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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA CURSO DE ENGENHARIA DE ALIMENTOS DISCLIPLINA DE INTRODUÇÃO À ENGENHARIA AMBIENTAL APOSTILA DE INTRODUÇÃO À ENGENHARIA AMBIENTAL PROFESSORA: ROSÂNGELA BERGAMASCO/ANGÉLICA M. S. VIEIRA Maringá, 2013 Sumário 1. - NOÇÕES SOBRE ECOLOGIA ............................................................................................... 4 1.1. - Histórico ........................................................................................................................... 4 1.2 - Subdivisões da Ecologia .................................................................................................... 4 1.3 - Ecologia uma Ciência Multidisciplinar ............................................................................. 4 1.4 - O Conceito de Ecossistema ............................................................................................... 5 1.5 - O que e quem pode alterar o ecossistema? ........................................................................ 5 1.6 - O que é Poluição? .............................................................................................................. 5 1.7 - A Reforma Sanitária e a Poluição ..................................................................................... 6 1.8 - A Revolução Industrial, o Problema da Poluição Mundial e a Vida Sustentável ............. 6 1.9 - Fatores que tornaram possível a Revolução Industrial ...................................................... 7 1.11 - O Ciclo do Carbono......................................................................................................... 10 1.12 - O Ciclo do Nitrogênio ..................................................................................................... 10 1.13 - O Ciclo do Oxigênio ....................................................................................................... 10 1.14 - O Fluxo de Energia num Ecossistema ............................................................................. 10 1.15 - Balanço entre Produção e Consumo................................................................................ 11 1.16 - Que fatos podem-se verificar daí? ................................................................................... 11 2 - CONTROLE DE POLUIÇÃO DAS ÁGUAS........................................................................... 12 2.1 - Processos ideais versus processos reais .......................................................................... 13 Definição do termo poluição zero: ................................................................................................... 14 No contexto do processo ideal nenhum despejo é gerado ou seja, “poluição zero” implica em que todas as substâncias reagentes e insumos são transformados em produtos utilizáveis. ................... 14 3 - PROGRAMA DE MINIMIZAÇÃO DE DESPEJOS .............................................................. 14 NOÇÕES SOBRE A QUALIDADE DA ÁGUA: ............................................................................... 17 3.1 - A água na natureza .......................................................................................................... 17 3.1.1 - Distribuição da água na terra ........................................................................................... 17 3.2 - O ciclo hidrológico .......................................................................................................... 18 3.3 - Os usos da água ............................................................................................................... 18 3.4 - Impurezas encontradas na água ....................................................................................... 19 3.5 - Parâmetros de qualidade da água .................................................................................... 19 3.5.1 - Parâmetros Físicos ....................................................................................................... 19 3.5.2 - Parâmetros Químicos ................................................................................................... 20 3.5.3 - Parâmetros Biológicos ................................................................................................. 20 3.6 Poluição das águas ............................................................................................................. 20 3.7 - Quantificação da carga poluidora .................................................................................... 21 3.8 - - Características das águas residuárias ............................................................................ 21 3.9 - Caracterização da qualidade dos esgotos ........................................................................ 24 3.10 - Qual a principal diferença entre os testes de DBO e DQO? ........................................... 28 3.11 Características de esgotos industriais ................................................................................ 30 4 IMPACTO DO LANÇAMENTO DE EFLUENTES NOS CORPOS RECEPTORES .............. 31 4.1 Poluição por Matéria Orgânica e Autodepuração ............................................................. 31 4.2 Autodepuração - Análise Ecológica ................................................................................. 32 4.3 Balanço de oxigênio dissolvido ......................................................................................... 34 4.4 A curva de oxigênio dissolvido ........................................................................................ 34 5 INTRODUÇÃO AO CONTROLE DE POLUIÇÃO .................................................................. 35 5.1 Poluição ambiental ........................................................................................................... 36 5.2 Classificação geral dos resíduos ....................................................................................... 37 5.3 Eliminação ou minimização dos problemas ambientais ................................................... 38 5.4 - Sistema de gestão ambiental ........................................................................................... 38 5.5 - Normas e procedimentos ................................................................................................. 39 5.6 Princípios da ISO 14000 ................................................................................................... 40 6 INTRODUÇÃO AO TRATAMENTO DE EFLUENTES .......................................................... 43 6.1 Por que tratar efluentes? .................................................................................................... 43 6.2 Principais contaminantes e características das águas residuárias ..................................... 43 6.3 Classificação dos Tipos de Tratamento ............................................................................ 46 7 TRATAMENTO BIOLÓGICO DE RESÍDUOS – PRINCÍPIOS DA CINÉTICA DE REAÇÕES E DA HIDRÁULICA DE REATORES. .......................................................................... 48 7.1 Introdução .......................................................................................................................... 48 7.2 Cinética de reações ........................................................................................................... 48 7.3 Balanço de massa ....................................................................................................................... 55 7.4 – Hidráulica de reatores .....................................................................................................57 7.5 - Tempo de retenção hidráulica e tempo de residência celular ......................................... 58 8 -TRATAMENTO SECUNDÁRIO – PROCESSOS AERÓBIOS .............................................. 60 8.1 -LODOS ATIVADOS ....................................................................................................... 60 8.3 -Problemas operacionais – suas causas e soluções ........................................................... 71 8.4 - Lagoas aeradas .............................................................................................................. 75 8.5 -Lagoas de estabilização .................................................................................................. 76 8.6 -Discos biológicos rotativos (RBC - rotating biological contactors) .............................. 82 9 -TRATAMENTO ANAERÓBIO DE EFLUENTES .................................................................. 85 9.1 - Introdução ........................................................................................................................ 85 9.1.1 -Histórico ....................................................................................................................... 85 9.2 - Aplicações do tratamento anaeróbio ............................................................................... 85 9.3 -Vantagens e desvantagens ................................................................................................ 85 9.4 - Fundamentos do tratamento anaeróbio .......................................................................... 86 9.4.1 -Processo de digestão ..................................................................................................... 86 9.4.2 - Microbiologia da digestão anaeróbia ........................................................................... 86 9.4.3 -Sequência metabólica ................................................................................................... 88 9.5 -Bioquímica da digestão anaeróbia................................................................................... 88 9.5.1 -Ácidos voláteis intermediários .................................................................................... 88 9.5.2 -Aspectos termodinâmicos ............................................................................................. 89 N° 89 SO4 2- + 4H2 + H + ........................................................................................................................ 89 HS - + 4H2O ...................................................................................................................................... 89 9.5.3 -Estimativa da produção de metano ............................................................................... 90 9.5.4 - Redução de sulfato....................................................................................................... 90 9.6 9.6-Requisitos ambientais para o processo anaeróbio ....................................................... 90 9.6.1 9.6.1-Nutrientes.............................................................................................................. 91 9.6.2 -Temperatura .................................................................................................................. 91 9.6.3 -Ph, alcalinidade e ácidos voláteis ................................................................................. 92 9.7 -Sistemas anaeróbios de tratamento ................................................................................. 93 9.7.1 - Sistemas anaeróbios de tratamento .............................................................................. 94 9.7.2 -Sistemas convencionais de tratamento anaeróbio ........................................................ 94 9.7.3 -Sistemas de alta taxa com crescimento aderido............................................................ 96 9.7.4 -Sistema anaeróbio com crescimento disperso .............................................................. 98 9.7.5 -Sistemas combinados de tratamento ........................................................................... 101 10 - TRATAMENTO TERCIÁRIO ............................................................................................... 102 10.1 - Introdução ...................................................................................................................... 102 10.2 -Necessidade de reuso ..................................................................................................... 103 10.3 -Formas potenciais de reuso ............................................................................................ 103 10.3.1 - Usos Urbanos ............................................................................................................. 104 10.3.4 -Usos Industriais .......................................................................................................... 106 10.3.5 - Recarga de Aquíferos ................................................................................................ 107 10.3.6 -Usos agrícolas ............................................................................................................. 108 Viabilidade econômica....................................................................................................................... 112 10.4 - Ações a serem desenvolvidas para o reuso no Brasil .................................................... 115 11 -FUNDAMENTOS SOBRE PROCESSOS COM MEMBRANAS .......................................... 118 11.1 -Membranas ..................................................................................................................... 118 PROCESSO ............................................................................................................................... 121 QUADRO E PLACAS:...................................................................................................................... 123 FIBRA OCA ...................................................................................................................................... 125 ESPIRAL ........................................................................................................................................... 126 11.2 -Escolha das membranas ................................................................................................. 127 11.2.1 - Parâmetros que influenciam o desempenho das membranas..................................... 128 12. RESÍDUOS SÓLIDOS ........................................................................................................... 134 12.1 -Introdução ....................................................................................................................... 134 12.2 -Resíduos sólidos ............................................................................................................. 134 12.3 -Considerações gerais ...................................................................................................... 135 12.4 -Classificação ................................................................................................................... 135 12.5 -Características ................................................................................................................ 137 12.6 -Resíduos sólidos urbanos (RSU) .................................................................................... 140 12.7 -Coleta e disposição final de resíduos sólidos ................................................................. 140 Coleta ................................................................................................................................................ 141 Disposição Final.............................................................................................................................142 12.8 -Aterros ............................................................................................................................ 142 12.9 -Reciclagem ..................................................................................................................... 146 -Você sabe quanto tempo a natureza leva para absorver os produtos abaixo? .............................. 149 12.10 -Compostagem ................................................................................................................. 160 12.11 -Resíduos industriais........................................................................................................ 164 Tratamento de Resíduos Industriais ................................................................................................... 165 12.12 -Resíduos hospitalares ..................................................................................................... 166 12.13 -Resíduos tóxicos ................................................................................................................. 168 12.14 -Rejeitos nucleares ........................................................................................................... 168 12.15 Pilhas, baterias e lâmpadas fluorescentes ........................................................................ 169 12.16 -Incineração ..................................................................................................................... 169 12.17 -Pirólise ............................................................................................................................ 171 13 -Tratamento de Efluentes Atmosféricos .................................................................................... 172 13.1 - A Poluição Atmosférica ................................................................................................ 172 13.2 -Efeitos Globais da Poluição Atmosférica ....................................................................... 172 13.3 -Chuva Ácida ................................................................................................................... 173 13.4 -Diminuição da Camada de Ozônio................................................................................ 173 13.5 -Inversão Térmica ............................................................................................................ 174 13.6 -Corrosão ......................................................................................................................... 174 13.7 -Efeitos Sobre a Saúde ..................................................................................................... 174 Legislação Pertinente ......................................................................................................................... 175 Situação Legal do Brasil Quanto à Emissão de Poluentes Atmosféricos .......................................... 176 Situação Legal do Brasil Quanto à Emissão de Poluentes Atmosféricos .......................................... 177 13.8 -Adsorção......................................................................................................................... 177 13.8.1 -Regeneração dos Adsorventes .................................................................................... 178 13.8.2 -Equipamentos de Adsorção ........................................................................................ 178 13.9 -Absorção......................................................................................................................... 178 13.10 -Dispersão ........................................................................................................................ 179 13.11 -Os tipos mais comuns de poluentes gasosos .................................................................. 180 4 1. - NOÇÕES SOBRE ECOLOGIA 1.1. - Histórico A palavra ecologia deriva do grego “oekologie”, que significa literalmente ciência do habitat. Pode-se definir ecologia como a “Ciência que estuda as relações entre os seres vivos e entre estes seres vivos e o ambiente em que vivem”. De acordo com as leis da ecologia os seres vivos devem viver num equilíbrio harmonioso, entre si e com o ambiente, no qual estão inseridos, equilíbrio este que deve ter duração indefinida, quando este equilíbrio é rompido por qualquer fator diz-se que ocorreu poluição, situação esta que pode ter consequências mais desastrosas possíveis. O pensamento ecológico é bastante antigo, atribui-se à Ernest Haeckel, zoológo Alemão, a introdução do vocábulo ecologia, em 1866, porém, já em 1798 Malthus expunha suas idéias sobre crescimento populacional, em que afirmava que as populações crescem em progressão geométrica, enquanto os meios para sua subsistência aumentam em progressão aritmética, ou seja, a medida que a população cresce, mais escassos tornam-se os meios para a sua subsistência. Darwin, que era professor de Haeckel, parecia concordar com as idéias de Malthus, uma vez que em 1858, para explicar a sua teoria sobre origem e evolução das espécies formulou três princípios fundamentais: (1) Há maior produção do número de ovos, esporos e sementes, do que de indivíduos adultos; (2) Os indivíduos são diferentes uns dos outros; (3) Os indivíduos, em número excessivo e diferentes uns dos outros, lutam pelos mesmos meios de subsistência e sobrevivem os mais aptos, os melhores adaptados às condições do ambiente em que vivem. Pode-se dizer que a partir dai ficou estabelecido o conceito de competição, e que as três teorias se inter-relacionam e estabelecem o inter-relacionamento entre os seres e o ambiente em que vivem. É por esta razão que se diz que o pensamento ecológico é bem mais antigo que a introdução do vocábulo ecologia. Até meados da década de 1930 a ecologia como ciência pouco se desenvolveu. O Brasil contribuiu de maneira significativa para o progresso da ecologia como ciência, uma vez que o primeiro livro publicado sobre ecologia no mundo em 1895, foi feito a partir das observações feitas pelo botânico dinamarquês, Eugênio Warning, quando este viveu no Brasil, em Lagoa Santa – Minas Gerais, durante três anos (1863-1866), estudando a vegetação. A primeira tentativa de apresentar a ecologia, com bases científicas, foi feita em 1927 por Elton, no que se referia ao mundo animal. O início do século XX marca a fundação das primeiras sociedades ecológicas e também a publicação dos primeiros trabalhos científicos em periódicos. O primeiro congresso internacional sobre ecologia foi em Haia em 1974. 1.2 - Subdivisões da Ecologia Auto-ecologia: estuda as relações de uma só espécie com o meio em que vive, ou seja, a auto- ecologia estabelece os limites de tolerância e preferência de cada espécie em relação a cada fator ecológico, muitas vezes é chamada de ecofisiologia. Sinecologia: estuda as relações entre as espécies que vivem em certo ambiente, e as relações entre essas espécies e seu ambiente. Em outras palavras é a ecologia dos conjuntos de espécies de seres vivos. 1.3 - Ecologia uma Ciência Multidisciplinar A ecologia é uma ciência muito complexa e envolve o conhecimento de muitas outras ciências, tais como, Zoologia, Botânica, Microbiologia, Geografia, Fisiologia, Genética, Química, 5 Física, Estatística, Sociologia, etc.. A ecologia deve explicar o papel dos diversos fatores do meio físico, sobre as diversas espécies de seres vivos que vivem neste meio, por isso é uma ciência que deve ser desenvolvida por equipes multidisciplinares. Para se ter o conhecimento do que se passa entre os seres vivos e o ambiente que habitam, é necessário conhecer os principais fatores que intervém no meio físico e opapel que cada um destes fatores desempenha sobre os seres vivos. Dentre os principais fatores pode-se citar: Ar, Água, Luz e Solo. O professor Patrick Blaudin, do Museu Nacional de História Natural da França, diz que no século XX a ecologia tornou-se uma ciência para engenheiros. Engenheiros capazes de intervir sobre um terreno, segundo um caminho racional e cientificamente fundamentado, para obter uma organização e um funcionamento satisfatório dos meios naturais. A ecologia é pois, muito mais que um conjunto de preocupações relativas ao ambiente. É uma disciplina científica fundamental, prática, para profissionais de alto nível universitário, longe de ser uma preocupação militante ou politizada simplesmente (guia ilustrado de ecologia). 1.4 - O Conceito de Ecossistema Chama-se de ecossistema a um conjunto de condições físicas e químicas de certo lugar, reunido a um conjunto de seres vivos que habitam esse lugar. O ecossistema tem pois, dois componentes: O ambiente povoado pelos seres vivos; e o conjunto de seres que povoam este ambiente. Ao ambiente físico dá-se o nome de Biótopo, e ao conjunto de seres vivos, dá-se o nome de Biocenose. 1.5 - O que e quem pode alterar o ecossistema? Todas as espécies que povoam um ecossistema são capazes de alterá-lo, seja retirando dele o seu alimento para a sua subsistência, seja devolvendo à ele o que retirou, através de suas fezes ou urina, geralmente de uma forma diversa. O homem em nada difere das outras espécies quanto à capacidade de alterar o seu ecossistema, porém, há uma diferença fundamental, porque ao homem foi dada a faculdade, por sua “inteligência”, de acelerar o processo de alteração do ambiente, por meio das invenções e descobertas. 1.6 - O que é Poluição? Várias são as conceituações ou definições que podem ser dadas de poluição mas, de um modo geral, pode-se definir poluição como “qualquer alteração que é introduzida em um ecossistema, que ocasione desequilíbrio, ou leve à situação de um novo equilíbrio diferente daquele que se encontrava anteriormente”. Os agentes causadores destas alterações são chamados de poluentes. Pode-se perceber que existem vários tipos de alterações ou de poluição, tais como, poluição do ar, da água, do solo, sonora, que podem ser causadas por substâncias químicas, ou não, no estado líquido, sólido ou gasoso, ou ainda causada por introdução de seres vivos ao ecossistema. Pode-se ainda falar em poluição visual e no sentido figurado, em poluição política e moral, que tão bem conhecemos em nosso país. 6 1.7 - A Reforma Sanitária e a Poluição Até meados do século XIX, antes da reforma sanitária, todos os esgotos gerados, que eram quase que totalmente de origem sanitária, eram lançados em poços ou sumidouros (escavações no solo), no interior das residências, de onde eram retiradas para reservatórios públicos, lugar em que permaneciam secando, com o objetivo de se obter uma massa estabilizada, que era utilizada na lavoura. Em 1847, na Inglaterra, um famoso sanitarista chamado Chadwick estabeleceu uma reforma sanitária, que consistiu basicamente na ligação de todos os esgotos domésticos nas redes coletoras urbanas, mediante a instalação de descargas hídricas. As redes públicas de esgoto que recebiam exclusivamente as águas da chuva passaram a receber além de outros poluentes, as descargas fecais. Foi inaugurado assim, a lei que os franceses denominaram de “tout à l’égout” (tudo ao esgoto), teve funções benéficas, como a remoção de materiais contaminantes de dentro das casas, mas, teve suas funções maléficas, pois, iniciou o processo de contaminação dos rios. Esta reforma sanitária levou a problemas seríssimos como a proliferação de doenças, como febre tifóide, cólera, hepatite, causadas pelas excreções de pessoas doentes que tinham seus dejetos lançados nas redes de esgotos que posteriormente eram lançados nos rios. A Alemanha, a Inglaterra e a França tiveram seus rios transformados em fontes importantes de epidemias, por conta do lançamento de esgotos, que só foram resolvidas com o desenvolvimento de técnicas de tratamento de esgotos, que passaram a ser obrigatórios a partir de 1875 e, pela introdução das práticas de cloração das águas de abastecimento. 1.8 - A Revolução Industrial, o Problema da Poluição Mundial e a Vida Sustentável A revolução industrial, que teve seu início no século XVIII, na Inglaterra em 1760, e seu grande crescimento no século XX, levou o mundo a um estágio de grande desenvolvimento, porém, hoje já se tem conhecimento que este desenvolvimento, levou também a que toda humanidade ficasse exposta a grandes riscos, que podem ser exemplificados tanto pela diminuição da qualidade de água , neste milênio, como pela ameaça da destruição da camada de ozônio, que protege a Terra dos raios ultravioletas. A origem da revolução industrial está no desenvolvimento da indústria têxtil. Em um determinado momento, a demanda de tecido não podia ser satisfeita pela antiga roda de fiar, operada manualmente por um tecelão. No entanto, a indústria têxtil exigiu a criação de uma indústria química moderna, capaz de abastecê-la com os produtos necessários para a lavagem do algodão e a tintura dos tecidos. Para produzir sabão, era preciso soda. Em 1825, instalou-se, em Glasgow, a maior fábrica de produtos químicos da Europa. Empregava 3 mil trabalhadores e ocupava 40 hectares. Fabricava soda conforme um método inventado por Nicolas Leblanc, em 1783, que utilizava ácido sulfúrico. Na fabricação deste ácido, produzia-se gás clorídrico, produto altamente contaminante, que a fábrica emitia continuamente por sua chaminé de 139 metros de altura. Logo se conseguiu diluir esse gás em água e utilizá-lo no processo de fabricação de tinturas para colorir o algodão, este processo porém, também pode levar a um grau de poluição importante, pela geração de compostos organoclorados. Além das indústrias químicas, desenvolveram-se outras, como as de explosivos e as de fosfatos, usados como fertilizantes na agricultura. O desenvolvimento da Química é uma das características da revolução industrial, assim como o da Matemática e o da Física foram da revolução científica, iniciada quase três séculos antes. Nos três últimos séculos a população mundial cresceu oito vezes, enquanto que a produção industrial cresceu cerca de 100 vezes, só nos últimos cem anos. Este crescimento industrial, no entanto, beneficiou uma parcela muito pequena da população mundial cerca de 20%, que consomem 80% dos recursos naturais. 7 A década de 60, porém, foi marcada por grandes transformações e, foi nesta década que o homem se deu conta de que é preciso mudar sua maneira de pensar, o progresso, percebendo que mais importante que progredir, é progredir com consciência da preservação da vida humana e do ambiente em seu entorno. Este pensamento levou ao desenvolvimento de um mercado consumidor mais consciente, que exige além da qualidade no produto, qualidade e consciência ambiental na produção. No entanto, este pensamento de consciência ecológica e de preservação ambiental, esbarra, sobretudo nos países de terceiro mundo, no estado de pobreza que vive a população, que significa uma grande parcela de habitantes vivendo na miséria absoluta. Neste sentido, deve-se entender vida sustentável como progresso para todos, com preservação da natureza, o que significa dizer profundas mudanças, tanto do ponto de vista técnico, como do ponto de vista social e sociológico, na maneira do homem encarar o progresso, ou seja, formas mais justas de desenvolvimento, que não ameacem o equilíbrio natural e que levem a menores desníveis sociais.1.9 - Fatores que tornaram possível a Revolução Industrial Apesar de, no início do século XVIII, a Inglaterra apresentar um certo atraso técnico em relação a outros países europeus, a sociedade inglesa tinha uma série de condições que permitiram a sua rápida industrialização. As revoluções do século XVII acabaram com os privilégios da nobreza e com a servidão dos camponeses, que passaram a procurar emprego livremente nas fábricas. A Revolução Francesa aconteceu somente em 1789. Além disso, a população reduzida favorecia o uso de máquinas para suprir a falta de mão-de-obra. Ao mesmo tempo, a escassez de madeira, na Inglaterra, estimulou a mineração de carvão, importante para a siderurgia. Outro fator decisivo foi sua localização geográfica, que convertera a Inglaterra num centro de comércio mundial, através de seus numerosos portos. Nesta época, a expansão colonial abriu novos mercados para a exportação dos produtos industriais. Um dado muito significativo é que, durante a Revolução Industrial, as guerras que devastaram o continente europeu se desenvolveram fora de seu território, o que permitiu à indústria inglesa trabalhar em paz e gerar riqueza. Atualmente, nota-se ainda uma imensa incapacidade dos Países de gerar planos, ou estabelecer políticas que façam frente às questões globais relacionadas ao desenvolvimento sustentável, sobretudo devido à insatisfação dos Países subdesenvolvidos, ou em desenvolvimento, que acusavam os Países, ditos de primeiro mundo, de cercear seus programas de desenvolvimento, acusando-os de geradores de poluição. Neste sentido, no início do século XXI, tem-se que pensar em redescobrimento, quando pensa-se em solução para os problemas ambientais. Redescobrir que os seres vivos devem prover a terra, para mantê-la viva, pensando em um novo modo de desenvolvimento que garanta a preservação, e isto só se consegue com educação. A educação no sentido da busca de subsídios, para a ampliação dos conhecimentos que leve ao exercício da cidadania e da qualidade da vida humana. 1.10 - A Água no Meio A água é um dos fatores mais importantes para os seres vivos, por isso é muito importante saber de que maneira ela se encontra no meio, e qual é a sua melhor forma de assimilação. A água pode ser encontrada em diversos estados no meio: líquido, nos grandes depósitos de água salgada, como os mares e oceanos, nos depósitos de água doce, como os rios, lagos e lagoas e também entre as partículas sólidas do solo. gasoso, na atmosfera. sólido, nas grandes massas de gelo, nas regiões polares e nos cumes das montanhas e serras, que apresentam uma certa altitude. Estas formas são intercambiáveis. É muito importante compreender estas transformações para saber o que ocorre com a água na natureza. 8 Alguns dos ecossistemas mais complexos estão contidos nos oceanos, que ocupam mais de 70% da superfície terrestre. A zona costeira representa apenas 10% da zona oceânica total, porém, nela se origina mais da metade da produtividade biológica dos oceanos, estas zonas abrigam 60% da população mundial e contêm muitas classes de ecossistemas vitais para a vida marinha, (Dias, 1992). De um modo geral, os oceanos se constituem em grandes lixeiras, sendo utilizados para descargas de resíduos urbanos e industriais, sedimentos provenientes de erosões e via de regra, são os depósitos de quase todo o resíduo radioativo gerado no mundo. Estes lançamentos indiscriminados de resíduos nos oceanos acarretam grandes problemas para a fauna e a flora presentes nestes ecossistemas, chegando mesmo a comprometer seriamente a sua utilização. Em qualquer ecossistema que se considere pode-se verificar a existência de um ciclo de água que pode ser esquematizado conforme figura 1. Figura 1, ilustração do ciclo da água em um ecossistema A energia assimilada pelos seres vivos é utilizada pelas células por meio de reações químicas, que têm lugar em meio aquoso dentro das células. Esta água porém, tem que estar disponível de maneira a ser utilizada diretamente pelos seres vivos, ou seja no estado líquido. Água no corpo humano e em muitos outros animais e vegetais desempenha não só o papel de estruturação das células, como também de veículo importante para o transporte de substâncias dissolvidas para dentro e fora do organismo e de todos os órgãos. Devido a sua capacidade solvente, bem como a sua mobilidade, executa funções como elemento preponderante no sangue e na seiva dos vegetais. A água então, é necessária não só para manter a temperatura do corpo humano, mas, também para conduzir produtos de excreção, uma vez que possui muita facilidade em atravessar as membranas das células, quando no estado líquido. A água no estado líquido é muito importante para os seres humanos, porque todas as reações bioquímicas que se processam nestes seres e em muitos outros, ocorrem em meio aquoso. Neste sentido, a água é necessária não só em quantidade, como em qualidade. Ela não pode conter 9 substâncias que sejam nocivas ao bom funcionamento dos órgãos e células do organismo, além de não poder transportar microrganismos patogênicos. A água, inevitavelmente, retorna à natureza (rios, lagos, oceanos), depois de usada, portanto, todo cuidado deve ser tomado antes do seu lançamento nos corpos receptores, uma vez que estes corpos necessitam de uma qualidade mínima para os seus usos potenciais. Todo cidadão tem o direito a ter água tratada e o Estado tem o dever de oferecer este serviço, este é um dever que o cidadão outorga ao Estado, através do pagamento de impostos. Esta responsabilidade que é outorgada ao estado tem o objetivo único de manter a uniformidade e a segurança com relação aos processos de tratamento, garantindo assim serviços eficazes e consequentemente uma água de melhor qualidade. Essa outorga estabelece uma via de mão dupla entre o Estado e o cidadão. Todo cidadão tem obrigações que se não cumpridas, estará infringindo esse contrato social que tem com o Estado. Isto pode se aplicar ao ensino público, todo cidadão outorga ao Estado, através do pagamento de impostos a função de prover o ensino público, e o Estado estará traindo a confiança do cidadão, se este ensino não for de qualidade. Contudo, a tarefa do Estado de levar água tratada até a residência de cada cidadão, nem sempre é tão fácil, muitas vezes a população prefere ser abastecida por meio de poços clandestinos do que fazer a ligação domiciliar, quando intimado, muitas vezes reagindo com violência e depredando as instalações do sistema de abastecimento, como aconteceu em Salvador quando o Engenheiro Teodoro Sampaio projetou e construiu o primeiro sistema de distribuição de água na cidade. A população saiu às ruas indignada, dizendo que não beberia água de “cano”. Reações desta natureza, frequentemente, são decorrentes da revolta contra a tarifa a ser paga. Estas tarifas parece ser altas quando se pensa que a água é oferecida pela natureza e o único trabalho é fazer chegá-la às residências, porém, esta tarefa não é tão fácil assim, principalmente se considerarmos que os nossos mananciais, via de regra, estão cheios de impurezas, - muitas vezes pelo descaso, tanto com os recursos hídricos quanto com os recursos naturais de modo geral, o que torna difícil a transformação desta água em potável. A melhor maneira de se utilizar as reservas hídricas, de forma a manter o equilíbrio ambiental e sem causar conflitos é o planejamento. Planejar, para aproveitar os recursos hídricos de forma total, sem conflitos nem incompatibilidade. É certo que usar do artifício do represamento é uma das maneiras eficazes encontradas para disciplinar os rios, transformando-osem lagos que enchem na época das chuvas, armazenando a água que será usada no período das secas. Dessa forma ter-se-ia vazões regularizadas durante todo o ano, e evitaria inundações, garantiria o abastecimento e a irrigação e ainda o funcionamento das turbinas de hidrelétricas, durante todo o período de seca. Porém, nem sempre estas medidas são tomadas com o cuidado de um planejamento criterioso, que garantiria o uso racional optando por grandes quedas ou grandes volumes d’água, para gerar grandes quantidades de energia. Como o armazenamento de grandes volumes d’água exige grandes áreas de terra, muitas vezes áreas imensas de solo são inundadas - afogando e destruindo massas consideráveis de material vegetal, aniquilando animais e espécies nativas, chegando mesmo a influir no clima da região - para produzir quantidades irrisórias de energia, numa demonstração clara da falta de planejamento, que leve em conta a situação geográfica e ecológica, assim como os diversos usos possíveis da água, para que o seu aproveitamento seja máximo. A barragem de Balbina, construída no Estado do Amazonas, é um caso típico da falta de planejamento. Para sua construção foram inundadas 2.400 Km 2 de florestas, formando um lago de apenas 7 metros de profundidade. Localizada a 146 quilômetros de Manaus, junto ao Rio Uatumã, a hidrelétrica de Balbina, com potencial energético de apenas 250 megawatts, é uma herança do gerenciamento militar fascista, que teve a morte biológica decretada pelo Instituto Nacional de 10 Pesquisas da Amazônia. Para comparação, a Usina de Itaipu tem um lago com a metade do tamanho de Balbina e produz 14 mil megawatts. 1.11 - O Ciclo do Carbono O ciclo do carbono é tão importante quanto o ciclo da água, para os seres vivos, uma vez que o carbono é utilizado pelos vegetais fotossintetizantes na produção de compostos orgânicos. O carbono ocorre na natureza em diversas formas, na atmosfera ocorre na forma de dióxido de carbono. Na fotossíntese o carbono do CO2 é reduzido pelo H2 da água, surgindo desta redução primeiro os carboidratos, depois os lipídeos e protídeos (proteínas), de estrutura mais complexas que os primeiros. Os animais herbívoros recebem das plantas estes compostos orgânicos e sintetizam, a partir deles, outros, o mesmo acontece com os carnívoros que se alimentam destes herbívoros, e com os carnívoros maiores. Plantas e animais, ao morrerem, são decompostos e o carbono retorna ao meio. Os mecanismos que permitem este retorno são os processos oxidativos (respiração aeróbia e anaeróbia). 1.12 - O Ciclo do Nitrogênio O nitrogênio pode ser encontrado de diversas formas, na atmosfera pode ser encontrado em forma livre, nos organismos de plantas e animais, em forma de compostos orgânicos e no solo ou na água em forma de nitrogênio inorgânico, resultantes geralmente de decomposição de rochas. O nitrogênio atmosférico é oxidado a nitritos e nitratos durante as tempestades, estes compostos são solúveis em água, e os nitratos podem ser absorvidos pelas plantas. As plantas podem ainda absorver os nitratos oriundos da decomposição de rochas. Existem bactérias que são encontradas em raízes e nodosidades das plantas, que também são capazes de fixar o nitrogênio da atmosfera, cedendo às plantas parte dele. os animais que se alimentam destas plantas incorporam o nitrogênio em seu organismo, na forma de proteínas específicas. A decomposição de plantas ou de animais ou a decomposição de produtos de excreção nitrogenados dos seres vivos, como a uréia e o ácido úrico, produz amônia, que é convertido a nitritos e estes a nitratos por grupos específicos de bactérias, os nitratos voltam assim ao ponto de partida. Estes nitratos no entanto, também através de bactérias específicas, podem ser convertidos a nitrogênio gasoso que retorna à atmosfera, fechando o ciclo. 1.13 - O Ciclo do Oxigênio O oxigênio está presente em praticamente todos os ciclos que mencionou-se até aqui. A atmosfera terrestre é constituída aproximadamente de 20% de oxigênio. As águas salgadas e doces contêm proporções variáveis de oxigênio que são função de diversos fatores como, pressão e temperatura. O oxigênio é retirado e devolvido continuamente ao meio, mostrando a importância deste elemento para o mundo vivo. 1.14 - O Fluxo de Energia num Ecossistema 11 Os seres vivos produtores de um ecossistema captam energia da luz solar, que é consumida na redução do CO2, molécula simples que contém pouca energia, à carboidrato, molécula complexa com muita energia. Os produtos são consumidos pelos herbívoros que incorporam parte da matéria ingerida em seu organismo, eliminando outra parte para o ambiente. Os herbívoros são consumidos por pequenos carnívoros e por onívoros e ambos são consumidos pelos carnívoros maiores. Há sempre perda de matéria cada vez que um ser vivo consome outro, porque não incorpora tudo, mas devolve uma parte do que ingeriu geralmente transformada. Como a matéria orgânica foi construída com consumo de energia, estas perdas de matéria representam perdas correspondentes de energia. À medida que se sobe numa pirâmide alimentar, vai havendo perda de massa dos seres vivos, a qual chamamos de biomassa. Ao mesmo tempo vai havendo uma perda de energia para o meio em que tal pirâmide se encontra. Fluxo de energia é pois, esse trânsito de energia entre os diferentes elos de uma cadeia alimentar, ou entre os diferentes níveis tróficos de uma pirâmide alimentar. Este fluxo de energia nos diferentes ecossistemas é uma via de duas mãos. Entra energia pela fotossíntese e ao mesmo tempo sai energia pela respiração. 1.15 - Balanço entre Produção e Consumo O processo principal, responsável pela produção de matéria orgânica na terra, a partir de compostos inorgânicos é a fotossíntese. A decomposição se faz pelos diversos tipos de respiração, aeróbia ou anaeróbia, entre os quais se incluem muitos processos de fermentação. Estes dois principais processos de construção e de destruição da matéria, orgânica podem ser apresentados em uma única representação química. 6CO2 + 6H20 C6H12O6 + 6O2 1.16 - Que fatos podem-se verificar daí? A fotossíntese, realizada pelas plantas e por diversos organismos clorofilados, é o maior provedor de oxigênio da natureza, que compensa de um modo geral, numa reação inversa, o consumo de oxigênio e a produção de gás carbônico pela respiração de animais e plantas. A fotossíntese também compensa o consumo de oxigênio e a produção de gás carbônico provenientes da queima do álcool combustível ou lenha, durante o desenvolvimento das lavouras de cana e reflorestamentos, porém, a emissão de CO2, para a atmosfera, provenientes da combustão do petróleo e carvão mineral é um processo irreversível, sem reação inversa de compensação. 12 2 - CONTROLE DE POLUIÇÃO DAS ÁGUAS As diretrizes estabelecidas pelo congresso americano em julho de 1972 não foram alcançadas com a velocidade que se esperava, devido sobretudo à crise econômico-financeira de 1973, nos grandes países do mundo, imposta pelos países membros da OPEP (choque do petróleo). O que pode-se inferir disto é que, os problemas de poluição não são resolvidos pela simples aprovação de leis, que via de regra são feitas em gabinetes, por pessoas que normalmente têm pouco conhecimento dos processos industriais, e ainda corroborada pela falta de interesse dos responsáveis por estes processos em arcar com os altos custos do tratamento. Analisando as diretrizes desta lei americana, verifica-se que nela está embutida a indicação de “poluição zero”, dedifícil alcance do ponto de vista de sua exequibilidade, uma vez que, só seria alcançada se fosse implementada com custos de tratamento muito elevados (Figura 2), ou seja, só seria justificável sua implantação na eliminação de poluentes prioritários. Esta lei, no entanto, abriu novas perspectivas dentro da área de tratamento de despejos para o controle ambiental, mudando o enfoque conhecido como “tratamento-fim-de-tubulação” (“end-of- pipe”), para o “projeto integrado de tratamento” (‘in plant”), que passa pela possível reformulação de todo o processo, com vistas à sua otimização e a consequente MINIMIZAÇÃO DOS DESPEJOS HÍDRICOS gerados na planta industrial. C A B CUSTOS NÍVEL DE POLUIÇÃO Figura 2 - CUSTOS X NÍVEL DE POLUIÇÃO FONTE: Prof. Carlos Russo CURVA A: Custos Associados à Degradação Ambiental CURVA B: Custos Associados ao Controle de Poluição CURVA C: Custos Totais O novo conceito de tratamento de despejos ligado à MINIMIZAÇÃO DOS DESPEJOS, foi fruto da crescente conscientização da população sobre a qualidade do ambiente, que vai refletir na adoção de leis que de forma gradual vêm induzindo as industrias à adoção de procedimentos que minimizem os seus despejos. 13 Segundo o prof. Carlos Russo (COPPE) via de regra, o termo “minimização de despejos” é confundido, equivocadamente, com o termo “tecnologia limpa” segundo o professor “tecnologia limpa” corresponde ao avanço tecnológico no desenvolvimento de processo, através do qual a partir de uma dada matéria-prima, apenas produtos comercialmente utilizáveis podem ser produzidos. No entanto, tanto o termo “minimização de despejos” como o termo “tecnologia limpa” estão calcados na pré - suposição de “poluição zero”. GODBLAT et al. (1993), conceituam em seu artigo “Zero Discharge: What, Why and How?” os termos “poluição zero” e “minimização de despejos”, associados aos conceitos de “processos ideais” e “processos reais”, que resumidamente podem ser explicados conforme Figura 2. O mínimo da curva de custos totais corresponde a um nível “ótimo” de poluição no qual os custos de controle e degradação se igualam. Essa circunstância se contrapõe ao nível de poluição zero. 2.1 - Processos ideais versus processos reais O processo ideal pode ser definido como aquele em que todas as matérias primas nele utilizadas são integralmente convertidas em produtos utilizáveis, como produtos finais ou como produtos intermediários. Além disso todos os insumos básicos, chamados auxiliares de processamento, tais como: catalisadores, solventes, água de refrigeração e de processo, etc., são integralmente recuperados e levados às suas respectivas qualidades originais, podendo ser reintegrados ao processo. onclui-se Conclui-se então que no processo ideal (“poluição zero”) há implicação de que: TODOS OS REAGENTES SEJAM INTEGRALMENTE CONVERTIDOS EM PRODUTOS UTILIZÁVEIS TODOS OS AUXILIARES DE PROCESSAMENTO SEJAM INTEGRALMENTE REUTILIZADOS NÃO HAJA GERAÇÃO DE DESPEJOS Do exposto pode-se notar que o processo ideal ou não existe, ou é economicamente inviável. No processo real a matéria prima é processada através da utilização de auxiliares de processamento para gerar produtos. Uma pequena fração da matéria prima é perdida na forma de Auxiliares de processamento rwegfegprocessamentopr ocessamento Processo Ideal Produtos Reagent es (Despejos) ) 14 despejos em estado fluido (vapor, gás ou líquido), ou ainda através da degradação dos auxiliares de processamento, os quais integrarão a corrente de despejo final da unidade. Definição do termo poluição zero: No contexto do processo ideal nenhum despejo é gerado ou seja, “poluição zero” implica em que todas as substâncias reagentes e insumos são transformados em produtos utilizáveis. No contexto de um processo real existem diversas definições: É A ELIMINAÇÃO PRIORITÁRIA DE CERTOS TIPOS DE POLUENTES OU DE COMPOSTOS TÓXICOS DA CORRENTE DE DESPEJO HÍDRICO DE UMA CERTA UNIDADE DE PROCESSAMENTO. Esses poluentes, denominados prioritários, são incluídos na categoria dos compostos banidos ou com limites de concentração regulados por legislação ambiental. A eliminação é mandatária, uma vez que estes poluentes tendem a se concentrar ao longo da cadeia alimentar. SIGNIFICA QUE NENHUMA CORRENTE DE DESPEJO SERÁ DESCARTADA NO CORPO RECEPTOR. TODOS OS POLUENTES CONTIDOS NAS ÁGUAS RESIDUÁRIAS APÓS SOFREREM ADEQUADO TRATAMENTO SEQUÊNCIAL EM NÍVEL PRIMÁRIO SECUNDÁRIO OU TERCIÁRIO PODEM SER CONVERTIDOS EM DESPEJOS SÓLIDOS POR PROCESSOS DE EVAPORAÇÃO. O GRANDE PROBLEMA É A GERAÇÃO DE POLUENTES GASOSOS. UMA DEFINIÇÃO MAIS GENÉRICA INCORPORA PARTE DAS DEFINIÇÕES ANTERIORES. SIGNIFICA QUE EMBORA AS VAZÕES DO DESPEJO DESCARTADO SEJAM ELEVADAS, OS POLUENTES NELE CONTIDOS SÃO RELATIVAMENTE SEGUROS. O que se tem que pensar em se tratando de um processo real, e que é função e um desafio para o Engenheiro de Processos, é no desenvolvimento de processos que busquem a minimização dos despejos, uma vez que a eliminação pura e simples das correntes de despejo é um paradigma. Na implantação de um programa de minimização de despejos, o Engenheiro deve iniciar selecionando as matérias primas e os reagentes que possibilitem a redução do volume e a geração de produtos indesejáveis, melhorando a eficiência de todas as etapas do processo. 3 - PROGRAMA DE MINIMIZAÇÃO DE DESPEJOS O conceito de minimização de despejos é bastante antigo, sua primeira aplicação foi na década de 1970, porém, só mais recentemente adquiriu uma importância no controle de poluição, sobretudo, depois de um encontro realizado em 1993, pela Aiche (American Institute of Chemical Engineers) sobre engenharia e desenvolvimento sustentável. Neste encontro, no qual foram Auxiliares de processamento Reagentes Processo Real Produtos Despejo s 15 apresentados mais de 100 trabalhos sobre minimização de despejos, ficou claro que o desenvolvimento sustentável está intimamente ligado à minimização de despejos. As novas leis ambientais agora também se preocupam em evitar ou minimizar a poluição em sua fonte, ao invés de se limitar, como é de praxe, a atenuar seus efeitos no ambiente. Com a minimização dos despejos as indústrias usariam de maneira mais eficiente a matéria prima, alcançariam níveis de produção compatíveis com a proteção ambiental, ao mesmo tempo que reduziriam os gastos com o tratamento de despejos. Hoje em dia a geração de despejos não controlada é vista não mais só como um problema ambiental, e sim também como um processo ineficiente. Minimização de despejos então, significa aumentar a produtividade, reduzir custos operacionais e com isso aumentar a margem de lucro. Segundo DELCAMBRE (1988) os objetivos básicos de um programa de minimização de despejos são: REDUZIR A QUANTIDADE DE DESPEJOS LANÇADOS AO AMBIENTE; RECUPERAR, DAS DIFERENTES CORRENTES QUE COMPÕEM OS DESPEJOS DE UMA PLANTA DE PROCESSAMENTO INDUSTRIAL, PRODUTOS COMERCIALMENTE ATRAENTES; DESENVOLVER PROJETOS E PROCESSOS COM VISTAS À REDUÇÃO DE DESPEJOS; TER RETORNO RÁPIDO DOS INVESTIMENTOS RELACIONADOS À IMPLANTAÇÃO DO PROGRAMA. A redução de despejos na fonte se constitui na melhor e mais racional estratégia de minimização de despejos, simplesmente porque não pode haver impacto ambiental de um despejo que não foi gerado. Pode ser a seguinte a hierarquia de procedimentos para o gerenciamento de resíduos. REDUÇÃO DOS DESPEJOS NA FONTE; RECICLO/RECUPERAÇÃO/UTILIZAÇÃO E REUTILIZAÇÃO DOS DESPEJOS; TRATAMENTO E DISPOSIÇÃO FINAL DO DESPEJO. REDUÇÃO DOS DESPEJOS NA FONTE Alcançada por meio de procedimentos criteriosos. Uma ou mais das medidas abaixo podem ser aplicadas: ALTERAÇÃO DO PRODUTO: ATRAVÉS DA SUBSTITUIÇÃO OU ALTERAÇÃO DA SUA COMPOSIÇÃO; CONTROLE NAS FONTES: ALTERAÇÃO DAS MATÉRIAS PRIMAS OU DO PROCESSO; CONSERVAÇÃO DA ÁGUA CONTAMINADA: OPERAÇÃO DA PLANTA EM CIRCUITO FECHADO; SEGREGAÇÃO DAS CORRENTES DE DESPEJO; ALTERAÇÕES NO PROCESSO: MÉTODO MAIS EFETIVO PORÉM, MAIS DIFÍCIL. 16 RECICLO: RECUPERAÇÃO/REUTILIZAÇÃO Visam a reutilização do despejo, devendo ser adotados após esgotadas as oportunidades de redução. No que se refere ao reciclo deve-se saber se algum despejo contém algum produto passível de ser recuperado ou reciclado. De acordo com FROMM et al. (1987) e DRABKIN et al. (1988) o programa de minimização de despejos é básicamente constituido de 5 etapas (a) INÍCIO: FORMAR O GRUPO DE AUDITORIA; DEFINIR OBJETIVOS; ORGANIZAR O GRUPO SEGUNDO OS OBJETIVOS. (b) PRÉ - AUDITORIA: PREPARAR O GRUPO PARA A AUDITORIA; ESCOLHER AS CORRENTES DO PROCESSO QUE IRÃO COMPOR O PROGRAMA. (c) AUDITORIA: INSPECIONAR A PLANTA; ESTABELECER AS OPÇÕES PARA A REDUÇÃO DOS DESPEJOS; AVALIAR AS OPÇÕES ESTABELECIDAS; SELECIONAR AS OPÇÕES EXEQUIVEIS. (d) PÓS - AUDITORIA: ANALISAR AS OPÇÕES EXEQUÍVEIS; DO PONTO DE VISTA TÉCNICO. 17 (e) EXECUÇÃO: PROJETAR; “START - UP”; MONITORAR O DESEMPENHO DO PROGRAMA. Um programa destes só terá chances de êxito se contar com a participação de todas as pessoas envolvidas no processo, e não só daquelas envolvidas com as questões ambientais. NOÇÕES SOBRE A QUALIDADE DA ÁGUA: Segundo VON SPERLING (1996) a qualidade da água é resultante de fenômenos naturais e da atuação do homem, em outras palavras a qualidade da água é função do uso e da ocupação do solo na bacia hidrográfica, devido aos seguintes fatores: CONDIÇÕES NATURAIS: A qualidade das águas é afetada pelo escoamento superficial e pela infiltração do solo, devido a precipitação atmosférica. INTERFERÊNCIA DO HOMEM: A forma como o homem ocupa o solo tem uma implicação direta na qualidade da água, quer seja na geração de resíduos domésticos ou industriais, quer seja na aplicação de defensivos agrícolas no solo, contribuindo para a introdução de compostos na água. Além da qualidade da água existente, pode-se falar também na qualidade desejável para uma água que é função do uso previsto para a mesma. É portanto, de fundamental importância o estudo da qualidade da água para se caracterizar as consequências de uma determinada atividade poluidora, ou ainda para se estabelecer os meios para que se satisfaça determinado uso da água. 3.1 - A água na natureza 3.1.1 - Distribuição da água na terra É sabido que água é fundamental para a manutenção da vida do planeta, neste sentido é também de fundamental importância saber como está distribuída e como circula no mesmo. Estão disponíveis na terra 1,36x10 18 m 3 de água, assim distribuídos: ÁGUA DO MAR:--------------97,0% GELEIRAS:---------------------2,2% ÁGUA DOCE:---------------- 0,8% ÁGUA SUBTERRÂNEA: ----97% ÁGUA SUPERFICIAL:--------3% TOTAL--------------------------100% 18 Estes números mostram a importância de se preservar os recursos hídricos existentes no nosso planeta, uma vez que, somente uma pequena fração destes recursos está disponível para ser utilizada mais facilmente, devendo-se portanto evitar sua contaminação. 3.2 - O ciclo hidrológico De uma maneira simplificada pode-se dizer que são os seguintes mecanismos de transferência da água na natureza: PRECIPITAÇÃO; ESCOAMENTO SUPERFICIAL; INFILTRAÇÃO; EVAPORAÇÃO; TRANSPIRAÇÃO. 3.3 - Os usos da água Os principais usos da água são os seguintes: ABASTECIMENTO DOMÉSTICO; ABASTECIMENTO INDUSTRIAL; IRRIGAÇÃO; DESSEDENTAÇÃO DE ANIMAIS; AQUICULTURA; PRESERVAÇÃO DA FLORA E DA FAUNA; RECREAÇÃO E LAZER; HARMONIA PAISAGÍSTICA; GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA; NAVEGAÇÃO; DILUIÇÃO DE DESPEJOS. Os quatro primeiros usos implicam na retirada da água das coleções hídricas, e os dois primeiros estão associados a um tratamento prévio da água. o primeiro é considerado o uso mais nobre da água. O último é considerado o uso menos nobre. 19 3.4 - Impurezas encontradas na água As principais impurezas encontradas na água lhe impõem características FÍSICAS QUÍMICAS E BIOLÓGICAS. Características estas que podem estar traduzidas na forma de PARÂMETROS DE QUALIDADE DA ÁGUA. As principais características da água são: CARACTERÍSTICAS FÍSICAS: associadas sobretudo aos sólidos presentes, que podem ser em SUSPENSÃO, COLOIDAIS OU DISSOLVIDOS; CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS: associadas às presenças de MATÉRIA ORGÂNICA OU INORGÂNICA; CARACTERÍSTICAS BIOLÓGICAS: associadas às presenças de SERES DE SERES VIVOS OU MORTOS. dentre os seres vivos têm-se os pertencentes aos reinos ANIMAL, VEGETAL e os PROTISTAS. Os sólidos presentes na água podem ser classificados pelo TAMANHO e por suas CARACTERÍSTICAS QUÍMICAS. a) Classificação por Tamanho Esta divisão é sobretudo uma divisão prática. As partículas de menor dimensão, capazes de passar por papel de filtro de tamanho especificado, correspondem aos sólidos dissolvidos. as partículas de maior dimensão retidas pelo papel de filtro são chamadas de sólidos em suspensão. na verdade deveria se falar de sólidos filtráveis e não filtráveis. Existem ainda os sólidos que estão em uma faixa intermediária de tamanho que são os chamados sólidos coloidais. como estes sólidos são muito difíceis de serem identificados a maior parte deles entra na classificação como sólidos dissolvidos. b) Classificação pelas Características Químicas Ao se submeter os sólidos a uma temperatura de 550 o C a fração que é volatilizada é chamada de fração orgânica, enquanto que a fração que permanece após a combustão é chamada de fração inorgânica. Deste modo, pode-se dizer que os sólidos voláteis representam uma estimativa da matéria orgânica e os sólidos não voláteis, também chamados de fixos, representam a matéria inorgânica. 3.5 - Parâmetros de qualidade da água 3.5.1 - Parâmetros Físicos COR; TURBIDEZ; SABOR E ODOR; 20 TEMPERATURA. 3.5.2 - Parâmetros Químicos pH; ALCALINIDADE; ACIDEZ; DUREZA; FERRO E MANGANÊS; CLORETOS; NITROGÊNIO; FÓSFORO; OXIGÊNIO DISSOLVIDO; MATÉRIA ORGÂNICA; MICROPOLUENTES ORGÂNICOS; MICROPOLUENTES INORGÂNICOS . 3.5.3 - Parâmetros Biológicos TODOS LIGADOS À PRESENÇA DE MICRORGANISMOS. 3.6 Poluição das águas Conceitos Básicos De acordo com VON SPERLING (1996) poluição de águas “é a adição de substâncias ou de forma de energia que, direta ou indiretamente, alterem a natureza do corpo d’água, de uma maneira tal que prejudique os legítimos usos que dele são feitos”. Ainda, segundo VON SPERLING (1996) existem duas formas em que a fonte de poluentes pode atingir um determinado corpo receptor: POLUIÇÃO PONTUAL; POLUIÇÃO DIFUSA. Na poluição pontual os poluentes atingem o corpo receptor de forma concentrada no espaço, como é o caso da descarga de um emissário submarino. Na poluição difusa, os poluentes entram no corpo receptor distribuídos ao longo de parte da sua extensão, comono caso da poluição pela drenagem pluvial natural. Vamos nos centralizar no controle da poluição pontual por meio do tratamento das águas residuárias urbanas e industriais. 21 3.7- Quantificação da carga poluidora A eficácia das medidas de controle e a avaliação do impacto da poluição são feitas através da quantificação das cargas poluidoras afluentes ao corpo receptor. para isso são necessários levantamentos de campo na área de estudo tais como, amostragem dos poluentes, análises de laboratório, medição de vazões e outros. É de grande importância estes levantamentos, porém, se não for possível faze-los deve-se ir em busca de dados na literatura. Segundo MOTA (1988) são as seguintes as informações típicas que devem ser obtidas em um levantamento sanitário de uma bacia hidrográfica: Dados físicos da bacia: aspectos geológicos; precipitação pluviométrica, escoamento e temperatura; evaporação etc. Informações sobre o comportamento hidráulico dos corpos receptores: vazões máxima, média e mínima; volumes de reservatórios; velocidades de escoamento; profundidade, etc. Uso e ocupação do solo: tipos; densidades; perspectivas de crescimento; distritos industriais. Caracterização sócio-econômica: demografia; desenvolvimento econômico, etc. Usos múltiplos das águas. Requisitos de qualidade para o corpo receptor. Localização quantificação e tendência das principais fontes poluidoras. Diagnóstico da situação atual da qualidade da água: características físicas, químicas e biológicas. São três as principais fontes de poluentes: ESGOTOS DOMÉSTICOS; DESPEJOS INDUSTRIAIS; ESCOAMENTO SUPERFICIAL. Os poluentes devem ser quantificados em termos de sua carga poluidora, que é expressa em termos da massa por unidade de tempo. O cálculo da carga poluidora deve ser calculada por um dos seguintes métodos, dependendo do tipo de problema em análise, da origem do poluente e dos dados disponíveis. É recomendado que se trabalhe em unidades consistentes, como por exemplo kg/d. Carga = concentração x vazão (esgotos domésticos1 e industriais2) Carga = contribuição per capta x população (1) Carga = contribuição por unidade produzida x produção (2) Carga = contribuição por unidade de área x área (drenagem superficial). 3.7 - - Características das águas residuárias 22 ESGOTOS DOMÉSTICOS: CARACTERIZAÇÃO DA QUANTIDADE DE ESGOTO Vazão doméstica Por vazão doméstica entende-se a vazão oriunda dos domicílios, assim como aquelas das atividades comerciais e institucionais que compõem uma determinada localidade. Pode existir ainda valores de fontes pontuais, que devem ser computados separadamente e acrescentados aos valores globais. De um modo geral a vazão doméstica do esgoto é calculada com base na vazão de água da respectiva localidade, que é calculada em função da população de projeto e de um valor atribuído para o consumo médio diário de água de uma pessoa, denominado quota per capta (QPC). Para o projeto de uma estação de tratamento não basta considerar apenas a vazão média, é necessário também a quantificação dos valores mínimos e máximos de vazão, por razões hidráulicas e de processo. Consumo Médio de Água Este consumo influencia diretamente a vazão doméstica. A tabela a seguir apresenta valores da quota per capta para populações com ligações domiciliares. Tabela 1, valores da quota per capta para populações com ligações domiciliares Porte da Comunidade Faixa da População (hab) Consumo Per Capta (L. hab -1 .d - 1 ) Povoado Rural <5.000 90-140 Vila 5.000-10.000 100-160 Pequena Localidade 10.000-50.000 110-180 Cidade Média 50.000-250.000 120-220 Cidade Grande >250.000 151-300 Fonte: Von Sperling (1996) Os dados apresentados na tabela 1 são valores médios, que estão sujeitos a variações ligadas a diversos fatores, tais como, clima, condições econômicas da comunidade, grau de industrialização, custo da água, etc. Vazão Média de Esgoto Geralmente a produção de esgoto corresponde aproximadamente ao consumo de água. porém, a fração de esgotos afluente à rede de coleta pode variar, uma vez que, parte da água consumida pode ser incorporada à rede pluvial. Outros fatores que podem influenciar são: ligações clandestinas dos esgotos à rede pluvial, ligações indevidas dos esgotos à rede pluvial e infiltração. 23 É chamado de coeficiente de retorno a fração de água fornecida afluente à rede de coleta na forma de esgoto (r = vazão de esgoto/vazão de água). Os valores de r variam de 60% a 100%. Um valor usualmente adotado é 80% (r = 0,8). O cálculo da vazão doméstica média de esgoto é dado por: em que, Qdmed = vazão doméstica média de esgotos (m 3 . d -1 ) QPC = quota per capta de água (ver quadro 1.1) R = coeficiente de retorno de esgoto/água Variações de Vazão, Vazões Máximas e Mínimas O consumo de água e a geração de esgoto de uma determinada localidade varia ao longo do dia (variações horárias), ao longo da semana (variações diárias) e ao longo do ano (variações sazonais). A CETESB e a maioria dos órgãos adota os seguintes coeficientes de variação da vazão média de água. K1 = 1,2 (coeficiente do dia de maior consumo) K2 = 1,5 (coeficiente da hora de maior consumo) K3 = 0,5 (coeficiente da hora de menor consumo) As vazões máxima e mínima de água podem ser dadas pelas seguintes relações (Von Sperling,1996): Qdmax = Qdmed . K1 . K2 Qdmin = Qdmed . K3 ESGOTOS INDUSTRIAIS CARACTERIZAÇÃO DA QUANTIDADE VAZÕES INDUSTRIAIS: 24 As vazões industriais de esgotos dependem sobretudo, do tipo e porte da indústria, processo, grau de reciclagem, existência de pré - tratamento, etc. As vazões dos esgotos industriais são portanto, bem diferentes mesmo de duas indústrias que fabriquem o mesmo produto. Se na localidade de implantação da ETE houver indústrias que contribuam com uma carga razoável à rede pública, é necessário o conhecimento das vazões, uma vez que estes despejos podem exercer uma grande influência no projeto e operação da ETE. Com relação ao consumo de água e geração de despejos as seguintes informações são importantes: CONSUMO DE ÁGUA Volume consumido total (por dia ou mês); Volume consumido nas diversas etapas do processo; Recirculações internas; Origem da água (abastecimento público, poços etc.); Eventuais sistemas de tratamento de água interno. PRODUÇÃO DE DESPEJOS Vazão total; Número de pontos de lançamento (com a etapa do processo associado a cada ponto); Regime de lançamento (contínuo ou intermitente; duração e freqüência) de cada ponto de lançamento; Pontos de lançamento (rede coletora, curso d’água); Eventual mistura dos despejos com esgotos domésticos e águas pluviais . Caso não se disponha de Informações específicas o quadro que será distribuído pode servir como orientação inicial. 3.8 - Caracterização da qualidade dos esgotos Parâmetros de Qualidade De um modo geral os esgotos domésticos contêm aproximadamente 99,9% de água. A fração restante inclui os sólidos orgânicos e inorgânicos, suspensos e dissolvidos, além dos microrganismos. É devido a essa fração de 0,1% que os esgotos devem ser tratados. É muito difícil caracterizar composto a composto um determinado esgoto, por esta razão para o projeto de uma estação de tratamento lança-se mão da utilização de parâmetros indiretos que indicam o potencial poluidor do resíduo em questão. estes parâmetros definem a qualidade do esgoto e são subdivididosem três categorias a saber: FÍSICOS, QUÍMICOS E BIOLÓGICOS. Principais Parâmetros 25 Para esgotos predominantemente domésticos os parâmetros principais que merecem destaque devido a sua importância são: SÓLIDOS; INDICADORES DE MATÉRIA ORGÂNICA; NITROGÊNIO; FÓSFORO; INDICADORES DE CONTAMINAÇÃO FECAL. Sólidos Com exceção dos gases dissolvidos todos os contaminantes da água contribuem para a carga de sólidos. estes sólidos podem ser classificados da seguinte maneira: (a) de acordo com seu tamanho e estado; (b) de acordo com suas características químicas e (c) de acordo com sua decantabilidade. Classificação por Tamanho e Estado SÓLIDOS EM SUSPENSÃO; SÓLIDOS DISSOLVIDOS. Classificação pelas Características Químicas SÓLIDOS VOLÁTEIS; SÓLIDOS FIXOS. Classificação pela Decantabilidade SÓLIDOS EM SUSPENSÃO SEDIMENTÁVEIS; SÓLIDOS EM SUSPENSÃO NÃO SEDIMENTÁVEIS. Matéria Orgânica Carbonácea A matéria orgânica presente nos esgotos é responsável pelo principal problema de poluição das águas, que é o consumo de oxigênio dissolvido consumido pelos microrganismos nos seus processos metabólicos de utilização e estabilização da matéria orgânica. É a seguinte a constituição da matéria orgânica carbonácea: COMPOSTOS DE PROTEÍNAS (~ 40%); CARBOIDRATOS (~ 25 a 50%); GORDURA E ÓLEOS (~10%); URÉIA, SURFACTANTES, FENÓIS, PESTICIDAS E OUTROS. 26 A matéria orgânica carbonácea (baseada no carbono orgânico) presente nos esgotos divide-se nas seguintes frações: (a) classificação quanto à forma e tamanho: em suspensão ou particulada e dissolvida ou solúvel; (b) classificação quanto a biodegradabilidade: inerte e biodegradável. Não é possível determinar em laboratório todos os componentes da matéria orgânica carbonácea, sobretudo devido à diversidade de forma e compostos em que a mesma pode se apresentar. Em geral são utilizados métodos diretos ou indiretos para a determinação da matéria orgânica: Métodos Indiretos: Medição do Consumo de Oxigênio DEMANDA BIOQUÍMICA DE OXIGÊNIO (DBO - 5); DEMANDA ÚLTIMA DE OXIGÊNIO (DBOU- 20); DEMANDA QUÍMICA DE OXIGÊNIO (DQO). Métodos Diretos: Medição do Carbono Orgânico CARBONO ORGÂNICO TOTAL (COT) a) DEMANDA BIOQUÍMICA DE OXIGÊNIO Quando um determinado resíduo é lançado no corpo receptor um dos primeiros efeitos que se observa, é a diminuição da concentração de oxigênio dissolvido. Se este resíduo é tratado através de tratamentos biológicos aeróbios é necessário o adequado fornecimento de oxigênio para que as bactérias processem a degradação da matéria orgânica. Destes fatos surgiu a idéia de se medir a força poluente dos despejos pela sua real necessidade de oxigênio, o que significa dizer uma quantificação indireta da potencialidade da geração do impacto e não a medida direta do impacto. Esta medida poderia ser feita através da estequiometria da reação de oxidação da matéria orgânica desde que conhecida a composição desta. No caso de esgotos domésticos e/ou industriais isto se torna um problema, devido à heterogeneidade de suas composições. Como uma maneira de solucionar tais problemas foi então proposto medir, em laboratório, o consumo de oxigênio que um determinado volume padronizado de resíduo demanda em um período de tempo pré-fixado. Desta maneira foi introduzido o conceito de Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO), que nada mais é que a quantidade de oxigênio requerida para estabilizar, através de processos bioquímicos, a matéria orgânica carbonácea. Sendo portanto, uma indicação indireta do carbono orgânico biodegradável. A estabilização completa da matéria orgânica carbonácea dura cerca de vinte (20) dias, para se padronizar os resultados e para se ter um número maior de dados para comparação as seguintes padronizações devem ser adotadas: Proceder a análise no 5o dia (para esgotos domésticos típicos este consumo do 5o dia pode ser relacionado com o consumo total final); O teste deve ser efetuado à temperatura de 20oc, uma vez que temperaturas diferentes interferem no metabolismo bacteriano, alterando a DBO de 5 dias e a DBO última. A DBO padrão é então a DBO5 realizada à 20 o c. em geral na literatura, quando se fala em DBO está se falando em DBO5 à 20 o c. 27 Em resumo o teste da DBO pode ser explicado simplificadamente da seguinte maneira: coleta-se uma amostra, faz-se a medida da concentração de oxigênio dissolvido (OD), e cinco dias após, com a amostra mantida em um frasco fechado e incubado a 20 o c, determina-se a nova concentração, já reduzida, devido ao consumo de oxigênio durante o período. A diferença entre o teor de OD no dia zero e no 5 o dia representa o oxigênio consumido para a oxidação da matéria orgânica, sendo portanto a DBO5 Para resíduos com alta concentração em matéria orgânica, como é o caso dos esgotos domésticos, algumas adaptações têm que ser feitas, uma vez que o oxigênio pode ser consumido totalmente antes dos 5 dias. Faz-se necessário então a realização de diluições para reduzir a concentração de matéria orgânica, possibilitando que o consumo em 5 dias seja numericamente inferior ao oxigênio disponível na amostra. As principais vantagens do teste da DBO, que ainda não conseguiram ser igualados por nenhum outro teste são: A INDICAÇÃO APROXIMADA DA FRAÇÃO BIODEGRADÁVEL DO DESPEJO; A INDICAÇÃO DA TAXA DE DEGRADAÇÃO DO DESPEJO; A INDICAÇÃO DA TAXA DE CONSUMO DE OXIGÊNIO EM FUNÇÃO DO TEMPO; A DETERMINAÇÃO APROXIMADA DA QUANTIDADE DE OXIGÊNIO REQUERIDA PARA A ESTABILIZAÇÃO BIOLÓGICA DA MATÉRIA ORGÂNICA PRESENTE. Este teste apresenta no entanto, algumas limitações a saber: SE OS MICRORGANISMOS PRESENTES NÃO ESTIVEREM ADAPTADOS AO DESPEJO, AS CONCENTRAÇÕES DE DBO DETERMINADAS NÃO SÃO VERDADEIRAS E NA MAIORIA DAS VEZES SÃO FALSOS VALORES BAIXOS; OS MICRORGANISMOS PODEM SER INIBIDOS OU DESTRUIDOS POR METAIS PESADOS E OUTRAS SUBSTÂNCIAS TÓXICAS; OS MICRORGNISMOS RESPONSÁVEIS PELA OXIDAÇÃO DA AMÔNIA DEVEM SER INIBIDOS PARA EVITAR QUE A NITRIFICAÇÃO CONSUMA O OXIGÊNIO DISSOLVIDO E INTERFIRA NA DEMANDA CARBONÁCEA; A RELAÇÃO DBOU/DBO5, VARIA EM FUNÇÃO DO DESPEJO; A RELAÇÃO DBOU/DBO5, VARIA PRA UM MESMO DESPEJO AO LONGO DA LINHA DE TRATAMENTO DE ETE; O TESTE DEMORA NO MÍNIMO 5 DIAS NÃO SENDO ÚTIL PARA EFEITO DE CONTROLE OPERACIONAL DE UMA ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ESGOTO. b) DEMANDA QUÍMICA DE OXIGÊNIO (DQO) O teste da DQO mede o consumo de oxigênio durante a oxidação química da matéria orgânica, sendo portanto uma indicação indireta do teor de matéria orgânica. 28 3.9 - Qual a principal diferença entre os testes de DBO e DQO? A DQO corresponde a uma oxidação química da matéria orgânica, obtida por meio de um forte oxidante (dicromato de potássio) em meio ácido. As principais vantagens do teste da DQO são: O TESTE LEVA CERCA DE 2 HORAS PARA SER REALIZADO; O SEU RESULTADO DÁ UMA INDICAÇÃO DO OXIGÊNIO REQUERIDO PARA A ESTABILIZAÇÃO DA MATÉRIA ORGÂNICA; O TESTE NÃO É AFETADO PELA NITRIFICAÇÃO, DANDO UMA INDICAÇÃO APENAS DA MATÉRIA ORGÂNICA CARBONÁCEA. Suas principais limitações são: NESTE TESTE SÃO OXIDADAS TANTO A FRAÇÃO BIODEGRADÁVEL, QUANTO A FRAÇÃO INERTE DO DESPEJO. HÁ PORTANTO, UMA SUPERESTIMATIVA DO OXIGÊNIO A SER CONSUMIDO NO TRATAMENTO BIOLÓGICO DOS DESPEJOS; O TESTE NÃO FORNECE INFORMAÇÃO SOBRE TAXA DE CONSUMO DE MATÉRIA ORGÂNICA AO LONGO DO TEMPO; CERTOS CONSTITUINTES INORGÂNICOS PODEM SER OXIDADOS E INTERFERIR NO RESULTADO. Existe uma relação entre a DBO e a DQO
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