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21 Anatomia aplicada à constipação intestinal Carlos Alberto Mandarim-de-Lacerda Estrutura gEral do intEstino O intestino delgado se compõe de três partes: o duodeno, próximo ao estômago, com cerca de 30cm de comprimento e relacionado ao pâncreas; o jejuno e o íleo. A separação das três seções é imprecisa e seu conjunto mede cerca de 6m de comprimento. Ao longo de todo o comprimento do intestino existem células calici- formes no epitélio glandular da mucosa. Estas células secretam um muco que lubrifica a passagem do alimento ao longo do intestino, protegendo a mucosa intestinal de enzimas digestivas. No intestino delgado, vilos são pregas da mucosa que aumentam a área de super- fície total do intestino e que também contém o duto linfático central que está ligado ao sistema linfático e auxilia na absorção de lipídios e de fluido do lúmen. A superfície do epitélio de revestimento do intes- tino apresenta microvilos que aumentam ainda mais a área de superfí- cie de absorção (estruturas microscópicas que, ao microscópio de luz, o conjunto de glicosaminoglicanas aprisionadas entre os microvilos, Mandarim-de-Lacerda CA. Anatomia aplicada à constipação intestinal. In: Constipação intestinal (edições monotemáticas da Federação Brasileira de Gastroenterologia), Galvão-Alves J (ed). FBG, São Paulo, pp. 21-38. Mandarim Typewritten text 2012 (ISBN: 978-85-64632-07-3) constipação intestinal Ca rlo s Al be rt o M an da rim -d e- La ce rd a 22 chamado de glicocálice1, dá o aspecto de “borda em escova” a esta região). Invaginações em fundo cego em direção à submucosa são denominadas criptas de Lieberkühn2. No intestino grosso, os vilos estão ausentes e uma superfície plana com milhares de criptas é observada. Subjacente ao epitélio da lâmina própria, que contém miofibroblastos, há vasos sanguíneos, nervos e diversas células do sistema imunológico (Figura 1.1). 1 Um glicocálix, ou glicocálice, encontra-se na porção apical dos microvilos das células de revestimento do trato digestivo, especialmente no intestino delgado. Tem cerca de 0,3µm de espessura e consiste de glicosaminoglicanas ácidas e glicoproteínas que se projetam sobre a membrana plasmática apical das células epiteliais de absorção. Contém enzimas segregadas pelas células de absorção que são essenciais para os passos finais de digestão de proteínas e açúcares. 2 Descritas pelo anatomista alemão Johann Nathanael Lieberkühn (Berlim, 1711 - 1756). Figura 1.1 • Esquema da estrutura do intestino comparando o intestino delgado com o intestino grosso. constipação intestinal An at om ia a pl ic ad a à co ns tip aç ão in te st in al 23A camada seguinte é a muscular da mucosa, que é uma camada de músculo liso que auxilia na ação do peristaltismo ao longo do intes- tino. A Figura 1.2 esquematiza as camadas da parede do intestino. A submucosa contém nervos (plexo submucoso ou de Meissner3), vasos sanguíneos e fibras elásticas com colágeno que se estende com maior capacidade, mas mantém a forma do intestino. Mais externamente se encontra a camada muscular (músculo liso) subdividida em uma camada mais interna de músculo circular e uma cama da mais externa de músculo longitudinal. A camada muscular é importante para o peristaltismo intestinal. Entre as duas camadas de músculo se encontra o plexo mioentérico de Auerbach4. 3 Descrito pelo anatomista alemão Georg Meissner (1829 - 1903). 4 Descrito pelo anatomista alemão Leopold Auerbach (1828 - 1897) nascido em Breslau (Breslávia, hoje na Polônia). Figura 1.2 • Esquema da parede intestinal com suas camadas separadas. Note-se a posição dos plexos mioentérico e submucoso. constipação intestinal Ca rlo s Al be rt o M an da rim -d e- La ce rd a 24 Por fim, há a serosa, que é constituída de tecido conjuntivo frouxo e é lisa e brilhante, de modo que há um deslizamento fácil da pare- de intestinal nas estruturas adjacentes. Dando suporte a tudo isso, os mesos suspendem o intestino na cavidade abdominal. anatomia Funcional dos intEstinos Juntos, o jejuno e o íleo medem de 6 a 7m de comprimento. A maior parte do jejuno situa-se no quadrante superior esquerdo, enquanto a maior parte do íleo situa-se no quadrante inferior direito (Figuras 1.3 e 1.4). O jejuno e o íleo, diferentemente do duodeno, são móveis. Figura 1.3 • Vísceras abdominais vistas após a ampla abertura da parede abdominal. Em destaque, a posição do jejunoíleo emoldurado pelo cólon. constipação intestinal An at om ia a pl ic ad a à co ns tip aç ão in te st in al 25 a) Jejuno: é a parte do intestino delgado que faz continuação ao duodeno; recebe este nome porque sempre que é aberto se apre- senta vazio. É mais larga (aproximadamente 4cm), sua parede é mais espessa, mais vascular e de cor mais rosada que a do íleo. b) Íleo: é o último segmento do intestino delgado que faz continu- ação ao jejuno. Recebe este nome por relação com osso ilíaco. É mais estreito e suas túnicas são mais finas e menos vasculari- zadas que o jejuno. Distalmente, o íleo desemboca no intestino grosso num orifício que recebe o nome de óstio ileocecal. c) Cólon: ou intestino grosso, começa na junção ileocólica e termi- na no ânus; é um tubo muscular de aproximadamente 1,5m de comprimento e 6,5cm de diâmetro. A primeira porção do cólon é chamada ceco. Figura 1.4 • Sequência da Figura 1.2, tendo deslocado o jejunoíleo para a direita. constipação intestinal Ca rlo s Al be rt o M an da rim -d e- La ce rd a 26 O intestino delgado se comunica com o ceco (uma bolsa cega) através do óstio ileal (válvula ileocecal ou válvula de Bauhin5), que tem duas funções importantes: permite a passagem de substâncias a partir do intestino delgado para o intestino grosso e impede as substâncias de se moverem, retrogradamente, para o intestino delgado. Pendendo para baixo do ceco, o apêndice vermiforme é um tubo em pequeno espiral, um pequeno órgão contendo grande quantidade de tecido linfático. O apêndice normalmente tem cerca de 3 a 5cm de comprimento e está localizado imediata- mente abaixo da junção ileocólica sobre a face posterior do ceco (Figuras 1.3, 1.4 e 1.5). O apêndice tem um meso próprio, chamado mesoapêndice, que o fim ao intestino delgado. É comum não haver mesoapêndice no terço distal do apêndice, aumentando assim a sua mobilidade. O apêndice está localizado no quadrante inferior direito do abdome, sob o ponto de McBurney6. As posições mais comuns do apêndice são: localizado contra a parede pélvica, localizado na fossa retroce- cal (por trás do ceco), anterior ou posterior ao íleo, e localizado ao longo do lado lateral do ceco. O suprimento arterial do apêndice se dá através de um ramo da artéria cecal posterior, conhecida como artéria apendicular. A veia posterior cecal drena o apêndice. 5 Descrita por Caspard Bauhin (Basileia, 1560 – 1624), médico e naturalista suíço. 6 Ponto de McBurney é um ponto situado entre o umbigo e a espinha ilíaca anterossuperior. Quando o apêndice está inflamado (apendicite), pode ser percebida uma sensibilidade no quadrante inferior direito, no ponto de McBurney. Na verdade, McBurney não descreveu o ponto de modo. O artigo origi- nal de McBurney é: Experience with early operative interference in cases of disease of the vermiform appendix. New York Medical Journal, 1889, 50:676-84. constipação intestinal An at om ia a pl ic ad a à co ns tip aç ão in te st in al 27 Devido à grande quantidade de tecido linfático que existe no apên-dice, acredita que este órgão pode estar envolvido no processo imu- nológico. A linfa, que é drenada a partir desta estrutura eventual- mente atinge os linfonodos mesentéricos superiores. O apêndice é um tubo cego que pode acumular alimentos e bactérias, mas, normalmente, isto não é um problema. Entretanto, o orifício apendico-cecal, que é a fixação do apêndice ao ceco, pode ficar obs- truído, causando a inflamação do órgão, com dor no quadrante infe- rior direito do abdome. Na maioria dos casos a cirurgia é recomenda- da porque a ruptura apendicular poderia resultar em peritonite. Figura 1.5 • Esquema das porções do cólon. constipação intestinal Ca rlo s Al be rt o M an da rim -d e- La ce rd a 28 O ceco se abre na porção ascendente do cólon (intestino grosso) (ver Figura 1.3). O cólon ascendente se dirige em direção ao fígado, sofre uma dobra à direita, a flexura cólica direita ou hepática. Esta se continua com o cólon transverso até a região do baço, onde há outra dobra em direção caudal, a flexura cólica esquerda ou esplê- nica, dando origem ao cólon descendente (ver Figuras 1.3 e 1.5). Próximo à crista ilíaca esquerda o cólon descendente torna-se con- torcido e forma o cólon sigmoide em forma de S (ver Figuras 1.4 e 1.5). A parte final do cólon sigmoide, depois de entrar na pelve verdadeira passa a ser o reto, na altura da terceira vértebra sacra. Os últimos 2 a 3cm do reto são modificados em colunas anais onde estão dispostas longitudinalmente artérias e veias. Esta área é bas- tante delicada. Um alargamento e / ou inflamação destas veias é o que chamamos hemorroidas. Pode haver herniação da mucosa do intestino grosso por entre as fibras musculares da parede dos cólons, causando os divertículos do cólon (ver Figuras 1.6 e 1.7). Supõe-se haver relação da presença dos divertículos com os vasos sanguíneos que suprem o cólon. O local de penetração dos vasos parece contribuir para o enfraqueci- mento da parede intestinal e, portanto, para a herniação da mucosa (ver Figura 1.6). A parte final do cólon se chama reto, que tem este nome por ser quase retilíneo. Este segmento do intestino grosso termina ao per- furar o diafragma da pelve (músculos levantadores do ânus), pas- sando a se chamar canal anal. O canal anal, apesar de bastante curto (3cm de comprimento), é importante por apresentar algumas formações essenciais para o funcionamento intestinal, das quais ci- tamos os esfíncteres anais. constipação intestinal An at om ia a pl ic ad a à co ns tip aç ão in te st in al 29Figura 1.6 • Esquema de corte transversal do cólon na região de formação de um divertículo. Figura 1.7 • Fotografia de peça cirúrgica (cólon sigmoide) mostrando a tênia livre (T) e diversos divertículos (setas). constipação intestinal Ca rlo s Al be rt o M an da rim -d e- La ce rd a 30 O esfíncter anal interno é o mais profundo, e resulta de um es- pessamento de fibras musculares lisas circulares, sendo consequen- temente involuntário. O esfíncter anal externo é constituído por fibras musculares estriadas que se dispõem circularmente em torno do esfíncter anal interno, sendo este voluntário (o músculo esfínc- ter externo do ânus faz parte dos músculos do períneo). Ambos os esfíncteres devem relaxar antes que a defecação possa ocorrer. A mucosa do intestino grosso contém glândulas intestinais e folícu- los muito semelhantes aos do intestino delgado, conforme já foi dito anteriormente (ver Figura 1.1). A estrutura do reto difere das outras porções do intestino grosso pelo fato de sua mucosa ser disposta em 5 a 10 pregas verticais, chamadas colunas retais. A função do intestino grosso é concluir a digestão e a absorção dos alimentos e eliminar os resíduos pelas fezes. No intestino grosso não se realiza nenhum tipo de digestão e a única secreção importante é o muco que protege a mucosa do atrito e contribui para a coesão e textura das fezes. A fun- ção básica dessa porção do intestino é, além da formação dos excre- mentos, a absorção de grande parte da água que estes possam conter. características que distinguem o intestino delgado do intestino grosso Intestino Delgado a) Exceto para o duodeno, é móvel (tem meso, o mesentério); b) Diâmetro de cerca de 2,5cm; c) Músculos longitudinais formam uma camada contínua; d) Não possuem apêndices omentais; e) Parede externa lisa; constipação intestinal An at om ia a pl ic ad a à co ns tip aç ão in te st in al 31f) Mucosa com vilos; g) Agregados de tecido linfático, chamados placas de Peyer7; h) Têm dobras internas permanentes, chamadas pregas circulares. Intestino Grosso a) Porções fixas: ascendente e descendente (normalmente não tem meso); b) Diâmetro de 6,5cm; c) Camada muscular longitudinal forma as tênias; d) Anexos gordurosos, chamados apêndices omentais; e) Parede externa com saculações (haustros); f) Não apresentam vilos; g) Não apresentam agregados linfáticos; h) Sem pregas permanentes. O cólon tem duas funções principais: a absorção de água e de cris- taloides e o armazenamento de material fecal até que possa ser eva- cuado. O intestino grosso desempenha um papel importante no equilíbrio de água, pois absorve uma quantidade considerável de água e eletrólitos (particularmente de sódio). Essa absorção ocorre na maior parte no ceco e cólon ascendente. Ele também absorve produtos de ação bacteriana, incluindo os solutos inorgânicos, bem como algumas vitaminas. 7 Descrito pelo anatomista suíço Johann Conrad Peyer (Schaffhausen, 1653 - 1712). constipação intestinal Ca rlo s Al be rt o M an da rim -d e- La ce rd a 32 A absorção de alimentos pelo intestino grosso é mínima, pois, ao atingir o cólon, a maior parte da digestão e absorção já está comple- tada. O quimo, depois de permanecer dentro do intestino grosso por um período que varia de 5 a 10 horas, se torna uma massa se- missólida que chamamos de fezes, cuja composição é: a) água; b) sais inorgânicos; c) bactérias; d) produtos de decomposição bacteriana ; e) células de muco e fragmentos de células a partir da mucosa alimentar. Após a ação de bactérias o quimo está preparado para ser elimina- do. Bactérias normalmente presentes no intestino grosso executam as seguintes funções: a) Fermentam carboidratos - liberam hidrogênio, dióxido de car- bono do gás metano; b) Convertem proteínas remanescentes em aminoácidos ; c) Transformam aminoácidos em compostos mais simples, tais como: i. sulfureto de hidrogênio e escatol (contribuem para o odor); ii. decompõe bilirrubina (excretada com a bile) em pigmentos mais simples, dando a cor característica das fezes; iii. ajuda na síntese de vitaminas, tais como algumas vitaminas B, riboflavina, ácido nicotínico, ácido fólico, biotina e vitamina K. constipação intestinal An at om ia a pl ic ad a à co ns tip aç ão in te st in al 33PEristaltismo E inErvação A Figura 1.8 resume a inervação autonômica do trato gastrintesti- nal, que é inervado pelos nervos extrínsecos e intrínsecos. Os ner- vos extrínsecos são o vago (motor e sensorial), o simpático (mo- tor) e uma parte sensorial visceral. A porção motora dos nervos vagos estimula o intestino ao passo que sua porção sensorial está envolvida nos arcos reflexos necessários para a atividade digestiva Figura 1.8 • Esquema da inervação autonômica do intestino. Os nervos pré-ganglionares do parassimpático (cujo melhor exemplo é o nervo vago) são longos e fazemsinapse com os gânglios na parede do intestino, daí os nervos pós-ganglionares serem muito curtos. No simpático, os gânglios estão mais próximos à medula espinhal, então os nervos pré-ganglionares são mais curtos que os nervos pós-ganglionares. constipação intestinal Ca rlo s Al be rt o M an da rim -d e- La ce rd a 34 coordenada. Os nervos simpáticos atuam inibindo a atividade do intestino. Os nervos sensoriais viscerais são os nervos segmentares da medula espinhal, compostos principalmente por fibras de dor. Além disso, eles têm receptores para a pressão e o movimento. Os nervos extrínsecos motores (vago) não terminam diretamente nas células musculares lisas da parede do intestino, mas sim em uma série de células ganglionares na parede do intestino. Estas células ganglionares são chamadas gânglios entéricos, ou plexos. As células ganglionares entéricas enviam suas fibras (pós-ganglio- nares) para as células musculares lisas. Os gânglios entéricos (do plexo mioentérico já mencionado) (ver Figura 1.2) são capazes de atividade mesmo sem serem estimulados pelo nervo vago. Todo o músculo liso do intestino tem inervação intrínseca e gânglios. Como o alimento passa através do óstio ileal, ele preenche o ceco, que tem a forma de uma bolsa, e se acumula dentro do cólon as- cendente. O material digerido é movido por um mecanismo de movimento, chamado haustrais. Isto ocorre por enchimento de um haustro, seguido por uma contração haustral, enchendo o haustro seguinte (Figura 1.9). Outro mecanismo envolvido no movimento de material através do intestino grosso é a peristalse (lat. perístalsis, do gr. Perístalsis, conexo com peristátikós, “que se contrai” ). Além disso, há uma contração maciça peristáltica, que ocorre três ou quatro vezes por dia, e que empurra as fezes do cólon para o reto. O peristaltismo é uma ação em forma de ondas que normalmen- te passam distalmente, em direção anal (peristaltismo reverso pode ocorrer em resposta a uma condição anormal). A peristalse é inicia- da quando o lúmen do intestino se distende e ativa o complexo do plexo / gânglios entéricos, os quais estimulam as células do músculo constipação intestinal An at om ia a pl ic ad a à co ns tip aç ão in te st in al 35Figura 1.9 • Peristaltismo: (a) a sucessão de contração e distensão do intestino propaga seu conteúdo na direção das setas; (b) pode haver contrações mistas ou segmentadas em segmentos do intestino. liso do intestino. A ação peristáltica rítmica é uma função da porção motora do vago e dos nervos sensoriais e simpáticos, que respondem à pressão e movimento. Quando o alimento passa em determinado local, a pressão sobre o lúmen cessa a ação peristáltica proximal. mobilidadE intEstinal A mobilidade do trato intestinal pode variar de uma fase hiper- motiva a uma fase hipomotiva até a cessação completa de ati- vidade. Estas alterações na função do cólon normal podem ser induzidas por estresse emocional, agentes humorais, defeito da inervação (tanto motora quanto sensorial), doenças em outros sis- temas e doença intrínseca do cólon. constipação intestinal Ca rlo s Al be rt o M an da rim -d e- La ce rd a 36 O material que entra no cólon a partir do íleo é uma massa altamen- te fluida. A maior parte da atividade do cólon é um processo lento, do tipo fásica, de contrair lentamente para facilitar a absorção. Em intervalos periódicos, geralmente após uma refeição, um período de peristaltismo ocorre, movendo o conteúdo do cólon em direção ao reto. Isto faz com que uma massa de fluido fecal que enche e disten- de o reto leve ao reflexo da defecação. A disfunção do cólon pode causar retenção de material fecal, que resulta em constipação. A absorção de água se dá por difusão passiva osmótica e depende das várias outras pressões osmóticas exercidas através da mucosa. A disfunção do cólon perturba a transferência de água através da mucosa. A atividade anormal do cólon (quer hiper ou hipo) afeta este processo de difusão de várias maneiras. Afeta a passagem de água através da mucosa intestinal a partir do fluido intersticial do cólon e altera a troca de fluido através dos leitos capilares do có- lon. A perda de grandes quantidades de fluido em diarreia provoca um deslocamento da água e desequilibra os eletrólitos em diversos compartimentos do corpo. Isto faz com que o líquido saia do plas- ma e entre nos espaços intersticiais do cólon. À medida que os ele- trólitos se esgotam no sangue, outros compartimentos da economia começam a libertar fluido e os íons para o plasma, numa tentativa de restaurar o equilíbrio. obstrução intEstinal Um tipo de obstrução intestinal é chamado de intussuscepção. Esta condição é caracterizada por uma invaginação telescópica de constipação intestinal An at om ia a pl ic ad a à co ns tip aç ão in te st in al 37um segmento do intestino sobre a outra. O nome específico dado a uma intussuscepção depende da região ou regiões do intestino envolvido. Um tipo de intussuscepção é descrito a seguir. Normalmente, no óstio ileal o íleo é ligeiramente projetado dentro do ceco. Em algumas condições, esta projeção para o interior do ceco pode formar o ponto de partida de uma invaginação do in- testino delgado para o ceco. Esta condição, conhecida como intus- suscepção ileocecal, é progressiva e o intestino delgado invaginado se move mais e mais para dentro do cólon ascendente, arrastando, com ele, o ceco e o apêndice, bem como o mesentério subjacente e sua vascularização de sangue, podendo haver necrose do segmento invaginado. Esta condição é mais comum em crianças pequenas do que em adultos. Outra situação que pode conduzir a obstrução intestinal é a rotação do intestino delgado no sentido horário, referida como volvo. O volvo de cólon sigmoide representa 43% de todos os volvos de in- testino grosso, sendo que 52% são no ceco, 3% no cólon transverso e 2% na flexura esplênica. O infarto intestinal do volvo de sigmoi- de está ao redor de 7%, assim como a mortalidade. Dos pacientes que apresentam volvo de sigmoide cerca de 10% estão internados. Finalmente, outra condição que pode causar obstrução gastrintes- tinal é o carcinoma. Obstrução devido a carcinoma ocorre porque o tumor maligno cresce para dentro e para fora. O crescimento para dentro cria uma obstrução direta, ao passo que o crescimento externo pode comprimir o lúmen do intestino. Esta condição é mais comum em pessoas com mais de 50 anos de idade. constipação intestinal Ca rlo s Al be rt o M an da rim -d e- La ce rd a 38 anormalidadEs Estruturais E Funcionais A constipação tem um número de causas estruturais (mecânicas, morfológicas, anatômicas), incluindo: a) lesão na medula espinhal; b) doença de Parkinson; c) câncer de cólon; d) fissuras anais; e) proctite, f) disfunção do assoalho pélvico. A constipação também tem causas funcionais (neurológicas), in- cluindo anismo, síndrome do períneo descendente, e doença de Hirschsprung8. Em crianças, a doença de Hirschsprung é o distúr- bio médico mais comum associado à constipação intestinal. Anis- mo ocorre em uma pequena minoria de pessoas com constipação crônica ou obstrução de evacuação. 8 Doença descrita em 1886 pelo médico dinamarquês Harald Hirschsprung (1830-1916). A doença de Hirschsprung ou megacólon agangliônico congênito é uma doença na qual ocorre um aumento do cólon causado por obstrução intestinal resultante de uma parte agangliônica do intestino (os nervos entéricos normaisestão ausentes) que inicia no ânus e progride superiormente. A extensão do intesti- no afetada varia.