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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE ARQUITETURA PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM PLANEJAMENTO URBANO E REGIONAL CONFIGURAÇÃO ESPACIAL E HIERARQUIA URBANA -REDE DE CIDADES NO PARANÁ. Arq. ANDRÉA MAXIMO ESPÍNOLA Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós Graduação em Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio Grande do Sul como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Planejamento Urbano e Regional Prof. RÔMULO KRAFTA, PhD Orientador Porto Alegre, 2003. i RESUMO CONFIGURAÇÃO ESPACIAL E HIERARQUIA URBANA -REDE DE CIDADES NO ESTADO DO PARANÁ. ANDRÉA MAXIMO ESPÍNOLA 2003 A distribuição de recursos públicos de modo equilibrado e bem aplicado é questão de suma importância para administradores públicos e planejadores, especialmente em países como o Brasil que, a cada ano, vê sua capacidade de investimento mais reduzida e onde mais se acentuam os desníveis sociais. Este trabalho trata da questão da regionalização através de uma análise centrada nos dados sócio- econômicos que guardam melhor relação com a estrutura espacial, utilizando o modelo de centralidade com a finalidade de auxiliar o planejamento urbano e regional e munir os administradores públicos com instrumentos de decisão para uma melhor distribuição de recursos. A metodologia aqui empregada, busca incorporar ao modelo matemático utilizado a característica de macroanálise, ainda não anteriormente testada, permitindo assim uma eficácia maior da representação da realidade regional. Descarta de saída a possibilidade de ser resposta única para a questão da regionalização, e sobretudo, visa ser um modelo que se alimenta via interações, permitindo inúmeras soluções , tanto melhores quanto forem as tentativas de otimização do método. O tratamento dos dados se desenvolve a partir de relações de cada unidade de análise, com os demais, neste caso, cada unidade municipal do estado do Paraná com as demais localidades não municipais e relevantes pontos de entroncamento da rede viária. Utiliza-se o modelo de variadas formas para estabelecer parâmetros de similaridade entre as unidades de análise, que é medido através da correlação entre os resultados finais do modelo de centralidade. A utilização de apenas duas variáveis, População e PIB per capita, conseguiu resultados melhores e mais significativos do que a utilização de diversas variáveis. A ii inclusão de um maior número delas fez variar pouco no tocante a centralidade das regiões. Assim como as variáveis utilizadas, a maneira como se tomou as adjacências de cada município teve uma importância grande por causa da forte componente gravitacional do modelo de centralidade. Mudanças no mapa de adjacência faziam variar consideravelmente a hierarquia de centralidade dos municípios. Portanto, o método utilizado pareceu adequado no tocante a representação da realidade regional do Estado do Paraná, porém alguns ajustes necessitam ser efetuados para melhoria dos resultados. iii ABSTRACT SPACIAL CONFIGURATION AND URBAN HIERARCHY -CITIES NET IN PARANÁ STATE. ANDRÉA MAXIMO ESPÍNOLA 2003 The equilibrated and well implemented distribuition of public resorces is a question of greatest importance to public administrators and planners, specially in countries like Brazil wich, year after year, sees its investment capacity more weakened, and where the social imbalances are much more accentuated. This work deals with the regional question through social economics report analises because they have the better relation with espacial structure, using the centrality model to assist regional and urban planning and suply publics administrators with decision tools for better resouces arrangement. The methodology here employed tries to join on mathematics model used the feature of macroanálisys, even not used previously, allowing much more efficiency on regional reality statement. It doesn’t claim the only answer to question of regional reality, and especially, intend be a model that live by ways, allowing incontable solutions, as well as attempting to method improvement. The data treatment develop through relation of each analysis unit with others , in this case, each municipality of Paraná state with others nonmunicipality locals and others important points of net road. The model could be used in different forms to establish similarity parameters bettwen final results of centrality model. The use of only two variables , shows better and more important results than utility of a lot of variables. The inclusion of a great number of them make a litltle changes in region centralities. The variables used and the way whow each municipality adjacent was take, has a great importance because of the strong gravitacional component of centrality model. Changes in adjacent map take considerable varieties on municipality’s centrality hierarchy . iv Therefore, the method used , seems appropriate in concerning Regional reality of Paraná State representation, however some agreement are need to better results. v A minha mãe , Irene, por seu entusiasmo contagiante, capaz de incentivar e encorajar. A minha irmã Heloisa a quem eu escolheria se pudesse. "A vida na terra seria melhor, se todos usassem de total sabedoria." vi AGRADECIMENTO O que vale a pena ser feito não é necessariamente fácil ou desimpedido. Do esforço despendido deriva o valor do que é realizado. Uma dissertação não foge a estas circustâncias e, por essa razão, o prazer de vencer etapas, superando obstáculo por obstáculo , é único e compensador. Entretanto, o isolamento do processo criativo não é total, o percurso envolve terceiros. Assim, aos que facilitaram ou possibilitaram em alguma medida a execução deste trabalho, que velada ou explicitamente, me apoiaram, dedico meu agradecimento mais profundo. Ao meu orientador, Rômulo Krafta, pela orientação pertinente, aos professores, funcionários, amigos e familiares pelos apoios de toda ordem. Ana Suely Zerbini, pela sua amizade e compreensão Andréa Mussi, pela capacidade de trabalho de forma coletiva Antonio Anselmo, pela paciência e competência Cristina de Araújo Lima, pelo incentivo e confiança Emílio Merino, pelo incentivo das conversas iniciais Heloisa Espínola, por assumir a atenção de quem amamos Irene Maximo, pelo amor incondicional Juan Mascaró, pela tolerância aos prazos Neiva Pastorino, pela simpatia e capacidade executiva Niara Palma, pela afinidade temática Rosane Ballejos, pela presteza e cordialidade Tarcísio Reis, por descobrir formas de facilitação vii SUMÁRIO Capa................................................................................................................................i Resumo..........................................................................................................................ii Abstract........................................................................................................................iv Dedicatória...................................................................................................................viAgradecimento............................................................................................................vii Sumário.......................................................................................................................viii Apresentação...............................................................................................................xi CAPÍTULO 1- INTRODUÇÃO.................................................................... 1.1 INTRODUÇÃO........................................................................... pg 01 1.2 RELEVÂNCIA.............................................................................pg 03 1.3 JUSTIFICATIVA..........................................................................pg 04 1.3.1 Origem do Problema..........................................................pg 04 1.3.2 Delimitação do Problema...................................................pg 05 1.4 OBJETIVOS................................................................................pg 06 1.4.1 Objetivos Gerais.................................................................pg 06 1.4.2 Objetivos Específicos.........................................................pg 06 1.4.3 Objetivos Metodológicos....................................................pg 06 1.5 ESTRUTURA DO TRABALHO....................................................pg 07 CAPÍTULO 2- REVISÃO BIBLIOGRÁFICA................................................. 2.1 ASPECTOS ESTRUTURAIS......................................................pg 08 2.1.1 Redes Geográficas- Uma forma de Entender o Espaço.................................................................................................pg 08 2.1.2 O Processo de Regionalização..........................................pg 12 2.1.3 Sistemas e Complexidade..................................................pg 18 2.1.4 Teoria Espacial Configuracional-Definições Preliminares..pg 19 2.1.4.1.Teoria do Lugar Central.........................................pg 24 2.2 ASPECTOS ANALÍTICOS..........................................................pg 26 2.2.1Modelos Matemáticos- Simulações de Sistemas................pg 26 2.2.1.1.Processo de modelagem - Desenvolvimentos recentes em simulação Urbana.................................................................pg 28 2.2.1.2. Definição de Centralidade.....................................pg 29 2.2.2 Análise Estatística Multivariada..........................................pg 30 2.2.2.1.Cálculo dos Escores Fatoriais................................pg 35 viii CAPÍTULO 3 - ESTUDO EMPÍRICO: ESTADO DO PARANÁ.................. 3.1 Contexto do Objeto de Estudo.......................................................pg 36 3.1.1Retrospecto do Processo de Urbanização no Brasil...........pg 36 3.1.2Caracterização da Rede Urbana Regional Sul...................pg 39 3.1.3Caracterização da Economia Regional Paranaense...........pg 40 3.1.4.Síntese Histórica do Processo de Regionalização no Paraná..................................................................................................pg 42 3.1.5 Mudanças Econômicas e Impacto sobre as regiões..........pg 58 3.1.5.1 Curitiba e Ponta Grossa.........................................pg 60 3.1.5.2 Maringá e Londrina................................................pg 62 3.1.5.3 Campo Mourão, Paranavaí e Umuarama..............pg 64 3.1.5.4 Guarapuava...........................................................pg 64 3.1.5.5 Pato Branco/Francisco Beltrão .............................pg 65 3.1.5.6 Paranaguá..............................................................pg 66 3.1.5.7 Foz do Iguaçú e Cascavel .....................................pg 66 CAPÍTULO 4- METODOLOGIA.................................................................... 4.1 Confecção do Mapas de Adjacência...........................................pg 69 4.2 Calibração...................................................................................pg 71 4.2.1 Procedimento de calibração manual..................................pg 71 4.2.1.1Relatório de calibração manual...............................pg 71 4.2.2 Procedimento de calibração através da análise fatorial.....pg 72 4.2.2.1.Materiais e Métodos...............................................pg 73 4.2.2.2 Relatório de Análise Fatorial..................................pg 73 4.2.2.3 Análise Introdutória................................................pg 74 4.2.2.4 Carregamentos dos fatores antes da rotação varimax.................................................................................................pg 75 4.2.2.5 Carregamentos dos fatores após a rotação varimax.................................................................................................pg 77 4.2.2.6 Escores Fatoriais nos quatro fatores.....................pg 79 4.3 Modelo de Centralidade..............................................................pg 80 4.3.1Descrição do Modelo de Centralidade................................pg 81 4.3.2Aplicação do Modelo de Centralidade na representação do Espaço Urbano e Regional................................................................. pg 85 4.4 Relatório da Utilização do Modelo de Centralidade....................pg 86 4.4.1.1 Simulação............................................................................pg 87 4.4.1.2 Simulação............................................................................pg 88 4.4.1.3 Simulação............................................................................pg 89 ix 4.4.1.4 55 Simulação......................................................................pg 90 4.4.1.5 68 Simulação........................................................................pg 91 CAPÍTULO 5 - CONCLUSÕES.................................................................... 5.1 Resultados e Discussão..............................................................pg 92 5.1.1 Hierarquia das regiões.......................................................pg 93 5.2 Aspectos de Relevância............................................................pg 103 5.3 Indicações de Desafios Possíveis.............................................pg 105 5.4 Conclusões e Considerações Finais.........................................pg 105 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................pg 107 x xi APRESENTAÇÃO O trabalho está constituído por cinco capítulos que objetivam conduzir o tema desde a sua definição e relevância, passando por uma apresentação de conteúdos afins, até a aplicação do modelo e um método de utilização e análise aplicado ao estudo de caso e finalizando com uma análise de resultados e indicações de novas propostas. O Capítulo 1, Introdução, enfatiza a importância da questão colocada, define o tema e estabelece os objetivos a serem atingidos. O Capítulo 2, Revisão Bibliográfica, enfoca a questão da regionalização do ponto de vista teórico, enfatizando sua correlação com a área da configuração urbana. O Capítulo 3, Estudo de Caso, faz a aplicação do método de análise desenvolvido aos dados sócio econômicos gerando os mapas hierárquicos . O Capítulo 4, Metodologia, resume todo o processo metodológico . O Capítulo 5, Conclusões, realiza uma análise final dos objetivos, da questão espacial, do enfoque metodológico e dos resultados apresentados. Levanta os principais problemas enfrentados, sugere novos caminhos de pesquisa e enfatiza a validade do modelo. 1 CAPÍTULO 1-INTRODUÇÃO A configuração do sistema de cidades reflete o estágiode desenvolvimento de um país ou região. Nas economias mais primitivas, a atividade econômica tende a se concentrar em alguns poucos aglomerados urbanos, comumente denominados cidades primazes(Tolosa, 2001; apud Andrade e Serra). Nesse primeiro estágio do desenvolvimento predominam os modos de produção voltados para o consumo de subsistência, e no extremo oposto, sistemas mais desenvolvidos revelam uma configuração espacial mais equilibrada e estável, com fortes vínculos inter e intra urbanos. Entre esses dois extremos existe um longo período de transição caracterizado por notáveis transformações estruturais, tanto do lado da produção como pela distribuição dos benefícios do crescimento. Durante a fase de transição, a configuração espacial do sistema urbano reflete as preferências locacionais dos agentes líderes do crescimento e dos padrões de mobilidade da mão de obra e do capital. No caso brasileiro, o elevado crescimento econômico na década de 70, espacialmente concentrado fez “explodir” as metrópoles nacionais e ensejou a metropolização de outros importantes centros urbanos. Esse fenômeno denunciava que a concentração espacial da atividades econômicas ultrapassava limites, prejudicando as condições de vida nestes centros. Essa tendência ao “inchaço” que se manifesta nas grandes cidades gerava maiores custos econômicos, não só elevando os preços de todos os insumos, particularmente do espaço, como também tornando mais dispendioso o transporte, seja do ponto de vista das tarifas a serem pagas, ou do tempo gasto em vencer os congestionamentos e os grandes deslocamentos urbanos. 2 Desta forma, estes grandes centros não tem condições de disponibilizar a ampliação da oferta de infraestrutura, a não ser para o segmento privilegiado da população capaz de pagar ou de influenciar politicamente sua demanda. O conhecimento dessa realidade constituiu a força motivadora para o interesse no estudo dos efeitos e reflexos que o crescimento econômico tem no desenvolvimento de determinada região, assim como a possibilidade da elaboração de uma base analítica para possíveis formulações de políticas públicas buscada através da metodologia empregada. Para tanto será proposta uma simulação matemática que permita analisar a questão da localização das cidades, ou seja, como ocorre a reestruturação espacial urbana através dos agentes urbanos(população, firmas, governo). Assim, o estado do Paraná será tomado como objeto de investigação e estudos, no sentido de compreender a sua dinâmica no processo de urbanização, analisando sob diversos aspectos, como ocorre a transformação do espaço. Essa metodologia permitirá analisar a alta ou baixa centralidade de cada município em decorrência das economias ou deseconomias de escala1 respectivamente. Por fim será elaborada uma conclusão reflexiva a respeito dos itens abordados e do instrumento de análise utilizado( simulação) para verificar a concordância dos sistemas resultantes com os padrões de assentamento na realidade assim como considerações finais e sugestões de possíveis aprimoramentos para pesquisas futuras. 1 As economias de aglomeração constituem uma noção mais ampla do que aquela derivada das economias de urbanização. As economias de aglomeração compreendem as economias de escala, de localização e de urbanização(poluição, aglomeração urbana e congestionamento no trânsito). 3 1.2 RELEVÂNCIA A elaboração de um quadro de referência baseado na compreensão da rede urbana paranaense constitui importante subsídio à formulação de políticas territoriais de âmbito nacional, regional e municipal. A distribuição dos recursos aplicados em políticas públicas é normalmente pautada por critérios políticos e os desdobramentos negativos dessa orientação, ou em alguns casos extremos, desorientação, variam desde obras frustadas até demandas não atendidas. Em países como Estados Unidos, Grã- Bretanha e França, há décadas são utilizados recursos técnicos para otimizar a aplicação de recursos de modo a balancear o peso do fator político na tomada de decisões. Quanto ao Brasil, o contexto atual desfavorece a utilização de recursos públicos com critérios exclusivamente políticos ou aleatórios. A acelerada diversificação da nossa economia recomenda a racionalização das decisões públicas de modo a assegurar sua maior eficiência. Além disso, o aprofundamento do processo democrático expõe o poder público a demandas crescentes, cujo atendimento satisfatório depende, na maioria das vezes, da aplicação racional dos recursos. Porque uma distribuição justa e própria dos recursos associada a uma eficiência político administrativa e tecnológica poderá ser um objetivo absolutamente necessário no futuro próximo, o que parece ser plenamente respaldado pelas palavras de David Harvey quando refere que"...no longo prazo será muito benéfico se eficiência e distribuição forem exploradas conjuntamente, visto ser contraproducente no longo prazo criar uma distribuição socialmente justa se o tamanho do produto a ser distribuído encolher acentuadamente por causa do uso ineficiente dos recursos escassos. No longuíssimo prazo, contudo justiça social e eficiência são muito a mesma coisa" (Harvey, 1993). 4 Portanto, ciente da necessidade de se formar uma base analítica para a formulação de políticas urbanas, propôs-se a realização deste trabalho, que poderá apresentar valiosa contribuição para o conhecimento atual da rede urbana do Estado do Paraná 1.3 JUSTIFICATIVA Na tradição do pensamento geográfico, a cidade é parte integrante e, ao mesmo tempo, formadora da região. Como tal, não pode, nem deve ser tratada de modo separado ou desconexo. Nessa lógica, o espaço geográfico pode ser definido como o locus de produção e reprodução social, que na economia capitalista assumem a forma dicotômica e articulada da cidade e sua região. As implicações dessa concepção para a presente pesquisa são percebidas na própria orientação teórico- metodológica adotada, já que se partiu do pressuposto de que a descrição da rede urbana Paranaense deveria contemplar , em um dado espaço econômico, em um momento específico, os fatores econômicos e sociais que determinaram tal estrutura ao longo de um processo de desenvolvimento. Assim, não se pode considerar a cidade apartada do processo de produção de uma economia regional. 1.3.1 Origem do problema O espaço urbano pode ser descrito por um conjunto de atividades distribuídas de forma heterogênea sobre o solo, que se inter relacionam e formam um conjunto de redes entre cidades. Essa inter relação pode acontecer através de atividades complementares que surgem sob a forma de fluxos de capitais, de pessoas e de produtos, ocupando um espaço físico e causando efeitos sobre a configuração espacial num sistema urbano. Pela observação empírica sabe-se que as cidades tem historicamente diferentes forças econômicas, sociais e tecnológicas. Alguns autores classificam-nas usando a 5 terminologia clássica por categorias de atividades econômicas, mas este caráter apresenta-se pouco dinâmico dado que a especialização funcional de uma região pode ser transformada em alguns anos. Assim durante uma crise econômica, uma região pode sofrer uma reconversão econômica ao ponto de desenvolver atividades que rompem com as do passado. Por outro lado, a evolução da microeletrônica e das novas tecnologias de informação propiciaram novas atividades e novas formas de organização, e com elas a produção de novas regiões de grande dinamismo. Nesse sentido, faz-se necessário a compreensão da localização, no espaço e notempo, da economia e da população, as formas como estas distribuem e se apropriam da produção, circulação e consumo, necessários à acumulação de capital numa economia de mercado. 1.3.2 Delimitação do problema Este trabalho pretende descrever através de procedimentos analíticos o espaço regional sob a forma de alteração de localização, de tamanho fisico ou supressão de pólos de centralidade sob a ótica das relações sócio econômicas entre cidades ou regiões. Serão utilizados para tanto, conceitos advindos da teoria dos sistemas complexos, dos modelos de centralidade e da geografia urbana. Conceitos estes incorporados por um modelo de diferenciação espacial, que uma vez utilizado poderá possibilitar o teste de variadas alternativas de descrição de um espaço segundo algumas variáveis sócio econômicas. 6 1.4 OBJETIVOS 1.4.1 Objetivos Gerais • Investigar a estruturação regional urbana Paranaense através de procedimentos analíticos qualitativos e quantitativos. • Experimentar a utilização do modelo configuracional que mede diferenciação espacial e originalmente foi desenvolvido para aplicações no espaço intra urbano, para análise regional. 1.4.2 Objetivos Específicos • Desenvolvimento de formas de descrição do espaço regional. • Hierarquização das cidades paranaenses. 1.4.3 Objetivos Metodológicos • Investigação da modificação de centralidades através da utilização das variáveis envolvidas. • Classificar a partir dos dados selecionados, áreas relativamente homogêneas, ou seja, áreas com características de similaridade, utilizando técnicas estatísticas • Aplicar o modelo ao estado do Paraná com vistas à compreensão da realidade espacial e socieconômica paranaense. • Obter soluções gráficas que sintetizem informações relevantes. 7 1.5 ESTRUTURA DO TRABALHO O trabalho está estruturado em cinco capítulos: introdução, revisão bibliográfica, metodologia, estudo de caso e conclusões. A introdução visa descrever a organização espacial através das redes de cidade. A revisão bibliográfica trata dos aspectos conceituais das redes geográficas, faz uma síntese histórica do processo de regionalização no Paraná; apresenta conceitos da análise estatística e por fim trata do processo matemático de modelagem utilizado e todo seu embasamento teórico . O terceiro capítulo apresenta a metodologia desenvolvida a saber: tratamento dos dados e seu pré processamento, a descrição do modelo de centralidade e sua aplicação ao espaço regional, análise estatística como ferramenta para calibração do modelo, e apresentação dos resultados finais. No quarto capítulo é apresentado o estudo de caso. E por fim, no último capítulo são abordados os aspectos finais de análise no que diz respeito à crítica dos resultados, potencial a ser explorado pelo método e validade do modelo proposto. 8 CAPÍTULO 2 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 ASPECTOS ESTRUTURAIS 2.1.1 REDES GEOGRÁFICAS-UMA FORMA DE ENTENDER O ESPAÇO. Ao focalizar a temática das redes geográficas, a amplitude dos campos a explorar é enorme. Até mesmo a construção de um conceito para o termo, que não cabe nos objetivos deste trabalho, deve ser preenchida das diversas visões sobre o mesmo ao longo da história. Clemente, ao falar sobre uma tentativa de conceituação, afirma: Contudo, apresentar aqui as primeiras contribuições sob a ótica do presente, a ótica do final do século 20, corresponderia ao usos de lentes profundamente deformadoras(Clemente, 1994). Com a utilização de um reducionismo e de uma simplificação que entende-se como conveniente e adequado a um trabalho deste porte, fica-se com o conceito de Kansky (apud. Correa, 1988): um conjunto de localizações geográficas interconectadas entre si por um certo número de ligações. A partir de tão simples definição, seja vista como conceito teórico, seja como noção utilizada pelos mais diversos atores sociais, pode-se imaginar uma infinidade de redes: redes urbanas, redes bancárias, redes estratégicas, redes de transportes, redes de organização não governamentais(OGNS), redes de informações, etc. Para além daquela simples conceituação, é primordial a percepção de que as redes são instrumentos viabilizadores da circulação e da comunicação e estas, por sua vez, são de fundamental destaque na organização do espaço. A organização espacial é revelada, por um lado, pelos elementos fixos - cidades, casas, fazendas, portos, indústrias etc.- fruto do trabalho social dos homens. Por outro lado, o entendimento daquela 9 organização é complementado pelos fluxos que estabelecem interações entre os mencionados fixos, originando as redes. Contudo, é necessário explicitar que o espaço está sujeito a fluxos de diferentes níveis, intensidades e sentidos, permitindo-se afirmar que o mesmo é coberto e transformado por redes desiguais e simultâneas. Tais desigualdades entre os vários tipos de redes conduzem a um tipo diferenciado, por parte dos diversos agentes sociais, daquelas ligações. Tais desigualdades, que alcançam e também diferenciam os agentes sociais, indicam a própria lógica contraditória da expansão do capitalismo, sendo então, este último, um dos grandes responsáveis pela forma de organização dos diversos tipos de redes. É ele também que gera sobre a cidade tensões que impulsionam a produção do espaço urbano, através de sua constante necessidade de acumulação de capital. Sendo assim, o crescimento não é apenas resultado do crescimento vegetativo da população ou ainda de imigrações. É parte de um processo econômico onde a transformação do espaço ocorre através do modo de produção capitalista em um processo de auto- organização ou da divisão territorial do trabalho em escala crescentemente mundializada ; (Corrêa, 1988). Mundializada e fragmentada , é também característica da organização espacial modificada pelas numerosas, complexas e desiguais redes na qual as cidades mundiais ou globais, sedes das grandes corporações multifuncionais e multilocalizadas constituem no final do século XX, como seus grandes epicentros. Mas, estas redes se manifestam, sobretudo, em uma cada vez mais complexa rede urbana cujos centros são, do ponto de vista funcional, simultaneamente especializados e hierarquizados, focos, portanto de diferentes fluxos. Segundo Clemente(1994), as redes que, de forma genérica, envolvem o movimento de seres e bens são denominadas redes 10 de circulação. Aquelas que envolvem a transferência de informações são as redes de comunicação. Ainda de acordo com o mesmo autor, o par circulação-comunicação está presente em todo e qualquer "transporte", sendo que a primeira é, por englobar tudo aquilo que é mobilizável, mais geral que a segunda. As redes de circulação não são nem mesmo dissimuladas, já que visíveis pelos fluxos de homens e bens, sobre uma previsível infraestrutura, tornando-se, desta maneira, de mais fácil conhecimento sobre os fluxos. Entretanto, qualquer que seja o tipo de movimentação, sempre se está em confronto com uma rede que, é fundamental na modelagem do quadro espaço temporal, representado pelo próprio território. Tais redes não podem ser nunca vistas de forma estanque, separadas dos modos de produção., que lhes garante a mobilidade de seus fluxos. Como aqueles modos de produção contam com agentes geradores e controladores de fluxos, pode-se afirmar que tais agentes acabam por controlar alguns locais-nós, privilegiados no território, sendo responsáveis pelo desenho e traçado de diversas redes. Carneiro(1998), outro autor que desenvolveu estudo sobre a mesma temática, distinguetrês tipos de redes: produção, distribuição ou difusão e decisão. A primeira delas, a de produção, é caracterizada, nos dias atuais, pelo desaparecimento, pela dissolução dos espaços nacionais, regionais, locais, espaços desarticulados e dependentes, concentrados, mas não polarizados. Nas redes de produção, a localização é ligada à situação em relação as massas de mão de obra, de consumo, aos pontos de concentração e transbordo de carga e as vias de comunicação mundiais. Com relação as redes de decisão, o autor afirma que as mesmas são constituídas por alguns pólos, não obrigatoriamente situados no centro da rede, e , sobretudo, que são caracterizados por uma malha extremamente densa de linhas e de terminais de codificação e decodificação. Os mencionados pólos seriam locais privilegiados de 11 interação onde as enormes necessidades de tecnoestruturas em homens, materiais e informações os estenderiam num espaço horizontal. Por último e propositadamente, Carneiro especifica que as redes de distribuição ou difusão têm como referência mais adequada a rede de lugares centrais. Esta, preconiza uma hierarquia entre os centros que a compõem, caracterizando-se pelo oferecimento de bens e serviços em função das necessidades de consumo. No que tange às necessidades de bens e serviços, a redes de lugares centrais preconiza que quanto mais elementares e frequentes forem aqueles, menores serão as distâncias percorridas na sua busca. Contudo, quando assumem características de sofisticação e raridade ou escassez, podem ser responsáveis por deslocamentos de vários milhões de indivíduos, cobrindo um raio de milhares de quilômetros quadrados( Carneiro, 1998). Segundo afirmação do mesmo autor a respeito da rede de lugares centrais: esta rede, genericamente chamada de lugares centrais, seria um dos desenhos das redes geográficas existentes. Constitui, num dado momento, um agregado de pontos, os centros urbanos considerados, unidos por um caminho, direcionamento dos fluxos de pessoas à procura de bens e serviços e de informações, no meio de tantos outros momentos, outros pontos e tantas outras ramificações. Assim o presente trabalho, foi buscar na teoria das localidades centrais o embasamento teórico para seu desenvolvimento. Contudo, neste momento, é válido ressaltar o destaque a ser conferido à produção de informações específicas sobre os fluxos, ou seja, sobre os movimentos que ocorrem sobre o território, sempre impulsionados por relações sociais e, ainda, que o acervo de informações e dados estatísticos hoje existentes ainda não é suficiente para dar conta de todos os movimentos, consolidados sobre infinitas redes e circuitos, sejam de que natureza forem tais movimentos(tradicionais/ inovadores, planejados/espontâneos, permanentes/temporais, 12 longa/curta duração, materias/imateriais , etc).Apesar disso, tais redes são estabelecidas ligando, com maior ou menor intensidade, os diferentes pontos(fixos) existentes sobre o território. Esse processo de movimento- fluxos entre fixos- torna possível a multiplicação dos locais de produção e de distribuição e, simultaneamente, concentra os lugares de decisão em locais-nós, privilegiados no território. Desde já, é possível afirmar que é através de complexas redes de cidades, contendo centros que se articulam pelas funções que oferecem e, ainda, com tendência à hierarquização e/ou especialização, que fluxos de diferentes naturezas, intensidades e direções se realizam sobre o território. Finalmente, deve-se ressaltar que, às interações espaciais, é possível a agregação de informações de caráter demográfico e condicionantes econômicos, entre outras, ensejando análises particularizadas dos diversos centros e de suas respectivas áreas de influência, como forma de fornecer maiores subsídios ao planejamento e a gestão do território. 2.1.2 O PROCESSO DE REGIONALIZAÇÃO A regionalização pode ser entendida como um "fracionamento territorial de um espaço global superior em unidades zonais". De acordo com as formulações teóricas, três tipos de regiões orientam este fracionamento: região homogênea, região polarizada e região piloto. A definição do tipo de regiões a serem identificadas no território está condicionada à finalidade da regionalização pretendida e a cada um destes tipos corresponde métodos de análise distintos. A existência destes condicionantes não significa, no entanto, que as regiões encontradas seja, incompatíveis. Pelo contrário, ao final do processo de regionalização, estas regiões devem ser superpostas. Embora hajam ainda alguns pontos teóricos a serem aprofundados, existe um acordo geral de que o processo de regionalização, para ser abrangente, deve conter o fracionamento e identificação do território em termos de homogeneidade e polarização. 13 Isto porque, por um lado, existem regiões concretas no sentido de unidades naturais formadas sob a influência de forças econômicas, políticas, sociais, etc. Por outro lado, existem relações funcionais que necessariamente devem ser consideradas. O fato de uma região ser identificada como homogênea não elimina a inter-relação funcional de seus centros urbanos. Ambos os fatores coexistem. Assim é possível identificar o padrão de polarização de um território. Quando o objetivo é determinar áreas de ação comum ao processo de planejamento e/ou administração, utiliza-se habitualmente a superposição das regiões homogêneas às regiões polarizadas. Uma região pode variar desde um pequeno centro populacional até uma grande parte de um continente, ou o próprio continente, dependendo da escala e do tipo de questões estudadas. Considerando um território subordinado a um mesmo sistema legal, à mesma estrutura institucional e condicionado por um grau de integração sócio- econômica, o número de unidades regionais que se pretende trabalhar vai depender da finalidade, do objetivo que se pretende alcançar via regionalização. A determinação do tamanho( que condiciona o número) de regiões está sujeita, por um lado pela variável econômica que conduz à delimitação de regiões de maior tamanho possível, de modo que cada uma delas englobe o maior grau de diversificação e complementaridade de atividades. Por outro lado, do ponto de vista espacial, é mais operacional para o processo de planejamento e administração que as regiões sejam do menor tamanho possível, o que significa, considerando o mesmo território, um número maior de regiões. Estas duas forças antagônicas tendem a conduzir a região a um tamanho adequado. 14 A discussão do tamanho ideal da região está também condicionada, além dos objetivos da regionalização, às três premissas básicas do processo de regionalização: a regionalização deve ser exaustiva, excludente e contínua. Isto significa que: todo o território deve ser abrangido; cada ponto deste espaço deve estar contido em uma só região, portanto as fronteiras das regiões limítrofes precisam se superpor; e finalmente, o espaço territorial não pode ser interrompido. Desta maneira, pode se estabelecer uma diferença fundamental entre o conceito de região e espaço: a região se caracteriza por ser essencialmente contínua. Pode ser delimitada num contexto físico- territorial. Na conferência Européia de Bellagio, presidida por Walter Isard em 1961, ficou estabelecido que a noção de região podia, seguindo o caminho aberto por François Perroux, ser analisada em termos de região homogênea, região polarizada e região programa ou piloto. a .Região Homogênea: corresponde a um espaço contínuo, cujas partes constituintes apresentam características semelhantes entre si. Estas características podem ser econômicas(taiscomo estruturas de produção semelhantes, padrões de consumo homogêneos), geográficas(como topografia ou clima semelhante, ubiqüidade de determinados recursos naturais), e mesmo sociais e políticas( como uma identidade regional ou uma fidelidade partidária tradicional). A delimitação de região consiste em reagrupar no espaço pequenas unidades locais que apresentem as mesmas características. Duas delimitações importantes envolvem o traçado de região homogênea: por um lado é praticamente impossível que os diversos fatores(sócio- econômicos, políticos- administrativos, topográficos ou climáticos) sejam homogêneos em seu conjunto, numa dada extensão territorial. Neste caso, duas ou mais áreas podem ser homogêneas desde que se considere os fatores de forma isolada( 15 por ponderação), e mesmo assim em pequenas unidades territoriais. Quanto maior for a área considerada, maior a possibilidade de diversificação dos fatores que a compõe. Por outro lado, as áreas abrangem geralmente espaços urbanos e rurais que são essencialmente distintos. No caso dos espaços urbanos, sua característica fundamental é exatamente a heterogeneidade. A delimitação de regiões homogêneas é realizada comumente através de métodos de ponderação de índices fixos e de índices especiais. Boundeville chama a atenção ainda para o método de sondagens. Diz que índices complexos e sondagens constituem duas noções muito próximas, sendo a primeira, antes de totalmente desenvolvida, uma aplicação da segunda. b. Região Polarizada: define como um espaço heterogêneo cujas diversas partes são complementares e mantém entre si e, particularmente com o pólo dominante, um intercâmbio maior que o estabelecido com a região vizinha. A região polarizada pode ser delimitada através da observação sistematizada do funcionamento de um dado conjunto urbano. Observa-se que em torno de um grande centro encontra-se uma periferia intimamente relacionada com este centro. Este inter relacionamento é funcional e limitado pelo fator distância. Traduz-se em termos de fluxos de populações, de bens e serviços, de comunicações, de transportes, financeiros, de lazer, enfim de todos os componentes da atividade humana. Esses fluxos não ocorreram aleatoriamente dentro de uma região, nem com intensidade uniforme. Ao contrário, os fluxos mais importantes tendem a se concentrar em torno de um ou dois centros mais significativos. A intensidade desses fluxos tende a ser menor a medida em que a distância percorrida aumenta. As regiões podem ser delimitadas quando a intensidade do fluxo 16 começa a se fazer novamente maior, o que significa a proximidade e influência de um outro centro de igual porte, e portanto de outra região. A constatação de que as cidades desempenham funções diferenciadas e complementares dentro de um determinado sistema urbano, deu origem a uma série de métodos de análise urbana. Estes métodos procuram detectar, explicar e/ ou justificar a forma de organização de um sistema de cidades. Muitos deles surgiram antes mesmo que tenha sido possível tomar corpo uma teoria geral dos conjuntos urbanos. A teoria do Lugar Central desenvolvida por Christaller, é sem dúvida, um marco no processo de desenvolvimento de modelos de análise urbana, que conduzem ao traçado de regiões polarizadas. Sua idéia básica, como já foi visto, é a de que a função principal de uma cidade é servir de centro prestador de serviços para seu interior. De acordo com a ordem (importância) destes serviços prestados surge uma hierarquia no sistema urbano que obedece a uma forma hexagonal na qual todo o espaço é preenchido. Os modelos gravitacionais(fluxos, potencial, cadeia de Markov, análise de grafos) constituem a técnica mais utilizada para delimitar regiões polarizadas. Baseiam-se nos fluxos que se estabelecem entre os diversos centros urbanos, e identificam os pólos, suas esferas de influência e sua hierarquia. As regiões homogêneas e polarizadas não são contraditórias nem excludentes. Elas se superpõem. c. Região Piloto: a região piloto ou região- programa é um espaço contíguo cujas diversas partes se encontram na dependência de uma mesma decisão, como as filiais dependem de uma matriz. Representa um instrumento de ação, uma maneira de alcançar de forma rápida e econômica, um objetivo determinado. 17 A região programa pode ser determinada para fins de planejamento, com vistas a alcançar mais rapidamente o desenvolvimento econômico e social, ou com base da atuação para diminuir disparidades regionais, ou mesmo como elemento propiciador de maior integração regional, entre outras inúmeras finalidades. Pode ser determinada também para fins de administração governamental, objetivando uma coordenação dos diversos problemas regionais em suas próprias regiões, e/ou uma integração dos programas regionais aos programas do conjunto territorial. A delimitação das regiões- programa de forma mais aproximada possível da realidade sócio- econômica e política- administrativa de um território, apoia-se no traçado das regiões homogêneas e das regiões polarizadas. Segundo Boudeville, "o interesse supremo do espaço homogêneo e do espaço polarizado é tão somente esclarecer uma política e ajudar a construir um espaço piloto(programa) mais aprimorado possível"(apud, Breitbach). Este processo de entendimento do locus urbano, quer do ponto de vista geográfico (através do conceito de regiões), quer dos pontos de vista econômico ou social, sempre foram importantes em estudos realizados por planejadores e pesquisadores da cidade. O entendimento da cidade como um sistema complexo e aberto deu continuidade a estas indagações e contribuiu na compreensão do processo de transformação do espaço através de algumas teorias especuladoras do ambiente urbano , dentre elas a teoria dos sistemas complexos, como a auto organização que é resultado de uma série de atitudes de decisão(Allen, 1998). 18 2.1.3 SISTEMAS E COMPLEXIDADE Em síntese, a palavra sistema significa um conjunto de partes coordenadas entre si. (Chorley et al apud. Christofoletti) define que um sistema é um conjunto estruturado de objetos e/ou atributos. Esses objetos e atributos consistem em componentes ou variáveis (isto é, fenômenos que são passíveis de assumir magnitudes variáveis) que exibem relações discerníveis um com os outros e operam conjuntamente como um todo complexo, de acordo com determinado padrão. Existem sistemas abertos e fechados e segundo Echenique (1976) se os elementos do sistema e o entorno estão ativamente relacionados pode-se dizer que o sistema é aberto, e contrariamente, se não há interação, o sistema é fechado. Mas o fundamental é a definição dos elementos que estão dentro e fora do sistema a ser considerado, pois quando mais delimitado estiver os componentes que representarão o sistema, mais compreensível será seu funcionamento. Nos estudos urbanos, dentro desta abordagem sistêmica, o direcionamento coerente se faz pela incorporação e entendimento dos sistemas complexos, tendo em vista o grande número de elementos constituintes da dinâmica da cidade, os quais interagem-se mutuamente. Um sistema complexo pode ser definido como um sistema formado por um grande número de elementos simples, que interagem entre si, capazes de trocar informações entre eles e seu entorno, e por sua vez, capazes de adaptar sua estrutura interna como consequência de tais interações (Schuschny, 1998). É um sistema aberto, onde a interação entre seus elementos resulta num processo não-linear, os efeitos são indiretamente proporcionais às causas, ocorrendo constantes mudanças no sistema. Esta não-linearidadeé responsável pela reprodução de diversas propriedades emergentes, as 19 quais não podem ser atribuídas a cada componente por si só, mas são consequência da ação cooperativa entre todos eles. As propriedades emergentes são resultados macroscópicos que podem surgir da interação de uma grande quantidade de elementos que compõem o sistema (Schuschny, 1998). Num sistema complexo as interações estabelecem-se em níveis diferentes de organização. A cada interação novas propriedades emergem. A teoria da complexidade dá enfase a emergência, ou seja, na interação de novos níveis mais altos de estrutura a partir das interações das partes componentes. A teoria da complexidade baseia-se no entendimento da macroestrutura do sistema, procurando as regras básicas e princípios comuns que emergem das interações entre os diversos elementos que compõem os sistemas, e não no entendimento isolado de um determinado elemento ou agente. O que possibilita que estes sistemas sejam estudados é o fato de acreditar-se que há um conjunto de princípios comuns que são compartilhados por uma grande quantidade de sistemas naturais e sociais. 2.1.4 TEORIA ESPACIAL CONFIGURACIONAL- DEFINIÇÕES PRELIMINARES Os estudos de rede urbana constituem parte relevante da geografia, inspirada em teorias funcionalistas e de sistemas. Têm produzido contribuições significativas com base em quadros referenciais empíricos sobre características sociais, econômicas e demográficas relacionadas a tamanhos de cidade, centrando a atenção na identificação de configurações de redes urbanas e na posição nelas ocupada por um dado centro urbano. Nas análises neoclássicas, a relação entre um centro e seu hinterland baseia a definição da posição hierárquica dos centros urbanos, configurando assim, importante aspecto dos estudos dessa tradição. 20 Assim, a primeira forma de configuração das relações entre cidade e região, baseia-se na concepção de autores como Thunenn(1966), Weber(1909) e Lowry(1964), que fundamentaram todo um campo teórico sobre hierarquia urbana. À partir desta abordagem teórica foram estabelecidos vários modelos com a finalidade de representar a teoria em linguagem matemática. Os modelos clássicos baseados na teoria econômica e na interação espacial, em que os agentes tem o objetivo de maximar sua localização no espaço foram os de Von Thunen, 1826(localização agrícola), Weber, 1909(localização industrial) e Wingo, 1961, Alonso, 1964, e Lowry, 1964 (localização residencial) sempre associando a fluxos de pessoas do lugar de residência para o local de trabalho. Uma outra linha de estudo da geografia é a questão urbana e regional e tem como objetivos analisar a disposição espacial das cidades e das regiões, relacionada com a localização dos agentes, bem como o uso do solo. Os estudos estão centrados na explicação de como ocorre a distribuição e formação das cidades e os motivos que acarretam a importância econômica e social das cidades, isto é, porque a cidade é central numa dada região(Clarck, 1991, apud.Teruya, 2000). Estas abordagens da geografia receberam a contribuição de várias áreas de conhecimento, principalmente da economia, onde o enfoque está centrado na localização de atividades econômicas e de residências. A questão da localização é traduzida pelos "locais onde os produtos são produzidos e consumidos". A localização urbana é um tipo especifico de localização: aquela na qual as relações não podem existir sem um tipo particular de contato: aquele que envolve deslocamentos dos produtos e dos consumidores entre os locais de moradia e os de produção e consumo(Villaça, 1998). Outra forma de relação entre cidade e região, é aquela que traduz a presença de uma relação hierárquica entre cidades, determinadas pela lógica da extração tributária e pelas necessidades de circulação mercantil estabelecidas num território. Do ponto de 21 vista conceitual, corresponde ao modelo das localidades centrais de Cristaller(1966), no qual o princípio do mercado com livre circulação e com livre concorrência responde pela hierarquia na rede de localidades centrais. Tal modelo pode ser descrito como mercantilista, como descrito por Weber, para quem o alcance da política territorial dá-se sobre os mecanismos tributários e de alocação do gasto público, buscando definir áreas cativas no mercado. A lógica de negociação é regionalizada, isto é, configura-se em uma estrutura, cujas negociação e concorrência fazem-se para capturar maior parcela dos fundos públicos disponíveis para cada ilha econômica(IPEA, 2000). Na verdade o ponto central do estudo de Cristaller foi entender a razão pela qual existem cidades grandes e pequenas e porque elas são distribuídas de forma irregular. Mas a hipótese principal era de que havia a existência de uma hierarquia de lugares de acordo com a rede de interdependência entre eles, na qual a centralização seria a tendência natural. Neste trabalho, os lugares Centrais são vistos como fornecedores de uma quantidade maior e mais diferenciada de bens e serviços, podendo portanto tornarem-se mais centrais em relação aos demais e portanto terem um provável diferencial de crescimento e evolução (Clemente, 1994). Nestas abordagens conceituais, estes diversos modelos tinham um ponto comum: os indivíduos procuravam maximizar a utilidade de bens e serviços, o que a economia urbana entende como" fator consumo condicionado à renda". Ainda segundo a abordagem econômica "o custo de transporte se eleva à medida que se aumenta a distância com relação ao centro", e portanto as famílias localizam suas residências de acordo com suas rendas, considerando sempre o custo de transporte da residência ao local de trabalho. É necessário portanto, descrever alguns dos fatores de localização que influenciam as preferências e os locais de alocação das atividades, para entender os 22 padrões espaciais de distribuição das atividades em uma área urbana. Segundo Perroux (apud. Ferreira, 1974), o processo de formação dos centros urbanos é regido por duas forças: uma centrípeta e outra centrífuga. A força centrípeta é aquela que faz com que os agentes empreendedores localizem seus negócios próximos a outros a fim de cooperar por demanda, espaço, mão de obra, etc. com o objetivo de gerar concentrações espaciais com variedade de serviços e assim, potencializar a demanda dos negócios localizados nessas áreas de aglomeração da cidade. Essas aglomerações se mantém e crescem ao longo do tempo porque há redução de custo quando uma empresa localiza-se junto a outras empresas, processo que Weber (apud. Clemente, 1994) chama de fator aglomerativo. A força centrífuga faz com que os agentes empreendedores não localizem seus negócios próximos aos demais a fim de evitar competição por demanda, por espaço, mão de obra, etc. Weber(apud. Clemente, 1994) chama esta processo de fator desaglomerativo, que "representa os custos economizados pelo distanciamento em relação as empresas já estabelecidas". Em economia, os termos utilizados para explicar a formação de aglomerações em áreas urbanas são Economia de Aglomeração e Economia de Escala. Posteriormente estes conceitos de externalidades e de economia de escala são incorporados à análise da cidade, pelo fato desta apresentar uma expansão não linear e estar sujeita a interação de diversos agentes. Assim a cidade é vista como uma estrutura dinâmica, que está passando por mudanças constantes, seja em termos físicos, ou através de pessoas que nela moram. Segundo esta nova visão da cidade, surgem as modelagens sistêmicas, que exploram estas novas idéias originalmente advindas da física dos sistemasabertos. Estes 23 modelos assumem que a mudança de energia e matéria com sua vizinhança, fazem parte de um processo de escolha, de um processo decisório, e do interesse mais pratico, elas podem ser usadas para entender a emergência e a evolução dos modelos espaciais e estruturais em sistemas humanos. Diante disso a ciência da complexidade e a teoria da auto-organização tem sido utilizados como abordagens teóricas alternativas, pois partem dos princípios que podem ser utilizados na análise dos sistemas naturais e sociais, apresentando variáveis que interagem e promovem constantes mudanças na estrutura interna desses sistemas. Pessoas podem responder, reagir, aprender e modificar suas ações segundo suas experiências individuais e de suas personalidade. Estas pessoas passam a fazer decisões simultâneas que não são independentes uma das outras, e existe um efeito de comunicação entre elas. Modas, estilos de vida podem afetar o comportamento coletivo consideravelmente, e não podem ser consideradas respostas individuais e independentes. Para tanto, é necessário o entendimento dos modelos matemáticos que possam capturar fenômenos em que mudanças estruturais podem ocorrer e novos comportamentos podem emergir, indo além da visão mecânica da ciências clássica(Allen, 1994). Allen aborda a dinâmica das decisões utilizando o exemplo do tráfego, que segundo o autor explicita adequadamente onde o sistema obedece as leis da física e onde seu comportamento pode ser preditivo, de um conhecimento destas leis. As pessoas tem escolhas e fazem decisões, e uma destas decisões envolve outras pessoas, porque ela não pode saber certamente como outras pessoas irão responder ou reagir, ela não pode calcular exatamente o que deve fazer. Ele faz sua decisão, espera para ver o que acontece e fica pronto para ações corretivas se necessário. 24 É portanto um modelo macroscópico de assentamento , onde a hierarquia das cidades e regiões, é resultante do efeito agregado de decisões individuais, cada qual sendo feita segundo objetivos pessoais com limitada informação. Mas essa modelagem, e toda sua nova abordagem e aplicação, é uma das mais recentes que se tem notícia para análise regional na área dos sistemas complexos, e portanto necessita ainda de muita compreensão, análise e discussão. 2.1.4.1 Teoria do Lugar Central As primeiras observações sistematizadas de que as atividades se desenvolveram de forma organizada e racional no espaço, e que a partir deste espaço estruturado se estabelecem novas seqüências no processo de ocupação e crescimento, foram feitas por Von Thünen em 1826, ao estudar o funcionamento de suas propriedades rurais. Em seus trabalhos são encontrados os primeiros desenvolvimentos das teorias espaciais: A partir de um espaço rural que ele considera como homogêneo e indiferenciado no qual os custos de transporte são idênticos em todas as direções, Von Thünen estuda a localização ótima das culturas em função de uma cidade próxima. Naturalmente, os produtos cujo transporte é o mais caro, deveriam se localizar nas imediações da cidade. Dentro desta perspectiva Von Thünen determina finalmente um sistema de seis círculos concêntricos em redor da cidade: horticultura e produção leiteira, silvicultura, cultivos alternados de cereais, campos de pastagem, culturas com rotações trienais, e criação de gado. Em continuação, Von Thünen expõe algumas hipóteses: a área uniforme pode estar atravessada por um rio, as terras podem ser de fertilidade desigual; podem surgir outras cidades, etc. Os círculos concêntricos se deformam, mas a essência da análise se mantém: "a estruturação do espaço rural em função de suas relações com o meio urbano próximo". Em 1990 a análise do espaço foi retomada por Weber, mas numa nova perspectiva uma vez que o processo de industrialização se desenvolvia, e, nas suas malhas, vinha se acelerando também o processo de urbanização. Weber desenvolveu a "teoria da localização industrial" onde: 25 Supõe que os custos de transporte são paralelamente proporcionais ao peso das mercadorias e a distância percorrida. Toma possível determinar algébrica e geograficamente o ponto do espaço que minimiza os custos de transporte e o local de instalação vantajosa para a indústria. Este ponto está localizado no interior de um "triângulo de localização". Weber aperfeiçoou sua análise introduzindo os custos de mão de obra ao lado dos custos de transporte; a idéia de que existem vários locais de extração e abastecimento de matérias primas, vários mercados para um só produto e vários produtos com uma pluraridade de mercados de abastecimento e canalização, as forças aglomerativas, entre outros aspectos. Em 1933 Walter Christaller desenvolveu sua "Teoria do Lugar Central" que. Apoiada nos fundamentos da "Teoria da Localização, destinava-se a explicar o tamanho, o número e a distribuição das cidades: Em 1954 Losch, retomando a Teoria do lugar Central aperfeiçoou a análise de seus predecessores, particularmente a de Von Thünen: A partir de Losch seguem-se fundamentalmente quatro linhas: A) aprofundamento da Teoria da Localização por Walter Isard B) modelos de equilíbrio na economia espacial por Von Boventer C) esforços no sentido de "unir de novo economia espacial e teoria da expansão do crescimento" por François Perroux e Jacques Raoul Boundeville. D) Análise regional das relações inter industriais por Leontief e Strout e Walter Isard e Moses. Dentro destas linhas básicas surgiram diversas formulações teóricas tornando extensa a literatura sobre economia espacial. Foi entretanto François Perroux, em 1955, o primeiro a diferenciar conceitos de "espaços" a partir de sua teoria de "pólos de crescimento". Von Thunen, Weber, Losh, 26 Palander e outros haviam se preocupado principalmente em explicar de que modo as atividades econômicas se organizaram sobre o espaço geográfico. Perroux reagiu contra esta abordagem e propôs a substituição deste conceito geoeconômico por um tipo de espaço abstrato e topológico. Perroux desenvolveu o conceito de que o espaço econômico, como um campo abstrato de forças, conduz a noção de um vetor de forças econômicas e, consequentemente, ao conceito de pólo de crescimento. De acordo com Perroux há uma diferença essencial entre os espaços econômicos e os espaços geoeconômicos: os espaços econômicos são espaços abstratos constituídos por conjuntos de relações que respondem a diversas questões, sem envolver diretamente a localização de um ponto, figura ou um corpo qualquer, por meio de duas ou mais coordenadas. Os espaços abstratos não são localizados no sentido geográfico e, por conseguinte, as atividades econômicas, sociais e políticas são deslocalizadas tendo apenas uma dimensão econômica, social ou política. Os diversos espaços econômicos se superpõem e os pontos nesse espaço de n dimensões, representam certas combinações de fluxos de mercadorias e serviços. Perroux classificou os espaços econômicos em três categorias: espaço econômico definido por um plano ou programa de ação; o espaço econômico como um campo de forças; e, o espaço econômico como um agregado homogêneo. O espaço como foi definido por Perroux serviu como base para o consenso que se formou em torno do conceito de espaço com uma significativa contribuição de Boundeville: a característica geográfica de um espaço econômico. 2.2 ASPECTOS ANALÍTICOS 2.2.1 MODELOS MATEMÁTICOS -SIMULAÇÃO DE SISTEMAS. Simulação significa dirigir um modelo de um sistema com inputs adequados e observar os outputs correspondentes(Bratley, Fox e Scharage 1987; apud. AXELROD, 1997) . Ela pode ser valiosa como metodologia depesquisa, e pode ser vista como uma nova maneira de conduzir os experimentos científicas. Mas seu objetivo maior não é 27 espelhar o sistema representado, mas sim recriar o sistema de forma a tornar explícito seus elementos, relações e possibilidades de comportamento. A simulação também pode testar experimentos, mesmo que as suposições destes sejam simples, as conseqüências podem não ser tão óbvias. Estas conseqüências podem configurar – se através das propriedades emergentes, que nada mais é do que uma grande escala de efeitos de agentes locais interagindo no sistema. Estas propriedades por sua vez estão sempre surpreendendo, porque tornar-se difíceis de serem antecipadas como simples conseqüências de interações. Existem alguns modelos , em que as propriedades emergentes podem ser formalmente deduzidas, mas isso quando os agentes não se adaptam, e sim otimizam estratégias, tornando as consequências de fácil interpretação. Atualmente nas ciências sociais, a forma dominante de modelagem é baseada na escolha racional, muito porque ela tem a vantagem de permitir dedução. E a principal alternativa para a suposição da escolha racional é alguma forma de comportamento adaptativo. A adaptação pode estar no nível individual através do aprendizado, ou ele pode estar no nível da população através de diferentes sobrevivências e reproduções dos mais bem sucedidos indivíduos. De outra maneira, as conseqüências do processo adaptativo são freqüentemente muito difíceis de serem deduzidas quando existem muitos agentes interagindo sequindo regras que tem efeitos não lineares. Então a simulação é uma maneira viável para estudar uma população de agentes que são mais adaptativos que racionais. A respeito da análise dos resultados de uma simulação, é necessário entender os detalhes da história de cada rodada ou interação. Múltiplas rodadas do mesmo modelo podem diferenciar-se uma das outras por diferenças nas condições iniciais e eventos 28 estocásticos. Ela permite também comparar eventos diferenciados mas que tenham parâmetros de ordem idênticos. Mas o progresso das simulações em ciências sociais requer uma interdisciplinaridade na comunidade dos cientistas sociais que utilizam simulação, pois assim pode-se interrelacionar os vários campos de pesquisa em que a simulação de sistemas aborda vários agentes. 2.2.1.1 Processo de modelagem- Desenvolvimentos recentes em simulação Urbana Dentre os principais avanços em modelagem urbana levantados e registrados por Wegener (Wegener, 1994) nos últimos quinze anos, pode-se destacar alguns modelos matemáticos para análise e previsão de desenvolvimento de sistemas urbanos. São vários modelos operacionais de variados graus de compreensão e sofisticação que tem sido utilizados em regiões metropolitanas em casos reais de pesquisa ou planejamento. O que eles tem em comum é o seu caráter operacional, no sentido de que podem ser implementados, calibrados e utilizados para análise de planejamento urbano. Eles podem ainda estar divididos em modelos estáticos e modelos dinâmicos. Os dinâmicos simulam processos de mudanças espaciais, enquanto que os estáticos, medem diferenciação espacial num dado momento. Este último é a categoria na qual se insere o modelo de centralidade a ser utilizado, e portanto mais adequado aos objetivos deste trabalho, ou seja, identificar hierarquias e delimitar regiões. Mas, para o entendimento do processo de desenvolvimento do modelo de centralidade a ser utilizado nesta pesquisa, pode-se destacar dois modelos principais, que serviram como experimento. O primeiro constitui-se na abordagem conhecida como "autoorganização"(Allen & Sanglier, 1981; Portugalli, 1997), conceitos dos quais já 29 foram abordados no quadro teórico. E o segundo modelo refere-se àqueles de extrema desagregação de dados propiciada pela tecnologia do geoprocessamento. Landis(1994, 1998) oferece um modelo que permite a simulação a partir de parcelas tão pequenas quanto ao lote urbano. No modelo de potencial centralidade(Krafta, 1998) é considerado a possibilidade de se trabalhar o espaço com esse nível de detalhe, embora num segundo momento volta-se a agregá-lo em unidades maiores. Mas o modelo que se pretende utilizar é o de centralidade (Krafta, 1992), pois é o que melhor se adapta aos objetivos da pesquisa, já anteriormente delineados . 2.2.1.2 Definição de Centralidade A centralidade na estrutura urbana pode ser definida como uma propriedade do espaço público que consiste na capacidade de localizar nos caminhos mais citados entre todos os pares de porções de formas construídas dentro de um sistema urbano(Krafta, 1994).Assim, pode ser determinada através de descrições implícitas nos conceitos de alcance de adjacência, uma vez que todas as porções elementares da forma construída dentro dos espaços existentes, são interconectadas ao sistema de espaços. A definição de centralidade adotada nesta pesquisa é fruto do modelo de centralidade(Krafta, 1994) que permite avaliar as diferenciações morfológicas do espaço urbano através da consideração de variáveis específicas. O processo de interação espacial entre as formas construídas envolve a interação entre todas as formas construídas entre si, como uma combinação de conjuntos de pares ligados pelos espaços públicos da cidade. A centralidade enquanto propriedade morfológica consiste na propriedade dos espaços públicos de estarem posicionados como menor caminho entre todos os conjuntos de pares de formas construídas do sistema urbano, e se relaciona ao grau de interação ou tensão de cada forma construída com todas as demais(Krafta, 1994). 30 A tensão entre duas formas construídas é distribuída entre os trechos de espaço espaços públicos( ou linhas axiais- decomposição do comprimento da rua no maior número possível de retas interligadas, representando as inflexões do traçado da rua que fazem parte das rotas possíveis entre formas construídas). O sistema de interação entre as variáveis morfológicas de um dado conjunto corresponde ao sistema de atividade do urbano. Essa abordagem analítica da estrutura urbana toma cada arquitetura como local de atividade ou atrator. Para complementação da análise do trabalho, que envolve todas estas questões de simulações e modelagem através do conceito de centralidade, será utilizada a Análise Estatística Multivariada como um meio auxiliar incluído no método analítico do modelo a ser utilizado. Nesse momento, então, parece ser importante um breve explicação da importância e da aplicabilidade da Análise Estatística. 2.2.2 ANÁLISE ESTATÍSTICA MULTIVARIADA Até a metade do século XX, a aplicação de qualquer método interativo demandava um enorme esforço de tempo e matemáticos para ser completado. Muito da ciência conhecida não era utilizado na prática devido às dificuldades na computação dos resultados. O esforço anglo americano na busca de desenvolvimento no período entre a Primeira e a Segunda guerras mundiais, propiciaram a construção do computador, que veio alterar muito a vida humana. Do primeiro computador a válvulas até os mais modernos computadores atuais, muito progresso científico foi feito. Com o avanço tecnológico, as técnicas que na época eram consideradas inviáveis pela grande quantidade de cálculos passaram a ser mais utilizadas. A velocidade do processamento foi crescendo, e com ela, os custos operacionais caíam para valores bem menores. Algumas técnicas estatísticas baseadas em métodos recursivos aguardaram muitas décadas até que pudessem se desenvolver 31 plenamente. Dentre estas técnicas, uma que encontrava-se completamente construídateoricamente por volta da década de 30, mas só teve aplicação plena no final dos anos 50 com a computação eletrônica, foi a análise fatorial. A análise fatorial é uma técnica estatística multivariada, que trata do relacionamento entre conjunto de variáveis. Inicialmente foi desenvolvida por psicólogos, como Spearman, Thomson, Thurstone e Burt, como uma técnica pioneira, tratando de hipóteses sobre a organização da habilidade mental, sugerida pelo exame das matrizes de correlação ou covariância para conjuntos de testes de variáveis cognitivas. O trabalho precoce neste difícil campo gerou permanentes controvérsias pelo lado da psicologia, que por muito tempo desencorajou o interesse mostrado por matemáticos nos problemas teóricos envolvidos. Durante muitos anos o assunto foi ovelha negra da estatística. Gradualmente um tratamento mais coerente do assunto foi desenvolvido, as muitas concepções foram sendo entendidas gradualmente e com grande respeitabilidade. Hoje a análise fatorial é uma teoria estatística amplamente utilizada. A essencial proposta da análise fatorial é descrever, se possível, a estrutura de covariância do relacionamento entre variáveis em termos de um número menor de variáveis não observáveis, denominadas fatores. Basicamente o modelo Fatorial é motivado pelo fato de que, dentro de um grupo, todas as variáveis tem, entre elas, uma forte correlação. Entretanto possuem relativamente uma pequena correlação com as variáveis de um outro grupo. Assim, cada grupo de variáveis pode representar uma simples estrutura ou fator. O fator fica responsável pelas correlações observadas no grupo. As variáveis seriam, portanto agrupadas em diversos fatores. No presente estudo, a Análise Fatorial será aplicada no ranqueamento dos municípios do Estado do Paraná. A partir de um conjunto inicial de variáveis é avaliado o grau de relacionamento entre todas as variáveis. A partir daí, com os autovalores e autovetores da matriz de correlação, determina-se o número de fatores considerando-se a 32 porção de variância explicada. Para a estimação dos fatores utilizou-se o método de Componentes Principais, e para uma melhor interpretação dos resultados utilizou-se a rotação Varimax Normal. Os escores fatoriais foram estimados pelo Método dos Mínimos Quadrados Ponderados. Ë de grande conhecimento que, hoje, os métodos multivariados são aplicados em diversos campos de pesquisa. Johnson & Wichern (1998) descrevem com exemplos as principais e mais recentes aplicações da Análise Multivariada. São elas: a) Medicina e Saúde Um estudo foi realizado para investigar a reação dos pacientes de câncer sob a ação da radioterapia. As medidas feitas em 98 pacientes, e direcionadas para 6 tipos principais de observação: número de sintomas, quantidade de atividade, tempo de sono, quantidade de alimento consumido, apetite e reação da pele. A análise Multivariada foi usada para construir e interpretar as reações dos pacientes a radioterapia, em função de simples parâmetros utilizados em cada tipo de observação. b) Sociologia Uma teoria sociológica sugere que a estrutura das ocupações americanas seja determinada por uma forte dimensão sócio econômica. Medidas com 25 variáveis para 583 ocupações foram analisadas usando métodos multivariados para determinar o motivo real dessas ocupações. A contagem do número de filhos de imigrantes de primeira e segunda geração, nascidos residentes nos Estados Unidos em 1970 foram tabulados por países de origem e Estado da residência. Métodos mutivariados foram utilizados para verificar a distribuição das nacionalidades dos imigrantes de acordo com o Estado residente. c) Negócios e Economia 33 Medidas a partir de diversas variáveis envolvendo finanças e contabilidade, foram realizadas para possibilitar o desenvolvimento de modelos multivariados em empresas e estabelecer regras de classificação para distinguir as firmas estáveis das insolventes. O conhecimento dos fatores relacionais entre as atividades/ metas policiais e a aparelhagem utilizada por eles em países subdesenvolvidos pode ajudar no processo de modernização e melhorias das condições existentes. O objetivo da Análise Multivariada foi determinar a dependência entre os dois tipos de variáveis- atividade – meta e aparelhagem policial. d) Educação Os resultados em testes de aptidão escolar e a performance dos alunos durante o segundo grau são usados frequentemente como indicadores do sucesso acadêmico na universidade. AS medidas efetuadas com cinco variáveis em estabelecimentos pré universitários e quatro variáveis sobre performance universitária foram usadas para determinar a associação entre o previsto e o resultado efetivo dos escores. O objetivo foi aplicar regras para a classificação de estudantes na universidade. e) Biologia No estudo de reprodução de plantas é necessário, após o fim de uma geração, selecionar aquelas plantas que serão os pais da próxima geração. A seleção deve ser feita de tal modo que as gerações sucessivas possam ser melhoradas em um número de características sobre aquelas da geração anterior. A meta da reprodução em plantas é maximizar o ganho genético em um mínimo de tempo. Técnicas multivariadas foram usadas em um programa de reprodução de feijão para transformar as medições realizadas em variáveis dos rendimentos e das proteínas existentes dentro de um índice de seleção. Os escores neste índice foram então usados para determinar os pais de uma subsequente família de feijão. f) Estudos Ambientais 34 As concentrações de ar poluente na atmosfera tem sido intensivamente estudadas. Em um destes estudos, foram realizadas medições diárias sobre a poluição do ar em um período de tempo, sendo registrados esses dados em sete tipos de variáveis. O interesse imediato era verificar se o nível de poluição atmosférica era aproximadamente constante durante a semana ou se haviam diferenças consideráveis entre o nível de poluição durante os dias da semana e o fim de semana. Um objetivo secundário era verificar se a massa de dados disponíveis poderia ser resumido e interpretados de modo rápido. Aqui os objetivos foram testar hipóteses e reduzir dados. g) Meteorologia Um estudo foi iniciado para quantificar as relações entre três anéis cronológicos e vários parâmetros climáticos. Era de interesse determinar o tipo de informação climática que cada anel continha e então reconstruir as anomalias climáticas que datam após 1700. Técnicas multivariadas foram usadas para reduzir a quantidade enorme de dados avaliados para um tamanho manuseável. O poucos novos dados craidos no processo foram analisados e interpretados subsequentemente de modo muito mais fácil. h) Geologia A análise multivariada foi usada em estudos para classificar tamanho e distribuição de sedimentos em ordem para construir duas funções lineares de 10 tamanhos. Os resultados permitem uma considerável redução no trabalho de laboratório, necessário para diferenciar entre os vários tipos de sedimentos. i) Psicologia Um estudo foi realizado para investigar o comportamento de risco. Como parte do estudo, os estudantes foram selecionados aleatoriamente para receber um dos três diferentes tipos de testes. Foram então administrados duas formas paralelas de um teste que penalizavam mais ou menos respostas incorretas. Os escores das penalidades altas e baixas eram então registradas e ordenadas a fim de analisar as reações dos estudantes 35 em função do risco corrido. O objetivo foi testar hipóteses, ou seja, testar se a direção natural fez diferença em relação ao risco percebido. j) Esportes A análise dos recordes
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