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Universidade Federal de Minas Gerais – Faculdade de Educação Programa de Pós-Graduação em Educação: Conhecimento e Inclusão Social Disciplina: Tendências do Pensamento Educacional (C): Políticas Públicas de Educação Professora Doutora Rosimar de Fátima Oliveira Aluna: Edna Vaz de Andrade MARQUES, Eduardo Cesar. Notas Críticas à Literatura sobre Estado, Políticas Estatais e Atores Políticos. BIB, Rio de Janeiro, n. 43, 1º semestre de 1997, pp. 67-102. O artigo traz uma análise literatura marxista enfocando o Estado e a questão das políticas públicas. Para os marxistas, o Estado tem um caráter de classe. A subordinação do Estado ao capital está presente em todas as versões da tradição. As ações do Estado podem ser explicadas através da estrutura da sociedade capitalista, da ação direta e da articulação dos capitalistas, de sua ação indireta através e mecanismos de socialização política, da diferente posição estrutural das diversas classes no capitalismo ou considerando a estruturação interna do Estado como filtro contra políticas danosas ao capital. Para os autores desta perspectiva, a luta política não é contin- gente, ou a sua margem de contingência é muito pequena. O autor analisa a obra de Poulantzas sendo o primeiro a colocar o Estado no centro do marxismo. Para Poulantzas o Estado organizaria os interesses dos capitalistas como classe e de- sorganizariam os trabalhadores como classe, apresentados na esfera da política como cidadãos. Dessa forma, as ações do Estado representariam uma autonomia relativa, havendo uma margem de manobra para a realização de ações legitimadoras da ordem e do Estado burgueses, possibili- tando uma certa harmonia com as políticas de interesse do capital, que deve ser interpretado em vários aspectos. Para Poulantzas as classes e frações hegemônicas na formação social formariam o bloco no poder, “articulação contraditória que controlaria o Estado, imprimindo a este a racionalidade dos interesses das frações hegemônicas” (p. 70). As contradições internas da burguesia perderiam importância, e o Estado se autonomizaria em relação aos interesses da fração hegemônica imple- mentando ações que reproduzissem a sociedade capitalista como tal. Numa segunda teoria, Poulantzas define o Estado como um campo de poder, onde se materializariam as lutas e conflitos entre os diversos atores: elasses e frações de classe. Por meio da autonomia relativa do Estado, este campo se organizaria as classes dominantes em torno dos interesses de curto prazo das frações hegemônicas no bloco de poder, e da classe burguesa no longo prazo. Da mesma forma o Estado desorganizaria dominada por concentrar em si a relação de força entre dominados e dominadores. O Estado seria um campo de lutas, suas diversas agen- cias apresentariam caráter contraditório, defendendo posições divergentes com relação às classes, às frações de classe, e mesmo aos diversos componentes do bloco no poder. O autor tece consi- derações acerca do caráter contraditório da teoria de Poulantzas. A desproporcionalidade de Poder Social é vista pelo autor em: As Elites Econômicas e Estatais; A Articulação dos Capitalistas; A Reprodução dos Valores Burgueses; A Dependência Estrutural do Estado ao Capital e A Seletividade Estrutural do Estado Capitalista. O autor aponta alguns autores marxistas que revisitaram a teoria das elites de Carles Wrigth Mills, utilizando a ideia de elite do poder articulada com o estudo das classes sociais. Para eles, a presença de uma elite estatal explicaria o caráter de classe das ações do Estado. A classe capitalista um a “classe social que exerce poder sobre o governo [aparato estatal] e subordina a população de uma dada nação [Estado]” (Domnhoff, 1979, p. 12). Para Domnhoff, esse domínio seria alcançado por meio da influência para a satisfazer os interesses particulares pontuais, o processo de formação das políticas públicas, a escolha de can- didatos a cargos eletivos, e a ideologia, que disseminaria valores e crenças permitindo a manu- tenção do status quo. O agente direto desses processos seria a elite no poder. Para este autor a desproporção estrutural de poder na sociedade capitalista estaria associ- ada à distribuição desigual de renda e riqueza, a padrões diferenciados de vida e bem-estar, ao controle sobre as mais importantes instituições sociais e econômicas do país, e ao domínio direto sobre os processos governamentais. O caráter classista do Estado seria o da produção das políticas públicas, especialmente nas “grandes questões” como as políticas externa, fiscal, ambiental e de bem-estar. Para ele, a produção das políticas sobre os grandes temas é um ponto de convergência da ação da classe dominante. Para Domnhoff, o caráter classista do Estado estaria associado às ações da elite no poder e de suas instituições. Ralph Miliband ressalta o papel da elite estatal na fixação das políticas e ações do Estado. Miliband observou o Estado de forma mais próxima distinguindo suas diversas partes: governo, o elemento administrativo, os militares, o judiciário e as unidades locais. A elite estatal seria composta pelas pessoas em posição de comando em cada uma dessas institui- ções. A elite estatal explica o caráter de classe do Estado, mas a explicação da existência dessa elite se situa, simultaneamente, na cultura e na política. A segunda questão abordada pelo autor é “A Articulação dos Capitalistas”. Traz análise de Offe sobre as ações coletivas de capitalistas e trabalhadores. Ao demonstrar a diferença entre elas, Offe explicita o desnível estrutural na distribuição de poder na sociedade. Para Offe a concentração de capital nas mãos de cada capitalista, apesar de individuais, tem consequências coletivas. O sindicato responde à existência do capital como relação social. A diferença entre as duas ações coletivas está em que para os trabalhadores, a ação deve ser prece- dida de solidariedade, organização e diálogo, e para o capitalista não há necessidade de nenhuma ação. O custo-benefício para os capitalistas é claro e direto, contrariamente para os trabalhado- res, e a diversidade de interesses de trabalhadores é maior do que para os capitalistas. As lideran- ças dos trabalhadores acumulam menos poder que as lideranças empresariais. A lógica das ações de capitalistas e trabalhadores obedece às posições dos atores nas relações de produção. Dessa forma, os capitalistas influenciam mais nas ações do Estado. O autor responde à questão da articulação dos capitalistas de duas formas distintas: a primeira adotada por Domnhoff em seu estudo sobre os Estados Unidos, considerando que os capitalistas se articulam duplamente através de uma origem de classe comum, principalmente através de entidades representativas que se relacionam com os aparelhos de Estado influenciando as políticas públicas. A outra linha analítica ressalta o papel da interpenetração das propriedades empresariais na formação de um fórum de articulação dos interesses de classe. O inner circle formado pela superposição das diretorias das grandes empresas com vários membros da mesma origem social. Para Michael Useem as recentes transformações na organização interna dos grandes grupos em- presariais e na formação de seus interesses expressaria o surgimento de uma nova forma do capital moldar seu ambiente político, planejando e controlando a economia, reduzindo o poder e a auto- nomia do Estado. O Estado estaria à subordinação do capital coletivo. A terceira questão abordada pelo autor refere-se à “Reprodução dos Valores Burgue- ses”. Sobre a socialização política parte da explicação da natureza classista do Estado, Ralph Mi- liband argumenta que o compartilhamento do universo de valores e representações é a explicação de fundo para o caráterde classe do Estado na sociedade capitalista. Para o autor, as ações dos capitalistas não têm caráter neutro em relação à política, o número de empresários envolvido com tais questões é relativamente muito pequeno e não poderia explicar todas as ações do Estado. O importante é que o controle e a gestão do Estado estão a cargo da elite estatal, que tem a mesma composição que a elite econômica. Esta situação faz com que os interesses de classe do capital sejam entendidos como os interesses nacionais o que o autor denomina “tendência preconceituosa em relação a determinadas classes, interesses ou grupos”. Este fenômeno, também ressaltado por Offe (1984), reduz de forma drástica a ocorrência de ações estatais contra os interesses do capital. Miliband utiliza esse raciocínio para explicar por que mesmo os partidos socialistas, quando chegam ao poder, quase nunca adotam medidas contra os interesses do capital em geral. Como contraponto, ações em favor de capitais individuais, ou no interesse do capital em geral, são muito mais prováveis. Dependência Estrutural do Estado ao Capital das transformações sociais ocorridas nas décadas de 1970/1980 e o desmonte dos Estados de Bem-estar. Sindicados e bancos americanos perdem força, transferindo-a para outros setores como a indústria das finanças. Os próprios Estados Na- cionais alteram significativamente o seu poder. O esgotamento explicativo macroteórico, assistimos a uma grande efervescência teórica e a consolidação da busca de novos caminhos para a teoria social representam um marco nas Ciências Sociais. A convergência é a característica mais geral dessa busca de caminhos. A pro- dução de análise, trabalhos teóricos e metateóricos que permitem o diálogo entre paradigmas e matrizes disciplinares, incorporando e articulando olhares em vez de tentar hegemonizar um de- terminado campo de questões. Na perspectiva de diálogo e convergência de olhares, destaca-se o Estado e o seu papel na condução de políticas. Nesse campo, novas contribuições teóricas introduziram possibilidades analíticas oriundas das Ciências Políticas, Economia e Sociologia. O autor mapeia essas contribuições da literatura considerada como as mais promissoras para o estudo de um tema específico: os atores políticos e sua capacidade de influenciar as políti- cas estatais. Parte da literatura neomarxista do Estado. O interesse dos atores, assim como a ideia de que a burguesia, na maior parte das situações históricas, constitui o principal ator político na definição das ações do Estado. O autor critica o privilégio dado a este ator que o transformou por aquela literatura em sobre determinação, definindo a priori o resultado das lutas concretas que se desenrolaram na sociedade. Ressalta a relevância de outros atores, enriquecendo e complexifi- cando a realidade descrita pelo modelo teórico marxista. O autor também ressalta outros dois atores que considera fundamentais na constituição e gestão das ações do Estado: os agentes estatais e as corporações profissionais. Faz uma crítica à literatura marxista formulada a partir das perspectivas das literaturas Neoinstitucionalista, da aná- lise setorial e do State-in-society approach. As políticas públicas ressaltam o papel do próprio Estado. A análise setorial ressalta as comunidades profissionais como importantes atores na pro- dução e implementação de políticas setoriais.
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