Buscar

o pedagogo diante da gestão escolar

Prévia do material em texto

UNOPAR VIRTUAL 
 
Pedagogia 
Disciplina: O trabalho do Pedagogo nos Espaços Educativos 
Prof.(a): Vilze Vidotte Costa 
Aula: 02-O Pedagogo diante da gestão escolar 
Semestre: 2º 
 
Texto aula atividade 
 
 
GARCIA, Regina Leite. Síntese das anotações dos especialistas no encontro com 
a professora Regina L. Garcia. Palestra: O papel do especialista na escola atual. 
In: Evento: O papel do especialista na escola atual; Inst. promotor-financiadora: 
Secretaria Municipal de Educação de Itajaí, 1995. 
 
 
O PAPEL DO ESPECIALISTA NA ESCOLA ATUAL 
 
 
GARCIA, Regina L1. 
 
 
 Acredito fortemente que existem papéis importantes para os três 
profissionais2 da educação numa escola. Uma escola de qualidade boa, 
preocupada de fato com que todas as crianças entrem e permaneçam nesta 
escola, que tenham garantida a sua condição de sujeitos do conhecimento, 
criando a oportunidade de validar esses conhecimentos, que trazem sobre o 
mundo, as relações e, sobre si mesmo, bem como ampliar e aprofundar ao 
máximo esses conhecimentos, iniciados na Educação Infantil e percorrendo toda a 
escolaridade. Nesta escola eu sempre reconheço a função dos três profissionais 
da educação, porque estou convencida de que uma escola funciona bem desde 
que a mesma aconteça, sabendo o que fazer. Quanto mais souberem melhor, 
pois, estarão fazendo conscientemente seu trabalho. Isso estará sempre 
acontecendo, mesmo que o profissional da educação não saiba desempenhar o 
seu papel, alguém estará desempenhando ou indicando suas funções. 
 Na conversa com os membros da Coordenadoria de Especialistas sobre a 
questão desses profissionais e como estão trabalhando, faz se necessário 
resgatar e refletir sobre o que vem ocorrendo no âmbito nacional: acabar com 
estes profissionais (enquanto especificidade) ou então transformá-lo em um só. 
 Defendo que existe uma especificidade na ação orientadora educacional, 
na ação supervisora e na ação administradora. “Todos os profissionais da escola 
tem uma função pedagógica, já que atuam numa agência pedagógica. A empresa 
não brinca porque visa o lucro - o material e o dinheiro -, a escola também visa o 
lucro, mas um outro tipo de lucro - o lucro humano”. 
 
1 Professora colaboradora e pesquisadora associada da Universidade Federal Fluminense – UFF. 
2 Estes três profissionais são: Administrador (a) Escolar, o Orientador (a) Educacional e o Supervisor (a) 
Educacional. 
 
 
UNOPAR VIRTUAL 
 
Pedagogia 
 No processo administrativo é preciso organizar o tempo e o espaço da 
escola, portanto, o administrador tem o conhecimento mais específico para 
organizar toda a escola. É preciso aprender com as empresas em relação à 
organização, garantindo infra-estrutura para que a escola garanta a aprendizagem 
do aluno. 
 As empresas contratam quem tem teoria e prática para administrar, e a 
escola é o local de improvisação. Todo mundo pode ser tudo. Por isso, defendo as 
especializações destes três profissionais da educação. 
 A escola tem que deixar de trabalhar no improviso: as turmas são 
organizadas de qualquer maneira, o espaço, o horário, as coisas vão acontecendo 
e não tem ninguém para garantir uma infra-estrutura que possibilite ao professor 
exercer, plenamente, sua prática pedagógica, as crianças exercerem, plenamente, 
seu ato de aprender e que o processo pedagógico se dê em plenitude. 
 É importante que os recursos humanos e materiais sejam suficientes, bem 
administrados e otimizados de forma que todos possam entrar na escola e cursar 
a escolaridade, pelo menos a obrigatória, tendo que sair sabendo mais do que 
quando entraram. A escola existe para a socialização e produção do 
conhecimento. 
 Na questão da especificidade dos profissionais da educação no âmbito 
nacional, vários estados acabaram com a contratação desses profissionais, 
reforçando a tese do “generalista”, que surgiu na atuação da Professora Guiomar 
Nano de Mello, como secretária da educação, na cidade de São Paulo. 
 O grupo ao qual pertencia essa professora, vindo da Universidade, todo 
formado por pesquisadores, concluiu, através de uma pesquisa realizada na Rede 
de Ensino da cidade de São Paulo, que os Orientadores e Supervisores não 
sabiam o que fazer e não diziam o que vinham fazer na escola. Mas, eles não 
podiam mandar todos aqueles profissionais embora, então, não sabendo o que 
fazer transformaram os dois profissionais em um só, passando a chamá-los de 
“Coordenador Pedagógico” por opção apenas política e não teórica-prática. 
 Espero que aqui em Florianópolis os profissionais da educação saiam 
convencidos da importância de sua função. “Mas, vejam bem, quando não sabem 
da especificidade dessa função, eu preferiria que realmente mandassem embora. 
Estes prejudicam a categoria”. 
 Não tenho dúvidas de que os Profissionais da Educação, principalmente os 
Orientadores e Supervisores foram criticados, não por convicções políticas e sim, 
porque os próprios não sabiam o que fazer e a escola, então, passa a não 
acreditar neles. Com isso, aumentam as suas dificuldades na condução do 
trabalho pedagógico. 
 Pois, quem é desacreditado e quem não acredita em si, dificilmente seria 
capaz de construir um trabalho efetivo na escola. Então, vejam a importância do 
tipo de reunião onde discutimos, trocamos e nos fortalecemos enquanto grupo, 
para voltarmos com “mais gás” para o cotidiano escolar. As trocas de 
experiências, estudos, registros de nosso trabalho e, como grupo, que tem uma 
carga muito forte, deve funcionar, também, como um suporte afetivo para cada um 
de nós. É importante se ter um espaço para troca afetiva, para quem exerce um 
trabalho desgastante, como é o trabalho educacional, bem como, o da 
administração, da orientação e da supervisão escolar. 
 
 
UNOPAR VIRTUAL 
 
Pedagogia 
 Entendo que a formação desses profissionais precisa melhorar, é muito 
ruim e a formação do professor também é. Não tenho dúvida nenhuma que esses 
cursos deveriam ser reformulados a partir do que a prática nos indica, do que 
seria o Administrador, o Orientador e o Supervisor. Os cursos, de um modo geral, 
continuam com um grande peso na psicologia e muito pouco nas questões 
pedagógicas. 
 Em relação à Orientação precisamos entender que há diferença entre 
orientação psicológica, orientação profissional e orientação pedagógica. A partir 
de um determinado momento da Orientação Educacional no Brasil, entra um 
grupo significativo, quantitativa e qualitativamente, que tinha uma grande 
esperança na escola e no conhecimento desta. 
 O Orientador Educacional no currículo foi uma inovação no Brasil, e isso 
aconteceu exatamente porque esse grupo prezava pela competência e não pelo 
tecnicismo. Era um grupo significativo e sabia o que era a escola, sabia delinear o 
papel para o Orientador Educacional. 
 A escola brasileira está muito ruim. Isso porque a sociedade é perversa e 
destrói o sistema de saúde e de previdência para privatizá-los. Criou-se uma 
ideologia de que a escola pública é ruim e que a escola particular é boa. Segundo 
Fernando Henrique Cardoso, o problema da educação brasileira não é um 
problema de verbas e, sim, do mau uso das verbas. De cada R$ 100,00 
destinados a educação, somente R$ 9,00 chega ao aluno. O restante se perde na 
burocracia e outras políticas públicas. O outro problema da educação, segundo 
ele, é o fracasso escolar decorrente da má formação dos professores e propõe um 
treinamento de professores a distância, com a colocação de antenas parabólicas e 
televisões. 
 Também informou que todas as crianças seriam testadas, porque o sistema 
não testa seus alunos, portanto, não vê o resultado de seu trabalho. A partir 
desses testes se iriam corrigir a educação brasileira. 
 Com esses depoimentos passo a apontar o que vai acontecer com a 
educaçãobrasileira, comparando com o que aconteceu com a Inglaterra, Estados 
Unidos, países da Europa em geral, no México e na Argentina. 
 A estratégia é a seguinte: 
 1. Você desqualifica a escola pública “ela é muito ruim”. Os meios de 
comunicação de massa fazem isso com a maior competência. Todo dia tem 
notícia de como a escola é ruim, da professora que ganha R$ 100,00 e é ignorante 
tanto quanto seus alunos. Todo dia tem esse tipo de matéria na televisão, todo dia 
tem a desqualificação do serviço público. “A questão é que a educação pode ser 
lucrativa, então, vamos privatizar a educação e a escola”. 
 2. Testar as crianças para verificar quantitativamente o rendimento da 
aprendizagem. Computar qual a escola que vem obtendo o melhor resultado. 
Classificar as escolas por ordem de aproveitamento, etc. A intenção é que os pais 
recebam bônus dentro da lógica do mercado, matriculando seu filho na melhor 
escola classificada. A escola que tiver a maior procura receberá mais verbas, 
passando a contratar os melhores profissionais e a comprar materiais a partir de 
seus próprios critérios de forma a adequar ao seu Projeto Político Pedagógico. 
 Dentro desta concepção de escola ela poderá receber doações da 
comunidade, sendo que quem faz a doação poderá fazer interferências e 
 
 
UNOPAR VIRTUAL 
 
Pedagogia 
determinações no Projeto Político Pedagógico (como acontecem nas escolas e 
Universidades nas Estados Unidos da América), transformando a escola numa 
empresa dentro da lógica do mercado. 
 É o “neo-malthusiano” revivido, ou seja, os que melhor se adaptarem 
sobreviverão, os que terão sucesso serão aqueles que souberem competir. É 
esta a lógica que vai transformar a educação brasileira, se nós deixarmos e não 
fizermos nada para impedir que isso aconteça. 
 É preciso ter competência, desde a competência organizativa, até a 
competência argumentativa, de luta, para poder de fato se contrapor a esse rolo 
compressor que é o neo-liberalismo. 
 Se quisermos construir uma sociedade mais justa, igualitária, mais 
democrática, é preciso repensar a Administração, a Orientação e a Supervisão. 
Sobretudo, porque devemos repensar essas habilitações a partir da análise da 
conjuntura nacional e internacional. 
 É impensável que alguém ainda não saiba hoje que tudo que acontece na 
escola é uma questão política; não político-partidário. Digo, com muita ênfase, que 
do meu ponto de vista o papel primordial de todos os profissionais da educação é: 
analisar a conjuntura nacional e internacional, discutir na escola e a partir daí 
discutir, educação, escola, Projeto Político Pedagógico – como podemos construir, 
quais os participantes e seus papéis – porque a escola deveria ser “pólo de 
produção e irradiação de cultura”, portanto, ela tem que estar, permanentemente, 
em diálogo com a comunidade. 
 Se poderia, então, pensar num Projeto Político Pedagógico orgânico, se 
temos esses representantes da comunidade na construção e na avaliação deste. 
 Como poderemos fazer isso se não temos idéia sobre o contexto que se 
vive, se não temos idéia do que acontece no Brasil e no mundo, e isso não 
significa discutir em PSDB, PDT, PT, PPB, PFL, ... não é nada disso. 
 É discutir a relação entre escola e sociedade. Que a escola não é uma 
espaço neutro, nem acreditamos tão pouco que reproduza apenas a ideologia 
dominante, porque se fosse isso, nada teríamos a fazer. E nem tenho a 
ingenuidade para achar que a escola é a alavanca para o progresso, como está 
renascendo na cultura do capital humano – como é o discurso do atual governo 
hoje: “A escola é a alavanca para o desenvolvimento”. Mas, não tenho dúvida 
alguma de que a escola reproduz a sua produção na sociedade e porque ela 
assim a reproduz é um espaço de contradição, de lutas, onde os interesses 
hegemônicos e contra-hegemônicos estão o tempo todo em conflito. 
 Sendo assim, a escola não é um espaço de harmonia, como acreditam 
alguns professores dos cursos de Pedagogia que nos formaram. É um espaço de 
confronto permanente de interesses antagônicos – que são antagônicos fora da 
escola, bem como dentro dela. Imaginem como seria possível conceber uma 
escola numa sociedade tão perversa como a nossa, campeã em má distribuição 
de renda – um país onde 1% dos mais ricos se apropriam (tiram) de 52% do que 
a totalidade da população trabalhadora produz? Michel Apple ficou horrorizado 
pelos resultados da miséria no Brasil. 
 Temos um país no qual 2/3 dos senadores e deputados são ligados aos 
interesses conservadores e só 1/3 da câmara e do senado representa os 
interesses das classes trabalhadoras. Nós temos responsabilidade por esse 
 
 
UNOPAR VIRTUAL 
 
Pedagogia 
quadro, porque na escola estamos formando sujeitos que não tem clareza em 
escolher ou mesmo ocupar cargos cujo interesse esteja voltado para a classe 
trabalhadora. 
 Voltando à questão da relação entre a escola e a sociedade, na minha 
avaliação, nem a escola é a reprodutora da ideologia dominante apenas, nem é a 
alavanca do progresso e do desenvolvimento. Mas, a escola é um espaço de 
contradições. Espaço que fica permanentemente entre os interesses dos 
dominantes e dos dominados – explorados, daqueles que fazem parte da grande 
maioria que trabalha para que os representantes do 1% possam viver em clima de 
primeiro mundo. Podem viver com tanto luxo, pois existe uma razão muito simples: 
porque a maioria da população vive na miséria. 
 Não existe outra possibilidade para que haja tanta concentração de renda. 
É preciso ter muita miséria. É preciso que se coloque e se discuta isso na escola, 
e eu pergunto se o Orientador e o Supervisor não podem discursar sobre o 
contexto desse país e do mundo, as relações que existem entre país e mundo 
para que se possa construir aí sim, o Projeto Político Pedagógico alternativo. 
 Teremos que virar a escola de cabeça para baixo. Teremos que pensar em 
qual dos aspectos que acontece na escola, desde o físico até o pedagógico, 
relacionais, pois se pretendemos formar uma outra sociedade, temos que nos 
contrapor a tudo o que está acontecendo na escola que prepara para essa 
sociedade – que valoriza a competição, o individualismo, o consumismo, conforme 
observamos na organização do trabalho escolar: fila para entrar, cada um 
sentado atrás do outro , provas de classificação, reprovação, expulsão (na escola 
se usa evasão). 
 A escola constrói aos poucos a evasão, onde os alunos se evadem porque 
têm que trabalhar. Saem da escola, não porque precisam trabalhar, pois eles já 
trabalhavam antes, e sim, porque são expulsos da escola. Devemos saber como 
estão sendo expulsos da escola desde que entram. 
 O próprio Presidente da República diz que tem 5 milhões de crianças 
brasileiras em idade escolar obrigatória que não estão na escola. A estatística dele 
é otimista. A estatística que tenho é de 8 milhões. Somos um país onde a Lei da 
obrigatoriedade escolar é muito antiga, porém nunca foi respeitada. 
 Temos que começar pensando o seguinte: O que fazer na escola para que 
todas as crianças entrem e permaneçam? 
 A discussão da matricula não é coisa simples na qual se decide o dia, o 
horário, os documentos que serão exigidos, mas sim uma discussão política. Por 
quê? Porque quando eu abro matrícula, eu já estou em ação em um determinado 
Projeto Político Pedagógico favorável a uma escola de elite ou a uma escola 
popular. 
 Se eu exijo uma série de documentos e se faço a matricula no horário de 
trabalho, se eu apresento cartaz escrito, eu já estou de saída dificultando aos pais 
e as mães trabalhadoras de matricularem o seu filho. Estou fazendo uma opção 
que é política, fazendo uma educação de elite que é contra os interesses das 
classes trabalhadoras/populares, porque se o desejo é abrir a escola para os 
alunos oriundos da das classes populares tenho que pensar que otrabalhador não 
vai perder o seu dia de trabalho para matricular o seu filho, ou muito menos 
arriscar ser despedido. Pois, a crise do desemprego é crescente, portanto, 
 
 
UNOPAR VIRTUAL 
 
Pedagogia 
ninguém arrisca, e até porque a lógica é muito simples: do que me adianta garantir 
a matrícula de meu filho se eu não vou garantir a sobrevivência dele. É uma coisa 
perversa, mas é a realidade. 
 A escola é um serviço público, é uma das formas do estado devolver para a 
população o que arrecada através dos impostos. Michael Apple conta a seguinte 
história (verídica): Os professores queriam que os pais viessem para a escola, e 
eu ínsito, não é para cobrar o que é da responsabilidade nossa, mas para dialogar 
com os pais, sobre o que estamos fazendo, porque estamos fazendo, onde 
pretendemos chegar com o que estamos fazendo, o que estão esperando da 
escola, para construir um Projeto Político Pedagógico orgânico. Os pais não 
vinham. A estratégia utilizada foi a seguinte: marcaram reunião ao sábado, pois 
sabiam que neste dia os pais não estariam trabalhando. Os professores se 
organizaram para um almoço e as serventes cuidaram das crianças pequenas. 
 Existem razões pelas quais os pais não vem a escola. A escola é um 
espaço que não sabe sua responsabilidade, joga para os pais uma 
responsabilidade que é sua. Chama os pais para dizer o seguinte: Você tem que 
fazer alguma coisa porque seu filho está muito mal em Matemática. E a mãe 
analfabeta pergunta: O que posso fazer se eu não sei Matemática? Como é que 
ela quer que eu ensine? Mas, a escola que tinha que ensinar, e está dizendo que 
sou eu. 
 A escola joga nos pais a responsabilidade que é dela, diz que seu filho está 
muito desinteressado, ao invés do (a) Orientador (a) recriminar os pais, deveria, 
isso sim, colocar em discussão o que estamos fazendo com essas crianças para 
que elas estejam desinteressadas. 
 Vocês já viram alguma vez alguém se desinteressar por alguma coisa que é 
significativa e que tem sentido para ela? Eu nunca vi, mas a escola não sabe 
criar, despertar o interesse das crianças pois isso é uma coisa que ela não acha 
muito importante. Como não consegue dar sentido aos conteúdos que trabalha e 
quando as crianças se mostram desinteressadas joga para os pais, dizendo para 
fazerem algo. Quem tem que fazer alguma coisa quando as crianças estão 
desinteressadas? 
 Se eu estivesse aqui e olhasse para vocês e começasse a perceber que 
estão desinteressados, não é discordando de mim, porque não me importo, acho 
até bom, porque se está discordando é que o negócio está incomodando, mas se 
estivessem com cara de sono, quase dormindo, eu deveria refletir sobre a minha 
fala e a necessidade de mudá-la. 
 O que temos de fazer? É o seguinte: utilizar uma metodologia que estimule 
as crianças à participação, ao interesse. Os conteúdos trabalhados devem ter 
sentido – ligados a vida da criança, respondendo a curiosidade e aos problemas 
que vivenciam em sua comunidade. A relação estabelecida com os alunos deve 
ser uma relação amorosa – de compartilhar e de mostrar que se está interessado 
com o desenvolvimento da aprendizagem da criança – de compromisso. 
 Joga-se a problemática para os pais, sendo que a escola lava suas mãos, 
limitando-se a reprovar o aluno no final do ano, pois os pais não procuram a 
escola antes, em virtude de que toda vez que até lá vão, é só para ouvir 
reclamação de seus filhos. 
 
 
UNOPAR VIRTUAL 
 
Pedagogia 
 É importante dizer que o Orientador Educacional não tem que ter horário 
igual ao professor, fixo. Se tem, é uma novidade para mim. Porque eu sempre 
soube que uma das estabilidades do trabalho do Orientador e do Supervisor é 
exatamente, que seu horário é flexível. 
 Não estou falando em nenhum momento da hora extra do trabalho, mas sim 
da negociação. Só se pode negociar quem já mostrou competência. É claro que 
quem não é reconhecido como competente pela escola, não vai conseguir isso 
nunca, não porque tem horário, mas, porque nunca disse a que veio. 
 O que proponho é que se a reunião de pais só pode ser feita no sábado e 
se a escola como um todo – é preciso ter Projeto Político Pedagógico na escola - 
considera importante que os pais venham à reunião, a Diretora vai achar ótimo 
que uma Orientadora ou quem queira vir com ela, troque seu horário. 
 Enquanto a gente não mostra que é capaz de realizar o serviço, é claro que 
haverá desconfiança. Devemos ser profissionais. A Orientação Educacional não 
deve chamar os pais para jogar a responsabilidade do que seria responsabilidade 
do professor e da escola. A família tem outras responsabilidades: devemos 
chamar os pais na escola, por exemplo, quando constatamos que certo aluno 
pode estar envolvido com drogas, quando percebemos dificuldades na visão, e 
outras coisas mais, das quais a escola não tem que dar conta sozinha. Mas, 
nestes casos, é preciso encaminhar os pais ajudando-os a compreenderem onde 
devem procurar auxílio, se no posto de saúde, se no serviço social municipal, ou 
onde mais seja. A escola não pode arcar sozinha com estas responsabilidades. 
Tem que compartilhar com os pais, tem obrigação e direito de chamar os pais, não 
para jogar a responsabilidade, e sim compartilhar, para garantir aos pais que é 
uma coisa séria: sendo um alerta. A nossa responsabilidade é pedagógica, mas 
não podemos nos omitir em situações psicológicas, necessitando ter sensibilidade 
e isto não se aprende em livros. 
 É importante desenvolvermos a sensibilidade para sabermos o que fazer 
numa hora difícil e ter coragem para perceber que a gente aprende mais com 
nossos erros, do que com os acertos. É importante que a gente se abra quando 
erramos para alguém poder nos ajudar a entender o porquê do erro ou quando 
nós próprios somos capazes de fazer autocrítica, aprender com eles. É mais fácil 
fazer análise do erro para que numa próxima situação não cometamos mais os 
mesmos. Não devemos ficar estáticos nas nossas certezas. Insisto em dizer que 
a gente aprende pouco quando acertamos. Tendemos a repetir as mesmas ações 
sempre, não se avalia e não se pensa em outras possibilidades, a tendência é 
continuar a repetir os mesmos modelos. 
 Uma das questões importantes de ser Orientador, Administrador, 
Supervisor ou Professor é desenvolver a capacidade de improvisar a partir do 
planejado. Todo mundo planeja seu trabalho e se nós não tivermos a flexibilidade, 
a coragem a criatividade, quando acontecer um fato novo, não estando no nosso 
planejamento, nosso trabalho vai ser monótono, desinteressante, pouco criativo. É 
importante ter bom senso para ver o que é de necessidade mais imediata e mudar 
um item do planejamento quando for necessário. 
 Como a sociedade hoje está organizada e para onde vai caminhando? 
Vivemos numa sociedade que estabelece a cada momento a lógica do mercado. 
O que eu entendo é que nós deveríamos estar provocando uma discussão política 
 
 
UNOPAR VIRTUAL 
 
Pedagogia 
na escola. Vocês deveriam estar explicitando na escola as contradições dessa 
sociedade e trabalhando-as, porque este é o espaço possível de construção de 
uma escola de qualidade. Se nós trabalharmos na escola, com os professores, 
pais, alunos, funcionários, neste espaço de contradição, que está em permanente 
conflito e tensão diante da tensão entre os interesses dominantes e os interesses 
contra-hegemônicos, nós não iremos fazer um trabalho de qualidade nunca. Então 
é necessário que saibamos quais são esses interesses hegemônicos. 
 Esta sociedade é tremendamente excludente e a escola acompanha o 
modelo da sociedade. Nós precisamos saber disso e, com competência, devemos 
lutar para mudar este quadro social de evasão e exclusão dos filhos da classe 
trabalhadora das nossas escolas publicas. 
 Os conteúdos pedagógicos devem ser desveladores dos fatores que levama exclusão e trabalhar na possibilidade de desmascarar esta sociedade e buscar a 
transformação do status-quo. Afirmar a sua importância diante desta sociedade 
que vivemos; não é isso que a gente quer da classe trabalhadora? 
 Para mim não tem limite para a capacidade da criança aprender, sendo 
que é a própria criança que nos dá o limite. Ou seja, naquele momento o limite é 
sempre provisório, devendo ser sempre superado. O que observo é que quando a 
criança esta interessada em alguma coisa ela aprende e conseguimos manter o 
interesse dela, isso exigirá de nós uma competência muito maior. Esta escola 
exigirá de nós muito mais do que aquela escola tradicional que impunha um 
programa pronto em, que todos os professores faziam o seu trabalho de forma 
igual. 
 A escola é um espaço de controle. Quem garante o que é mais importante 
para uma criança passar de uma série para outra, e quais conteúdos são 
importantes em detrimento dos outros? 
 É claro que ninguém vai conseguir que a escola mude num passe de 
mágica, mas eu não tenho dúvida alguma de que o papel dos Supervisores é 
problematizar os conteúdos pedagógicos, é função específica da Supervisão, por 
em questão se uma criança pode ou não pode aprender tal conteúdo. Então eu 
convidaria os Orientadores a investigar o que a criança aprende e o que ela já 
sabe para participar também dessa discussão, colocando em questão as verdades 
pré-estabelecidas e definitivas em relação à prontidão e limites da aprendizagem. 
Eu não trabalho com modelos universais, não acredito que haja o homem 
universal, eu acredito que há homens e mulheres históricos, frutos de uma 
determinada sociedade, que é diferente de outra determinada sociedade, que vive 
em determinado momento histórico e não em outro, e que estão desafiadas pelo 
que a vida coloca de uma forma que outros não estiveram. 
 O que acontece com a escola é que trabalha com o modelo idealizado de 
classe média, ela ensina desde o bê-á-bá, quando o menino já traz o 
conhecimento das quatro operações. Vocês já pensaram quanto tempo nós 
perdemos, com a história das pedrinhas para ensinar as quatro operações, 
quando em geral as crianças das classes populares já sabem esse conteúdo. A 
gente ignora o conhecimento que ela já tem, ou repetindo o que já sabe. O que ela 
não sabe é sistematizar o conteúdo, por no papel, é isso que eu tenho que dar: 
sentido ao conteúdo. A importância de saber fazer de cabeça e no papel, é aí o 
desafio para nossa criatividade, ter que criar situações pedagógicas na sala de 
 
 
UNOPAR VIRTUAL 
 
Pedagogia 
aula de modo que esse menino compreenda a importância em aprender a 
escrever tal continha, o que pode facilitar a vida dele nas situações de compra e 
venda de balas. Já que ele vende balas no sinal das grandes cidades. 
 As situações pedagógicas têm que ser prática para a vida. Em Matemática 
o desenvolvimento do raciocínio não está em fazer vários exercícios, ou enormes 
contas, para mim, isto é memorização igual a máquina de calcular. O que 
desenvolveria o raciocínio seria o entendimento do que seria somar, subtrair, 
multiplicar e dividir. O professor não sabe ensinar porque ele também não sabe. 
Ele não sabe, não porque quer, mas porque também foi vítima deste sistema. 
 Perdemos meses, anos, passando exercícios de separação de sílabas, 
porque não sabemos o que fazer em sala de aula, é lamentável isso. Ao invés de 
nós usarmos o tempo para de fato trabalharmos os conteúdos significativos aos 
nossos alunos, enchemos o quadro de exercícios e vamos ao corredor conversar 
com os colegas ou sentamos na cadeira. Não vamos criticar os professores, eles 
fazem isso porque eles foram ensinados a fazer assim. Vão repetindo sem pensar. 
 Os especialistas têm a função de provocar a criticidade entre os alunos e 
professores, pondo isso em discussão, não dá para desqualificar os professores, 
mas é para desestabilizá-los e apresentar sugestões. Os especialistas também 
precisam estudar e aprofundar as questões para poderem levar as discussões aos 
professores com segurança. Os encontros quinzenais têm que ter essa função: 
aprofundar e estudar as questões pedagógicas. Se os especialistas não tiverem 
segurança.... como, e a quem os professores vão pedir ajuda? Os professores 
estão de olho em vocês o tempo todo, porque vocês são vistos como alguém que 
tem privilégios na escola- não tem turma, é função meio indefinida, nem eles 
sabem e nem vocês sabem. A Orientação e a Supervisão em geral não mostraram 
a que vieram. Os professores não sentem que vocês estão ali para ajudá-los, para 
trabalharem com eles, no seu cotidiano, com suas dificuldades. 
 Os especialistas têm que trabalhar com os professores. Para fazermos isso, 
precisamos saber e para saber, precisamos estudar. Uma das formas de estudar é 
estarmos juntos nestes encontros e trazer situações que enfrentamos na escola, 
não tendo medo ou receio dos colegas. Há que existir solidariedade entre vocês. 
Que as pessoas se sintam respeitadas. Ninguém sabe mais do que o outro. Mas, 
os mais experientes devem ajudar e permitir serem ajudados. 
 Não devemos ficar fazendo elucubrações, isto é muito bonito, mas a escola 
tem que ensinar e pensar em como ensinar cada vez melhor. O Supervisor 
Escolar tem que dar o chão aos professores, ajudando-os a ensinar melhor e a 
sentirem mais satisfeitos com o resultado de seu trabalho. Nós podemos ajudar 
as pessoas a terem prazer e sentido no seu trabalho, no interesse da 
aprendizagem das crianças. Esse é o grande desafio que se coloca para nós. 
 Todos (nos grupos de formação) devem perceber que temos um espaço 
onde colocamos nossas dificuldades e podemos ser ajudados pelos colegas e, ao 
mesmo tempo ajudar a outros, esse é o verdadeiro motivo desses encontros de 
especialistas. 
 A escola, como a sociedade, trabalha o tempo todo com a questão dos 
valores, nós temos que assumir uma postura investigativa. Os especialistas e o 
diretor têm que ter uma atitude investigativa na escola – postura de escuta 
sensível, estar olhando para a escola como um radar e tentar captar o que está 
 
 
UNOPAR VIRTUAL 
 
Pedagogia 
acontecendo lá dentro. Vamos investigar onde está aparecendo o individualismo, 
a competição na escola. Vamos perceber que, desde o momento que a criança 
entra na escola, até o momento que se ausenta a questão do individualismo e da 
competição está presente, tanto na atitude dos professores e, em muitos casos, 
nas nossas atitudes. Então estaríamos incomodados e começaríamos a 
incomodar, nos obrigando a fazer alguma coisa, nos engajando nas lutas. 
 Temos que pensar sobre isso. Os valores que se contrapõem ao 
individualismo, à competição, são a solidariedade, o coletivismo e a cooperação. E 
em relação ao consumismo tão presente no seio do capitalismo? Como a escola 
nos dias de hoje, que lida com crianças pobres e sabe da situação dos pais que 
precisam manter a sobrevivência de suas famílias, às vezes com um salário 
mínimo, continua a mandar a mesma lista de material para os alunos? 
 Temos que colocar isso em discussão na escola. Será que é 
verdadeiramente necessário essa lista de materiais? Será que as crianças, 
quando ficam pintando, pintando..., vêem algum valor e aprendem alguma coisa, 
ou então estão treinando habilidades apenas motoras? O que isso tem a ver com 
a aprendizagem? Nada. Será que não seria diferente se nós trabalhássemos com 
recortes, desenhos, modelagem, projetos sugeridos pelas crianças e que tivessem 
significados, não teríamos melhores resultados? 
 Ao invés do consumismo podemos trabalhar a racionalização dos recursos, 
a economia, o desperdício. Temos que pensar na qualidade, não na “qualidade 
total” sugerida pelo neo-liberalismo, mas numa nova qualidade. Lembro que a 
classe trabalhadora sobrevive porque é capaz de redefinir materiais. As classes 
trabalhadorassobrevivem porque encontram novos usos para os materiais. 
Precisamos trazer a criatividade para dentro da escola. Criatividade esta, que está 
presente, ou melhor, é uma característica das classes populares, valendo-se 
disso, devemos transformar esse saber popular em conteúdos pedagógicos 
(cientificando-os). 
 Então estaríamos trabalhando contra o consumismo, o individualismo e a 
competição. Nossa sala de aula não pode ser um palco das competições entre 
quem tem o melhor lápis e a melhor borracha. Na escola teríamos que ter 
materiais de uso coletivo. Ela é disciplinadora, no momento que busca o equilíbrio 
entre o corpo e a mente de modo que estes intervenham integralmente no 
processo ensino e aprendizagem. Não podemos viver sem a organização e a 
disciplina. Tenho que planejar para fazer. Não se faz nada sem disciplina. É 
indispensável que nossos alunos aprendam a importância da disciplina para que 
possam levar a sério seus projetos. 
 Vocês acham educativo uma escola onde os alunos fazem o que querem, 
quando e se querem fazer, e quando não querem, não fazem nada? Acho 
absolutamente deseducativo. É claro que uma criança, desde muito cedo, tem que 
aprender que quando começa um trabalho tem que levar a sério. Saber que não 
pode começar um trabalho sem acabar o anterior. Mas, isso não se consegue com 
coerção, mas sim com firmeza. São aprendizagens que vamos fazendo desde 
muito cedo. Deveríamos ajudar os professores a criarem situações pedagógicas 
na sala de aula em que tudo isso fosse desenvolvido. 
 Toda escolha representa uma renúncia e quando a gente escolhe tem que 
assumir a responsabilidade da nossa escolha. Temos também que ensinar aos 
 
 
UNOPAR VIRTUAL 
 
Pedagogia 
nossos alunos que quando escolho alguém para me representar, tenho que 
assumir essa escolha. Tendo que fazer as tarefas que resolvi coletivamente. No 
grupo, se sugerimos algo, temos que dar conta de cumprir as tarefas decorrentes 
dos compromissos que assumimos e ter a responsabilidade de fazer. Não posso 
simplesmente me apresentar no grupo e dizer que não fiz aquilo que coube a mim 
e foi decido em coletividade. Se assumir, tenho que fazer. Se não consigo fazer 
tenho que justificar coerentemente o porquê não fiz. 
 Estou dizendo isso porque nós estamos numa sociedade em que 
acreditamos na tradição brasileira de que quando votamos, exercemos o dever de 
cidadão. Colocamos o voto na urna e lavamos a mão. Nunca mais procuramos 
saber o que o político está fazendo. Quem conhece sociedades onde existe uma 
tradição de exercício da cidadania, ou seja, uma clareza da população de que ela 
tem direitos e deveres, duvido que haja essa ciranda que há no Brasil. Muda de 
partido, volta as bases e muda o seu discurso e se elege novamente. Quer dizer, 
temos todos uma memória muito fraca. 
 É claro que se desde cedo tivéssemos aprendido que quando escolhemos, 
deveríamos assumir a responsabilidade pela nossa escolha estaríamos o tempo 
todo cobrando de quem votamos e que eles correspondessem aquilo que 
prometeram no discurso da campanha. 
 Quem faz isso? Eu duvido. 
 Foi feita uma pergunta por uma OE da platéia. Como trabalhar na nossa 
realidade, na questão do currículo que envolve todo o que fazer da escola, desde 
a coordenação de projetos, proposta da SME e da própria escola, desde a 
reestruturação de conteúdos, coisas chamadas de macro na escola, e como 
sintonizar isto com o meu específico, daquele meu aluno que inevitavelmente bate 
na porta da orientação, pois se desentendeu com o professor, está febril, está com 
catapora, com rubéola, como a gente conduz as questões macro (geral) e micro 
(específico do OE) ? 
 Regina Leite Garcia responde: Eu penso que se nós trabalharmos no 
currículo, e o currículo é tudo isso, e muito mais, nós estaremos cumprindo a 
nossa função por excelência, se nos sobra tempo para atender o menino quando 
ele bate a nossa porta, porque ele está aflito, brigou com a professora, com 
problemas de saúde, melhor ainda. Agora eu não sei se nós teremos tempo para 
fazer tudo. Mas, o que eu sei, é que se nós usarmos bem o nosso tempo, nós 
estaremos o tempo todo trabalhando no currículo. Veja, quando o menino vem 
conversar com a OE, ele traz um feedback de como o currículo está sendo 
trabalhado na sala de aula, na conversa vai aparecendo as questões de 
relacionamento bem como o professor trabalha, o tipo de conteúdo que está 
sendo ministrado, metodologia utilizada, os tipos de materiais didáticos que estão 
sendo utilizados, tipo de relação com os alunos, então você faz anotações de 
todas estas observações e informações que colhe. 
 Quando você volta a participar do planejamento curricular e da avaliação 
permanente do currículo, você já vai munido de dados concretos da cotidiano da 
sala de aula, e isso te possibilita, não é usar isso para deixar o professor numa 
situação desconfortável, mas para você saber o que acontece na sala de aula e o 
que você deveria estar tentando trabalhar de modo que aquela professora 
pudesse melhorar a sua prática pedagógica. Nós temos que trabalhar com os 
 
 
UNOPAR VIRTUAL 
 
Pedagogia 
professores, pinçando todas as informações que temos acesso no dia-a-dia, isto 
feito com muita tática. O trabalho do OE é o currículo e algo mais. 
 O currículo é o que é comum a todos os profissionais, ou seja, OE, SE, AE, 
todos tem que trabalhar através do currículo; cada profissional vai interferir no 
currículo de um ponto de vista do seu específico. 
 O AE vai interferir no currículo no sentido de organizar o espaço, o tempo e 
os recursos da escola, de modo a favorecer o processo pedagógico. Ele tem a 
formação específica, os conhecimentos para melhor organizar espaço, tempo e os 
recursos humanos, materiais em função do processo ensino e aprendizagem, ou 
seja, do professor e dos alunos, para isso que existe o AE. 
 O SE, que deve se o especialista em currículo, é que deve coordenar o 
processo de planejamento, elaboração do currículo, de avaliação permanente do 
currículo e tudo que está implicado nele, seleção de conteúdos, metodologias, 
materiais didático, técnicas, recursos, formas de avaliação. Tudo isso é 
coordenado pelo Supervisor, mas nada disso aconteceria se o OE não fizesse o 
trabalho de conhecer o aluno. 
 O OE tem que saber quem é o aluno, que tem uma família, que mora numa 
comunidade, que vive numa sociedade, que é parte de uma cultura, que pertence 
a um determinado grupo étnico, que tem um gênero, tudo isso tem que parecer 
na escola e no currículo. Quem faz isso é o OE, por isso não pode deixar de 
trabalhar com a família, tem que abrir os muros da escola, para que as 
características da comunidade entrem na escola. Não há currículo adequado à 
comunidade se a gente não sabe que comunidade é essa. 
 Não tem um currículo que possamos chamar de um Projeto Político 
Pedagógico orgânico, se os pais não participam da formulação deste, se os filhos, 
os professores não participam desta discussão, não apenas a comunidade 
escolar, mas a comunidade circundante. Se não sabemos que sociedade e 
momento histórico vive, em que contexto sócio-histórico cultural vive, não há 
possibilidade de um currículo adequado á comunidade, um currículo 
emancipatório, é o que todos pretendemos. Não há possibilidade de construir um 
currículo emancipatório sem estes conhecimentos. 
 Esse OE tem que trabalhar com isso, esta é a contribuição dele no 
currículo. O OE não é o especialista em currículo, em conteúdo, em técnicas, em 
metodologias, este é o Supervisor, mas é o OE que faz essa articulação entre a 
escola e a comunidade. Ao fazer esta articulação possibilita que o currículo seja 
adequado à comunidade e grupo de alunos. Não tem adequação curricular sem 
entender a função do OE. Se ele não fizer, alguém irá fazer. Temos que conhecer 
o aluno concreto. Alguém tem que trazer a realidadedo aluno o tempo todo. 
Temos que ter uma prática pedagógica que leve em consideração este aluno. 
Temos que trabalhar conteúdos significativos em cada grupo de alunos, porque 
não existe conteúdos significativos universais, não se aprende isso em livros, mas 
na prática pedagógica. 
 O OE e o SE têm que trabalhar com os dados da escola, colocando-os em 
discussão. Os especialistas têm que ter cientificidade em seu trabalho, 
planejamento e articulação. Temos que transformar os dados, as estatísticas em 
discussão política pedagógica, o porquê daqueles dados, numa postura 
investigativa. Esta postura investigativa ajuda a pensar e repensar a postura 
 
 
UNOPAR VIRTUAL 
 
Pedagogia 
pedagógica dos professores porque os dados são o espelho do trabalho. Se os 
alunos repetentes tivessem outra oportunidade de ter outra trajetória, ou seja, se 
continuassem no ano seguinte de onde eles pararam teriam muito mais 
possibilidades de sucesso. Quem tem que passar os dados dos alunos para o 
professor do ano seguinte é o OE. E o SE diria que conteúdos seriam 
selecionados a partir de onde eles pararam no ano anterior para o professor não 
iniciar do zero. Isso exige competência, saber ler estes dados, isto é trabalhar com 
estatísticas. Este é apenas um exemplo. Se os três profissionais estão 
interferindo dessa maneira na escola, estão contribuindo para a construção da 
competência coletiva. 
 Digam-me: Uma professora que aprendeu e foi ajudada a ler estes dados, 
construir alternativas pedagógicas para trabalhar com seus alunos, não fica mais 
competente? Claro que ela fica mais competente! Então estaremos cumprindo o 
que sempre dizemos no discurso, estamos contribuindo na construção de uma 
competência docente coletiva, sem o que não tem escola de qualidade. Para fazer 
este trabalho nós precisamos aprender no coletivo, aprender uns com os outros 
nestes encontros. Precisamos escrever sobre o nosso trabalho. Vocês 
especialistas aqui em Florianópolis precisam escrever a história e as experiências 
de vocês, para que os outros profissionais possam aprender com vocês, seria 
maravilhoso. 
 Quero recomendar para vocês a leitura de Vygotsky. Ele diz que, 
geralmente, a escola trabalha com o passado da criança, ou seja, com o 
desenvolvimento que já foi consolidado. A escola testa as crianças e a partir do 
que elas revelam, classificam-nas. 
 A escola deveria trabalhar a partir do desenvolvimento já atingido pelas 
crianças - este é o grande achado dele, no qual trabalha com a categoria do 
desenvolvimento proximal, ou seja, são as possibilidade da criança, trabalha com 
o futuro e não com o passado. Em trabalhando com o futuro, ele nos abre 
possibilidades riquíssimas para a ação docente, para intervenção da professora. 
Porque, ao invés da busca obsessiva pela homogeneidade, trabalha com a 
riqueza potencial da heterogeneidade, enfatiza, também, a importância da 
intervenção do adulto nesse processo de construção do conhecimento coletivo, 
portanto, é uma outra forma de pensar e fazer educação e mais favorável às 
crianças. 
 Todos aprendem, cada um no seu ritmo. Assim estarei sempre trabalhando 
com o futuro da criança e dando a ela a possibilidade de se aproximar desse 
futuro e de transformar em presente e cada momento em um novo futuro. 
 Eu acho que seria da maior importância vocês estudarem Vygotsky porque 
nos ajuda a compreender e interferir nisto. Quando falo em estudá-lo não é para 
chegar na escola, levar um texto dele e propor aos professores em estudar. Por 
favor, não façam isso, porque esta é a coisa mais chata que tem. São vocês que 
tem que estudá-lo, buscando segurança para proporem ao professor para romper 
com a questão da homogeneidade e entender a riqueza da heterogeneidade. 
Vocês tem que ter argumentação de modo a convencer aos professores que isso 
é o melhor. Não fiquem impondo ao professor esta literatura, que a professora vai 
dizer: “mais uma novidade, não é mais construtivismo, é sócio interacionismo”. 
 
 
UNOPAR VIRTUAL 
 
Pedagogia 
 Não fale nada disso e nem falem de Vygotsky, é necessário que vocês 
tenham elementos para poder propor aos professores para avançarem, ajudando 
melhor aos seus alunos, é neste sentido que estou falando. 
 As crianças têm o direito de ficar na escola e de se apropriar de um 
conhecimento que é fundamental, desde as coisas mais imediatas da sua vida - 
que a sobrevivência lhe exige -, passando pela sua inserção no mundo do 
trabalho. Obviamente o conhecimento que a escola socializa é o conhecimento 
que é levado em consideração em qualquer seleção de pessoal para qualquer 
emprego, desde os mais humildes aos mais importantes, até a questão da escolha 
dos rumos da sua própria vida, até chegando a opção por uma outra sociedade e 
se engajando na luta pela construção de uma nova sociedade. 
 Eu venho a esses encontros sempre que recebo esse tipo de convite, 
porque acredito firmemente, que teríamos uma coisa importante a fazer na 
escola e que nem sempre estamos fazendo e seria preciso fazer, para de fato 
virarmos a escola de cabeça para baixo e construir uma escola de qualidade para 
a classe trabalhadora. Na minha vida de educadora, sempre estive participando 
dos movimentos para a transformação da sociedade num movimento coletivo de 
transformação. Não gostaria que a minha geração deixasse esta escola que aí 
está como herança. Gostaria que pudéssemos construir uma outra sociedade, 
justa, igualitária, democrática, que respeitasse mais as diferenças, que houvesse 
espaço para que as diferenças se expressassem, que todos tivessem os seus 
direitos fundamentais atendidos para poderem sonhar. Sonhar com outros 
direitos, que só uns poucos desse país podem realizar.

Continue navegando

Outros materiais