Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Português - Literatura GÊNEROS LITERÁRIOS - UMA INTRODUÇÃO: TRAGÉDIA 1 Sumário Introdução ...........................................................................................................................................2 Objetivos ..............................................................................................................................................2 1. O que é um gênero literário? .....................................................................................................2 1.1. A Tragédia ...........................................................................................................................4 Exercícios .............................................................................................................................................7 Gabarito ...............................................................................................................................................7 Resumo ................................................................................................................................................8 2 Introdução Na aula “O conceito da literatura”, falamos sobre o conceito de literatura, bem como o termo foi sendo delimitado em alguns momentos – para apontar para um teor estético do texto – e, em outros, esticado – sendo utilizado para qualquer tipo de texto. Hoje nós nos debruçaremos sobre uma análise mais crítica e basilar, sobre aquele que é considerado o “pai” da Teoria Literária: Aristóteles! Objetivos • O conceito de gêneros literários. • Compreender os elementos minimamente significativos desse tipo de produção textual. 1. O que é um gênero literário? A literatura não nasceu com Aristóteles ou Homero, ou até mesmo com os gregos. O texto literário, que em sua origem é baseado no mito, já existia há milhares de anos. “A Epopeia de Gilgamesh” (SERRA, 2006), considerado o primeiro herói da história, já estava registrada muito antes de Sófocles compor “Édipo-Rei” (1989). Falando nele, seus escritos são a base que Aristóteles usou para desenvolver o conceito de poética do texto literário. Dentre eles, observou, principalmente, as características fundamentais desses textos, e a forma como se apresentam/se propagam. Em estudos anteriores foi demonstrado a noção de tipologia textual. Sobre as características inerentes a qualquer texto – Descrição, Narração, Dissertação e Injunção –? Pois bem, essas características, ao se propagarem, assumem o formato de um gênero. Se um dia você participou de um concurso – diga-se, pelo menos, aqui, certo? – ou processo seletivo, muito provavelmente precisou escrever um texto que possuía características expositivas, mas, devido à situação, esse texto era do gênero “redação argumentativa”. De acordo com a utilização, do modo que o texto se apresenta, ele assume a forma de um gênero (DIONISIO, MACHADO & BEZERRA, 2007). É isso essencialmente que um gênero é. Ao observar as características inerentes à “Édipo Rei”, de Sófocles, Aristóteles (2005) observou que o gênero literário é uma maneira do texto literário se propagar, e eis o motivo: é resultado do poder inventivo de certos escritores. 3 Você gosta de histórias de mistério, investigação, em suma, um bom conto/romance policial, a lá Agatha Christie? Pois, veja só: Édipo-Rei é uma tragédia – falaremos sobre isso mais adiante – que apresenta características do gênero “romance policial”, e isso há mais de 2500 anos atrás! Essas estratégias inventivas visavam atingir o público, mas também são fruto da influência do ambiente cultural ao seu redor. E é por isso que eles nascem e morrem: uma vez que as condições para o seu surgimento mudam, este também se adapta, ou morre. “Os Lusíadas” (1979), de Camões, apresenta muitas características da Epopeia Grega, só que no século XVI D.C., o que significa que é um texto do gênero Épico, mas nos tempos modernos. E escrito num momento de afirmação dos Estados Nacionais e resgate da cultura greco-latina, motivo pelo qual esse tipo de texto só surgiu por influência de um momento bem específico. Pense assim: quando você leu um texto muito longo? E um curto? Se você respondeu positivamente para o segundo, não se assuste: Na época em que vivemos, regida pela correria do dia a dia, o gênero “conto” é o preferido por muitos escritores –afinal, sua ideia inicial é a de ser um texto para ser lido de um fôlegosó –, de modo que há no Brasil uma tradição importante de contistas, como Fernando Sabino, José J. Veiga e, até, Machado de Assis. Isso só para ficar no Brasil, sem contar os demais que escrevem em português, como Fernando Pessoa, Miguel Torga, Eça de Queirós, Mario de Sá Carneiro, Ungulani Ba Ka Khosa, Mia Couto, Germano Almeida... Todo gênero literário sempre será uma combinação de uma forma – em prosa ou verso. Até mesmo a famosa poesia concreta, que brinca com o espaço, ainda segue parte dessa premissa – que segue algum tipo de composição – serve para expor algo, representar, ou um pouco dos dois –, um conteúdo – mental, físico, ou mesclado – e, por vezes, uma variação interna. Exemplo disso é a poesia lírica, gênero literário que tem com forma o verso: é expositiva, e apresenta o “eu”, a psique do poeta. E, dentro desta mesma poesia, pode se subdividir em ode, soneto, lira, etc. Pode se estruturar em verso, estrofe, rima, abordar algum sentimento/tema específico – amor, religião – e seguir alguma linha de pensamento em particular – um silogismo, no caso do soneto, ou repetição de uma ideia, como no uso da lira. É nessa base que Aristóteles funda a Teoria da Literatura, ao observar como os gêneros literários são classificáveis. Mais adiante, vários fizeram o mesmo, criaram novos gêneros – e, também, os catalogaram – e, consequentemente, novas regras para defini-los. 4 SAIBA MAIS! 1.1. A Tragédia Para falar sobre origem dos gêneros literários, optamos, aqui, por abordar alguns gêneros essenciais para a literatura: A Tragédia, a Comédia e o Drama. Nesta aula falaremos da Tragédia e, na seguinte, daremos prosseguimento com as demais. Não caia para trás: a famosa tragédia grega teve um espaço de produção extremamente limitado. Surge no século V A.C.(AMORA, 1999), época de mudança social, crise entre a visão mítica e racional do mundo. Grave essa data: ocorre de que, num período próximo, a filosofia grega desenvolve-se sobre a tríade Sócrates- Platão-Aristóteles, a partir do momento em que o pensamento se desvencilha do mito, e o homem passa a explicar as questões fundamentais da sua existência via retórica, não mais pela mitologia. Na “Poética”, no capítulo VI, Aristóteles aponta como esse gênero não “nasceu” pronto, mas é a evolução de outros (2005, p. 28-29), até atingir sua forma atual, a mimese – ou seja, imitação – de uma ação de caráter elevado (significativa para o indivíduo enquanto representante de uma identidade), executada por homens superiores – se você já viu algum filme sobre heróis gregos, observe como todos são, essencialmente, filhos de reis e descendentes dos deuses, – trazendo à tona um sentimento de piedade por parte do público, até atingir a libertação – catarse – desse estado emocional. Todo herói sempre está dividido entre dois polos, o seu agir, e o destino. Ulisses, em “A Odisseia” (2002), era o herói navegador quetentava de todas as formas retornar para sua casa, Ítaca; mas a força dos deuses o castigava por crimes cometidos contra os filhos de Poseidon, deus dos mares. O mais sublime dos heróis atinge a ascensão antes de cair, mas sua queda é uma forma de redenção. Aquiles, Os gregos denominaram lírica a uma espécie poética que se cantava com o acompanhamento da lira. Depois a palavra se generalizou e passou a designar toda espécie poética que expressava sentimentos do poeta. Tal sentido passou à literatura latina, depois ao Classicismo moderno e daí ao século XIX e aos nossos dias. Dos gregos até hoje, nas suas mais variadas formas, a poesia lírica, sempre expressão da subjetividade do poeta, tem enriquecido constantemente seu conteúdo, pois constante é a evolução da vivência do homem e de seu sentimento da vida, da natureza e do universo. 5 na “Ilíada” (2009), deve morrer como desígnio de profecia que o considerará o maior herói de todos os tempos, e isso não pode ser evitado de maneira alguma. Édipo, mesmo sendo consagrado como governante de Tebas, deve enfrentar a fúria dos deuses para encontrar a resposta por problemas que assolam a cidade e, por mais que se perceba que está seguindo um caminho terrífico, seu destino está traçado desde a infância. Laio, o rei de Tebas, recebe a profecia de que um filho irá matá-lo e casar-se-ia com a própria mãe (1989, p. 40). O rei o abandona em um monte para morrer, mas o bebê é encontrado por um pastor e levado até Pólibo, rei de Corinto (p. 45), que o adota. Anos depois, Édipo tem contato com a mesma profecia, a qual diz que ele irá matar seus pais. Para evitar tal tragédia, foge de sua cidade de criação para não matar os pais que o criaram e, num encontro fortuito, acaba por assassinar o rei de Tebas, sem saber que, assim, acabou cumprindo o desígnio dos deuses. O Herói da Tragédia é um herói sem alternativa, sem escapatória: quanto mais tenta fugir do seu destino, mais dele se aproxima. Édipo está preso entre a tensão jurídica e social, entre a tradição mítica e heroica. Consegue imaginar isso, um herói que não tem escapatória, preso em um beco sem saída e que, por mais que o evite, mais caminha para seu desenlace? CAI NA PROVA! O herói trágico é, essencialmente, um herói desgraçado, tomado pela desgraça. Ele é lançado em um erro inconsciente – Édipo busca descobrir o motivo da praga que assola Tebas, descobre que os deuses estão furiosos porque o Rei fora assassinado e o culpado permanecia impune. Ao se lançar à busca do culpado, mais caminha para o seu destino. Ao longo das obras, algumas personagens, sutilmente, dão a entender que sabem sobre toda a história e sugerem que Édipo abandone essa busca, pois a resposta que encontrará não lhe será agradável – em meio a busca quase insana, acusa Tiréias, profeta cego, de, em detrimento da sua omissão ao recusar-se contar quem é o culpado, ser ele mesmo o assassino, ou cúmplice (p. 50). Aristóteles apontou Édipo Rei como o melhor exemplo de tragédia, e podemos usá-la para compreender o gênero, pois como os outros gêneros literários, A lenda de Édipo é anterior ao teatro de Sófocles. As tragédias gregas são baseadas em lendas ancestrais, formadoras do Ethos – a identidade – grego. 6 pode ser classificada pelos seus elementos constitutivos. Ela possui uma fábula – o mito fundacional, resgatado na tragédia –. O que ocorre é que Édipo dá uma “volta”, fecha o ciclo do destino. Ato feito anteriormente quando matou seu pai, agora ocorre na busca pelo culpado da tragédia em Tebas. E essa mimese – imitação – ocorre por uma sequência de ações, do início da tragédia até o momento em que a sorte do herói muda – gradativamente Édipo não procura mais um culpado: procura uma resposta que sacie uma agonia em seu peito, alguém que confirme o temor que vai se construindo diante de si – até o clímax, a queda do herói e o acontecimento catastrófico. DICA Eis o mote da tragédia, a representação de que o homem está preso aos desígnios dos deuses. Em todas as tragédias gregas, os heróis estão a mercê dos seus próprios feitos, de maneira que a razão de sua existência é totalmente destruída e estes caminham para uma fatalidade. Porém, esse gênero já não é mais possível nos dias de hoje, principalmente num tempo de valores tão relativos como os nossos. Na mesma poética, Aristóteles aponta para o relativismo desses heróis, sobre o problema de se mostrar pessoas “boas” passando por infortúnios, ou pessoas ruins, pela felicidade. E concretiza: “Resta entre estes casos extremos a situação intermediária: a do homem que, não se distinguindo por sua superioridade e justiça, não obstante não é mau nem perverso, mas cai no infortúnio em consequência de qualquer falta” (ARISTÓTELES, 2005, p.293). E por mais que seja essencialmente literário, a tragédia é, basicamente, crível. Aristóteles fala que ela é baseada em pessoas que existiram. Mas a tragédia de Édipo é, por excelência, a tragédia do ser humano, que busca saber quem é, sua origem. A ideia de “tragédia”, de ato catastrófico, é muito comum na literatura em geral. Nos quadrinhos, a personagem Demolidor, em uma de suas sagas, passa por acontecimentos similares. Conhecida como “A queda de Murdock”, a saga foi adaptada para a 3ª temporada da série “Daredevil”, no site de filmes e seriados Netflix. 7 Exercícios 1) Com base na leitura da primeira parte da aula, responda: O que é um gênero literário? 2) Gêneros nascem e morrem, revitalizam-se, reinventam-se. Imagine que um texto totalmente diferente dos demais surgisse nos dias de hoje: que elementos dessa obra literária devem ser levados em conta para classificar seu gênero? 3) Você acha que é possível seguir, nos dias de hoje, a premissa de Aristóteles sobre a existência de gêneros “maiores e menores”? Gabarito 1) Um gênero é, essencialmente, uma forma de comunicação de determinado conteúdo, e ocorre, também, na literatura, assumindo marcas, características e temáticas. 2) É essencial observar o tempo, momento e espaço de propagação para se delimitar as características importantes, como se ele é produzido em prosa ou verso, é expositivo ou narrativo, crítico ou lírico, etc. 3) Embora seja uma afirmação um tanto quanto complexa, é muito difícil fazer esses apontamentos nos dias de hoje, principalmente após o Modernismo que buscou derrubar paradigmas. Resultado disso, por exemplo, é que o conto, gênero marginal, atingiu sua maioridade. Por outro lado, muito da nossa produção poética está mais associada à música, do que a mera declamação – exemplo disso está no movimento tropicália, que teve como representantes os cantores Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil. 8 Resumo Para se compreender um texto, devemos entender o que é um gênero literário. Todo texto ficcional se insere nessa premissa, pois envolve seus meios de propagação, bem como o público que o acessa. Abordamos aqui essa premissa, além de analisar um dos textos mais essenciais para a literatura universal, “Édipo- Rei”, um exemplo de tragédia. Aristóteles, filósofo da Grécia antiga, usa esse texto como ápice da literatura universal, e como essa obra possui características que definem, até os dias de hoje, nossas compreensões sobre o que vem a ser o texto literário. Abordamos aqui como toda uma tradição de escritores se alimenta das ideias de Sófocles, principalmente na abordagem do texto literário enquanto representação das dúvidas universais do ser humano. 9 Referênciasbibliográficas AMORA, Antônio Soares. Introdução à teoria da literatura. São Paulo: Cultrix, 1999. ARISTÓTELES. Poética. Tradução, Prefácio, Introdução, Comentário e Apêndices de Eudorode Sousa. Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeta, 2005 BEZERRA, Maria Auxiliadora; DIONISIO, Angela Paiva; MACHADO, Anna Rachel (orgs). Gêneros textuais e ensino. 5ª Edição. Rio de Janeiro: Lucerna, 2007. CAMÕES, Luis Vaz. Os Lusíadas. Rio de Janeiro: Editora Círculo do livro, 1979. HOMERO. Ilíada. Tradução de Manuel Odorico Mendes. São Paulo: Abril, 2009. _____. Odisseia. Tradução de Antônio Pinto de Carvalho. São Paulo: Nova Cultural, 2002. SERRA, Orped José Trindade. A Mais Antiga Epopeia do Mundo: a Gesta de Gilgamesh. vol. I, 1ª Ed. Salvador: Fundação Cultural, 2006. SÓFOCLES. A trilogia Tebana. Édipo-Rei, Édipo em Colono, Antígona. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1989.
Compartilhar