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Cessão temporária útero

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REV. EDUC. MEIO AMB. SAÚ. V.7 N 4 OUT/DEZ- 2017. 
 
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A Cessão Temporária de Útero: Possibilidade Legal. 
 
Temporary Uterine Cessation: Legal Possibility. 
 
La Cesión Temporaria de Útero: Posibilidad Legal. 
 
 
 
Aluer Baptista Freire Júnior1; Lorrainne Andrade Batista 2 
 
1) Pós-Doutor em Direito Privado PUC-MG, Doutor e Mestre em Direito Privado PUC-
Minas. MBA em Direito de Empresa. Especialista em Direto Público, Penal e Processo 
Penal, Direito Privado e Processo Civil. Coordenador Curso de Direito da Fadileste. 
Professor de Graduação e Pós-graduação. Avaliador da Revista da Faculdade de Direito 
da UERJ; CONPEDI, UNIJUI. Autor de Livros e Artigos Jurídicos. Advogado 
2) Graduanda em Direito pela Fadileste. 
 
 
CONTATO: Rua Duarte Peixoto, 259, Coqueiro, Manhuaçu-MG, CEP:36900-000, e-
mail: aluerjunior@hotmail.com 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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A Cessão Temporária de Útero: Possibilidade Legal. 
 
Temporary Uterine Cessation: Legal Possibility. 
 
La Cesión Temporaria de Útero: Posibilidad Legal. 
 
 
Resumo 
O artigo tem o escopo demonstraras possibilidades jurídicas das técnicas de RHA, em 
especial, a Cessão Temporária de Útero. Ademais, importante é elencar as possibilidades de 
técnicas de concepção, creditadas cientificamente, para se chegar ao objetivo pretendido, quer 
seja, a regulamentação jurídica das técnicas de reprodução, previstas apenas de forma ética 
pelo Conselho Federal de Medicina em sua atual resolução 2.121 de 2015, motivo de 
insegurança jurídica para os participantes da técnica gestacional que é o tema principal do 
trabalho. 
 
Palavras chave: Reprodução Assistida, Concepção, Cessão Temporária do Útero, 
Maternidade por Substituição. 
Abstract 
The article has the scope to demonstrate the legal possibilities of the RHA techniques, in 
particular the temporary Uterus Assignment. In addition, it is important to list the possibilities 
of scientifically-credited design techniques to achieve the desired objective, namely, the legal 
regulation of reproduction techniques, which are only ethically foreseen by the Federal 
Medical Council in its current resolution 2.121 of 2015 , cause of legal uncertainty for the 
participants of the gestational technique that is the main theme of the work. 
 
Keywords: Assisted Reproduction, Conception, Temporary Uterine Assignment, Substitution 
Maternity 
 
 
Resumen 
 
El artículo tiene el alcance de demostrar las posibilidades jurídicas de las técnicas de RHA, en 
especial, la Cesión Temporaria de Útero. Además, es importante establecer las posibilidades 
de técnicas de concepción, acreditadas científicamente, para llegar al objetivo pretendido, ya 
sea, la reglamentación jurídica de las técnicas de reproducción, previstas apenas de forma 
ética por el Consejo Federal de Medicina en su actual resolución 2.121 de 2015 , motivo de 
inseguridad jurídica para los participantes de la técnica gestacional que es el tema principal 
del trabajo. 
 
Palabras clave: Reproducción Asistida, Concepción, Cesión Temporal del Útero, Maternidad 
por Sustitución 
 
 
 
 
 
 
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1 Introdução. 
 
A Cessão Temporária de Útero é uma técnica de RHA (Reprodução Humana 
Assistida) que se originou com a evolução da sociedade, juntamente com a biomedicina, 
conforme a necessidade do homem em seu âmbito familiar, devido alguns problemas, 
considerados de saúde, como a esterilidade, infertilidade ou qualquer outra dificuldade de 
procriação. 
As referidas dificuldades já eram motivo de uma possível degradação matrimonial, 
haja vista, o objetivo de se constituir família e multiplicar seus membros. A entidade do 
matrimônio tem os filhos como a própria perpetuação, o que leva aos casais com dificuldades 
procurarem um meio para resolver esse ponto. 
Passado os tempos, a medicina sofreu grandes avanços referentes as técnicas de 
Reprodução Assistida, inclusive a mencionada Cessão Temporária do útero, vista como 
esperança de última tentativa para a realização de um sonho tão nobre. 
Embora seja uma técnica viável e prevista por resolução do Conselho Federal de 
Medicina, a mesma não encontra respaldo no Ordenamento Jurídico, o qual não acompanhou 
de forma eficaz a evolução da biomedicina. 
Neste contexto, a resolução 2.121 de 2015 do CFM, tem sua eficácia de cunho ético e 
moral. Entretanto, as técnicas de reprodução assistida dependem de uma normatização 
legislativa para trazer a devida segurança jurídica para aqueles que escolhem essa forma de 
concepção. 
Apesar de o procedimento para a concessão jurídica sobre o assunto ser um pouco 
lento, já se tem em vista os inevitáveis conflitos enquanto persistir a lacuna na Lei. 
Destarte, o presente artigo, demonstrará, após uma breve introdução histórica, o que é 
exatamente a Cessão Temporária de Útero, também chamada de Maternidade por 
Substituição, assim como, a importância do amparo no Ordenamento Jurídico brasileiro, 
evitando conflitos desnecessários caso haja a devida regulamentação de como deve ser feito 
todo o procedimento, nem que seja, ratificando a resolução do Conselho Federal de Medicina 
por intermédio de Lei. 
Tratará em tópicos específicos os dispostos na resolução e no projeto de Lei 115 de 
2015, que prõpoe regras para a Reprodução Assistida, para que se possa entender melhor a 
 
 
 
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funcionalidade dos metódos de concepção, em especial, a Cessão Temporária do Útero por 
uma geratriz. 
Por fim, abordará as discussões sobre a adoção ou não da técnica popularmente 
conhecida como “Barriga de Aluguel”, termo repudiado pela doutrina. Elencará ainda, as 
possibilidades jurídicas da mesma e se fere princípios constitucionais, essencialmente, o 
princípio da Dignidade da Pessoa Humana. 
 
2 Histórico da Cessão Temporária. 
 
Desde o início da humanidade os indivíduos fazem escolhas e buscam maneiras de as 
concretizar. Neste caminho, a vida humana é composta por vontades bastante subjetivas, 
sendo uma relação pessoal intrínsica a cada ser vivo. 
A preocupação do ser humano no que tange a realização pessoal no seio familiar faz 
parte, senão a principal, das citadas vontades subjetivas. Assim sendo, também as querem 
concretizar, tornando real o que almejam. A datar de os tempos mais remotos, a criança é a 
razão da denominada família, partindo de um grande planejamento se assentando em 
organização familiar, isso se ocasiona devido a percepção que o ser tem em enxergar os filhos 
como a perpetuação da própria vida. 
O referido planejamento familiar parte da dádiva de uma mulher fecunda, inciando um 
ciclo de descendentes dando continuação ao bem maior, quer seja, a vida, que, portanto, há 
amparo Constitucional para sua devida proteção e seguimento. Entrementes, é um direito 
fundamental garantido pelo Estado, inclusive, a sua preservação. 
Acontece que nem todas as mulheres tem a chance de gerar uma vida, e não somente 
por algum problema provenientes das mesmas, mas sim, bem como, dos seus cônjuges e 
companheiros, sendo considerado como uma devassidão. Segundo Ferraz (2001, p.39), “a 
infertilidade de um casal era motivo de degradação familiar, podendo, inclusive dar causa à 
anulação do casamento. A fertilidade era considerada uma dádiva divina”. 
Além do mais, por algum motivo (falta de compreensão, por exemplo), a infertilidade 
ou dificuldade do casal, ou de um deles, não necessariamenteambos, desencadeia frustrações 
no matrimônio, trazendo prejuízos a vida conjugal, privando-os de conceder prole. 
Observando essa degradação familiar a sociedade e o Estado em si constataram a 
necessidade da evolução medicinal para realizar os projetos pessoais de construir família e 
 
 
 
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assim, a biomedicina foi avançando e insvestindo em técnicas que poderiam proporcionar 
filhos a quem, por algum motivo, não pode ter. 
Todavia, na esteira do que vem sendo defendido pelo próprio Conselho Federal de 
Medicina, a infertilidade humana é um problema de saúde e é legítimo o anseio de superá-la. 
(CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, 2015). 
Dessarte, foi surgindo algumas técnicas, como, por exemplo, a RHA (Reprodução 
Humana Assistida). Essa técnica busca viabilizar, por meio de um conjunto de técnicas 
realizadas por médicos especializados, a gestação a uma mulher com dificuldades de 
engravidar. 
Apesar disso, as formas de Reprodução Humana Assistida nem sempre é o suficiente, 
é uma tentativa e não uma garantia, sendo essa, para muitos, considerada pouco. Dessa 
maneira, a medicina avança um pouco mais e origina mais uma técnica de RHA, a 
Maternidade por Substituição, que consiste em um “processo mediante o qual uma mulher 
gesta embriões não relacionados geneticamente com ela, gerados através de técnicas de 
fecundação in vitro, com gametas de um casal que serão os pais biológicos”, ou seja, é 
umempréstimo voluntário do útero de uma terceira, meramente solidária, afim de gerar um 
filho de determinado casal.(FINI; DA MOTA, 2003, p. 147). 
A prática é ancestral, podendo ser constatada em algumas passagens da Bíblia, onde a 
mulher de Abraão, possuindo dificuldades de engravidar, realiza a maternidade através de sua 
criada, Hagar. 
Logo, a Maternidade por Substituição, popularmente conhecida como “Barriga de 
Aluguel”, é uma alternativa de esperança para os casais, ou para um indivíduo, de realizar o 
sonho da maternidade e paternidade. Nesse ínterim, após tentarem de tudo, recorrem a 
Maternidade por Substituição, também denominada por Cessão Temporária do Útero/ Cessão 
Temporária Uterina. 
Neste prisma, ante o exposto, surge a Cessão Temporária do Útero. Saliente-se, 
porém, a falta de previsão normativa consoante a cessão em comento. Apesar de ser 
regulamentada pelo CFM (Conselho Federal de Medicina), tem força apenas ética e não 
legislativa, o que gera uma relevante insegurança jurídica a quem opta por esse meio de 
reprodução. 
Conquanto, imperioso se faz a normatização jurídica a respeito da Maternidade por 
Substituição, fazendo com que o Biodireito avance de acordo com a Biomedicina, discussão a 
qual será demonstrada no trabalho em momento posterior. 
 
 
 
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3 Possibilidade de Técnicas de Concepção. 
 
A possibilidade de técnicas de concepção se originou conforme a necessidade da 
evolução humana, cientificamente falando. Em momento histórico, relatado no presente 
trabalho, as dificuldades de procriação foi o ponto de partida para o desenvolvimento da 
biomedicina, em relação as técnicas que facilitem a concretização da maternidade e 
paternidade. 
A infertilidade, esterilidade ou qualquer outra dificuldade para a perpetuação da vida, 
são motivos mais que suficientes para a medicina ter caminhado e continuar caminhando 
frente aos desejos pessoais, que acabam gerando, também, um interesse social. 
 Considerados pelo Conselho Federal de Medicina como problemas relacionados a 
saúde, a necessidade de amparar essas pessoas é um dever do Estado, a modo que, se é 
possível realizar o sonho de procriar sem prejudicar terceiros e colocar em risco a saúde dos 
participantes, não há fundamento quanto a negação de meios que o realize. 
 Nesse sentido, alguns países já pacificaram a matéria, e a proporção de pessoas 
nascidas, perfeitamente saudáveis em todos os sentidos, até mesmo pscicologicamente, vem 
crescendo a cada passo tomado pela medicina. 
Mediante a inexistência de amparo legal, o CFM tomou um passo a frente por meio da atual 
resolução 2.121 de 2015, tratando por intermédio de cunho ético, as técnicas de reprodução. 
 Um pouco lenta, a parte jurídica do procedimento tem um projeto de Lei 115 de 2015 
que visa regular as questões civis e sociais da RHA. Neste caminho, o projeto elencou em seu 
artigo 3° as técnicas cientificamente creditadas para a concepção. 
Art. 3º As técnicas de Reprodução Humana Assistida que apresentam a acreditação 
científica relacionada no artigo anterior são: I – Inseminação Artificial; II – 
Fertilização in vitro; III – Injeção Intracitoplasmática de Espermatozoide; IV – 
Transferência de embriões, gametas ou zigotos;(grifo nosso). (BRASIL,2015). 
 
A Inseminação Artificial (IIU) é um procedimento simples podendo ser realizado até 
mesmo em um consultório médico, e consiste no depósito de sêmen na cavidade uterina. A 
Fertilização in vitro (FIV), demanda de uma técnica onde os materiais genéticos são mantidos 
em ambiente laboratoriais objetivando pré-embriões onde os mesmos serão transladados ao 
útero, aumentando a taxa de sucesso. A Injeção Intracitoplasmática de Espermatozoide (ICSI) 
é a injetação de espermas diretamente dentro do óvulo, efetivado em laboratório. A 
Transferência de Embriões, Gametas ou Zigotos (ZIFT e GIFT) procura aumentar o sucesso 
 
 
 
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da nidação, a fecundação poderá ocorrer fora do corpo da mulher ou nas trompas, a depender 
se a transferência é de gametas (GIFT) ou zigotos (ZIFT). 
Observado o dito, várias são as possibilidades de técnicas de concepção que buscam 
viabilizar a procriação nos dias atuais, que pelo andar da medicina, podem aumentar ainda 
mais, dependendo apenas de atos normativos para regularizar e outorgar a devida segurança 
jurídica aos recorrentes da Reprodução Assistida. 
 
4 Cessão Temporária do Útero no Ordenamento Jurídico Brasileiro. 
 
A Cessão Temporária do Útero é uma das técnicas de Reprodução Humana Assistida, 
logo, realizada por intermédio da fertilização in vitro. A fertilização in vitro é um 
procedimento pelo qual há a junção do óvulo com o espermatozoide fora do corpo da mulher, 
desta forma, é possível que o mesmo, após incubado e receber um certo quantitativo de 
temperatura, já forme um embrião que será transladado ao útero da pessoa que espera a 
técnica gestacional. 
Posto isto, a possibilidade do sucesso procedimental aumenta consideravelmente. 
Saliente-se que esse tipo de inseminação pode ser tanto homóloga como heteróloga. Entende-
se por homóloga a junção de gametas do próprio casal e heteróloga quando de doadores 
anônimos, pelo qual não é possível determinar de onde veio o laço biológico. 
Observando as informações tragas à baila, já é possível identificar por um raciocíno 
lógico que para a realização da Cessão Temporária de útero, a inseminação deverá ser 
homóloga, para ser geneticamente filho do casal doador, se assim preferirem. Vale lembrar 
que em caso de doadores heterólogo o casal terá apenas um vínculo socioafetivo, excluindo o 
vínculo consanguíneo, por tanto, as duas formas são plenamente possíveis e aceitas. 
O que se deve ter em mente é que em momento algum deve ser utilizado o material 
genético da receptora, ou seja, da mulher que aceita de forma solidária a receber o material 
implatacional para a devida gestação da prole de terceiros. Essa informação é prestada pelo 
regulamento do Conselho Federal de Medicina, justamente, para buscar uma forma de 
proteger a relação entre os participantes, uma vez que,há uma ampla insegurança jurídica 
provocada pela falta de regulamentação legislativa, partindo a resolução do CFM apenas de 
um amparo ético e moral. 
Nota-se, fora elencado que a receptora deve aceitar de forma solidária/voluntária, para 
participar dessa realização pessoal dos companheiros afins da prole pela Maternidade por 
 
 
 
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Substituição. Isso significa que não pode haver fins lucrativos como forma de comercializar 
vidas, fungindo dos bons costumes. 
Embora em alguns países seja permitido o pagamento para o feito, há visões 
distorcidas sobre essa cobrança tratada como um contrato de aluguel. Explica-se portanto, a 
nomeclatura “Barriga de Aluguel”, doutrinariamente repudiada. 
A legislação brasileira é inerte quanto a normatização do procedimento, mas o texto 
Constitucional expresso no parágrafo 4° do artigo 199, permite uma interpretação pelos 
juristas a respeito da proibição ou não da técnica em questão. A intepretação se dá por 
observância de uma lacuna na Lei. A Constituição Federal de 1988 expressa da seguinte 
forma: 
A lei disporá sobre as condições e os requisitos que facilitem a remoção de órgãos, 
tecidos e substâncias humanas para fins de transplante, pesquisa e tratamento, bem 
como a coleta, processamento e transfusão de sangue e seus derivados, sendo 
vedado todo tipo de comercialização (grifo nosso).(BRASIL, 1988). 
 
Tendo em vista a expressão da Carta Magna, há quem diga que a técnica deve ser 
proibida por caracterizar comercialização, vedada pela Constituição da República, não 
devendo ser ferida. No entanto, há quem explica que embora a Carta Normativa proiba a 
comercialização, a Cessão do Útero não denota uma forma de comércio tendo em vista que 
não se paga pelo bebê, mas sim pelo “serviço” prestado pela geratriz (aquela que vai gerar o 
feto). 
Aline Mignon de Almeida: 
[...] no que diz respeito a comercialização do aluguel de útero não fere o princípio 
constitucional da dignidade a pessoa humana, porque o que se paga não é a criança e 
sim o serviço prestado, uma vez que o direito ao corpo é indisponível, contanto que 
seja utilizada de maneira normal. (ALMEIDA, 2000, p. 54). 
 
Com relação a não remuneração, Aline Mignon de Almeida, acrescenta ainda que: 
 
Quanto a não poder haver remuneração pelo aluguel do útero, não podemos 
comparar a utilização de uma parte do corpo com a doação de um órgão do corpo 
humano; a simples utilização do útero da mulher saudável não causa problemas, mas 
a doação de um rim de pessoa viva pode causar problemas no futuro, porque o rim 
que não foi retirado ficará sobrecarregado, e além do mais, retira-se um órgão de 
pessoa viva ou morta para salvar uma vida ou amenizar, acabar com o sofrimento de 
alguém. Já o aluguel do útero é para satisfazer o desejo de um casal, não é um 
motivo vital, relevante para a saúde de alguém, um casal pode muito bem não ter 
filhos como também para satisfazer este desejo pagar por isso, ou adotar. 
(ALMEIDA, 2000, p.105). 
 
 
 
 
 
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Por outro lado, há argumentos que questionam a técnica por ferir a Dignidade da 
Pessoa Humana estabelecendo a diminuição do ser, excluíndo sua dignidade, dado que, a 
utiliza como coisa. 
Dessa forma, entende-se que se trata de uma ofensa à dignidade da mulher, porque 
tal locação descaracteriza o desenvolvimento da maternidade e reduz a mulher a 
mero organismo reprodutor: em contraste, contudo, com um conceito moderno de 
“maternidade responsável” e com o processo de emancipação feminina; e a 
dignidade do nascituro, pois é reduzido a res comerciável e sujeita a estipulação de 
valores, sendo objeto de contratação e, até mesmo, de conflitos judiciais. 
(BRAUNER, 2003, p. 74). 
 
As discussões não se reservam apenas à questões do direito, como a referida 
comercialização e o princípio da Dignidade da Pessoa Humana. De maneira ampla, são 
alegadas religiosamente, tal qual, ética, moral e valores culturais. 
 
Guilherme Calmon Nogueira da Gama sobre Maternidade por Substituição: 
"No Brasil, contudo, no estágio atual dos valores culturais, religiosos e morais 
relativamente à maior parte da sociedade, não se mostra possível conceber a licitude 
da prática da maternidade de substituição, conforme foi analisado, mesmo na 
modalidade gratuita. Contudo, em havendo a prática - mesmo que de forma ilícita -, 
logicamente que a criança não poderá ser considerada espúria e, consequentemente, 
deve ter resguardados os seus direitos e interesses, entre eles o de integrar uma 
família onde terá condições de ser amparada, sustentada, educada e amada, para 
permitir seu desenvolvimento pleno e integral em todos os sentidos, cumprindo-se, 
desse modo, os princípios e regras constitucionais a respeito do tema. Quanto à 
paternidade, maternidade e filiação originárias, no entanto, é oportuno o observar o 
mesmo raciocínio anteriormente desenvolvidos a respeito da vontade como principal 
pressuposto para o estabelecimento dos vínculos, em substituição à relação sexual, 
já que também na maternidade de substituição - como prática associada às técnicas 
de procriação assistida - não há que se cogitar na conjunção carnal para o fim de 
permitir a concepção e o início da gravidez da mulher gestante". (NOGUEIRA DA 
GAMA, 2003, p.862/863). 
Malgrado, embora haja discussões, em contrapartida, não se deve descartar a vontade 
dos participantes, principalmente da geratriz. Por conseguinte, motivos não há paraembargar o 
acordo de vontades. Dada a licença, não se pode, ainda, negar que seja um ato nobre e 
solidário efetivar a vontade de procriação, abragendo não apenas um interesse pessoal, mas, 
similarmente social. 
A grosso modo, a existência da norma reguladora sobre o assunto é de suma 
importância para estabelecer diretrizes para quem escolhe realizar o sonho maternal e paternal 
pela Cessão Temporária Uterina. Tal escolha, como bem diz, é uma escolha, no entanto 
subjetiva, assim como, quem decide por outras vias, inclusive doação. 
Entrementes, conferindo a partida ao entendimento de Guilherme Calmon Nogueira da 
Gama, inteligentemente, fora feliz em relatar “[…] em havendo a prática - mesmo que de 
 
 
 
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forma ilícita -, logicamente que a criança não poderá ser considerada espúria e, 
consequentemente, deve ter resguardados os seus direitos e interesses [...]”.(NOGUEIRA DA 
GAMA, 2003, p.862/863). 
Alfim, à face do manifesto, havendo a possibilidade de realização de forma ilícita, não 
se pode deixar a criança a léu, não carecendo então, ao Estado, obstar em legalizar, 
juridicamente falando, a técnica de Reprodução Humana Assistida, convencionando valor 
jurídico à resolução (2.121/2015) de caráter ético do Conselho Federal de Medicina, pelo 
qual, se ajustará aos interesses dos seres nascidos da decorrida prática, garantido seus direitos 
fundamentais estatuídos pela Lei Maior. 
 
4.1 Resolução do CFM 2121/15. 
 
Revogando a resolução 2013/2013 que se tratava de normas éticas para a utilização 
das técnicas de RA (Reprodução Assistida), a resolução 2.121/2015 ao mesmo viés, trouxe 
algumas retificações aos procedimentos, onde amplia, por exemplo, a idade para tratamento 
de infertilidade. 
A resolução 2.121/2015, devendo ser seguida pelos médicos ao tratar de técnicas 
através da reprodução,se renova“sempre em defesa do aperfeiçoamento das práticas e da 
observância aos princípios éticos e bioéticos que ajudarão a trazer maior segurança e eficácia 
a tratamentos e procedimentos médicos”. (BRASIL, 2015). 
Consoante de depreendeda citada resolução do Conselho Federal de Medicina, a 
Maternidade por Substituição é pacificada dentro dos princípios gerais das normas éticas para 
a utilização das técnicas de reprodução assistida. Especificada no inciso VII, a doação 
temporária do útero, deixa claro que a técnica pode ser utilizada “desde que exista um 
problema médico que impeça ou contraindique a gestação na doadora genética ou em caso de 
união homoafetiva”. (BRASIL, 2015). 
 
Ademais: 
“As doadoras temporárias do útero devem pertencer à família de um dos parceiros 
em parentesco consanguíneo até o quarto grau (primeiro grau – mãe; segundo grau – 
irmã/avó; terceiro grau – tia; quarto grau – prima).” (BRASIL, 2015). 
 
Ressalta-se, conquanto, que é possível essa realização em doadoras temporárias do 
útero que não pertencem a família, mas, é um caso à parte, o qual dependerá de autorização 
do CFM de acordo com o caso concreto. Ressalvada pela continuação da citação acima, onde 
 
 
 
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menciona, “demais casos estão sujeitos à autorização do Conselho Federal de Medicina”. 
(BRASIL, 2015). 
Respaldada na resolução assuntada, a informação discorrida no presente trabalho - 
sobre a doação temporária do útero não poder visar lucratividade configurando 
comercialização da vida humana –se encontra devidamente expressa na resolução, bem como, 
o acordo de vontade nomenclada como Termo de Consentimento, assinado pelos participantes 
da Maternidade por Substituição. Outrossim, o Termo de Consentimento livre, constará os 
aspectos legais em referência a filiação da criança gestada. A filiação deverá ainda, ser 
definida em documento apartado, que é o Termo de Compromisso. 
A situação emocional dos envolvidos serão plenamente atestadas mediante testes 
psicológicos, essencialmente, da doadora do útero, cognominada geratriz. Para mais, 
necessitará de: 
3.4. Garantia, por parte dos pacientes contratantes de serviços de RA, de tratamento 
e acompanhamento médico, inclusive por equipes multidisciplinares, se necessário, 
à mãe que doará temporariamente o útero, até o puerpério; 
3.5. Garantia do registro civil da criança pelos pacientes (pais genéticos), devendo 
esta documentação ser providenciada durante a gravidez; 
3.6. Aprovação do cônjuge ou companheiro, apresentada por escrito, se a doadora 
temporária do útero for casada ou viver em união estável. (BRASIL, 2015). 
 
A remate, importante frisar novamente que a resolução não tem caráter de Lei, 
portanto, não a substitui. 
 
4.2 Projeto de Lei 115-15. 
 
O PL 115 de 2015 propõe regras para a reprodução assistida, objetivando 
regulamentar a utilização da técnica de RHA, tal como, efeitos produzidos pela mesma no 
âmbito jurídico, principalmente nas relações civis. 
O projeto, em seu artigo 2°, conceitua a Reprodução Humana Assistida como“aquela 
que decorre do emprego de técnicas médicas cientificamente aceitas de modo a interferir 
diretamente no ato reprodutivo, viabilizando a fecundação e a gravidez”. (BRASIL, 2015). 
Art. 3º As técnicas de Reprodução Humana Assistida que apresentam a acreditação 
científica relacionada no artigo anterior são: I – Inseminação Artificial; II – 
Fertilização in vitro; III – Injeção Intracitoplasmática de Espermatozoide; IV – 
Transferência de embriões, gametas ou zigotos; (BRASIL, 2015). 
 
Embora seja deliberada pelo projeto Lei as técnicas cientificamente acreditadas quanto 
ao sucesso do procedimento a fim de diminuir a esterilidade ou infertilidade (Inseminação 
Artificial, Fertilização In Vitro, Injeção Intracitoplasmática de Espermatozoide e 
Transferência de Embriões, Gametas ou Zigotos), não quer dizer que não há possibilidade de 
 
 
 
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outras técnicas de concepção, contando que, seja autorizado pelo Conselho Federal de 
Medicina, após observar as questões éticas. 
As técnicas, como já visto, podem ser homóloga ou heteróloga, a depender de quem 
seja os materiais genéticos cedidos. Homóloga se material genético (espermatozóide e óvulo) 
dos próprios genitores, heteróloga se material genético de terceiros (espermatozóide ou óvulo, 
ou ambos). 
Sublinha-se que de acordo com o PL“as técnicas de Reprodução Humana têm caráter 
subsidiário e serão utilizadas apenas em caso de diagnóstico médico indicando o tratamento a 
fim de remediar a infertilidade ou esterilidade”. Acrescenta-se ainda que “as técnicas médicas 
de tratamento reprodutivo também poderão ser aplicadas para evitar a transmissão à criança 
de doença considerada grave”. (BRASIL, 2015). 
Consequentemente: 
Art. 6º Os médicos não podem fazer uso das técnicas reprodutivas para os seguintes 
objetivos: I – Fecundar oócitos humanos com qualquer outra finalidade que não o da 
procriação humana; II - Criar seres humanos geneticamente modificados; III – Criar 
embriões para investigação de qualquer natureza; IV – Criar embriões com 
finalidade de escolha de sexo, eugenia ou para originar híbridos ou quimeras; V – 
Intervir sobre o genoma humano com vista à sua modificação, exceto na terapia 
gênica, excluindo-se qualquer ação em células germinativas que resulte na 
modificação genética da descendência. § 1º A escolha de qualquer característica 
biológica do futuro filho será excepcionalmente permitida para evitar doenças 
ligadas ao sexo daquele que virá a nascer. § 2º Em caso de gravidez múltipla, 
decorrente do uso de técnicas de reprodução assistida, é proibida a utilização de 
procedimentos que visem à redução embrionária. § 3º É vedada a prática de 
“Confusão na Inseminação ou Fertilização Artificiais” na qual são misturados o 
material genético de um dos pretensos genitores e o material genético de doador para 
suscitar dúvida quanto à origem biológica do ser concebido. (BRASIL, 2015). 
A seguir: 
Art. 7º A aplicação e utilização das técnicas médicas de reprodução humana 
obedecerão aos seguintes princípios: I – Respeito à vida humana; II - Serenidade 
Familiar; III – Igualdade; IV – Dignidade da pessoa humana; V - Superior interesse 
do menor; VI – Paternidade responsável; VII – Liberdade de planejamento familiar; 
VIII – Proteção integral da família; IX – Autonomia da vontade; X – Boa-fé 
objetiva; XI – Transparência; XII – Subsidiariedade. (BRASIL, 2015). 
 
O projeto regula ainda sobre a Doação de Gametas, a Cessão Temporária do Útero, a 
Criopreservação dos Gametas ou Embriões, a RA após morte, o Consentimento Informado e 
Manifestação Conjugal, os Direitos e Deveres das Partes (englobando a Presunção de 
Filiação, as Ações de Investigação de Vínculo Biológico e Negatória de Paternidade), dos 
Direitos Patrimoniais e Pessoais de Pessoas Nascidas pelo Emprego das Técnicas de 
Reprodução Assistida, o Controle Administrativo sobre as Técnicas do Sistema Nacional de 
Reprodução Assistida, das Sanções Administrativas e Infrações Penais. 
 
 
 
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No que toca à Cessão Temporária do Útero, o projeto prevê que “é permitida para 
casos em que a indicação médica identifique qualquer fator de saúde que impeça ou 
contraindique a gestação por um dos cônjuges, companheiros ou pessoa que se submete ao 
tratamento”. (BRASIL, 2015). 
Segundo o projeto Lei “a cessão temporária de útero não poderá implicar em nenhuma 
retribuição econômica à mulher que cede seu útero à gestação”. (BRASIL, 2015). 
 O PL visa, em seu capítulo V, artigo 24, a homologação judicial do feito antes mesmo 
da iniciativa do procedimento, sob pena de nulidade, caso contrário, a mulher geratriz 
assumirá toda a responsabilidade sobre a criança, inclusive, pelas vias legais. 
Art. 26. Para que seja lavradoo assento de nascimento da criança nascida em 
gestação de substituição, será levado ao Cartório de Registro Civil de Pessoas 
Naturais o pacto de substituição homologado, juntamente com a comprovação do 
nascimento emitida pelo hospital, declaração do médico responsável pelo tratamento 
descrevendo a técnica empregada e o termo de consentimento médico informado. 
(BRASIL, 2015). 
 
Com fulcro no artigo 25, assim como as técnicas em geral, sendo a Cessão Uterina 
uma técnica de RHA, “a gestação de substituição não poderá ter caráter lucrativo ou 
comercial”. (BRASIL, 2015). 
Enfinamente, o artigo 23 perspira que“a cessionária deverá pertencer à família dos 
cônjuges ou companheiros, em um parentesco até 2º. Grau” (BRASIL, 2015). Intercorre que, 
a resolução do Conselho Federal de Medicina 2.121 de 2015, ao revogar a antiga resolução 
2013 de 2013 (que previa o parentesco até 2° grau), estipula o grau de parentesco em até o 4° 
grau. 
VII - SOBRE A GESTAÇÃO DE SUBSTITUIÇÃO (DOAÇÃO TEMPORÁRIA 
DO ÚTERO) As clínicas, centros ou serviços de reprodução assistida podem usar 
técnicas de RA para criarem a situação identificada como gestação de substituição, 
desde que exista um problema médico que impeça ou contraindique a gestação na 
doadora genética ou em caso de união homoafetiva. 1- As doadoras temporárias do 
útero devem pertencer à família de um dos parceiros em parentesco consanguíneo 
até o quarto grau (primeiro grau – mãe; segundo grau – irmã/avó; terceiro grau – tia; 
quarto grau – prima). Demais casos estão sujeitos à autorização do Conselho 
Regional de Medicina. (BRASIL. 2015). 
 
Conquanto, o grau de parentesco prevalecerá aquele que for estabelecido após a 
aprovação do PL com efeito normativo, caso o mesmo seja aprovado. 
 
4.3 Maternidade por Substituição e suas Possibilidades Jurídicas. 
 
 
 
 
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Tal qual as demais técnicas de Reprodução Humana Assistida, para haver as 
possibilidades da efetivação das mesmas é necessário seguir alguns requisitos quanto a idade, 
a forma do procedimento, se gratuito ou oneroso, dentre outros. 
A Maternidade em si, considera-se mãe aquela que gerou o filho dentro de seu próprio 
útero, sentindo a criança se desenvolver com o passar dos dias, a barriga crescer, juntamente 
com todos os sintomas, tanto positivos quanto “negativos” trago pela gestação. 
Segundo Sílvio de Salvo Venosa "quanto à maternidade, deve ser considerada mãe 
aquela que teve o óvulo fecundado, não se admitindo outra solução, uma vez que o estado de 
família é irrenunciável e não admite transação[...].”(VENOSA, 2007, p. 224). 
A Maternidade por Substituição vai contra o conceito de ser a mãe apenas quem gera a 
criança. Tempos, acredita-se que tanto mãe, quanto pai, é quem cria e tenta garantir melhores 
condições de vida, exemplo disso, é a doação, caso contrário, a mesma não seria possível, no 
entanto, não seria permitida e, portanto, não é o que acontece. 
Mesmo assim, diversas são as discussões entorno do assunto, apontando a falta de 
respeito com a Dignidade da Pessoa Humana, à Vida Humana, Serenidade Familiar, com a 
justifica de coisificação do homem. 
Partindo do macroprincípio, a Dignidade da Pessoa Humana é um direito intrínseco a 
todos e acompanha cada pessoa desde a sua concepção, devendo ser respeitado devido a sua 
base mínima de convivência humana. Sendo assim, o mesmo é considerado o princípio mais 
universal de todos, ou seja, é dele que se irradiam todos os demais princípios constitucionais. 
O que fora citado não pode ser negado, haja vista, que a Dignidade Humana é a 
essencialidade do homem, estando consigo desde sua concepção. Contudo, não cabe em 
hipótese nenhuma o desrespeito do mesmo, ferindo, consequentemente a Lei maior. Desta 
maneira, os argumentadores sobre a falta grave em relação a Dignidade da Pessoa Humana 
mediante a Cessão Temporária do Útero fizeram uma observação de extrema relevância. 
Além do mais, com o advento do Estado Democrático de Direito, os princípios foram 
ganhando forças e repercussão, principalmente o princípio da Dignidade da Pessoa Humana, 
se tornando, no entanto, referência para as interpretações e aplicações das normas jurídicas, 
seja nas relações sociais, morais ou pessoais. 
Viemente, como bem cita Moraes: 
A dignidade da pessoa humana é um valor espiritual e moral inerente à pessoa, que 
se manifesta singularmente na autodeterminação consciente e responsável da própria 
vida e que trás consigo a pretensão ao respeito por parte das demais pessoas, 
constituindo-se de um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico deve 
 
 
 
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assegurar, de modo que apenas excepcionalmente possam ser feitas limitações ao 
exercício dos direitos fundamentais, mas sempre sem menosprezar a necessária 
estima que merecem todas as pessoas enquanto seres humanos. (MORAES, 2002, 
p.128/129.). 
 
Em vista disso, sendo a Dignidade da Pessoa Humana intrinsicamente pertencente a 
cada ser vivo em seu valor espiritual e moral, manifestado pela autodeterminação consciente, 
como inteligentemente leciona o doutrinador supra, a Maternidade por Substituição não 
estaria ferindo o princípio abarcado, pois em nada prejudicaria a criança (espiritualmente e 
moralmente), desde que, se tenha o devido tratamento jurídico sobre os meios de Reprodução 
Humana Assistida. 
Em relação a geratriz, aquela que gerará o bebê, não se encontra obrigada a participar 
do método de concepção, ao contrário, muitas mulheres se sentem privilegiadas em poder 
ajudar o próximo em um ato tão solidário e importante a vida de quem receberá a criança. 
Aliás, via de regra, a geratriz tem um grau de parentesco com a família cessante, o que facilita 
o acompanhamento da gravidez e aumenta o vínculo de amor entre os familiares e a 
serenidade familiar. 
Deve se ter em mente, que a falta de previsão jurídica não impede a realização ilícita 
do procedimento, podendo ser feito na surdina, mas que não impede que seja tratado 
judicialmente no futuro. Com esse pensamento, seguindo a linha de raciocínio, a lacuna 
legislativa gerará invitáveis conflitos jurídicos. 
Nesta senda, Sílvio de Salvo Venosa, dando continuidade a sua consideração sobre a 
maternidade, o mesmo admite que ser apontada como mãe apenas quem gera 
Nem sempre será essa, porém, uma solução eticamente justa e moralmente aceita 
por todos. A discussão permanece em aberto. Muito difícil poderá ser a decisão do 
juiz ao deparar com um caso concreto. Tantos são os problemas, das mais variadas 
ordens, inclusive de natureza psicológica na mãe de aluguel, que o mesmo projeto 
de lei sobre reprodução assistida citado, em tramitação legislativa, proíbe a cessão 
do útero de uma mulher para gestação de filho alheio, tipificando inclusive essa 
conduta como crime. Sem dúvida, essa é a melhor solução. No entanto, a proibição 
não impedirá que a sociedade e os tribunais defrontem com casos consumados, ou 
seja, nascimentos que ocorreram dessa forma, impondo-se uma solução quanto à 
titularidade da maternidade. Sob o ponto de vista do filho assim gerado, contudo, é 
inafastável que nessa situação inconveniente terá ele duas mães, uma biológica e 
outra geratriz. Não bastassem os conflitos sociológicos e psicológicos, os conflitos 
jurídicos serão inevitáveis na ausência de norma expressa". (VENOSA, 2007, p. 
224). 
 
Maria Helena Diniz: 
Diversas são as complicações que surgem quanto às possibilidades de gestação, seja 
com relação à verdadeira maternidade/paternidade, seja de natureza patrimonial, 
inclusive situações prejudiciais à própria criança, de modo que são necessáriasnormas que regulamentam os casos em que os bebês não são, geneticamente, filhos 
do casal que quis seu nascimento (DINIZ, 2012, p. 488/504). 
 
 
 
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Nesse percurso, chegasse ao ponto em que a melhor solução é a regulamentação da 
Cessão Temporária do Útero demonstrando a melhor forma de seguir o procedimento, tanto 
ao iniciar, quanto após, afastando a má-fé ou qualquer conflito de filiação ou problema futuro 
trago pela geratriz, que mesmo passando por testes pscicólogicos e aceitando a técnica, 
resolva não entregar um filho que ainda nem se quer possui afetividade e muito menos laço 
consaguíneo. 
Com o vácuo jurídico a respeito da técnica é possível a utilização da má-fé por parte 
da cessionária, utilizando-se de desaparecer com a criança e em uma possível aparição, se 
beneficia do menor interesse da criança e do adolescente, fazendo com que a afetividade 
prevaleça sobre o laço consanguíneo, tendo em conta, que a falta de amparo legal leva as 
decisões jurisprudenciais se valerem da analogia, costumes e dos princípios norteadores. 
Neste sentido, é a jurisprudência: 
APELAÇÃO CÍVEL Nº 534999 PE (0004161-23.2011.4.05.8300) 
APTE : RENATA DE MESQUITA VALADARES 
ADV/PROC : ISABELA GUEDES FERREIRA LIMA E OUTROS 
APTE : UFPE - UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO 
REPTE : PROCURADORIA REGIONAL FEDERAL - 5ª REGIÃO 
APDO : OS MESMOS 
ORIGEM : 12ª VARA FEDERAL DE PERNAMBUCO - PE 
RELATOR : JUIZ FRANCISCO CAVALCANTI - Primeira Turma 
EMENTA: CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. LICENÇA 
MATERNIDADE. PRAZO DE 180 DIAS. FERTILIZAÇÃO “IN VITRO” EM 
“BARRIGA DE ALUGUEL”. DANOS MORAIS. INXISTÊNCIA. 
1. Hipótese em que a autora tendo realizado fertilização “in vitro”e gestação em 
“barriga de aluguel”, em virtude das dificuldades em engravidar, pretende seja 
reconhecido o seu direto à licença maternidade pelo período de 180 (cento e oitenta 
dias) dias e não de 150 (cento e cinquenta) dias como deferido pela UFPE, bem 
como indenização por 
danos morais. 
2. Devem ser computados aos prazos previstos nos artigos 207 e 210, da 
Constituição Federal, os prazos estabelecidos nos Decretos nºs. 6.690/2008 e 
6.691/2008, resultando o benefício de 180 (cento e oitenta) dias para a mãe gestante 
e 150 (cento e cinquenta) dias para a mãe adotante. 
3. A autora é, efetivamente, mãe biológica, não importa se a fertilização foi “in 
vitro”ou com “barriga de aluguel”. Os filhos são sanguíneos e não adotivos. A 
autora faz jus à licença maternidade pelo período de 180 (cento e oitenta) dias, o que 
se justifica, sobretudo, por serem 03 (três) os filhos. 
4. Quanto ao pedido de indenização por danos morais, conforme posicionamento 
firmado pelo Superior Tribunal de Justiça, o mero dissabor não gera o direito à 
indenização por danos morais. 
5. “O mero dissabor não pode ser alçado ao patamar do dano moral, mas somente 
aquela agressão que exacerba a naturalidade dos fatos da vida, causando fundadas 
aflições ou angústias no espírito de quem ela se dirige” (REsp 898.005/RN, Rel. 
Ministro Cesar Asfor Rocha, Quarta Turma, julgado em 19/06/2007, DJ 06/08/2007 
p. 528). 
6. Apelação a que se nega provimento. 
 
VOTO 
 
 
 
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O JUIZ FRANCISCO CAVALCANTI (Relator): Hipótese em que a autora tendo 
realizado fertilização “in vitro”e gestação em “barriga de aluguel”, em virtude das 
dificuldades em engravidar, pretende seja reconhecido o seu direto à licença 
maternidade pelo período de 180 (cento e oitenta dias) dias e não de 150 (cento e 
cinquenta) dias como deferido pela UFPE, bem como indenização por danos morais. 
Penso que a r. sentença não merece reparos 
Vejamos. 
A Lei nº. 8.112/90 assegura a licença maternidade, diferenciando o prazo da licença 
concedida à mãe gestante do prazo concedido à mãe adotante, nos seguintes termos: 
Art. 207. Será concedida licença à servidora gestante por 120 (cento e vinte) dias 
consecutivos, sem prejuízo da remuneração. (Vide Decreto nº 6.690, de 2008) 
Art. 210. À servidora que adotar ou obtiver guarda judicial de criança até 1 (um) ano 
de idade, serão concedidos 90 (noventa) dias de licença remunerada. (Vide Decreto 
nº 6.691, de 2008) 
Parágrafo único. No caso de adoção ou guarda judicial de criança com 
mais de 1 (um) ano de idade, o prazo de que trata este artigo será de 30 
(trinta) dias. 
Devem ser computados aos prazos acima previstos, os dos Decretos nºs. 6.690/2008 
e 6.691/2008, resultando o benefício de 180 (cento e oitenta) dias para a mãe 
gestante e 150 (cento e cinquenta) dias para a mãe adotante. 
Considerando que não há previsão legal para a hipótese dos autos (fertilização “in 
vitro”com gestação em “barriga de aluguel”), a solução deve ser analisada com base 
no art. 4º, da Lei de introdução ao Código Civil, como bem entendeu a MM. Juíza a 
quo, nos seguintes termos: 
Diante dessa omissão legislativa é que surge o presente litígio, cuja solução é 
alcançada por meio do que dispõe o art. 4º da Lei de introdução ao Código Civil, in 
verbis: 
Art. 4º. Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os 
costumes e os princípios gerais de direito. 
Diante disso, a questão é saber se, por analogia, o caso apresentado aos autos, 
desprovido que é de expressa previsão legal, merece o tratamento dispensado à mãe 
gestante ou aquele dispensado à mãe adotante. 
No entender deste Juízo, deve-se dispensar à autora o mesmo tratamento legal 
conferido à mãe gestante. 
No tipo de concepção apresentado, fertilização in vitru para o desenvolvimento do 
feto no útero de outra mulher, a mãe biológica, embora não sofra com os 
procedimentos da gestação e do parto, é submetida a diversos outros procedimentos 
a fim de propiciar referida fertilização, além de acompanhar diuturnamente seu filho 
sendo gestado em útero alheio, o que significa, necessariamente, conseqüências 
psicológicas típicas de uma mãe gestante. 
Já em relação à mãe adotante, a mesma não é submetida, ao menos em tese, a 
qualquer procedimento de intervenção médica, não chegando, inclusive, na maioria 
das vezes, a acompanhar a gestação ou a presenciar o parto. 
Conforme já realçado acima, o benefício em questão é promovido para suprir uma 
necessidade imediata da criança, cujo bom desenvolvimento físico e mental depende 
da atenção que lhe é dada, principalmente pela mãe, nos primeiros meses de vida. A 
mãe também necessita de tempo para se dedicar aos filhos, mormente quando se 
trata de trigêmeos, como no caso em análise. 
Uma que uma mãe em tal situação aproxima-se mais da condição da mãe gestante 
do que da condição de mãe adotante, porquanto a distinção entre essas duas é 
justamente o laço genético havido com a criança, sendo a mãe que opta por 
conceber um filho através de aludido método mãe biológica tal qual uma mãe 
gestante. 
Pelo exposto, verificados os motivos acima, é de se entender que o tratamento legal 
em que se enquadra a autora deve ser o mesmo da mãe gestante, sendo-lhe, pois, 
devido o benefício da licença maternidade a ser gozado no período de 180 (cento e 
oitenta) dias. 
 
 
 
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Destarte, a autora é, efetivamente, mãe biológica, não importa se a fertilização foi 
“in vitro”ou com “barriga de aluguel”. Os filhos são sanguíneos e não adotivos. A 
autora faz jus à licença maternidade pelo período de 180 (cento e oitenta) dias, o que 
se justifica, sobretudo, por serem 03 (três) os filhos. 
 
Em epílogo, reforçando a ideia exposta no decorrer do artigo sobre a Cessão 
Temporária de Útero e sua possibilidade legal, éde essencial importância a efetivação do 
procedimento das técnicas de Reprodução Humana pelo Ordenamento Jurídico brasileiro, 
alcançando os passos medicinais e evitando lides futuras sobre o assunto devido a lacuna 
legislativa a respeito das técnicas, assim como, a discutida no trabalho, quer seja, a 
Maternidade por Substituição. 
 
5 Conclusão. 
 
O trabalho encostado, buscou trazer informações em relação a técnica de Cessão 
Temporária de Útero, também denominada como Maternidade por Substituição ou, 
popularmente a chamada “Barriga de Aluguel”. 
Para relatar o desenvolvimento da técnica e sua necessidade humana, o artigo contou 
com um simplório histórico que levou a origem das técnicas de concepção, até se chegar 
enfim a principal delas, exposta pelo texto, que é a Cessão Temporária. 
A saber, a Cessão Temporária Uterina, embora haja sua previsão ética através da 
resolução 2.121 de 2015 do Conselho Federal de Medicina, não há previsão com força de Lei, 
assim, o artigo abordou em tópico específico a Cessão Temporária do Útero no Ordenamento 
Jurídico brasileiro, como forma de demonstrar a real essencialidade da normatização para 
gerar segurança jurídica aos optadores do procedimento gestacional. 
Pelo o expresso no paragráfo antecendente, fora escrito as possibilidades jurídicas da 
Maternidade por Substituição, onde mais cedo ou mais tarde os tribunais enfrentarão, cada 
vez em maior número, os conflitos gerados pela falta de regras legais para a realização da 
técnica, devendo se pautar na analogia, costumes e princípios norteadores do Direito, capaz de 
ferir a razoabilidade do processo, que poderia ser evitado mediante Lei que maneja os rumos a 
se seguir, o que pode ou não fazer, bem como, validar as sanções administrativas e penais, 
regular, contudo, os atos civis, por exemplo, a filiação da criança nascida. 
 
6 Referências Bibliográficas. 
 
ALMEIDA. Aline Mignon. Bioética e Biodireito. Rio de Janeiro. Lumen Juris. 2000. 
 
 
 
REV. EDUC. MEIO AMB. SAÚ. V.7 N 4 OUT/DEZ- 2017. 
 
19 
 
 
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out. 17. 
 
BRASIL. Projeto Lei 115 de 2015. Institui o Estatuto da Reprodução Assistida, para regular a 
aplicação e utilização das técnicas de reprodução humana assistida e seus efeitos no âmbito das 
relações civis sociais. 
 
BRASIL. Resolução 2.013/2013 do Conselho Federal de Medicina. Revogada por 
Resolução 2.121/2015 Disponível em: 
http://www.portalmedico.org.br/resolucoes/CFM/2013/2013_2013.pdf. Acesso em: 17 out. 
17. 
 
CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA. Resolução CFM n. 2.121/2015. Adota as normas 
éticas para a utilização das técnicas de reprodução assistida – sempre em defesa do 
aperfeiçoamento das práticas e da observância aos princípios éticos e bioéticos que ajudarão a 
trazer a maior segurança e eficácia a tratamentos e procedimentos médicos – tornando-se o 
dispositivo deontológico a ser seguido pelos médicos brasileiros e revogando a Resolução 
CFM nº 2.013/2013, publicada no D.O.U. de 9 de maio de 2013, Seção I, p. 119. Disponível 
em: < http://www.portalmedico.org.br/resolucoes/CFM/2015/2121_2015.pdf>. Acesso em: 17 
out. 17. 
 
 
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, volume 5. Direito de Família. 27ª Ed. São 
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VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: direito de família, 2007. São Paulo: Atlas, 7ª 
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