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A pedagogia das competências

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A pedagogia das competências: autonomia ou adaptação? Marise Nogueira Ramos. São Paulo: Cortez, 2001, 320 pp. Ramon de Oliveira Doutor em Educação pela Universidade Federal Fluminense, na área de Trabalho e Educação; Professor Adjunto da Universidade Federal de Pernambuco O livro A pedagogia das competências: autonomia ou adaptação? abriga um estudo aprofundado do conceito de competência. A autora destaca o deslocamento conceitual no campo das relações educativas, caracterizado pela negação do conceito de qualificação e ascensão do conceito de competência, este último, como regulador das práticas e projetos educativos. Este deslocamento conceitual estabelece o individualismo como ponto de partida e de chegada para a explicação das questões sociais. O conceito de competência seria nitidamente um mecanismo ideológico construtor e contribuinte para o avanço de uma cultura neoliberal. Reconhecendo a multiplicidade de espaços econômicos, culturais e/ou educativos nos quais o conceito de competência materializa-se como novo protagonista das relações entre as classes e entre os indivíduos, a autora, utilizando a categoria educação profissional como mediação para o entendimento da “nova” função econômica da educação no contexto atual, chega a conclusões que explicitam o caráter adaptativo do conceito de competência no que se refere à ordem excludente capitalista. O livro está estruturado em cinco capítulos: Educação Profissional e qualificação: categorias histórico-sociais da formação humana (capítulo 1); A institucionalização de sistemas de competência: materialidade do deslocamento conceitual (capítulo 2); A noção de competência na reforma do Ensino Médio e da educação profissional de nível técnico no Brasil (capítulo 3); A noção de competência como ordenadora das relações de trabalho (capítulo 4); A noção de competência como ordenadora das relações educativas (capítulo 5). No primeiro capítulo, a autora destaca que a assunção do conceito de competência como norteador das reformas educacionais e dos projetos de formação é um movimento de deslocamento conceitual, coerente com o novo momento da produção capitalista. Neste, a certificação, a qualificação e os direitos sociais são colocados em xeque e negados. Na prática, há a explicitação de valores e conteúdos culturais próprios de um modelo que privilegia o instável, o individualismo e o fim de todos os mecanismos próximos de práticas reguladoras da expansão do capital. Ao contrapor os conceitos de qualificação e de competência, a autora reafirma como elemento estruturante da interpretação das relações sociais a contradição entre capital e trabalho; evidenciando que, em virtude desta contradição, há um permanente movimento dialético no processo de formação humana. No segundo capítulo, Marise Ramos faz um levantamento ao nível mundial de experiências educativas, fundamentalmente no campo da formação profissional, pautadas pelo conceito de competência. Segundo a autora, embora a discussão e o movimento de institucionalização do modelo de competências tenham dimensões e características distintas em cada país, é notável que cada vez mais trabalhadores, educadores e empresários ingressem neste debate. Na prática, para ela, as dificuldades para implementação de um novo sistema profissional baseado em competências apontam a necessidade de construção de uma referência mais universal para o processo de formação, principalmente ao se considerar que a formação por competências valoriza a ação prática ¬ diretamente vinculada a um contexto específico no local de trabalho. A análise da influência do conceito de competência nas reformas do ensino médio e da educação profissional brasileira é o tema central do terceiro capítulo. Nele, Marise ratifica a crítica que muitos autores vêm fazendo ao caráter autoritário destas reformas. Ao destacar a impropriedade da desarticulação entre a formação geral e a formação profissional, bem como o caráter essencialmente residual e mercadológico do modelo de formação profissional pautado pelo desenvolvimento de competências, a autora mostra sua cumplicidade com a resistência histórica, por ela destacada, da maioria dos professores em conhecer, compreender e praticar a pedagogia das competências. Marise Ramos direciona, no quarto capítulo, suas atenções para uma análise da relação entre o novo modelo de produção de mercadorias e o conceito de competência. Demarcando o caráter excludente e de forte apelo ao crescimento dos níveis de competição industrial, característico da produção flexível, discute o quanto a noção de compe- 167 Trabalho, Educação e Saúde, 1(2):166-171, 2003 reviews tência passa a ser reguladora das relações de trabalho e como este novo princípio de ordenamento das relações contratuais passa a ser também condutor de práticas e de significados externos aos locais de trabalho. Destacando o individualismo e a competição entre trabalhadores, a autora chama atenção para o fato de que a cultura coletiva e de coesão, construída ao longo dos anos sob o modelo de produção fordista, vai aos poucos se esvaziando e dando lugar a uma ética individualista e descomprometida com a construção de saídas coletivas, fragilizando, assim, as representações sindicais. Observaríamos, então, a incorporação de um individualismo pós-moderno por parte dos trabalhadores ¬ fortalecido por sua identificação com os interesses da empresa ¬, conjugado a práticas contratuais de trabalho de caráter pré-moderno. Em virtude da crise do emprego, a noção de competência passa a ser o significante e legitima as relações contratuais. Entretanto, a descartabilidade da força de trabalho presente no atual estágio do desenvolvimento capitalista articula também novos conceitos legitimadores das relações de trabalho e do conflito entre as classes. Junto ao conceito de competência, evidencia-se então o de empregabilidade. Este, segundo o livro, explicita um verdadeiro fascismo profissional, na medida em que a conjugação entre o aumento de escolarização e o acúmulo de competência torna-se a solução individual para superação da exclusão social. Marise Ramos faz um movimento semelhante ao realizado no capítulo anterior no quinto capítulo, analisando o ordenamento que o conceito de competência estabelece no interior das relações educativas. Para ela, a difusão do conceito de competência, marcadamente estruturada por uma abordagem cognitivista, estabelece-se no cenário educativo através da relação entre a formação e emprego. A crítica que destaca refere-se ao fato de que estas competências, ao serem referenciadas em função das situações que os alunos poderão se deparar no interior do processo de trabalho, acabam conduzindo os conteúdos curriculares a um processo de fragmentação. Por outro lado, não se pode deixar de considerar que a subordinação política, ética e econômica da educação aos interesses do capital não se materializa apenas por um ajustamento curricular, pautado pela pedagogia das competências, mas estrutura-se também pela compreensão da educação a partir de uma lógica economicista, na qual a relação custo-benefício passa a ser o condicionante das políticas educacionais. O livro de Marise Ramos contribui para a compreensão do papel que o conceito de competência tem tido como norteador das relações intra-escolares, como também para a importância que o mesmo vem assumindo como justificativa, no âmbito das relações de trabalho, para a individualização do sucesso ou, como é mais comum, como justificativa para a exclusão. Ao destacar a relação direta entre a assunção do conceito de competência e o deslocamento para um plano secundário do conceito de qualificação, o livro não está apenas explicitando novas categorias estruturantes das práticas educativas, mas também apontando uma mudança na correlação de forças entre as classes. A subordinação da educação ao processo de produção, a precarização do trabalho, a ofensiva do ideário neoliberal, a diminuição do potencial classista dos sindicatos obreiros, além da generalização de uma cultura individualista e descomprometidacom os ideais de transformação social não expressam apenas uma mudança cultural ou uma nova fase do desenvolvimento capitalista, mas um movimento estruturado no plano material de recomposição ou aquisição da hegemonia das classes economicamente dominantes. A utilização do conceito gramsciano de Revolução Passiva é pertinente para a compreensão de todo o movimento que a autora apontou no interior do seu trabalho. De fato, o movimento que o capital estabeleceu, nestes últimos anos, é uma resposta direta aos avanços no plano econômico e político alcançados pela classe trabalhadora. Se, na lógica neoliberal, as políticas sociais são vistas a partir da relação custo-benefício, tal ação decorre de um movimento contínuo estabelecido pelas elites ao nível de controle direto do fundo público. Desta forma, o aumento da pobreza, bem como da exclusão social, não poderia deixar de ser acompanhado pela elaboração de práticas conceituais, vislumbrando assegurar a hegemonia cultural estabelecida pelo capital, principalmente em virtude de derrotas no plano econômico e político de existências concretas (reais) do socialismo. O trabalho em questão, além da capacidade de explicitar um movimento que redireciona a prática educativa em um sentido pernicioso para a formação humana, nos possibilita repensar nossas práticas de contestação ao ideário neoliberal que se instaura na educação. 168 Trabalho, Educação e Saúde, 1(2):166-171, 2003 resenhas Em meio à dialeticidade do processo de dominação econômica e política, vivemos, na sociedade brasileira, a possibilidade de criar práticas contra-hegemônicas ao capital. Se a eleição de um presidente ligado às tradições populares ainda não pôde expressar a quebra da hegemonia burgueTrabalho Imaterial: formas de vida e produção de subjetividade. Antonio Negri e Maurizio Lazzarato. Rio de Janeiro: DP&A, 2001, 112 pp. Aparecida de Fátima Tiradentes dos Santos Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro; Pesquisadora da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, Fundação Oswaldo Cruz Contextualizados no debate sobre reestruturação produtiva, crise do fordismo e transformações técnicas e gerenciais no mundo do trabalho, Negri e Lazzarato examinam a noção de trabalho imaterial na base tecnológica dos novos paradigmas produtivos. Ancorados no movimento conhecido como Operaismo, corrente neomarxista surgida na Itália, na década de 60, propõem uma contribuição crítica ao que denominam “novo regime de acumulação capitalista” ou pós-fordismo. Os autores pretendem operar uma revisão das categorias clássicas do marxismo, problematizando a ortodoxia na análise das relações sociais de produção no capitalismo contemporâneo. Argumentando que os marxistas ortodoxos ignoram a nova realidade do trabalho imaterial e, mesmo quando o consideram, o fazem apenas para reduzi-lo ao material, os autores pretendem introduzir novas ferramentas teóricas para a interpretação da realidade do trabalho na chamada sociedade pós-industrial. Segundo Giuseppe Coco, no prefácio, “as origens operaístas das abordagens em termos de ‘trabalho imaterial’ se situam exatamente nesta perspectiva; a de um ‘assalto à história’ e ao determinismo do capital, ou seja, de uma grande operação de apropriação – do ponto de vista do trabalho vivo – da dinâmica do desenvolvimento” (p. 15). De acordo com Negri e Lazzaratto, no novo modelo produtivo pós-fordista, exige-se do trabalhador, cada vez mais intelectualizado, capacidade de escolha e de tomada de decisões, já que “(...) é a alma do operário que deve descer na oficina. É a sua personalidade, a sua subjetividade, que deve ser organizada e comandada. Qualidade e quantidade do trabalho são reorganizadas em torno de sua imaterialidade” (p. 25). Para os operaístas, nesta modalidade, as categorias clássicas do marxismo perderiam seu valor explicativo. Os autores não apreendem, no atual modelo técnico de organização do trabalho, novas formas de expropriação, mas ressaltam traços como humanização, autonomia e independência. Otimistas em relação à humanização das “novas” relações sociais de produção no capitalismo contemporâneo, os autores identificam, na realização do trabalho imaterial, uma estrutura diferenciada daquelas relações baseadas na exploração e na extração de mais-valia, estudadas por Marx e Engels: “(...) o ciclo do trabalho imaterial é préconstituído por uma força de trabalho social e autônoma, capaz de organizar o próprio trabalho e as próprias relações com a empresa” (pp. 26-27). Prevendo uma irreversível marcha no sentido da generalização desta modalidade, os autores afirmam que o trabalho se transformará integralmente em trabalho imaterial e a força de trabalho em “intelectualidade de massa”, que virá a se transformar em um sujeito social e politicamente hegemônico. “Nessa transformação não é nem o trabalho imediato, executado pelo próprio homem, nem é o tempo que ele trabalha, mas a apropriação de sua produtividade geral, a sua compreensão da natureza e o domínio sobre esta através da sua existência enquanto corpo social – em uma palavra, é o desenvolvimento do indivíduo social que se apresenta como o grande pilar de sustentação da produção e da riqueza. O furto do tempo do trabalhador alheio, sobre quem se apóia a riqueza atual, se apresenta como uma base miserável em relação a esta nova base que se desenvolveu e que foi criada pela própria indústria. Logo que o trabalho em forma imediata sa, pelo menos nos abre a possibilidade de pensar, para um futuro não muito distante, um projeto educacional efetivamente atento aos interesses da maioria. Nesse sentido, as críticas e análises formuladas por Marise Ramos podem nos ser de grande valia

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