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UNOPAR VIRTUAL Pedagogia Disciplina: O trabalho do Pedagogo nos Espaços Educativos Prof.(a): Vilze Vidotte Costa Aula: 02-O Pedagogo diante da gestão escolar Semestre: 2º Texto aula atividade GARCIA, Regina Leite. Síntese das anotações dos especialistas no encontro com a professora Regina L. Garcia. Palestra: O papel do especialista na escola atual. In: Evento: O papel do especialista na escola atual; Inst. promotor-financiadora: Secretaria Municipal de Educação de Itajaí, 1995. O PAPEL DO ESPECIALISTA NA ESCOLA ATUAL GARCIA, Regina L1. Acredito fortemente que existem papéis importantes para os três profissionais2 da educação numa escola. Uma escola de qualidade boa, preocupada de fato com que todas as crianças entrem e permaneçam nesta escola, que tenham garantida a sua condição de sujeitos do conhecimento, criando a oportunidade de validar esses conhecimentos, que trazem sobre o mundo, as relações e, sobre si mesmo, bem como ampliar e aprofundar ao máximo esses conhecimentos, iniciados na Educação Infantil e percorrendo toda a escolaridade. Nesta escola eu sempre reconheço a função dos três profissionais da educação, porque estou convencida de que uma escola funciona bem desde que a mesma aconteça, sabendo o que fazer. Quanto mais souberem melhor, pois, estarão fazendo conscientemente seu trabalho. Isso estará sempre acontecendo, mesmo que o profissional da educação não saiba desempenhar o seu papel, alguém estará desempenhando ou indicando suas funções. Na conversa com os membros da Coordenadoria de Especialistas sobre a questão desses profissionais e como estão trabalhando, faz se necessário resgatar e refletir sobre o que vem ocorrendo no âmbito nacional: acabar com estes profissionais (enquanto especificidade) ou então transformá-lo em um só. Defendo que existe uma especificidade na ação orientadora educacional, na ação supervisora e na ação administradora. “Todos os profissionais da escola tem uma função pedagógica, já que atuam numa agência pedagógica. A empresa não brinca porque visa o lucro - o material e o dinheiro -, a escola também visa o lucro, mas um outro tipo de lucro - o lucro humano”. 1 Professora colaboradora e pesquisadora associada da Universidade Federal Fluminense – UFF. 2 Estes três profissionais são: Administrador (a) Escolar, o Orientador (a) Educacional e o Supervisor (a) Educacional. UNOPAR VIRTUAL Pedagogia No processo administrativo é preciso organizar o tempo e o espaço da escola, portanto, o administrador tem o conhecimento mais específico para organizar toda a escola. É preciso aprender com as empresas em relação à organização, garantindo infra-estrutura para que a escola garanta a aprendizagem do aluno. As empresas contratam quem tem teoria e prática para administrar, e a escola é o local de improvisação. Todo mundo pode ser tudo. Por isso, defendo as especializações destes três profissionais da educação. A escola tem que deixar de trabalhar no improviso: as turmas são organizadas de qualquer maneira, o espaço, o horário, as coisas vão acontecendo e não tem ninguém para garantir uma infra-estrutura que possibilite ao professor exercer, plenamente, sua prática pedagógica, as crianças exercerem, plenamente, seu ato de aprender e que o processo pedagógico se dê em plenitude. É importante que os recursos humanos e materiais sejam suficientes, bem administrados e otimizados de forma que todos possam entrar na escola e cursar a escolaridade, pelo menos a obrigatória, tendo que sair sabendo mais do que quando entraram. A escola existe para a socialização e produção do conhecimento. Na questão da especificidade dos profissionais da educação no âmbito nacional, vários estados acabaram com a contratação desses profissionais, reforçando a tese do “generalista”, que surgiu na atuação da Professora Guiomar Nano de Mello, como secretária da educação, na cidade de São Paulo. O grupo ao qual pertencia essa professora, vindo da Universidade, todo formado por pesquisadores, concluiu, através de uma pesquisa realizada na Rede de Ensino da cidade de São Paulo, que os Orientadores e Supervisores não sabiam o que fazer e não diziam o que vinham fazer na escola. Mas, eles não podiam mandar todos aqueles profissionais embora, então, não sabendo o que fazer transformaram os dois profissionais em um só, passando a chamá-los de “Coordenador Pedagógico” por opção apenas política e não teórica-prática. Espero que aqui em Florianópolis os profissionais da educação saiam convencidos da importância de sua função. “Mas, vejam bem, quando não sabem da especificidade dessa função, eu preferiria que realmente mandassem embora. Estes prejudicam a categoria”. Não tenho dúvidas de que os Profissionais da Educação, principalmente os Orientadores e Supervisores foram criticados, não por convicções políticas e sim, porque os próprios não sabiam o que fazer e a escola, então, passa a não acreditar neles. Com isso, aumentam as suas dificuldades na condução do trabalho pedagógico. Pois, quem é desacreditado e quem não acredita em si, dificilmente seria capaz de construir um trabalho efetivo na escola. Então, vejam a importância do tipo de reunião onde discutimos, trocamos e nos fortalecemos enquanto grupo, para voltarmos com “mais gás” para o cotidiano escolar. As trocas de experiências, estudos, registros de nosso trabalho e, como grupo, que tem uma carga muito forte, deve funcionar, também, como um suporte afetivo para cada um de nós. É importante se ter um espaço para troca afetiva, para quem exerce um trabalho desgastante, como é o trabalho educacional, bem como, o da administração, da orientação e da supervisão escolar. UNOPAR VIRTUAL Pedagogia Entendo que a formação desses profissionais precisa melhorar, é muito ruim e a formação do professor também é. Não tenho dúvida nenhuma que esses cursos deveriam ser reformulados a partir do que a prática nos indica, do que seria o Administrador, o Orientador e o Supervisor. Os cursos, de um modo geral, continuam com um grande peso na psicologia e muito pouco nas questões pedagógicas. Em relação à Orientação precisamos entender que há diferença entre orientação psicológica, orientação profissional e orientação pedagógica. A partir de um determinado momento da Orientação Educacional no Brasil, entra um grupo significativo, quantitativa e qualitativamente, que tinha uma grande esperança na escola e no conhecimento desta. O Orientador Educacional no currículo foi uma inovação no Brasil, e isso aconteceu exatamente porque esse grupo prezava pela competência e não pelo tecnicismo. Era um grupo significativo e sabia o que era a escola, sabia delinear o papel para o Orientador Educacional. A escola brasileira está muito ruim. Isso porque a sociedade é perversa e destrói o sistema de saúde e de previdência para privatizá-los. Criou-se uma ideologia de que a escola pública é ruim e que a escola particular é boa. Segundo Fernando Henrique Cardoso, o problema da educação brasileira não é um problema de verbas e, sim, do mau uso das verbas. De cada R$ 100,00 destinados a educação, somente R$ 9,00 chega ao aluno. O restante se perde na burocracia e outras políticas públicas. O outro problema da educação, segundo ele, é o fracasso escolar decorrente da má formação dos professores e propõe um treinamento de professores a distância, com a colocação de antenas parabólicas e televisões. Também informou que todas as crianças seriam testadas, porque o sistema não testa seus alunos, portanto, não vê o resultado de seu trabalho. A partir desses testes se iriam corrigir a educação brasileira. Com esses depoimentos passo a apontar o que vai acontecer com a educaçãobrasileira, comparando com o que aconteceu com a Inglaterra, Estados Unidos, países da Europa em geral, no México e na Argentina. A estratégia é a seguinte: 1. Você desqualifica a escola pública “ela é muito ruim”. Os meios de comunicação de massa fazem isso com a maior competência. Todo dia tem notícia de como a escola é ruim, da professora que ganha R$ 100,00 e é ignorante tanto quanto seus alunos. Todo dia tem esse tipo de matéria na televisão, todo dia tem a desqualificação do serviço público. “A questão é que a educação pode ser lucrativa, então, vamos privatizar a educação e a escola”. 2. Testar as crianças para verificar quantitativamente o rendimento da aprendizagem. Computar qual a escola que vem obtendo o melhor resultado. Classificar as escolas por ordem de aproveitamento, etc. A intenção é que os pais recebam bônus dentro da lógica do mercado, matriculando seu filho na melhor escola classificada. A escola que tiver a maior procura receberá mais verbas, passando a contratar os melhores profissionais e a comprar materiais a partir de seus próprios critérios de forma a adequar ao seu Projeto Político Pedagógico. Dentro desta concepção de escola ela poderá receber doações da comunidade, sendo que quem faz a doação poderá fazer interferências e UNOPAR VIRTUAL Pedagogia determinações no Projeto Político Pedagógico (como acontecem nas escolas e Universidades nas Estados Unidos da América), transformando a escola numa empresa dentro da lógica do mercado. É o “neo-malthusiano” revivido, ou seja, os que melhor se adaptarem sobreviverão, os que terão sucesso serão aqueles que souberem competir. É esta a lógica que vai transformar a educação brasileira, se nós deixarmos e não fizermos nada para impedir que isso aconteça. É preciso ter competência, desde a competência organizativa, até a competência argumentativa, de luta, para poder de fato se contrapor a esse rolo compressor que é o neo-liberalismo. Se quisermos construir uma sociedade mais justa, igualitária, mais democrática, é preciso repensar a Administração, a Orientação e a Supervisão. Sobretudo, porque devemos repensar essas habilitações a partir da análise da conjuntura nacional e internacional. É impensável que alguém ainda não saiba hoje que tudo que acontece na escola é uma questão política; não político-partidário. Digo, com muita ênfase, que do meu ponto de vista o papel primordial de todos os profissionais da educação é: analisar a conjuntura nacional e internacional, discutir na escola e a partir daí discutir, educação, escola, Projeto Político Pedagógico – como podemos construir, quais os participantes e seus papéis – porque a escola deveria ser “pólo de produção e irradiação de cultura”, portanto, ela tem que estar, permanentemente, em diálogo com a comunidade. Se poderia, então, pensar num Projeto Político Pedagógico orgânico, se temos esses representantes da comunidade na construção e na avaliação deste. Como poderemos fazer isso se não temos idéia sobre o contexto que se vive, se não temos idéia do que acontece no Brasil e no mundo, e isso não significa discutir em PSDB, PDT, PT, PPB, PFL, ... não é nada disso. É discutir a relação entre escola e sociedade. Que a escola não é uma espaço neutro, nem acreditamos tão pouco que reproduza apenas a ideologia dominante, porque se fosse isso, nada teríamos a fazer. E nem tenho a ingenuidade para achar que a escola é a alavanca para o progresso, como está renascendo na cultura do capital humano – como é o discurso do atual governo hoje: “A escola é a alavanca para o desenvolvimento”. Mas, não tenho dúvida alguma de que a escola reproduz a sua produção na sociedade e porque ela assim a reproduz é um espaço de contradição, de lutas, onde os interesses hegemônicos e contra-hegemônicos estão o tempo todo em conflito. Sendo assim, a escola não é um espaço de harmonia, como acreditam alguns professores dos cursos de Pedagogia que nos formaram. É um espaço de confronto permanente de interesses antagônicos – que são antagônicos fora da escola, bem como dentro dela. Imaginem como seria possível conceber uma escola numa sociedade tão perversa como a nossa, campeã em má distribuição de renda – um país onde 1% dos mais ricos se apropriam (tiram) de 52% do que a totalidade da população trabalhadora produz? Michel Apple ficou horrorizado pelos resultados da miséria no Brasil. Temos um país no qual 2/3 dos senadores e deputados são ligados aos interesses conservadores e só 1/3 da câmara e do senado representa os interesses das classes trabalhadoras. Nós temos responsabilidade por esse UNOPAR VIRTUAL Pedagogia quadro, porque na escola estamos formando sujeitos que não tem clareza em escolher ou mesmo ocupar cargos cujo interesse esteja voltado para a classe trabalhadora. Voltando à questão da relação entre a escola e a sociedade, na minha avaliação, nem a escola é a reprodutora da ideologia dominante apenas, nem é a alavanca do progresso e do desenvolvimento. Mas, a escola é um espaço de contradições. Espaço que fica permanentemente entre os interesses dos dominantes e dos dominados – explorados, daqueles que fazem parte da grande maioria que trabalha para que os representantes do 1% possam viver em clima de primeiro mundo. Podem viver com tanto luxo, pois existe uma razão muito simples: porque a maioria da população vive na miséria. Não existe outra possibilidade para que haja tanta concentração de renda. É preciso ter muita miséria. É preciso que se coloque e se discuta isso na escola, e eu pergunto se o Orientador e o Supervisor não podem discursar sobre o contexto desse país e do mundo, as relações que existem entre país e mundo para que se possa construir aí sim, o Projeto Político Pedagógico alternativo. Teremos que virar a escola de cabeça para baixo. Teremos que pensar em qual dos aspectos que acontece na escola, desde o físico até o pedagógico, relacionais, pois se pretendemos formar uma outra sociedade, temos que nos contrapor a tudo o que está acontecendo na escola que prepara para essa sociedade – que valoriza a competição, o individualismo, o consumismo, conforme observamos na organização do trabalho escolar: fila para entrar, cada um sentado atrás do outro , provas de classificação, reprovação, expulsão (na escola se usa evasão). A escola constrói aos poucos a evasão, onde os alunos se evadem porque têm que trabalhar. Saem da escola, não porque precisam trabalhar, pois eles já trabalhavam antes, e sim, porque são expulsos da escola. Devemos saber como estão sendo expulsos da escola desde que entram. O próprio Presidente da República diz que tem 5 milhões de crianças brasileiras em idade escolar obrigatória que não estão na escola. A estatística dele é otimista. A estatística que tenho é de 8 milhões. Somos um país onde a Lei da obrigatoriedade escolar é muito antiga, porém nunca foi respeitada. Temos que começar pensando o seguinte: O que fazer na escola para que todas as crianças entrem e permaneçam? A discussão da matricula não é coisa simples na qual se decide o dia, o horário, os documentos que serão exigidos, mas sim uma discussão política. Por quê? Porque quando eu abro matrícula, eu já estou em ação em um determinado Projeto Político Pedagógico favorável a uma escola de elite ou a uma escola popular. Se eu exijo uma série de documentos e se faço a matricula no horário de trabalho, se eu apresento cartaz escrito, eu já estou de saída dificultando aos pais e as mães trabalhadoras de matricularem o seu filho. Estou fazendo uma opção que é política, fazendo uma educação de elite que é contra os interesses das classes trabalhadoras/populares, porque se o desejo é abrir a escola para os alunos oriundos da das classes populares tenho que pensar que otrabalhador não vai perder o seu dia de trabalho para matricular o seu filho, ou muito menos arriscar ser despedido. Pois, a crise do desemprego é crescente, portanto, UNOPAR VIRTUAL Pedagogia ninguém arrisca, e até porque a lógica é muito simples: do que me adianta garantir a matrícula de meu filho se eu não vou garantir a sobrevivência dele. É uma coisa perversa, mas é a realidade. A escola é um serviço público, é uma das formas do estado devolver para a população o que arrecada através dos impostos. Michael Apple conta a seguinte história (verídica): Os professores queriam que os pais viessem para a escola, e eu ínsito, não é para cobrar o que é da responsabilidade nossa, mas para dialogar com os pais, sobre o que estamos fazendo, porque estamos fazendo, onde pretendemos chegar com o que estamos fazendo, o que estão esperando da escola, para construir um Projeto Político Pedagógico orgânico. Os pais não vinham. A estratégia utilizada foi a seguinte: marcaram reunião ao sábado, pois sabiam que neste dia os pais não estariam trabalhando. Os professores se organizaram para um almoço e as serventes cuidaram das crianças pequenas. Existem razões pelas quais os pais não vem a escola. A escola é um espaço que não sabe sua responsabilidade, joga para os pais uma responsabilidade que é sua. Chama os pais para dizer o seguinte: Você tem que fazer alguma coisa porque seu filho está muito mal em Matemática. E a mãe analfabeta pergunta: O que posso fazer se eu não sei Matemática? Como é que ela quer que eu ensine? Mas, a escola que tinha que ensinar, e está dizendo que sou eu. A escola joga nos pais a responsabilidade que é dela, diz que seu filho está muito desinteressado, ao invés do (a) Orientador (a) recriminar os pais, deveria, isso sim, colocar em discussão o que estamos fazendo com essas crianças para que elas estejam desinteressadas. Vocês já viram alguma vez alguém se desinteressar por alguma coisa que é significativa e que tem sentido para ela? Eu nunca vi, mas a escola não sabe criar, despertar o interesse das crianças pois isso é uma coisa que ela não acha muito importante. Como não consegue dar sentido aos conteúdos que trabalha e quando as crianças se mostram desinteressadas joga para os pais, dizendo para fazerem algo. Quem tem que fazer alguma coisa quando as crianças estão desinteressadas? Se eu estivesse aqui e olhasse para vocês e começasse a perceber que estão desinteressados, não é discordando de mim, porque não me importo, acho até bom, porque se está discordando é que o negócio está incomodando, mas se estivessem com cara de sono, quase dormindo, eu deveria refletir sobre a minha fala e a necessidade de mudá-la. O que temos de fazer? É o seguinte: utilizar uma metodologia que estimule as crianças à participação, ao interesse. Os conteúdos trabalhados devem ter sentido – ligados a vida da criança, respondendo a curiosidade e aos problemas que vivenciam em sua comunidade. A relação estabelecida com os alunos deve ser uma relação amorosa – de compartilhar e de mostrar que se está interessado com o desenvolvimento da aprendizagem da criança – de compromisso. Joga-se a problemática para os pais, sendo que a escola lava suas mãos, limitando-se a reprovar o aluno no final do ano, pois os pais não procuram a escola antes, em virtude de que toda vez que até lá vão, é só para ouvir reclamação de seus filhos. UNOPAR VIRTUAL Pedagogia É importante dizer que o Orientador Educacional não tem que ter horário igual ao professor, fixo. Se tem, é uma novidade para mim. Porque eu sempre soube que uma das estabilidades do trabalho do Orientador e do Supervisor é exatamente, que seu horário é flexível. Não estou falando em nenhum momento da hora extra do trabalho, mas sim da negociação. Só se pode negociar quem já mostrou competência. É claro que quem não é reconhecido como competente pela escola, não vai conseguir isso nunca, não porque tem horário, mas, porque nunca disse a que veio. O que proponho é que se a reunião de pais só pode ser feita no sábado e se a escola como um todo – é preciso ter Projeto Político Pedagógico na escola - considera importante que os pais venham à reunião, a Diretora vai achar ótimo que uma Orientadora ou quem queira vir com ela, troque seu horário. Enquanto a gente não mostra que é capaz de realizar o serviço, é claro que haverá desconfiança. Devemos ser profissionais. A Orientação Educacional não deve chamar os pais para jogar a responsabilidade do que seria responsabilidade do professor e da escola. A família tem outras responsabilidades: devemos chamar os pais na escola, por exemplo, quando constatamos que certo aluno pode estar envolvido com drogas, quando percebemos dificuldades na visão, e outras coisas mais, das quais a escola não tem que dar conta sozinha. Mas, nestes casos, é preciso encaminhar os pais ajudando-os a compreenderem onde devem procurar auxílio, se no posto de saúde, se no serviço social municipal, ou onde mais seja. A escola não pode arcar sozinha com estas responsabilidades. Tem que compartilhar com os pais, tem obrigação e direito de chamar os pais, não para jogar a responsabilidade, e sim compartilhar, para garantir aos pais que é uma coisa séria: sendo um alerta. A nossa responsabilidade é pedagógica, mas não podemos nos omitir em situações psicológicas, necessitando ter sensibilidade e isto não se aprende em livros. É importante desenvolvermos a sensibilidade para sabermos o que fazer numa hora difícil e ter coragem para perceber que a gente aprende mais com nossos erros, do que com os acertos. É importante que a gente se abra quando erramos para alguém poder nos ajudar a entender o porquê do erro ou quando nós próprios somos capazes de fazer autocrítica, aprender com eles. É mais fácil fazer análise do erro para que numa próxima situação não cometamos mais os mesmos. Não devemos ficar estáticos nas nossas certezas. Insisto em dizer que a gente aprende pouco quando acertamos. Tendemos a repetir as mesmas ações sempre, não se avalia e não se pensa em outras possibilidades, a tendência é continuar a repetir os mesmos modelos. Uma das questões importantes de ser Orientador, Administrador, Supervisor ou Professor é desenvolver a capacidade de improvisar a partir do planejado. Todo mundo planeja seu trabalho e se nós não tivermos a flexibilidade, a coragem a criatividade, quando acontecer um fato novo, não estando no nosso planejamento, nosso trabalho vai ser monótono, desinteressante, pouco criativo. É importante ter bom senso para ver o que é de necessidade mais imediata e mudar um item do planejamento quando for necessário. Como a sociedade hoje está organizada e para onde vai caminhando? Vivemos numa sociedade que estabelece a cada momento a lógica do mercado. O que eu entendo é que nós deveríamos estar provocando uma discussão política UNOPAR VIRTUAL Pedagogia na escola. Vocês deveriam estar explicitando na escola as contradições dessa sociedade e trabalhando-as, porque este é o espaço possível de construção de uma escola de qualidade. Se nós trabalharmos na escola, com os professores, pais, alunos, funcionários, neste espaço de contradição, que está em permanente conflito e tensão diante da tensão entre os interesses dominantes e os interesses contra-hegemônicos, nós não iremos fazer um trabalho de qualidade nunca. Então é necessário que saibamos quais são esses interesses hegemônicos. Esta sociedade é tremendamente excludente e a escola acompanha o modelo da sociedade. Nós precisamos saber disso e, com competência, devemos lutar para mudar este quadro social de evasão e exclusão dos filhos da classe trabalhadora das nossas escolas publicas. Os conteúdos pedagógicos devem ser desveladores dos fatores que levama exclusão e trabalhar na possibilidade de desmascarar esta sociedade e buscar a transformação do status-quo. Afirmar a sua importância diante desta sociedade que vivemos; não é isso que a gente quer da classe trabalhadora? Para mim não tem limite para a capacidade da criança aprender, sendo que é a própria criança que nos dá o limite. Ou seja, naquele momento o limite é sempre provisório, devendo ser sempre superado. O que observo é que quando a criança esta interessada em alguma coisa ela aprende e conseguimos manter o interesse dela, isso exigirá de nós uma competência muito maior. Esta escola exigirá de nós muito mais do que aquela escola tradicional que impunha um programa pronto em, que todos os professores faziam o seu trabalho de forma igual. A escola é um espaço de controle. Quem garante o que é mais importante para uma criança passar de uma série para outra, e quais conteúdos são importantes em detrimento dos outros? É claro que ninguém vai conseguir que a escola mude num passe de mágica, mas eu não tenho dúvida alguma de que o papel dos Supervisores é problematizar os conteúdos pedagógicos, é função específica da Supervisão, por em questão se uma criança pode ou não pode aprender tal conteúdo. Então eu convidaria os Orientadores a investigar o que a criança aprende e o que ela já sabe para participar também dessa discussão, colocando em questão as verdades pré-estabelecidas e definitivas em relação à prontidão e limites da aprendizagem. Eu não trabalho com modelos universais, não acredito que haja o homem universal, eu acredito que há homens e mulheres históricos, frutos de uma determinada sociedade, que é diferente de outra determinada sociedade, que vive em determinado momento histórico e não em outro, e que estão desafiadas pelo que a vida coloca de uma forma que outros não estiveram. O que acontece com a escola é que trabalha com o modelo idealizado de classe média, ela ensina desde o bê-á-bá, quando o menino já traz o conhecimento das quatro operações. Vocês já pensaram quanto tempo nós perdemos, com a história das pedrinhas para ensinar as quatro operações, quando em geral as crianças das classes populares já sabem esse conteúdo. A gente ignora o conhecimento que ela já tem, ou repetindo o que já sabe. O que ela não sabe é sistematizar o conteúdo, por no papel, é isso que eu tenho que dar: sentido ao conteúdo. A importância de saber fazer de cabeça e no papel, é aí o desafio para nossa criatividade, ter que criar situações pedagógicas na sala de UNOPAR VIRTUAL Pedagogia aula de modo que esse menino compreenda a importância em aprender a escrever tal continha, o que pode facilitar a vida dele nas situações de compra e venda de balas. Já que ele vende balas no sinal das grandes cidades. As situações pedagógicas têm que ser prática para a vida. Em Matemática o desenvolvimento do raciocínio não está em fazer vários exercícios, ou enormes contas, para mim, isto é memorização igual a máquina de calcular. O que desenvolveria o raciocínio seria o entendimento do que seria somar, subtrair, multiplicar e dividir. O professor não sabe ensinar porque ele também não sabe. Ele não sabe, não porque quer, mas porque também foi vítima deste sistema. Perdemos meses, anos, passando exercícios de separação de sílabas, porque não sabemos o que fazer em sala de aula, é lamentável isso. Ao invés de nós usarmos o tempo para de fato trabalharmos os conteúdos significativos aos nossos alunos, enchemos o quadro de exercícios e vamos ao corredor conversar com os colegas ou sentamos na cadeira. Não vamos criticar os professores, eles fazem isso porque eles foram ensinados a fazer assim. Vão repetindo sem pensar. Os especialistas têm a função de provocar a criticidade entre os alunos e professores, pondo isso em discussão, não dá para desqualificar os professores, mas é para desestabilizá-los e apresentar sugestões. Os especialistas também precisam estudar e aprofundar as questões para poderem levar as discussões aos professores com segurança. Os encontros quinzenais têm que ter essa função: aprofundar e estudar as questões pedagógicas. Se os especialistas não tiverem segurança.... como, e a quem os professores vão pedir ajuda? Os professores estão de olho em vocês o tempo todo, porque vocês são vistos como alguém que tem privilégios na escola- não tem turma, é função meio indefinida, nem eles sabem e nem vocês sabem. A Orientação e a Supervisão em geral não mostraram a que vieram. Os professores não sentem que vocês estão ali para ajudá-los, para trabalharem com eles, no seu cotidiano, com suas dificuldades. Os especialistas têm que trabalhar com os professores. Para fazermos isso, precisamos saber e para saber, precisamos estudar. Uma das formas de estudar é estarmos juntos nestes encontros e trazer situações que enfrentamos na escola, não tendo medo ou receio dos colegas. Há que existir solidariedade entre vocês. Que as pessoas se sintam respeitadas. Ninguém sabe mais do que o outro. Mas, os mais experientes devem ajudar e permitir serem ajudados. Não devemos ficar fazendo elucubrações, isto é muito bonito, mas a escola tem que ensinar e pensar em como ensinar cada vez melhor. O Supervisor Escolar tem que dar o chão aos professores, ajudando-os a ensinar melhor e a sentirem mais satisfeitos com o resultado de seu trabalho. Nós podemos ajudar as pessoas a terem prazer e sentido no seu trabalho, no interesse da aprendizagem das crianças. Esse é o grande desafio que se coloca para nós. Todos (nos grupos de formação) devem perceber que temos um espaço onde colocamos nossas dificuldades e podemos ser ajudados pelos colegas e, ao mesmo tempo ajudar a outros, esse é o verdadeiro motivo desses encontros de especialistas. A escola, como a sociedade, trabalha o tempo todo com a questão dos valores, nós temos que assumir uma postura investigativa. Os especialistas e o diretor têm que ter uma atitude investigativa na escola – postura de escuta sensível, estar olhando para a escola como um radar e tentar captar o que está UNOPAR VIRTUAL Pedagogia acontecendo lá dentro. Vamos investigar onde está aparecendo o individualismo, a competição na escola. Vamos perceber que, desde o momento que a criança entra na escola, até o momento que se ausenta a questão do individualismo e da competição está presente, tanto na atitude dos professores e, em muitos casos, nas nossas atitudes. Então estaríamos incomodados e começaríamos a incomodar, nos obrigando a fazer alguma coisa, nos engajando nas lutas. Temos que pensar sobre isso. Os valores que se contrapõem ao individualismo, à competição, são a solidariedade, o coletivismo e a cooperação. E em relação ao consumismo tão presente no seio do capitalismo? Como a escola nos dias de hoje, que lida com crianças pobres e sabe da situação dos pais que precisam manter a sobrevivência de suas famílias, às vezes com um salário mínimo, continua a mandar a mesma lista de material para os alunos? Temos que colocar isso em discussão na escola. Será que é verdadeiramente necessário essa lista de materiais? Será que as crianças, quando ficam pintando, pintando..., vêem algum valor e aprendem alguma coisa, ou então estão treinando habilidades apenas motoras? O que isso tem a ver com a aprendizagem? Nada. Será que não seria diferente se nós trabalhássemos com recortes, desenhos, modelagem, projetos sugeridos pelas crianças e que tivessem significados, não teríamos melhores resultados? Ao invés do consumismo podemos trabalhar a racionalização dos recursos, a economia, o desperdício. Temos que pensar na qualidade, não na “qualidade total” sugerida pelo neo-liberalismo, mas numa nova qualidade. Lembro que a classe trabalhadora sobrevive porque é capaz de redefinir materiais. As classes trabalhadorassobrevivem porque encontram novos usos para os materiais. Precisamos trazer a criatividade para dentro da escola. Criatividade esta, que está presente, ou melhor, é uma característica das classes populares, valendo-se disso, devemos transformar esse saber popular em conteúdos pedagógicos (cientificando-os). Então estaríamos trabalhando contra o consumismo, o individualismo e a competição. Nossa sala de aula não pode ser um palco das competições entre quem tem o melhor lápis e a melhor borracha. Na escola teríamos que ter materiais de uso coletivo. Ela é disciplinadora, no momento que busca o equilíbrio entre o corpo e a mente de modo que estes intervenham integralmente no processo ensino e aprendizagem. Não podemos viver sem a organização e a disciplina. Tenho que planejar para fazer. Não se faz nada sem disciplina. É indispensável que nossos alunos aprendam a importância da disciplina para que possam levar a sério seus projetos. Vocês acham educativo uma escola onde os alunos fazem o que querem, quando e se querem fazer, e quando não querem, não fazem nada? Acho absolutamente deseducativo. É claro que uma criança, desde muito cedo, tem que aprender que quando começa um trabalho tem que levar a sério. Saber que não pode começar um trabalho sem acabar o anterior. Mas, isso não se consegue com coerção, mas sim com firmeza. São aprendizagens que vamos fazendo desde muito cedo. Deveríamos ajudar os professores a criarem situações pedagógicas na sala de aula em que tudo isso fosse desenvolvido. Toda escolha representa uma renúncia e quando a gente escolhe tem que assumir a responsabilidade da nossa escolha. Temos também que ensinar aos UNOPAR VIRTUAL Pedagogia nossos alunos que quando escolho alguém para me representar, tenho que assumir essa escolha. Tendo que fazer as tarefas que resolvi coletivamente. No grupo, se sugerimos algo, temos que dar conta de cumprir as tarefas decorrentes dos compromissos que assumimos e ter a responsabilidade de fazer. Não posso simplesmente me apresentar no grupo e dizer que não fiz aquilo que coube a mim e foi decido em coletividade. Se assumir, tenho que fazer. Se não consigo fazer tenho que justificar coerentemente o porquê não fiz. Estou dizendo isso porque nós estamos numa sociedade em que acreditamos na tradição brasileira de que quando votamos, exercemos o dever de cidadão. Colocamos o voto na urna e lavamos a mão. Nunca mais procuramos saber o que o político está fazendo. Quem conhece sociedades onde existe uma tradição de exercício da cidadania, ou seja, uma clareza da população de que ela tem direitos e deveres, duvido que haja essa ciranda que há no Brasil. Muda de partido, volta as bases e muda o seu discurso e se elege novamente. Quer dizer, temos todos uma memória muito fraca. É claro que se desde cedo tivéssemos aprendido que quando escolhemos, deveríamos assumir a responsabilidade pela nossa escolha estaríamos o tempo todo cobrando de quem votamos e que eles correspondessem aquilo que prometeram no discurso da campanha. Quem faz isso? Eu duvido. Foi feita uma pergunta por uma OE da platéia. Como trabalhar na nossa realidade, na questão do currículo que envolve todo o que fazer da escola, desde a coordenação de projetos, proposta da SME e da própria escola, desde a reestruturação de conteúdos, coisas chamadas de macro na escola, e como sintonizar isto com o meu específico, daquele meu aluno que inevitavelmente bate na porta da orientação, pois se desentendeu com o professor, está febril, está com catapora, com rubéola, como a gente conduz as questões macro (geral) e micro (específico do OE) ? Regina Leite Garcia responde: Eu penso que se nós trabalharmos no currículo, e o currículo é tudo isso, e muito mais, nós estaremos cumprindo a nossa função por excelência, se nos sobra tempo para atender o menino quando ele bate a nossa porta, porque ele está aflito, brigou com a professora, com problemas de saúde, melhor ainda. Agora eu não sei se nós teremos tempo para fazer tudo. Mas, o que eu sei, é que se nós usarmos bem o nosso tempo, nós estaremos o tempo todo trabalhando no currículo. Veja, quando o menino vem conversar com a OE, ele traz um feedback de como o currículo está sendo trabalhado na sala de aula, na conversa vai aparecendo as questões de relacionamento bem como o professor trabalha, o tipo de conteúdo que está sendo ministrado, metodologia utilizada, os tipos de materiais didáticos que estão sendo utilizados, tipo de relação com os alunos, então você faz anotações de todas estas observações e informações que colhe. Quando você volta a participar do planejamento curricular e da avaliação permanente do currículo, você já vai munido de dados concretos da cotidiano da sala de aula, e isso te possibilita, não é usar isso para deixar o professor numa situação desconfortável, mas para você saber o que acontece na sala de aula e o que você deveria estar tentando trabalhar de modo que aquela professora pudesse melhorar a sua prática pedagógica. Nós temos que trabalhar com os UNOPAR VIRTUAL Pedagogia professores, pinçando todas as informações que temos acesso no dia-a-dia, isto feito com muita tática. O trabalho do OE é o currículo e algo mais. O currículo é o que é comum a todos os profissionais, ou seja, OE, SE, AE, todos tem que trabalhar através do currículo; cada profissional vai interferir no currículo de um ponto de vista do seu específico. O AE vai interferir no currículo no sentido de organizar o espaço, o tempo e os recursos da escola, de modo a favorecer o processo pedagógico. Ele tem a formação específica, os conhecimentos para melhor organizar espaço, tempo e os recursos humanos, materiais em função do processo ensino e aprendizagem, ou seja, do professor e dos alunos, para isso que existe o AE. O SE, que deve se o especialista em currículo, é que deve coordenar o processo de planejamento, elaboração do currículo, de avaliação permanente do currículo e tudo que está implicado nele, seleção de conteúdos, metodologias, materiais didático, técnicas, recursos, formas de avaliação. Tudo isso é coordenado pelo Supervisor, mas nada disso aconteceria se o OE não fizesse o trabalho de conhecer o aluno. O OE tem que saber quem é o aluno, que tem uma família, que mora numa comunidade, que vive numa sociedade, que é parte de uma cultura, que pertence a um determinado grupo étnico, que tem um gênero, tudo isso tem que parecer na escola e no currículo. Quem faz isso é o OE, por isso não pode deixar de trabalhar com a família, tem que abrir os muros da escola, para que as características da comunidade entrem na escola. Não há currículo adequado à comunidade se a gente não sabe que comunidade é essa. Não tem um currículo que possamos chamar de um Projeto Político Pedagógico orgânico, se os pais não participam da formulação deste, se os filhos, os professores não participam desta discussão, não apenas a comunidade escolar, mas a comunidade circundante. Se não sabemos que sociedade e momento histórico vive, em que contexto sócio-histórico cultural vive, não há possibilidade de um currículo adequado á comunidade, um currículo emancipatório, é o que todos pretendemos. Não há possibilidade de construir um currículo emancipatório sem estes conhecimentos. Esse OE tem que trabalhar com isso, esta é a contribuição dele no currículo. O OE não é o especialista em currículo, em conteúdo, em técnicas, em metodologias, este é o Supervisor, mas é o OE que faz essa articulação entre a escola e a comunidade. Ao fazer esta articulação possibilita que o currículo seja adequado à comunidade e grupo de alunos. Não tem adequação curricular sem entender a função do OE. Se ele não fizer, alguém irá fazer. Temos que conhecer o aluno concreto. Alguém tem que trazer a realidadedo aluno o tempo todo. Temos que ter uma prática pedagógica que leve em consideração este aluno. Temos que trabalhar conteúdos significativos em cada grupo de alunos, porque não existe conteúdos significativos universais, não se aprende isso em livros, mas na prática pedagógica. O OE e o SE têm que trabalhar com os dados da escola, colocando-os em discussão. Os especialistas têm que ter cientificidade em seu trabalho, planejamento e articulação. Temos que transformar os dados, as estatísticas em discussão política pedagógica, o porquê daqueles dados, numa postura investigativa. Esta postura investigativa ajuda a pensar e repensar a postura UNOPAR VIRTUAL Pedagogia pedagógica dos professores porque os dados são o espelho do trabalho. Se os alunos repetentes tivessem outra oportunidade de ter outra trajetória, ou seja, se continuassem no ano seguinte de onde eles pararam teriam muito mais possibilidades de sucesso. Quem tem que passar os dados dos alunos para o professor do ano seguinte é o OE. E o SE diria que conteúdos seriam selecionados a partir de onde eles pararam no ano anterior para o professor não iniciar do zero. Isso exige competência, saber ler estes dados, isto é trabalhar com estatísticas. Este é apenas um exemplo. Se os três profissionais estão interferindo dessa maneira na escola, estão contribuindo para a construção da competência coletiva. Digam-me: Uma professora que aprendeu e foi ajudada a ler estes dados, construir alternativas pedagógicas para trabalhar com seus alunos, não fica mais competente? Claro que ela fica mais competente! Então estaremos cumprindo o que sempre dizemos no discurso, estamos contribuindo na construção de uma competência docente coletiva, sem o que não tem escola de qualidade. Para fazer este trabalho nós precisamos aprender no coletivo, aprender uns com os outros nestes encontros. Precisamos escrever sobre o nosso trabalho. Vocês especialistas aqui em Florianópolis precisam escrever a história e as experiências de vocês, para que os outros profissionais possam aprender com vocês, seria maravilhoso. Quero recomendar para vocês a leitura de Vygotsky. Ele diz que, geralmente, a escola trabalha com o passado da criança, ou seja, com o desenvolvimento que já foi consolidado. A escola testa as crianças e a partir do que elas revelam, classificam-nas. A escola deveria trabalhar a partir do desenvolvimento já atingido pelas crianças - este é o grande achado dele, no qual trabalha com a categoria do desenvolvimento proximal, ou seja, são as possibilidade da criança, trabalha com o futuro e não com o passado. Em trabalhando com o futuro, ele nos abre possibilidades riquíssimas para a ação docente, para intervenção da professora. Porque, ao invés da busca obsessiva pela homogeneidade, trabalha com a riqueza potencial da heterogeneidade, enfatiza, também, a importância da intervenção do adulto nesse processo de construção do conhecimento coletivo, portanto, é uma outra forma de pensar e fazer educação e mais favorável às crianças. Todos aprendem, cada um no seu ritmo. Assim estarei sempre trabalhando com o futuro da criança e dando a ela a possibilidade de se aproximar desse futuro e de transformar em presente e cada momento em um novo futuro. Eu acho que seria da maior importância vocês estudarem Vygotsky porque nos ajuda a compreender e interferir nisto. Quando falo em estudá-lo não é para chegar na escola, levar um texto dele e propor aos professores em estudar. Por favor, não façam isso, porque esta é a coisa mais chata que tem. São vocês que tem que estudá-lo, buscando segurança para proporem ao professor para romper com a questão da homogeneidade e entender a riqueza da heterogeneidade. Vocês tem que ter argumentação de modo a convencer aos professores que isso é o melhor. Não fiquem impondo ao professor esta literatura, que a professora vai dizer: “mais uma novidade, não é mais construtivismo, é sócio interacionismo”. UNOPAR VIRTUAL Pedagogia Não fale nada disso e nem falem de Vygotsky, é necessário que vocês tenham elementos para poder propor aos professores para avançarem, ajudando melhor aos seus alunos, é neste sentido que estou falando. As crianças têm o direito de ficar na escola e de se apropriar de um conhecimento que é fundamental, desde as coisas mais imediatas da sua vida - que a sobrevivência lhe exige -, passando pela sua inserção no mundo do trabalho. Obviamente o conhecimento que a escola socializa é o conhecimento que é levado em consideração em qualquer seleção de pessoal para qualquer emprego, desde os mais humildes aos mais importantes, até a questão da escolha dos rumos da sua própria vida, até chegando a opção por uma outra sociedade e se engajando na luta pela construção de uma nova sociedade. Eu venho a esses encontros sempre que recebo esse tipo de convite, porque acredito firmemente, que teríamos uma coisa importante a fazer na escola e que nem sempre estamos fazendo e seria preciso fazer, para de fato virarmos a escola de cabeça para baixo e construir uma escola de qualidade para a classe trabalhadora. Na minha vida de educadora, sempre estive participando dos movimentos para a transformação da sociedade num movimento coletivo de transformação. Não gostaria que a minha geração deixasse esta escola que aí está como herança. Gostaria que pudéssemos construir uma outra sociedade, justa, igualitária, democrática, que respeitasse mais as diferenças, que houvesse espaço para que as diferenças se expressassem, que todos tivessem os seus direitos fundamentais atendidos para poderem sonhar. Sonhar com outros direitos, que só uns poucos desse país podem realizar.
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