Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Obesidade infantil: comer dormir brincar 1 Capítulo 1 Huummm... É chocolate! Pensou o doutor, reconhecendo que aquelas partes mais durinhas do bolo eram deliciosas gotas de chocolate. Ele estava comendo o lanche da tarde em sua própria sala de atendimentos porque, há uns dez anos, decidiu evitar sair para ter mais tempo de se deliciar com o alimento.1 Antes, quando ele se deslocava até a lanchonete, perdia tempo no trajeto e acabava comendo tão depressa que praticamente nem saboreava o delicioso quitute escolhido. Então, considerando que os momentos de refeição são necessárias fontes de prazer do dia, decidiu ou levar de casa ou comprar o lanche da tarde no horário do almoço e comê-lo em sua mesa mesmo. Foi assim que conseguiu tempo adequado para alimentar-se, com sossego, no meio da tarde e, comprometido com sua saúde, respeitar este momento seriamente. Depois que ele começa a comer, não faz mais nada, até que termine sua última e saborosa mordida. Enquanto mastigava, olhou para sua janela e viu que, lá fora, a tarde estava esfriando. As folhas das árvores se movimentavam com a brisa e mostravam, por trás delas, os enormes holofotes da quadra da escola. Ao vê-los ele se lembrou que a próxima família a ser atendida havia sido indicada pela coordenadora pedagógica de lá. Assim que sua boca esvaziou, mordeu outro pedaço e fechou os olhos para saborear melhor. As reuniões nesta região foram muito proveitosas, relembrou. O comprometimento dos professores para associar o conteúdo escolar com a boa saúde corporal se efetivou e beneficiou a todos. Olhou para seu delicioso bolo, deu outra mordida nele e, com os olhos fechados, gemeu baixinho "humm", "hummm" e constatou: Eu ado-o-ro chocolate! 1 A cadeia alimentar é, em geral, aprendida na escola. Na Educação Básica esse conteúdo tem início, mais ou menos, no 3º ano do ensino fundamental. Devido à importância deste tema para a formação dos seres humanos é revisto, melhor, no ensino médio. Veja mais em Amabis, J. M. e Martho, G. R. (2001) Fundamentos de Biologia Moderna (para o ensino médio), Edit. Moderna. Quem está vivo precisa comer1 Profª Drª Claudia Cezar 2 Saboreando cada bocado com satisfação, ele passou seus olhos pela sala e os fixou na frase do quadro, pendurado na parede, em frente à sua mesa. Qual é a minha intenção? Leu só com os olhos: "Qual é a minha intenção?" e, ainda mastigando, sorriu. Colocara esta informação bem ali para se lembrar de estímular as pessoas à entenderem que a boa saúde é uma das maiores riquezas do ser humano. Por esta iniciativa, sentiu-se satisfeito consigo mesmo. Depois ficou sério e suspirou, sentindo-se chateado, pensou: Após tantos anos tratando pessoas, reconheço que a maioria delas ainda não sabe que perder peso sem tratar as causas da obesidade é o que mais facilita a construção desta e de outras doenças. Além de que, falou para si mesmo, perder peso nem é tratar-se da obesidade. Apenas prejudica a própria saúde, desabafou baixinho e pôs seus olhos sobre a xícara. Mastigando, releu a frase mentalmente e pensou: Quem tem a intenção de tratar-se da obesidade precisa querer parar de sofrer com dietas. Assim que esvaziou a boca, tomou um gole de seu delicioso cappuccino. Estava adoçado com açúcar porque, outra escolha que ele decidiu, há décadas, é aproveitar cada uma das refeições ao máximo, como se fosse a sua última.2 Afinal, a vida é finita.3 Mordendo mais outro pedacinho de seu delicioso bolo, pensou: 2 Uma referência mundial, clássica, em Nutrição é Mahan, L. K. and Escott-Stump, S. (2000) Krause's food, nutrition and diet therapy, Saunders -10th ed. (disponível também em português). Uma outra referência, nacional, em obesidade infantil e alimentação consciente, inteligente e mais humana é de Ctenas, M.L.B. e Vítolo, M.R. (1999) Crescendo com saúde, C2 Editora. 3 Sentir-se satisfeito(a) com o que escolhe para comer é parte fundamental do tratar-se, bem, da obesidade, de forma inteligente e não inclui comer alimentos "sem sabor" nem com "gosto ruim”. Obesidade infantil: comer dormir brincar 3 O que mais dificulta as famílias ensinarem seus filhos sobre vida saudável é que todos estamos assumindo mais compromissos do que é humanamente possível e, desde cedo, estamos aprendendo a exigir demais de nós mesmos. Esforços que são sobrecargas desnecessárias à boa saúde. Mas, muitas vezes, descobrimos isso tarde demais, lastimou. 4 Percebendo que estava se chateando, sacudiu a cabeça e buscou levantar seu astral com um raciocínio mais otimista: É por isto que professores comprometidos com a associação de conteúdos fazem toda diferença na saude das pessoas. Preciso me manter lendo a frase da intenção para, durante minhas consultas, conectar as soluções de problemas na saúde com o sério conteúdo das salas de aula. Certamente é a melhor forma de facilitar esta aprendizagem tão útil para a vida toda. Afinal, concluiu, se as pessoas se rendem às propagandas enganosas é, principalmente, devido à falta de conhecimento sobre o que realmente seja boa saúde para seu corpo. Somente quando entendemos a complexidade do processo saúde-dença conseguimos viver melhor e adoecer menos. Mesmo fazendo escolhas alimentares apetitosas ou difamadas como ruins porque temos critérios para analisar a informação. Sorrindo afirmou: Encontrar soluções para nossas necessidades de saúde por meio do conteúdo escolar é o que nos livra da culpa de comer o que gostamos porque, sem medo de errar, aprendemos a dominar o assunto. Neste momento sentiu satisfação e relembrou: Associar o conteúdo escolar na consulta a tornou mais significativa. As orientações de mudanças ficaram mais divertidas e a dor ou o sofrimento de quem está obeso diminuiu. Terminou seu lanche, limpou tudo e escovou os dentes. Voltou e sentou-se à mesa para ler a ficha da família que iria entrar. Percebeu que seria um caso complicado porque esse garotinho, depois que foi diagnosticado como obeso, ficou assustado e muito triste. Tentanto interromper seu sofrimento, decidiu parar de comer até emagrecer. Já estava ficando bastante fraco. Sem sucesso, os pais já tinham feito de tudo, mas ele não voltara a se alimentar. Agendaram a consulta porque a situação estava piorando. Sua saúde desequilibrada estava tirando a tranquilidade da família. Sua fraqueza física e confusões cognitivas, por fome, já colocavam em risco de fracasso o rendimento escolar dele e as profissões dos pais. 4 Para iniciarmos direto pela história, as páginas técnicas foram movidas para o final do livro. Profª Drª Claudia Cezar 4 Depois que terminou a leitura, o doutor colocou sobre sua mesa um torso humano, que é um tipo de boneca para estudar a anatomia do nosso corpo. Mudou suas peças internas para montar uma gravidez e foi abrir a porta. Sorrindo, convidou a nova família para entrar. Juntos, papai, mamãe e um lindo garotinho se encaminharam para a sala de atendimento. Desconhecendo que a obesidade pode ser uma doença tão séria quanto o câncer5, o menino entrou contrariado. Olhando nos olhos do doutor o garotinho disparou um desafio. Com um tom de voz bem agudo, como nos acontece quando queremos falar sem soltar o choro que está sufocado na garganta, ele disse: O doutor entendeu o conjunto de emoções que estavam por trás daquele comportamento. Ele sabe que podemos sentir raiva quando não conseguimos nos livrar de uma doença crônica e que constatar essa forma de impotência, de insuficiência,nos entristece. Por experiência própria, o doutor também sabe que, quase sempre, nós nem temos consciência de que estamos sentindo e sofrendo tudo isso junto. É que em nossa educação, tanto familiar quanto formal, discutimos pouco sobre nossas emoções, sentimentos e sensações. Com um semblante sereno e atento, o doutor o ouviu. Em seguida, cumprimentou cada um dos pais com um aperto de mãos agradável e, gestualmente, indicou que se acomodassem nas poltronas em frente da mesa. Se sentou e dispôs, para eles, uma jarra de água e 3 copos. Com voz calma, do tipo que tranquiliza quem ouve, ele pegou aquela réplica de mulher grávida, com o bebê em seu ventre e, empurrando-a para a frente do menino, disse: Você já percebeu que ninguém precisa pedir para o seu próprio corpo crescer? 5 Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a obesidade é uma doença de causas múltiplas. Por ser inflamatória e degenerativa somente se reverte com tratamento. Veja mais na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10). Eu não quero comer! Por que preciso comer se estou obeso? Obesidade infantil: comer dormir brincar 5 Reparou que ninguém tem que mandar o bebê se transformar em uma criança porque sozinho, seu corpo sabe virar um adolescente e, be – e – e - m depois, um adulto? O garotinho olhou para o boneco na mesa e percebeu que nunca tinha pensado que não mandamos nem pedimos que o corpo se modifique pois ele faz tudo sozinho. Tomado pela novidade, ele se esqueceu das sensações ruins que estava sentindo e perguntou, curioso: Assim que o menino prestou atenção, o doutor identificou que conseguiu tornar o assunto interessante para ele. Então, abriu uma das gavetas de sua mesa e tirou de lá uma grande caixa de acrílico fosco, no formato de um crânio humano! Enquanto abria a mandíbula desta falsa caixa óssea, olhou nos olhos do garotinho e, pela "boca da caixa", derrubou parte do seu conteúdo sobre a mesa perguntando: Você já brincou com isto? Olhando várias pecinhas de montar serem esparramadas sobre a mesa, o garoto sorriu e, imediatamente, começou a encaixar algumas. Sem perceber suas emoções, o menino foi se acalmando enquanto se interessava pelo desafio festivo que surgira, inesperadamente, em sua frente. Ligeiro e esperto, associou as peças de montar com o assunto do corpo “crescer sozinho” e, entrando na brincadeira do doutor, segurou uma delas e perguntou para ele: Então, você vai dizer que essa peça aqui é como se fosse o nosso coração? O doutor sorriu largo e deixou bem claro que havia ficado contente com a esperteza do menino. Pegando de suas mãozinhas, aquela paredinha que ele tinha acabado de montar, respondeu: Quero dizer que o coração é um conjunto de pecinhas, como este aqui, que você reuniu. Ainda sorrindo e olhando nos olhos do garoto, continou: Por quê? Profª Drª Claudia Cezar 6 É que o coração é um órgão formado por muitas pecinhas. Elas são as nossas células6, as células cardíacas. Entendendo a explicação, o garotinho soltou um sonoro “uau” e olhou para seus pais, procurando por uma confirmação deles. Ele gosta de ter certeza das coisas e ainda não confiava nesse doutor. Foi quando viu que cada um deles também tinha montado uma paredinha e sorriu. Pensando que um adulto não deveria se divertir em uma consulta, seu pai sorriu sem jeito e disse: Este conjunto aqui é o cérebro. Sua expressão, agora, era suave. Estava gostando do tipo de explicação que era divertida e, ao mesmo tempo, verdadeira e importante para a saúde. Demonstrando que também estava concordando com a estratégia, a mamãe mostrou sua própria paredinha e, sorrindo, informou: Este aqui é o pulmão! Excelente. Disse o doutor sorrindo também e, com gentileza, corrigiu a informação da mamãe dizendo: Nos pulmões, direito e esquerdo, as pecinhas são os alvéolos e, no cérebro, suas células se chamam neurônios. A mamãe sorriu e, com a cabeça, confirmou que havia entendido a correção. Como todas as pessoas que gostam de aprender, ela também não se incomoda de ser corrigida, desde que seja com gentileza. O doutor entendeu o gesto dela e continuou: Cada órgão é um conjunto de células e, embora diferentes, todas são extremamente inteligentes7. Sozinhas, elas fazem o órgão funcionar e crescer de forma perfeita! Completou, maravilhando-se com as capacidades delas. Como nada perguntaram mas continuavam atentos, o doutor reuniu as 3 paredinhas e complementou: 6 Estas informações estão disponíveis tanto em livros para especialistas (1) quanto para o ensino médio (2). (1).As celulas são os blocos com que se constroem todas as formas de vida do universo vivo, com mais de 4 milhões de espécies diferentes - De Robertis e De Robertis Jr. (1993) Bases da biologia molecular e celular - Ed. Guanabara Koogan (2) Citologia (do grego kytos, célula, e logos, estudo) é o ramo da Biologia que estuda as células e teve início com a invenção do microscópio - Amabis e Martho (2001) p 76 – citado na nota de rodapé nº 1. 7 A central de inteligência e de informações das células é o núcleo. A linguagem que usam para se comunicar é o código genético - Harper, H. A.; Rodwell, V. W. e Mayes , P. A. (1982) Manual de química fisiológica - Ed. Atheneu, p 502. Obesidade infantil: comer dormir brincar 7 Nosso corpo é formado pelo conjunto dos órgãos, por isto também é chamado de organismo8. Sorrindo, continuou: Em outras palavras, não precisamos pedir que as células façam nosso corpo funcionar e crescer porque elas sabem que precisam e devem fazer isto. Porém, elas somente conseguem fazer tudo isso por nós se soubermos cuidar delas, instigou ele, expressando um mistério valioso! O garotinho perguntou imediatamente: Durante uma fração de segundos o doutor parou e, olhando nos olhos do garoto pensou: Ele fez essa pergunta porque está entendendo. É inteligente, curioso e interessado! Está correspondendo às minhas provocações de raciocínio e este é o momento certo para eu começar a responder a primeira pergunta que ele fez quando chegou: “por que preciso comer se estou obeso?” Então abriu um largo sorriso e disse: Cuidamos das nossas células fazendo 3 coisas todos os dias. Ele desenhou um triângulo e em cada base escreveu um verbo: comer, dormir brincar. Voltou a olhar para o rapazinho e explicou: 1º Nós precisamos comer porque é o alimento que fornece energia para nossas células funcionarem e matéria prima9 para elas crescerem, para consertarem os nossos órgãos e para nos defenderem de vírus ou de doenças. 8 “Cada componente de um organismo vivo tem uma função específica. Isso é verdade não apenas para estruturas macroscópicas em animais, como coração e pulmões, e vegetais, como folhas e caules, mas também para estruturas microscópicas intracelulares, como o núcleo ou o cloroplasto, e de componentes químicos individuais" - Nelson, D. L. and Cox, M. M. (2000) Lehninger Principles of Biochemistry, Worth Publishers, p 4. 9 A matéria dos alimentos é formada por seus nutrientes, cuja energia é a capacidade de realizar trabalho, de fazer a matéria se mover. Na natureza, a energia existe em diferentes formas, mas a que está presente dentro da matéria é a energia interna, que é química. Segundo o Sistema Internacional de Unidades (SI) estas unidades de energia podem ser medidas em joule (pronuncie joul), simbolizado por J, ou em caloria, simbolizado por cal - Ucko, D. A. (1992) Química para as Ciênciasda Saúde, Ed. Manole. Como se cuida de células? Profª Drª Claudia Cezar 8 Por que todos os dias? 2º Precisamos brincar para evitar que nossas células se atrofiem por falta de uso e é muito melhor fazermos isso nos divertindo, de forma descontraída, livre e prazerosa.10 3º Precisamos dormir para diminuir o esfoço delas pois continuam trabalhando à noite! Nós crescemos durante o sono, respiramos, temos o sangue circulando e o cérebro funcionando. É apenas quando estamos dormindo que elas conseguem consertar, melhor, os estragos que ocorreram durante o dia. Curam nossos cortes, as doenças e nos defendem dos vírus. Elas trabalham muito, de dia e de noite, disse ele sorrindo. Os pais também sorriram. O doutor nem percebeu mas, finalmente, eles estavam começando a ficar tranquilos e, naquele exato momento, até relaxaram seus músculos e se sentaram mais confortavelmente. O garoto, enquanto ouvia, lembrava de alguns dos assuntos que estava aprendendo na escola11. Achando que a explicação fazia sentido, ele pensou um pouco e disse: Entendi. Nosso corpo precisa comer, brincar e dormir todos os dias para cuidar das células. Depois, pensou um pouco mais e decidiu perguntar: 10 Na psicanálise “o princípio de prazer é a força motriz que nos guia e, possivelmente, o impulso guia mais forte do viver”. Mas, na contramão, cresce o número de regras que pretendem nos preparar para a vida adulta. Em paralelo tem aumentado, também, a incidência de doenças mentais, a ansiedade, a depressão e o suicídio. Contudo, a vida humana é regida por ambos, tanto pelo princípio do prazer quanto pelo princípio de realidade. O brincar é uma forma divertida de aprender a lidar com ambos, compará-los e até de checar seus resultados. É brincando que desenvolvemos valores, nos libertarmos do medo e nos preparamos, melhor, para a vida. Inclusive na fase adulta, pois o prazer é uma das necessidades humanas. Ver, a frente, a nota 27. 11 Estudamos, na escola, sobre fotossínte, cadeia, teia e rede alimentar porque é exatamente isso que ocorre em nossas células. Nós, os seres vivos, somos formados por matéria orgânica, também chamada de biomassa, que, pela alimentação, é passada de um ser para o outro. Tanto durante o dia, quanto à noite, no período de sono. Esta transferência de matéria entre os seres vivos permite a reutilização dos elementos químicos, precisamente como ocorre nos ciclos de carbono, C, oxigênio O e nitrogênio, N. O mesmo ocorre durante o movimento, em nossas contrações musculares) - Amabis e Martho (1997) p 19 - nota 2.2. Obesidade infantil: comer dormir brincar 9 O doutor ficou radiante de alegria com a pergunta porque, sem pergunta não se constrói um diálogo. Carinhosamente ele respondeu: Você já percebeu que se não comemos nosso corpo adoece? Mas antes de receber uma resposta continuou: Já reparou que se não brincamos todos os dias, nosso corpo sente dores e se atrofia? Quanto melhor nosso condicionamento físico, mais gostamos de brincadeiras que exigem ações musculares como os jogos com bola e os esportes!12 Percebeu que ficamos muito cansados e adoecemos quando dormimos pouco por um, ou mais, dias? Mesmo quando o corpo está adulto. Disse ele, olhando para os pais que se sentiram espantados ao reconhecerem que a falta destes 3 cuidados, afetam os adultos também. Sem comentários, para não atrapalhar a explicação, continuaram prestando atenção mas pareceram pensativos. Ainda curioso, o garotinho perguntou: Comer, brincar e dormir são necessidades básicas das nossas células, ele respondeu. Precisamos satisfazer estas necessidades todos os dias para que, sem adoecer, elas funcionem perfeitamente. Só desta forma experimentamos boa disposição física e mental, sentimos vontade de fazer coisas e participar de atividades.Pois temos ânimo de viver, completou o doutor animadamente. Ele questionou, querendo entender melhor. O doutor percebeu que precisava explicar de maneira mais concreta. Seria importante falar de uma forma que fizesse mais sentido para a realidade do garoto. Então, pensou por alguns segundos e disse: Nós precisamos comer, dormir e brincar todos os dias, por muitos motivos, mas dois deles são os principais: 12 Nosso corpo sente prazer em movimentar-se mas não quando estamos doentes. Para tratar- se da obesidade não é obrigatório incluir movimentos no brincar, mas divertir-se é fundamental. Descrito detalhadamente em Cezar, C. (2019 - 2ª ed. no prelo) Comer tratar curtir: obesidade tratada com abordagem Psicossomática, Ipepcoh Publicações. Mas, por quê? Por quê? Profª Drª Claudia Cezar 10 O 1o motivo é que só temos corpo Ao nascer, nós ganhamos este corpo que fica conosco por to-o-o-da a vida. Com expressão engraçada disse: Nosso corpo é diferente de uma coisa comprada, como um carro, um computador ou um telefone celular. A medicina até permite que troquemos certas partes do corpo, mas ainda é impossível trocar o corpo inteiro com alguém, por exemplo, trocarmos o nosso corpo pelo corpo musculoso de um atleta, brincou. Todos riram e o doutor continuou: Isso significa que, como vamos ficar com ele até o final, precisamos cuidar do corpo que temos e a melhor forma é satisfazendo as necessidades de cada uma das nossas células. Como expressavam entendimento e concordância, ele continuou: O 2o motivo é que evita dores e doenças! Comer, brincar e dormir todos os dias evita que o corpo sinta dor ou, pior, que adoeça!13 Ao organizarmos nosso dia, para conseguirmos comer, brincar e dormir, damos condição adequada para nossas células levarem nosso corpo para o estado saudável. A condição ideal para ele ficar bem disposto e funcionar bem! Então, mostrou uma imagem:14 13 Fartamente disponível na literatura, esse conhecimento quase sempre está descrito de forma fragmentada devido à maneira como seu entendimento foi construído na história humana. São muitos os textos referenciais mas, para dormir, sugiro Nieman, D.C. (1999) Sono, cap 16 - pgs. 217-226 in Exercício e saúde, Ed. Manole; Colten H.R. and Altevogt, B.M. (2006) Sleep Disorders and Sleep Deprivation: an unmet public health problem, National Academies Press; Heywood, K.M. e Getchell, N. (2009); para brincar: Desenvolvimento motor ao longo da vida, Artmed - 5ª ed.; Gallahue, D.L; Ozmun, J.C. (2006) Understanding motor development, McGraw- Hill, - 6th ed. e para comer ver a nota de rodapé nº 2. 14 Assim como a engenharia precisa da arquitetura, optamos por usar imagens para facilitar o entendimento dos pequenos, que não lêem, fomentar o pensamento simbólico e as conexões entre diferentes conhecimentos ou as analogias mais complexas. Estado de má saúde Estado obeso Estado desnutrido Estado de má saúde Estado de boa saúde Estado saudável Conquistar o estado saudável é uma arte prazerosa e diária Obesidade infantil: comer dormir brincar 11 Com estes 3 cuidados diários, as células dos nossos órgãos podem trabalhar com perfeição e nos devolver boa saúde.15 Assim conseguimos fazer tudo o que queremos. Quando o doutor parou de falar, o garoto continuou olhando em seus olhos sem dizer nada. Interpretando aquele gesto como um comportamento que demonstra falta de entendimento ele instigou um diálogo, perguntando: Você já dormiu menos do que seu corpo precisava e, no dia seguinte, ficou indisposto, sem energia para brincar, passear, estudar e, em algumas vezes, até para comer? Já observouque se comemos menos do que o nosso corpo precisa, também ficamos com pouca energia no outro dia? Mas antes que o garoto respondesse, ele continuou: A restrição energética por falta de alimentos é igual ou pior à restrição de sono16. Sem alimento, as células não conseguem nem funcionar nem fazer o crescimento corporal acontecer! Sem energia, elas não conseguem funcionar e até respirar se torna difícil. Isso facilita ou até provoca o desenvolvimento de doenças respiratórias, de pele e outras. Comer pouco, prosseguiu ele, também provoca enfraquecimento e queda dos cabelos ou das unhas que, igualmente às outras partes do nosso corpo, também são formados por células. Além disso, nos casos mais graves, pode até afetar nossa capacidade de pensar e de aprender. O garoto ouvia tudo, atentamente. O som baixo da risada dos pais chamou a atenção do doutor. 15 O texto em negrito é uma leitura mais rápida. Ele mostra os pontos essencias da página. 16 A restrição energética, provocada pela privação de nutrientes dos alimentos, resulta em uma condição chamada de desnutrição ou subnutrição. Começa em nível de gravidade leve mas sem tratamento e alimentação suficiente, piora e pode levar à morte - Sawaya, A. L. (1997) Desnutrição no Brasil, Ed. Cortez. A anorexia é um tipo de desnutrição mais complexa pois envolve adoecimento mental. Em adultos, a privação alimentar potencializa a osteopenia e a osteoporose. A privação de sono afeta hormônios que alteram a percepção de forme e de saciedade - Colten H.R. and Altevogt, B.M. (2006) já citado na nota de rodapé nº 13. A desnutrição energético proteica não ocorre em obesos, veja mais na nota de rodapé nº17. Profª Drª Claudia Cezar 12 Ele olhou a cena e percebeu que, por trás do filho, os adultos estavam trocando olhares e gestos que expressavam satisfação. A ênfase da consulta estava atendendo exatamente o problema de comportamento que o garoto vinha apresentando: “comer pouco para emagrecer”. E parecia que a maior alegria deles era perceber o interesse do filho pelo tema, pois prejudica as células, o funcionamento da mente e do corpo. Recompensado, ele sorriu internamente e voltou seus olhos para a criança que estava, realmente, compreendendo que a ação de comer é essencial para o bom funcionamento das células do corpo e, por isto, neste instante, o doutor resolveu aprimorar sua estratégia. Apontando para um enorme quadro de vidro, ilustrado e muito colorido, preso na parede, anunciou: Este é o Metamapa da Saúde. Observem que as imagens dele explicam o que falamos até agora. Do lado esquerdo está a desnutrição, um processo degenerativo que ocorre quando não satisfazermos as necessidades das nossas células e, com isso, tiramos o corpo da condição de boa saúde e o levamos para a desnutrição:17 Sabe por quê? Questionou o doutor. O garoto respondeu que não apenas balançando sua cabeça e ouviu: Comer menos do que o corpo precisa dificulta o funcionamento das células, enfraquecendo o coração, os pulmões e todos os outros órgãos do nosso corpo. Acostumar-se a dormir pouco faz nossos músculos ficarem cansados. Doem nossas articulações, nossa cabeça, nossos olhos e tudo perde a graça. 17 Costumava-se dizer que nosso estado nutricional, ou estado de nutrição, reflete o que comemos. Ao ingerirmos menos que o necessário, o alteramos para a desnutrição e o excesso alimentar nos leva para a obesidade. Porém, hoje se sabe, que nosso corpo é afetado, também, pelo sono e pelo estilo de vida fisicamente ativo. Assim, em vez de estado nutricional é mais adequado dizer estado de saúde corporal. Como a imagem mostra, obesidade e desnutrição são estados de saúde corporal opostos e, por isto, não existe pessoa que esteja obesa e, ao mesmo tempo, desnutrida. Pode em alguns casos, haver obesos anêmicos ou obesos com alguma hipovitaminose, mas nunca obesos desnutridos. Inclusive, também não existe o estado de sobrepeso (ou condição de sobrepeso) porque, por definição, obesidade é excesso de gordura corporal e não de peso. Assim como na gravidez, ou a pessoa está obesa ou não está e para identificar esta diferença é necessário realizar o diagnóstico da obesidade. Veja mais em Mendes, R. (2018) Dicionário de Segurança e Saúde do Trabalhador, Ed. Proteção pp 489-491. Estado Desnutrido Estado Saudável falta de cuidados com as células Estado de má saúde Obesidade infantil: comer dormir brincar 13 É que nestas condições, o doutor continuou, as células ficam enfraquecidas. Devido à falta de energia elas não conseguem mais agir e falham no conserto dos danos internos. Ficam sem forças até para se defenderem, facilitando o aparecimento de resfriados, alergias, dores musculares, febre e outras doenças. Perguntou o garoto, com medo daquela picadinha. Depende do nível de gravidade da desnutrição, ele respondeu e, apontando novamente para o Metamapa da Saúde continuou: DESNUTRIÇÃO ESTADO SAUDÁVEL Leve Moderada Grave Quando a pessoa come menos do que o corpo dela precisa, dá início a aquele processo ruim chamado de desnutrição, que sempre começa pelo nível leve. Neste caso, o tratamento é comer melhor e, talvez, não precise de injeção, mas o médico é quem vai analisar e decidir. Disse o garoto, com voz confiante. O doutor voltou ao Metamapa da Saúde e, mostrando um gráfico, continuou: Mas se a pessoa continuar comendo pouco, a desnutrição piora e vai para o nível moderado, dificultando o funcionamento do estômago, do fígado e dos intestinos. Estas alterações podem provocar diarreias e infecções que levam a desnutrição para sua pior categoria, o nível grave. O tratamento da pessoa que está desnutrida em nível moderado ou grave precisa de injeções e, quase sempre, durante internação em um hospital. Percebendo que comer pouco é muito, muito, muito, muito ruim para o corpo, a criança, surpresa, disse em voz bem alta: Entendi Precisam de injeção? Conquistar o estado saudável é uma arte prazerosa e diária LEVE Estado Desnutrido Estado Obeso Estado Saudável Profª Drª Claudia Cezar 14 Quem não come, fica doente! Sim! Respondeu o doutor, abrindo seu mais alegre sorriso porque o garoto chegou a esta brilhante conclusão. Comer, ele continuou, além de ser gostoso, é indispensável para a boa saúde das células do nosso corpo. É uma necessidade diária porque comer, tanto previne quanto cura e trata inúmeras doenças. Mas, tem um detalhe importante, ele enfatizou, apontando para o lado direito do Metamapa: Quando comemos mais do que nosso corpo precisa, também perdemos energia para brincar e até para dormir bem, porque nós tiramos nosso corpo do estado saudável e o levamos para o estado obeso. Com a voz em tom de tristeza, o garoto olhou para o chão e falou: Cada um dos pais sentiu seu coração doer por rever o sofrimento do filho. Este assunto o atormenta desde que foi rotulado em vez de ser gentilmente ensinado sobre o assunto18. Reconhecendo a tristeza da família o doutor propôs, com carinho e um sorriso acolhedor: 18 Verbos como “combater” ou “derrotar” a obesidade devem ser evitados porque promovem a discriminação, o bullying e a autodesvalorização. O diagnóstico da obesidade ou de alterações no estado de saúde corporal deve ser feito pelo medico, pelo psicólogo ou por profissional especialista, mas de forma gentil e respeitosa, sem agredir, nem julgar ou rotular o avaliado. Veja mais em www.obesidade.pro.br e Mendes (2018) já citado na nota nº 17.Porém, a maneira como a pessoa é informada sobre seu estado de saúde corporal é fator decisivo para que desenvolva o desejo de aderir ao tratamento multiprofissional, o qual precisa ser gerenciado por um médico, ou psicólogo, de sua confiança - Cezar, C. e Rodrigues, A. L. (2019) Obesidade tratada com abordagem Psicossomática in Psicologia Hospitalar - Abordagem Psicossomática, Ed. Manole. É... Já aprendi… isso… Estado Obeso Estado Saudável falta de cuidados com as células Estado de má saúde Obesidade infantil: comer dormir brincar 15 Entendo. Mas agora você está aprendendo que para tratar-se da obesidade é preciso comer, brincar e dormir, to-o-o-dos os dias? Sem entender esta inacreditável novidade o garoto perguntou: Porque as células de quem está obeso tem as mesmas necessidades das células de quem não está obeso, ele respondeu Comer, dormir e brincar menos do que o corpo precisa faz a pessoa que está obesa perder sua vitalidade, adoecer e sentir dor da mesma forma de quem não está com obesidade, disse ele com um sorriso encorajador. O garotinho ficou sem palavras mas seu rosto estava visivelmente feliz! Olhou seus pais com vontade de abraçá-los por mostrar-lhe este tratamento tão maravilhoso! Mas, ao mesmo tempo, pensava tantas outras coisas que acabou sem se mexer. Estava muito emocionado. Seus pais também se emocionaram. Mais pela possibilidade de recuperação da saúde do filho do que pelas importantes informações. O doutor percebeu tudo e voltando a apontar o colorido metamapa na parede acrescentou:19 Assim como a desnutrição, a obesidade também tem níveis de gravidade que mostram a piora da doença. Dormir e brincar menos do que o corpo precisa faz a obesidade começar sem a pessoa perceber, este é o nível de gravidade 1, que também é conhecido como obesidade leve. 19 Para o educador Morais: “A convivência que caracteriza o ensinar precisa vir dosada de comunhão humana e, ao mesmo tempo, do mais completo respeito pela privacidade das pessoas nele envolvidas. Através do fascínio de conhecer, sempre se haverá de buscar um fecundo encontro entre a sensibilidade e a inteligência do educando com o mundo e a vida” - Morais, R. (1996) O que é ensinar, Ed. E.P.U. A emoção é que fixa a informação e estimula o desejo de saber, de aprender mais para realizar-se, melhor, como ser humano. Não! Por quê? Profª Drª Claudia Cezar 16 NÍVEIS DE GRAVIDADE DA OBESIDADE ESTADO SAUDÁVEL OBESIDADE Agora, muito mais atento, o garotinho disse baixinho: O papai não disse, mas pensou a mesma coisa e sentiu um arrepio. A mamãe falou: Dormir e brincar são formas de o corpo sentir prazer. Quando dormimos e brincamos pouco sentimos menos prazer do que precisamos e, sem perceber, “comemos a mais” para compensar esse prazer que faltou.9 Concluiu ela, olhando carinhosamente para o filho. Excelente forma de explicar, mamãe! Disse gentilmente o doutor que continuou: Comer também é uma forma de prazer, mas não pode ser nossa única fonte e nem a principal. Pensou um pouco e completou: Compensar a privação diária do prazer de dormir e de brincar pelo prazer de se alimentar, piora a gravidade da obesidade para o nível 2, também chamado de obesidade moderada.20 Em geral, nesta fase, a obesidade se torna visível e, em muitos casos, é quando muda o comportamento alimentar da pessoa, que passa a “comer a mais” por consequência aos danos feitos, antes, às células. Inadequadamente se associa a quantidade maior de alimentos como causa da obesidade quando, na maioria dos casos, é uma de suas consequências21. Olhando para os pais, explicou: 20 Por ser uma doença, a obesidade degenera nossas células lenta e gradualmente, de forma silenciosa. No início é indolor e inflama o tecido adiposo aos poucos. Já estão identificados 10 níveis de gravidade e a ausência de tratamento da obesidade permite que cada um deles facilite o desenvolvimento de outras doenças físicas e mentais. Por isto se diz que são consequentes Mendes (2018) nota de rodapé nº 17 e Cezar e Rodrigues (2019), nº 18. 21 Descrito integralmente em Cezar, C. (2019 - 2ª edição) citado na nota de rodapé nº 12. Eu não sabia que pode piorar! 4 1 2 3 5…10 Conquistar o estado saudável é uma arte prazerosa e diária Estado Desnutrido Estado Obeso Estado Saudável Obesidade infantil: comer dormir brincar 17 Resumindo, de forma simples, dormir pouco ou deixar de brincar são escolhas que aumentam a ingestão alimentar de duas formas: 1. Na quantidade total de alimentos, provocando a ação de repetir o número de pratos ou de porções. 22 2. No tipo de alimento porque, embora os mais gordurosos sejam mais saborosos, eles fornecem mais do que o dobro de quilocalorias por grama. A família se espantou por ser o dobro e ele explicou: É que as gorduras têm 9 quilocalorias em cada grama, duas vezes mais energia do que os carboidratos e as proteínas, que fornecem só 4 quilocalorias por grama.22 Mas, assim que terminou de falar, percebeu que estava dando inicio a um assunto complicado e reconheceu que não era o momento. É que, há muito, já havia passado da hora de encerrar aquela consulta e, afinal de contas, dois desafios importantes haviam sido vencidos: 1- o garoto entender que comer menos do que o corpo precisa danifica as células e não trata a obesidade e 2- a família identificar que tratar-se da obesidade, respeitando as necessidades das células, aprimora inteligências, descarta o sofrimento e a culpa de comer, enquanto melhoramos nossa saúde física e mental. Então, soltou sua caneta, segurou as mãozinhas do menino e, olhando em seus olhos, disse: Estou conseguindo lhe explicar que tratar-se da obesidade é cuidar das células em vez de “diminuir” o que come?23 22 Comer “a mais” é denominado de hiperfagia. Fagia é um sufixo que expressa a ação de alimentar-se. Quando ocorre em excesso é denominada hiperfagia. No CID-10 é considerada um transtorno alimentar quando associada a um ou mais distúrbios psicológicos (F50.4). No entanto, quando começa, a hiperfagia não é frequente e nem regular. Mas assim que ocorre redução nos prazeres de dormir ou de brincar, precisa acontecer a hiperfagia porque a obtenção de energia celular fica restrita a satisfação e ao deleite de comer. Como é um estímulo que vem das células, é incontrolável pelo racicínio lógico ou pela “força de vontade”, pois ocorre como uma descarga energética (neuroquímica). É comum negarmos que nossa rotina contêm hiperfagia causada por conflitos internos porque precisamos nos defender da dificuldade de lidar com eles (veja mais em Mecanismos de Defesa na Psicanálise – Sigmund Freud). Por exemplo, é difícil para uma pessoa adulta assumir que dormir e brincar estão entre suas necessidades diárias porque, em geral, estas são características usadas para discriminar pessoas desocupadas. Este dilema tem recebido séria atenção da comunidade científica. Mais em Cezar (2019 - 2ª ed.). 23 Segundo Perestrello: “Todas as atitudes do profissional de saúde repercutem sobre a pessoa doente e têm significado terapêutico, ou antiterapêutico, segundo as vivências despertadas no paciente e em si mesmo, também (...) Aliás, o pensamento de que todo médico, consciente ou inconscientemente, faz psicoterapia, foi proferido por Freud em 1905. Através do que diz e não diz, do que faz e não faz, do que expressa e não expressa em sua fisionomia, está fazendo psicoterapia, boa ou má, mas a está praticando”. (2006) A medicinada pessoa, Ed. Atheneu - 5ª ed. Profª Drª Claudia Cezar 18 Quase gritando de alegria, o garotinho respondeu: Ótimo! Disse ele. Neste momento nós podemos encerrar esta consulta porque, agora, vocês têm conhecimento suficiente para entender que a obesidade é uma doença que piora sem tratamento inteligente. E como é o tratamento que você chama de inteligente? Questionou o papai. Como falamos, ele respondeu, a base do tratamento da obesidade é comer, dormir e brincar por serem necessidades reais do ser humano. Vamos analisar como está o equilíbrio destes 3 hábitos na rotina dele para identificarmos qual faz as células aumentarem a gordura corporal24. Mas isso é obvio, atropelou o papai, ele come mais do que precisa. Disse esbravejando, sem perceber que retornava ao problema inicial. Como mudar a forma de pensar leva tempo, o doutor sabe que o raciocínio de quem está aprendendo “vai e volta” mesmo. Por isto, falou calmamente: Este tipo de entendimento estimula o perigoso “não-comer” que, além de prejudicar o funcionamento celular, se estivesse correto, já teria erradicado a obesidade no mundo. A quantidade de dietas é imensa, mas a Obesidade é uma doença e, como tal, precisa ser tratada. O papai reconheceu que errou e disse. É verdade! Tem alguma tabela pra seguir? Se adiantou, querendo uma solução para ser feita em casa. Existem várias tabelas, ele respondeu. Mas se a obesidade continua a crescer na população mundial é porque usá-las, sem contexto, confunde. Cada caso é único, deve ser entendido por uma equipe multiprofissional e o tratamento é mais eficaz se gerenciado por um médico de confiança. Os pais se entreolharam, consentindo. O que passaram nos últimos meses lhes mostrou os danos que podem ocorrer sem gerência médica. Ele continuou: Tratar-se, corretamente, da obesidade deve ser um processo tranquilo porque não objetiva baixar o peso a qualquer preço. Primeiro identificamos as causas do aumento de gordura corporal para entendê-las e, então, tratá-las. Condições que aumentam a consciência sobre si e sobre as próprias necessidades, físicas e mentais. Baixar o peso não é o objetivo mas vai diminuir, certo? Perguntou a mamãe, tentando entender melhor. 24 Veja principais dificuldades e melhores soluções encontradas na nota de rodapé nº 12. Siiiim! Obesidade infantil: comer dormir brincar 19 Diminui. Em 1º lugar porque harmonizar os hábitos de comer, dormir e brincar é que interrompe o ganho de gordura corporal que já está automatizado nas células, disse ele apontando uma pecinha de montar.25 Automatizado! A mamãe se assustou e olhou nos olhos do papai. Sim, o doutor respondeu. Respirou e completou: Em 2º lugar, porque são esses 3 hábitos que tratam a inflamação e diminuem a degeneração das células doentes, fazendo o peso baixar “sozinho”. Sinalizou aspas com as duas mãos para enfatizar que não é sozinho. O papai entendeu e falou: Não é mágica. Faz sentido. É o resultado do trabalho das células. Concluiu, olhando para a mamãe. O doutor viu que os pais se olhavam expressando entendimento mas se sentia apreensivo por ter ultrapassado seu horário, por isto insistiu: Preferem começar na semana que vem ou querem pensar melhor? O papai, empresário próspero e inteligente, percebera uma pressa do doutor, mas ela não combinava com técnicas de vendas pois tinha duas opções. Impulsivo, questionou: Não vai forçar a compra do tratamento? Ele explicou: Tratar-se da obesidade considerando as necessidades das células requer usarmos os mesmos valores delas: confiança e objetividade. Nossas células são inteligentes e não conseguimos enganá-las ou forçá-las, nem propor um suborno porque elas sabem o que precisa ser feito e não se corrompem. O sucesso deste tratamento nos ensina a confiar nelas e em nós mesmos.26 A sinceridade e a confiança precisam formar a base do nosso relacionamento neste tratamento. Eu não posso forçar vocês. Ao entender e respeitar o funcionamento de suas células a pessoa em tratamento aprende a confiar mais em si. Por consequência a identificar critérios fidedignos, confia mais nos outros e forma vínculos de melhor qualidade para sua vida pessoal e profissional, também. Ele completou. 25 Assim como é ineficaz tirar a água do barco sem consertar seu furo, em vez de baixar o peso o foco do tratamento da obesidade deve ser identificar e tratar as causas da hiperfagia, ou da compulsão, da inflamação dos adipócitos, da degeneração dos tecidos ou lipogênese aumentada. 26 Entender as necessidades de nossas células é aprender sobre suas características, limites e regras para construirmos um relacionamento construtivo e amoroso com elas. Deve ser uma troca respeitosa para nos sentirmos confiantes e seguros pois, nessa base, afastamos os riscos reais e o tão prejudicial medo fantasioso de adoecer. Tratar-se com inteligência se assemelha ao processo de educar: exige dedicação, paciência, tempo e perseverança amorosa e afetiva. Oferecer os cuidados diários com gentileza e suavidade para as nossas células faz com que elas nos devolvam um trabalho eficiente, hoje e amanhã, ampliando nossa boa saúde por anos. Profª Drª Claudia Cezar 20 Visivelmente satisfeito e vendo seu filho entusiasmado por esta proposta de tratamento, o papai deliberou: Você que decide, amor. Então, olhando nos olhos do garoto, com a intenção de relembrá-lo das outras tentativas de tratamento que começara e desistira, a mamãe perguntou: Filho, por que você acha que, agora, vai conseguir emagrecer? Sério, ele respondeu: Porque minhas células precisam de mim! Engordei porque não sabia que tinha que cuidar delas, mas agora vou aprender! Os pais se emocionaram e, amorosamente, o abraçaram. O doutor também se emocionou e até decidiu se acalmar. O momento era muito importante e preferiu que a família aproveitasse. O garoto desistiu da “culpa de comer” conscientemente e entendeu que esse hábito é necessidade. As células precisam dos nutrientes dos alimentos. O papai falou: Filho, você lembra o que o gato Cheshire disse pra Alice, quando ela perguntou sobre qual caminho deveria tomar? Ele achava essa pergunta chata e sem sentido, mas seu pai sempre fazia! Sem entender e suspirando, respondeu: “Depende de para onde você quer ir”. Satisfeito, seu pai complementou: Hoje você entendeu que o caminho para se tratar da obesidade não é perder peso, mas satisfazer as necessidades de suas células! Isso significa que, agora, você sabe que o caminho a seguir é cuidar das células sem parar de comer!27 Sorrindo, ele finalmente entendeu que seu pai lhe fazia esta pergunta quando queria que ele pensasse mais! É que pensar permite usar a inteligência, melhor, sofrendo menos e evitando caminhos malucos! 28 Os pais sorriram! Seu lindo filho estava em uma inteligente e tranquila aprendizagem de superação. Construía seu próprio amadurecimento! Enquanto se entreolhavam, emocionados, o papai fez um sinal para a mamãe: 27 Para Franco Leite, R. (2015): “A vontade ou necessidade de encontrar o caminho, mesmo sem saber aonde quer chegar, é uma representação do funcionamento do princípio do prazer, enquanto a necessidade de saber o que se deseja para então seguir o caminho correto, está diretamente atrelada ao princípio da realidade. (…) Os princípios do prazer e da realidade regem a nossa vida e é através deles que nos tornamos capazes de lidar conosco mesmos, com os nossos conflitos e com as outras pessoas” - Revista Estudos de Psicanálise, 43, 139-144. 28 No livro Comer tratar curtir, o verbo tratar sgnifica harmonizar os hábitos de dormir e brincar e, para isso, apresenta estratégiasinteligentes de mudanças porque equilibrá-los na rotina é mais fácil somente para quem está há pouco tempo prejudicando as suas próprias células. Obesidade infantil: comer dormir brincar 21 Ele esfregou os dedos indicador e polegar. Ela, solenemente, concordou com a cabeça e o doutor, rapidamente, supôs que o sinal se referia aos custos do tratamento. Mas ele estava errado! A mamãe sabia que não era isso! Desde quando eles começaram a conversar sobre a educação de filhos, bem antes de casarem, o papai já dizia: A regra de “ouro” é ensinar que, para sermos felizes na vida adulta, precisamos nos sustentar financeiramente com nosso trabalho! Pois é nosso trabalho que trocamos por dinheiro.29 Olhando para seu lindo filho ela lembrou a fala predileta do papai: Todo trabalho é o resultado de como empenhamos nossa energia vital. É sempre físico e mental, não se separa porque usamos nossa vitalidade em ambos. Porém, nosso sucesso com o trabalho depende de gostarmos do que fazemos. Somente assim o oferecemos com amor e capricho, condições que nos fazem sentir alegria e vontade de acordar! 30 Sorriu e sussurrou: ”Tão importante quanto o retorno financeiro são as satisfações emocional, mental e espiritual obtidas com nosso trabalho." Ela estava ciente de que o sinal indicava: O custo de um tratamento inteligente se encaixa no orçamento familiar como um investimento no desenvolvimento do filho, pois o está preparando fisica, intelectual e emocionalmente para sua vida adulta. Então, abraçando seu menino lindo e amado, ela confirmou: Nós vamos fazer o tratamento, doutor. Sorrindo, o doutor reconheceu que se confundira com o sinal e disse: Certo! Abriu a gaveta e pegou uma caderneta. Olhando nos olhos da criança, disse: Este será seu Diário de Tratamento da Obesidade - DTO. O DTO funciona como os diários de bordo dos navios, nele se registra o andamento da viagem. Suas anotações nos ajudarão a entender se está cuidando, bem, destes minúsculos e valiosos seres inteligentes que trabalham em seu corpo, por sua saúde. 29 No Brasil, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, define dois objetivos principais de ensino: formar cidadãos e prepará-los para o mercado de trabalho. 30 Quanto mais nos preparamos para alcançar um trabalho que nos devolva tanto o enriquecimento financeiro quanto o emocional, maior é a nossa satisfação de viver o dia de hoje. Em latim “carpe diem” significa aproveite o dia sentindo satisfação agora, neste momento. O prazer de um trabalho gratificante e bem feito proporciona esta satisfação. Assim como acordar ciente de que o ofício, deste dia, contribui com a humanidade de forma efetiva. O dinheiro é importante, mas a satisfação pessoal também é e pode, e deve, ser obtida até mesmo enquanto nos preparamos para vivenciar esta profissão. Desta forma, trabalhamos o controle interno e diminuímos a necessidade de controlar as outras pessoas, de querer ter poder sobre elas. Ao desenvolver a soberania sobre si, diminuímos a ilusão de domínio sobre os outros. DT O Profª Drª Claudia Cezar 22 Muito entusiasmado, o menino recebeu o presente31 DTO e, abrindo, leu em voz alta: Resumo da primeira consulta. Enquanto recolhia os materiais espalhados pela mesa o doutor disse: Ao chegar em casa escreva tudo o que se lembrar da consulta de hoje. Sentindo a preguiça se encostar, o garoto perguntou, desapontado: Porque durante o sono as nossas células cerebrais jogam fora 80% das informações novas que vimos, no dia, mas não solicitamos até dormir.32 A mamãe reconheceu a estratégia e o lembrou: Seus professores também pedem para as tarefas serem feitas no mesmo dia, não é mesmo? O garoto até lembrou disso, mas não se animou. O doutor, ciente de que este comportamento é “peça chave” para o tratamento proporcionar mudanças na forma de pensar, completou: Ao escrever o resumo da consulta no mesmo dia, você estará “dizendo” para as suas células, do cérebro, que estas informações são necessárias para você. Então, elas guardam este conteúdo em um lugar bem fácil de acessar e favorecem o aumento da sua inteligência! Vendo o garoto retomar o ânimo, concluiu: Estudar um conteúdo novo, no mesmo dia é a melhor estratégia para acelerar nossa aprendizagem! 31 Em linguagem empresarial costuma-se dizer que “não existe almoço grátis”. Quer dizer, se há alimento à mesa, alguém pagou por ele. Mesmo que seja tirado do próprio quintal pois, para que exista, alguém o plantou ou criou a galinha, por exemplo. O DTO parece um presente aos olhos da criança mas, no mundo real, está incluído no valor do tratamento. Tudo tem custo. Alguém sempre paga para que possa ser real. Desconfie do “gratis.” Refaça as contas ou pense melhor. 32 Aprender é ir mais além de ler, ouvir e rever pois é um processo que fica inscrito em nossa memória. Toda informação nova é captada pelo sistema límbico, no cérebro, em nossa memória de curto prazo que a retem por segundos ou horas. Para que esta novidade seja retida por mais tempo, precisa ser direcionada para o cortex cerebral, em nossa memória de longo prazo (que inclui as memórias episódica, procedimental e semântica, dentre outras). A aprendizagem de algo novo requer tanto a formação de novas sinapses, que são ligações entre as células, quanto modificações químicas nas estruturas dos neurônios, ou seja, na produção e ou na inibição das proteínas RNA (ribonucleic acid) e DNA (deoxyribonucleic acid), que hipertrofiam os neurônios e alteram o número de conexões sinápticas. O cérebro descarta 80% da informação nova que não for reutilizada até a noite para evitar o imenso trabalho neuroquímico que é necessário para construir nossa memória de longo prazo. Porém, o processo completo de aprendizagem requer muito mais do que apenas revisitar o conteúdo novo ao final do dia. Veja mais em Kandel, E. R. e colaboradores (2014) Princípios de Neurociências, Editora Artmed - 5ª ed. e em Pierluigi Piazzi (2014) Coleção de Neuroaprendizagem, Editora Aleph, 3ª edição. Mas, por quê? Obesidade infantil: comer dormir brincar 23 Achando engraçado "conversar" com suas células, o garoto sorriu. Por curiosidade, virou a página e, também em voz alta, leu: Questionário. O doutor aproveitou e explicou: Estas 5 perguntas você pode responder amanhã mas não pode “pegar cola” com os seus pais, tá bem?33 Sorriu e olhou para eles, como quem pede confirmação para o acordo. Outra vez, a mamãe percebeu alinhamento com a estratégia escolar. Ciente de que mais importante do que a criança acertar, de primeira, é ela construir seu próprio conhecimento sobre o novo assunto, ela disse: Pode deixar, vamos fazer a atividade sem colar!34 Afinal, pensou, nada é mais natural do que errarmos enquanto ainda estamos aprendendo! Se preferir, disse o doutor para o garoto, você pode trocar. Responde as perguntas hoje à noite e escreve o resumo amanhã. Mas lembre, quanto antes realizar as atividades do DTO, mais rápido aprende este assunto novo e mais depressa começa seu tratamento inteligente da obesidade. O garoto assentiu com a cabeça e, mais interessado ainda no diário DTO, voltou a olhá-lo. Virou a página e leu em voz alta: Semanário. A planilha Semanário, disse o doutor, é para você fazer à noite, antes ou após o jantar, nos próximos 7 dias.35 É que na consulta da semana que vem nós vamos usar as anotações que você tiver feito. Combinado? Perguntou ele, levantando sua mão direita para baterem um high five, como fazem os atletas. Os pais riram porque se surpreenderam com aquele gesto esportivo, estalado e divertido. É que o garoto bateu sua mão com firmeza e vontade pois, a esta altura, estava bem empolgado como conhecimento sobre as células e com as atividades do DTO. 33 Sobre os ganhos de errar veja Bottura Jr, W. (2016) O erro nosso de cada dia, República Ed. 34 A construção química do cérebro, para o processo de memória e aprendizagem, fica anulada se os adultos ditarem as respostas. A criança copiar a fala de um adulto é oposto a trocarem ideias para construir a compreensão do novo conhecimento. Em família, esse processo se otimiza quando debatem seus pensamentos, percepções e sentimentos a respeito do conhecimento a ser aprendido. No caso de criança que ainda não escreve, peça que desenhe a informação captada do debate, com a família, e discutam essa compreensão. É desnecessário forçar. O mais importante é recuperar, com leveza, o que lembram para trazer o conteúdo da consulta, ou melhor, da leitura, para o momento presente. Não se trata de uma busca por certos e errados, mas um empenho intelectual para que este conhecimento seja registrado na memória de longo prazo, nos circuitos neurais. Assim, passam do sistema límbico para o córtex cerebral. 35 Em sua agenda, anote agora os próximos 7 dias para lembrar-se de fazer o semanário. Profª Drª Claudia Cezar 24 O garoto entendeu que seu gesto confirmava um acordo mas não sabia que externalizava, também, que se sentia capaz e competente para enfrentar os desafios combinados. Mas os achava até bem fáceis.36 Olhando seus pais se despedirem do doutor e acertarem sobre o tratamento, ele se lembrou: Quando cheguei aqui estava me sentindo mau. Imaginava que esse doutor ia tornar a minha vida insuportável. Mas não aconteceu nada disso, sorriu sozinho, sem perceber.33 Olhou para as pecinhas de montar e se lembrou: Agora tenho o compromisso de cuidar das minhas células! Pensando nisso, percebeu que conseguia sentir as batidas de seu coração. Ele pulsava mais forte, parecia mais vivo dentro do peito. Ele pensou: Mas não estou com medo. Me sinto até mais tranquilo do que quando cheguei37. Sorriu e concluiu: Acho que minhas células estão felizes porque agora estou sabendo delas. Então sentiu a mão do seu pai lhe indicando para saírem. Enquanto caminhavam sentiu como se estivesse com mais força, não sabia explicar. De novo sorriu internamente e percebeu que, mesmo sem ter emagrecido, já se sentia melhor e mais satisfeito. Este tratamento de cuidar das células estava parecendo bem legal, se animou. Com o olhar, o doutor acompanhou a família sair e pensou: Embora eu tenha demorado o dobro de tempo neste atendimento, consegui que o garoto desistisse de sentir culpa por comer. Como muitas pessoas, esse menino estava se rendendo às confusões de informações excessivas e descontextualizadas. Satisfeito, por ter vencido esse enorme desafio, ele sentiu seu coração se preencher de amor incondicional e sorriu consigo. Ainda embevecido com as emoções que estava sentindo, lembrou que precisava escrever suas anotações antes que lhe fugissem da cabeça, pois, em quinze minutos, entraria a próxima pessoa a ser atendida. Foi quando percebeu que o novo gerente estava em pé, à sua porta. Um jovem de 36 anos, simpático, muito inteligente, pós graduado e excelente profissional que o olhava com a expressão de quem quer falar. 36 O tratamento multiprofissional da obesidade é uma sequência de pequenos desafios, tangíveis, em níveis intelectual e físico, para que, ao vencê-los, a pessoa amplie competências, capacidades e inteligências a partir do ponto em que está. O ideal é que seja gerenciado para que os desafios sejam personalizados, condição que otimiza o alcance destes resultados. 37 O verbo curtir, no livro Comer tratar curtir, significa sentir, ou seja, experienciar a vida obtendo maior satisfação consigo mesmo. Por isso, um dos principais objetivos de tratar-se, bem, da obesidade e com inteligência, é aumentar a percepção sobre as próprias necessidades físicas e mentais que, consequentemente, levam à maior consciência sobre si. Obesidade infantil: comer dormir brincar 25 O doutor sorriu para ele e indicou, com a cabeça, que entrasse. Obrigado doutor, vou ser direto pois imagino que você esteja ocupado. Eu só quero uma dica saudável para perder uns 5 ou 2 kg até sábado. O doutor, ouvindo com atenção, observou que ele não estava obeso. Pensou em sugerir o diagnóstico38 da obesidade para que o gerente aprendesse isso, mas decidiu fazer melhor e, sorrindo, disse: Sabe, o corpo é uma das maiores riquezas de uma pessoa! Precisa ser tratado com inteligência para não perder sua saúde e até mantê-la, boa, por mais tempo. Ainda sorrindo, completou: Participe do minicurso das 3 metas, um processo de mudança do comportamento alimentar que, em muitos casos, faz parte do tratamento multiprofissional da obesidade.39 Assim, você entenderá como diminuir sua gordura corporal de forma inteligente! Já pegando uma pasta na outra gaveta completou: Vou colocar seu nome na próxima turma. Sem saber que a pressa pode ser um importante indicativo de que a ansiedade precisa ser tratada, ele respondeu: Não! Obrigado. Eu não tenho esse tempo e só preciso dar uma secadinha rápida porque vou a um casamento no próximo final de semana. Você me dá uma dieta? 40 A resposta do gerente foi suficiente para o doutor reconhecer que seu foco no peso o fazia deixar de perceber o “que”, realmente, o incomoda. Em sua experiência profissional e científica, quase sempre, a insatisfação com o corpo não-obeso é uma negação do verdadeiro conflito interno. É que esse senso de urgência, para mudar a aparência corporal, encobre uma outra contrariedade interior.41 Estes conflitos podem começar tão sutis quanto sentir a necessidade de dormir mas continuar trabalhando. Sentir que precisa brincar mas comprometer o tempo livre com obrigações. Sentir fome mas não comer, dentre tantas outras formas de negar nossas próprias necessidades. 38 Devido a obesidade ser uma pandemia, cada pessoa da população se encaixa em um de dois grupos: ou está se previnindo ou se tratando desta doença. Somente o diagnostico da obesidade permite identificar em qual deles estamos. Indicado para todas as idades. 39 Descrito íntegralmente em Cezar (2019 – 2ª ed.). 40 A Nutrição é uma area da Ciência, prescrever dieta é competência específica de Nutricionistas. O uso de dieta não personalizada tem se tornado causa em inúmeras doenças. 41 Mais detalhes em Campos, E. M. P. e Rodrigues, A. L. (2005) Mecanismo de formação dos sintomas em psicossomática – Rev. Psicologia da Saúde, 13 (2) 290-308. Profª Drª Claudia Cezar 26 Ciente de que a não solução das divergências internas está entre as principais causas da obesidade em nível de gravidade 1, o doutor queria achar um jeito de sensibilizá-lo para o curso! Buscando ter mais tempo para refletir pediu: Você pode colocar este torso naquela estante, perto da janela, por favor? Cordialmente o gerente acatou. Enquanto isso, o doutor pensou: No curso ele enriqueceria sua vida entendendo, mais, sobre cálulas e como as impactamos com nossas próprias emoções. Pois, enquanto a dor psíquica é mascarada pela dor da dieta a pessoa se esquece do conflito. Mas conflitos provocam hiperfagia e somente solucionamos problemas quando os identificamos. Sem olhar para eles, negando que não os estamos vivenciando, nada encontraremos porque não os estamos procurando. Com isso, postergamos seu enfrentamento sem saber que solucioná-los é o que enriquece o nosso viver e aumenta nossa consciência e discernimento sobre nós mesmos. Atento, ele continuou: Entender e resolver nossas divergências interiores aumenta as nossas competências, habilidades, capacidades, inteligências,agrega alegria aos nossos dias e proporciona maior satisfação à rotina da vida. Rapidamente ele concluiu: São essas condições que nos preparam, mais e melhor, para nos realizarmos como ser humano. Neste exato momento, viu o gerente finalizar sua tarefa e retornar. Cônscio da dificuldade que é explicar uma ideia nova até para um ouvinte atento, ele sabia ser impossível alcançar tal façanha em instantes, como a situação com esse rapaz estava exigindo. Então, rendeu-se à esta realidade e, de forma amável, com profunda sinceridade, explicou: Entendo sua necessidade. Mas eu só trabalho com processos de inteligência corporal, pois as soluções imediatas são prejudiciais à saúde física e mental. Não tenho como ajudá-lo em uma urgência. Mas, assim que você quiser entrar no programa de inteligência, basta me avisar. Como você é muito ocupado, pode até participar em seu horário de trabalho, facilitou. O gerente, sem identificar quanta atenção e ajuda estavam sendo oferecidos, se sentiu abandonado com a resposta e forçou um sorriso. Olhou para o chão sem perceber que o gesto escondia uma raiva reativa e agradeceu. Saiu pisando duro porque, como acontece com todos nós, a frustração tensiona nossos músculos e diminui nossa coordenação motora. Educado, fechou a porta sem fazer barulho e pensou: Obesidade infantil: comer dormir brincar 27 Já que pode me ajudar, por que não faz isso agora? Estar mais magro neste casamento é minha última chance! Sentindo que não conteria suas lágrimas, andou rápido para não ser visto e concluiu: Eu vou é fechar a boca e parar de comer. Ouvindo o som dos sapatos dele se afastando, o doutor supôs que ele faria alguma dieta ruim por conta própria. Segurando a cabeça com as mãos se angustiou porque conhece os danos dessa escolha para a saúde. Desanimado, suspirou e pensou quanto é improdutivo fazer julgamentos. Cada pessoa sempre sabe quando é o momento de mudar. Cada um de nós reconhece o momento derradeiro ou vital de questionar as próprias escolhas. Foi assim comigo também, ele pensou. Suspirou novamente e falou baixinho, justificando sua atitude para si mesmo: Um diálogo eficiente, efetivo e eficaz somente ocorre quando as pessoas estão, verdadeiramente, interessadas em investir seu tempo na ação de ouvir. Só assim é possível interagir e refletir até se obter um resultado mais satisfatório, analisou ele. Entrando em suas próprias armadilhas de raciocínio perfeccionista 42 ele se torturou, passando a comparar o desempenho profissional que havia oferecido e raciocinou: O garoto, embora com raiva, me abriu espaço quando manifestou sua indignação e permitiu interação. Mas a pressa deste rapaz, sinalizava indisposição para ouvir, defendeu-se. De repente, reconheceu que comparar aumenta a angústia e, se lembrando dos exercícios que aprendeu, reconsiderou: Aprender requer disposição mínima, física e mental, para conseguirmos avaliar nossos pensamentos e ponderar sobre as bases do que estamos acreditando. Com este convite para o programa inteligente aumentaram suas opções de escolha, refletiu. Mas a decisão tem que ser dele! Não posso forçar. Estou sentindo culpa desnecesariamente. Eu preciso sair deste raciocínio. Fechou os olhos. Respirou fundo algumas vezes e buscou acalmar-se. Relaxou e reabriu os olhos. Já se sentia melhor e mais centrado em si. Para colocar sua mente no presente deu início às anotações da consulta com o garoto. Conforme relembrava os pontos mais importantes que vivenciaram foi, aos poucos, voltando a se sentir alegre e pensou: 42 O perfeccionismo tem dimensões positivas e negativas, mas frequentemente está relacionado à condições de distresse que levam à ansiedade, depressão, desordem obsessivo-compulsiva, distúrbios do sono e suicídio. Mais em Amaral, A. P. M. et al. (2013) Frost multidimensional perfeccionism scale: the Portuguese version. Rev. Psquiatr. Clin., v 40, n.4, p.144- 149. Profª Drª Claudia Cezar 28 Com as conquistas importantes que obtiveram hoje, enriqueceram suas vidas e podem desfrutar destes ganhos para sempre se fizerem as atividades do DTO. Sorriu, satisfeito, e arquivou o relatório do menino na pasta TMO, específica para o Tratamento Multiprofissional da Obesidade. Levantou e espreguiçou longamente. Olhou para a janela e apreciou a beleza das árvores. Tomou água com vagar para saborear o líquido. Ao terminar pensou: Mas se esta família retornar sem fazer as atividades do DTO terão esquecido que diminuir a alimentação não trata a obesidade e faz adoecer!43 Então, teve uma ideia! Para anotá- las, pegou a pasta TMO do garoto e disse: Serei muito mais específico! Levantou, pegou um livro em sua estante. Dentro dele, encontrou uma matéria jornalística de 2011 e lembrou:44 Nos casos em que a causa do comer “a mais” é a compulsão, fazer dieta é inadequado por três motivos45: 1º transfere a compulsão da ação de comer para outra ação porque o “agir” está sendo provocado pelas células; 2º impede o processo de identificar as verdadeiras causas da hiperfagia 22 e 3º além do tecido de gordura corporal, também diminui o tecido muscular; Cada caso é único e os que são como este, da matéria, se fizerem dieta transferem a compulsão de comer para compulsão por não-comer porque a causa da compulsão não foi tratada. Por continuar ocorrendo, o corpo cria uma nova doença: a anorexia. Cada história de vida é única e precisa ser entendida. Folheou o livro e falou: Para explicar que perder peso rápido piora a saúde e não trata a obesidade, vou usar este outro estudo. Ele é ótimo para explicar que o peso perdido não é composto apenas por gordura corporal, como imagina quem não estuda o assunto.46 43 Diminuir a ingestão de alimentos impede a distribuição de nutrientes para o funcionamento das células. Sem materia prima suficiente, elas não conseguem lidar adequadamente com o complexo processo de inflamação e aceleram, ainda mais, a degeneração de tecidos e órgãos. 44 Casos como este estão amplamente divulgados em diversos meios de comunicação. Acessado em http://colunas.revistaepoca.globo.com/mulher7por7/2011/05/04/da-obesidade- morbida-a-anorexia-a-triste-historia-de-uma-jovem-de-21-anos/ 45 Descrito detalhadamente em Cezar (2019 - 2ª ed.), nota nº 12 . 46 Detalhado em Campos, E. M. P. e Rodrigues, A. L. (2019 - no prelo) conforme nota 18. Obesidade infantil: comer dormir brincar 29 Para certificar-se, somou 69% de H2O, que é água, + 25% de GC, que é a gordura, + 6%PC, que é proteína, obteve 100% e, então, concluiu: Dos 8 quilos perdidos, quase 70% foi água corporal que, além de desidratar as células, sempre é recuperada por ser necessária para a boa saúde dos órgãos. Além disso, analisou: A perda de proteína corporal atrofia o tecido muscular, os ligamentos e os tendões facilitando as lesões nos esforços e práticas físicas. Processo degenerativo que causa dor. Não é preguiça! 47 Porém, todo este sofrimento é absolutamente desnecessário porque a redução de 2kg de gordura corporal também pode ser obtida assim que comer, dormir e brincar se tornam hábitos diários e regulares.43 Pesquisas científicas, realizadas para estudar esta harmonização, mostram diminuição de 500 gramas de gordura corporal por semana. 48 Quer dizer, em um mês, são os mesmos 2 kg de GC obtidos com a dieta. 49 Porém, ele pensou: Sem desidratar as células e sem usar as proteínas dos músculos porque a pessoa está se alimentando, dormindo e brincando. Sem sentir culpa nem sofrer com alimentos proibidos. Ele, concluiu: 47 Em muitos casos o corpo está tãodanificado que precisa começar pela fisioterapia. Somente vai para os exercícios físicos após alta e percepção pessoal de disposição física para o esforço. 48 A reportagem publicada pelo Caderno de Saúde, na p A16, do Jornal “O Estado de São Paulo, no dia 7 de dezembro de 2003, resumiu parte dos estudos que apresentamos no 10th International Congress of Obesity, no ano de 2002. Estes estudos estão descritos integralmente em Cezar, C. (2019 -2ª edição). 49 Incluímos as referências como nota para mostrar que os temas são oriundos de pesquisas científicas, feitas por nós ou por terceiros. Também para contextualizar e tirar o tema da superficialidade, pois tem embasamento amplo e específico na Ciência, mostrando, inclusive, que muitos deles tem mais de 100 anos e, por fim, para serem acessadas quando houver interesse. Componentes corporais perdidos após 30 dias de dieta restritiva Peso total corporal Água corporal Gordura corporal Proteína corporal Profª Drª Claudia Cezar 30 A obesidade é complicada porque reflete a ampla diversidade humana. A dificuldade de entender esta doença a associou, inadequadamente, ao pecado da gula e ao vício. Mas não é gula nem vício, é uma doença.50 Esta compreensão, simples e lógica, pode se tornar difícil de entender para quem estudou toda a Educação Básica de forma fragmentada.51 Pois, neste caso, não foi estimulado a enxergar e a reconhecer que o ser humano é um dos animais da cadeia alimentar e, igualmente a todos os vegetais, tem suas células constituídas por moléculas formadas pelos átomos da tabela periódica. Nada se cria, tudo se transforma. Nossas células também! Nossa boa saúde depende do uso inteligente das Ciências ensinadas nas escolas. Ainda bem que os professores deste rapazinho ensinam AENE, em aula, para associar os conteúdos teóricos com a vida real e a saúde.52 Entusiasmado, se lembrou que aos 11 anos teve um divertido professor de Ciências, o senhor Valdir. Então imitou a voz do mestre: “ A Lei de Proust explica que uma substância composta é formada por substâncias mais simples”. Puxa, ele pensou: As células fazem exatamente isso! Alegremente emendou: A Lei de Lavoisier esclarece que “a soma das massas das substâncias reagentes é igual à soma das massas dos produtos da reação.” Sorriu e disse: Nossa! Estas definições complicadas ainda estão guardadas em minha memória. Em geral, é mais comum lembramos, apenas, que “nada se cria, tudo se transforma”. Assim que facilitou a informação, se lembrou de sua engraçada amiga Edna, pois ela simplificaria mais ainda. Divertida, ela diria, apenas: 50 A busca pelo entendimento da complexidade humana é antiga e data dos primeiros filósofos, mas a Psicologia é a área da Ciência que mais proporcionou enriquecimento com pesquisas. 51 No Brasil, o sstema educacional tem dois níveis, a Educação Básica, que se refere aos ensinos infantil, fundamental e médio, e o Ensino Superior, que é a graduação profissional. Mas, em todos eles, e não apenas em nosso país, o conhecimento é tratado de modo segmentado. Estaa fragmentação em séries e componentes curriculares simplificam e facilitam o entendimento do ponto estudado mas fica sem articulação com o todo, com a vida cotidiana ou com a saúde. Mais em Morin, E. (2011) A cabeça bem feita: repensar a reforma, reformar o pensamento - Ed. Bertrand Brasil. 52 O estudo original da Pesquisa-ação AENE Brasil saiu no Caderno Vida & Saúde, p A18, do Jornal “O Estado de São Paulo, no dia 22 de maio de 2005 e está sintetizado no livro Inovações Radicais na Educação (2019, no prelo) Ed. Artmed. Veja mais em www.ipepcoh.com.br Obesidade infantil: comer dormir brincar 31 “Somos o que comemos” e sorriu. Mas simplificar demasiadamente é inadequado! Já tem gente pensando que “quem come coxinha vira coxinha” e não é isso, o sistema digestório trabalha pelas nossas células! Primeiro, os alimentos são divididos em nutrientes, água e não-nutrientes, ou seja, aquelas substâncias que não são alimentos.53 Os nutrientes que são macro são os carboidratos, as gorduras e as proteínas, e os micronutrientes, são as vitaminas e os minerais. Porém, ele pensou, como as moléculas dos macronutrientes são grandes para entrarem nas células, elas precisam ser quebradas até chegarem à sua menor parte, que são a glicose, o ácido graxo e o aminoácido, respectivamente. É por nossas células que precisamos comer! Além dos nutrientes serem a matéria prima para elas trabalharem, cada célula é construída exatamente com proteínas, gorduras, carboidratos, vitaminas, minerais e água. Sem alimentação, nem o sistema digestório funciona direito. Ele riu e recuperou o raciocínio: Quer dizer, se for boa a qualidade dos ingredientes usados para fazer a coxinha, ela é transformada em glicoses, ácidos graxos, aminoácidos, vitaminas e minerais. Exatamente os materiais que nossas células precisam para funcionar e ter boa saúde! O problema somente existe se comermos coxinhas em excesso ou em alta frequência na rotina. Coxinha ou outro alimento gorduroso… A alimentação é um assunto fundamental para todo ser humano. Ninguém cuida bem de sua saúde sem dominar, minimamente, este conhecimento porque nossas células dependem disso. No mínimo, a pessoa precisa ser atenta com os rótulos do que compra para comer e, é por isso que se ensina este assunto nas escolas e nos livros didáticos.54 Entender assuntos complexos de forma fácil é um dos benefícios de tratar-se com inteligência, é por isto que são ensinados no tratamento.55 53 Detalhes em Tito & Canto (2002) Química para o cotidiano (ensino médio), Ed. Moderna. 54 Embora, no Brasil, a Lei 13.666 de 16/05/18 já esteja em vigor, é uma das necessidades mais antigas da Educação Básica tem sido tratada nos livros didáticos há mais de meio século. No entanto, a graduação dos professores precisa incluir, como docentes, profissionais de nutrição, habilitados em didática e pedagogia, suficiente, para viabilizar a aprendizagem de um conteúdo tão complexo como este. Sem tal orientação profissional em sua formação, os professores continuarão encontrando o conteúdo alimentar nos livros sem conseguir trabalhar com eles. Por outro lado, quanto mais os professores se dedicarem na aprendizagem deste conhecimento, mais o aproveitarão para si mesmos e para suas famílias, além de aprimorarem sua capacidade profissional para uma necessidade da mais alta relevância à sociedade e ao mundo. 55 Este livro é uma síntese, veja as pesquisas sobre o tratamento inteligente na nota de nº 12. Profª Drª Claudia Cezar 32 A retirada de macronutrientes e micronutrientes dos alimentos é conteúdo aprendido nas aulas de biologia e de química.1,9 Mas ensinados sem sentido para a realidade do aluno é um desperdício porque fica aproveitado apenas para as provas. Mas é somente o trabalho de professores comprometidos com o ensino significativo, para a vida toda, que preenche esta lacuna. Uma falha identificada no início do século XIX. É nossa falta de capacidade para associar as informações da Educação Básica com a saúde que dificulta a harmonização dos hábitos de comer, dormir e brincar na rotina diária. Afeta, também, o entendimento do peso corporal, pois não deve ser o único critério de sucesso no tratamento da obesidade. Muito menos que o peso possa ser um indicador de boa saúde corporal.56 Ele parou e pensou um pouco. Então, anotou na ficha: Vou explicar as ricas e complexas informações que estão ocultas no peso para que eles consigam usá-las a seu favor. Assim, além de entenderem como interpretar os quilos, na balança, passarão a pesar-se apenas uma vez por semana. É, pois mais
Compartilhar