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IGREJA O BRASIL PARA CRISTO CONDUTA CRISTÃ “UMA ABORDAGEM ESPECÍFICA NA PERSPECTIVA DO JOVEM CRISTÃO” LUCIANO DE MEDEIROS DANTAS PICUÍ-PB 2019 Sumário Apresentação ..................................................................................................... 2 Introdução .......................................................................................................... 2 1 Princípios de conduta cristã ......................................................................... 5 2 Família: conduta cristã no lar ..................................................................... 10 3 Conduta fora do lar: amizade bíblica ......................................................... 18 4 Conduta cristã na academia: Fé e Ciência ................................................ 23 5 Evolucionismo, Criacionismo e TDI ........................................................... 30 6 Teodiceia ................................................................................................... 41 7 Aborto ........................................................................................................ 48 8 Homossexualidade .................................................................................... 54 9 Feminismo ................................................................................................. 61 10 Bíblia: fato ou mito? ................................................................................... 70 11 Conduta Cristã no Trabalho ....................................................................... 81 12 O cristão, a moda e a internet .................................................................... 90 13 Conduta cristã no culto .............................................................................. 99 14 Sexo ......................................................................................................... 106 15 Namoro, noivado e casamento ................................................................ 115 16 Vocação ................................................................................................... 122 Referências .................................................................................................... 134 Luciano de Medeiros Dantas (emaillucianodantas@gmail.com) Marido de Hévila e pai de Samara; membro da igreja O Brasil Para Cristo em Picuí-PB; Professor de Ciências Biológicas licenciado pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG-CES) e seminarista do Instituto Teológico Superior de Missões (ITESMI). 2 Apresentação Muitos jovens cristãos (e até adultos) sofrem diante das pressões e influências sociais que enfrentam em seu dia a dia, e que opõem-se aos princípios de sua fé. Além disso, eles têm que lidar com as cargas hormonais, sentimentais e imaturas, próprias da idade, que os leva a uma busca por aceitação. Caracteristicamente, nessa busca, o jovem expõe-se a diversos grupos sociais que podem influenciá-lo de forma negativa, como Carlos Grzybowski afirma: "o desejo de ser aceito e reconhecido num grupo de iguais pode ser uma armadilha psicológica"1. Por isso, é fundamental que o cristão tenha condições de dar razão de sua fé (1Pe 3.15b), de maneira que possa ter um sólido alicerce para sobreviver e moldar o mundo a sua volta. Tal condição deve ser desenvolvida através do ensino e formação de um espírito cauteloso (Pv 1.4), onde é fundamental a participação da família e igreja. Nesse intuito é que nos propusemos a abordar temas que, por muitas vezes, são considerados tabus na igreja e no lar cristão. Entendendo que a igreja é co- responsável (juntamente com a família) pelo dever de ensinar todo o evangelho (Mt 28.19-20a), de maneira que possa ser aplicado em todas as áreas da vida. Não temos a pretensão de abordar o tema geral desse estudo de maneira exaustiva, mas trabalha-lo de forma específica, elencando e discutindo os assuntos mais pertinentes e “complexos”, para os jovens cristãos, através de uma análise bíblica-teológica. Dessa forma, esperamos que os cristãos possam ter sua fé fortalecida pela plena compreensão do poderoso evangelho de Cristo e ser influentes em nossa sociedade. Introdução Diferente de tempos atrás, os cristãos atuais estão menos rígidos quanto aos seus padrões morais, abrindo-se para discussões e mudanças. Ao analisar nossa sociedade iremos perceber que essa disposição é o motivo do cristianismo 1 GRZYBOWSKI, C. Macho e fêmea os criou: celebrando a sexualidade. 2. ed. Viçosa, MG: Editora Ultimato, 2013, p. 93. 3 ter se tornado egoísta e imediatista. Os catecismos e confissões oriundos da Reforma expuseram doutrina e ética, mas, sob influência da filosofia do séc. XVIII criou-se uma segregação entre essas duas áreas. Isso favoreceu a falha do cristianismo em desenvolver uma teologia satisfatória a vida cotidiana2. Diante dessa resiliência da igreja contemporânea nos questionamos se conseguiremos manter nossos pontos centrais de fé intocados. Isso porque, sabemos que “a ética [campo que rege a conduta cristã] é a prática do que cremos”3. O Cristianismo é mais do que a crença em um sistema de doutrinas sobre Deus. É uma forma de ver e entender toda a realidade que modela nossa maneira de viver4 (uma cosmovisão). Portanto, uma teologia deficiente causa uma conduta deficiente. Crer em verdades absolutas torna nossa ética firme. O relativismo, que domina nossa sociedade, forja uma ética flácida e situacional. A Ética Cristã é pautada nas Escrituras Sagradas, não é conformada aos ditames de uma sociedade secularizada. Ela é teocêntrica e dissonante à ética secular5. Ela consiste no conjunto de valores morais bíblicos pelo qual o homem deve trilhar sua conduta diante de Deus, do próximo e de si mesmo. É um estilo de vida em conformidade com a fé cristã revelada por Deus (1 Pe 1.18-19)6. Jesus Cristo é o verdadeiro padrão moral para a conduta dos cristãos (Jo 13.15)7 e, como o próprio nome propõe, o cristão deve ser um imitador de Cristo. Ou seja, através de uma análise piedosa e sincera da Bíblia, podemos ser instruídos nos princípios de fé ensinados e exemplificados em Cristo, que nos conduzirão a responder as demandas de nossa sociedade, de maneira fiel à boa e perfeita vontade de Deus, revelada em seu Filho. 2 TOKASHIKI, E. B. As características da ética cristã. Academia.edu (Website). Disponível em: <https://www.academia.edu/4460389/Princ%C3%ADpios_B%C3%A1sicos_da_%C3 %89tica_Crist%C3%A3>. Acesso em: 14 fev. 2019, p. 4. 3 Ética Cristã: o que é e onde está? Comunhão (website), 2014. Disponível em: <http://co munhao.com.br/etica-crista-o-que-e-e-onde-esta/>. Acesso em: 12 fev. 2019. 4 TOKASHIKI, op. cit., p. 6. 5 Ibidem. p. 12. 6 Ibidem. p. 15. 7 Ibidem. 4 Referências Ética Cristã: o que é e onde está? Comunhão (website), 2014. Disponível em: <http://comunhao.com.br/etica-crista-o-que-e-e-onde-esta/>. Acesso em: 12 fev. 2019. GRZYBOWSKI, C. Macho e fêmea os criou: celebrando a sexualidade. 2. ed. Viçosa, MG: Editora Ultimato, 2013. TOKASHIKI, E. B. As características da ética cristã. Academia.edu (Website). Disponível em: <https://www.academia.edu/4460389/Princ%C3%ADpios_B%C 3%A1sicos_da_%C3 %89tica_Crist%C3%A3>. Acesso em: 14 fev. 2019. 5 1 Princípios de conduta cristã O homem foi criado à imagem de Deus (Gn 1.26-27), compartilhando, limitadamente, o caráter de seu Criador. Essa “imagem” é o conjunto das qualidades ou atributos que Ele reflete nos homens(justiça, santidade, imortalidade, etc), tornando possível os relacionamentos que estabelecemos com Deus e nosso próximo (Gn 1.26)1. Tais atributos, em nós comunicados, são exigidos em nossa vida prática, regendo nossa moralidade (Lv 19.2; 20.26; Mt 5.48)2. Essa exigência se faz necessária diante do propósito supremo e principal do homem, que é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre3 (Sl 73.24-26; Rm 11.36; 1Co 10.31), e uma das maneiras de realizar tal função é espalhar a imagem de Deus refletida em nossa conduta4 (Gn 1.28). No Antigo Testamento (AT), a grande síntese da moralidade divina é inicialmente expressa no Decálogo (Êx 20.1-17; Dt 5.6-21)5. Nele temos prescritos nossos deveres para com Deus e para com o próximo. De acordo com C. S. Lewis, essa moralidade, no que tange nossa relação horizontal, sempre esteve impressa no ser humano, desde a criação, e nunca foi alterada, renovada ou recriada, mesmo após o ministério de Cristo. Para Lewis, a Regra Áurea do Novo Testamento (NT) que nos ensina a fazer aos outros o que gostaríamos que fizessem conosco (Mt 7.12; 22.37-40), é o resumo do que todos sempre reconheceram como correto6, além de ser um resumo do próprio Decálogo. Quanto ao NT, uma das melhores passagens que sintetizam a ética de Jesus está contida no Sermão da Montanha (Mt 5-7), onde os cristãos são 1 TOKASHIKI, E. B. As características da ética cristã. Academia.edu (Website). Disponível em: <https://www.academia.edu/4460389/Princ%C3%ADpios_B%C3%A1sicos_da_%C3%89tica_Crist%C3% A3>. Acesso em: 14 fev. 2019, p. 10. 2 Ética Cristã: o que é e onde está? Comunhão (website), 2014. Disponível em: <http://comunhao.com.br/etica-crista-o-que-e-e-onde-esta/>. Acesso em: 12 fev. 2019. 3 Catecismo Maior de Westminster. Monergismo (Website). Disponível em: <http://www.mone rgismo.com/textos/catecismos/catecismomaior_westminster.htm>. Acesso em: 14 fev. 2019. 4 MENDES, A.; MERKH, D. O namoro e o noivado que Deus sempre quis: resgatando princípios bíblicos na construção de relacionamentos duradouros. 1. ed. São Paulo: Hagnos, 2013, p. 56. 5 Ética Cristã, op. cit. 6 LEWIS, C. S. Cristianismo puro e simples. 3. ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2009, p. 108. 6 caracterizados pela humildade, mansidão, misericórdia, integridade, justiça, paz, perdão, verdade, generosidade e amor7; virtudes que são observadas em Cristo (Mt 7.28-29). Diante dessa conduta perfeita do Filho de Deus, somos constrangidos e compelidos a obedecer, e fundamentar nossa ética, ao princípio expresso no segundo grande mandamento, que resume todo o Sermão do Monte: “amar ao próximo como a nós mesmos”; o que implica em amar pessoas que não tem nada de amáveis, assim como nós mesmos nos amamos. Lembrar que é dessa forma que Deus nos ama, talvez nos ajude e faça com que amar o próximo se torne mais fácil8, porém, é inerente ao cristão a consciência de que tal amor é gerado e aperfeiçoado pela obra do Espírito Santo em nós. O Rev. Ewerton B. Tokashiki afirma acertadamente que a Ética Cristã “não se limita a atos externos, mas requer uma motivação e intenção interna”9. Partindo do princípio de que as pessoas são incapazes, por si mesmas, de aceitar a perfeita vontade de Deus, expressa na Escritura Sagrada, e muito menos de obedecê-la (Jo 6.63; Rm 7.18-19), concluímos que a dignidade do ser humano está nas virtudes produzidas pelo Espírito de Deus nele10. Pois, uma vez unidos a Cristo pela fé, nós podemos viver uma nova vida (2Co 5.17; Gl 2.20), que nos impulsiona, em nossa conduta, a uma imitação de Cristo (Rm 15.5; Gl 2.20; Ef 5.1-2; Fp 2.5). Portanto, o viver ético da conduta cristã é sempre fruto dessa obra do Espírito Santo em nós (Gl 5.22-23), e é enfatizado no bem-estar do próximo ao qual Cristo morreu (Rm 12.5; 14.15; 1Co 8.11; 12.27; Gl 3.28; Ef 4.25; 1Ts 4.6)11. 1.1 Fruto do Espírito Em sua carta aos gálatas, o apóstolo Paulo, combatendo o ensino dos judaizantes que deturpavam a fé da igreja na Galácia, nos ensina que o cristão não leva uma vida de santidade por esforços próprios, mas 7 Ética Cristã, op. cit. 8 LEWIS, op. cit., p. 159-160. 9 TOKASHIKI, op. cit., p. 3. 10 Ibidem. p. 8. 11 Ética Cristã, op. cit. 7 seu relacionamento com Deus e com o próximo12 se dá pelo poder e obra do Espírito Santo que em nós habita13. Em Gl 5.22-23, a Sagrada Escritura exemplifica essa transformação que o Espírito realiza em nossa ética através da metáfora do “fruto do Espírito”. Não iremos nos deter especificamente em cada elemento citado do fruto do Espírito, mas iremos expor como esse “fruto” é gerado e o que ele é. 1.1.1 Obra vs Fruto Quando Paulo inicia o tema do “fruto do Espírito”, ele está, diretamente, criando um contraste deste com as “obras da carne”. Obra é algo realizado pela força humana. Fruto é produzido pelo ramo através da seiva que recebe da videira (Jo 15.5)14. Ou seja, todas as virtudes de conduta e ética citadas na perícope (amor, alegria, longanimidade, benignidade, fidelidade, mansidão e domínio próprio) são oriundas da ação do Espírito Santo de Deus que “corre” como seiva dentro de nós, nos dando vida e energia para que frutifiquemos. Da mesma maneira como um ramo, que recebe da videira vida e nutrição, o crente em Cristo também recebe toda a sua força da verdadeira vida, sendo assim capaz de viver de forma frutífera15. 1.1.2 O Fruto Perceba que a palavra “fruto” está no singular, enquanto que a palavra “obras” está no plural. Isso porque o Espírito produz um único tipo de fruto no cristão. Esse fruto é a “semelhança com 12 BIBLIA, Português. Bíblia Sagrada Almeida Século 21: Antigo e Novo Testamento. Tradução de João Ferreira de Almeida. 2ª ed. São Paulo: Vida Nova, 2008, p. 1182. 13 MACDONALD, W. Comentário Bíblico Popular: Novo Testamento. 2. ed. São Paulo: Mundo Cristão, 2011, p. 584. 14 Ibidem. p. 602. 15 Ibidem. 8 Cristo”16. As virtudes listadas, no texto, pelo apóstolo Paulo são: 1) amor – o que Deus é e devemos ser; 2) alegria – que é satisfação em Deus (Jo 4.34); 3) paz – com Deus e entre os cristãos (Lc 8.22- 25); 4) longanimidade – paciência diante das aflições (Lc 23.34); 5) benignidade – carinho (Mc 10.14); 6) fidelidade – ser digno de confiança; 7) mansidão – tomar lugar de humildade (Jo 13.1-17); e 8) domínio próprio – controle de si mesmo. Todas essas virtudes descrevem Cristo. Portanto, o Fruto do Espírito é nos transformar para sermos semelhantes a Cristo (2 Co 3.18)17. 1.2 Conclusão Os princípios que devem reger nossa ética são: o amor ao próximo e as virtudes de Cristo em nós. Em cada tema que será tratado perceberemos que esses dois princípios irão nos guiar, como leis centrais, pois, o amor ao próximo será a nossa Regra Áurea, e as virtudes geradas pelo fruto do Espírito, nossas atitudes de resposta a esse mundo caído. Referências BIBLIA, Português. Bíblia Sagrada Almeida Século 21: Antigo e Novo Testamento. Tradução de João Ferreira de Almeida. 2ª ed. São Paulo: Vida Nova, 2008. Catecismo Maior de Westminster. Monergismo (Website). Disponível em: <http://www.monergismo.com/textos/catecismos/catecismomaior_westminster.h tm>. Acesso em: 14 fev. 2019. Ética Cristã: o que é e onde está? Comunhão (website), 2014. Disponível em: 16 MACDONALD, op. cit., p. 602. 17 Ibidem. 9 <http://comunhao.com.br/etica-crista-o-que-e-e-onde-esta/>. Acesso em: 12 fev. 2019. LEWIS, C. S. Cristianismo puro e simples. 3. ed. SãoPaulo: Editora WMF Martins Fontes, 2009. MENDES, A.; MERKH, D. O namoro e o noivado que Deus sempre quis: resgatando princípios bíblicos na construção de relacionamentos duradouros. 1. ed. São Paulo: Hagnos, 2013. MACDONALD, W. Comentário Bíblico Popular: Novo Testamento. 2. ed. São Paulo: Mundo Cristão, 2011. TOKASHIKI, E. B. As características da ética cristã. Academia.edu (Website). Disponível em: <https://www.academia.edu/4460389/Princ%C3%ADpios_B%C 3%A1sicos_da_%C3 %89tica_Crist%C3%A3>. Acesso em: 14 fev. 2019. 10 2 Família: conduta cristã no lar Nessa parte de nosso estudo, iremos analisar os ensinamentos do AT e NT acerca dos papeis e responsabilidades dos pais, mães e, principalmente, filhos dentro do ambiente familiar. Isso se faz necessário devido dois fatores: 1) nossos jovens futuramente serão pais e mães, que deverão saber portar- se com seus filhos; e 2) é na adolescência e juventude que os filhos começam a se distanciar dos pais e, devido a filosofia secular, reivindicam independência indevida dentro da família, causando vários transtornos. Ao passo que formos entendendo os papeis de cada membro da família e aplicarmos os princípios de conduta cristã, pintaremos uma imagem bíblica para nossos relacionamentos familiares, tendo em vista que a família é uma instituição divina que precede a igreja, evidenciando sua importância máxima. Uma família desajustada tem maior probabilidade de promover uma igreja e sociedade desajustada. Antes de tudo, precisamos entender que o termo “família”, segundo Köstenberger e Jones, pode ser definida como, primeiramente, "um homem e uma mulher unidos em matrimônio, mais (em geral) filhos naturais ou adotivos e, de modo secundário, qualquer outra pessoa com parentesco consanguíneo"1. Essa definição segue o que, atualmente, nossa cultura ocidental moderna denomina de família nuclear (pai, mãe e filhos), porém, no período bíblico, as famílias eram extensas e viviam em lares amplos (pai, mãe, filhos solteiros e casados, escravos e suas famílias)2. Essa distinção cultural inicial é importante. 2.1 A família no Antigo Israel Como já citado, diferente do conceito moderno de família nuclear, os lares israelitas antigos englobavam um grande número de indivíduos e tudo na comunidade girava em torno do pai (ou seja, a família era patricêntrica). Embora o pai fosse o líder do lar, o AT quase nunca 1 KÖSTENBERGER, A. J.; JONES, D. W. Deus, casamento e família: reconstruindo o fundamento bíblico. 2. ed. São Paulo: Vida Nova, 2015, p. 91. 2 Ibidem. p. 91. 11 focaliza seu poder, sendo ele, normalmente, uma inspiração de confiança e segurança na família (cf. Jó 29.12-17; Sl 68.5-6). Portanto, a ênfase não era sobre o poder e os privilégios associados à posição do pai, mais sobre as responsabilidades referentes à sua liderança3. 2.2 O papel de cada membro 2.2.1 O pai O AT nos apresenta algumas das principais responsabilidades dos pais4: • Viver como exemplo da fidelidade pessoal de Deus (Gn 6.9; Js 24.15; 2Rs 18.1-3); • Liderar a família nos festivais e promover a memória da salvação; • Instruir a família nas tradições bíblicas (Dt 6.7-9, 20-25); • Suprir a família; • Defender a família (Jz 18.21-25); • Atuar como chefe e representante da família nas assembleias (Rt 4.1-11); • Preservar o bem-estar e unidade da família. Podemos resumir essas atribuições paternas como responsabilidades quanto a integridade espiritual e/ou moral, física e constitucional da família. Já no NT, mais precisamente em Ef 6.4, vemos que o pai possui a responsabilidade particular de disciplinar os filhos e educa- los quanto a fé cristã. No que se refere a interpretação do termo “provocar a ira” (que consiste no modo em que deve ocorrer a disciplina), Köstenberger e Jones escrevem5: 3 KÖSTENBERGER & JONES. op. cit., p. 92. 4 Ibidem. 5Ibidem. p. 114-115. 12 [...] os pais não devem usar a posição de autoridade para irritar os filhos, mas sim, trata-los com bondade (1Co 4.15, 21; 1Ts 2.11; Cl 3.21; Ef 4.6). [...] Os filhos são pessoas com dignidade própria. Não são escravos pertencentes aos pais, mas sim, indivíduos confiados a eles por Deus como incumbência sagrada. [...] quando tratados de forma indevida, os filhos podem desanimar (Cl 3.21). Portanto, o pai deve evitar os extremos: nem ser o “incentivador” que não disciplina, nem um “disciplinador severo” (1Ts 2.11-12)6. Podemos dizer que um caráter semelhante ao de Cristo é o perfil exigido aqui. Perceba que, mesmo diante da cosmovisão patricêntrica, a autoridade masculina é caracterizada por liderança mediante o serviço, visando o bem-estar da família7, onde aplica-se o princípio de amor ao próximo que estudamos anteriormente. 2.2.2 A mãe Esposa e mãe, no antigo Israel, possuíam uma posição elevada (Gn 1.27-28; 2.18, 22-25), ao mesmo tempo em que eram funcionalmente subordinadas ao marido e cabeça da família8. Quanto ao assunto da subordinação feminina ao homem, C. S. Lewis explica de modo brilhante a necessidade da subordinação e o porquê de o "cabeça" ser o homem. Lewis argumenta que a ideia de um "cabeça" no casamento preserva a permanência do contrato matrimonial, tendo em vista a necessidade de tomadas de decisões diante de desacordos dentro do lar. Para Lewis "não se pode ter uma associação permanente sem uma constituição". Respondendo ao porquê de ser o homem o "cabeça" do lar, o autor defende que o homem é mais justo em "políticas externas" à família, ou seja, em assuntos relacionados às pessoas de fora. Enquanto que a mulher possui um instinto natural de defender e lutar pelas causas de seus filhos e marido, sendo a "curadora 6 KÖSTENBERGER & JONES. op. cit., p. 115. 7 Ibidem. p. 95. 8 Ibidem. p. 94. 13 especial dos interesses da família", a função do marido é "garantir que essa predisposição natural da mulher não chegue a predominar"9. Köstenberger e Jones também elencam algumas das evidências de dignidade e influência da esposa e mãe da família no antigo Israel10: • Possuir uma relação complementar com o homem na vida sexual (Cânticos dos Cânticos); • Ser honradas pelos filhos (Êx 20.12); • Defender, juntamente com o marido, a honra das filhas; • Instruir, juntamente com o marido, os filhos (Pv 1.8; 6.20); • Ter iniciativa, criatividade e energia (Pv 31); • Exercer influência positiva sobre o marido; • Quando necessário, exercer liderança. Semelhante ao marido, a mãe também possuía responsabilidades específicas para com os filhos que estão resumidas em Pv 31. Dentre essas responsabilidades estão a de treinar as filhas para seus futuros papéis de esposa e mãe11. Entre os papéis de esposa e mãe, a atribuição principal da mulher no NT é a maternidade, ou seja, dar à luz, criar os filhos e administrar o lar (1Tm 2.15; cf. 5.14). A maternidade, no ensino bíblico, é enaltecida como “vocação suprema e privilégio da mulher”. Essa mensagem é difícil de ser ouvida em nossa cultura tão feminista. Porém, a Bíblia não restringe a mulher, mas determina a essência de sua vocação divina e as incentiva a viver essa vocação. Isso trará maior bênção e realização à 9 LEWIS, op. cit., p. 149-150. 10 KÖSTENBERGER & JONES. op. cit., p. 94. 11 Ibidem. p. 95. 14 mulher, marido e família12. 2.2.3 Os filhos A procriação é parte do plano de Deus para o casamento (Gn 1.28 cf. 9.1, 7; 35.11), sendo a expressão visívelde sua união conjugal em “uma só carne” (Gn 2.24). No AT a expectativa geral para um homem e uma mulher era a de que se casassem e tivessem filhos13. As principais responsabilidades dos filhos eram14: • Honrar os pais (Êx 20.12; Dt 5.16); • Respeitar outros adultos mais velhos; • Suprir as necessidades dos pais na velhice; • Ajudar de várias maneiras dentro e ao redor da casa dos pais, assim que tivessem idade para fazê-lo. O contexto bíblico e cultural mais amplo em relação aos filhos, que resume suas atribuições, é o de honrar pai e mãe. Rebelar- se contra os pais equivale a desonrar o Senhor (cf. p. ex., Êx 21.15, 17; Lv 19.3; 20.9; Dt 21.18-21; 27.16). No NT a desobediência aos pais é uma característica do final dos tempos (Mc 13.12; 2Tm 3.1-2; cf. 1Tm 1.8-9), e provoca a ira divina (Rm 1.30, 32)15. Por isso devemos nos conscientizar das graves consequências desse pecado e começar a trata-lo com maior atenção na igreja. Paulo nos apresenta alguns motivos para que os filhos obedeçam a seus pais em Ef 6.1-3. Segundo o apóstolo, um dos motivos pelo qual devemos obedecer a nossos pais é “porque é justo”; pois um princípio básico da vida familiar é que os imaturos 12 KÖSTENBERGER & JONES. op. cit., p. 115. 13 Ibidem. p. 95. 14 Ibidem. p. 96-97. 15 Ibidem. p. 112. 15 se submetam às autoridades mais sábias. Outro motivo é que essa submissão é para o nosso bem-estar (“para que te vá bem”)16. O mesmo texto demonstra que essa atitude de honrar deve ser exercida “no Senhor”, que equivale a “como ao Senhor” (cf. Ef 5.22; 6.5), indicando que a obediência aos pais faz parte de nossa submissão a Cristo17. O termo também significa obediência em tudo que estiver “de acordo com a vontade de Deus”. Em situações de desobediência a ordens que ferem a santidade de Deus, devemos, educadamente, recusá-las e, humildemente, sofrer as consequências sem retaliar. A submissão aos pais existe independentemente de serem crentes ou não. A relação pai-filho é ordenada à toda a humanidade, não só aos cristãos18. No Decálogo temos tal mandamento, justamente, logo após os mandamentos referentes à santidade de Deus, sendo o primeiro mandamento a tratar dos relacionamentos horizontais. Fica evidente que honrar aos pais é o princípio pedagógico para que os filhos aprendam a honrar a Deus e aos outros. Essa responsabilidade também se estende à velhice (1Tm 5.8) como um modo de retribuir a criação que receberam (1Tm 5.4)19. Entenda, aposentadoria não é bíblico (risos)! Paulo também mostra que a submissão aos pais é resultante da obra do Espírito Santo em nós (Ef 6.1; cf. 5.18, 21). Estar cheio do Espírito resulta em submissão aos outros20 (Ef 5.18, 21). Portanto, somente filhos regenerados são capazes de praticar tal padrão de sujeição de forma continuada e deliberada, sendo 16 MACDONALD, W. Comentário Bíblico Popular: Novo Testamento. 2. ed. São Paulo: Mundo Cristão, 2011, p. 649. 17 KÖSTENBERGER & JONES. op. cit., p. 113. 18 MACDONALD, op. cit., p. 649. 19 KÖSTENBERGER & JONES. op. cit., p. 113. 20 MACDONALD, op. cit., p. 649. 16 o resultado de um compromisso de fé em Jesus e do poder do Espírito Santo21. 2.3 Ensinamentos de Jesus acerca da família Não é o nosso objetivo tratar de toda a teologia bíblica sobre o lar cristão. Porém, é importante frisarmos que tal instituição é apenas para essa vida, assim como Cristo demonstrou. A família terrena não tem caráter eterno. Por isso, a família espiritual transcende os laços naturais de parentesco (Mt 4.18-22; 8.19-22; 10.34-36; 19.16-30; Mc 1.16-30; 3.31-35; 10.17-32; Lc 2.49; 5.2-11; 9.58, 60, 62; 28.28-30; Jo 2.4; 7.6-8)22. O casamento e a família, evidentemente, possuem lugar de grande importância nos planos de Deus para o homem, mas não é uma prioridade. Os laços de parentesco são situados em um contexto mais amplo por Jesus. Se o compromisso com a verdade do evangelho resulta em divisão, e não paz, no ambiente familiar (Mt 10.34), seguir a Jesus deve ser a nossa primeira opção (Lc 9.57-62). Mas isso não deve ser usado como justificativa para a negligência das responsabilidades dentro do lar (1Tm 5.8)23. 2.4 Conclusão De acordo com os ensinos prescritos no AT e NT, entendemos que as responsabilidades familiares dos pais consistem em preservar a integridade espiritual, física e constitucional da família; disciplinando e educando sem abusos, mas, semelhantemente a Cristo, em amor buscando o bem-estar dos seus. Quanto às mulheres, necessitam entender que sua posição no lar é elevadíssima. Estas estão sob os cuidados de seu marido, devendo ser honradas e ter seus direitos conjugais preservados. Suas atribuições consistem em instruir e defender seu lar, juntamente com o marido, e, especificamente, treinar 21 KÖSTENBERGER & JONES. op. cit., p. 113. 22 Ibidem, p. 108. 23 Ibidem, p. 109. 17 as filhas para a vida como esposa e mãe. Já os filhos devem como princípio básico honrar os pais. Entendemos que isso implica em obedecer, respeitar, ajudar e cuidar (até na velhice) dos pais como parte da submissão a Cristo. Tal submissão é uma obra do Espírito em nós, que nos torna capazes de manter o padrão de Cristo. Por último, a família natural não tem efeito eterno. Os laços espirituais sempre devem ser priorizados em uma situação infeliz de escolha. Mesmo assim, somos orientados a zelar pelos nossos parentes. Referências KÖSTENBERGER, A. J.; JONES, D. W. Deus, casamento e família: reconstruindo o fundamento bíblico. 2. ed. São Paulo: Vida Nova, 2015. LEWIS, C. S. Cristianismo puro e simples. 3. ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2009. MACDONALD, W. Comentário Bíblico Popular: Novo Testamento. 2. ed. São Paulo: Mundo Cristão, 201. 18 3 Conduta fora do lar: amizade bíblica A amizade é algo de fundamental importância para o homem. Desde a criação Deus nos mostra a necessidade do companheirismo na vida humana (Gn 2.18a). As Escrituras Sagradas nos orientam acerca do valor de bons amigos e adverte-nos sobre os perigos das más companhias. Toda essa ênfase dada ao tema ocorre devido à grande influência que amigos exercem em nossas vidas (Pv 12.26; 13.20). Amizades prejudiciais podem ter consequências eternas (Tg 4.4), por isso, devemos escolher bons amigos que nos ajudarão, especialmente em termos espirituais1. Para jovens, que ainda estão em uma jornada para escolher seu rumo, tais instruções são essenciais. Principalmente pelo risco que correm de serem influenciados por más amizades. Carlos “Catito” Grzybowski, de maneira brilhante, argumenta sobre tal risco decorrente da grande busca por aceitação e comunicação com os outros que ocorre durante a juventude2. Além de sabermos escolher amizades, também precisamos entender que devemos ser bons amigos. Portanto, veremos agora os princípios bíblicos para a escolha e tratamento de amigos. 3.1 Princípios para a escolha da amizade Não é difícil tomarmos decisões erradas. Quantos jovens, hoje, estão envolvidos com coisas da qual arrependem-se por influência de "amigos"? Por isso, algumas “amizades” precisam ser evitadas. Abaixo segue-se alguns princípios para a escolha de uma boa amizade. 3.1.1 Uma amizade não se influencia pelo exterior (aparência) Mendes e Merkh acertadamente enfatizam que a amizade bíblica não é influenciada pelo que é “externo”, como bens e 1 ALLAN, D. Amizades. Estudos da Bíblia (website). Disponívelem: <https://www.estudosdabibl ia.net/d109.htm>. Acesso em: 10 mar. 2019. 2 GRZYBOWSKI, C. Macho e fêmea os criou: celebrando a sexualidade. 2. ed. Viçosa, MG: Editora Ultimato, 2013, p. 93. 19 aparência3. Uma amizade por aparência é uma amizade de aparência (Pv 19.4, 6-7); diferentemente disso, uma amizade sincera traz alegria ao nosso coração (Pv 14.20-21). Lembre-se que bens e aparência podem nos trazer muitos amigos, mas a Bíblia valoriza a qualidade da amizade e não a quantidade de amigos (Pv 18.24)4. 3.1.2 Um bom amigo é aquele que também é amigo de Deus Diversas pessoas, não piedosas, nos oferecem companhia. A princípio não é errado relacionar-se com não cristãos, e não estou dizendo que você não tenha qualquer relacionamento que não seja com um cristão verdadeiro. Isso seria impossível (1 Co 5.9-10)5. O próprio Jesus fez questão de ter contato com pecadores (Lc 15.1). Porém, devemos entender que nosso relacionamento com não cristãos concentra-se em nosso alvo evangelístico (Mt 9.10-13), para que assim tenham comunhão conosco (1 Jo 1.3). De acordo com J. C. Ryle, é impossível descrever o prejuízo causado pela associação com pessoas ímpias, pois todos nós somos criaturas tendentes a imitação. Para Ryle, nós "podemos aprender com os ensinamentos; porém, o exemplo de vida é o que nos atrai". Ele continua: “infelizmente a saúde não é contagiosa, mas a doença sim”. É muito mais fácil assimilar as atitudes negativas do que positivas6. Portanto, o perigo em uma amizade com não cristãos está em que, na maioria das vezes, não somos influenciadores de tais pessoas. Ao invés de conduzi-las a Cristo, somos corrompidos 3 MERKH, D. J.; MENDES, A. Perguntas e respostas sobre o namoro e o noivado (que Deus sempre quis). São Paulo: Hagnos, 2015, p. 199. 4 ALLAN, op. cit. 5 RYLE, J. C. Uma palavra aos moços. São José dos Campos, SP: Fiel, 19??, p. 50-51. 6 Ibidem. p. 51-52. 20 pelas suas influências negativas (Sl 1.1; Pv 1.10-16)7. Entendemos assim, que devemos escolher amigos respeitáveis, que amam a Bíblia e que não temem falar sobre ela (Sl 119.63)8. 3.1.3 O amigo deve nos afasta de erros Um dos sinais de uma boa amizade é quando ela não nos conduz ao erro (Pv 14.7-9, 16). Pessoas que sempre nos orientam com fins benéficos são ótimas para desenvolver laços de amizade. Conselheiros que nos colocam contra nossa família ou em caminhos diferentes dos que Deus tem para nós não devem ser considerados. Roboão, filho de Salomão, ao tornar- se rei, não seguiu esse princípio e deu ouvidos ao conselho egoísta daqueles que haviam crescido com ele (1 Rs 12.7-11), com isso seu fim foi trágico. Consequentemente a isso vem o próximo tópico. 3.1.4 O amigo fiel aponta nossos erros Pessoas que sempre concordam conosco não são boas indicações para uma amizade (Ec 7.5). Uma amizade verdadeira nos corrige, e uma pessoa sábia procura amigos que demonstrem essa coragem e convicção, quando necessário9 (Pv 15.12, 14). Sei que não é agradável sermos corrigidos, mas devemos estar cientes da necessidade de termos pessoas que nos amam a ponto de nos mostrar onde estamos errados (Pv 27.5-6). Na Bíblia temos um péssimo exemplo de negligência em correção. Jonadabe, primo e “amigo” de Amnon, filho de Davi, foi confidente do sentimento incestuoso de seu primo. Ao invés de usar da oportunidade para repreendê-lo e orientar seus 7 ALLAN, op. cit. 8 RYLE, op. cit., p. 53. 9 ALLAN, op. cit. 21 sentimentos, acabou ajudando-o a pecar e sendo sócio em tudo de mal que ocorreu a Amnon e sua família (2 Sm 13.3-36). 3.2 Princípios para o tratamento da amizade Uma vez que temos bons amigos, devemos ser bons amigos! Temos responsabilidades bíblicas de companheirismo. Além das que já foram citadas, segue abaixo algumas outras. 3.2.1 Constância Amigos contam com a presença uns dos outros, independente da situação (Pv 15.30; 17.17). Porém, sempre é bom usar o bom senso, pois não devemos abusar da amizade, causando aborrecimentos (Pv 25.17). Você deve ser presente, não inconveniente. 3.2.2 Lealdade Não devemos trair ou abandonar nossos amigos (Pv 27.10), nem sermos interesseiros (ponto 3.1.1) (Ex.: Davi e Jônatas – que seria rei e mesmo assim esteve do lado de Davi, este, mesmo após a morte de Jônatas, mostrou sua fidelidade). Tal fidelidade e falta de interesse torna a amizade um espaço de mútuo benefício (Pv 27.17). 3.2.3 Compromisso Em Pv 17.17 vemos o compromisso da amizade bíblica no bem- estar alheio, não medindo esforços para promover o caráter do outro (Pv 27.17; cf. 27.5-6). Esse compromisso de se dar é muito raro em nossos dias10 e deriva-se da Regra Áurea da conduta cristã (Mt 22.39). Uma última observação importante de se fazer é que não é porque alguém 10 MERKH & MENDES, op. cit., p. 199. 22 é religioso que temos garantia de uma boa influência. Até mesmo entre cristãos é necessário evitar as más amizades (1 Co 15.33). Muitos hereges utilizam a amizade para induzir outros a aceitar doutrinas e religiões falsas (Dt 13.6-8). Devemos ter o hábito de julgar tudo (Mt 7.15-20; At 17.11) afim de retermos o que é bom (1 Ts 5.21-22). Referências ALLAN, D. Amizades. Estudos da Bíblia (website). Disponível em: <https://www.estudosdabiblia.net/d109.htm>. Acesso em: 10 mar. 2019. GRZYBOWSKI, C. Macho e fêmea os criou: celebrando a sexualidade. 2. ed. Viçosa, MG: Editora Ultimato, 2013. MERKH, D. J.; MENDES, A. Perguntas e respostas sobre o namoro e o noivado (que Deus sempre quis). São Paulo: Hagnos, 2015. RYLE, J. C. Uma palavra aos moços. São José dos Campos, SP: Fiel, 19??. 23 4 Conduta cristã na academia: Fé e Ciência O jovem passa 20% do seu dia na escola convencional. Hoje em dia com as escolas integrais (com aulas durante os turnos da manhã e tarde) essa porcentagem dobra. Considerando que em 1/3 do nosso dia nós dormimos (pelo menos uma pessoa normal), podemos afirmar que os jovens passam mais tempo na escola/universidade que em casa, com a família. Isso pode causar diversos problemas, mas, por enquanto, queremos enfatizar o quanto de tempo nossos jovens passam sendo influenciados por amigos, e ainda, por professores que exercem posição de prestígio na academia e nas escolas. Muitas das vezes, na escola/universidade, os jovens se deparam com cosmovisões que entram em conflito com a sua fé. Diante de tais ideias ele podem assumir 3 posturas distintas em feedback a essas novas informações: 1) rejeita tudo o que confronte a sua fé (ou seja, aquele alienado que diz que tudo é do demônio); 2) tentam encontrar alguma forma de moldar seu cristianismo com as teorias e hipóteses científicas, ou vice e versa (posição intermediária); ou 3) acabam sucumbindo as ideias de cosmovisão secular e, consequentemente, seguem em direção ao ateísmo. Antes de mais nada, já adianto que nenhuma das 3 posições, por mais frequentes que ocorram, são saudáveis para a fé de um jovem cristão. Tais posicionamentos ocorrem com frequência devido a confusão que o jovem sofre diante dos embates acadêmicos por lhe faltar instrução. Algo que é de responsabilidade da igreja. Nessa etapa de nosso estudo iremos ver como o jovem deve se portar diante de tanta perseguição filosófica dentro das escolas e universidades, de maneira que possa ter certeza de sua fé e não ser enganado por utopias travestidas de ciência, muito menos chegar ao ponto de afirmar que ciência, estudo, conhecimento é coisado “capiroto” ou “esfria a fé”. Portanto, esse capítulo se dividirá em 3 partes: 1) a relação entre fé e ciência; 2) a fé e a ciência na história; e 3) conselhos aos jovens cristãos que vivem em ambientes acadêmicos. 24 4.1 Relação entre fé e ciência Com certeza você já ouviu que a fé e a ciência estão em conflito. Que uma anula a outra, etc. Comentários como esses fazem com que muitos jovens sofram e evitem ter uma vida brilhante de estudos no ramo das ciências. Porém, todos esses comentários são falácias. Não podemos rejeitar a pesquisa e o estudo da natureza por causa de cientistas que fazem mau uso da ciência, nos fazendo desacreditar dela. A própria Bíblia nos ensina que o estudo da natureza nos faz contemplar o Criador (Rm 1.20), chegando ao entendimento de que há algo maior que a criação. Claro que esse equívoco ocorre devido aos erros cometidos pelo Romanismo na história. Criou-se a ideia de que a opinião da igreja Católica refletia a opinião da Bíblia. Mas, se abandonarmos dogmas religiosos e nos determos apenas nas Sagradas Escrituras, perceberemos sua harmonia com o que é investigado na natureza1. Atualmente o que ocorre não é um conflito entre fé e ciência, mas discordâncias entre religiosos e cientistas2; entre a cosmovisão cristã e a naturalista/materialista. Ambos fazendo mau uso de cada área. Para início de conversa vamos colocar cada um em seu devido lugar. 4.1.1 Cada um no seu “quadrado”! A ciência nos fornece conhecimento e informação. Ela possui um perfil investigativo e descritivo. E, mesmo que, por muitas vezes ela é usada para explicar a natureza, a ciência é impotente para conferir sentido a criação3. A ciência é incapaz de oferecer respostas para as “questões últimas” (as grandes questões da vida). Forçar a ciência a responder algo que vai além de seu escopo é abuso e falta de respeito a identidade e limites da 1 FERNANDES, R. T. Evolucionismo: a pseudociência mais aceita em defesa da heresia. [???]. p. 12. 2 Ibidem. p. 12. 3 MCGRANTH, A. E. Surpreendido pelo sentido: ciência, fé e como conseguimos que as coisas façam sentido. São Paulo: Hagnos, 2015. p. 14. 25 ciência. Isso a faz ser desacreditada. As questões da ciência são empíricas e não metafísicas. Sir Peter Medawar afirma que quando os limites da ciência não são respeitados, a ciência é prejudicada e explorada por indivíduos com agendas ideológicas4. Isso é o que vemos hoje. A ciência, por si só, é neutra, por isso pode ser interpretada de modo teísta, ateísta, deísta, etc.5 A fé, ou a cosmovisão cristã, por usa vez, intensifica nossa capacidade de visão6. Ela, diferentemente da ciência, dá sentido aos enigmas e mistérios de nossa existência7. A ciência levanta questões às quais não consegue responder, forçando-nos a fazer perguntas mais profundas8, das quais as convicções religiosas são importantes para respondê-las9. E, segundo Stephen Jay Gould, essas questões (a existência e natureza de Deus) são inalcançáveis para a ciência10. Portanto, a ciência e a teologia são disciplinas que se ocupam de fenômenos de domínios específico. Cada uma delas oferece explicações apropriadas para seu nível. No caso da ciência, ela questiona o meio pelo qual o processo ocorre. No caso da teologia, ela questiona o propósito ou sentido do processo11. Não existe nada intrinsecamente errado com a ciência. O problema diz respeito a como nós, os seres humanos, escolhemos usá-la12 ou interpretá-la. 4.1.2 Bíblia, um livro científico? 4 MCGRANTH, op. cit. p. 12. 5 Ibidem. p. 77. 6 Ibidem. p. 14. 7 Ibidem. p. 18. 8 Ibidem. p. 60. 9 Ibidem cit. p. 67. 10 Ibidem. p. 69. 11 Ibidem. p. 71-72. 12 Ibidem. p. 138. 26 A Bíblia não é um livro que se preocupa em descrever ou explicar os processos naturais, porém, como já dito, se estudarmos a Palavra de Deus, perceberemos uma harmonia entre ela e os fatos científicos. Cito abaixo alguns exemplos de leis e teorias científicas “modernas” que já eram comentadas na Bíblia, mesmo antes de seus “descobridores” ou formuladores as apresentarem a sociedade. É evidente que a Bíblia não usa linguajar científico, mas cientificamente preciso para o povo da época em que foi escrita13. O intuito aqui é de mostrar que não há conflito entre a Bíblia e os fatos científicos, como alguns argumentam. • Terra redonda – Parmênides de Eléia foi o primeiro a deduzir a esfericidade da terra14 no séc. VI a.C., mas, o livro de Isaías, escrito 1 século antes, já afirmava que a terra é “redonda” (Is 40.22). • Circulação atmosférica – em Ec 1.6 vemos a descrição da circulação atmosférica. Só para constar, esse livro data do período entre 450 e 180 a.C. • Ciclo hidrológico – em Ec 1.7 vemos a descrição do ciclo hidrológico. • Segunda lei da termodinâmica – no Sl 102.25-27 vemos a lei do aumento da entropia. • Importância do sangue para a vida – em Lv 17.11 vemos a suma importância do sangue para a vida. • Campo gravitacional – no livro de Jó, um dos mais antigos da Bíblia (escrito entre os séculos VII e IV a.C.) já mencionava algo sobre o campo gravitacional da terra (Jó 26.7). 4.2 Fé e ciência na história 13 FERNANDES, op. cit. p. 12-13. 14 NEVES, M. C. D. A Terra e sua posição no Universo: formas, dimensões e modelos orbitais. Rev. Bras. de Ens. de Fís., vol. 22, n. 4, dez. 2000. Disponível em: <http://citeseerx.ist.psu.edu/v iewdoc/download?doi=10.1.1.474.2822&rep=rep1&type=pdf>. Acesso em: 04 abr. 2019. 27 Richard Dawkins é um dos que afirmam que a ciência e a religião estão em conflito permanente. Historiadores da ciência consideram essa ideia inaceitável, ela é muito difícil de ser conciliada com os fatos da história15. Na verdade, até o final do séc. XIX, o Cristianismo era a influência intelectual predominante na maior parte das áreas da vida e da cultura do Ocidente. Várias figuras tiveram seus trabalhos impulsionados por suas ideias religiosas e filosóficas. A atual ciência foi moldada em grande parte por cristãos. Mesmo depois que o materialismo filosófico começou a se infiltrar no pensamento científico, as influências cristãs permanecem fortes16. Segue abaixo uma lista de grandes nomes da ciência que tiveram grande parte de suas pesquisas impulsionadas por suas crenças religiosas17. • Albert Einstein – “o mistério eterno do mundo é sua compreensibilidade”, “o fato do mundo ser compreensível é um milagre” 18. • Sir Isaac Newton – “A gravidade explica os movimentos dos planetas, mas não pode explicar quem colocou os planetas em movimento. Deus governa todas as coisas e sabe tudo que é ou que pode ser feito.” • Francis Bacon – (desenvolveu o método científico) dizia que preferiria crer em todas as lendas do que aceitar que a natureza não é o fruto de uma mente. • Johannes Kepler – (formulou as três leis fundamentais da mecânica celeste) “... o Criador que trouxe a existência todas as coisas do nada”. • James Prescott Joule – (estudou a natureza do calor, e descobriu relações com o trabalho mecânico) “o próximo passo 15 MCGRANTH, op. cit. p. 54. 16 PEARCEY, N. R.; THAXTON, C. B. A alma da ciência: fé cristã e filosofia natural. São Paulo: Cultura Cristã, 2005. p. 10. 17 LOURENÇO, A. J. B. A igreja e o Criacionismo. Limeira, SP: Universo Criacionista, 2009. p. 22-23. 18 MCGRANTH, op. cit. p. 68. 28 após o conhecimento e a obediência à vontade de Deus, deve ser conhecer algo sobre os seus atributosde sabedoria, poder e bondade manifesto nas obras das Suas mãos”. • Werner von Braun – (líder do projeto aeroespacial americano durante a Corrida Espacial) “ao contemplar os vastos mistérios do universo, temos apenas a confirmação da nossa fé na certeza do Criador. Acho difícil compreender um cientista que não reconhece a presença de uma racionalidade superior por trás da existência do universo, tanto quanto seria difícil compreender um teólogo que negasse os fatos da ciência”. Nossa intenção em citar esses grandes nomes da ciência não é fazer uso da falácia de apelo à autoridade, mas tentar mostrar quem mais contribuiu para a ciência no decorrer da história, a cosmovisão cristã. 4.3 Conselho aos jovens cristãos Espero que essas informações lhes façam entender que a ciência não é uma inimiga do cristianismo. Usada de maneira fiel, ela testifica o Criador, como afirma Werner von Braun. Mas queremos aqui lhe oferecer alguns conselhos que podem ser indispensáveis para uma boa apologética em meio acadêmico. • Ame os que lhe perseguem – é isso mesmo que você leu! Sei que em muitos embates, os que confrontam nossa fé tentam nos ridicularizar, mas lembre-se: você não deve ser igual a eles, nem deixar sua conduta cristã por isso. É melhor ser injustiçado por estar certo do que ser penalizado por um erro (Mt 7.12; 1 Pe 3.17). • Você precisa estudar a Bíblia – sistematicamente e de forma devocional, o estudo bíblico lhe dará fé, convicção e sabedoria. Cristão que não estuda a Bíblia se torna uma presa fácil para o inimigo19. 19 FILHO, J. P. Conspiração: uma saga anticristã. Campina Grande: VCP, 2014. p. 106. 29 • Estude todos os teóricos e teorias estudadas na academia – o cristão lida com a verdade. A ciência tem sido mal interpretada ou, pior ainda, usada para promover ideologias. Estude todos os teóricos e seus contrários para poder chegar a conclusões mais verdadeiras. • Fortaleça uns aos outros – formem grupos pequenos de estudo na escola ou universidade, até mesmo nas redes sociais. Promova campanhas contra leis anticristãs ou ensinos que vão contra nossa liberdade religiosa no mundo acadêmico, ou que promovam valores anticristãos20. Referências FERNANDES, R. T. Evolucionismo: a pseudociência mais aceita em defesa da heresia. [???]. FILHO, J. P. Conspiração: uma saga anticristã. Campina Grande: VCP, 2014. LOURENÇO, A. J. B. A igreja e o Criacionismo. Limeira, SP: Universo Criacionista, 2009. MCGRANTH, A. E. Surpreendido pelo sentido: ciência, fé e como conseguimos que as coisas façam sentido. São Paulo: Hagnos, 2015. NEVES, M. C. D. A Terra e sua posição no Universo: formas, dimensões e modelos orbitais. Rev. Bras. de Ens. de Fís., vol. 22, n. 4, dez. 2000. Disponível em: <http://citeseerx.ist.psu.edu/viewdoc/download?doi=10.1.1.474.2822&rep=r ep1&type=pdf>. Acesso em: 04 abr. 2019. PEARCEY, N. R.; THAXTON, C. B. A alma da ciência: fé cristã e filosofia natural. São Paulo: Cultura Cristã, 2005. 20 FILHO, op. cit. p. 106-107. 30 5 Evolucionismo, Criacionismo e TDI Agora que entendemos o fato de que não há um conflito entre fé e ciência, e que a cosmovisão cristã não tem nada de “anticientífica”, mas o que ocorre é um mau uso da ciência para promover ideias materialistas, veremos nesse capítulo o principal assunto “problemático” da área de Ciências Naturais, que geralmente causa embates com os cristãos na escola/universidade. Falaremos sobre as teorias acerca das origens. Nosso objetivo é oferecer um entendimento superficial, mas preciso, para que possamos ter uma noção básica que nos sirva de orientação futura em uma pesquisa mais aprofundada para desenvolvimento de uma melhor apologética. Dessa maneira nossos jovens poderão ter condições de manter sua fé firme e não irão sofrer diante das contraposições que surgirem. Abordaremos nesse capítulo as principais teorias acerca das origens: a Teoria da Evolução (TE); a Teoria do Design Inteligente (TDI) e a Teoria da Criação Especial (Criacionismo). E também faremos uma defesa e exposição dos principais argumentos do Criacionismo Bíblico. 5.1 Teoria da Evolução (TE) A TE entende que a origem de tudo se deu de modo natural e progressivo sem intervenção divina. Essa teoria se divide em três tipos distintos: a evolução do cosmos (Big Bang), a evolução química (da sopa primordial ao 1º organismo), e a evolução bioquímica (do 1º organismo ao homem)1. 5.1.1 Big Bang Em 1848, Edgar Allan Poe, em seu livro Eureka, sugeriu que o universo havia sido criado, do nada, através de uma gigantesca explosão. Após algum tempo, Edwin Hubble afirmou que o universo está em expansão, com base no desvio espectrográfico 1 EBERLIN, M. N. Fomos planejados: a maior descoberta científica de todos os tempos. 1. ed. São Paulo: Editora Mackenzie, 2018. p. 117 31 da luz das galáxias para o vermelho (redshift), sugerindo que um dia elas estiveram muito próximas. Mas, se realmente ouve uma explosão, segundo George Gamow, esse Big Bang deveria ter deixado um “rastro de calor". Esse “calor” foi descoberto em 1965, por Arno Penzias e Robert W. Wilson. Eles encontraram uma radiação de fundo que ficou conhecido como o "eco do Big Bang"2. Segundo a teoria, essa explosão ocorreu a cerca de 13,8 bilhões de anos, dando origem à matéria, tempo e energia, e, à medida que o universo esfriava, os elementos combinaram-se formando os corpos celestes que conhecemos hoje3. 5.1.2 Evolução Química Formulada por Aleksandr Ivanovich Oparin e John B. S. Haldane, essa teoria supõe que, após um resfriamento do planeta, um primeiro ser vivo unicelular (LUCA - Last Universal Common Ancestor – Último Ancestral Comum Universal) surgiu em lagos geotérmicos, mediante o aparecimento e combinação de moléculas orgânicas. A população do LUCA, então, evoluiu por milhões de anos, dando origem a todos os seres vivos atuais4. 5.1.3 Evolução Bioquímica A origem das espécies atuais, a partir do LUCA, segundo o neodarwinismo (síntese das teorias de Darwin e Mendel5), se deu por mudanças (na forma e comportamento) dos organismos de populações durante suas gerações6 que, em longos períodos 2 LOURENÇO, A. J. B. Como tudo começou: uma introdução ao criacionismo. São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2007. p. 75. 3 GOUVEIA, R. Teoria do Big Bang. Toda Matéria (website). Disponível em: <https://www.todamateria.co m.br/teoria-do-big-bang/>. Acesso em: 13 abr. 2019. 4 Origem da vida: o que é LUCA, o antepassado comum dos seres vivos que habitam a Terra. BBC (website). 2019. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/geral-47283064>. Acesso em: 13 abr. 2019. 5 RIDLEY, M. Evolução. 3. ed. Porto Alegra: Artmed, 2007. p. 25. 6 Ibidem. p. 28. 32 de tempo, ocasionou o surgimento de novas espécies7. Essas modificações são guiadas por um princípio de Seleção Natural, onde, se permitirem ao organismo sobreviver e reproduzir-se, o ambiente as manterá, do contrário, ocorre a extinção da população, eliminando essas “novidades”8. De acordo com a teoria, esse processo seria a principal causa da evolução9. 5.2 Teoria do Design Inteligente (TDI) A Teoria do Design Inteligente (TDI) é o estudo científico de padrões na natureza que possam revelar, ou descartar, a ação de uma mente inteligente (Design – DI) por trás de sua origem. Essa teoria desenvolve pesquisas que estabelecem metodologias seguras de detecção de ações naturais ouinteligentes e aplicam essas metodologias na reavaliação de dados científicos10. Segundo a TDI, há evidências de padrões característicos e cientificamente detectáveis de uma ação inteligente na natureza, indicando a ação de um DI por trás de sua origem11. Essas características da ação de uma mente inteligente são detectadas usando-se três pilares básicos: complexidade irredutível (sistema onde várias partes distintas combinam-se, com exatidão e sincronia), informação arbitrária (que não é regida por leis ou padrões naturais), e antevidência genial (capacidade de antever entraves futuros)12. A ciência pode detectar design inteligente, e o faz diariamente, em várias de suas áreas: arqueologia, ciências forenses e na procura por sinais de ETs no espaço (SETI – Search for Extraterrestrial Intelligence). Sabemos detectá-la porque suas características únicas e inquestionáveis superam, em muito, as capacidades de ação de forças 7 LOURENÇO, op. cit. p. 13. 8 RIDLEY, op. cit. p. 29. 9 LOURENÇO, op. cit. p. 13. 10 EBERLIN, op. cit. p. 47. 11 Ibidem. p. 50. 12 Ibidem. p. 52, 54-55. 33 naturais13. 5.3 Teoria da Criação Especial (Criacionismo) A Teoria da Criação Especial é conhecida como Criacionismo. Essa propõe que “a origem do universo e da vida são resultados de um ato criador intencional”14. Equipará-la com a TDI, é incorreto, mais ainda taxá-las de propostas religiosas. Tais teorias podem ter conclusões com implicações religiosas, mas não dependem de pressuposições religiosas15. O Criacionismo divide-se em 3 tipos distintos: o religioso (que estuda a criação descrita em todas as religiões existentes); o bíblico (que estuda a criação conforme descrita na Bíblia); e o científico (que propõe que a vida, na forma de tipos básicos, foi criada simultaneamente completa, complexa, com uma diversidade básica e com uma capacidade de adaptação limitada16). A partir de agora, faremos uma defesa e exposição de alguns argumentos do Criacionismo Bíblico utilizando-se da TDI e do Criacionismo Científico. Seguiremos a ordem progressiva das origens: origem do cosmos e origem da vida. 5.4 Origem do cosmos Diferente da TE, a Bíblia afirma, de modo literal, que todo o cosmos foi criado sobrenaturalmente por Deus até o 4º dia (Gn 1.3-19). Hoje, até os naturalistas afirmam que o Universo possui um início. A discussão é se ele foi criado progressivamente, em bilhões de anos, como o Big Bang defende (defensores desse argumento são criacionistas da terra antiga, que entendem os dias de Gn 1 como sendo alegorias referentes à eras), ou foi criado imediatamente como é descrito na Bíblia 13 EBERLIN, op. cit. p. 28. 14 LOURENÇO, op. cit. p. 13. 15 Ibidem. p. 15. 16 Ibidem. p. 122. 34 (defensores desse argumento são criacionistas de terra jovem, que entendem os dias de Gn 1 como sendo de 24 h). O fato é que muitas evidências apontam para um Terra jovem, diferente do que a TE afirma. • A energia que mantém o campo magnético da Terra está em decaimento exponencial. O caimento dessa corrente elétrica no núcleo metálico do planeta (campo magnético) sugere que ele é extremamente jovem (com milhares de anos)17. • Sabemos que a Lua está se afastando da Terra ~3,82 cm/ano, resultante das forças gravitacionais entre os dois corpos. A distância atual entre a Terra e a Lua é de 384.400 km18. Se fizermos o caminho oposto, a Lua estaria muito próxima da Terra quando a vida teria surgido. Ou seja, seria impossível a existência de vida. A própria teoria do Big Bang possui pontos difíceis, pois sugere uma evolução progressiva do Universo (totalmente contrário a segunda lei da Termodinâmica). Segundo ela, em uma fração mínima de segundos após a explosão, teria ocorrido um segundo evento: uma inflação (causado por outra explosão). Segundo Marcos N. Eberlin, nessa segunda explosão é uma solução criada para salvar o Universo em formação, prevenindo-o de um colapso gravitacional de toda a sua matéria e energia, conferindo um mínimo de viabilidade a teoria19. O Big Bang também deveria ter criado quantidades iguais de matéria e antimatéria. Porém, não encontramos antimatéria no Universo20 (graças a Deus!). Há também dificuldade em explicar a origem dos planetas gasosos, pois gases não se aglomeram em esferas de alta densidade21, muito menos o tamanho dos corpos celestes que não é aleatório nem resulta de algum processo seletivo progressivo22. 17 LOURENÇO, op. cit. p. 97-98. 18 Ibidem. p. 98. 19 EBERLIN, op. cit. p. 122. 20 Ibidem. p. 126. 21 Ibidem. p. 134. 22 MCGRANTH, A. E. Surpreendido pelo sentido: ciência, fé e como conseguimos que as coisas façam 35 Além de tudo isso, não há explicação de como o Big Bang tenha criado leis naturais tão específicas para a manutenção da vida e cosmos. Por exemplo: sem a gravidade, na intensidade correta que temos, a Terra não teria sua atmosfera gasosa23, e sem a intensidade correta do magnetismo do planeta, não teríamos o nosso escudo protetor (campo magnético)24. O nosso planeta também é bastante específico e perfeito para manter a vida. Segue algumas singularidades do planeta Terra25: • Estamos a uma distância "milimetricamente" calibrada do Sol para que a vida se torne viável na Terra. • O nosso Sol é especial. Se fosse maior, a Terra seria um lugar insuportável; se fosse menor, ele seria apático e gélido; se sua radiação fosse diferente (a maioria na região do visível) a vida não seria possível. • Os outros planetas do sistema solar (principalmente Marte e Júpiter) funcionam como "escudos protetores", bloqueando ou desviando asteroides que poderiam aniquilar a vida aqui. • Nossa posição na Via Láctea também é especial. Se estivéssemos próximos dos "braços" de nossa galáxia, a vida aqui estaria aniquilada. Também estamos bastante afastados do centro da galáxia, onde há "explosões cósmicas" de grande intensidade. Além disso, temos a melhor vista e o melhor campo magnético. • A Lua dirige nossas marés e correntes marítimas, evitando a estagnação da água nos mares e oceanos. Se ela estivesse um pouco mais próxima ocorreria tsunamis; mais distante, a água "apodreceria". Curiosamente a distância Sol-Terra-Lua são finamente ajustadas para possibilitar eclipses solares perfeitos, onde o Sol é totalmente coberto pela Lua. • A rotação regular da Terra permite a exposição de 12 h do lado sentido. São Paulo: Hagnos, 2015. p. 93. 23 EBERLIN, op. cit. p. 139. 24 Ibidem. p. 140. 25 Ibidem. p. 152-155. 36 do Sol escaldante, e 12 h do lado "congelante e escuro" do Cosmo. Com essa rotação precisa, a temperatura média da Terra (19 °C) sustenta a vida no planeta. Dias e noites mais longos provocariam um calor escaldante de dia e um frio congelante de madrugada. Todas essas evidências apontam para um Universo e Terra criados para manter a existência da vida26. Criados como a Bíblia afirma, em dias, não em bilhões de anos (embora Deus tenha poder para fazer de qualquer modo). 5.5 Origem da vida Sabemos que a Bíblia mostra que todos os seres vivos foram criados sobrenaturalmente por Deus. Os vegetais no 3º dia (Gn 1.11-13), as aves e os animais aquáticos no 5º dia (Gn 1.20-23), e os animais terrestres e o homem no 6º dia (Gn 1.24-27, 31). Perceba que Deus usou uma ordem lógica: os vegetais que servem de alimento para os animais foram criados primeiro. Segundo as Escrituras a vida não surgiu de modo “simples” por processosquímicos aleatórios e desconhecidos, muito menos seguiu uma progressão evolutiva, como defende a TE. Inclusive tais propostas apresentam problemas graves: • A teoria de Oparin e Haldane tentou ser “replicada” em laboratório por Stanley Miller. Seu experimento é famoso, mas, o que não é divulgado é que, não foram formados aminoácidos proteinogênicos27 das bases (arginina, lisina e histidina), os quais são necessários para a formação do RNA e do DNA28. • Também sabemos que peptídeos29, espontaneamente, se desfazem em aminoácidos (por hidrólise), e não o contrário30. 26 MCGRANTH, op. cit. p. 95. 27 São aminoácidos precursores das proteínas e que são produzidos pelas células mediante o código genético de cada organismo. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Amino%C3%A1cido_protei nog%C3%A9nico>. Acesso em: 13 abr. 2019. 28 LOURENÇO, op. cit. p. 108. 29 Compostos formados pela união de dois ou mais aminoácidos por intermédio de ligações peptídicas. 30 LOURENÇO, op. cit. p. 109 37 • Qualquer proposta de origem química vai ter problemas com a grande questão: "quem veio primeiro?" Isso porque para que existam proteínas, deve existir RNA; para que exista RNA, deve existir proteínas! • Para finalizar, a ideia de vida surgindo espontaneamente, sem um organismo pré-existente já foi refutado na ciência por Louis Pasteur. Em seu experimento ele provou que a lei da Biogênese é o que ocorre na natureza, e a Teoria da Geração Espontânea (vida surgindo de matéria inanimada) não pode ser evidenciada. 5.5.1 Origem das espécies A Bíblia não defende o Fixismo31, diferente do que muitos acham. Tal ideia existe por uma má interpretação de Gn 1.11- 12, 21, 24-25, onde é citado que as plantas e animais foram criados “cada um segundo/conforme a sua espécie”. Se o texto fosse sinônimo de Fixismo, a Bíblia não citaria mudanças nas espécies, como o faz. Em Gn 3.14 nos é exposto que as serpentes, antes da queda, não rastejavam e, após a queda, passaram a rastejar. Da mesma maneira em Gn 3.17-18 vemos que as plantas, antes da queda, não possuíam espinhos e passaram a possuir após a queda. Além do mais, todos os animais terrestres eram herbívoros antes da queda (Gn 1.30). Imagine só como seria o leão comendo pasto junto com o boi (Is 65.25). Era assim no início, mas, como a Bíblia mostra, as espécies mudaram e, como vimos, essas mudanças de forma e comportamento são denominadas de evolução. Portanto, a Bíblia menciona casos de evolução nas espécies. Entretanto a evolução bíblica é distinta da macroevolução da TE. Dizemos que a bíblia narra microevoluções. Microevolução seriam as variações de caráteres gerados pela recombinação do 31 Doutrina ou teoria filosófica do séc. XVIII que propunha que todas as espécies foram criadas divinalmente e permaneceram imutáveis até hoje. 38 material genético que sempre esteve presente, no sentido de características e organizações já existentes. Macroevolução seria a soma de todas as variações que supostamente transformaram, por exemplo, mamíferos terrestres (antílopes) em mamíferos aquáticos (baleias). Seria o surgimento de material genético qualitativamente novo32. As Sagradas Escrituras não descartam o surgimento de novas espécies (inclusive a especiação é um processo comprovado empiricamente e bem documentado através da história33), porém demonstra um limite nessas adaptações. Ou seja, um animal canino, pode dar origem a outras espécies (e consequentemente também raças) de caninos; felinos podem originar outras espécies de felinos, etc. O que não é observável são organismos de um tipo básico tornando-se seres de outro tipo básico (ex.: réptil tornando-se ave). Evidências genéticas mostram que quanto maior o grau de adaptação, menor o número de variações; e quanto menor o grau de adaptação, maior o número de variações. Portanto, a microevolução é observável. Existe uma variação do material genético. No entanto, esta variação segue o rumo do empobrecimento genético da população. Diferentemente do que Darwin propôs em sua teoria da evolução, a tendência natural da especiação é a extinção. A macroevolução não é científico e não pode ser considerado o resultado de várias microevoluções, sendo que através da especiação existe um empobrecimento do material genético e não um aprimoramento34. A hipótese de que os seres vivos foram evoluindo ao longo da história apresenta alguns problemas: • As evidências apresentadas de “elos perdidos” ou 32 LOURENÇO, op. cit. p. 114. 33 Ibidem. p. 115. 34 Ibidem. p. 116. 39 “evidências” de tais evoluções na história, são fraudulentas. Por exemplo, as famosas imagens de Ernst Haeckel, uma conhecida sequência que mostra um suposto desenvolvimento de várias formas de vida num período embrionário, a famosa Teses Ontogênicas. Para Darwin e Haeckel, a sequência do desenvolvimento de um embrião era a repetição da "história evolutiva" daquela espécie. No entanto, foi demonstrado por um grande número de pesquisadores que a suposta prova era um grande equívoco35. • Em ciência há limites para a possibilidade de um fenômeno acontecer. Carl Sagan, Francis Crick e L. M. Muchin, por exemplo, calcularam a possibilidade de o homem ter evoluído. O resultado foi de 1 em 102.000.000.000. Segundo Emile Borel eventos com probabilidade de 1 em 1050 simplesmente não ocorrem36. • Além de tudo isso, a ideia de mutações genéticas na evolução é utópica. Há uma lei que não se pode violar: “códigos não evoluem!” Códigos são arbitrariamente definidos e, após entrarem em operação, devem ser preservados a todo custo, se não será um caos completo37. Por isso os organismos possuem nanomáquinas que evitam, a todo custo, mudanças do código genético. 5.6 Conclusão As verdades apresentadas nesse capítulo não devem ser vistas como “munição” para uma “metralhadora contra ateus”. O objetivo do cristão não é ganhar debates infrutíferos ou debochadamente humilhar aqueles que escarnecem de nossa fé. Devemos dar razão da nossa fé 35 LOURENÇO, op. cit. p. 112. 36 Ibidem. p. 33. 37 EBERLIN, op. cit. p. 179. 40 sim, mas com mansidão e humildade (1 Pe 3.15-16). Espero que assimilar tais conhecimentos acerca dos fatos científicos possa melhorar sua conduta cristã, no que tange seu relacionamento com Deus, como Criador e Soberano absoluto, e com os outros seres da criação, criados para expressar a glória de Deus. Sem entendermos o valor da vida, jamais seremos capazes de zelar pelo próximo com o devido cuidado. Referências EBERLIN, M. N. Fomos planejados: a maior descoberta científica de todos os tempos. 1. ed. São Paulo: Editora Mackenzie, 2018. GOUVEIA, R. Teoria do Big Bang. Toda Matéria (website). Disponível em: <https://www.todamateria.com.br/teoria-do-big-bang/>. Acesso em: 13 abr. 2019. LOURENÇO, A. J. B. Como tudo começou: uma introdução ao criacionismo. São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2007. MCGRANTH, A. E. Surpreendido pelo sentido: ciência, fé e como conseguimos que as coisas façam sentido. São Paulo: Hagnos, 2015. Origem da vida: o que é LUCA, o antepassado comum dos seres vivos que habitam a Terra. BBC (website). 2019. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/geral-47283064>. Acesso em: 13 abr. 2019. RIDLEY, M. Evolução. 3. ed. Porto Alegra: Artmed, 2007. 41 6 Teodiceia Embora existam diversas evidências e argumentos emfavor da existência de Deus, um incrédulo pode apresentar argumentos igualmente poderosos contra ela1. O mais sério desafio da cosmovisão cristã é o problema do mal. O ser humano possui uma compreensão inata de que as coisas não são o que deveriam ser2. Existe algo de errado no Universo. E esse é um dos assuntos mais fortes e frequentes contra o teísmo, tendo em vista que a existência do mal e do sofrimento no mundo, nas esferas religiosa, moral, social e natural3, é uma evidência em favor do ateísmo. Que o digam aqueles que contemplaram ou experimentaram o sofrimento de perto, para esses, pode haver uma inevitável dificuldade em conceber a existência de um Deus todo-poderoso e de amor4. Os próprios autores bíblicos não fogem dessa questão (Jz 6.13; Hc 1.13). Se Deus é soberano, bom e, providencialmente controla todas as coisas, por que então existe mal no mundo? Deus é o autor do mal? 5 Porque Deus permite mortes torturantes, lentas e sem sentido?6 Essas são questão da “teodiceia”. A palavra “teodiceia” surgiu com Gottfried W. Leibniz7, e é derivada de dois termos gregos: Θεός (theos) = Deus; Δίκη (dike) = justiça. A teodiceia é entendida como o corpo de ideias que fazem uma justificativa da bondade e correção de Deus diante do mal no mundo. Algumas pessoas, para resolver essa problemática, preferem negar a existência do mal ou de Deus; outros limitam Deus, criando um deus com poder e inteligência limitados, incapaz, que não pode ser acusado pela existência do mal. Outros ainda discorrem em um dualismo no Universo entre o bem e o mal (zoroastrismo8 e 1 CRAIG, W. L. Em guarda: defenda a fé cristã com razão e precisão. São Paulo: Vida Nova, 2011. p. 162. 2 MCGRANTH, A. E. Surpreendido pelo sentido: ciência, fé e como conseguimos que as coisas façam sentido. São Paulo: Hagnos, 2015. p. 129. 3 PFEIFFER, C. F.; VOS, H. F.; REA, J. Dicionário bíblico Wycliffe. Rio de Janeiro: CPAD, 2017. p. 1201. 4 FLEW, A. Deus existe: as provas incontestáveis de um filósofo que não acreditava em nada. São Paulo: Ediouro, 2008. p. 23. 5 CRAMPTON, W. G. Uma teodiceia bíblica. Monergismo (website). Disponível em: <http://www.moner gismo.com/textos/problema_do_mal/teodiceia_gary.htm>. Acesso em: 18 abr. 2019. 6 CRAIG, op. cit. p. 169. 7 Filósofo alemão. 8 Antiga religião persa, que consiste na ideia principal do dualismo constante entre duas forças, representando a luta entre o bem e o mal. 42 maniqueísmo9), tratando-os como duas entidades co-eternas e rivais. É claro que todas essas teorias estão longe de uma teodiceia bíblica. A Escritura é clara em nos ensinar que 1) o pecado é real, 2) Deus é onipotente e onisciente, e 3) Ele é Criador e Sustentador de tudo, por isso não sofre concorrência10. Agora a questão inicial é se o mal surgiu de Deus ou não. 6.1 A origem do mal Desde que Deus criou todas as coisas “boas” (Gn 1.31), o mal não poderia ter uma existência a partir dEle. O mal é resultado da criatura. No caso do homem, veio por meio de Adão (Gn 3), mas antes deste, por meio dos anjos. Na oração de arrependimento de Davi (Sl 51), ele entende que a culpa do pecado pertence a si mesmo. E esse reconhecimento é tão real que, se pararmos para analisar, muitos desastres do mundo estão entrelaçados com o pecado moral da humanidade. A América Latina é um exemplo disso, onde a grande massa é vitimizada por uma elite injusta e indiferente que, por sede de poder e riqueza, explora-os, tornando-os pobres e desamparados11. Portanto, os males do mundo são o resultado e um testemunho da depravação do homem. As Escrituras indicam que Deus entregou a humanidade ao pecado que ela livremente escolheu; permitindo que essa depravação corra seu próprio curso (Rm 1.24, 26, 28)12. Contudo, isso não resolve o problema por completo. Como um Deus bom não garantiu ao homem sempre escolher o bem? Já que Deus, tendo previsto e podendo evitar, permitiu que o homem pecasse, isso não o tornaria responsável pelo mal no mundo?13. 6.2 Deus é soberano 9 Filosofia religiosa fundada e propagada por Manes ou Maniqueu, filósofo cristão do século III, que divide o mundo simplesmente entre Bom, ou Deus, e Mau, ou o Diabo. 10 CRAMPTON, op. cit. 11 CRAIG, op. cit. p. 187. 12 Ibidem. p. 184. 13 CRAMPTON, op. cit. 43 Deus é onipotente e onisciente, Ele é soberano sobre todas as coisas. Por exemplo, Deus previu e ordenou a crucificação de Seu Filho (At 2.23; 4.27-28). Agora responda, esses fatos poderiam ocorrer de modo diferente? Todas as escolhas e ações da humanidade são determinadas pelos decretos eternos de Deus. Esse princípio é aplicável ao homem antes e após a Queda. A principal diferença, hoje, é que o homem caído não é capaz de escolher aquilo que Deus requer (Rm 3.9-18)14. Quanto aos planos do Senhor, a Confissão de Fé de Westminster (3.1, 5.2, 4) afirma15: “Desde toda a eternidade, Deus, pelo conselho sábio e santo de Sua própria vontade..., ordenou tudo o que venha a ocorrer: ainda assim, nem Deus é o autor do pecado, nem a vontade das criaturas é violentada... O poder ilimitado, a sabedoria insondável e a bondade infinita de Deus, manifestam-se na Sua providência, que inclui até mesmo a primeira Queda e todos os outros pecados de anjos e homens, não como uma simples permissão, mas de modo tal que reúne a sabedoria e o poder limitante de Deus, que os ordena e governa para os Seus objetivos sagrados; e ainda assim, a pecaminosidade do ato procede apenas da criatura e não de Deus, que..., nem pode ser o autor ou aprovador do pecado.” Mesmo que as ações livres dos anjos e homens tenham causado o mal ou o pecado, a causa soberana de Deus ocorre através delas (Is 45.7). Ele decreta o fim e os meios e ainda assim, Deus não é o autor do mal. Pois apenas as criaturas podem cometer pecado. Deus não comete erros e Seus decretos sempre são certos, simplesmente porque é Ele quem decreta16. Foi isso o que Jó aprendeu (Jó 33.12-13). Antes de continuarmos gostaria de arguir sobre a vontade de Deus. 6.2.1 Vontade decretiva vs normativa Em Dt 29.29 vemos a distinção da vontade decretiva (“coisas encobertas”) e a vontade normativa de Deus (“as coisas 14 CRAMPTON, op. cit. 15 Disponível em: <http://www.monergismo.com/textos/credos/cfw.htm>. Acesso em: 18 abr. 2019. 16 CRAMPTON, op. cit. 44 reveladas”). Resumindo, a vontade decretiva são os decretos de Deus e revelam o que vai acontecer; a vontade normativa são as prescrições ou mandamentos de Deus, da qual todo homem é obrigado a obedecer. A vontade decretiva é escondida em Deus e não cabe ao homem conhece-la, a não ser que Deus a revele, muito menos é possível não a cumprir. A vontade normativa, por sua vez, está inteiramente revelada aos homens pelas Escrituras, e é possível que o homem não a cumpra17. Quanto a questão do sofrimento, Deus pode ter razões preponderantes para permitir o sofrimento no mundo dentro de sua vontade decretiva. Todos nós conhecemos casos em que permitimos o sofrimento a fim de gerar algum bem maior18 (ex.: dentista, doação de sangue, injeção). Isso pode parecer improvável, pois muito desse sofrimento parece ser sem sentido. Porém, devemos lembrar que, como seres humanos, somos limitados em inteligência e visão. Só porque o sofrimento parece injustificado, isso não o torna injustificado19. Na visão de Deus, que é mais ampla, e dentro de sua vontade “escondida”, um sofrimento que, para nós, parece sem sentido, é algo justificavelmente permitido20, assim como coisas que são despercebidas causam consequências
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