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BIOQUÍMICA DOS ALIMENTOS Priscila Souza Silva Frutas: definição Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Descrever as características e a fisiologia pós-colheita das frutas. Discutir as alterações enzimáticas no processamento de frutas. Reconhecer os principais métodos de conservação e armazenamento de frutas. Introdução As frutas podem ser definidas como a parte polposa que envolve a semente de plantas. Elas têm aroma característico, são ricas em suco, normalmente de sabor doce, e podem, na maioria das vezes, ser consu- midas cruas (PHILIPPI, 2012). As frutas devem ser incluídas diariamente nos cardápios, pois têm um alto teor vitamínico e mineral, e os glicídeos que contêm são de fácil digestão (ORNELLAS, 2007). No entanto, as frutas sofrem diversas alterações enzimáticas que podem causar mudanças indesejáveis, como o escurecimento da superfície da fruta e a diminuição do seu valor nutricional. Neste capítulo, você vai estudar as principais características das frutas, compreendendo os principais métodos de conservação e armazena- mento, a fim de reduzir o impacto das alterações enzimáticas presentes no processamento de frutas. Frutas: características e fisiologia pós-colheita As frutas são consideradas fontes de vitaminas, minerais, carboidratos (gli- cose, frutose, sacarose, amido, pectina e celulose) e fi bras. Elas contêm pouca proteína e gordura, devendo ser incluídas na alimentação diariamente. Dentre as vitaminas, são encontradas, principalmente, a vitamina C e o caroteno. Dentre os minerais, o principal é o potássio, seguido pelo ferro. Para melhor aproveitamento desses nutrientes, as frutas devem ser consumidas cruas (PHILIPPI, 2012). Os tipos de frutas que existem são (ORNELLAS, 2007) os seguintes. Frutas com caroço: ameixa, cereja, damasco, nectarina e pêssego. Frutas duras: maçã e pera. Frutas moles: amora, framboesa, morango e uvas. Frutas cítricas: laranja, limão, tangerina e mexerica. Frutas mediterrâneas e tropicais: abacaxi, banana, carambola, caqui, figo, goiaba, mamão, manga, maracujá, melão e melancia. As frutas podem ser classificadas de acordo com suas características e segundo o teor de glicídeos que apresentam. Veja a seguir as características das frutas (PHILIPPI, 2012). Extra: fruta de elevada qualidade, sem defeitos, bem desenvolvida e madura. Deve apresentar tamanho, cor e conformação uniformes. Os pedúnculos e as polpas devem estar intactos e uniformes. Não são permitidos manchas e defeitos na casca. De primeira: fruta de boa qualidade, sem defeitos sérios, que apresenta tamanho, cor e conformação uniformes, sendo tolerados, no máximo, pequenos defeitos. Deve ser bem desenvolvida e madura e pode apre- sentar pequenas manchas na casca, desde que não prejudiquem a sua aparência. De segunda: fruta de boa qualidade, pode apresentar ligeiros defeitos na cor, no desenvolvimento e na conformação, os quais não devem prejudicar as características e a aparência da fruta. A casca não pode estar danificada, porém pequenos defeitos ou manchas são tolerados. De terceira: esta classe destina-se a fins industriais, é constituída por frutas que não foram incluídas nas classes anteriores, mas que preservam suas características. Não é exigida a uniformidade de tamanho, cor, grau de maturação e conformação. São aceitas frutas com rachaduras cicatrizadas, pequenos defeitos e manchas na casca. As frutas podem ser agrupadas nos seguintes grupos, de acordo com o teor de glicídeos (ORNELLAS, 2007). Frutas: definição2 Frutas A: são subdividas em dois grupos. ■ Contendo até 5% de glicídeos. São exemplos desse grupo: abacaxi, açaí, araçá, caju, carambola, goiaba, groselha, melancia, melão, morango, pitanga e umbu. ■ Contendo 5 a 10% de glicídeos. São exemplos: cajá, jambo, jaca, laranja, lima, limão, maracujá, pêssego, romã, tucumã, abricó e abiu. Frutas B: são subdivididas em dois grupos. ■ Contendo de 10 a 15% de glicídeos. São exemplos: abacate, ameixa, amora, cereja, cupuaçu, damasco, figo, framboesa, fruta-do-conde, graviola, jamelão, maçã, mamão, manga e pera. ■ Contendo de 15 a 20% de glicídeos. São exemplos: banana, caqui, nêspera, pequi, uva, pupunha e marmelo. Frutas especiais: contendo 35% de glicídeos. São exemplos: tuturubá e uxi. Contendo 53% de glicídeos: tamarindo. Frutas oleaginosas: frutas contêm cerca de 16% de glicídeos, 20% de proteínas e 60% de lipídeos. Fazem parte deste grupo: amêndoas, avelãs, castanha de caju, castanha-do-pará, nozes, patauá e sementes de jatobá. Além de grande concentração de calorias, contêm também proteínas de alto valor biológico e minerais como selênio, cobre e magnésio. São alimentos de difícil digestão por serem muito gordurosos e conterem muita celulose. Fisiologia pós-colheita das frutas A pós-colheita se inicia no momento da separação do produto do seu meio, com a intenção de utilizá-lo como alimento e termina quando é submetido ao processo de seleção para o consumo fi nal. Para compreender melhor a fi siologia pós-colheita das frutas, é fundamental conhecer as fases de desenvolvimento das frutas. Para a fruta poder ser consumida, processos biológicos e de ma- nuseio. Dentre os processos que envolvem o crescimento do fruto, podemos dividir em quatro fases: crescimento, maturação (maturação fi siológica), amadurecimento e senescência (ANESE; FRONZA, 2015). Crescimento: ocorre quando o fruto ainda está ligado à planta mãe. Nesse período, ele recebe açúcares que são gerados pela fotossíntese. Nessa fase, o fruto aumenta seu peso pelo fato de ocorrer a divisão celular e o aumento do tamanho das células. O crescimento será maior se a planta tiver todas as condições ideais, como água, nutrientes e luz (ANESE; FRONZA, 2015). 3Frutas: definição Maturação: ocorrem processos fi siológicos, como a respiração e a produção de etileno, que fazem o fruto mudar suas características com o objetivo de se tornar comestível. Nessa fase, há o acúmulo maior de açúcares, o que torna o fruto mais doce, o acúmulo de ácidos, o que confere melhor sabor, e mudanças na coloração. No fi nal dessa fase é quando a maioria dos frutos são colhidos (ANESE; FRONZA, 2015). Amadurecimento: nesta fase, ocorre uma aceleração ainda maior no meta- bolismo do fruto, que o torna apto para o consumo humano. Os processos que acontecem nessa fase são induzidos pelo etileno e pela alta taxa respiratória do fruto. Conforme avança o amadurecimento, o fruto diminui sua resistência contra o ataque de patógenos, os quais causam podridão, que é a principal causa de perda de frutos em pós-colheita (ANESE; FRONZA, 2015). O amadurecimento do fruto em determinadas espécies ocorre após sua colheita, ou seja, fora da planta. Alguns exemplos são o pêssego, a maçã, o caqui, a ameixa e o abacate. Por outro lado, existem espécies que os frutos não amadurecem fora da planta, sendo necessário colher quando estiverem com o amadurecimento completo, como é o caso da uva e do abacaxi (ANESE; FRONZA, 2015). Senescência: última fase de desenvolvimento do fruto. Pode ser defi nida como o envelhecimento e a morte dos tecidos do fruto. As mudanças que acontecem nessa fase degradam os compostos de reserva como açúcares, ácidos e vitaminas. É um processo irreversível, no entanto, pode ser atrasado pela utilização de técnicas de armazenamento (ANESE; FRONZA, 2015). Perdas pós-colheita Como as frutas são produtos vivos, que têm alto teor de água, eles estão suscetíveis a perdas caso não sejam manuseadas de forma correta. Perdas pós-colheita ocorrem após as frutas serem colhidas em razão de diversos fatores, como armazenamento e transporte inadequado, excesso de maturação Frutas: definição4 e senescência e podridões. Os tipose causas de perdas que ocorrem estão descritos a seguir (ANESE; FRONZA, 2015). Tipos de perdas Perda quantitativa: perda de peso de fruta. Corresponde a um volume que é desperdiçado. Pode ser por desidratação, podridões e senescência. Perda qualitativa: redução do padrão de qualidade da fruta. Perda nutricional: quando a atividade metabólica da fruta é alta em razão do armazenamento inadequado, ocorre a redução do teor de vitaminas, lipídeos e proteínas. Perda sensorial: se dá em função das alterações na textura, relação ácido/ açúcares e perda de aroma pelo armazenamento inadequado. Causas de perdas Fitopatológicas: esta é a principal causa de perda em pós-colheita, um exemplo são as podridões, pois são causadas por fungos. Físicas: são as causadas por impacto, danos mecânicos e lesões que ocorrem durante o manuseio na pós-colheita. Fisiológicas: provocadas por alterações ou modifi cações nas células da fruta. Essas perdas são frequentes durante o armazenamento, as quais são chamadas de distúrbios fi siológicos. Biológicas: consumo da fruta por pássaros e roedores, causando o desapare- cimento direto do alimento. Excesso de maturação: quando as frutas não são consumidas no período adequado, o processo de amadurecimento avança e ocorre a perda do fruto. 5Frutas: definição É importante ressaltar que, em alguns casos, os frutos podres, com excesso de matura- ção ou alguma outra injúria, classificados como de terceira, são destinados à indústria para a elaboração de diversos produtos. No entanto, o valor que a indústria paga pela fruta é muito baixa, o que não cobre o custo de produção (ANESE; FRONZA, 2015). Processamento de frutas e alterações enzimáticas O processamento de frutas depende da espécie, da variedade e das caracterís- ticas físico-químicas de cada fruta a ser processada, se são ricas em suco ou carnosas. Para se obter características desejáveis das matérias-primas para o processamento, devem ser observados atributos como: maturação fi siológica, pH, sólidos solúveis totais (Brix), acidez total titulável, entre outras caracte- rísticas físico-químicas. Essas informações devem ser obtidas quando a fruta ainda está no campo e para promover uma colheita seletiva da matéria-prima (OLIVEIRA, 2015). Tipos de processamento de frutas Existem diversos tipos de processamentos de frutas. Entre os mais importantes para a indústria alimentícia, podem ser citados os seguintes. Polpa: produto não fermentado, não concentrado ou diluído, obtido pelo es- magamento de frutos polposos por processos tecnológicos adequados. Devem ser preparadas com frutas sãs, limpas, isentas de matéria terrosa, de parasitas e detritos de animais ou vegetais. Não deverão conter fragmentos das partes não comestíveis da fruta, nem substâncias estranhas à sua composição nor- mal, devendo ser observada também a presença ou a ausência de sujidades, parasitas e larvas sendo tolerada a adição de sacarose em proporção a ser declarada no rótulo do produto. A produção de polpas de frutas congeladas tem se destacado como uma alternativa importante para o aproveitamento dos frutos durante a safra, permitindo sua estocagem fora da época de produção dos frutos in natura. A polpa de fruta é utilizada principalmente na elaboração Frutas: definição6 de sucos, sorvetes, balas, produtos de confeitaria e lácteos, como iogurtes. O despolpamento é o processo utilizado para extrair a polpa da fruta do material fi broso, das sementes e dos restos de cascas (OLIVEIRA, 2015). Sucos: produto obtido pela dissolução em água potável, da polpa da fruta polposa, por meio de processo tecnológico adequado, não fermentado, de cor, aroma e sabor característicos da fruta, submetido a tratamento que as- segure sua conservação e apresentação até o momento do consumo. Para ser considerado suco, a quantidade mínima de fruta deve ser 50% da respectiva fruta ou polpa da fruta, salvo casos em que o teor de acidez é elevado ou o conteúdo da polpa tem sabor muito forte. Nesse caso, o conteúdo de fruta ou polpa da fruta não deve ser inferior a 35%. O processamento de sucos envolve uma série de operações que podem ser divididas em três etapas sequenciais: pré-tratamento, tratamento e conservação. A diluição dos sucos tropicais deve ser com água potável, isenta de cloro e íons de ferro. Na adição de açúcar, deve ser respeitado o percentual máximo de 10% para cada tipo de suco. O agente adoçante mais utilizado é a sacarose, que pode ser substituída total ou parcialmente por açúcar líquido, açúcar invertido, xarope de glicose ou edulcorantes. As técnicas mais utilizadas na conservação de sucos são a pasteurização, que elimina os microrganismos patogênicos, e a concentração térmica, na qual há redução da atividade de água do produto. A adição de conservantes químicos é feita após o resfriamento do suco pasteurizado até a temperatura ambiente. Os conservantes mais comuns são o ácido sórbico, o ácido benzoico ou seus derivados de sais de sódio e potássio. O teor máximo desses compostos legalmente permitido para produtos de consumo direto é de 0,1% em peso. Empregando-se conservantes, o suco de fruta pode ser mantido em perfeitas condições por aproximadamente seis meses (OLIVEIRA, 2015). Néctar: produto não fermentado, não gaseifi cado, obtido da parte comestível da fruta, diluído com água potável com adição de açúcar e ácido, destinado ao consumo direto. A diferença básica entre néctares e sucos é que o néctar não tem a obrigatoriedade de conservar todas as características originais de um suco natural de fruta. Existem várias formas de se produzir néctares de frutas, mas, de maneira geral, as etapas envolvidas no processamento são: recebimento dos frutos, lavagem, descascamento, desintegração, inativação enzimática (branqueamento), despolpamento, formulação do néctar, tratamento térmico e embalagem. O néctar deve conter no mínimo 30% da respectiva fruta ou polpa da fruta, salvo casos em que a fruta apresenta acidez ou conteúdo de 7Frutas: definição polpa de sabor muito forte. Nesse caso, o conteúdo de fruta ou polpa de fruta não deve ser inferior a 20%. Refresco: bebida não gaseifi cada, não fermentada, obtida pela diluição em água potável, do suco de fruta, da polpa ou do extrato vegetal de sua origem, adicionada de açúcares. O refresco de frutas pode ser elaborado com um ou mais tipos de frutas. O refresco poderá ser adicionado de outras matérias- -primas naturais de fruta ou de vegetais, sob a forma de macerados, extratos e óleos essenciais, desde que comprovadamente inócuos à saúde humana. Os refrescos de laranja, tangerina e uva deverão conter no mínimo 30% em volume de suco natural. O refresco de limão, ou limonada, deverá conter no mínimo 5% em volume de suco de limão. O refresco de maracujá deverá conter no mínimo 6% em volume de suco de maracujá. O refresco de maçã deverá conter no mínimo 20% em volume de suco de maçã. Frutas desidratadas: produto obtido pela perda parcial da água da fruta madura, inteira ou em pedaços, por processos tecnológicos adequados. O produto deverá ser preparado com frutas maduras, limpas, isentas de matéria terrosa, de parasitos e de detritos animais e vegetais. Não deve conter subs- tâncias estranhas à sua composição normal, exceto as previstas na legislação. A desidratação visa a reduzir a umidade e o volume da fruta por meio da evaporação da água nela contida. A perda de umidade diminui o crescimento de microrganismos ou outras reações, resultando em melhor conservação do produto por períodos de tempo maiores que a fruta fresca. Geleia: produto obtido à base de suco de fruta que, depois de previamente processado, apresenta uma forma geleifi cada (gel) em razão do equilíbrio entre a pectina, o açúcar e a acidez. As normas técnicas relativas a alimentos e bebidas, constantes na Resoluçãonº 12, de 24 de julho de 1978 (BRASIL, 1978), estabelecem que a geleia de fruta é o produto obtido pela cocção de frutas, inteiras ou em pedaços, polpa ou suco de fruta, com açúcar e água e concentrado até a consistência gelatinosa, podendo sofrer a adição de glicose ou açúcar invertido. Os componentes básicos para a elaboração de uma geleia são: fruta, pectina, ácido e açúcar (substituído por adoçantes/edulcorantes no caso de geleias diet e light). Fruta em calda: produto obtido de frutas inteiras ou em pedaços, com ou sem sementes ou caroços, com ou sem casca, e submetida à cocção incipiente, envasadas em lata ou vidro, praticamente cruas, cobertas com calda de açúcar. Frutas: definição8 Depois de fechado em recipientes, o produto é submetido a um tratamento térmico adequado. Escurecimento enzimático de frutas O escurecimento enzimático de frutas inicia-se em resposta a injúrias físicas e fi siológicas (impactos, abrasões, excesso de CO 2 ) como resultado da oxidação de compostos fenólicos. As lesões levam ao colapso celular, promovendo o contato dos compostos fenólicos com enzimas associadas ao escurecimento. Essa reação pode causar mudanças indesejáveis, além do escurecimento da superfície da fruta, pode ocorrer a deterioração de aroma e outras propriedades organolépticas, a diminuição do valor nutricional e da vida útil de muitos alimentos. A procura e a aceitação de um determinado produto são baseadas em sua qualidade. Em alimentos, a cor é um dos atributos mais importantes, pois normalmente a aparência do produto é o primeiro fator analisado pelo consumidor. Por isso, é fundamental utilizar no processamento técnicas que permitam a preservação das qualidades que o produto tinha quando estava fresco (MELO FILHO; VASCONCELOS, 2011). O escurecimento que normal- mente acontece em frutas durante o processamento ou quando sofre qualquer impacto, como descascamento, corte, amassamento, etc., é devido à ação das polifenoloxidases (também denominada de tirosinase, polifenolase, catecol oxidase e catecolase), que reagem com seus substratos, os compostos fenólicos, na presença de oxigênio. O produto inicial da oxidação é a quinona, que, por sua vez, se condensa gerando pigmentos escuros denominados melaninas. O escurecimento enzimático pode ser desejável em alguns produtos, como café, cacau, ameixa-preta e chá-preto. No entanto, é indesejável quando afeta negativamente a aparência do produto, podendo haver perdas de nutrientes, diminuição da vida útil e formação de sabor indesejável. Dentre os compostos derivados da polifenoloxidase mais comumente en- contrados em frutas, estão incluídos: o tanino no pêssego, o ácido clorogênio na pera e na maçã, entre outros. As enzimas responsáveis pelo escurecimento enzimático são conhecidas como fenolase, polifenolase e polifenoloxidases. Essas classes de enzimas têm o cobre como grupo prostético (MELO FILHO; VASCONCELOS, 2011). 9Frutas: definição Métodos de controle do escurecimento enzimático Temperatura Emprego do frio: a utilização de baixas temperaturas, ou seja, refrigeração ou congelamento, diminuem a intensidade da ação enzimática, porém não cessa completamente. Quanto mais baixa for a temperatura, mais lenta a reação acontece. Isso não impede a formação de compostos escuros (MELO FILHO; VASCONCELOS, 2011). Emprego do calor: é método mais simples e provavelmente o mais utilizado para inativação da polifenoloxidase. O uso prologado de altas temperaturas pode inativar as enzimas, sendo muito utilizado no preparo de alimentos antes do congelamento, enlatamento, desidratação, irradiação, etc. Entretanto, o uso do calor apresenta algumas desvantagens, uma vez que pode ocasionar alterações organolépticas, físicas e químicas dos alimentos, principalmente em frutas de consistência mais delicadas. O tratamento térmico utilizado para inativação é o branqueamento, que geralmente utiliza temperaturas que variam de 70 a 100°C por um tempo de 1 a 5 minutos (MELO FILHO; VASCONCELOS, 2011). Agentes químicos Emprego de dióxido de enxofre ou sulfi to: o sulfi to age diretamente sobre a enzima ou com os intermediários formados durante a ação enzimática. A concentração utilizada deve ser monitorada afi m de não dar gosto desagra- dável ao produto e ao mesmo tempo realizar um controle efi ciente da reação enzimática (MELO FILHO; VASCONCELOS, 2011). Emprego de ácidos: são os agentes químicos mais utilizados no controle do escurecimento enzimático. Os ácidos têm a propriedade de baixar o pH, inibindo a atividade da polifenoloxidase. Os ácidos normalmente utilizados estão entre aqueles de ocorrência natural, como, cítrico, fosfórico, málico e ascórbico (MELO FILHO; VASCONCELOS, 2011). Remoção do oxigênio: a presença do oxigênio é um dos fatores essenciais para que aconteça o escurecimento enzimático. Portanto, diminuir ou eliminar o oxigênio do meio resulta em redução ou paralisação da atividade enzimática. Um dos métodos mais comuns utilizados é o fechamento hermético (a vácuo) Frutas: definição10 dos recipientes que armazenam os alimentos (MELO FILHO; VASCONCE- LOS, 2011). Métodos de conservação e armazenamento de frutas Existem vários métodos de conservação, cuja escolha depende do tipo de produto e da disponibilidade de recursos econômicos ou tecnológicos. A seguir são descritos os principais métodos utilizados (CENCI, 2006). Armazenamento refrigerado O armazenamento em baixa temperatura associado ao controle de umidade pode prolongar a vida útil das frutas frescas contribuindo para a manutenção de suas características desejáveis sensoriais e nutricionais, podendo também minimizar o crescimento dos microrganismos. A temperatura e a umidade relativa ótimas de conservação podem variar, dependendo da espécie (CENCI, 2006). Veja o Quadro 1 a seguir. Fonte: Adaptado de Cenci (2006). Produto Vida útil (dias) Temperatura (ºC) Umidade relativa Abacaxi 14-28 10-14 85-90 Banana 7-35 12-14 90-95 Goiaba 14-21 10-12 85-90 Laranja 21-56 4,4-7,2 85-90 Manga 14-25 8-12 85-90 Mamão 7-21 7-12 85-90 Uva 56-180 1,1-2,2 90-95 Quadro 1. Temperaturas e umidade relativa (UR) recomendadas para o armazenamento e o tempo de conservação para algumas frutas 11Frutas: definição Para o armazenamento de mais de um produto no mesmo ambiente, é preciso que a temperatura e a umidade relativa sejam próximas e que gases e odores de um produto não afetem o outro (CENCI, 2006). Embora a temperatura seja importante na preservação da qualidade, outros fatores do ambiente devem ser controlados a fim de se maximizar a vida útil dos produtos. Alguns desses fatores incluem a umidade relativa e a atmosfera gasosa (oxigênio, dióxido de carbono e etileno). Às vezes, é difícil estabelecer um equilíbrio entre esses fatores. Por exemplo, uma alta umidade relativa pode manter a textura, mas pode também facilitar o crescimento microbiano. Durante o armazenamento, muitos compostos voláteis são acumulados na atmosfera de armazenamento. Entre os compostos, o etileno é aparentemente o mais importante, sendo que a remoção dele da atmosfera pode reduzir os processos fisiológicos relacionados ao amadurecimento e senescência. Entretanto, para muitas frutas, o fator limitante na extensão da sua vida útil é o desenvolvimento de doenças pós-colheita. Pré-resfriar os frutos o mais rápido possível, desinfetar câmaras, embalagens e equipamentos e manter a temperatura e a umidade relativa constantes e indicadas para o produto ou a variedade podem também retardar o desenvolvimento de doenças pós-colheita durante o armazenamento (CENCI, 2006). Atmosfera modificada Atmosfera ambiental é alterada pelo uso de fi lmes plásticos, permitindo que a concentração de CO 2 proveniente do próprio produto aumente e a concentração de O2 diminua, à medida que este é utilizado pelo processo respiratório. O objetivo desse método é reduzir a intensidade da respiração do produto e aumentar sua vida útil. Com a modifi cação das concentrações de O 2 e CO 2 ao redor do produto, a respiração é diminuída, bem como a transpiração, a biossíntese e a ação do etileno. Também retarda o crescimento dos microrga- nismos patogênicos e deteriorantes presentes. Veja a seguir os dois tipos de sistemas de atmosfera modifi cada que podem ser utilizados. Frutas: definição12 Atmosfera modificada passiva: é obtida quando os produtos são colocados na embalagem obtendo apenas ar, a qual é, então, selada e o controle das trocas gasosas é realizado por meio da própria embalagem. O ambiente desejado é atingido com a respiração do produto e as trocas gasosas com meio externo, por meio da embalagem. A composição da atmosfera interna irá depender permeabilidade da embalagem e da velo- cidade de consumo ou de liberação de gases pelo produto. O controle é feito por meio de materiais que tenham características de permeabilidade adequada, bem como pela temperatura de armazenamento. Atmosfera modificada ativa: é obtida realizando-se vácuo moderado e, em seguida, injetando-se na embalagem a mistura de gases desejada antes da selagem. Nesse caso, podem ser utilizados sistemas com baixas ou elevadas concentrações de O 2 em mistura com outros gases, como CO 2 ou N 2 . Absorvedores de gases podem ou não ser incluídos no interior da embalagem. A atmosfera de equilíbrio tende a se manter constante, desde que a taxa de permeabilidade a gases da embalagem seja compatível com a respiração do produto, não haja flutuações na temperatura, tampouco crescimento de microrganismos no produto Revestimentos comestíveis e ceras Camada fi na e contínua de substância alimentícia formada ou depositada sobre o alimento, oferecendo barreira aos gases, vapor-d’água, aromas, óleos, etc., propiciando proteção mecânica e também conduzindo antioxidantes, aromas e antimicrobianos aos alimentos. Podem ser feitos de muitos tipos diferentes de polímeros (pectina, proteínas, óleos, amido, etc.), podendo ser biodegradáveis e/ou comestíveis, dependendo dos aditivos utilizados. Eles são geralmente aplicados às frutas frescas para melhorar sua aparência e para evitar perdas de umidade. Para frutas muito sensíveis, eles desempenham funções de proteção contra danos mecânicos e contaminação microbiana. O fi lme ou a cobertura comestível ideal deve criar uma barreira para impedir a perda de voláteis desejáveis e vapor de água, enquanto restringe a troca de CO 2 e O 2 , criando, assim, uma atmosfera modifi cada para a diminuição da respiração e aumentar a vida de prateleira das frutas (CENCI, 2006). Embalagem O produto deve ser embalado apropriadamente, devendo-se evitar misturas de produtos deteriorados com sadios. Alguns produtos como as uvas e os 13Frutas: definição morangos não são lavados. Eles são embalados no campo imediatamente após a colheita. A embalagem no campo gera uma situação em que a contaminação pode ocorrer facilmente se os recipientes e os materiais não forem manipulados cautelosamente (CENCI, 2006). As duas principais funções da embalagem são evitar danos mecânicos (machucados por impacto, amassamento por compressão, vibrações e abrasão) e agrupar o produto em unidades adequadas de forma que facilite o manuseio. As embalagens devem desempenhar também outras funções, tais como proteger contra fatores ambientais, como insolação e umidade; facilitar o transporte, levar informações ao consumidor e facilitar o resfriamento rápido de seu conteúdo, quando houver, sem que afete a continuidade do processo vital das frutas. As embalagens devem ser suficientemente fortes para suportar empilhamento e impacto no carregamento e descarregamento, sem injuriar produtos delicados (LIMA, 2016). Conservação pelo controle de umidade Secagem natural: tem por objetivo reduzir o conteúdo de água da fruta ou do vegetal, interrompendo o processo natural de deterioração biológica, ati- vidades bacterianas, transformação enzimática e oxidação, preservando suas principais características, como cor, aroma, sabor e textura. É uma tecnologia que prolonga a vida útil do produto. É indicada para regiões com temperatura média entre 35 e 40°C, com boa taxa de radiação, alta circulação de ar, umi- dade relativa do ar baixa e baixo índice de poluição. Os alimentos secos ao sol apresentam coloração mais intensa quando comparados aos desidratados artifi cialmente, entretanto, ocorrem maiores perdas nutricionais do que na desidratação sob condições controladas. A secagem natural também pode ser feita por secadores que têm uma estrutura que permite maior proteção ao alimento, apresentando uma inclinação e um tampo de vidro que permite a absorção da radiação térmica (LIMA, 2016). Liofi lização: a liofi lização ou secagem a frio é o mais nobre processo de conservação de produtos, porque envolve os dois métodos mais confi áveis de conservação: o congelamento e a desidratação. O princípio usado é a sublimação (passagem do estado sólido para o gasoso). Inicialmente, o alimento necessita ser congelado a uma temperatura de -20 °C. Posteriormente é submetido a uma pressão negativa (vácuo). Nessas condições, os microcristais de gelo são evaporados sem romper as estruturas moleculares. O resultado fi nal desse processo é um produto com uma estrutura porosa, livre de umidade e capaz Frutas: definição14 de ser reconstituída pela adição de água. As frutas liofi lizadas são usadas em: preparação de sucos naturais, substituindo as polpas congeladas; sabores e aromas naturais para bebidas; fi toterápicos em cápsulas ou em barras vegetais; em iogurtes, bolos e sorvetes; mix prático para viagens e passeios ecológicos; e também como produtos cosméticos (LIMA, 2016). 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