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Tópico 11 - Política Fiscal Deficit e Dívida Pública

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1 
 
Tópico 11 - Política Fiscal: Déficit e Dívida Pública 
 
 
Introdução 
 
O gasto público é sempre uma matéria controversa, há aqueles que defendem uma 
drástica redução da despesa pública, outros acreditam que o Estado tem que gastar mais 
para melhorar os serviços públicos como saúde, educação ou construção de estradas. 
 
Os gastos do Estado se distribuem nas funções alocativas, distributivas e estabilizadoras 
analisadas com mais detalhe no tópico sobre as falhas de mercado e de governo. Além 
destas funções, um gasto significativo é feito com a máquina administrativa. Porém, 
dependendo do tamanho do gasto e das receitas, gera-se uma dívida e essa dívida 
precisa ser financiada, de modo que o governo deve dar garantias de pagamentos aos 
agentes que se dispõem a emprestar ao governo. Essas garantias são dadas através de 
superávits primários. Isso foi o que ocorreu na década de 1990 e vem ocorrendo 
atualmente na economia brasileira. 
 
Em 1994, a dívida líquida do setor público (DLSP) no Brasil era de 28,5% do PIB. Em 
1998, esse valor cresceu para 42,6% do PIB e durante o ano de 1999 se situou na faixa 
de 50% do PIB. Um dos termos do acordo que o governo fechou com o FMI naquele 
período era o controle da relação DLSP/PIB, para reverter sua trajetória de ascensão 
ocorrida nos últimos anos da década de 1990. O objetivo era estabilizar a DLSP em 
46,2% do PIB em 2001. Para conseguir atingir esta meta, o setor público (governo 
central, Estados e municípios) deveria gerar entre 1999-2001 superávits primários da 
ordem de 3% do PIB. Com isso, o governo estaria reduzindo suas necessidades de 
financiamento, possibilitando a queda da taxa de juros e estimulando os investimentos 
privados e o crescimento econômico. 
 
Quais as implicações para a economia de uma dívida pública crescente? Por que para 
reduzir a dívida é importante a geração de superávits primários? Por que se espera uma 
queda da taxa de juros quando há uma redução das necessidades de financiamento do 
setor público? Por que alguns países têm uma relação dívida pública/PIB bem mais 
elevada que a nossa e não precisam realizar o mesmo esforço fiscal para estabilizá-la? 
Estas são algumas questões que este tópico tenta responder. 
 
No entanto, para entender as relações econômicas oriundas da geração de déficits 
públicos e do processo de endividamento, é necessário entender os conceitos e as 
principais medidas utilizadas pelo governo e o mercado para acompanhar o desempenho 
das contas públicas. Nesta introdução foram citados três importantes conceitos: DLSP, 
superávit (ou déficit) primário e necessidades de financiamento. Nas próximas seções, 
vamos entender melhor a relação da política fiscal com esses conceitos. 
 
 
Instrumentos de Política Fiscal 
 
A política fiscal utiliza de três instrumentos: os gastos do governo, que se divide em 
investimento público e consumo público; as transferências de renda ao setor privado, 
que corresponde ao pagamento de aposentadorias governamental, de juros da dívida 
2 
 
pública, de bolsas-escola e bolsa-família, de renda mínima, etc. O outro instrumento é a 
alíquota tributária. Abaixo se encontra esses instrumentos com suas respectivas siglas. 
 
Gastos do governo (G) = Investimento do governo (Ig) + consumo do governo (Cg) 
Transferência de renda ao setor privado (R); Alíquota tributária (t) 
 
As políticas fiscais serão consideradas expansionistas, ou seja, aumentam o PIB, quando 
ocorrer: 
1) Um aumento de G; 
2) Um aumento de R; 
3) Uma redução de t. 
 
Isso porque, dada a definição do PIB = C + G + I + X – M1, um aumento de G provoca 
diretamente um aumento do PIB, supondo tudo o mais constante. Do mesmo modo, um 
aumento de R ou redução da alíquota, gera um aumento da renda pessoal disponível 
(RPD) que tende a provocar um aumento do consumo agregado e, portanto, do PIB. 
 
E serão consideradas contracionistas, ou seja, provocam uma redução do PIB, quando: 
 
1) Uma redução de G; 
2) Uma redução de R; 
3) Um aumento de t. 
 
Isso porque, dada a definição do PIB = C + G + I + X – M, uma redução de G provoca 
diretamente uma redução do PIB, supondo tudo o mais constante. Do mesmo modo, 
uma redução de R ou aumento da alíquota, gera uma redução da renda na economia que 
tende a provocar uma redução do consumo agregado e, portanto, do PIB. 
 
Políticas fiscais expansionistas tendem a gerar déficit orçamentário ou a reduzir o 
superávit enquanto políticas fiscais contracionistas tendem a gerar superávit ou a 
reduzir o déficit orçamentário. 
 
No entanto, muitas dessas políticas precisam passar por aprovações na câmara, o que de 
certo modo demorar um pouco de tempo e, portanto, tornando a política fiscal pouco 
eficiente (vide o tópico sobre falhas de mercado e de governo). Porém, existem alguns 
mecanismos que não necessitam passar por esse processo burocrático, ou seja, é 
automático de acordo com a situação econômica do país. Esses mecanismos 
automáticos evitam que a economia entre numa recessão muito grave e também 
superaqueça. Vejamos como funciona. 
 
Estabilizadores Fiscais Automáticos 
 
Uma das medidas mais interessantes para melhorar o desempenho da política fiscal 
consiste em utilizar os chamados “Estabilizadores fiscais automáticos”, que impedirão 
que a economia sofra com fortes flutuações econômicas. 
 
 
1
 C = consumos; G = gastos do governo; I = investimento; X = exportações; M = importações. 
3 
 
Estabilizadores fiscais automáticos são definidos como quaisquer rotinas de ordem 
fiscal que tendam a reduzir as flutuações econômicas sem necessidade de decisões 
específicas de alterar gastos ou tributos por parte do governo. 
 
Algumas variáveis fiscais, como por exemplo, o seguro desemprego e a alíquota do 
imposto de renda, podem sofrer alguns aumentos ou reduções automáticas (sem uma 
decisão específica do governo) em épocas de recessão ou de superaquecimento da 
economia. Por exemplo, em períodos de recessão, a taxa de desemprego tende a 
aumentar, aumentando o número de demissões na economia. Com isso, um número 
maior de trabalhadores passa a ter o direito ao seguro desemprego, evitando uma queda 
drástica da renda da economia como um todo e, portanto, evitando uma redução do 
consumo e, consequentemente do PIB da economia. O efeito desse processo sobre as 
contas públicas será o aumento do déficit público ou a redução do superávit público. 
 
Mecanismo similar ocorre com a alíquota tributária do imposto de renda. Como a 
alíquota deste tipo de imposto é graduada conforme a renda do contribuinte (é maior 
conforme o nível de renda), mudanças da renda provocam alterações na alíquota média 
do imposto. Durante uma recessão, o nível de renda da economia cai, fazendo com que 
automaticamente parte dos agentes tenha direito a pagar uma alíquota menor; o inverso 
ocorre em caso de expansão. Assim, a alíquota média do imposto de renda 
automaticamente eleva-se em épocas de expansão (auxiliando a freá-la) e se reduz em 
caso de contração econômica (também amortecendo-a). 
 
 Tais efeitos estabilizadores serão mais fortes: 
 Quanto maiores forem G, R e t, isto é, quanto maior o tamanho do Estado 
(em relação ao PIB); 
 Quanto mais progressivo for o sistema tributário, ou seja, quanto maior for a 
diferença de alíquotas de impostos de renda entre os níveis de renda; 
 Quanto mais elevado o valor pago pelo seguro-desemprego e outras despesas 
similares. 
 
Assim, segundo a visão intervencionista: quanto maiores t, G e R, mais a economia 
capitalista fica estável; quanto menores tais variáveis, os níveis de produção, renda reale emprego ficam mais sensíveis a variações bruscas dos níveis de consumo e 
investimento privados. 
 
Historicamente, o tamanho dos Estados (como % do PIB) aumentou muito desde a 
Grande Depressão (antes: < 10% do PIB; hoje: 25-55% PIB), e este fator parece 
explicar ao menos em parte por que não tivemos crises internacionais da mesma 
magnitude desde então. 
 
Assim, os estabilizadores automáticos tendem a frear tanto a queda do PIB em período 
de recessão quanto sua elevação em períodos de expansão econômica. 
 
 
Hipótese Barro-Ricardo ou Equivalência Ricardiana 
 
Recuperada pelo economista R. Barro a partir de uma passagem de Ricardo. A ideia 
básica é que um corte de impostos que gera déficit orçamentário governamental não 
aumenta o consumo porque os consumidores, racionalmente, sabem que cedo ou tarde 
4 
 
os impostos terão de ser elevados novamente e/ou os gastos governamentais terão que 
ser cortados para evitar a explosão do déficit e da dívida pública (expectativas 
racionais). 
 
Consequentemente, ao invés de gastar a renda adicional disponível, poupam-na para o 
momento futuro em que os impostos serão novamente elevados. 
 
Ao agir assim, eliminam completamente a eficácia das políticas fiscais expansionistas 
propostas por keynesianos para combater o desemprego, mesmo no curto prazo. 
 
A teoria da equivalência ricardiana está sustentada em duas hipóteses. Primeiro, os 
agentes econômicos tomam suas decisões no presente olhando para o futuro (visão do 
tipo forward-looking), de modo que o horizonte de planejamento é suficiente longo e 
ultrapassa o próprio período de vida, dado que se reflete na preocupação com os 
descendentes. Os indivíduos constroem um patrimônio para seus filhos, que é 
transmitido por meio de heranças. Um conjunto de agentes econômicos individuais com 
vidas finitas comporta-se como se fossem uma única família com horizonte infinito de 
vida. Portanto, pela teoria da equivalência ricardiana não existem motivos para alterar a 
trajetória de consumo em razão da redução de impostos e do aumento do déficit público 
porque existem preocupações intergeracionais. 
 
A segunda hipótese refere-se ao fato de que o setor público defronta-se com uma 
restrição orçamentária, que intertemporalmente precisa ser atendida. O governo como 
outro agente qualquer, não pode acumular sua dívida indefinidamente. Portanto, menor 
carga tributária hoje significa maiores impostos no futuro. Os agentes econômicos não 
definem seu consumo pelo nível de imposto vigente, mas pelo valor presente desses 
impostos, inserindo nas suas expectativas. 
 
Porém, essa teoria não se sustenta quando se parte para avaliações empíricas. No Brasil, 
por exemplo, durante a crise de 2008 o governo reduziu diversas alíquotas com o 
objetivo de manter o nível de consumo agregado e, portanto, do PIB da economia 
brasileira. Se a equivalência ricardiana fosse válida para o Brasil, a redução dos 
impostos teria efeito nulo sobre o consumo, pois os brasileiros teriam poupado para 
pagar o aumento dos impostos no futuro. Porém, como já é conhecido, não foi isso o 
que aconteceu. O consumo aumentou, mantendo o nível de emprego da economia e 
evitando uma recessão mais grave. 
 
Dando sequência a política fiscal, vejamos a classificação dos gastos públicos e as 
principais medidas de déficits. 
 
Classificação dos Gastos Públicos 
 
Os gastos públicos são classificados em despesas correntes e despesas de capital. As 
DESPESAS CORRENTES referem-se ao conjunto de gastos operacionais realizados 
pelo governo com o objetivo de promover a execução, manutenção e o funcionamento 
de suas atividades. As despesas correntes são divididas em: 
 
1) Despesas de custeio – que são compostas pelo dispêndio com pessoal, 
manutenção dos serviços, diárias, gratificações, material de consumo, etc; Estas 
despesas dizem respeito basicamente ao funcionalismo ativo e inativo, às 
5 
 
instalações públicas, à manutenção de serviços indispensáveis como o 
fornecimento de energia, transporte, material de consumo e uma infinidade de 
outras despesas. 
2) Transferências correntes – são as subvenções econômicas, as transferências à 
entidades privadas, encargos da dívida pública, etc. 
 
Quanto as DESPESAS DE CAPITAL, estas representam os dispêndios que 
contribuem para formar um bem de capital ou gerar um acréscimo de valor a um bem já 
existente, realizada por meio da compra, transferência ou outro meio de aquisição de 
propriedade. Nestas despesas enquadra-se, por exemplo, os investimentos, as 
transferências de capital e as inversões financeiras
2
. 
 
 
Conceitos de Déficit e Dívida Pública: principais medidas 
 
Para o cálculo dos déficits, existem dois critérios. O primeiro é chamado “acima da 
linha”, no qual são explicados os principais fluxos de receita e despesas. O Segundo é o 
chamado “abaixo da linha”, que observa o déficit com base na variação da dívida 
pública, pela ótica do seu financiamento. É conhecido como Necessidade de 
Financiamento do Setor Público (NFSP). Cabe observar que algumas medidas de 
déficit, com o mesmo significado, podem ser calculadas nos dois critérios. 
 
Pelo critério acima da linha pode-se calcular: 
 
1) Déficit nominal = gastos totais – receitas totais3 
 
Há duas importantes observações a serem feitas a respeito dessa medida. Primeiro, sua 
abrangência. Como não se qualificou a medida de déficit público, este é entendido com 
a diferença entre todos os gastos (compras de bens e serviços, transferências, 
investimentos, pagamentos de juros etc.) e todas receitas (financeiras e não financeiras). 
Nesse sentido, é o mais abrangente possível, também incluindo todas as esferas do setor 
público (governo central, estados e municípios)
4
. Segundo, o déficit público é uma 
medida de fluxo, ou seja, a mensuração deve ser feita em relação a determinado período 
de tempo (mês, trimestre e ano). Portanto, quando os jornais divulgam os números do 
déficit público, estes sempre estarão associados a uma referência temporal. 
 
Além disso, o déficit nominal exige a mobilização de poupanças interna e externa para 
financiá-lo, poupanças que poderiam ser direcionadas para outros fins, como aumento 
dos investimentos privados. Quanto maior a restrição de liquidez e menos desenvolvido 
for o mercado de capitais de um país, maior tende a ser a taxa de juros para captar 
recursos com o objetivo de financiar o déficit público. 
 
 
2
 Inversão financeira são as despesas com aquisição de imóveis ou bens de capital já em utilização, 
aquisição de títulos de crédito, aquisição de títulos representativos de capital já integralizado, constituição 
ou aumento de capital de empresas, concessão e empréstimos, entre outros. 
3
 Inclui as despesas com juros e a correção monetária no cálculo. 
4
 Uma medida menos abrangente é o das Contas Nacionais, que primeiro exclui dos gastos os 
investimentos públicos, e segundo não inclui as empresas estatais, consideradas por seu objetivo de firma 
uma esfera não governamental. Essa medida refere-se ao déficit em conta corrente das administrações 
públicas. 
6 
 
2) Déficit primário = gastos não financeiros – receitas não financeiras5 
 
Essa medida é importante por duas razões principais: primeiro, porque este representa a 
origem e a fonte de alimentação dos déficits totais e da dívida pública, por isso o termo 
primário. Suponha um município com uma dívida nula, que iniciou suas atividades em 
1998. Essa esfera de governo somente poderá gerar uma dívida no ano seguinte a partir 
de um desequilíbrio das suas contas primárias. Até então, esse municípionão tinha 
compromissos com pagamento de juros e passará a ter se precisar rolar sua dívida. Por 
outro lado, o acúmulo de superávits primários garante a solvência intertemporal do setor 
público. Por isso, a exigência do cumprimento da meta de superávit primário em torno 
de 3% do PIB no acordo com o FMI em 1999. Assim, corta-se o principal elo de 
realimentação da dívida pública, já que há reduções nas necessidades de financiamento 
e nas taxas de juros associadas à captação desses recursos. O segundo motivo é a 
identificação dos focos de desequilíbrio, por meio da discriminação dos fluxos de 
receitas e despesas. Com isso pode-se responder às seguintes questões: quais os itens da 
despesa que crescem inercialmente? Quais as despesas que são mais suscetíveis a 
cortes, na hipótese de um ajuste fiscal? Qual a situação das contas previdenciárias? 
Quais os impostos mais sensíveis a variações na atividade econômica? Para 
implementar um programa de ajuste fiscal é fundamental conhecer o comportamento e a 
lei de formação das despesas e receitas primárias, que em última instância irão 
determinar a trajetória da relação dívida/PIB. 
 
3) Déficit operacional = déficit primário + pagamento de juros reais6 
 
Está é uma medida bastante requisitada em períodos de inflação elevada. Como no seu 
cálculo é retirado o efeito inflacionário, em períodos de alta inflação o déficit 
operacional tende a ser menor que o déficit nominal. Contudo, passado o período 
inflacionário, ambos os déficits tendem a convergir para valores próximos. 
 
Pelo critério abaixo da linha, os principais conceitos apurados pelo Banco Central são: 
 
1) Dívida Líquida do Setor público (DLSP) – é dada pela soma das dívidas 
interna e externa do setor público (governo central, estados e municípios e 
empresas estatais) junto ao setor privado, incluindo a base monetária e 
excluindo-se ativos do setor público, tais como reservas internacionais, créditos 
com o setor privado e os valores das privatizações. 
2) Ajuste patrimonial – item da DLSP que contabiliza a diferença entre os 
passivos do governo, contraídos no passado e posteriormente reconhecidos, e os 
resultados da privatização. 
3) Dívida Fiscal Líquida (DFL) – é dada pela diferença entre a DLSP e o ajuste 
patrimonial. 
4) Necessidade de Financiamento do Setor Público no conceito nominal 
(NFSP) – corresponde ao conceito de déficit nominal apurado pelo critério 
“acima da linha”. Refere-se a variação da DFL entre dois períodos de tempo. 
5) Necessidade de Financiamento do Setor Público no conceito operacional – 
exclui das necessidades de financiamento nominais a correção monetária (efeito 
 
5
 Exclui do cálculo (ou do déficit nominal) o pagamento dos juros e das amortizações da dívida pública, 
entre outras despesas e receitas financeiras, além da correção monetária. 
6
 Exclui do cálculo o pagamento dos juros nominais da dívida pública e os efeitos da correção monetária. 
Foi utilizada no Brasil nos períodos de inflação elevada para se ter uma medida real do déficit público 
7 
 
inflacionário) que incide sobre a DFL. Seu correspondente pelo critério acima da 
linha é o déficit operacional. 
 
Critério de Caixa e de Competência 
 
Os vários conceitos de déficit público podem ser apurados por dois critérios: o de caixa 
e o de competência. O primeiro contabiliza o déficit com base nos fluxos de pagamentos 
e recebimento ocorridos no caixa do governo
7
. O segundo, apura as despesas no 
momento da sua liquidação, ou seja, quando se efetivou um direito adquirido pelo 
credor, independentemente de o pagamento ter ocorrido ou não naquela data. 
 
No critério de Competência, o registro das receitas e dos gastos se dá na data que o 
evento aconteceu, independentemente do efetivo recebimento das receitas ou do 
pagamento das despesas. A principal vantagem desse critério é a possibilidade de 
previsão, o governo sabe o quanto tem a receber e o quanto tem que pagar. 
 
Já o critério de Caixa é diferente do regime de competência. No critério de Caixa, 
consideramos o registro dos documentos na data que foram realmente pagos ou 
recebidos, como se fosse uma conta bancária. No caso do governo, na conta Única do 
Tesouro Nacional. O critério de caixa tem a vantagem de medir com maior precisão o 
impacto monetário da atuação do governo. Esse critério, porém, pode gerar distorções 
na mensuração da efetiva situação das contas públicas. Por exemplo, quando o governo 
adia a data de pagamento dos servidores de um mês para outro, o critério de caixa não 
estará registrando essa despesa devido à inexistência de um desembolso financeiro. Isso 
pode gerar um superávit artificial naquele mês e um grande déficit no mês seguinte. 
Pelo critério de competência este problema não ocorre. 
 
Por exemplo, o governo tem um pagamento a ser realizado no mês de março, mas o 
pagamento ocorreu no mês de abril. Pelo critério de Competência, em março computa-
se a despesa. Ou seja, na contabilidade do governo essa despesa será computada no mês 
de março e como contrapartida cria-se uma obrigação em Contas a Pagar. Pelo critério 
de Caixa, a conta só será deduzida no mês de abril. 
 
No Brasil, as NFSP e a DLSP são apuradas pelo critério de competência com o objetivo 
de evitar grandes flutuações nos indicadores. Mas o resultado primário do governo 
central é apurado pelo critério de caixa. Desse modo, o governo pode maquiar as contas 
públicas. Para isso, basta atrasar o pagamento de uma despesa, como o bolsa família. 
Por exemplo, o governo tem uma despesa (pagamentos com bolsa família) para ser 
realizada no mês de dezembro de 2014, mas com o objetivo de gerar um superávit 
primário nesse ano, o governo pode deixa para fazer o pagamento apenas em janeiro de 
2015. Com isso, ao atrasar o pagamento do bolsa família, a despesa não é computada 
pelo critério de caixa no mês de dezembro e o ano de 2014 fecha com um superávit 
primário, porém o ano de 2015 já inicia com um déficit. Embora tenha sido utilizada por 
todos os outros presidentes na era democrática, essas manobras contábeis ficaram 
 
7
 O Tesouro Nacional desenvolveu um sistema de gerenciamento de informações que capta os 
pagamentos efetuados por emissões de ordens bancárias de todos os órgãos da administração direta, 
fundos, autarquias e fundações. As receitas são registradas no momento de seu recolhimento à rede 
bancária ou diretamente aos órgãos. Ambos os casos são contabilizados na conta única do Tesouro 
Nacional. 
8 
 
conhecidas como pedaladas fiscais (ou ainda, contabilidade criativa) devido a sua 
utilização no governo Dilma
8
. 
 
A meta de superávit mínimo necessário para manter a dívida estável 
 
Como os recursos do superávit primário são direcionados para o pagamento dos juros 
da dívida pública, quando o FMI (ou o governo a partir de 2005) estabelece metas de 
superávit primário ele está definido um superávit primário necessário para impedir o 
crescimento explosivo da relação dívida líquida pública/PIB. Em outros termos, o 
crescimento da dívida deve ser sustentável. 
 
Mas por que é fundamental manter uma razão dívida/PIB sustentável? 
 
Quando o governo se encontra endividado, uma das opções para financiar sua dívida é 
tomando emprestado (via venda de títulos). Porém, os investidores em títulos do 
governo se perguntam se o governo terá receitas suficientes em reais para pagar os 
juros. Se essas perspectivas estiverem boas, será relativamente fácil fazer novos 
empréstimos para manter a dívida em dada proporção do PIB à medida que as dívidas 
antigas vencem. Contudo, se houver desconfiança quantoà capacidade de pagamento 
dessa dívida pública, os juros cobrados pelos investidores tendem a subir para que 
concordem com os refinanciamentos, especialmente se houver riscos de o país nem 
pagar os juros. Nesse caso, novos financiamentos são necessários para cobrir os juros. É 
por isso que o país, para melhorar sua imagem com os financiadores, tanto internos 
quanto externos, precisa provar que tem condições de pagar pelo menos parte dos juros 
da dívida pública, ou seja, é preciso que a receita seja superior às despesas não 
financeiras e que, portanto, sobre dinheiro para pagar os juros da dívida pública. 
 
Para isso, pode-se recorrer a função que estabelece o superávit mínimo que mantém a 
sustentabilidade da política fiscal, esse superávit é dado pela seguinte expressão: 
 
spmín = d(r – g) 
 
onde spmín = superávit primário mínimo em relação ao PIB; r = taxa real de juros; g = 
taxa de crescimento do PIB e d = razão dívida pública/PIB. 
 
Os elementos que podem afetar a trajetória da dívida pública são a taxa real de juros (ou 
seja, descontada a taxa de inflação), e a taxa de crescimento do PIB. Se a taxa real de 
juros crescer mais do que o PIB, isso fará com que o serviço da dívida cresça também 
mais rápido do que o PIB. Ou seja, quanto maior a taxa real de juros em relação à taxa 
de crescimento do PIB, maior será o superávit primário requerido para estabilizar a 
razão dívida pública/PIB. 
 
Porém, se a dívida pública vai aumentar ou não, isso dependerá de como se comportará 
o resultado das contas públicas. Se houver um superávit primário mínimo (ou acima do 
mínimo) requerido do qual sobre dinheiro para pagar pelo menos parte dos juros, então 
será possível que a dívida se estabilize (ou até caia). 
 
 
8
 A nível de governos estaduais e municipais, os governadores e prefeitos costumam atrasar salários do 
funcionalismo público para obter um superávit primário. 
9 
 
Por exemplo, a diferença de uma taxa real de juros de 8%, de um crescimento anual do 
PIB de 5%, aplicada sobre uma dívida de 50% do PIB, resulta aproximadamente em 
(8% – 5%)(50%), ou 1,5% de acréscimo na razão dívida-PIB. 
 
Contudo, um superávit primário de 3% do PIB faria essa razão cair 1,5%, pois essa 
economia cobriria os juros com folga. Nesse exemplo, a dívida estaria totalmente sob 
controle e até haveria possibilidade de o país aumentar um pouco seu endividamento. 
Em linguagem financeira, diríamos que a dívida é sustentável. 
 
No entanto, se a taxa real de juros r for inferior à taxa de crescimento real do PIB g, o 
superávit mínimo pode até mesmo ser negativo, isto é, mesmo um déficit primário pode 
ser compatível com a estabilização da relação dívida líquida pública/PIB. 
 
 
Medidas de Financiamento dos déficits Públicos 
 
No Brasil, a tradição é de gerar déficits, ou seja, da arrecadação ser inferior ao nível de 
despesas. Quando isto ocorre o governo tem algumas alternativas básicas: 
 
1) Emissão monetária – para financiar a dívida pública o governo aumenta a 
oferta de moeda na economia, contudo ao fazer isso, acaba gerando um aumento 
de preços e os detentores de moeda acabam arcando com uma redução no seu 
poder aquisitivo, ou seja, o poder real de compra desses agentes diminui. Como 
o governo detém o monopólio da moeda e, portanto, apropria-se desses recursos 
reais. O aumento da oferta de moeda funciona como uma espécie de imposto 
inflacionário, cuja receita denomina-se de senhoriagem. 
 
Problemas: primeiro pode desencadear uma aceleração da inflação não esperada; 
segundo, a inflação também reduz a receita tributária (e, portanto, aumenta o déficit) em 
termos reais em decorrência da defasagem entre o fato gerador do imposto e sua efetiva 
coleta, ou seja, entre o período que é cobrado e o período que é arrecadado (recebimento 
dos recursos pela autoridade fiscal). Este fato ficou conhecido como “efeito Tanzi”. 
Assim, segundo o efeito Tanzi, considerando-se a desvalorização da moeda com qual os 
tributos são pagos, quanto maior for a inflação nesse período menor será a arrecadação 
real do governo. 
 
2) Lançar títulos públicos – quando o governo emite títulos da dívida pública, a 
pressão inflacionária não deve surgir imediatamente, pois o governo arrecada 
dinheiro (vendendo os títulos públicos) que já está em circulação, em posse de 
pessoas que compraram, no nosso caso, dos Bancos públicos e privados. A 
grande questão neste caso é que para alguém comprar um título do governo 
brasileiro, um banco internacional ou nacional, com a certeza de que o governo 
vai pagar um juro adequado e devolver o dinheiro emprestado na data do 
vencimento, é preciso confiabilidade e juros atrativos. No primeiro caso, 
diversos fatores como o histórico do país em relação ao pagamento de 
compromissos (o respeito aos contratos), o clima político e social interno e o 
famoso “risco país”, que é uma espécie de “termômetro” da confiabilidade dos 
investidores
9
. 
 
9
 O risco país é a sobretaxa que se paga em relação a rentabilidade garantida pelo bônus do Tesouro dos 
EUA, país considerado o mais solvente do mundo, ou seja, o de menor risco para um aplicador não 
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3) Aumentar a arrecadação de impostos – aumenta as alíquotas tributárias. 
Contudo, este tipo de política gera um custo social alto, além de desacelerar o 
crescimento da economia devido à queda do consumo (lembrando que o PIB = C 
+ I + G + X – M). 
 
 
As finanças do Estado podem ser tratadas da mesma forma que as finanças dos 
agentes privados? 
 
O Estado é um agente econômico especial, cujas finanças devem ser guiadas por uma 
lógica diferente da dos agentes privados; comparações típicas com o funcionamento de 
uma empresa privada normalmente implicam erros grosseiros de avaliação da política 
macroeconômica; afirmações do tipo: “o Estado deve equilibrar o orçamento, pois se 
gastar mais do que arrecada, quebra” são errôneas, pois: 
 
 O Estado, ao contrário de uma empresa privada, nunca pode ter sua falência 
decretada a pedido de seus credores; 
 O Estado, ao contrário de uma empresa privada, tem capacidade ilimitada para 
pagar seus compromissos financeiros, já que pode para tanto emitir moeda (nível 
federal), independentemente de isto ser bom ou ruim para a economia; 
 A contabilidade das finanças públicas e das finanças privadas é completamente 
diferente; o conceito de déficit/superávit público NÃO É comparável ao de 
lucro/prejuízo privado; 
 No cálculo do déficit público a compra de bens de investimento está incluída 
dentro dos gastos governamentais, já que G = Cg + Ig; então, Og = T
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 – R – 
Cg – Ig; o valor Ig dos investimentos públicos é contabilizado como uma 
despesa, de modo que, quando os investimentos governamentais aumentam, 
tendem a piorar a situação do orçamento, e vice-versa; 
 No cálculo do lucro privado o valor dos investimentos privados NÃO É 
incluído no cálculo da despesa, mas contabilizado como ativo; apenas a 
parcela relativa à sua depreciação é lançada como despesa; 
 Os conceitos são diferentes e, portanto, não são comensuráveis. Se o 
critério empregado para calcular o déficit público (acima exposto) fosse 
aplicado também para calcular o lucro das empresas privadas, muitas 
delas passariam parte significativa de suas vidas econômicas em 
“déficit”, ainda quando, pelos critérios da contabilidade privada, fossem 
consideradas saudavelmente lucrativas. 
 
 
 
 
 
receber o dinheiro investido acrescido dosjuros prometidos. São avaliados o nível do déficit fiscal, as 
turbulências políticas, o crescimento da economia e a relação entre arrecadação e a dívida de um país. Ele 
é expresso em pontos básicos. Sua convenção é simples: 100 pontos equivalem a uma sobretaxa de 1%. 
Quanto maior for o risco, menor será a capacidade do país em atrair investimentos estrangeiros. Em 2008, 
o risco país oscilou em 200 pontos, significando que a taxa mínima aceitável pelos investidores deveria 
ser dois pontos percentuais acima das taxas pagas pelo tesouro norte-americano. Este valor já chegou a 
2400 pontos na véspera da posse do governo Lula em 2002, os bancos internacionais apenas estavam 
precificando o temor de que o novo governo não honrasse seus compromissos com o pagamento da dívida 
pública. O que na prática não ocorreu. 
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 T é a arrecadação real de impostos. 
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Síntese 
 
Neste tópico o aluno teve contato com os diversos instrumentos de política fiscal que 
podem ser colocados em prática pelo governo para estimular ou desestimular o 
crescimento econômico do país. 
 
Em seguida, foi destacado os principais conceitos de déficits e suas formas de 
financiamento da dívida pública. Além disso, desenvolve-se uma meta de superávit 
mínimo para manter a razão DLSP/PIB estável. Por fim, foi mostrada que a situação 
financeira do governo não pode ser comparada a situação financeira de uma família ou a 
contabilidade de empresa privada.

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