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ESPECIAL PREPARE-SE PARA UMA CARREIRA DE IMPACTO SOCIAL Descubra onde e o que estudar para trabalhar com empreendedorismo social, no setor público ou terceiro setor. Compartilhe esse material ÍNDICE Por que as melhores universidades apostam em empreendedorismo social? .........................................2 Microcrédito: como ajudar os mais pobres a prosperar .............5 Cursos curtos vão do básico ao avançado na área social...........7 Cursos em espanhol tratam de desenvolvimento sustentável .............................................................9 Columbia inaugura mestrado focado em desafios de países emergentes ................................................. 11 Saúde e impacto social: como garantir acesso pleno e combater desigualdades ......................................13 Mão na massa: universidades oferecem atividades práticas em áreas sociais ..............................................15 Inspire-se: transformar cidades é mais fácil que parece ........................................................................17 Inspire-se: Para trabalhar com impacto social em escala, o caminho é o governo......................................20 Inspire-se: Para trabalhar com impacto social, você não precisa mudar de carreira ...............................................22 1 No site estudarfora.org.br/especiais você tem acesso a guias exclusivos e gratuitos. → M uito se fala sobre o senso de propósito da Geração Millenials, que não deseja “apenas uma carreia”, e sim buscar enxergar de que forma o que você faz em pelo menos 50% do seu tempo acordado está impactando o mundo. A geração que se pergunta: qual é o legado que estamos deixando? Há um grande perigo nesta definição de legado, porém, porque ela tende a apagar as diferenças que existem entre as pessoas. “Quer causar impacto? Vá fazer tal curso! Vá trabalhar em tal área!”. Sem considerar, porém, que as habilidades e interesses de cada um são únicas e podem ser aproveitadas de maneiras bastante específicas. É o caso da mineira Daniela Soares Barone, uma das mais destacadas empreendedoras sociais do Reino Unido, cuja história encerra este e-book. Daniela trabalhava no mercado financeiro e é muito boa com números e análises de cenários, mas também gostava de fazer trabalho voluntário. Seu maior insight foi perceber que ela não precisava começar do zero para trabalhar com impacto social. “Eu vi que com as habilidades que eu já possuía, poderia contribuir para o setor”, explica. Este e-book visa, justamente, incentivar este insight. Existem diversos cursos, nas melhores universidades, que visam aplicar habilidades e interesses múltiplos a conhecimentos específicos do setor social – seja na área da saúde, no governo, na política ou com empreendedorismo. Ao final, confira três histórias de personagens que fizeram a transição. E motive-se, você também, a pensar: qual vai ser o meu legado? SOBRE A FUNDAÇÃO ESTUDAR A Fundação Estudar, instituição sem fins lucrativos criada em 1991, investe na formação de jovens de alto potencial por meio de oportunidades de estudos e carreira. Para incentivar o aumento do número de brasileiros nas melhores universidades do mundo, a Estudar apoia o jovem com informação, orientação e preparação. Desde a sua criação, seleciona os jovens mais brilhantes do país, que sonham em deixar um legado, oferecendo bolsa de estudos por mérito para cursarem as melhores escolas do Brasil e do mundo. SOBRE O ESTUDAR FORA O Estudar Fora, como o nome já diz, é a fonte de informação e preparação para quem deseja estudar fora do Brasil. No site, você encontra rankings das melhores faculdades e curiosidades sobre elas; detalhes sobre o processo de application (candidatura) para graduação e pós; e informações sobre oportunidades de intercâmbio e bolsas de estudos, além de histórias de estudantes que já estão nas melhores universidades do mundo. Tudo isso porque a gente acredita que estudar fora vai te ajudar a chegar mais longe! Voltar para o índice A s universidades que encabeçam rankings como o QS e o Times Higher Education têm muito em comum. Em algumas delas, o foco em pesquisa faz a diferença. Em outras, a qualificação do corpo docente permite a subida ao pódio. Mas, recentemente, outro ponto também tem se destacado entre as bem avaliadas: a oferta cursos que se voltem para iniciativas de impacto social. Em especial nas escolas de Negócios, Economia e Engenharia, essas instituições se debruçam sobre os desafios de realizar a mudança social e transformar a vida das pessoas. Os cursos oferecidos vão de empreendedorismo social, para quem pretende desenvolver ou aperfeiçoar projetos como start-ups, até gestão de organizações não-governamentais e sem fins lucrativos. São propostas que têm tudo a ver com a forma como muitos jovens desejam conduzir a carreira. “A geração de hoje em dia não quer deixar seus valores de lado na hora de escolher uma carreira. Trabalhar com algo que esteja atrelado aos seus ideais é importante e POR QUE AS MELHORES UNIVERSIDADES APOSTAM EM EMPREENDEDO- RISMO SOCIAL? Entre as instituições de destaque surgem cada vez mais programas voltados para impacto social, em carreiras de negócios, engenharia e administração. 2 Voltar para o índice as pessoas estão dispostas a renunciar aos salários mais altos para conseguir isso”, explica a diretora do Center for Social Innovation de Stanford, Bernadette Clavier. Outro ponto essencial é a tendência, nessas universidades de prestígio, de se preocupar em trazer valores e métodos do empreendedorismo social para as formações tradicionais. É o caso do Skoll Centre for Social Entrepreneurship, na Universidade de Oxford, que ocupa o sexto lugar no ranking QS em nível mundial. “Nós também acreditamos na responsabilidade dentro da área de negócios, e no nosso compromisso em desenvolver líderes responsáveis, que percebam a necessidade de fazer a diferença”, destaca Andrea Warriner, que gerencia o programa de desenvolvimento de talentos do centro, dentro da Saïd Business School, da Universidade de Oxford. Conheça alguns dos programas do tipo oferecidos nas universidades que lideram os rankings. SKOLL CENTRE FOR SOCIAL ENTREPRENEURSHIP, EM OXFORD Este centro da Saïd Business School concentra as iniciativas voltadas para impacto social, que vão desde matérias em inovação na área da saúde até social finance. Como Warriner destaca, o O que a universidade espera é que os estudantes exijam cada vez mais que as organizações onde trabalham repensem seu impacto social e ambiental — seja um banco, uma consultoria. objetivo do centro é fazer com que, no futuro, o empreendedorismo social não precise ser estudado à parte e considerado um outro tipo de oportunidade, e sim que as empresas e outras instituições tenham arraigados valores positivos. “O que a universidade espera é que os estudantes exijam cada vez mais que as organizações onde trabalham repensem seu impacto social e ambiental — seja um banco, uma consultoria, o que for”, explica Andrea, que trabalhou em organizações como a Africa Health Placements, focando nos desafios na área de saúde no continente africano. Entre as oportunidades oferecidas aos que se interessam pela área de empreendedorismo social dentro dos programas de mestrado e MBA está o Global Challenge. É uma iniciativa que permite aos estudantes e recém-formados da universidade escolher um tópico global e examinar o cenário por trás dele, para depois elaborar propostas de resolução. Além disso, todos os estudantes de MBA na Saïd Business School participam do GOTO (Global Opportunities and Threats:Oxford), um programa que apresenta os principais desafios aos negócios nos próximos 25 anos. Entram na lista de temas o envelhecimento da população, escassez de recursos naturais e mudanças na força de trabalho de vários países. CENTER FOR SOCIAL INNOVATION, EM STANFORD A universidade americana ocupa o terceiro lugar no ranking QS e oferece diferentes oportunidades para quem quer focar a carreira em impacto social. A abordagem de Stanford adapta cursos de empreendedorismo mais tradicionais e recebe os estudantes focados na área social, além de dedicar várias matérias eletivas para empreendedores sociais. Como a diretora do centro destaca, não é necessário ter liderado um mega projeto social antes para embarcar numa oportunidade dessas em Stanford — basta um interesse na área e, claro, uma boa application. Uma vez aceitos, no caso dos MBAs 3 Voltar para o índice POR QUE AS MELHORES UNIVERSIDADES APOSTAM EM EMPREENDEDORISMO SOCIAL? com foco na área social, os estudantes passam por matérias básicas da área de empreendedorismo e podem participar de aulas voltadas para contextos sociais e análise de casos de sucesso, mas também têm aulas mais práticas, com foco em desenvolvimento de projetos. Entre as disciplinas está a de “Entrepreneurial Design for Extreme Affordability”, que é voltada para a área de projetos e combina aspectos de engenharias e negócios. A ideia é que os alunos, divididos em grupos de trabalho, tenham contato com o desenvolvimento de protótipos, planos de negócio e tecnologias que sejam voltados para países em desenvolvimento e populações mais pobres. CENTER FOR SOCIAL SECTOR LEADERSHIP, EM BERKELEY Dentro da Haas Business School, em Berkeley, a proposta de pensar o empreendedorismo social já é bastante consolidada. O currículo oferecido contempla desde a micro até a macroeconomia, o reconhecimento de problemas e a elaboração de soluções e inovação aplicada. A partir daí o aluno pode “desenhar” o próprio currículo com uma lista de matérias voltadas para a sua especialização. Pode ser a oportunidade de ouro para estudar os desafios ambientais, ou mesmo entender a relação da área social com políticas públicas. Com essa flexibilidade, é possível aprofundar o conhecimento nas áreas de interesse e aproveitar as atividades fora da sala de aula oferecidas pela universidade. Um dos programas de destaque é a Global Social Venture Competition (GSVC), em que os alunos identificam problemas sociais e desenvolvem soluções específicas, depois de analisar o cenário. Os vencedores levam 50 mil dólares para tirar a proposta do papel e colocá-la em prática. Compartilhe esse material 4 Voltar para o índice POR QUE AS MELHORES UNIVERSIDADES APOSTAM EM EMPREENDEDORISMO SOCIAL? Q uando o bengali Muhammad Yunus começou a oferecer pequenos empréstimos às pessoas mais pobres em Bangladesh, deu origem a um modelo conhecido como microcrédito. No caso de Yunus, tudo começou com o banco Grameen (que significa “povoado”, na língua bengali) e com a aposta de que tal iniciativa poderia tirar muita gente da pobreza. Deu certo. Esse conceito, fundado pelo “banqueiro dos pobres”, envolve conceder às parcelas mais humildes da população o acesso ao crédito. As contrapartidas são menores e exigem que o receptor do dinheiro o aplique para fins que não sejam somente de consumo. Em outras palavras, em vez de gastar toda a quantia pagando as dívidas em um mercadinho, a pessoa deve utilizá-lo para abrir um pequeno negócio, por exemplo. Em geral, as políticas de juros também mudam e permitem que o microempreendedor desfrute de condições melhores. Na prática, isso significa dar a chance para que mais pessoas saiam MICROCRÉDITO: COMO AJUDAR OS MAIS POBRES A PROSPERAR Pequenas quantias e condições acessíveis permitem que as parcelas mais vulneráveis da população empreendam e saiam da pobreza. 5 Voltar para o índice da pobreza e consigam se sustentar, mesmo em países com renda per capita baixa, como Bangladesh. “O crédito também pode ajudar na variação da renda. As pessoas mais pobres não apenas ganham pouco, como também recebem em intervalos irregulares, e acabam ficando sem dinheiro, muitas vezes”, explica o professor de Microfinanças Michael Gordon, da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos. “Mas as oportunidades em microfinança não contemplam só a possibilidade de crédito, como também as ‘micropoupanças’”, completa. Isso porque, com a possibilidade de guardar dinheiro, essas pessoas podem se preparar para emergências, planejar gastos com educação e, assim como acontece no crédito, criar e expandir pequenos negócios. Além de proporcionar a Muhammad Yunus um Prêmio Nobel em 2006, o conceito foi replicado em vários países, mesmo nos mais desenvolvidos. Hoje em dia, há instituições que oferecem cursos na área para os interessados em passar o legado adiante. UNIVERSITY OF MICHIGAN O professor Gordon é responsável pelo primeiro curso oferecido pela universidade na área de microfinanças. Como parte da Ross School of Business, a disciplina eletiva “Introduction to Microfinance” dá as bases para quem se interessa pelo microcrédito tradicional, como o banco criado por Yunus, assim como novas oportunidades na área. É o caso de iniciativas de microcrédito que ambicionam oferecer oportunidades educacionais para jovens, ou mesmo para as que focam em projetos pelo meio ambiente. “Na prática, as Na prática, as microfinanças são o exemplo mais antigo e mais bem sucedido de empreendimento social. microfinanças são o exemplo mais antigo e mais bem sucedido de empreendimento social. Um exemplo disso está em como alcançou todas as regiões do globo, até mesmo os países desenvolvidos”, opina Gordon. OXFORD MICROFINANCE INITIATIVE Essa é a consultoria criada por alunos de Oxford para auxiliar iniciativas que trabalham com microfinanças. Ao longo de nove meses, grupos de 10 alunos da universidade apoiam iniciativas ao redor do mundo que tenham demonstrado interesse em se aperfeiçoar. Por um lado, os estudantes devem manifestar interesse no tema e na área de ação de entidade. Atualmente, os projetos apoiados pela iniciativa incluem o crédito para pequenos agricultores na Armênia, oferecido através do banco ACBA, e a Sonas World Ltd., que dá instrução em negócios e apoio financeiro em comunidades rurais do Camboja. UNIVERSIDAD AUTÓNOMA DE MADRID A universidade espanhola dedica um mestrado inteiro ao tema, dado em inglês. O aprendizado contempla tanto os princípios mais básicos das microfinanças, como também sua relação com o combate à pobreza. A partir daí, os conhecimentos são aprofundados e divididos em cenários diferentes: como o microfinanciamento funciona em países pobres, como acontece nos mais desenvolvidos, além de cases de sucesso. Durante o curso, ou nas férias de verão, os alunos devem trabalhar em uma instituição microfinanceira. Para os brasileiros que não têm condição de bancar os custos, a universidade destaca as bolsas de estudo da Fondación Carolina. Compartilhe esse material 6 Voltar para o índice MICROCRÉDITO: COMO AJUDAR OS MAIS POBRES A PROSPERAR F ocar a carreira na mudança social, e nos impactos positivos que a sua escolha profissional pode fazer, nem sempre exige uma formação longa. Em outras palavras, se a sua paixão é, por exemplo, agir em prol do meio ambiente, nem sempre é necessário - ou mesmo viável - dedicar anos para se formar na área. É possível condensar o aprendizado de habilidades na área em um curso de curta duração, “pegar o jeito”, sem dispor de tanto tempo. E as universidades mais bem avaliadas tambémapostam nisso. Ainda que muitas delas ofereçam cursos mais extensos, como MBAs full-time, essa está longe de ser a única opção. Com horários adaptáveis e períodos mais curtos, os cursos de curta duração permitem não apenas ter contato com os ensinamentos mais básicos, como também aprofundar e acelerar projetos já esboçados. Conheça algumas das iniciativas oferecidas por universidades de prestígio e que duram menos de um semestre. CURSOS CURTOS VÃO DO BÁSICO AO AVANÇADO NA ÁREA SOCIAL Programas que vão de uma semana a dois meses tratam de conceitos iniciais e avançados da área. 7 Voltar para o índice STANFORD IGNITE A universidade americana trabalhou nos últimos quatro anos na expansão do projeto, que busca aprofundar o conhecimento dos participantes em empreendedorismo e dar o empurrãozinho para tirar as ideias do papel. Durante esse período, Stanford trouxe o programa também para países em desenvolvimento, como a Índia, a China e, claro, o Brasil. “É um programa rigoroso com foco em prática, que traz uma abordagem adaptada para ensinar empreendedorismo e gestão para mudar agentes no mundo todo”, resume Bernadette Clavier, diretora do Center for Social Innovation, que oferece o curso. Em média, o curso exige dedicação de 100 horas em sala de aula, além de uma estimativa de mais 150 horas para as tarefas extras e o desenvolvimento de projetos em grupo. A ideia é atrair gente interessada em empreender, independentemente da área de formação inicial - em vez de trazer para a sala de aula quem já é expert em negócios e administração. Ao longo do Ignite, os estudantes têm contato com ex-alunos, mentores e pessoas de destaque em diferentes setores, além de aprenderem sobre marketing, gestão e temas específicos. O objetivo do curso livre, no fim das contas, é que os grupos de alunos desenvolvam ou aperfeiçoem algum produto selecionado previamente. É um programa rigoroso com foco em prática, que traz uma abordagem adaptada para ensinar empreendedorismo e gestão para mudar agentes no mundo todo. STRATEGIC PERSPECTIVES IN NON-PROFIT MANAGEMENT Esse é um dos cursos e iniciativas oferecidos pela Universidade Harvard em sua Business School, a HBS. A área de empreendedorismo social já tem destaque por lá e existe uma concentração específica em Social Enterprise nos MBAs. Nos cursos mais longos, como o MBA, o primeiro ano é dedicado a princípios básicos do empreendedorismo em áreas sociais e, no segundo, o currículo do aluno é adaptado de acordo com os interesses dele. O Strategic Perspectives in Non-Profit Management, por sua vez, é um dos cursos livres oferecidos por Harvard para quem já está envolvido na área e quer se aperfeiçoar. Com custo de 6 mil dólares, o curso permite que os alunos analisem casos de organizações sem fins lucrativos, seus desafios e formas de resolução. Além disso, durante uma semana de curso, os estudantes têm contato com líderes de destaque em áreas de cunho social. Além desse programa, Harvard oferece outras oportunidades em empreendedorismo social e temas correlatos (elencados, no site da HBS, no Program Finder). O Governing for Nonprofit Excellence, que acontece em outubro deste ano, aborda temas ligados à liderança em entidades non-profit, além de planejamento e formas de garantir a sustentabilidade da organização. Compartilhe esse material 8 Voltar para o índice CURSOS CURTOS VÃO DO BÁSICO AO AVANÇADO NA ÁREA SOCIAL P ode deixar de lado a ideia de que a língua dos negócios - incluindo aí os negócios sociais - é o inglês. Apesar de muitas instituições consagradas oferecerem formação neste idioma, não faltam iniciativas disponíveis em espanhol. Além de ser o idioma principal dos nossos vizinhos latinos, o idioma ganha destaque entre os brasileiros que optam por aprender uma língua estrangeira. Para ter uma ideia, no mundo todo, cerca de 100 milhões de pessoas têm o espanhol como segunda língua, e 21 países têm o idioma como língua oficial. No caso dos cursos em áreas ligadas aos setores sociais, há ofertas tanto em mestrados e pós- graduações de temas específicos, quanto centros de formação interdisciplinares. É uma oportunidade de não só explorar outro idioma, como também se deparar com novas abordagens sobre o tema e contextos específicos de mudança social. Saiba mais sobre os programas oferecidos em espanhol em países da América Latina e na Espanha. CURSOS EM ESPANHOL TRATAM DE DESENVOLVI- MENTO SUSTENTÁVEL Na Europa ou América Latina, universidades oferecem programas sobre desenvolvimento e impacto social no idioma. Não é necessário ter uma formação específica em economia ou políticas públicas. 9 Voltar para o índice CENTRO INTERDISCIPLINARIO DE ESTUDIOS SOBRE DESARROLLO, NA UNIVERSIDAD DE LOS ANDES A universidade é a melhor avaliada pelo QS Ranking na Colômbia, e fica na capital, Bogotá, uma cidade que já chegou a ser apelidada de tech hub na América Latina. Como o próprio nome sugere, o Centro Interdisciplinario de Estudios sobre Desarrollo se debruça há 40 anos sobre questões complexas ligadas ao desenvolvimento – desde sustentabilidade até aspectos sociais do desenvolvimento econômico, como as questões de gênero. Com foco em pesquisa, uma vez que os estudantes precisam elaborar artigos sobre os temas de investigação, o centro se propõe a repensar o desenvolvimento com base em acertos e erros em países de diferentes perfis. Para a diretora dos programas acadêmicos do Cider, Ana Yudy Morán, o momento atual mostra a urgência de repensar o desenvolvimento. “Em um mundo em crise e com constantes mudanças de paradigma, é necessário um espaço na academia para propor soluções e intervenções para os problemas sociais locais e regionais, que afetam uma parcela grande da população”, destaca Yudy. É possível se candidatar a cursos como a Maestría en Estudios Interdisciplinarios sobre Desarrollo, que dura dois anos, para elaborar alternativas voltadas tanto para o terceiro setor quanto para os governos. Como o foco do centro é interdisciplinar, alunos de todos os backgrounds são bem-vindos. É necessário um espaço na academia para propor soluções e intervenções para os problemas sociais locais e regionais. DESARROLLO SOCIAL, NA UNIVERSIDAD DE LA HABANA A ilha socialista começou a se abrir mais muito recentemente, depois de anos de embargo. Áreas como a medicina já são bastante conhecidas por aqui, e outros cursos na região ganham cada vez mais destaque. Um deles é o de Desenvolvimento Social, que abarca desde aspectos ligados à urbanização até comunidades rurais. Dentro do curso, o aluno tem contato com partes mais gerais, como as teorias de desenvolvimento, além de aprender sobre o contexto do país e da revolução cubana. Também entram em discussão questões de gênero e a elaboração de políticas públicas para um desenvolvimento sustentável. Para os interessados nos programas de desenvolvimento social em Cuba, a candidatura acontece do dia 3 de outubro até dia 5 de dezembro. É necessário apresentar o diploma universitário, cartas de recomendação, bem como carta de motivação. UNIVERSIDAD COMPLUTENSE DE MADRID Localizada na capital espanhola, a instituição fica em quarto lugar no QS ranking na Espanha. Por lá, é possível optar por ênfases em gestão ou em áreas como Trabalho Social, para aqueles que querem traçar uma carreira pautada nos impactos sociais positivos. Há cursos como o mestrado em “Trabajo Social Comunitario, Gestión y Evaluación de Servicios Sociales” que combinam ciências sociais e questões jurídicas, em que o aluno tem contato com exemplos de programas e intervençõesque deram certo. Para quem quer se focar em aspectos ambientais, o mestrado em Responsabilidad Social y Sostenibilidad contempla áreas de gestão, entendimento do meio ambiente, prevenção de contaminações e direitos humanos. Compartilhe esse material 10 Voltar para o índice CURSOS EM ESPANHOL TRATAM DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Q uando a cientista social Clarissa Malinverni decidiu encarar um mestrado, já trabalhava na mesma organização há anos e não queria se distanciar do mercado. Graças à possibilidade de se manter trabalhando, oferecida pelo recém-lançado Global Executive Master of Public Administration da Columbia, ela não precisou escolher entre um e outro. “Hoje, os mestrados mais tradicionais exigem demais de você e afastam as pessoas da academia”, opina Clarissa, que entregou neste semestre sua dissertação sobre o programa Juntos pelo Desenvolvimento Sustentável, que ela coordena no Brasil. Esse, aliás, foi o ponto que a ajudou a chegar a Columbia. O programa Juntos, que oferece apoio à gestão pública, lançou bolsas para apoiar o mestrado de lideranças nas cidades onde atua – entre elas, São Paulo, Campinas, Santos e Parati. Elaborado por uma coalizão de líderes empresariais e capitaneado pela Comunitas, o programa apoiou quatro brasileiros aprovados em Columbia – entre eles, a paulistana. A oferta de bolsas é uma das frentes do grupo, com previsão de ampliação no ano que vem, e visa ao fortalecimento das lideranças públicas. “Não vamos COLUMBIA INAUGURA MESTRADO FOCADO EM DESAFIOS DE PAÍSES EMERGENTES Mestrado em Administração Pública oferece aulas à distância, módulos em Nova York e destaque para a prática. Brasileiros podem se candidatar a bolsas de organização parceira. 11 Voltar para o índice conseguir mudar a gestão pública sem quadros qualificados, sem líderes que tenham uma missão e que possuam os meios de executá-la”, explica Clarissa. Aprovada por Columbia no processo de admissão padrão, e já com a bolsa garantida, Clarissa pôde cursar esse tipo diferente de mestrado, novidade dentro da instituição, e focado nos desafios dos países emergentes, como Brasil, Índia e China. Em vez de durar dois anos e exigir dedicação full- time, o Executive Master permite aulas à distância em boa parte do tempo. Semanalmente, os alunos devem assistir a dez vídeos por matéria e, uma vez ao mês, ter aulas no Global Center da universidade, na Candelária, no Rio de Janeiro. Os alunos também passam por dois módulos presenciais em Nova York, com duração de cinco semanas cada. Nesses momentos de contato mais direto com Columbia, os mestrandos têm acesso a atividades práticas. Para ver exemplos de gestões inovadoras, por exemplo, a turma de Clarissa foi recebida na Prefeitura de Nova York, onde conheceram os diferentes modelos diferentes de administração. As adaptações oferecidas por Columbia não pararam aí. Para facilitar a validação do diploma em território brasileiro, a instituição mudou o modelo de avaliação dos estudantes que vinham do país. Era possível entregar uma dissertação aos moldes da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), em vez do tradicional project portfolio da Columbia. “No modelo americano, o aluno tem que se basear em um desafio de alguma instituição pública real e pensar soluções, fazer um planejamento para resolver o problema”, explica Clarissa. No caso dela, o tema do texto final tratou do Juntos e da proposta de uma governança colaborativa, envolvendo o setor público, privado e a sociedade civil. Propostas como a da cientista social são bem- vindas na Columbia. O campo de pesquisa voltado para democracia e formas inovadoras de governar está dando os primeiros passos por lá, e propostas que fogem do tradicional ganham destaque. “Em Columbia, mesmo as aulas sobre parcerias público- privadas focavam nas mais tradicionais, que são feitas para resolver problemas muito pontuais de prestação de serviço, de gestão de equipamentos públicos. Quando eu apresentei a minha proposta, isso foi amplamente aceito”, conta Clarissa, que terminou o curso neste semestre, ao lado de mais dois bolsistas brasileiros. Compartilhe esse material Não vamos conseguir mudar a gestão pública sem quadros qualificados, sem líderes que tenham uma missão e que possuam os meios de executá-la. 12 Voltar para o índice COLUMBIA INAUGURA MESTRADO FOCADO EM DESAFIOS DE PAÍSES EMERGENTES N ão é necessário se esforçar muito para pensar na parte humanizada da medicina. Tanto a “arte da cura” quanto carreiras próximas, como a da enfermagem e as políticas voltadas para saúde, estão intimamente ligadas a melhorar a qualidade de vida das pessoas. Extrapolar esse conceito para o campo das mudanças sociais, então, parece um caminho praticamente lógico. E, de certa forma, é. Não é à toa que tantas universidades já apostam em trazer os interessados em saúde para uma formação em mudança social. São tanto cursos de saúde pública, que traduzem alguns dos desafios de proporcionar esse direito às populações, quanto de saúde global, mirando as desigualdades no oferecimento de saúde em diferentes lugares. Intervenções, programas de conscientização e combate a doenças e elaboração de políticas públicas entram no currículo de cursos oferecidos por gigantes educacionais, como a Universidade da Califórnia Berkeley e a Duke University. SAÚDE E IMPACTO SOCIAL: COMO GARANTIR ACESSO PLENO E COMBATER DESIGUALDADES Programas tratam dos desafios do século e combinam áreas como Medicina e Políticas Públicas. Universidades promovem trabalho de campo em países em desenvolvimento. 13 Voltar para o índice “Estudar saúde a nível global permite que nós nos enxerguemos como os outros nos veem, e que enxerguemos os outros como eles precisam ser vistos. A Saúde Global inclui desde intervenções de larga escala, como a Tabacco Convention, até ações menores, como assegurar que uma pessoa no Malauí tenha acesso a remédios para alívio da dor quando tem uma doença terminal”, explica Liz Grant, diretora da Global Health Academy, da Universidade de Edimburgo, na Escócia. A experiência de Liz, que também comanda o estabelecimento de parcerias com outras universidades, tem tudo a ver com impacto social. Por anos, ela trabalhou com saúde da família e educação sexual no Quênia, e acabou por concluir o doutorado na Serra Leoa. Não faltam desafios para garantir o acesso a tratamentos e cuidados no mundo inteiro. Saiba mais sobre os programas que tratam do assunto. UNIVERSIDADE DE EDIMBURGO Na universidade escocesa, o destaque fica para o mestrado em Global Health and Public Policy. A proposta é unir ciências sociais, medicina, políticas públicas e relações internacionais, para que o estudante tenha uma formação completa e multidisciplinar. Ao fim do curso, o aluno deve estar preparado para encarar desafios no setor público, em ONGs ou mesmo em missões humanitárias. Aqui, nós temos acesso a equipamento de ponta, com treinamento e assessoria para usar os espaços. Isso facilita muito a produção de projetos práticos. “Falar de saúde não significa tratar só da saúde das pessoas ou dos animais, mas também do meio ambiente. Sem tratar desses múltiplos aspectos, nós não conseguiremos melhorar a saúde dos seres humanos”, resume Liz Grant. Somando as vivências fora de sala de aula com o curso formal, os estudantes focam na eliminação das desigualdades. O curso pode ser feito em duas versões: a fulltime, que dura um ano, e a part-time, que se estende por um período de dois a três anos, em que o estudante pode optar por teruma parcela das aulas online. Para arcar com os custos, é possível recorrer a bolsas como a Chevening, oferecida pelo governo britânico e acessível a brasileiros. DUKE UNIVERSITY O Master of Science em Global Health oferecido pela universidade americana une várias formas de aprendizado. As aulas teóricas ditam o tom dos primeiros meses de estudo, com assuntos de áreas como Ética, Estatística e Sistemas de Saúde dos países em desenvolvimento. Depois, os alunos devem passar, no mínimo, 10 semanas em campo, trabalhando na área de saúde, com a orientação de um mentor. Nesse processo, muitos deles escrevem para o blog da Duke e compartilham suas reflexões sobre a experiência. Por fim, desenvolvem uma dissertação sobre tema ligado ao curso. São três frentes para tratar de temas ligados à desigualdade e aos principais desafios do século. Entre os ex-alunos do curso, 18% segue para organizações nãogovernamentais. Compartilhe esse material 14 Voltar para o índice SAÚDE E IMPACTO SOCIAL: COMO GARANTIR ACESSO PLENO E COMBATER DESIGUALDADES A lgumas instituições de ensino, em especial em países como os Estados Unidos, são mais pautadas em atividades práticas que outras. Mesmo que uma parcela das entidades aposte mais nesse aspecto, uma tendência prevalece em todas: oportunidades para colocar a mão na massa fazem bem no processo educativo. O contato com situações que chegam ao campo da realidade, em vez de estarem voltadas à teoria, pode vir nas abordagens caso-a-caso em um MBA, ou mesmo nos estágios oferecidos em organizações mais experientes em setores sociais. No caso de instituições de ensino como a Universidade da Califórnia, Berkeley, programas como o mestrado em Development Practice motivam os alunos não só a se dedicar às bases teóricas do desenvolvimento sustentável, como também a encarar atividades em campo. Isso inclui trabalhar durante o verão em organizações comunitárias no interior do México, ou mesmo desenvolver novas formas de empregabilidade para mulheres em um estado da Índia. MÃO NA MASSA: UNIVERSIDADES OFERECEM ATIVIDADES PRÁTICAS EM ÁREAS SOCIAIS Universidades americanas concedem estágios e estimulam atividades em campo. Duke University permite que os estudantes se tornem board members por um ano em ONGs do país. 15 Voltar para o índice É a chance de adquirir mais experiências no currículo, mas também de expor a desafios que não apareceriam espontaneamente em uma sala de aula. No caso de áreas de inovação ligadas a setores sociais, esses desafios representam a c hance de melhorar - ou mesmo resolver - um contexto problemático. Para a Duke University, ter a vivência de uma questão social vale pontos extras no processo educativo. Para a assistente de programas do Center for the Advancement of Social Entrepreneurship, Patricia Massard, o conjunto de atividades práticas e extra-classe que a instituição oferece é o tipo de projeto “win-win”. “Por um lado, os alunos ganham mais experiência na prática e, por outro, as entidades recebem novas contribuições de gente que está começando no setor”, explica Patricia. O CASE, que foca especificamente no empreendedorismo social, é uma das entidades que passou a oferecer os “loan forgiveness awards” (o perdão da dívida dos alunos), para quem se dedicasse a trabalhar em ONGs e determinadas agências governamentais. Além disso, faz parte das iniciativas oferecidas pelo CASE dar aconselhamento profissional aos alunos que trilham essa carreira, e indicar uma série de atividades para os que desejam “testar” o setor antes de apostar nele. O objetivo é fazer com que a paixão pela mudança social se converta em passos certeiros na trajetória acadêmica e profissional. “Os estudantes devem estar preparados para qualquer setor - eles podem “Os líderes que formamos têm de saber mirar os problemas globais e pensar em soluções com base nos princípios de negócios. criar empreendimentos sociais próprios, podem optar por áreas de consultoria, ou mesmo trabalhar em organizações sem fins lucrativos. Os líderes que formamos têm de saber mirar os problemas globais e pensar em soluções com base nos princípios de negócios”, explica Massard. Na lista de iniciativas, está a Fuqua on Board, que encaminha os estudantes de MBA focados em empreendedorismo social para entidades em Durham, cidade onde fica a Duke University. Com o programa, eles se tornam “board members” nas reuniões dessas organizações e acompanham as atividades durante um ano. Nesse período, também participam de treinamentos na área e são orientados individualmente por outros membros da organização. Outros programas voltados para os estudantes em negócios como um todo, a exemplo do Fuqua Client Consulting Practicum (FCCP), também apresentam sua versão social. É possível, no caso do FCCP, trabalhar como consultor em organizações sem fins lucrativos (nos Estados Unidos ou fora do país) e ajudar a resolver os desafios que surgem. As vantagens para a carreira, obtidas na prática, não são o único ponto positivo. Por outro lado, o contato direto permite humanizar o conceito desenvolvido em um projeto social, em uma ONG ou em uma start-up. Afinal, uma coisa é pensar o passo-a-passo de uma iniciativa de dentro de um escritório, outra é ver com os próprios olhos os efeitos positivos dessa ação. Compartilhe esse material 16 Voltar para o índice MÃO NA MASSA: UNIVERSIDADES OFERECEM ATIVIDADES PRÁTICAS EM ÁREAS SOCIAIS O engenheiro José Rodolfo Pfaffmann Fiori se inspirou na sua cidade natal, São Joaquim da Barra, para elaborar seu próprio negócio. Localizado no interior paulista, o lugar enfrentava problemas comuns em pequenos municípios brasileiros -- que viraram o foco da consultoria fundada por Pfaffmann. Prestes a concluir o mestrado em Desenvolvimento Econômico Local na London School of Economics, no Reino Unido, ele fala ao Estudar Fora sobre o potencial das pequenas e médias cidades no Brasil e sobre sua experiência na Muove. #1 QUANDO SURGIU A IDEIA DE CRIAR A MUOVE? Ela nasceu de uma vontade de ajudar a minha cidade natal. Eu estava na carreira privada e queria ajudar a minha cidade. Comecei a ter uma interação com a prefeitura e percebi que a capacitação dos gestores era muito baixa. E aí, fui tentar achar alguma organização que poderia apoiá-los e só encontrei empresas com custo altíssimo. As empresas tradicionais de consultoria, de renome, são muito caras para um município com esse perfil, que tenha INSPIRE-SE: TRANSFORMAR CIDADES É MAIS FÁCIL QUE PARECE Prestes a concluir seu mestrado na London School of Economics, engenheiro paulista criou consultoria que apoia municípios no seu desenvolvimento. 17 Voltar para o índice seus 50 mil habitantes. E, naquele momento, eu percebi que havia espaço para um modelo de negócio que apoiasse esses municípios com um custo mais baixo e que fosse especializado em desenvolvimento. Isso aconteceu lá atrás, em 2013, e eu comecei a esboçar a ideia. Já em 2015, pedi demissão da empresa em que eu estava, e abri a Muove oficialmente. De início, fizemos um projeto em cinco cidades e nesse meio tempo eu decidi parar um pouco. Como eu não tenho um background de economia e desenvolvimento, resolvi ir para o mestrado acadêmico na London School of Economics, justamente para adquirir esses conceitos. Então, estou aqui aperfeiçoando os conceitos que quero levar para a empresa. #2 COMO FORAM ESSES PRIMEIROS PASSOS NAS CINCO CIDADES BRASILEIRAS? Eu fui para Itirapina, São Carlos, Brotas, Limeira e Corumbataí, cidades no interior de São Paulo, para poder testar na práticao modelo de negócios que eu tinha no papel. O que eu queria descobrir era o tipo de problema que municípios tinham. Isso porque a tese de negócios da Muove é ser de baixo custo. Para fazer isso, tem que haver escala. Se o município tem problemas complexos, que dependem de muita coisa, de um consultor que vá lá e veja exatamente quais são os problemas, não dá para escalar esse produto. Cada caso será um caso. A ideia foi ir até esses municípios para entender os tipos de problema. Se eu tivesse problemas simples e que fossem comuns a todas as cidades, eu poderia criar produtos escaláveis e que serviriam para todas as cidades. Nessas cinco cidades, pude perceber que, sim, nós temos problemas complexos, que dependem de um consultor que vá até lá e fique por lá entendendo os mínimos detalhes, e que envolva muita gente no processo. Mas a maior parte dos problemas dos municípios hoje é simples, e pode ser resolvida com ações simples. Dada a baixa capacitação de servidores e a falta de vontade política, esses problemas não são resolvidos. #3 QUAIS SERIAM EXEMPLOS DESSES PROBLEMAS SIMPLES? Há problemas como o do município que diz não ter recursos para educação, por exemplo. Só que, na conta dele, há um valor que ele não conhece, porque ele não sabe exatamente como checá-lo e nem como falar com o setor responsável para checar. Esse é um problema: existe um desconhecimento de onde estão os recursos e de quais são os recursos de cada município. Para resolver isso, nós desenvolvemos um software que permitia ao município acessar via celular quais eram todos os recursos disponíveis para ele. Assim, ele conseguiria entender qual é a verba que ele tem e qual ele não tem. O outro problema que encontramos é o de municípios com dificuldade em fazer diagnóstico, a primeira parte de resolver qualquer problema. Não se pensava que, para melhorar a educação, era necessário olhar esse ou aquele indicador, e como cada um se conectava. Municípios também têm dificuldade em saber se a arrecadação de IPTU deles está certa ou errada. Então, a gente ajuda esse cara a entender se o IPTU dele está baixo ou alto e dá ferramentas para ele mudar isso. Para aumentar o IPTU, a lei tem que ser essa ou aquela, para fazer o mapeamento das casas, você pode usar essa ou aquela ferramenta. E aí ele consegue de maneira mais fácil fazer a mudança. #4 COMO FUNCIONA, NA PRÁTICA, A MUOVE? Somos uma equipe de três pessoas dedicadas à Muove e um grupo de 10 parceiros técnicos, que apoiam a gente com validações das ações que a gente faz. Eu não sou um especialista em educação, eu não sou um especialista em saúde, e nós não pretendemos ser. Então, eu poderia adquirir esse conhecimento de duas formas. Ou eu contratava as pessoas para trabalhar dentro da empresa, ou eu fazia parcerias com consultores técnicos para que, em caso de dúvida, ou eu conecte o município com ele, ou eu me conecte diretamente com ele. Esses 10 consultores vêm de acordo com alguma demanda que o município tenha e que nós não consigamos resolver. 18 Voltar para o índice INSPIRE-SE: TRANSFORMAR CIDADES É MAIS FÁCIL QUE PARECE Se eu preciso fazer um plano de carreira para os professores, eu não sou especialista, mas vou conectar com um consultor que sabe muito disso. E ele vai me falar quantas horas vai ter para trabalhar nesse projeto, e a partir daí eu conecto os dois, consultor e município, para que eles possam resolver o problema com a minha intermediação. Isso fica muito mais barato, porque eu consigo fazer uma cobrança por hora. Muitas cidades não têm capacidade de identificar esses problemas. O corpo técnico deles não consegue analisar isso. Se você pensar que 95% dos municípios brasileiros têm menos de 50 mil habitantes e que nessas prefeituras há um quadro com uma capacidade técnica determinada, vai ver que para alguns problemas essa capacidade não é suficiente. Nem para entender o problema nem para resolvê-lo. Com certeza, é mais fácil e barato se eles procurarem essa capacidade fora da prefeitura, porque trazê-la para dentro, dada a burocracia de contratação e tudo mais, é super complexo. E não há tantos salários atrativos no setor público, principalmente em prefeituras de cidades pequenas. Se você for numa cidade pequena, vai ver que muitas das pessoas qualificadas saem dali em direção às maiores. E acaba que o setor público, que é a maior instituição, e que permanece ali, sofre essa falta de mão de obra qualificada. #5 NA ÁREA DE GESTÃO PÚBLICA, HÁ UMA TENDÊNCIA A BUSCAR SOLUÇÕES INOVADORAS? Você vê gente estudando educação, vê gente que estuda a área da saúde. Só que os problemas das cidades estão interconectados, e não isolados. Hoje, não há muita gente estudando as cidades, não há uma tendência quanto a isso. Quem estudar o assunto, sem sombra de dúvidas, vai se dar bem. O que acontece é que os municípios estão quebrando, e que muitas vezes ficam sem recursos, ou simplesmente não sabem como gastá-los. Se há alguém que está atento, que está olhando para isso, buscando soluções para esse ambiente, vai ter muito espaço. As cidades vão precisar disso. Se pensarmos em termos práticos, as pessoas não “moram” no governo federal, nem no estadual. Elas moram nas cidades, onde está o governo municipal. Quem sente a pressão mais direta, no dia a dia, é o prefeito e a administração pública municipal. Se as coisas não estão bem, pode ter certeza de quem tem alguém na cidade se estressando bastante. Essa pessoa que está se estressando está procurando ajuda, mas há pouca gente disponível para colaborar. Compartilhe esse material 19 Voltar para o índice INSPIRE-SE: TRANSFORMAR CIDADES É MAIS FÁCIL QUE PARECE Q uando se começa a falar de governo, as primeiras impressões que vêm à mente estão ligadas à burocracia, à papelada sem fim e aos casos de corrupção que aparecem na TV. Só que, na vida real, trabalhar no governo não se resume a tais clichês. “A gente sabe que existe muita corrupção, mas também existe muita coisa que funciona, muita gente séria, muita gente dedicada”, resume Joice Toyota, bolsista da Fundação Estudar em 2013 e co-criadora do Vetor Brasil. Antes de criar a organização, a engenheira de formação Joice decidiu estudar de perto as políticas em educação e a economia por trás delas. Ela embarcou para Stanford, onde combinou a formação no Mestrado em Educação e um MBA, enquanto o outro fundador da Vetor, José Frederico Lyra, ia para Harvard estudar políticas públicas. Juntos, eles elaboraram o projeto do que se tornaria o Vetor - inicialmente, com foco em consultoria e, depois, atuando na formação de jovens. A proposta da instituição é oferecer a jovens brasileiros a oportunidade de enveredar em carreiras dentro do governo, em secretarias distribuídas INSPIRE-SE: PARA TRABALHAR COM IMPACTO SOCIAL EM ESCALA, O CAMINHO É O GOVERNO A especialista Joice Toyota, co- fundadora da organização Vetor Brasil, que encaminha talentos para o setor público, mostra as vantagens de apostar na área.. 20 Voltar para o índice pelas cinco regiões brasileiras. Atualmente, são 50 trainees que se dedicam ao longo de um período de um a dois anos nos órgãos governamentais. Os interessados podem, por exemplo, se debruçar sobre projetos na Secretaria de Educação de Salvador, na Bahia, ou se dedicar às iniciativas da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, na capital paulista. Atualmente, um dos planos do Vetor é ampliar a rede de instituições que recebem os trainees. Por trás da criação de Joice, está a ideia de que não há apenas uma pessoa que possa consertar os problemas complexos que aparecem no setor público. É para isso que a equipe do Vetor selecionaquem queira colaborar com gestões inovadoras e que saiba que, nessa carreira, não há soluções “bala de prata”. “A longo prazo, o objetivo é que possamos criar juntos uma rede de profissionais altamente qualificados que tiveram experiência do lado de dentro do governo, pra saber quais são os desafios reais e fazer mudanças estruturantes no país”, explica Joice. No processo seletivo, não importa qual a sua formação acadêmica, nem onde sua graduação foi feita -- o que vale mesmo, segundo os fundadores, é ser alguém “com muita resiliência e motivação, e que esteja disposto a encarar novos desafios”. Para preparar os candidatos que são escolhidos, há uma série de aulas que contemplam conteúdos de Direito tributário, conceitos dentro da administração pública e, para completar, aspectos ligados à dinâmica entre pessoas. Mais do que saber o beabá técnico, quem opta pelo poder público deve saber como agir dentro de uma equipe e como lidar com problemas complexos. MITOS SOBRE O SETOR PÚBLICO Se as carreiras no setor público possibilitam tanto impacto social, por que muitos talentos não se aventuram no ramo? A resposta vem, em parte, dos mitos difundidos sobre o tema. A ideia de que todo político é corrupto, por exemplo, cria uma imagem negativa que afasta os jovens. “Quando eu saí da consultoria e fui para o governo, as pessoas falavam ‘ah, mas dá pra trabalhar no governo e não ser corrupto?’”, conta Joice. O outro obstáculo comum é imaginar que só com mais burocracia seria possível solucionar problemas. Por um lado, é necessário ter uma estrutura eficiente em identificar desvios em órgãos públicos e ficar de olho em quem comete tais infrações. Por outro, o caminho deve estar livre para quem está disposto a inovar. “Nós precisamos ter mais flexibilidade e controle inteligente, pra que as pessoas que queiram fazer a mudança tenham espaço e não esbarrem em tanta burocracia”, explica a engenheira. O SETOR PÚBLICO É O LUGAR “Hoje, o governo é um lugar que apresenta muitas dificuldades, mas tem uma tendência muito positiva de abertura à inovação”. Essa é a constatação da engenheira, que se inspirou em ONGs como a Teach For America, cuja proposta é alocar recém- formados americanos para dar aulas no sistema público de educação. Oportunidades assim, que se voltam para o setor público, proporcionam uma escala bem maior nos impactos de cada ação. “Não há barreira entre setor público e setor social, é só uma separação por escala. E, se você quer trabalhar em escala, o caminho é o governo”, aponta Joice. Isso porque, além de ter certas prerrogativas enquanto governo para desenvolver ou adaptar ações, há mais recursos disponíveis. Para a criadora do Vetor, o país passa por um momento que deve se reverter em mais disposição à mudança. Para Joice, “as coisas só andam quando a sociedade quer” -- e as movimentações políticas dentro do Brasil, independentemente da orientação partidária, mostram que essa vontade existe. Outros fatores positivos entram no cálculo. “Nós, em termos de transparência de dados, somos um país entre os mais avançados que existem. Isso gera pressão e ainda mais engajamento da sociedade”, conclui. Para quem quer trilhar o caminho da gestão pública, talvez este seja o momento. Compartilhe esse material 21 Voltar para o índice INSPIRE-SE: PARA TRABALHAR COM IMPACTO SOCIAL EM ESCALA, O CAMINHO É O GOVERNO A mineira Daniela Barone Soares revolucionou o terceiro setor no Reino Unido. Por quase dez anos, Daniela liderou a Impetus Trust, organização que ensina a ONGs do Reino Unido princípios de administração, gerenciamento e formas de ser sustentável a longo prazo. Bolsista da Fundação Estudar durante o MBA em Harvard, hoje ela trabalha na área social e se divide entre projetos com o governo britânico, consultorias com organizações sem fins lucrativos e cargos como o de membro do Business Advisory Council da Saïd Business School, em Oxford. Para ela, que já foi considerada uma das personalidades “que fazem o Reino Unido mais feliz”, do jornal The Independent, o seu ponto de virada não foi fazer um curso específico, voltado para impacto social. Ao contrário, o ‘insight’ foi ver que as habilidades que ela adquiriu no MBA ‘tradicional’ de Harvard e na sua carreira deprivate equity seriam muito relevantes para o terceiro setor. Saiba mais sobre a trajetória dela e veja as dicas que ela oferece a quem deseja seguir carreira no terceiro setor e fazer a mudança acontecer. INSPIRE-SE: PARA TRABALHAR COM IMPACTO SOCIAL, VOCÊ NÃO PRECISA MUDAR DE CARREIRA Para uma das brasileiras mais destacadas do Reino Unido, o terceiro setor precisa de muitas habilidades presentes no setor privado. “Todo mundo que quer se envolver, pode” 22 Voltar para o índice #1 COMO FOI MUDAR DO MERCADO FINANCEIRO PARA O TERCEIRO SETOR? Desde os 12 anos, fiz voluntariado no Brasil, com crianças carentes, órfãos e pessoas com deficiências físicas, e continuei fazendo isso a vida toda. Eu sempre quis fazer algo voltado ao social, mas não sabia como. Mas eu sabia o que eu não queria ser: não queria, por exemplo, ser assistente social, já que não era esse o trabalho em que eu me sairia melhor. Eu percebi isso em um dos voluntariados, quando eu ajudei a CEO de uma pequena ONG em Nova York a fazer um plano de negócios e pensar na estratégia da organização. E, para mim, isso foi algo fácil de fazer, até instintivo, já que eu trabalhava na época com private equity e venture capital. Eu lia planos de negócio todos os dias, tinha contato direto com isso. Naturalmente, eu também tinha uma abordagem estratégica, e isso era uma coisa que faltava numa organização como aquela. Eu vi que com as habilidades que eu já possuía, poderia contribuir para o setor. Foi daí que eu tomei a decisão de mudar. Demorei um pouco para fazer essa transição, mas vi que tinha outras possibilidades com o que eu tinha aprendido na área de negócios. Quando a oportunidade apareceu, eu fiz essa mudança, depois de quase dez anos na parte comercial. #2 COMO A SUA FORMAÇÃO AJUDOU NA HORA DE MIGRAR PARA O SETOR? Tudo sempre ajuda, a gente não perde nada. E, no meu caso, ajudou bastante porque o setor tem muitas pessoas apaixonadas e com muito compromisso, mas que na hora de administrar a entidade, não conseguem fazer uma boa gestão. Você tem que ter um processo, uma estratégia, uma estrutura pra isso, e é algo que a minha formação deu de sobra. Principalmente quando eu fui para a Impetus, já que nós dávamos essa estrutura para as ONGs em geral. A gente trazia eficiência e eficácia para essas organizações na Inglaterra, focadas em jovens de renda baixa e que não tinham preparação para o mercado de trabalho. #3 QUAIS OUTRAS CARREIRAS MAIS PERMITEM CAUSAR IMPACTOS SOCIAIS POSITIVOS? Existem milhões de formas de ajudar socialmente. Você não precisa mudar de trabalho. O terceiro setor precisa de inúmeras habilidades que o setor privado tem. Precisa de recursos, de aconselhamento, de uma série de coisas. Todo mundo que quer se envolver nisso pode fazer, não precisa mudar de carreira. Dá pra se envolver independentemente do seu trabalho, da sua experiência. [Na Impetus], a gente selecionava as instituições, com uma série rigorosa de critérios e, uma vez firmado o compromisso, fazia nelas um investimento social. Nós não recebíamos nenhum retorno financeiro, mas havia um retorno social do que estávamos fazendo. Nós combinávamos isso previamente, e ajudávamos a organização a desenvolver uma estratégia e um plano de negócios para alcançar as metas. Essa combinação ajudava organização a se profissionalizar e a crescer, e em paralelo a isso nós tínhamos um trabalho na criação e no gerenciamentode impacto. Tudo para entender se o que se fazia ali estava realmente resolvendo um problema social, se realmente estava ajudando a população-alvo no longo prazo. Nós coletávamos dados e fazíamos análises deles. #4 E DE QUAIS HABILIDADES O TERCEIRO SETOR AINDA PRECISA? Cada organização tem a sua necessidade. Mas, em geral, tudo o que você precisa em uma companhia é o que vai precisar no terceiro setor, para administrar uma ONG. Na verdade, você precisa ainda mais. Comparado com private equity, por exemplo, o setor de ONGs é mais complexo. Isso não quer dizer que private equity seja fácil, mas que ele é simples de entender. A maior parte das decisões tem base no objetivo de lucro, isso é muito claro, é o objetivo primário. No setor social, você tem objetivos que competem entre si, e isso às vezes atrapalha nas decisões que você precisa tomar. 23 Voltar para o índice INSPIRE-SE: PARA TRABALHAR COM IMPACTO SO- CIAL, VOCÊ NÃO PRECISA MUDAR DE CARREIRA Compartilhe esse material Por exemplo, quando eu estava na Save the Children, nós desenvolvíamos um trabalho importante na África, enquanto a unidade na Inglaterra também fazia um projeto com refugiados por aqui. As pessoas que doavam dinheiro para a iniciativa na África souberam que nós fazíamos um trabalho com refugiados na Inglaterra, e não gostaram disso. Eles falaram “ou vocês param esse projeto, ou a gente vai parar de doar e financiar o trabalho de vocês na África”. E aí, o que você faz? Se eu acho importante tanto o que desenvolvemos na África quanto na Inglaterra, como eu posso tomar uma decisão? Isso acontece no terceiro setor diariamente. Diariamente, você tem menos recursos do que o necessário pra fazer tudo o que precisa. Todo dia, você tem que priorizar e re-priorizar, rever e ver onde você pode dizer “não”, sem sair do seu foco estratégico. #5 QUAIS AS PRINCIPAIS DIFICULDADES QUE UM PROFISSIONAL ENFRENTA NO TERCEIRO SETOR? Primeiro, o retorno financeiro é muito menor do que o que a pessoa alcançaria no setor comercial. Essa realidade de ter menos recursos pra tudo também é muito presente e diária. Você quer fazer uma coisa, mas vai ter que fazer de outra forma, vai ter que ser mais criativo, vai ter de encontrar alternativas não tão óbvias. Também é preciso ter uma paciência maior, já que se lida com muita gente que fala linguagens diferentes da sua. Quem não tem base comercial, fala uma língua diferente da sua, e você ainda tem de lidar com o governo, com fundações, com centros de pesquisa. É uma variedade de agentes com quem temos de lidar. Esse tipo de decisão, em especial pensando nos interesses que podem competir, fica um pouco mais complicada. #6 QUAIS OS CONSELHOS PARA QUEM TEM INTERESSE EM TRABALHAR NO TERCEIRO SETOR? Antes de tudo, é essencial se informar. O terceiro setor é tão vasto quanto o comercial, e você precisa identificar qual área tem a ver com os seus interesses, com a sua formação, com o que você quer. Também é preciso saber que tipo de trabalho interessa mesmo. Uma coisa é fazer parte de campanhas populares, outra é trabalhar com políticas públicas, outra é ir a campo. Para mim, por mais que eu adorasse fazer trabalho voluntário com crianças carentes, essa experiência me afetava muito. Não dava para fazer isso todos os dias, no meu caso, mas tem gente que se dá bem e quer se dedicar a isso. Então, é necessário conhecer seu perfil. Também é bom “fazer a lição de casa”: falar com as pessoas do setor, se informar sobre ele, visitar organizações. Teste o campo em que você quer atuar, se engaje em trabalhos voluntários, testes as hipóteses na prática. Isso ajuda muito. 24 Voltar para o índice INSPIRE-SE: PARA TRABALHAR COM IMPACTO SO- CIAL, VOCÊ NÃO PRECISA MUDAR DE CARREIRA Textos Priscila Bellini Edição Nathalia Bustamante Design Danilo de Paulo Renata Monteiro Fundação Estudar, 2016
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