídico: A constituição confere validade para as demais normas do ordenamento jurídico. Assim a partir da interpretação constitucional deciframos, o verdadeiro alcance da constituição ,descobrindo-se ,por consequência , a abrangência de uma norma infraconstitucional ,ou seja, descobrindo-se o real significado das normas jurídicas. 1.9- Mutações Constitucionais São alterações no significado e sentido da interpretação de um texto constitucional. A transformação não está no texto em si, mas na interpretação daquela norma enunciada, sendo que o texto permanece inalterado. Portanto exteriorizam o caráter dinâmico e de prospecção das normas jurídicas ,por meio de processos informais.
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