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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA POLITÉCNICA COLEGIADO DO CURSO DE ENGENHARIA CIVIL LEANDRO SOUSA FERREIRA CRITÉRIOS PARA CÁLCULO E DETALHAMENTO DE RESERVATÓRIOS DE CONCRETO ARMADO SALVADOR 2015 LEANDRO SOUSA FERREIRA CRITÉRIOS PARA CÁLCULO E DETALHAMENTO DE RESERVATÓRIOS DE CONCRETO ARMADO Monografia apresentada ao Curso de graduação em Engenharia civil, da escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia, como requisito para obtenção do grau de Engenheiro Civil. ORIENTADOR: Profº MSc. Cereno de Freitas Diniz Gonçalves de Muniz SALVADOR 2015 AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar agradeço a Deus. O Eterno, o Criador, o Projetista do Universo. Minha eterna gratidão pela garra e força encontrada nessa jornada. Ao Mestre da Vida: Jesus, O Cristo. O autor e consumador da minha fé. O Eterno, autêntico, o meu referencial, minha inspiração e quem me espelho nessa minha efêmera passagem existencial terrena. Aos meus pais, Luzia e Antônio Eudes que diariamente estavam presentes mesmo que distantes geograficamente. Minha gratidão, pelo investimento e por acreditarem em mim. Essa obra dificilmente seria concluída se não fosse por eles. Aos meus familiares por todo apoio e pelo crédito em mim depositado. Aos amigos, que sempre incentivaram, apoiaram e estiveram ao meu lado. Aos meus colegas de universidade pela amizade e companheirismo recebido. Ao professor Cereno Muniz que me acompanhou, me ensinou e aumentou meu desejo para atuação em engenharia de estruturas. Por transmitir confiança, segurança e tranquilidade. Ao professor Laranjeiras pela atenção, recomendações, orientação para temática retração e por me receber generosamente em seu escritório. Enfim, dedico esse trabalho a todos que acreditam na potencialidade que há em mim. Pessoas sempre ao meu lado, próximas ou distantes, nutriram minhas esperanças de dias melhores e que eu colheria frutos dessa árdua jornada. FERREIRA, Leandro Sousa. Critérios para cálculo e detalhamento de reservatórios de concreto armado. 146 f. il. 2015. Monografia (Trabalho de Conclusão do Curso) – Escola Politécnica, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2015. RESUMO Estruturas estanques para armazenamento ou condução de água têm presença marcante com o desenvolvimento das comunidades. Reservatórios, piscinas, galerias, estação de tratamento de água, estação de tratamento de esgoto são alguns dos exemplos de estruturas hidráulicas que necessitam de estanqueidade. Sendo um dos itens do projeto das estruturas, os projetos de reservatórios são de interesse dos profissionais que atuam na engenharia, bem como a disposição de critérios para dimensionamento e verificação desses tipos obras. A abordagem desses critérios e a aplicação numérica embasadas nas normas NBR 6118 (2014), DIN 1045 (2008) e EUROCODE 2 (2006) serão expostos neste trabalho. A abordagem da temática será limitada a reservatórios elevados e ligeiramente elevados, com forma cilíndrica e paralelepipédica. Para tal, apresentam-se sugestões de prováveis carregamentos das ações que atuam nessas estruturas, os esforços solicitantes, detalhes típicos e os arranjos típicos das armaduras. Por se tratar de uma estrutura que deve ser estanque, uma abordagem sobre o fenômeno da retração que provoca aberturas fissuras é uma parte fundamental. Assim, o presente trabalho pretende fazer uma exposição através de revisão bibliográfica e uma abordagem dos critérios de normas pertinentes. Ao final, serão apresentados exemplos numéricos no qual é aplicada toda metodologia exposta na monografia e anexados os projetos da aplicação numérica que serão detalhados e quantificados. Palavras-chave: reservatório elevado; reservatório cilíndrico; estanqueidade; fissuração; FERREIRA, Leandro Sousa. Critérios para cálculo e detalhamento de reservatórios de concreto armado. 146 f. il. 2015. Monografia (Trabalho de Conclusão do Curso) – Escola Politécnica, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2015. ABSTRACT Structures for water tankage and conduction have significant presence as communities develop. Storage tanks, swimming pools, drainage gallery, water treatment plant, sewage treatment plant are some examples of hydraulic structures that require water-tightness. Reservoir are part of building structures projects, thus they are of interest to engineering professionals along with the criteria disposition for dimensioning and inspection of this kind of construction. The approach of these criteria and the numerical application grounded on the regulations NBR 6118 (2014), DIN 1045 (2008) and EUROCODE 2 (2006) will be exposed in this work. The approach of this issue will be limited to elevated and slightly elevated water tanks with circular and parallelepiped shapes. For that, we present suggestions of probable loads of the actions that act on these structures, requesting efforts, typical details and reinforcement’s typical details. Therefore, this work intends to do a literature review and to approach the structural codes criteria. At the end, we will present numerical examples, where the exposed methodology is applied, and the numerical application projects will be detailed and quantified. Keywords: elevated water tanks; cylindrical reservoir; water-tightness; cracks. LISTA DE ABREVIAÇÕES ACI – American Concrete Institute CAA – Classe de agressividade ambiental CHI – Canto horizontal inferior CHS – Canto horizontal superior CV – Canto vertical DEN– Diagrama de esforço normal DIN – Deutsches Institut für Normung DMF – Diagrama de momento fletor ELS – Estados Limite de Serviço ELU – Estados Limite Último ETA – Estação de Tratamento de Água ETE – Estação de Tratamento de Esgoto NBR – Norma brasileira EC 2 – Eurocode 2 LISTA DE FIGURAS Figura 2. 1 – Viga-parede de um vão .....................................................................................................16 Figura 2. 2 – Viga-parede contínua ........................................................................................................16 Figura 2. 3 – Dois tipos comuns de viga-parede em relação ao carregamento ......................................16 Figura 2. 4 – Localização dos reservatórios inferior (verde) e superior (vermelho) ..............................18 Figura 2. 5 – Exemplos reservatórios elevados independentes da estrutura predial ..............................19 Figura 2. 6 – Reservatório inferior totalmente enterrado (com sobrecarga de terra na tampa) ..............20 Figura 2. 7 – Reservatório inferior enterrado e semi-enterrados ............................................................20 Figura 2. 8 – Reservatórios inferior apoiado no terreno e ligeiramente elevado....................................21 Figura 2. 9 – Reservatório inferior enterrado (Segundo NBR 5626: 1998) ...........................................22 Figura 2. 10 – Reservatório inferior totalmente enterrado (segundo NBR 5626: 1998) ........................22 Figura 2. 11 –Arranjo geral de reservatórios elevados ..........................................................................23 Figura 3. 1 – Distribuição de tensões e trajetórias das tensões principais em nó de pórticos ortogonais, de acordo com Nilson, no caso de momento positivo............................................................................27 Figura 3. 2 – Esboço simples de forças principais em um nó estrutural ................................................28 Figura 3. 3 – Representação da linha elástica – Reservatório paralelepipédico elevado .......................29 Figura 3. 4 – Representação da distribuição de momentos fletores – Reservatório elevado .................29 Figura 3. 5 – Arestas dos reservatórios sem mísulas e com mísulas ......................................................30 Figura 3. 6 – Seção efetiva mísula adequando a NBR 6118 (2014).......................................................31 Figura 3. 7 – Seção efetiva (NBR 6118: 2014) ......................................................................................32 Figura 3. 8 – Mudança de direção das armaduras ..................................................................................32 Figura 3. 9 – Esquema ligação de canto .................................................................................................33 Figura 3. 10 – Seção crítica de fissuração ..............................................................................................33 Figura 3. 11 – Diferença de rigidez ........................................................................................................35 Figura 3. 12 – Seção transversal carregada - reservatório elevado ........................................................35 Figura 3. 13 – Momentos Fletores característicos resultantes da Figura 3.12........................................36 Figura 4. 1 – Seção transversal no estádio I com reações.......................................................................41 Figura 4. 2 – Seção transversal no estádio II puro .................................................................................41 Figura 4. 3 – Fissuras em paredes de concreto armado devidas à retração e/ou às variações de temperatura .............................................................................................................................................45 Figura 4. 4 – Representação da situação da peça fissurada ....................................................................45 Figura 4. 5 – Concreto de envolvimento da armadura ...........................................................................47 Figura 4. 6 – Abertura limite das fissuras em função da pressão hidrostática .......................................47 Figura 4. 7 – Detalhe executivo (mata-junta) .........................................................................................50 Figura 5. 1 – Momentos fletores e forças normais de tração..................................................................51 Figura 5. 2 – Representação das ações no reservatório ..........................................................................52 Figura 5. 3 – Seção horizontal reservatório cilíndrico ...........................................................................55 Figura 5. 4 – Solicitações sobre a parede de tanques cilíndricos ...........................................................56 Figura 5. 5 – Seção vertical de reservatório cilíndrico ...........................................................................57 Figura 5. 6 – Convenção de sinais ..........................................................................................................59 Figura 5. 7 – Diagrama típico: esforço normal e momento fletor (reservatório cilíndrico) ..................61 Figura 5. 8 – Carga uniformemente distribuída (L/h = 4) – Estádio I ....................................................62 Figura 5. 9 – Carga uniformemente distribuída (L/h = 2) – Estádio I ....................................................62 Figura 5. 10 – Carga uniformemente distribuída (L/h = 1) – Estádio I ..................................................63 Figura 5. 11 – Viga-parede suportando outra parede .............................................................................65 Figura 5. 12 – Carregamento viga-parede para um vão .........................................................................65 Figura 5. 13 – Verificação de sub-pressão .............................................................................................67 Figura 5. 14 – Esquemático parede do compartimento ..........................................................................68 Figura 5. 15 – Armação típica viga-parede com h ≤ l ............................................................................73 Figura 5. 16 – Detalhamento das armaduras (comprimento de ancoragem em um nó estrutural) .........74 Figura 5. 17 – Aberturas de lajes maciças e bordos livres .....................................................................75 Figura 5. 18 – Dimensões limites com dispensa de verificação .............................................................76 Figura 5. 19 – Armadura adicional nos bordos de pequenas aberturas ..................................................76 Figura 5. 20 – Laje armada em uma direção possuindo uma grande abertura .......................................77 Figura 5. 21 – Laje armada em cruz possuindo uma grande abertura ....................................................78 Figura 5. 22 – Planta esquemática das dimensões usuais .......................................................................80 Figura 6. 1 – Planta baixa e corte reservatório paralelepipédico elevado...............................................87 Figura 6. 2 – Carregamento e DMF das paredes 1 e 2 ...........................................................................89 Figura 6. 3 – Carregamento e DMF do pórtico equivalente ...................................................................94 Figura 6. 4 – Planta baixa e corte reservatório paralelepipédico ligeiramente elevado .........................95 Figura 6. 5 – Carregamento e DMF laje de fundo do compartimento ...................................................99 LISTA DE TABELAS Tabela 4. 1 - Classe de agressividade ambiental (CAA) ........................................................................38 Tabela 4. 2 - Correspondência entre a classe de agressividade e a qualidade do concreto ....................39 Tabela 4. 3 - Correspondência entre classe de agressividade ambiental e o cobrimento nominal para Δc = 10mm ..................................................................................................................................................40 Tabela 4. 4 - Características geométricas de seções transversais em lajes .............................................41 Tabela 4. 5 – Exigências de durabilidade relacionadas à fissuração e à proteção da armadura, em função das classes de agressividade ambiental ......................................................................................46 Tabela 4. 6 - Tensões nas armaduras (MPa) - correlação wk e ϕ............................................................48 Tabela 4. 7 - Valores máximos de diâmetro e espaçamento, com barras de alta aderência ...................49 Tabela 5. 1 - Valores mínimos para armaduras passivas aderentes .......................................................69 Tabela 5. 2 - Taxas mínimas de armadura de flexão ..............................................................................70 Tabela 6. 1 – Dimensionamento radial pelo métodoI (BAYKOV e SIGALOV, 1980)........................83 Tabela 6. 2 – Dimensionamento radial pelo método II (ROCHA, 1978)...............................................85 Tabela 6. 3 – Abertura limites das fissuras – NBR 6118 / EC 2 ..........................................................104 Tabela 6. 4 – Comparação dos momentos fletores característicos (kN.m) ..........................................113 Tabela 6. 5 - Valores máximos de tensão na armadura para wk = 0,3 mm ..........................................114 Tabela 6. 6 – Esforços solicitantes reservatórioscilíndrico ..................................................................114 Tabela 6. 7 – Quadro resumo armadura de fissuração .........................................................................115 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................................11 1.1 MOTIVAÇÃO E OBJETIVOS .................................................................................................12 1.2. ESTRUTURA DO TRABALHO ..............................................................................................13 1.3. METODOLOGIA ......................................................................................................................13 2 CONCEITOS E REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................14 2.1 IDENTIFICAÇÃO DOS ELEMENTOS ESTRUTURAIS ..............................................15 2.2 CLASSIFICAÇÃO ...............................................................................................................17 2.2.1 Reservatórios elevados ou superiores .............................................................................18 2.2.2 Reservatórios enterrados, subterrâneos ou inferiores ..................................................19 2.2.3 Reservatórios ligeiramente elevados (inferiores) ...........................................................21 2.3 CARACTERÍSTICAS .........................................................................................................22 2.4 GENERALIDADES .............................................................................................................25 3 NÓS ESTRUTURAIS ...................................................................................................................26 3.1 LINHA ELÁSTICA .............................................................................................................28 3.2 MÍSULAS ..............................................................................................................................30 3.3 DIFERENÇA DE RIGIDEZ ...............................................................................................34 4 DURABILIDADE / ESTANQUEIDADE ...................................................................................37 4.1 AGRESSIVIDADE DO AMBIENTE .................................................................................37 4.2 COBRIMENTO ....................................................................................................................39 4.3 ESTÁDIOS I E II .................................................................................................................40 4.4 RETRAÇÃO POR SECAGEM OU RETRAÇÃO HIDRÁULICA ................................42 4.5 FISSURAS ............................................................................................................................44 4.6 RECOMENDAÇÃO EXECUTIVA ...................................................................................49 5 CONSIDERAÇÕES PARA DIMENSIONAMENTO ESTRUTURAL ...................................50 5.1 TAMPA .................................................................................................................................53 5.2 FUNDO ..................................................................................................................................53 5.3 PAREDES .............................................................................................................................54 5.3.1 Reservatórios paralelepipédicos elevados ......................................................................54 5.3.2 Reservatórios cilíndricos ..................................................................................................54 5.4 VIGAS-PAREDE .................................................................................................................61 5.4.1 Dimensionamento das vigas-parede ................................................................................63 5.4.2 Armadura de suspensão ...................................................................................................64 5.5 RESERVATÓRIO LIGEIRAMENTE ELEVADO (INFERIOR) ..................................65 5.6 RECOMENDAÇÕES PARA CÁLCULO DAS ARMADURAS .....................................69 5.7 CONSIDERAÇÕES ADICIONAIS SOBRE DETALHAMENTO .................................73 5.8 PRÉ-DIMENSIONAMENTO E DETALHES EXECUTIVOS .......................................79 6 APLICAÇÃO NÚMERICA .........................................................................................................80 6.1 RESERVATÓRIO CILÍNDRICO ELEVADO .................................................................81 6.1.1 Cálculo de esforços na parede pelo método I - BAYKOV e SIGALOV (1980) ..........82 6.1.2 Cálculo de esforços na parede pelo método II - ROCHA (1978)..................................84 6.2 RESERVATÓRIO PARALELEPIPÉDICO ELEVADO.................................................87 6.3 RESERVATÓRIO PARALELEPIPÉDICO LIGEIRAMENTE ELEVADO ................94 6.4 FISSURAS ADMISSÍVEIS ...............................................................................................104 6.5 DIMENSIONAMENTO ....................................................................................................104 6.6 ARMADURA PARA CONTROLE DE FISSURAÇÃO ................................................111 6.7 ANÁLISE DE RESULTADOS .........................................................................................113 7 CONCLUSÃO .............................................................................................................................116 7.1 SUGESTÃO PARA TRABALHOS FUTUROS ..............................................................117 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................118 ANEXO A.1 – TABELAS PARA CÁLCULO DE PLACAS (BARES, 1970)...............................120 ANEXO A.2 – CÁLCULO DE PLACAS CIRCULARES (BARES, 1970)...................................129 ANEXO B.1 – PROJETO RESERVATÓRIO CILÍNDRICO.......................................................130 ANEXO B.2 – PROJETO RESERVATÓRIO PARALELEPIPÉDICO.......................................133 ANEXO B.3 – PROJETO RESERVATÓRIO LIGEIRAMENTE ELEVADO...........................138 11 1 INTRODUÇÃO Estruturas que necessitam de estanqueidade quer seja para armazenamento ou condução de água, devido à necessidade e a funcionalidade que desempenham junto as comunidades, têm grande relevância. São reservatórios, piscinas, galerias de drenagem, estação de tratamento de água (ETA), estação de tratamento de esgoto (ETE), canal de esgoto, canais de adução com utilização corrente na engenharia. Essas estruturas hidráulicas têm como função primordial serem estanques e por esta razão, uma atenção diferenciada é destinada a esse assunto.Os reservatórios ou caixas d’água desempenham uma atividade fundamental para o abastecimento de água nas edificações. Optar por uma solução de abastecimento sem a utilização de reservatórios (sistema direto de distribuição), seria garantir que há continuidade no abastecimento e que em alguns casos, requer grande volume. Como na maioria dos casos não há a garantia dessa continuidade, ou seja, que a qualquer momento o usuário ao solicitar um ponto de utilização haverá água disponível, torna-se imprescindível à presença de reservatório(s). E ainda, devido as possíveis intermitências no abastecimento de água ou até mesmo a necessidade de reservação de determinado volume, os reservatórios são praticamente indispensáveis em quaisquer edificações. Há casos em que o consumo de água é pequeno que apenas uma caixa d'água de Polietileno, por exemplo, resolve. Usualmente em edificações verticais são projetados dois reservatórios - inferior e superior. O primeiro abastecido diretamente pela rede pública e o segundo alimentado por um sistema de recalque no próprio edifício (Casa de bombas) são comumente encontrados nas edificações. Há uma diversidade de formas em planta: quadrada, retangular, circular, elipsoidal, ou uma forma qualquer. E como a NBR 5626 (1998) determina que os reservatórios sejam inspecionados periodicamente, estes deverão ser construídos em local de fácil acesso. Os critérios para dimensionamento e verificação desses tipos obras embasados nas normas NBR 6118 (2014), DIN 1045-1 (2008) e EUROCODE 2 (2006) possibilitam uma grande abrangência de critérios para cálculo de reservatórios de concreto armado. Este trabalho trata de reservatórios de concreto armado elevados, paralelepipédicos e cilíndricos, que são os mais comumente empregados em edificações em geral. Sendo o primeiro mais usual nas edificações. A empreitada é desenvolver critérios e procedimentos de cálculo e 12 detalhamento para reservatórios elevados (superior) e ligeiramente elevados (inferior) de concreto armado. 1.1 MOTIVAÇÃO E OBJETIVOS A construção de reservatórios de água nas edificações apresenta-se frequentemente no cenário da engenharia. É de alto interesse dos profissionais que atuam no ramo de projetos estruturais estarem aptos para dimensionar e detalhar essas estruturas. O objetivo primário deste trabalho é apresentar um procedimento para elaboração de um projeto completo de reservatórios. Ao final da abordagem deste trabalho, será possível fazer dimensionamento no ELU e verificação do ELS de reservatórios. Atualmente poucos autores brasileiros abordam profundamente o tema. A literatura disponível que aborda com mais abrangência e particularidades do tema são mais antigas. Isso implica que a literatura disponível possui algumas limitações quando submetidas a uma verificação com as normas vigentes atuais (por exemplo, a consideração do fenômeno de retração, detalhamento das armaduras, detalhes típicos, os limites recomendados por norma para dimensionamento, etc). Sobre os reservatórios cilíndricos de concreto armado, que consistem em parte dos reservatórios executados no país, se tem muito pouco disponível na literatura que efetivamente oriente e facilite a elaboração de um projeto estrutural. Na literatura nacional para cálculo de reservatórios elevados segundo a revisão da NBR 6118 (2014), é tratado apenas de reservatórios paralelepipédicos elevados. E ainda, não há efetivamente um trabalho para projeto de reservatórios inferiores (ligeiramente elevados) segundo a NBR 5626 (1998). Assim sendo, este trabalho pretende contribuir para enriquecimento do assunto com os objetivos a seguir: a) Cobrir a lacuna existente (seguindo as indicações das normas técnicas pertinentes e utilizando tabelas e formulações já consagradas); b) Analisar os fatores que influenciam no dimensionamento de reservatórios; c) Abordagem mais minuciosa do fenômeno da retração; d) Aplicação numérica do conteúdo abordado; e) Comparar resultados e expor conclusões pertinentes; 13 1.2. ESTRUTURA DO TRABALHO Este trabalho é composto por sete capítulos. Neste primeiro capítulo de introdução, foram apresentados os objetivos e a justificativa da pesquisa. No Capítulo 2, é apresentada uma revisão bibliográfica acerca das estruturas de concreto, características dos elementos, diferenciação dos tipos de reservatórios e generalidades. No Capítulo 3, é apresentada uma revisão bibliográfica sobre nós estruturais. Destrinchando sobre linha elástica, mísulas e diferença de rigidez. No Capítulo 4, é apresentada a temática durabilidade e estanqueidade. Além de um aprofundamento sobre o fenômeno retração e fissuração. No Capítulo 5, são apresentadas as considerações das ações nos elementos e critérios relevantes para dimensionamento de reservatório. No Capítulo 6, são apresentados os exemplos numéricos de aplicação em que é dimensionado: um reservatório cilíndrico, um reservatório elevado e um reservatório ligeiramente elevado. No Capítulo 7, têm-se as considerações finais e sugestão para trabalhos futuros do presente trabalho. Por fim, foram adicionados como anexo as tabelas de Bares (1970) para cálculo de lajes e os três projetos do capitulo seis, detalhados. 1.3. METODOLOGIA Para a realização deste trabalho sucedeu-se uma revisão bibliográfica concernente a estruturas de concreto armado e das particularidades dos reservatórios. Para tal, foi imprescindível uma busca em diversas fontes bibliográficas, revistas e normalização de projetos de estruturas nacionais e estrangeiras, com o fito de delinear os fundamentos para abordagem. Realizado isso e delimitando tematicamente, abrangeram-se reservatórios paralelepipédicos elevados, reservatórios paralelepipédicos ligeiramente elevados e reservatórios cilíndricos elevados. A interpretação do comportamento da estrutura e das expressões numéricas encontradas na DIN 1045 (2008), Eurocode 2 (2006) e principalmente NBR 6118 (2014) apresentadas aqui, foi que viabilizou a possibilidade de elucidar os fenômenos e quais os critérios para um dimensionamento mais aproximado da realidade. E 14 através da pesquisa contínua e direcionada, puderam-se identificar os fatores que influenciavam nos itens mais críticos e os critérios utilizados para atender a NBR 6118 (2014). A etapa seguinte consistiu na elaboração de planilhas elaboradas no excel para agilizar cálculos de esforços solicitantes e gerar diagramas dos reservatórios cilíndricos, áreas de aço e cálculo de abertura de fissuras. Foi necessário o uso de tabelas para cálculo das solicitações das lajes. Assim sendo, utilizaram-se as tabelas de Bares (1970) baseadas no método de cálculo das malhas (Método de cálculo por diferenciais). Por fim, são abordados três exemplos numéricos – reservatórios cilíndricos elevados (por dois métodos), reservatórios elevados e reservatórios ligeiramente elevados. Nesta etapa, foram feitas comparações e analise critica dos resultados obtidos. Ainda em anexo, é apresentado o projeto completo final dos três exemplos numéricos abordados neste trabalho, bem como as tabelas utilizadas para o dimensionamento. 2 CONCEITOS E REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Simplificadamente, os reservatórios do ponto de vista estrutural, denominar-se-ão todas as estruturas que tenham a função de armazenar fluidos. No caso deste trabalho, será tratado apenas dos reservatórios para armazenamento de água. São conhecidos também como caixas d’água ou ainda, tanques de concreto. Os reservatórios de concreto armado são formados por um conjunto de placas e a dependerda configuração geométrica e dos apoios, como chapas. As partes resistentes devem verificar os estados limites, nos quais a partir desses, a estrutura passa a não desempenhar suas finalidades. As partes resistentes são constituídas de concreto e aço denominado concreto armado. De acordo com Carvalho (2013), “o concreto armado é obtido por meio da associação entre concreto simples e armadura convenientemente colocada (armadura passiva), de tal modo que ambos resistam solidariamente aos esforços solicitantes”. 15 2.1 IDENTIFICAÇÃO DOS ELEMENTOS ESTRUTURAIS A seguir algumas definições pertinentes. Placas Em relação às placas, a NBR 6118 (2014) define como: “Elementos de superfície plana, sujeito principalmente a ações normais a seu plano. As placas de concreto são usualmente denominadas de lajes. Placas com espessura maior que 1/3 do vão devem ser estudadas como placas espessas”. As lajes maciças são placas de espessura uniforme, que são calculadas de acordo com as respectivas condições de contorno. Chapas e Vigas-parede Nos reservatórios elevados as paredes funcionam como placas e como vigas, e a depender da relação entre o vão e a altura, essas vigas são denominadas vigas-parede. Este elemento estrutural é usualmente encontrado em reservatórios elevados e como mesmo é denominado, visualmente se assemelha a uma parede em virtude da sua altura ser na mesma ordem de grandeza do vão. A NBR 6118 (2014) apresenta a definição de chapas como sendo: “Elementos de superfície plana, sujeito principalmente a ações contidas no seu plano”. De acordo com Leonhardt et al (1978 a) se as chapas se apoiam como vigas essas são consideradas vigas-parede desde que, atendam a alguns requisitos. São eles: A delimitação entre vigas esbeltas e vigas-parede é feita, considerando-se o diagrama das deformações εx, que é aproximadamente retilíneo para esbeltezas L/d ≥ 2 (no caso de vigas de um só vão) como mostrado na Figura 2.1 e para L/d ≥ 3 (no caso de vãos intermediários de vigas continuas) como mostrado na Figura 2.2; 16 Figura 2. 1 – Viga-parede de um vão Fonte: O autor Figura 2. 2 – Viga-parede contínua Fonte: O autor Segundo a NBR 6118 (2014), “São consideradas vigas-parede as vigas altas em que a relação entre o vão e a altura L/h é inferior a 2 em vigas biapoiadas e inferior a 3 em vigas contínuas. Elas podem receber carregamentos superior ou inferior (ver Figura 2.3)”. Figura 2. 3 – Dois tipos comuns de viga-parede em relação ao carregamento Fonte: NBR 6118 (2014) Para determinação das tensões no estádio I de vigas-paredes não se aplica a formulação σx = M/W entre outras equações da Resistência dos Materiais, pois, sob a ação de 17 carregamento, as seções não permanecem planas como na hipótese de Navier-Bernoulli (diagrama linear para as deformações ε). Isso implica que mesmo que o material seja perfeitamente elástico, as tensões não variam σx linearmente. Além disso, as componentes normal (σy) e tangenciais (τxy) devidas as esforços externos não são mais desprezíveis. Consequentemente, a compatibilização dos esforços internos e a consideração das condições de equilíbrio devem ser considerados para determinar as tensões em vigas paredes. (LEONHARDT, 1978 a) Onde: M – Momento fletor W – Módulo Resistente σx – Tensão normal Quando comparadas com vigas usuais o comportamento estrutural das vigas-parede podem apresentar ineficiências, seja a flexão, seja ao cisalhamento. E ainda, as vigas-parede, por serem altas, apresentam problemas de estabilidade como corpo rígido e às vezes, de estabilidade elástica. Por esta razão, enrijecedores de apoio ou travamentos são quase sempre necessários. (NBR 6118, 2014) Devem ser consideradas ainda as perturbações geradas por aberturas, cargas concentradas ou mudança de espessura e/ou altura da peça (seção variável). Essas perturbações podem influir significativamente no comportamento e resistência do elemento estrutural. 2.2 CLASSIFICAÇÃO Os reservatórios são classificados de acordo com a posição em relação ao solo. Este plano de referência é o plano horizontal do terreno. Na Figura 2.4 é mostrada a localização mais provável dos reservatórios inferior (cor verde) e superior (cor vermelha) de uma edificação. 18 Figura 2. 4 – Localização dos reservatórios inferior (verde) e superior (vermelho) Fonte: O autor Aplicando uma classificação abrangendo os principais tipos de reservatórios mais correntes na prática têm-se: 2.2.1 Reservatórios elevados ou superiores Nesse tipo de reservatório, há uma dependência do arranjo estrutural dos pilares. Geralmente, em edifícios, têm-se comumente posicionado na região das escadas apoiando-o nos pilares que formam a caixa da escada, isto é, há uma ligação entre o reservatório elevado e a estrutura. No entanto, há vezes em que o reservatório não pode ou não faz parte da estrutura, ou a distribuição demanda um grande volume de água, ou requer pressão hidráulica suficiente para suprir os aparelhos muito elevadas, nesses tem-se uma solução: posicionar o reservatório em uma estrutura independente da edificação. Tal alternativa é usualmente denominada castelo d’água como apresentado na Figura 2.5a e 2.5b. Essa é uma alternativa comum em indústrias, centros comerciais em que o reservatório se apoia em estrutura portante, composta por pilares, vigas de contraventamento e fundação adequada. Como desvantagem apresenta-se, o seu impacto visual (caso não haja uma preocupação arquitetônica) e a maior dificuldade de construção se comparado aos reservatórios inferiores. 19 Figura 2. 5 – Exemplos reservatórios elevados independentes da estrutura predial Fonte: O autor 2.2.2 Reservatórios enterrados, subterrâneos ou inferiores Os reservatórios inferiores predominantemente independem da estrutura da edificação. Constroem-se totalmente enterrados (Figura 2.6 e 2.7a), parcialmente enterrados ou na superfície do terreno (Figura 2.7b), apoiados no terreno (Figura 2.8a). Um fator interessante diz respeito à conservação da água armazenada contra as variações de temperatura quando comparado com os reservatórios elevados. Essa solução tem como vantagens: Não alteração a paisagem; Tampa pode servir para as mais diversas funções como: estacionamento, áreas ajardinadas. Os seus principais inconvenientes são: dificuldade de fazer inspeções e manutenção a possíveis infiltrações e fugas de líquido, as escavações de custo elevado a depender das dimensões do reservatório. 20 Figura 2. 6 – Reservatório inferior totalmente enterrado (com sobrecarga de terra na tampa) Fonte: O autor Figura 2. 7 – Reservatório inferior enterrado e semi-enterrados Fonte: O autor Reservatório parcialmente enterrado Os reservatórios parcialmente enterrados são aqueles em que uma parcela do reservatório se encontra abaixo do nível do terreno (Figura 2.7b). Geralmente, essa definição surge por razões de topografia, geotécnicas, paisagísticas ou escavação de custo elevado. Possibilita maior acesso as instalações comparadas com reservatórios totalmente enterrados. 21 2.2.3 Reservatórios ligeiramente elevados (inferiores) Recomenda-se que os reservatórios inferiores prediais das Figuras 2.6, 2.7 e 2.8a, não sejam executados dessa maneira. No passado não havia restrições, porém de acordo com o item 5.2.4.8 da NBR 5626 (1998)que diz: Em princípio um reservatório para água potável não deve ser apoiado no solo, ou ser enterrado total ou parcialmente, tendo em vista o risco de contaminação proveniente do solo, face à permeabilidade das paredes do reservatório ou qualquer falha que implique a perda da estanqueidade. Nos casos em que tal exigência seja impossível de ser atendida, o reservatório deve ser executado dentro de compartimento próprio, que permita operações de inspeção e manutenção, devendo haver um afastamento, mínimo, de 60 cm entre as faces externas do reservatório (laterais, fundo e cobertura) e as faces internas do compartimento. O compartimento deve ser dotado de drenagem por gravidade, ou bombeamento, sendo que, neste caso, a bomba hidráulica deve ser instalada em poço adequado e dotada de sistema elétrico que adverte em casos de falha no funcionamento na bomba. (NBR 5626, 1998) Adequando a recomendação da NBR 5626 (1998), esse tipo de reservatório pode ser classificado como: reservatório inferior ligeiramente elevado (Figura 2.8b, 2.9 e 2.10). A vantagem mais expressiva em relação ao reservatório enterrado é possibilitar a inspeção. Figura 2. 8 – Reservatórios inferior apoiado no terreno e ligeiramente elevado Fonte: O autor 22 Figura 2. 9 – Reservatório inferior enterrado (Segundo NBR 5626: 1998) Fonte: O autor Figura 2. 10 – Reservatório inferior totalmente enterrado (segundo NBR 5626: 1998) Fonte: O autor 2.3 CARACTERÍSTICAS I) Reservatórios elevados ou superiores – paralelepipédicos Além das paredes, tampa e fundo trabalharem como placa, as paredes do reservatório se comportam também como chapa (vigas-parede), pois recebem as reações de apoio das lajes 23 de tampa e de fundo. Nesse tipo de estrutura o projeto deve contemplar a superposição dos efeitos e, portanto, as paredes do reservatório devem ter a segurança verificada tanto como placa, quanto como chapa. Geralmente são posicionados na região das escadas, apoiando-se nos pilares. Recomenda-se que a altura desses reservatórios não ultrapasse 2,5 metros, para evitar elevados esforços nas lajes, mesmo que isto imponha um arranjo em que parte do reservatório fique em balanço em relação aos pilares, como mostrado na Figura 2.11 (FUSCO, 1995). Figura 2. 11 – Arranjo geral de reservatórios elevados Fonte: Adaptada de FUSCO (1995) II) Reservatórios enterrados, subterrâneo ou inferiores – paralelepipédicos Esse tipo de reservatório é calculado vazio e cheio. Quando vazio, há a atuação do empuxo do solo sobre as paredes. Quando cheio, sugere-se desconsiderar o empuxo horizontal provocando pelo solo, supondo somente o empuxo da água agindo de dentro para fora. O terreno a ser implantados deve possuir capacidade suporte admissível e medido o nível de água, pois a presença do nível de água acima da cota do fundo do reservatório requer uma verificação do efeito da subpressão. III) Reservatórios ligeiramente elevados (inferior) – paralelepipédicos Com a exigência da NBR 5626 (1998) esse tipo de reservatório tem particularidades de reservatórios elevados e parte reservatórios enterrados. O processo de cálculo é análogo aos reservatórios elevados ou superiores, porém esse tipo de reservatório em alguns casos é 24 envolvido por um compartimento de concreto como mostra a Figura 2.9 e 2.10. Na Figura 2.8b, mostra-se outra possibilidade para esse tipo de solução. A determinação da NBR 5626 (1998) é justificável, pois o reservatório deve ser construído de tal modo que garanta potabilidade, evite contaminação e que seu interior possa ser facilmente inspecionado e limpo. Os reservatórios inferiores (enterrados), como mostram as Figuras 2.6 e 2.7a, dificultam essa inspeção nas paredes e fundo, já que estão em contato direto com o solo. Obstando assim, o encontro de falhas que porventura venham acometer a estrutura. Implantam-se em terreno com capacidade suporte admissível e deve ser aferido o nível de água. Vale ressaltar, que a presença do nível de água acima da cota do fundo do reservatório requer uma atenção sobre o efeito da subpressão que será abordado com detalhes no item 5.5. IV) Reservatório Cilíndrico elevado (superior) ou inferior (ligeiramente elevado) Conhecido também como reservatório circular, estes são elaborados e executados com a utilização de casca cilíndrica. Devido a sua geometria contendo simetrias de revolução tem uma melhor distribuição de esforços comparados a caixas d’água de geometria paralelepipédica. Uma vantagem considerável do reservatório cilíndrico em relação ao paralelepipédico é que, sob o efeito de pressões hidrostáticas a solicitação principal das paredes é tração, enquanto que, uma parcela significativa de solicitação das paredes dos paralelepipédicos é a flexão. Em virtude da existência da laje do fundo surgem esforços de perturbação no cilindro. Com a restrição de deformação, surgem deformações radiais e angulares impedidas por uma força e um momento de engastamento realizado pela placa que compõe a laje de fundo. A forma circular é menos onerosa quando comparado a reservatórios paralelepipédicos. Isso porque: 1) A capacidade de armazenamento em geral pode ser elevada. Determinados volume e altura, a área S em planta do circulo se comparado à mesma área S quadrada em planta levará a um desenvolvimento menor da parede indicando um reservatório menos oneroso já que o volume e altura são os mesmos para ambos. Ora, o perímetro de uma planta quadrada de área S é dado por: P = 4√𝑆 25 O circular é: P’ = √4𝜋𝑆 = 3,55√𝑆 2) A forma circular tem um comportamento melhor quanto à distribuição de esforços, devido às simetrias de revolução da sua superfície e dos carregamentos. A ligação parede- fundo de reservatórios paralelepipédicos com características semelhantes ao cilíndrico, é submetida a um grande momento fletor se comparado ao circular, necessitando de uma maior quantidade de aço, item mais caro na composição do concreto armado. Portanto, pode-se concluir que o reservatório paralelepipédico é mais oneroso, tanto em concreto como em aço (perímetro aproximadamente 13% maior que o de base circular) e consequentemente maior gasto com impermeabilização (caso se aplique). 2.4 GENERALIDADES Os reservatórios podem ter uma ou mais células com finalidade possibilitar a limpeza do mesmo. A divisão do reservatório em células permite a limpeza de uma das células e depois da outra, pretendendo assim evitar que ocorra uma interrupção no abastecimento de água numa edificação, por exemplo. Devem ser previstas aberturas para inspeção para cada célula existente. No caso de reservatórios elevados com duas células, deve haver duas aberturas. A prática corrente tem utilizado dimensões usuais dessas aberturas de 60 x 60cm, 70 x 70cm. São posicionadas frequentemente nos cantos junto das paredes, como mostra a Figura 2.11. Essas aberturas devem ser cobertas por placas pré-moldadas ou tampas metálicas apoiadas nas bordas elevadas da laje da tampa, com vedação que impeçam a entrada de água da chuva, poeira, inseto e/ou de animais no seu interior. O reservatório deve ser um recipiente estanque e quando destinados a armazenar água potável devem preservar o padrão de potabilidade. A NBR 5626 (1998) define padrão de potabilidade como: “Conjunto de valores máximos permissíveis das características de qualidade da água destinada ao consumo humano, conforme determina a Portaria nº 36 do Ministério da Saúde”. As caixas d’água não devem transmitir odor, cor, gosto outoxicidade à água nem promover ou estimular o crescimento de microorganismos. Tampa do reservatório Na região interna da tampa do reservatório há vaporização do cloro que é altamente corrosivo. Então, o material do reservatório deve ser resistente à corrosão ou ser provido 26 internamente de revestimento anticorrosivo, além de um cobrimento adequado. A situação da parte interna tampa quando submetida à ação dos gases de vaporização do cloro é pior do que as paredes que estão em contato direto com a água. Uma alternativa para garantir a durabilidade e impedir essa ação danosa na parte interna da tampa, é a escolha de um cobrimento que contemple melhor a situação, como será visto no item 4.2. Sugere-se adotar o cobrimento da CAA IV. 3 NÓS ESTRUTURAIS Quando há alteração do eixo de uma estrutura, esta provoca uma mudança na direção dos esforços internos e, por conseguinte, a resultante transversal ao eixo (empuxo ao vazio), que modificam inteiramente a distribuição das tensões em relação à de vigas retas. (LEONHARDT, 1978 b) Na situação de cantos internos vivos (ângulo aproximadamente reto) conhecidos como “quina viva”, o pico de tensões ocasionada pela alteração da direção do eixo, diminui a capacidade resistente de nós estruturais sem arredondamento no lado interno, no caso de elevada percentagem de armadura para momentos negativos (tração lado externo). O canto externo, pelo contrário, fica quase que sem tensões, no caso de não existirem cantos vivos, e seria, portanto dispensável (Figura 3.1). (LEONHARDT, 1978 b) Conforme LEONHARDT (1978 b): O essencial é que a mudança de direção dos esforços internos longitudinais provoca tensões σy, na direção radial, tensões essas de compressão, quando M for negativo, mas, de tração, quando M for positivo. Com a utilização de elementos finitos, I. H. E. Nilsson obteve, para nós de pórticos ortogonais, a distribuição de tensões representada na Figura 3.1 , para ambas diagonais, no caso de momento positivo. As tensões de tração, na direção da diagonal, são tão elevadas, que originam a fissura indicada na Figura 3.1c e podem conduzir ao fendilhamento da zona comprimida na flexão Esse risco deve ser afastado, portanto, através de um detalhamento adequado da armadura. 27 Figura 3. 1 – Distribuição de tensões e trajetórias das tensões principais em nó de pórticos ortogonais, de acordo com Nilson, no caso de momento positivo Fonte: LEONHARDT (1978 b) Os cantos das estruturas de concreto podem ser separados basicamente em dois principais tipos: aqueles que são submetidos a um momento positivo (ver Figura 3.2 (I) – abertura do canto) e os cantos submetidos a um momento negativo (ver Figura 3.2 (II) – fechamento do canto). A região hachurada da Figura 3.2, representa a região de comprimida. 28 Figura 3. 2 – Esboço simples de forças principais em um nó estrutural Fonte: Adaptada de JOHANSSON (2001) 3.1 LINHA ELÁSTICA O emprego da analise da deformada da estrutura via linha elástica, permite determinar as condições de contorno dos elementos estruturais do reservatório. Na Figura 3.3 representa o eixo da peça após a deformação representando a linha elástica da pórtico. Admitindo a clássica hipótese das seções planas de Navier-Bernoulli, que conceitua uma seção transversal qualquer ‘S’, perpendicular e de configuração plana em relação ao eixo geométrico da peça, permanecerá perpendicular e plana ao eixo geométrico deformado durante e após a deformação. Exemplificando, quando o ângulo de inclinação da linha elástica num nó estrutural for no mesmo sentido, define-se a condição de contorno como rotula, ou seja, não há restrição ao giro (Figuras 3.3a e 3.4a) como é o caso da ligação tampa x parede. Caso contrário, será um nó engastado (Figuras 3.3 e 3.4). De acordo com Araújo (2014 b) “quando as placas tendem a girar no mesmo sentido, pode-se admitir que a aresta seja um apoio simples, pois os momentos negativos que surgem nessa ligação são pequenos”. Desse modo, a tampa dos reservatórios elevados pode ser calculada simplesmente apoiada nas quatro bordas. Caso haja duas ou mais células, a continuidade deve ser considerada engastada (ARAÚJO, 2014 b). Determinadas as condições de contorno, vãos teóricos e carregamentos, podem-se utilizar vários métodos para determinação dos esforços como emprego de tabelas 29 consagradas, método de elementos finitos, cálculo pelo método das forças, processo de analogia de grelha, etc. Neste trabalho, serão empregadas as tabelas de Bares (1970). Figura 3. 3 – Representação da linha elástica – Reservatório paralelepipédico elevado Fonte: O autor Figura 3. 4 – Representação da distribuição de momentos fletores – Reservatório elevado Fonte: O autor As condições são análogas para reservatórios cilíndricos. Pode-se desprezar a continuidade dos momentos na tampa e, como no topo do cilindro o esforço radial sob a ação do empuxo da água é praticamente nulo, tolera-se desprezar o efeito da ligação da tampa com 30 as paredes. Deste modo, o reservatório cilíndrico poderá ser calculado supondo a parede desligada da tampa. (ROCHA, 1978) No entanto, nos apoios de lajes que não apresentem continuidade com planos adjacentes e que tenham ligação com elemento de apoio, deve-se dispor de armadura negativa de borda nos apoios de lajes que não apresentam continuidade com ρs ≥ 0,67ρmin. (NBR 6118: 2014). 3.2 MÍSULAS Define-se como uma saliência encontrada geralmente em nós estruturais como mostra a Figura 3.5b. Resumidamente, é um chanfro na aresta da peça a um ângulo geralmente à 45º (com dimensão igual a maior espessura entre os elementos de ligação) como mostra a Figura 3.6a. Figura 3. 5 – Arestas dos reservatórios sem mísulas e com mísulas Fonte: O autor 31 Figura 3. 6 – Seção efetiva mísula adequando a NBR 6118 (2014) Fonte: O autor No desenvolvimento do cálculo de cada laje e seus respectivos esforços nas ligações, considera-se a espessura constante desses elementos. Ao utilizar mísulas nas arestas do reservatório, tem-se um acréscimo de rigidez das placas nas bordas. O que é bastante interessante, pois são nos pontos onde há mudança de direção (arestas) que está localizada a seção critica de fissuração. Quando implantadas mísulas nas seções transversais das ligações, há um aumento da área (Figura 3.5b) e, por conseguinte à diminuição das tensões, gerando acréscimo de rigidez nas bordas das lajes. Na Figura 3.5a é apresentada uma aresta com “quina viva”. Feito uma seção S1 na bissetriz do ângulo, tem-se uma área de seção S1 < S2. Embora a seção S2 a apresentada na Figura 3.5b seja a seção real de um nó com mísula, a NBR 6118 (2014) determina que na ocorrência de mísula ou variação brusca de seção transversal, não deve ser considerada como parte efetiva da seção aquela indicada na Figura 3.5b e sim considerar uma seção efetiva, como mostra a Figura 3.7. A Figura 3.6b representa uma adaptação do item da norma para o caso estudado neste trabalho. Vale ressaltar que além de menor seção, o uso da “quina viva” dificulta também a impermeabilização e cria um ponto que facilita infiltração da água devido à abertura de fissuras esperados nessa região. Por ser uma região com os esforços mais elevados é prudente fazer o uso de mísulas para melhorar a transferência de esforços na mudança de direção do eixo da peça. 32 Figura 3. 7 – Seção efetiva (NBR 6118: 2014) Fonte: NBR 6118 (2014)Conforme a NBR 6118 (2014): Quando houver tendência à retificação de barra tracionada em regiões em que a resistência a esses deslocamentos seja proporcionada por cobrimento insuficiente de concreto, a permanência da barra em sua posição deve ser garantida por meio de estribos ou grampos convenientemente distribuídos. Deve ser dada preferência à substituição da barra por outras duas, prolongadas além do seu cruzamento e ancoradas conforme devidamente (ver figura 3.8). Figura 3. 8 – Mudança de direção das armaduras Fonte: NBR 6118 (2014) – Adaptada As Figuras 3.2(I) e 3.2(II) representam o que ocorre num nó estrutural submetido a um momento fletor. A Figura 3.9a concebe um nó estrutural a 90°, uma “quina viva”. Nesse caso, como a resultante de tração está na direção bissetriz do ângulo (45°), a resultante tende a retificar a barra de aço, pois a única região que impediria a atuação da resultante é composta apenas pelo cobrimento (região “hachurada” Figura 3.9). O que gera o denominado empuxo ao vazio, pois o cobrimento tem por função, a proteção da armadura e não de resistir esforços resultantes de tração nesse ponto. Assim sendo, na Figura 3.9b representa a inserção da mísula 33 e um detalhe executivo da armadura. Observa-se que é necessário fazer o laço mostrado na Figura 3.9b, para evitar o empuxo ao vazio. Figura 3. 9 – Esquema ligação de canto Fonte: O autor A presença da mísula faz com que haja um aumento do braço de alavanca na seção crítica, que é justamente aonde ocorre à mudança de direção da peça (aresta) e ainda é nesse ponto que a resultante de tração das barras é aplicada mais precisamente na bissetriz do ângulo. Segundo Vasconcelos (1998): “A presença da mísula faz com que os pontos críticos à fissuração (Figura 3.10) se situem, normalmente, não nas extremidades das lajes, mas sim, mais para dentro, na extremidade da mísula. É preciso, então, conhecer o valor do momento fletor e esforço normal nesta seção”. Figura 3. 10 – Seção crítica de fissuração Fonte: Adaptada de VASCONCELOS (1998) 34 Destaca-se a seguir alguns pontos que justificam a utilização das mísulas nos nós estruturais de reservatórios. São eles: Melhora a estanqueidade das arestas do reservatório; Aumenta o grau de engastamento entre as placas; Reduz os riscos de fissuração na seção critica de mudança de direção; Melhora concretagem devido à alta concentração de armaduras nessas regiões de canto (congestionamento que não pode ser ignorado); Facilita a aplicação da impermeabilização Evita uma “quina viva”; Melhora transferência de esforços no nó estrutural; Aumenta o braço de alavanca da peça no nó; De acordo com a norma alemã DIN 1045 (1984), a utilização de mísulas deve seguir critérios que possibilitem avaliar a necessidade ou não da mísula. Os critérios se baseiam na taxa geométrica de armadura ρ. Sendo ρ = As/Ac (As = área de aço; Ac =Área de concreto na seção avaliada). Os critérios são: Se ρ ≤ 0,4 % – Mísula não obrigatória; Se 0,4 % < ρ ≤ 1 % – Usar mísula e armadura complementar inclinada com taxa mínima de ρ/2; Se ρ > 1 % – Usar mísula e armadura complementar inclinada com taxa mínima igual a ρ; Deste modo, tem-se um parâmetro para dispor ou não a mísula no projeto. Devido ao expressivo número benefícios fornecidos pelo uso da mísula citados anteriormente, mesmo que a taxa geométrica de armadura (ρ) tenha um valor menor ou igual a 0,4 %, é plausível dispor as mísulas nos nós estruturais. 3.3 DIFERENÇA DE RIGIDEZ No caso do reservatório frequentemente tem-se elementos com espessuras distintas, ou seja, há uma diferença de rigidez. Tomando uma ligação rotulada entre um elemento rígido e 35 outro esbelto e que apesar de serem no mesmo sentido, devido à diferença de rigidez (Figura 3.11a), as rotações dos dois elementos no nó A (Figura 3.11b) não serão iguais e tende a haver fechamento do ângulo reto. Isso porque, o elemento esbelto sofre uma rotação maior do que o elemento rígido. Figura 3. 11 – Diferença de rigidez Fonte: Adaptada de VASCONCELOS (1998) Na Figura 3.12 é apresentado um exemplo esquemático de um reservatório elevado. Considerando as dimensões longitudinais pelo menos maior do que o dobro das dimensões da seção transversal. Sendo assim, tem-se um pórtico composto por lajes armadas em uma direção (laje corredor) e que simplificadamente, pode ser calculada como vigas submetidas à flexão simples com largura da alma (bw) igual a 1,0 m. O carregamento adotado é hipotético. Figura 3. 12 – Seção transversal carregada - reservatório elevado Fonte: Software FTOOL 3.00 (MARTHA, 2015) Na Figura 3.12, à esquerda, tem-se as dimensões: htampa = 15 cm; hparede = hfundo = 20 cm e a direita tem-se: htampa = 15 cm; hparede = 20cm; hfundo = 25 cm. Sabe-se que a alteração 36 da espessura da laje da tampa altera os momentos solicitantes da tampa e o esforço normal nas paredes, devido ao acréscimo de carregamento pelo ao aumento do peso próprio. Deste modo, não há uma alteração do momento devido à diferença de rigidez, já que a ligação entre a tampa e a parede, valendo-se da análise pela linha elástica é uma ligação rotulada (ver Figura 3.3 e 3.4). No entanto, a alteração da espessura da laje de fundo, tornando-a diferente da espessura das paredes, causa uma diferença de momento entres os dois casos da Figura 3.13. Isso ocorre, mesmo sem considerar o acréscimo do carregamento devido ao aumento do peso próprio da laje de fundo, o que aumentaria ainda mais a diferença entre os momentos fletores. A análise dos resultados obtidos permite concluir que o aumento da rigidez da laje de fundo diminui os momentos fletores negativos (ligação fundo-parede), não obstante os momentos fletores positivos da laje de fundo e das paredes aumentam. Demonstrando que a não consideração da diferença de rigidez propicia um erro no processo do cálculo estrutural dos elementos integrantes do nó estrutural avaliado. Então, conclui-se que no elemento mais rígido há um aumento do momento fletor positivo e uma diminuição do momento fletor negativo no nó estrutural em questão. Figura 3. 13 – Momentos Fletores característicos resultantes da Figura 3.12 Fonte: Software FTOOL 3.00 As tabelas para cálculo de lajes levam em conta as condições de contorno, propriedades geométricas da peça, coeficiente de Poisson, mas não há como considerar essa diferença de rigidez manualmente. Faz-se necessário nesses casos para um resultado mais realista, a utilização de softwares (SAP, EBERICK, CYPECAD, TQS) para determinação dos esforços que considerem essa diferença de rigidez não perceptível pelas tabelas de cálculo consagradas. Vale salientar, que as tabelas de cálculo consideram apoios indeformáveis. No 37 caso de vigas-parede, devido a grande rigidez, esta pode ser considerada como apoio indeformável. 4 DURABILIDADE / ESTANQUEIDADE Na elaboração do projeto de uma estrutura de concreto armado além das considerações das características de resistência (ELU) também se deve considerar a durabilidade da estrutura (ELS), sendo esta, sinônimo de uma longa vida útil. A durabilidade representa uma das principais características do concreto e que levou à sua utilização generalizada. A exigência da norma vigente de projeto estruturas de concreto armado no que tange a construção e projeto determina que sob as condições ambientais previstas em projeto para o período da obra sejam conservadas a segurança,estabilidade e utilização durante a vida útil prevista. O concreto é capaz de fornecer décadas de serviço com pouca ou nenhuma manutenção. Segundo a NBR 6118 (2014) durabilidade, “Consiste na capacidade de a estrutura resistir às influências ambientais previstas e definidas em conjunto pelo autor e pelo contratante, no início dos trabalhos de elaboração do projeto”. De outro modo, o termo durabilidade de uma estrutura de concreto refere-se ao tempo de vida útil sob determinada classe de agressividade ambiental (CAA). Conforme o comitê 201 do ACI 350-01, “a durabilidade do concreto é determinada pela sua capacidade de resistir à ação intempéries, ataque químico, abrasão, ou qualquer outro processo de deterioração”. De outro modo, um concreto durável conservará a sua forma original, qualidade e capacidade de utilização quando exposto ao seu ambiente. De acordo com Mehta (1994), “admite-se que um material atingiu o fim da sua vida útil quando as suas propriedades sob dadas condições de uso deterioram a tal ponto que a continuação do uso deste material é considerada, como insegura, ou antieconômica”. 4.1 AGRESSIVIDADE DO AMBIENTE Identificar a classe de agressividade deve ser uma das primeiras decisões a ser assumidas num projeto estrutural. Tamanha importância dessa decisão é pelo fato da relação direta entre a CAA na definição da resistência característica do concreto (fck), dos cobrimentos 38 nominais, aberturas limites de fissuras e até mesmo, espessura da peça. Deste modo, caso haja alguma alteração na CAA, todo dimensionamento da estrutura será alterado. A CAA independe das ações mecânicas, das variações volumétricas de origem térmica, da retração hidráulica e outras previstas no dimensionamento das estruturas, todavia a consideração está sujeita às ações físicas e químicas que atuam sobre a estrutura. Segundo a NBR 6118 (2014), “Nos projetos das estruturas correntes, agressividade ambiental deve ser classificada de acordo com o apresentado na Tabela 4.1 e pode ser avaliada, simplificadamente, segundo as condições de exposição da estrutura ou das partes.” O que não impede o projetista considerar classificação mais agressiva que estabelecido na Tabela 4.1 caso tenha dados relativos ao ambiente em que será construída a estrutura. Tabela 4. 1 - Classe de agressividade ambiental (CAA) Fonte: NBR 6118 (2014) A norma prescreve na falta de ensaios comprobatórios de desempenho da durabilidade da estrutura frente ao tipo e classe de agressividade, e devido à existência de uma forte correspondência entre a relação água/cimento e a resistência à compressão do concreto e sua durabilidade, permite-se que sejam adotados os requisitos mínimos expressos na Tabela 4.2. Desde que, o concreto seja executado com cimento Portland e com o consumo mínimo de cimento que atenda as normas vigentes. 39 Tabela 4. 2 - Correspondência entre a classe de agressividade e a qualidade do concreto Fonte: NBR 6118 (2014) 4.2 COBRIMENTO O cobrimento é a espessura de concreto com a função proteger as armaduras contra agentes agressivos e que representa a menor distância entre qualquer das faces da peça e a superfície da armadura. Deve ser executado cuidadosamente, dado que com abertura de fissuras abaixo do limite e o cobrimento das armaduras não adequado, os agentes agressivos do meio ambiente agem sobre o concreto e na armadura, provocam, respectivamente, os processos de deterioração e corrosão. Os cobrimentos estabelecidos no projeto executivo são mais precisamente os cobrimentos nominais (cnom). Caso o cobrimento nominal selecionado não seja adequado para a CAA às armaduras ficam sujeitas a agressões que podem corroê-las e que em situações mais severas, comprometem a estabilidade estrutural (ver Tabela 4.3). Segundo a NBR 6118 (2014),”Para garantir o cobrimento mínimo (cmin), o projeto e a execução devem considerar o cobrimento nominal (cnom), que é o cobrimento mínimo acrescido da tolerância de execução (Δc).” Logo, a escolha do cnom determina os espaçadores e as dimensões das armaduras que devem respeitar os valores estabelecidos pela tabela 4.3. Os cobrimentos nominais são especificados como a espessura de concreto que vai da face do elemento de concreto ate a armadura (em geral, o estribo). O cobrimento nominal de uma determinada barra deve ser: (cnom) ≥ ϕ barra (cnom) ≥ ϕ feixe = ϕn = ϕ 40 Tabela 4. 3 - Correspondência entre classe de agressividade ambiental e o cobrimento nominal para Δc = 10mm Fonte: NBR 6118 (2014) Vale ressaltar que para superfícies expostas a ambientes agressivos, como reservatórios, estações de tratamento de água e outras obras em ambientes quimicamente e intensamente agressivos, devem ser atendidos o cobrimento da CAA IV. 4.3 ESTÁDIOS I E II No estádio I a tensão de tração no concreto não ultrapassa sua resistência característica à tração (fctk), e não há fissuras consideráveis. Nesse estádio o diagrama de tensão normal ao longo da seção é linear, e as tensões nas fibras mais comprimidas são proporcionais às deformações, correspondendo ao trecho linear do diagrama tensão deformação do concreto (ver Figura 4.1). O estádio II é caracterizado pela presença de fissuras nas zonas de tração e, portanto, concreto situado nessas regiões é desprezado, admitindo-se que os esforços de tração são resistidos apenas pela armadura abaixo da linha neutra. E ainda, admite-se que há uma relação linear entre tensão e deformação especifica no concreto para todos os pontos da seção transversal (ver Figura 4.2). 41 Figura 4. 1 – Seção transversal no estádio I com reações Fonte: CARVALHO (2013) – Adaptada Figura 4. 2 – Seção transversal no estádio II puro Fonte: CARVALHO (2013) – Adaptada Na Tabela 4.4 a seguir, é apresentada expressões para cálculo da profundidade da linha neutra e do momento de inércia nos estádios I e II. Tabela 4. 4 - Características geométricas de seções transversais em lajes Descrição Expressão para estádio I Expressão para estádio II Área Ah = bw . h + (αe – 1) .As a1 . xII 2 + a2 . xII + a3 = 0 Centro de gravidade xI = bw . (h²/2) + (αe – 1).As.d xII= (– a2 ∓ √a2 2 – 4 . a1 . a3) /(2 . a2) Momento de Inercia à flexão II = bw . (h²/12) + bw.h.( xI – h/2)² + (αe – 1) . As . (d – xI)² III = bw . (xII 3 /12) + (αe – 1) . A’s . (d’ – xII)² + αe . As . (d – xII)² Fonte: CARVALHO (2013) – Adaptada Com os coeficientes a1, a2 e a3 iguais a: 42 a1 = bw/2 a2 = hf . bw + (αe – 1) . A’s + αe . As a3 = – d’ . (αe – 1) . A’s – d . αe . As – hf2/2 . bw Onde: bw - Largura de cálculo da laje h – Espessura da laje d - Altura útil αe - correlação entre os módulos de elasticidade do aço e do concreto). As - Área da seção transversal da armadura longitudinal de tração As´ - Área da seção da armadura longitudinal de compressão xI - Profundidade da linha neutra – Estádio I xII - Profundidade da linha neutra – Estádio II II – Momento de inércia no estádio I III – Momento de inércia no estádio II 4.4 RETRAÇÃO POR SECAGEM OU RETRAÇÃO HIDRÁULICA Esse fenômeno é inevitável ao concreto se exposto à umidade abaixo da condição de saturação que está correlacionada a estabilidade dimensional. Segundo Mehta (1994), “A pasta saturada não é dimensionalmente estável. Enquanto mantida a 100% de umidade relativa (UR), praticamente não ocorre variação dimensional”. Porém, como normalmente a umidade ambiente está abaixo de 100%, o concretocomeçará a perder água e retrair. Mas esse processo é parcialmente reversível desde que fatores influentes como: área de aço, cura do concreto, temperatura, materiais e dosagem do traço, umidade, sejam devidamente determinados. A retração consiste na contração resultante da variação de umidade do concreto. A contração manifesta-se imediatamente após o adensamento (contração no estado fresco), e a seguir após o início do endurecimento (retração por secagem). Se tratando de retração por secagem, a cura é o fator preponderante que deve ser assegurada de modo diligente, ou melhor, se não for impedida a evaporação de água do concreto, os efeitos da retração serão muito mais severos, possibilitando ainda a baixas idades, a apresentação de fissuras. (ANDRADE, 1997) 43 Simplificadamente, a retração pode ser compreendida como uma diminuição de volume das peças concretadas e pode ter várias origens. Mais comumente percebida em superfícies horizontais de grandes áreas, como lajes e pavimentos, as perdas de água por evaporação para o ambiente ou por sucção para o substrato são as principais causas da retração plástica e da retração por secagem. Em alguns casos, as primeiras manifestações da retração verificam-se antes da pega do concreto e pode ser resultado da perda de água por evaporação ou sucção do substrato. (SILVA; BATTAGIN, 2012) Segundo Mehta (1994), “o concreto apresenta deformações plásticas bem como inelásticas quando sob carga, e deformações de retração na secagem ou resfriamento. Quando restringidas, as deformações de contração resultam em complexos padrões de tensões que frequentemente levam a fissuração.” Deste modo, a restrição ao encurtamento por de fatores como, por exemplo, rigidez da estrutura, o atrito com a base, retração diferencial, etc; provoca as tensões de tração que levam ao aparecimento abertura de fissuras que podem prejudicar a estanqueidade. De acordo com Fusco (1976): A retração é um fenômeno de variação espontânea de volume que ocorre no concreto e em outros materiais cuja estrutura interna seja de natureza porosa, na ausência de tensões mecânicas e de variações de temperatura. Essa variação é usualmente constituída por uma redução de volume, embora também possa ocorrer o fenômeno inverso, de expansão, quando peça estiver mergulhada em água. A relação entre retração e durabilidade é de fundamental importância, pois a retração é uma das principais causas de fissuração. Deste modo, mesmo que um projeto estrutural de um reservatório siga rigorosamente os itens da NBR 6118 o resultado final satisfatório só será possível, com a determinação dos itens envolvidos de forma coerente. Como exemplos de propriedades consideradas em projetos e que devem ser rigorosamente atendidas têm-se: fck, cobrimento, abertura de fissuras, disposição de armaduras, relação água cimento, etc. 44 4.5 FISSURAS Um dos principais problemas patológicos de uma estrutura de concreto, a fissuração, pode causar o comprometimento do desempenho dos reservatórios devido à falta de estanqueidade, levando a diminuição da durabilidade e até mesmo perda da funcionalidade. Surgem em decorrência de retração do concreto, cargas externas e de variações de temperatura. A fissuração excessiva, ou seja, que ultrapasse os limites estabelecidos por norma, é considerado um comportamento inadmissível devido ao problema de estanqueidade do reservatório. Portanto, deve-se controlar fissuração prejudicial à utilização da estrutura com uma margem adequada de segurança. Conforme Mehta (1994), “para materiais com baixa resistência à tração, como o concreto, a deformação de contração por resfriamento é mais importante do que a expansão devida ao calor gerado pela hidratação do cimento”. Porquanto, a depender do módulo de deformação, do grau de restrição da peça e da relaxação da tensão devida à fluência, as tensões resultantes podem ser grandes o suficiente para causar fissuração. De acordo com Mehta (1994), “as deformações no concreto, que frequentemente levam à fissuração, ocorrem como um resultado da resposta do material à carga externa e ao meio ambiente”. No entanto, é possível o elemento estrutural estar livre de cargas externas importantes (por exemplo, durante o processo de construção – sem o carregamento hidráulico e revestimentos) e, ainda assim apresentar fissuras excessivas que surgem em consequência da restrição das deformações de retração ou contração térmica do elemento como mostra a Figura 4.3 (ARAÚJO, 2014 a). De acordo com Araújo (2014 a), “Quando a parede sofre retração, o seu movimento é restringido pela base. Com isso surgem esforços de tração na parede, os quais produzem fissuras indicadas na Figura 4.3 (III)”. Não só restrição pela base, mas também pelo engastamento com as paredes. Segundo a NBR 6118 (2014), “O risco e a evolução da corrosão no aço, na região das fissuras de flexão transversais a armadura principal dependem essencialmente da qualidade e da espessura do concreto de cobrimento da armadura”. O que demonstra a importância de uma boa execução para minimizar os problemas com fissuração. E sabe-se ainda, que o aumento da abertura de fissuras provoca uma diminuição da rigidez como visto no item 4.4 (estádio II). Por isso, o controle da fissuração é tão relevante no desenvolvimento de projetos estruturais e amplificado para casos de estruturas que requerem estanqueidade. 45 Figura 4. 3 – Fissuras em paredes de concreto armado devidas à retração e/ou às variações de temperatura Fonte: O autor A NBR 6118 (2014) apresenta o valor característico da abertura de fissuras como wk. Se wk ≤ wk,lim e o cobrimento for selecionado de acordo a classe de agressividade ambiental compatível com o local da construção, quanto a formação fissuras, têm-se a expectativa que armadura não fique exposta como mostra a Figura 4.4. Sugere-se que a CAA adotada para as faces internas do reservatório (em contato com a água), seja a CAA IV. Figura 4. 4 – Representação da situação da peça fissurada Fonte: O autor Para atender as exigências de durabilidade em elementos de concreto armado, a NBR 6118 (2014) fornece os valores de aberturas características limites de fissuras na superfície do concreto dados na Tabela 4.5. 46 Tabela 4. 5 – Exigências de durabilidade relacionadas à fissuração e à proteção da armadura, em função das classes de agressividade ambiental Fonte: NBR 6118 (2014) - adaptada A NBR 6118 (2014) apresenta expressões para determinação do valor característico da abertura de fissuras (wk) em cada parte da região de envolvimento da armadura (Figura 4.5). O valor de wk é o menor obtido pelas expressões a seguir: 𝐰𝐤 = ∅i 12,5 . η1 σsi Esi 3 . σsi fctm (4.5.1) 𝐰𝐤 = ∅i 12,5 . η1 σsi Esi ( 4 ρcri + 45) (4.5.2) Onde: σsi, ϕi, Esi, ρri são definidos para cada área de envolvimento em exame; Acri é a área da região de envolvimento protegida pela barra ϕ; Esi é o módulo de elasticidade do aço da barra considerada, de diâmetro ϕi; ϕi é o diâmetro da barra que protege a região de envolvimento considerada; ρri é a taxa de armadura passiva ou ativa aderente (que não esteja dentro de bainha) em relação à área da região de envolvimento (Acri); σsi é a tensão de tração no centro de gravidade da armadura considerada, calculada no estádio II. fct,m é
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