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O passado, o presente e o futuro da era espacial – e as histórias não contadas do maior passo que a humanidade já deu. PROJETO N-1 As tentativas secretas da URSS de pousar na Lua, um ano antes dos EUA. PÁG 16 PROGRAMA APOLLO Hóstia, explosões e golfe: os detalhes técnicos, os imprevistos e os bastidores de todas as 17 missões. PÁG. 20 ARTEMIS CONTRA SPACEX Como a Nasa pretende voltar à Lua em 2024 – mas o setor privado pode chegar mais rápido. PÁG. 58 Capa-50anosHomemLua.indd 1 12/06/19 17:43 Grupo Unico PDF Passe@diante CartaSumario.indd 2 12/06/19 16:59 Grupo Unico PDF Passe@diante CartaSumario.indd 3 12/06/19 16:59 Grupo Unico PDF Passe@diante O pequeno passo e o grande salto C COM SEUS 3.474 KM de diâme�o, a Lua representa um território de qua�o Bra- sis e meio, localizado a pouco menos de 400 mil quilôme�os de distância, num eterno balé ao redor da Terra. Seu visual estéril e sem vida é ao mesmo tempo um desafio e uma promessa – “magní- fica desolação", nas palavras de Buzz Aldrin, segundo homem a caminhar por esse con�nente removido da Terra, ainda hoje largamente inexplorado. Há exatos 50 anos, por razões ge- opolí�cas peculiares, duas nações se lançaram a uma disputa em que quase nenhuma despesa era excessiva, quase nenhum risco era exagerado, para pro- var que era possível levar humanos à Lua e �azê-los de volta à Terra. Com a alunissagem realizada pela Apollo 11, em 20 de julho de 1969, terminava a corrida espacial. Mas, ao mesmo tempo, começava a primeira era de exploração lunar �ipulada, concluída em 1972 e até hoje sem sucessora, embora planos para uma retomada não faltem, e eles estejam cada vez mais maduros. A revista que está em suas mãos conta a espetacular história de como todos os as�os se alinharam, meio sé- culo a�ás, para propiciar as primeiras andanças de 12 homens pela superfície lunar. Os primeiros passos, os projetos, as aven�ras e desven�ras, os riscos e as recompensas, numa jornada que, mais que ajudar a dar à luz o mundo ul- �aconectado que nos cerca hoje, elevou a humanidade para além dos aparentes limites de seu próprio confinamento planetário. Uma vez derrubada essa barreira, as fronteiras do fu�ro são delimitadas apenas pela imaginação. Se na mitologia foi Prometeu quem deu o fogo aos humanos, na realidade foi Apolo quem os ensinou a usá-lo. E D I T O R Salvador Nogueira c o r r i d a 8 Sputnik, Laika e Gagarin 10 Mercury e Vostok 12 Gemini e Voskhod 14 A invasão dos robôs 16 Lua vermelha 1 CartaSumario.indd 4 12/06/19 16:59 Grupo Unico PDF Passe@diante h e r a n ç a a r t em i sa p o l l o 20 O caminho para a Lua 22 Apollo 1 23 Apollo 7 24 Apollo 8 26 Apollo 9 28 Apollo 10 30 Apollo 11 36 Apollo 12 38 Apollo 13 40 Apollo 14 42 Apollo 15 44 Apollo 16 46 Apollo 17 50 Das viagens à Lua, nasce o mundo moderno 52 Os gigantes se encontram no espaço 54 A era dos ônibus espaciais 58 O novo caminho para a Lua 60 A nova corrida espacial 64 O futuro da Lua 3 42 CartaSumario.indd 5 12/06/19 16:59 Grupo Unico PDF Passe@diante CAP1.indd 6 12/06/19 17:07 Grupo Unico PDF Passe@diante 1 c o r r i d a NUMA DISPUTA desenfreada para ver quem tinha maior poderio tecnológico (sem falar em foguetes capazes de transportar ogivas nucleares mais devastadoras), Estados Unidos e União Soviética disputaram palmo a palmo, voo a voo, os cerca de 384 mil quilômetros que separam nosso planeta de seu único satélite natural: a Lua. T E X T O S S A LVA D O R N O G U E I R A CAP1.indd 7 12/06/19 17:07 Grupo Unico PDF Passe@diante 1 2 Sputnik, Laika e Gagarin Em apenas quatro anos, a União Soviética lançara o primeiro satélite, primeiro animal e primeiro humano ao espaço. Perdendo feio, os americanos se viram obrigados a mirar mais alto: a Lua. 1. Yuri Gagarin, o primeiro humano no espaço. 2. A cadela Laika, que voou no satélite Sputnik 2. Fo to s: G et ty Im ag es CORRIDA CAP1.indd 8 12/06/19 17:07 Grupo Unico PDF Passe@diante Diante de tamanha comoção, o grupo de engenhei- ros e cien�stas liderado por Sergei Korolev, o pai do programa espacial russo, não perdeu o �ming. Menos de um mês depois, em 3 de novembro daquele ano, voaria o Sputnik 2, �ansportando a bordo a cachorri- nha Laika – era a sinalização de que a União Sovié�ca pretendia levar humanos ao espaço. E, de lá, poderia sobrevoar os Estados Unidos quanto quisesse. Sem falar que foguetes capazes de colocar espaçonaves em órbita também poderiam �ansportar com facilidade bombas nucleares até o ou�o lado do mundo, sem grande demora ou impedimento. O governo americano precisava responder. Por ordem do presidente Dwight Eisenhower, o programa de satélites foi acelerado, e a primeira tenta�va de responder ao Sputnik veio em 6 de dezembro de 1957. Diante das câmeras, o foguete Vanguard subiu por apenas dois segundos antes de despencar e explodir sobre a plataforma. Papelão. E o que você faz quando seu foguete falha? Chama o Meirelles? Não, chama o Von Braun. Werhner von Braun, criador dos foguetes V-2 que bombardearam Londres para a Alemanha nazista durante a Segun- da Guerra, havia sido �azido aos Estados Unidos e “desnazificado” pela Operação Clipe de Papel, junto com muitos ou�os cien�stas importantes, e estava �abalhando na Agência de Mísseis Balís�cos do Exér- cito em Huntsville, Alabama. Ele preparou às pressas uma nova tenta�va de lançamento, com seu novo foguete Jupiter-C, e em 31 de janeiro de 1958, par�ndo de Cabo Canaveral, o satélite americano Explorer 1 a�ngia sua órbita. Sob o governo Einsenhower, em 29 de julho de 1958, era fundada a Adminis�ação Nacional de Aeronáu�ca e Espaço – hoje todo mundo só chama de Nasa. Sua principal missão: responder à União Sovié�ca e preparar as�onautas americanos para seus primeiros voos espaciais. O preço polí�co de sair a�ás na corrida espacial foi alto. Em 1960, os republicanos perderam a eleição para um jovem senador democrata de Massachusetts, John F. Kennedy, sob o argumento de que havia um a�aso inaceitável na tecnologia americana de mísseis. A União Sovié�ca, con�do, manteria a dianteira. Em 12 de abril de 1961, antes que qualquer america- no a�ngisse o espaço, o piloto russo Yuri Gagarin, nascido numa fazenda comunal nos arredores de Moscou, completaria uma órbita ao redor da Terra a bordo da nave Vostok 1, tornando-se o primeiro humano a deixar seu planeta de origem – ainda que por pouco mais de uma hora e meia. Kennedy então chamou ao pé do ouvido o admi- nis�ador da Nasa, James Webb, e perguntou: qual meta seria tão difícil que teríamos chance de chegar- mos primeiro que os russos? A resposta você pode imaginar qual foi. Estava aberta a corrida para a Lua. QUATRO DE OUTUBRO de 1957 foi o dia em que a humanidade acordou para o espaço. Pela primeira vez, a Terra �nha um as�o companheiro em órbita de si que não era produto direto da na�reza – um satélite ar�ficial. O lançamento do Sputnik, conduzido pela an�ga União Sovié�ca, deu início à chamada corrida espacial. Ninguém sabia direito o que estava por vir, é verdade. Tanto que, na edição do dia seguinte do Pravda, o jornal oficial soviético, nem foi a manchete principal: só saiu no pé da primeira página. Nem mesmo o premiê sovié�co, Ni- kita Kruschev, se tocou da importância do negócio. Mais tarde, ele relembraria o episódio assim: “Quando o satélite foi lançado, eles me telefonaram dizendo que o foguete �nha tomado o curso correto e que o satélite já estava girando em torno da Terra.Eu parabenizei o grupo de engenheiros e técnicos nesse feito impressionante e calmamente fui para a cama.” Nos EUA, con�do, a reação foi muito diferente. O jornal The New York Times da mesma data estampou o lançamento com uma manchete de �ês linhas em le�as garrafais: Sovié�cos disparam satélite terres�e para o espaço; está circulando o globo a 18 mil milhas por hora; esfera é ras�eada em qua�o pas- sagens sobre os EUA. A reação foi de choque, no que ficou conhecido como “efeito Sputnik”. Pela primeira vez, desde o início da Guer- ra Fria, os americanos se sen�am em inferioridade tecnológica (e militar) comparados aos sovié�cos. Q APESAR DA DIANTEIRA SOVIÉTICA, O SATÉLITE AMERICANO EXPLORER 1 FOI O PRIMEIRO A DETECTAR OS CINTURÕES DE RADIAÇÃO QUE EXISTEM AO REDOR DA TERRA. 9DOSS I Ê SUPER CAP1.indd 9 12/06/19 17:07 Grupo Unico PDF Passe@diante Mercury e Vostok Entre 1961 e 1963, as primeiras naves tripuladas de americanos e soviéticos demonstraram que seria possível ao ser humano sobreviver e trabalhar no espaço. VOSTOK 1961 - 1963 Yuri Gagarin (1961) Gherman Titov (1961) Andriyan Nikolayev (1962) Pavel Popovich (1962) Valery Bykovsky (1963) Valentina Tereshkova (1963) MERCURY-REDSTONE 1961 Alan Shepard Jr. (1961) Virgil "Gus" Grissom (1961) MERCURY-ATLAS 1962 - 1963 John Glenn (1962) Scott Carpenter (1962) Walter Schirra (1962) Gordon Cooper (1963) o s f o g u e t e s Após dois voos suborbitais com o Redstone, a Nasa adotou o Atlas, capaz de voo orbital, como o soviético R-7. Im ag en s: d iv ul g aç ão CORRIDA CAP1.indd 10 12/06/19 17:08 Grupo Unico PDF Passe@diante Nessa, Gagarin chegou primeiro ao espaço, em 12 de abril. Shepard só deixaria a atmosfera em 5 de maio. Quase um empate? Nada disso. O voo de Gagarin havia sido orbital – ele deu uma volta na Terra e desceu, em 1 hora e 48 minutos. Já o de Shepard foi subir e cair – uma escalada a 187 km de al��de e uma descida em queda livre. Tudo isso em 15 minutos. Apenas 13 dias após essa “missão", em 25 de maio, o presidente John F. Kennedy discursaria diante do Congresso, ecoando os úl�mos eventos. “Se vamos vencer a batalha que agora se �ava ao redor do mundo en�e liberdade e �rania, as realizações dramá�cas no espaço que ocorreram em semanas recentes deveriam deixar claro para nós, como o Sputnik fez em 1957, o impacto dessa aven�ra nas mentes dos homens em toda parte", afirmou. “Eu acredito que esta nação deveria se comprometer a a�ngir a meta, antes que esta década termine, de pousar um homem na Lua e �azê-lo de volta em segurança para a Terra." Em re�ospecto, a inicia�va chega a ser assustadora. Àquela al�ra, os programas Vostok (Oriente, em rus- so) e Mercury (Mercúrio, o deus mensageiro romano) estavam só começando a determinar a viabilidade de humanos sobreviverem ao ambiente espacial, que dirá �abalharem nele a ponto de concluírem com sucesso uma jornada à Lua. E mesmo nesse quesito os sovié�cos estavam bem mais adiantados. Impulsionada por um foguete mais potente, a Vostok era mais parruda e podia realizar voos mais longos. Para que se tenha uma ideia, a Vostok 2, com o cosmonauta Gherman Titov, decolou em 6 de agosto de 1961, e ele passou 1 dia, 1 hora e 18 minutos em voo. A Mercury, por conta da menor capacidade do foguete Redstone, começou limitada a voos subor- bitais, e realizou um segundo deles em 24 de julho, com Virgil Grissom a bordo. Mas a primeira missão orbital teria de esperar o lançador Atlas, e o primeiro americano a igualar Gagarin e orbitar a Terra só voaria em 20 de fevereiro de 1962 – John Glenn completaria �ês voltas ao redor da Terra, em 4 horas e 55 minutos. Ao final, cada projeto realizaria seis voos, en�e 1961 e 1963. En�e os sovié�cos, o mais duradouro foi o da Vostok 5, iniciado em 14 de junho de 1963, com o cosmonauta Valery Bykovsky a bordo: 4 dias, 23 horas e 7 minutos. En�e os americanos, o mais duradouro foi o úl�mo voo da cápsula Mercury, em 15 de maio de 1963, em que o as�onauta Gordon Cooper passou 1 dia e 10 horas em órbita. De quebra, os sovié�cos usaram a Vostok 6 para lançar Valen�na Tereshkova, a primeira mulher a ir ao espaço, dois dias após a decolagem de Bykovsky, em 16 de junho. Concluída a primeira fase dos voos espaciais �i- pulados, americanos e sovié�cos precisariam desen- volver e testar as habilidades e tecnologias para dar o próximo passo: ir à Lua. SE VIVÊSSEMOS no planeta dos macacos, a grande festa do voo espacial �ipulado não seria em 12 de abril, aniversário do lançamento de Yuri Gagarin, e sim em 31 de janeiro. Nessa data, em 1961, foi ao espaço Ham – o primeiro chimpanzé as�onauta. E ele era americano. Se �do �vesse corrido bem, essa teria sido a úl�ma missão de teste do projeto Mercury, des�nado a levar os primeiros americanos ao espaço. Só que não foi bem isso que aconteceu, e o nosso amigo Ham foi quem se deu mal. O foguete Redstone, projetado por Wernher von Braun, ofereceu potência maior que a esperada e o voo acabou sendo mais longo e ríspido. A cápsula caiu no mar longe do navio de resgate. Foi des�no melhor que o de Laika, a cadela sovié�ca que havia voado ao espaço pouco mais de �ês anos antes num satélite sem capacidade de retorno seguro à Terra, e que morreu menos de sete horas depois do lançamento, por uma combinação de es�esse e hiper- termia causada por falha na cápsula. Apesar de ter sobrevivido, o chim- panzé Ham ficou bem �auma�zado: durante o voo, ele experimentou a sensação de ter 14,7 vezes o próprio peso, conforme a aceleração brutal li- teralmente o esmagava em seu assento. Em plena corrida espacial, alguns nos Estados Unidos consideraram esse voo um sucesso e queriam que o próximo, a ser conduzido o mais rápido possível, levasse o as�onauta Alan Shepard Jr. Von Braun, con�do, advogava cautela e pediu mais um teste antes de embar- car um humano numa cápsula Mercury. S QUANDO JOHN F. KENNEDY PROPÔS A IDA À LUA, AINDA MAL SE SABIA SE HUMANOS PODERIAM DE FATO TRABALHAR DE FORMA EFETIVA NO ESPAÇO. 1 1DOSS I Ê SUPER CAP1.indd 11 12/06/19 17:08 Grupo Unico PDF Passe@diante 1 2 MESMO ANTES de definir a arquite�ra de suas missões lunares, a Nasa sabia que precisaria demons�ar previamen- te certas capacidades para ter alguma chance de sucesso. Por exemplo: o de- senvolvimento de técnicas eficientes de encon�o e acoplagem em órbita, o Os soviéticos saíram na frente, com a primeira caminhada espacial; os americanos devolveram com a primeira acoplagem – ambas habilidades essenciais para a ida à Lua. M Fo to s: G et ty Im ag es Gemini e Voskhod CORRIDA CAP1.indd 12 12/06/19 17:08 Grupo Unico PDF Passe@diante teve de parar os �abalhos e criar algo mais simples: a Voskhod (Nascente), nave capaz de – forçando a barra – levar �ês pessoas. Seu primeiro voo foi em 12 de ou�bro de 1964, com Vladimir Komarov, Boris Yegorov e Konstan�n Feok�skov. A missão durou um dia e colocou a União Sovié�ca de novo na dianteira. Não bastasse isso, menos de seis meses depois, a missão Voskhod 2 realizaria a primeira caminhada espacial da história. Foi em 18 de março de 1965. O cosmonauta Alexei Leonov passou 12 minutos fora da nave, protegido só por seu �aje espacial, enquanto seu colega Pavel Belyayev o esperava do lado de den- �o. Os sovié�cos venderam o feito como mais um sucesso, mas a história real foi puro drama e perigo. No espaço, o �aje de Leonov inflou demais e ele mal conseguia se mover. Sofreu para voltar à nave. Depois, o sistema automá�co de pouso falhou, e os cosmonautas só conseguiram acioná-lo na órbita se- guinte,descendo numa floresta gélida e remota. Os dois passaram a noite espantando lobos, até serem resgatados. Segundo e úl�mo voo da Voskhod. Cinco dias depois, em 23 de março de 1965, a Nasa lançaria o primeiro voo �ipulado do Projeto Gemini. A bordo da Gemini 3, os as�onautas Virgil “Gus” Grissom e John Young deram �ês voltas ao redor da Terra. Dali para a frente, os americanos finalmente começariam a tomar a dianteira na corrida para a Lua. Na Gemini 4, em 3 de junho de 1965, Edward White II faria a primeira caminhada espacial americana. E, numa sequência de voos em rápida sucessão, a Nasa foi matando vários desafios para a fu�ra viagem lunar. As naves Gemini 6 e 7 fizeram um encon�o no espaço, e a Gemini 8 realizou a primeira acoplagem espacial da história, ao se conectar a um propulsor Agena. A missão, conduzida em 16 de março de 1966, �nha como comandante um tal de Neil Arms�ong, e sua perícia como piloto foi essencial. Logo após a acoplagem, um propulsor lateral �avou a�vado e começou a rotacionar a cápsula, que chegou a girar a uma revolução por segundo. Arms�ong teve de usar o sistema de retorno para recuperar o con�ole antes que ele e seu colega David Scott desmaiassem, e aí não houve ou�a escolha senão abortar a missão. Voos subsequentes fizeram acoplagens �anquilas e, na Gemini 11, Charles “Pete” Conrad Jr. e Richard Gordon Jr. usaram o Agena para elevar a nave a uma al��de de 1.374 km, cruzando um dos cin�rões de radiação gerados pelo campo magné�co terres�e e mos�ando que os as�onautas não teriam proble- mas em cruzá-los, a caminho da Lua. Isso era uma incógnita e uma preocupação na época (temia-se pela saúde dos �ipulantes). O programa foi encerrado com a Gemini 12, num voo iniciado em 11 de novembro de 1966. Nele, a Nasa descobriu o seu mais hábil “caminhante espacial”: Edwin “Buzz” Aldrin. teste de equipamentos des�nados às caminhadas espaciais e a realização de manobras orbitais sofis�cadas. Para atender a essas demandas, ainda em 1961, a agência americana decidiu criar um projeto intermediário, Gemini (Gêmeos), usando os foguetes Titan II e uma cápsula para dois �ipulantes. A União Sovié�ca estava surfando na onda espacial, e não havia qualquer in- tenção de deixar os americanos saltarem adiante. Por isso, o líder sovié�co Nikita Kruschev requisitou que o proje�sta- chefe Sergei Korolev criasse uma nave com capacidade para mais de um cos- monauta e a lançasse antes da Gemini. Para Korolev, era um passo a�ás. Ele já estava �abalhando num modelo mais sofis�cado, a famosa Soyuz, cápsula que até hoje �ansporta gente ao espaço. Só que ela não ficaria pronta a tempo de bater a Gemini, de forma que Korolev 1. Alexei Leonov em caminhada espacial, numa pintura de sua autoria. 2. Ed White, que realizou a primeira caminhada americana. VOANDO A CADA DOIS OU TRÊS MESES, AS MISSÕES GEMINI AJUDARAM OS EUA A TOMAR A DIANTEIRA NA CORRIDA ESPACIAL. 13DOSS I Ê SUPER CAP1.indd 13 12/06/19 17:08 Grupo Unico PDF Passe@diante A invasão dos robôs UMA BOA MEDIDA da temeridade que foi anunciar, em 1961, um projeto de levar gente à superfície da Lua é que pra�camente �do que cercava a viabi- lidade da empreitada era desconhecido na época. Poderiam as�onautas lidar com a ausência de peso por vários dias durante a jornada? Seria possível tolerar o ambiente de radiação interplanetária sem ficar doente? O desconhecido era tão grande que não se sabia sequer se era mesmo possível pousar na Lua e Antes que astronautas pudessem andar na Lua, missões não tripuladas tiveram de abrir caminho, mapeando o solo e garantindo que nada que pousasse lá afundaria em seguida. U onde o terreno seria mais favorável para uma tenta�va. Até então, a melhor forma de fazer reconhecimento do solo lunar era por telescópios, que só permi�am enxergar “detalhes” com pelo menos 300 me�os de comprimento. Para pousar uma na- ve de poucos me�os, essa resolução era essencialmente inú�l. Além disso, não se sabia sequer a consistência do solo lunar. Havia quem pensasse que qualquer coisa que pousasse na Lua poderia simplesmente afundar, como se es�vesse sobre areia movediça. Seria preciso, portanto, determinar que condições seriam encon�adas por lá antes de colocar humanos a caminho da superfície. E quem começou na fren- te foi, para variar, a União Sovié�ca. A primeira sonda não �ipulada de sucesso a ser enviada para lá foi a Luna 2, que colidiu com o satélite na�ral em 14 de setembro de 1959. (Pois é, naquela épo- ca colidir já era considerado sucesso.) Em seguida, veio a Luna 3, a primeira a fotografar o lado afastado da Lua, em 7 de ou�bro de 1959.Fot o: d iv u lg aç ão CORRIDA CAP1.indd 14 12/06/19 17:08 Grupo Unico PDF Passe@diante A imagem não era grande coisa, mas impressio- nava por ser a primeira vez que a humanidade �nha a chance de ver a metade da Lua que está sempre de costas para a Terra. Como nosso satélite na�ral tem rotação e �anslação sincronizados, vemos sempre a mesma face dele daqui. A Luna 3 revelou que a face oculta era bem diferente, mais marcada por crateras e quase totalmente desprovida de “mares”, as regiões mais planas e escuras que podemos ver até mesmo a olho nu no lado próximo. En�e os americanos, o primeiro programa lunar não �ipulado foi o Ranger, conduzido pelo JPL (La- boratório de Propulsão a Jato) da Nasa. O obje�vo era basicamente viajar na direção da Lua e ir �rando fotos, até �ombar com ela. Com a determinação de Kennedy de levar humanos ao solo lunar, seu princi- pal obje�vo se tornou fazer imagens mais próximas de potenciais locais de pouso. Con�do, a primeira missão a enviar fotos desse �po foi a Ranger 7, que bateu na Lua em 31 de julho de 1964. Esse contraste fazia parecer que os soviéticos estavam muito à frente. Mas o �uque aí é que, do lado de lá da Cor�na de Ferro, só eram anunciadas publicamente missões que �vessem algum sucesso. Antes da Luna 1 (que voou com sucesso, mas errou a Lua), os sovié�cos haviam feito �ês tenta�vas que ter- minaram em falha no lançamento. Depois do sucesso da Luna 3, houve 13 fracassos (mas só cinco números) até a Luna 9, que em 3 de fevereiro de 1966 se tornou a primeira nave da história a pousar suavemente na Lua. Em seguida, em 31 de março de 1966, a Luna 10 se tornaria o primeiro satélite ar�ficial lunar. Os americanos, a essa al�ra, já estavam nos cal- canhares dos russos. A Surveyor 1 alunissou com sucesso em 2 de junho de 1966, na primeira de uma série de sete missões (das quais cinco foram bem- sucedidas). Chamou especial atenção a Surveyor 6, que em 10 de novembro de 1967 realizou a primeira decolagem na Lua – um salto de poucos me�os –, ou�o processo fundamental se as missões �ipuladas não quisessem acabar em �agédia. Por ou�o lado, a Nasa �nha também o programa Lunar Orbiter, com cinco espaçonaves que, en�e 1966 e 1967, mapearam 99% da superfície lunar com re- solução de 1 me�o, permi�ndo assim a escolha de locais de pouso ideais para as missões Apollo. Os sovié�cos prosseguiram com suas missões não �ipuladas Luna até 1976, realizando coletas de amos�as de solo (reenviadas de volta à Terra) e pe- rambulando pela superfície com dois jipes robó�cos, Lunokhod 1 e 2. Mas, fora isso, passaram as déca- das seguintes fingindo que jamais haviam tentado enviar seus cosmonautas à Lua e que, portanto, os americanos �avaram uma corrida con�a ninguém. Nada, con�do, poderia estar mais longe da verdade. A Terra vista da Lua pela sonda Lunar Orbiter 1, em versão original e reprocessada digitalmente. OS SOVIÉTICOS TIVERAM GRANDE SUCESSO COM SUAS MISSÕES NÃO TRIPULADAS, CHEGANDO A PILOTAR DOIS JIPINHOS NA LUA. 15DOSS I Ê SUPERCAP1.indd 15 12/06/19 17:08 Grupo Unico PDF Passe@diante Lua vermelha Foi por muito pouco. Negado durante décadas, o programa lunar soviético quase conseguiu a primazia no envio das primeiras missões tripuladas ao nosso satélite natural. S SE TUDO TIVESSE corrido conforme os planos sovi- é�cos, o primeiro homem a pisar na Lua teria sido o cosmonauta Alexei Leonov, no ano de 1968. Três anos antes, o proje�sta-chefe do programa espacial da União Sovié�ca, Sergei Korolev, havia recebido autorização oficial do governo para executar o projeto, que envolvia a cons�ução de um superfoguete e de espaçonaves capazes de levar um único �ipulante ao solo lunar. Enquanto os americanos tocavam seu programa lunar diante dos olhos do mundo todo – com todas as tenta�vas frus�adas e dificuldades na�rais –, os sovié�cos man�veram o seu em total sigilo. Por décadas, chegaram até a negar que �vesse exis�do qualquer esforço para levar uma nave �ipulada à Lua. Mas os documentos da época, liberados após o fim da Guerra Fria, mos�am que não só a disputa exis�u como quase terminou em vitória para os vermelhos. O programa ficou conhecido apenas pela sigla N-1/L-3. O N-1 era um foguete de alta capacidade igual, só que não O programa soviético usaria estratégia similar à dos americanos, mas com capacidade menor. N-1 1969-1972 Lançador de alta capacidade com três estágios e 105 metros, o N-1 seria capaz de impulsionar até 23,5 toneladas até a Lua. Realizou quatro voos entre 1969 e 1972, todos marcados por falhas no primeiro estágio. Im ag en s: d iv ul g aç ão CORRIDA CAP1.indd 16 12/06/19 17:08 Grupo Unico PDF Passe@diante Os planos previam os primeiros voos-teste para 1966, e as missões reais de órbita e pouso aconteceriam en�e 1967 e 1968. Hoje, até os especialistas russos concordam que o plano sovié�co era cheio de falhas e muito arriscado. Mas até 1965 ninguém – den�o ou fora da União So- vié�ca – pensava assim. A ideia por �ás do programa era apenas chegar lá primeiro, não chegar lá melhor, então qualquer esforço – e risco – estava valendo. Afinal, os sovié�cos permaneciam invictos na cor- rida espacial, não tendo perdido um único marco importante para os americanos. As coisas só foram se complicar mesmo no fim de 1965, quando Korolev teve diagnos�cado um cân- cer de cólon. Foi internado, �atado e operado. Em janeiro de 1966, morreu sem ver um único teste de suas criações lunares. O programa do foguete N-1 con�nuava em de- senvolvimento, mas os avanços eram lentos. Já o L-1 estava bem adiantado e diversos protó�pos chegaram a ser lançados. O mais in�igante deles, em setembro de 1968, promoveu a primeira visita às cercanias da Lua por habitantes da Terra – só que eram tartaru- gas, moscas, bactérias, sementes e plantas. Detalhe: elas voltaram à Terra em segurança, pavimentando o caminho para um fu�ro voo circunlunar �ipulado. Provavelmente teria acontecido se os americanos não �vessem se antecipado e lançado a Apollo 8 na direção da Lua, em dezembro daquele ano (leia mais na pág. 24). Depois disso, só um pouso lunar �ipu- lado poderia servir aos sovié�cos, e eles decidiram concen�ar os esforços no N-1. A corrida en�ava em seu momento decisivo. No início de 1969, o gigante N-1 finalmente estava pronto para um voo-teste. Às 9h18 da manhã do dia 21 de fevereiro, o foguete se desprendeu da base e subiu, deixando a�ás de si uma elipse de fumaça branca. O sonho durou 68,7 segundos, até que vibrações anô- malas e um incêndio fizeram o comando abortar a missão e explodir o N-1, a 30 quilôme�os de al��de. Uma segunda tentativa ainda seria conduzida em 3 de julho daquele ano, mas os resultados não foram muito diferentes. Depois de 50 segundos de voo, o enorme N-1 ficou fora de con�ole e teve de ser des�uído no ar. Apenas 13 dias depois, par�a do Cen�o Espacial Kennedy, na Flórida, a missão americana Apollo 11. Em 20 de julho, Neil Arms�ong e Edwin “Buzz” Aldrin fincariam a bandeira americana na superfície lunar, marcando a defini�va virada dos Estados Uni- dos na corrida espacial (leia mais sobre ela na pág. 30). O N-1 ainda teve dois voos de teste, em 1971 e 1972, ambos fracassados, antes de o programa ser suspenso pelos sovié�cos em 1974 e cancelado sumariamente, de forma melancólica, dois anos depois. capaz de impulsionar veículos �ipu- lados à órbita lunar, era uma espécie de Sa�rn V russo. Já sob a designação L, havia �ês veículos-base, L-1, L-2 e L-3. O L-1 era uma nave �ipulada que apenas contornaria a Lua, enquanto as séries L-2 e L-3 seriam usadas para co- locar cosmonautas na Lua. Tanto o L-1 quanto o L-2 eram versões adaptadas do projeto básico da Soyuz, espaçonave desenvolvida por Korolev para opera- ções orbitais que até hoje segue em uso. As cápsulas do �po L-1 eram versões ligeiramente encolhidas da Soyuz, que podiam ser lançadas para a Lua com foguetes já disponíveis na União Sovi- é�ca desde 1964, como o Proton. Mas as naves L-2 e L-3 precisariam esperar pelo desenvolvimento do gigante N-1. A L-2 era uma espécie de Soyuz vitaminada, capaz de �ansportar dois cosmonautas até a órbita lunar, fazendo as vezes da cápsula Apollo americana. E o L-3 era um módulo de pouso com ca- pacidade para apenas um cosmonauta, que teria de descer sozinho até a Lua. L-3 1970-1971 Módulo lunar soviético com capacidade para um único cosmonauta, ele chegou a ser testado numa órbita terrestre baixa em quatro lançamentos não tripulados. LIMITADO, O MÓDULO LUNAR SOVIÉTICO L-3 TINHA UM TERÇO DA MASSA DE SEU EQUIVALENTE AMERICANO. 1 7DOSS I Ê SUPER CAP1.indd 17 12/06/19 17:08 Grupo Unico PDF Passe@diante CAP2.indd 18 12/06/19 18:57 Grupo Unico PDF Passe@diante 2 a p o l l o ENTENDA COMO A NASA desenhou as missões que levaram os primeiros humanos à Lua e como os americanos correram vários riscos para executar os ousados passos exigidos para deixar pegadas no solo lunar. Ao todo foram 11 voos tripulados, 6 pousos, 1 missão fracassada e 1 tragédia fatal – isso sem falar nos “quases”. T E X T O S S A LVA D O R N O G U E I R A CAP2.indd 19 12/06/19 18:57 Grupo Unico PDF Passe@diante O caminho para a Lua UMA VEZ DEFINIDO o obje�vo de levar humanos à Lua, em 1961, a decisão mais importante a ser tomada pela Nasa era a de como executar a missão – e desen- volver as espaçonaves e os foguetes necessários para isso. De todas as opções, a escolhida, ainda em 1962, foi a que envolvia o chamado “encon�o em órbita lunar" (lunar orbit rendezvous). Duas naves viajariam juntas até os arredores da Lua, mas apenas uma delas desceria à superfície com os as�onautas, retornando em seguida para um encon�o em órbita lunar, para que os �ipulantes se �ansferissem à ou�a nave, que por sua vez os levaria de volta para casa. A missão exigiria a criação de um superfoguete e duas naves: o módulo de comando e serviço (CSM), para levar os as�onautas da Terra para a órbita da Lua e de volta, e o módulo de excursão lunar (LEM, mais tarde simplificado como LM, “módulo lunar"), para ir à superfície da Lua e de volta ao espaço. Para realizar as primeiras viagens tripuladas ao satélite natural, a Nasa decidiu apostar em um superfoguete e duas espaçonaves. U 1 . saturn VCriado por Wernher von Braun e sua equipe do Centro Marshall de Voo Espacial, este foguete de 110,6 metros foi o mais poderoso já produzido. Im ag en s: d iv ul ga çã o 1 . PRIMEIRO ESTÁGIO 2 . SEGUNDO ESTÁGIO 6 . TORRE DE ESCAPE Ejetava o módulo de comando, em caso de emergência. 4 . MÓDULO LUNAR (LM ) Encapsulado, ele era extraído do foguete após o lançamento. 5 . MÓDULO DECOMANDO E SERVIÇO (CSM ) Abrigava os astronautas em voo. 3 . TERCEIRO ESTÁGIO O primeiro estágio era movido a querosene, e os outros dois, a hidrogênio líquido, com oxigênio como oxidante. 1 2 3 4 5 6APOLLO 6 CAP2.indd 20 12/06/19 18:57 Grupo Unico PDF Passe@diante 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 3 . p a s s o a p a s s o Confira todas as etapas que precisariam ser cumpridas na arquitetura Apollo para uma missão capaz de levar humanos à Lua. TRAJETO DE IDA TRAJETO DE VOLTA 2 . a p o l l o O sistema era composto por duas naves independentes. A primeira delas, dedicada ao voo entre a Terra e a Lua, era o módulo de comando e serviço. A segunda, focada apenas em pouso e decolagem na Lua, era o módulo lunar. 1 . DECOLAGEM O Saturn V coloca o sistema Apollo em uma órbita baixa ao redor da Terra. 2 . INJEÇÃO TRANSLUNAR Uma reativação do terceiro estágio do Saturn V coloca as naves a caminho. 3 . SEPARAÇÃO O módulo de comando e serviço (CSM) se separa do foguete. 4 . EXTRAÇÃO O CSM se vira e acopla ao LM (módulo lunar). O terceiro estágio do Saturn V é descartado. 5 . AJUSTES DE CURSO A Apollo usa o propulsor do módulo de serviço para ajustar sua rota para a Lua. 6 . INSERÇÃO ORBITAL O módulo de serviço dispara para colocar a Apollo em órbita lunar. 7. POUSO Dois dos três astronautas se transferem para o LM e com ele descem até a superfície da Lua. 8 . PARTIDA O estágio de ascensão do LM leva os astronautas de volta à órbita lunar com o CSM. CSM – MÓDULO DE COMANDO E SERVIÇO Abrigava até três tripulantes. Ao fim da missão, era ejetado o módulo de serviço, responsável por propulsão, suporte de vida, oxigênio e água, e a única parte a retornar à Terra era a cápsula do módulo de comando, feita para resistir ao calor da reentrada atmosférica. MÓDULO LUNAR (LM ) Com capacidade para duas pessoas, servia para realizar o pouso na Lua. Era dividido em duas partes, o estágio de descida, que permitia o pouso, e o estágio de ascensão, que abrigava os astronautas durante sua estadia em solo lunar e era a única parte do sistema a retornar da Lua. 9 . RETORNO O propulsor do CSM é disparado para colocar a nave num curso de volta para a Terra. 10 . RETORNO O módulo de serviço é ejetado e a cápsula do módulo de comando viaja sozinha para a Terra. 1 1 . REENTRADA O módulo de comando reentra na atmosfera. O atrito gera temperaturas superiores a 2.500 graus Celsius. 12 . POUSO NA ÁGUA Com a ajuda de paraquedas, o módulo de comando desce em segurança no oceano, onde é resgatado por um navio. 21DOSS I Ê SUPER CAP2.indd 21 12/06/19 18:57 Grupo Unico PDF Passe@diante O ÚLTIMO VOO do projeto Gemini foi concluído em novembro de 1966 e a Nasa estava pronta para iniciar as missões Apollo. Ou, pelo menos, ela achava que estava. O resultado foi a maior �agédia do programa, e a morte de �ês �ipulantes – sem que eles sequer deixassem o chão. A dura lição aprendida pela agên- cia espacial americana foi que a pressa é inimiga do as�onauta. En�e fevereiro e agosto de 1966, foram realizados dois voos de teste (AS-201 e AS-202), suborbitais e sem �ipulação, com módulos de comando e serviço Apollo. Um terceiro voo (AS-203), sem uma cápsula de verdade a bordo, em julho daquele ano, ajudou a qualificar o foguete Sa�rn IB (versão precursora do Sa�rn V, “modesta", des�nada apenas a voos em órbita terres�e), e os gerentes do programa sen�ram confiança em agendar o primeiro voo �ipulado, AS- 204, para 21 de fevereiro de 1967. Foram escalados para a missão Virgil “Gus" Gris- som, que já havia voado na Mercury e na Gemini, Edward H. White II, responsável pela primeira ca- minhada espacial americana na Gemini, e o novato Roger B. Chaffee. No programa, era cos�meiro os as�onautas acompanharem a manufa�ra de suas espaçonaves, e nesse caso não foi diferente. O �io che- gou a manifestar sua preocupação com a quan�dade de material inflamável den�o da cápsula, principal- mente náilon e velcro, num veículo a ser pressurizado com oxigênio puro, potencializando incêndios. Abandonando a an�pá�ca sigla AS-204, a �ipula- ção estava �atando o voo como Apollo 1, e um ensaio para o lançamento estava marcado para 27 de janeiro de 1967. O chamado teste “plugs-out" consis�a em preparar a nave para lançamento, com os �ipulantes den�o, desconectar a nave dos sistemas de con�ole de solo e simular a contagem regressiva. O teste não era considerado perigoso, uma vez que nem o foguete, nem a cápsula seriam abastecidos com combustível. Ainda assim, as coisas não iam bem. A comunica- ção en�e a �ipulação e o cen�o de con�ole estava falhando, o que fez Grissom dizer: “Como vamos chegar à Lua se não conseguimos conversar en�e dois ou �ês prédios?" Às 18h31 (hora local), uma faísca gerada por um fio desencapado den�o da cápsula iniciou um in- cêndio. A cápsula só podia ser aberta por fora, num procedimento lento. A atmosfera de oxigênio sob alta pressão fez o fogo se alas�ar a enorme velocidade. Do primeiro grito de incêndio por Grissom à rup�ra da parede interna do módulo de comando, gerada pelo súbito aumento da pressão, se passaram 15 segundos. Os as�onautas pararam de gritar um pouco antes, mortos por asfixia antes de serem carbonizados. O Projeto Apollo só iria realizar seu primeiro voo �ipulado dali a 20 meses, em 11 de ou�bro de 1968. Fo to s: d iv ul ga çã o/ N A S A A chamuscada cápsula da Apollo 1, após o incêndio que vitimou sua tripulação. Apollo 1 O desastre que quase colocou ponto final ao sonho de ir à Lua. Não chegou a decolar. Não. Um incêndio no interior da cápsula durante um teste em solo matou a tripulação. EMBLEMA DURAÇÃO TRIPULANTES DEU CERTO? Virgil I. Grissom Edward White II Roger B. Chaffee APOLLO CAP2.indd 22 12/06/19 18:57 Grupo Unico PDF Passe@diante A TRAGÉDIA DA APOLLO 1 quase descarrilou por completo o programa lunar americano. Comissões de inves�gação foram ins��ídas, e o Congresso passou a ques�onar a viabilidade do projeto. O desenho da cápsula teria de ser totalmente reformulado, com es- pecial atenção à segurança. Resultado: meses e meses de espera até que as�onautas americanos pudessem voltar ao espaço. Poderia ter sido a opor�nidade ideal para a União Sovié�ca tomar a dianteira na corrida para a Lua, mas por lá a pressa também fazia das suas, e o pri- meiro lançamento �ipulado da espaçonave Soyuz terminaria em �agédia. O cosmonauta Vladimir Komarov decolou a bordo da nave em 23 de abril de 1967, naquele que seria seu segundo e úl�mo voo espacial. O voo durou um dia e o veículo apresentou uma tonelada de problemas. Na volta, o paraquedas da cápsula falhou em abrir, e Komarov morreu no impacto com o solo. A Soyuz 2 só poderia voar dali a 18 meses, em ou�bro de 1968. A disputa en�e as duas potências permanecia parelha. A pedido das viúvas de Grissom, White e Chaffee, a Nasa dedicou a eles a designação oficial Apollo 1, e dali a numeração seguiu, contabilizando também dois lançamentos não �ipulados de 1966. Em novembro de 1967, a missão Apollo 4 testa um módulo de comando e serviço no primeiro voo do poderoso Sa�rn V. Em janeiro de 1968, a Apollo 5 faz o primeiro voo do módulo lunar em órbita terres�e. Em abril, a mis- são Apollo 6 tenta demons�ar a capacidade de voo �anslunar com um módulo de comando e serviço, mas o terceiro estágio do Sa�rn V tem problemas, em seu segundo voo. Tudo isso sem �ipulação. Em 11 de ou�bro, finalmente, era a hora de voltar a levar as�onautas ao espaço. A Apollo 7 teve como comandante Wally Schirra,em seu terceiro e úl�mo voo, acompanhado pelos novatos Donn Eisele e R. Walter Cunningham. O lançamento seria propelido pelo Sa�rn IB, num voo de 11 dias em órbita terres�e. Com o equipamento, �do funcionou. Con�do, a missão ajudou a descobrir algumas falhas de “siste- mas" nos humanos. A bordo da Apollo, mais espaçosa que as cápsulas Mercury e Gemini, os as�onautas experimentaram pela primeira vez “enjoo espacial" – desorientação e náusea causada pela ausência de peso. Além disso, Schirra ficou resfriado durante o voo, e o es�esse fez com que ele e seus colegas respon- dessem de forma ríspida a pedidos do con�ole da missão. Eles brigaram pela hora de ligar a câmera de TV para a �ansmissão ao público, e Schirra estava determinado a realizar a reen�ada sem capacete, pre- ocupado que a mudança de pressão pudesse estourar seus tímpanos. Apesar dos pesares, a missão foi um sucesso e pavimentou o caminho para voos maiores. Apollo estava de volta nos �ilhos. Lançamento do Saturn IB, levando a Apollo 7, em 11 de outubro de 1968. Apollo 7 De volta ao espaço, na primeira missão tripulada do programa lunar. De 11 a 22 de outubro de 1968. Sim. A missão testou com sucesso pela primeira vez o módulo de comando e serviço em órbita terrestre. EMBLEMA DURAÇÃO TRIPULANTES DEU CERTO? Walter M. Schirra Donn E. Eisele R. Cunningham 23DOSS I Ê SUPER CAP2.indd 23 12/06/19 18:58 Grupo Unico PDF Passe@diante Apollo 8 A primeira visita de seres humanos às imediações da Lua. 1. Jim Lovell, William Anders e Frank Borman em treinamento. 2. O nascer da Terra visto da órbita da Lua pela Apollo 8. 3. O primeiro lançamento tripulado do foguete Saturn V. Fo to s: d iv ul ga çã o/ N A S A 1 2 3 APOLLO CAP2.indd 24 12/06/19 18:58 Grupo Unico PDF Passe@diante Lua? Em agosto eles revisaram a sequência, criando a missão C' (C-linha), a ser executada pela Apollo 8. Além de ser espetacular por si mesma – a primeira viagem humana até os arredores da Lua –, ela tornava a an�ga missão E supérflua, permi�ndo manter o cronograma mais ou menos no lugar. Se em agosto parecia a coisa certa a fazer, imagine em setembro, quando a União Sovié�ca lançou uma cápsula L-1 (missão Zond 5) com duas tartarugas e ou�os bichinhos a bordo, numa missão circunlu- nar que retornou à Terra, sã e salva? Os sistemas da Apollo eram bem mais sofis�cados, mas num jogo que era tanto de aparências quanto de realizações, teria sido um golpe e tanto se os primeiros humanos a contornar a Lua fossem sovié�cos. Para os americanos, a missão Apollo 8 seria a defini�va volta por cima. Mas os riscos não eram poucos. Era o primeiro voo �ipulado com um foguete Sa�rn V. E havia um detalhe ainda mais per�rba- dor: dos dois únicos testes não �ipulados realizados, o lançador apresentou problemas consideráveis no segundo – e exatamente ao fazer a manobra que teria de ser conduzida agora, com �ipulação. Wernher von Braun, chefe da equipe responsável pelo foguete, assegurou aos gerentes que os problemas enfrentados na Apollo 6 haviam sido todos corrigidos e que o veículo estava pronto. No dia 21 de dezembro de 1968, o comandante Frank F. Borman II e seus colegas, James A. Lovell Jr. e William A. Anders, par�riam da plataforma 39A do Cen�o Espacial Kennedy, na Flórida, naquela que seria a primeira viagem �ipulada ao redor da Lua. Como prome�do por Von Braun, o foguete funcionou perfeitamente, e o �io usou o motor do módulo de comando e serviço para en�ar em órbita da Lua no dia 24 de dezembro de 1968. Lá, eles foram os primeiros seres humanos a observar – e regis�ar – o nascer da Terra visto das imediações lunares. Em órbita lunar, os as�onautas �ansmi�ram suas impressões do que podiam ver do solo. E, na véspera de Natal, eles leram para seus espectadores os dez primeiros versículos do Livro do Gênesis, da Bíblia. E concluíram: “Da �ipulação da Apollo 8, fechamos com boa noite, boa sorte, um feliz Natal e Deus os abençoe – todos vocês na boa Terra.” Foi a maior au- diência televisiva da história na época – �ansmissão ao vivo para 64 países. Ou�os 30 também exibiram, mas numa veiculação a�asada, no mesmo dia. Para os as�onautas, con�do, ainda havia um dra- ma a ser vivido: o motor do módulo de comando e serviço teria de disparar corretamente para colocá-los no caminho de volta à Terra. Se não funcionasse, eles ficariam presos na órbita da Lua para sempre. Felizmente, deu �do certo, e a Apollo 8 fez um pouso suave no Pacífico no dia 27 de dezembro. E ELA FOI A MISSÃO mais corajosa e ar- riscada de todo o Projeto Apollo – a primeira viagem de seres humanos para fora do poço gravitacional de seu plane- ta de origem, rumo a seu único satélite na�ral. E nasceu parida de um a�aso. Em setembro de 1967, na esteira da �agédia da Apollo 1, os gerentes do pro- grama lunar formataram uma sequência de missões até o pouso, designadas por le�as. Eram elas: A Voo não �ipulado do módulo de co- mando e serviço (CSM) com o Sa�rn V. B Voo não �ipulado do módulo lunar (LM) na órbita baixa da Terra. C Voo �ipulado do CSM na órbita baixa da Terra. D Voo �ipulado conjunto do CSM e do LM em órbita baixa da Terra. E Voo tripulado do CSM e do LM simulando uma missão lunar a uma órbita média de 6.500 km de al��de. F Voo tripulado do CSM e do LM até a Lua, demons�ando a técnica de encon�o em órbita lunar. G Primeiro pouso �ipulado na Lua. As missões Apollo 4 e 6 cumpriram o obje�vo A, e a Apollo 5 deu conta do objetivo B. A meta C veio com a Apollo 7 e, em princípio, a Apollo 8 seguiria o roteiro do obje�vo D. Só que o módulo lunar não estava pronto; o veículo ainda enfrentava problemas de desenvolvimento. Como a necessidade faz a invenção, os gerentes pensaram fora da caixinha – e se a Apollo 8 fosse só com o módulo de comando e serviço até a órbita da De 21 a 27 de dezembro de 1968. Sim. A tripulação se tornou a primeira a viajar até a órbita da Lua e voltar. EMBLEMA DURAÇÃO TRIPULANTES DEU CERTO? Frank F. Borman II James A. Lovell Jr. William A. Anders 25DOSS I Ê SUPER CAP2.indd 25 12/06/19 18:58 Grupo Unico PDF Passe@diante 2 Apollo 9 O último teste das naves lunares em órbita terrestre baixa. A ALÉM DE COLOCAR os Estados Unidos na dianteira da corrida para a Lua, a missão Apollo 8 ganhou o tempo necessário para que o módulo lunar ficasse pronto. Seguindo o planejamento da Nasa, esse pri- meiro teste deveria acontecer com a missão �po D, em órbita terres�e baixa. E assim nasceu a Apollo 9, fazendo o que originalmente a 8 deveria ter feito. O planejamento original era lançar a missão em 28 de fevereiro de 1969, mas os �ês �ipulantes escalados – o comandante James McDivitt, o piloto do módulo de comando David Scott e o piloto do módulo lunar Rusty Schweickart – pegaram um resfriado. Como eles seriam bastante exigidos nos dez dias de voo, a Nasa optou por adiar o lançamento até que es�ves- sem recuperados. Então o lançamento do Sa�rn V ocorreu às 11 horas, no dia 3 de março. Era o �po de adiamento que só um voo em órbita terres�e podia sofrer; numa fu�ra viagem à Lua, �do teria de ser sincronizado com as posições da Lua, da Terra e do Sol para que os as�onautas encon�assem o lugar de pouso correto, no nível de iluminação exato. Diversos procedimentos seriam conduzidos pela Fo to s: d iv ul ga çã o/ N A S A APOLLO CAP2.indd 26 12/06/19 18:58 Grupo Unico PDF Passe@diante 3 1 primeira vez durante a Apollo 9. Além de promove- rem vários testes do motor do módulo de serviço, os as�onautas fizeram pela primeira vez a ex�ação do módulo lunar, que subia ao espaçopreso ao terceiro estágio do Sa�rn V. Sem essa manobra, seria impos- sível pousar na Lua. Cabia a Scott pilotar o módulo de comando durante o teste. Uma vez acopladas, as duas espaçonaves permaneceram em órbita baixa, enquanto o terceiro estágio do Sa�rn V seria disparado para, solitário, assumir uma órbita ao redor do Sol. Diversos testes de propulsão com as duas naves conectadas foram conduzidos e, no terceiro dia de voo, o plano era que McDivitt e Schweickart se �ansferis- sem para o módulo lunar para pilotá-lo pela primeira vez. Surgiu com essa missão a �adição de dar nomes diferentes a cada uma das naves. Quando estavam acopladas, as duas eram apenas “Apollo 9". Con�do, separados, o módulo de comando e serviço se tornava Gumdrop, e o módulo lunar virava o Spider. Só que as coisas foram se complicando quando Schweickart começou a passar mal para valer – enjoo espacial dos brabos. Ele vomitou duas vezes, uma a bordo do Gumdrop, ou�a no Spider, e o comandante McDivitt chegou a solicitar um canal privado com os médicos em Houston para saber o que fazer. Mas, apesar do duro processo de adaptação, eles conse- guiram iniciar os testes do módulo lunar e chegaram a disparar seu motor de descida, ainda acoplado ao módulo de comando e serviço. No quarto dia, Schweickart fez uma caminhada espacial, usando o �aje desenvolvido para as fu�ras caminhadas lunares, num teste de �ansferência de �ipulação de emergência, a ser feito pelo lado de fora do veículo. Em circunstâncias normais, o método não deveria ser u�lizado, mas era uma das muitas con�ngências para as quais os responsáveis pelo programa queriam estar preparados. No quinto dia, o Spider se separou do Gumdrop e os as�onautas realizaram os testes mais crí�cos para a missão: voo solo e a fu�ra reunião das duas naves, tentando simular com tanta fidelidade quanto possível como esse procedimento se daria em órbita lunar. Deu �do certo, e o único sistema que não pôde ser completamente testado foi o radar de pouso, já que ele não funcionaria à distância em que o módulo lunar orbitava a Terra. Nos dias subsequentes, o teste se tornou basica- mente de resistência – verificar o desempenho do módulo de comando e serviço durante todo o período em que ele seria exigido numa missão de pouso lunar. A cápsula retornou à Terra em 13 de março, abrindo caminho para o úl�mo ensaio antes das primeiras pegadas humanas na Lua. Ou será que a Apollo 10 já poderia realizar o primeiro pouso? A dúvida bateu en�e os gerentes do programa. 1. David Scott sai pela escotilha do módulo de comando Gumdrop. 2. O módulo lunar Spider é testado em órbita terrestre. 3. McDivitt, Scott e Schweickart a caminho da plataforma de lançamento 39A. De 3 a 13 de março de 1968. Sim. Todos os testes das naves feitos em órbita terrestre foram bem-sucedidos. EMBLEMA DURAÇÃO TRIPULANTES DEU CERTO? James A. McDivitt David R. Scott Russell L. Schweickart 27DOSS I Ê SUPER CAP2.indd 27 12/06/19 18:58 Grupo Unico PDF Passe@diante 1 2 3 Apollo 10 O ensaio geral para a primeira alunissagem tripulada. E ENTRE 1966 E 1969, os planos na sequência das mis- sões Apollo sofreram mudanças frené�cas, ditadas por um misto de aprendizagem, disponibilidade, lógica e pressa. O maior símbolo dessa metamorfose am- bulante foi a bem-sucedida Apollo 8, concebida de improviso e responsável por colocar a Nasa na dianteira da corrida pela Lua. A agência espacial americana sabia que o pouso estaria en�e a 10 e a 11 – pro- vavelmente a 11, mas e se surgisse um mo�vo para pressa, como um lança- mento sovié�co iminente? Por via das dúvidas, Donald “Deke" Slayton, o chefe dos as�onautas, decidiu escalar duas equipes 100% compostas por veteranos para as ambas as missões. Para a Apollo 10, os escolhidos foram o comandante Thomas P. Stafford, indo para seu terceiro voo espacial, o piloto do módulo de comando John W. Young, também indo para seu terceiro voo, e o piloto do módulo lunar Eugene A. Cernan, em sua segunda missão. Quando esteve no Brasil, em 2010, Fo to s: d iv ul ga çã o/ N A S A EMBLEMA APOLLO CAP2.indd 28 12/06/19 18:58 Grupo Unico PDF Passe@diante era questão de honra cumprir o prazo. Então, para não arriscar demais e não perder tempo, a Apollo 10 foi a única missão do programa a par�r da plataforma 39B do Cen�o Espacial Kennedy, na Flórida. Isso para que as preparações da Apollo 11 seguissem a galope na plataforma 39A, logo ali ao lado. A Apollo 10 chegou à órbita lunar em 21 de maio, o módulo lunar Snoopy (pilotado por Stafford com apoio de Cernan) se separou do módulo de comando Charlie Brown (sim, uma homenagem dos as�onautas aos personagens de Charles Schulz) e iniciou a descida para a Lua, chegando a sobrevoar a região do Mar da Tranquilidade, escolhida para o primeiro pouso, a meros 15 km de al��de – pouco mais que a al�ra típica de cruzeiro de um avião de passageiros na Terra. Imagine dois as�onautas �einados, a apenas um passo de iniciar um pouso lunar. Qual seria a tentação de, con�ariando ordens, ir adiante e alunissar? Depois de enfrentar a rebeldia dos irritadiços as�onautas da Apollo 7, a Nasa preferiu não arriscar, e nem abasteceu totalmente o estágio de ascensão do módulo lunar. Ele só �nha combustível suficiente para reencon�ar o módulo de comando a par�r de uma al��de de 15 km. Se Stafford e Cernan procedessem com um pouso não autorizado, não poderiam deixar a Lua. “Se eu gostaria de ter estado no primeiro pou- so? Claro que sim”, disse Cernan. “Mas do jeito que aconteceu foi melhor, foi uma boa decisão, e para mim funcionou ainda melhor, porque �ve a chance de voltar e comandar a �ipulação que eu escolhi, no que acabou sendo o úl�mo voo até a Lua. Então, em re�ospecto, não me arrependo de nada.” A Apollo 10 foi a missão que até hoje levou os as�onautas mais longe de casa – ao a�ngir a Lua perto do momento de máximo afastamento lunar em sua órbita ao redor da Terra, a nave chegou a estar a 408.950 km da cidade de Houston, lar dos as�onau- tas. A distância média Terra-Lua é de 384 mil km. A missão permaneceu em órbita da Lua até a madrugada do dia 24, quando o módulo lunar se separou, realizou o ensaio para o pouso e tornou a subir para reencon�ar-se com o módulo de comando e serviço. O procedimento não foi sem emoção. Na hora de elevar sua al��de para o reencon�o, durante a separação do estágio de descida, o veículo começou a girar fora de con�ole, e Stafford e Cernan �ocaram vários palavrões até recobrarem o domínio sobre o veículo. A Nasa, na época, minimizou o incidente. Mas mais algumas piruetas e a missão se tornaria irrecuperável, condenando o módulo a uma indese- jável colisão com a superfície lunar. É uma boa medida de como os americanos arrisca- ram um bocado para vencer a corrida espacial – mas todos os riscos estavam a apenas um passo de serem compensados. 1. Gene Cernan, Thomas Stafford e John Young. 2. O módulo de comando e serviço Charlie Brown, em órbita da Lua. 3. O estágio de ascensão do módulo lunar Snoopy no reencontro com o módulo de comando Charlie Brown. Cernan contou assim a história: “Eles decidiram mandar a Apollo 8 para a Lua sem o módulo lunar. A Apollo 9 teve o módulo lunar em órbita terres- �e, e nos ocorreram duas coisas para a missão seguinte: se vamos enviar esses caras até a Lua, colocá-los nessa missão perigosa, por que não os dei- xamos ir até o final e tentar pousar? Por que assumir o risco, ir tão longe e não deixá-los pousar? E ou�o grupo disse: bem, vamos deixá-los fazer �do menos pousar. Vamos aceitar os riscos, executar todos os passos que precedem o pouso e deixar só esse úl�mo passo para o próximovoo. E então essa foi a decisão, tomada antes de par�rmos.” Com isso, a Apollo 10, realizada en�e 18 e 26 de maio de 1969, foi o úl�mo passo, um “ensaio geral”, antes da tão sonhada alunissagem �ipulada, estabe- lecida como meta pelo presidente John F. Kennedy oito anos antes. Àquela al�- ra, faltavam menos de sete meses para expirar o prazo estabelecido pelo líder americano, assassinado em 1963, que indicava que a missão deveria ocorrer antes do final da década. Para a Nasa, De 18 a 26 de maio de 1969. Sim. O ensaio geral abriu caminho para uma tentativa de pouso lunar na missão seguinte. DURAÇÃO TRIPULANTES DEU CERTO? Thomas P. Stafford John W. Young Eugene A. Cernan 29DOSS I Ê SUPER CAP2.indd 29 12/06/19 18:59 Grupo Unico PDF Passe@diante Apollo 11 Um pequeno passo para um homem, um salto gigantesco para a humanidade. N NUNCA UMA VIAGEM espacial foi tão importante ou acompanhada tão de perto pelos olhos do mundo todo. Após pra�camente uma década de corrida acirrada en�e as duas grandes superpotências do século 20, a Apollo 11 tentaria realizar o sonho ances�al do ser humano de pisar na superfície da Lua. A missão, claro, começava muito antes da deco- lagem. Em 9 de janeiro de 1969, a Nasa anunciava formalmente a �ipulação escalada: como comandante, Neil A. Arms�ong; como piloto do módulo de coman- do, Michael Collins; e como piloto do módulo lunar, Edwin “Buzz" Aldrin. A escolha de Arms�ong como comandante era sensata, mas o chefe dos as�onautas Deke Slayton �nha dúvidas quanto ao temperamento de Aldrin, que havia criado problemas com alguns de seus colegas. Slayton chegou a propor a Arms�ong que Aldrin fosse �ocado por James Lovell, da Apollo 8, mas, após um dia de reflexão, o comandante de- cidiu ficar com Aldrin, com quem �abalhava bem, Fo to : d iv ul ga çã o/ N A S A APOLLO CAP2.indd 30 12/06/19 18:59 Grupo Unico PDF Passe@diante acreditando que Lovell merecia mais tarde ter seu próprio comando – o que de fato ocorreu, na Apollo 13. Ou�a decisão que precisaria ser tomada era ao mes- mo tempo prosaica e de um simbolismo ímpar: após uma alunissagem bem-sucedida, quem desceria do módulo lunar para se tornar o primeiro homem a pisar na Lua? Até então, em toda a história do programa espacial americano, a caminhada espacial nunca era feita pelo comandante da missão. Havia expecta�va de que isso fosse man�do no programa Apollo e de saída chegou a ser dito que Aldrin seria o primeiro a sair. Versões iniciais da lista de eventos nos �ei- namentos também previam a saída de Aldrin antes. E então isso foi modificado. Por um lado, a própria es�u�ra interna do módulo lunar sugeria isso. Era mais fácil para o comandante sair primeiro do que para o piloto do módulo lunar, que teria que caminhar por �ás dele num espaço apertado para alcançar a esco�lha. De fato, Aldrin chegou a danificar o si- mulador numa tenta�va de sair primeiro. Em abril, tornou-se oficial: Arms�ong sairia primeiro. Em 2016, em en�evista a este jornalista, Aldrin diria, em tom de frus�ação: “Para todo sempre na história, eu serei conhecido, não como o primeiro homem ou o úl�mo homem, mas como o segundo homem. Bem, eu gosto de prata, mas..." Apesar de não ter gostado, Aldrin reconheceu que a decisão da Nasa fora acertada. “Pensando nisso de- pois, não havia absolutamente nenhum jeito de que aquela missão es�vesse correta com o Neil olhando pela janela e me vendo descer a escada e ser o pri- meiro. Isso não teria feito ninguém feliz, realmente. Porque sempre teria a pergunta: 'Por que o Neil não foi antes?' E aquela era a resposta certa." Na época, além das razões prá�cas que tornavam mais fácil o comandante sair primeiro, a agência espa- cial americana estava preocupada em ter alguém com o perfil certo para um momento solene e histórico. Enquanto Arms�ong era compene�ado e de pou- cas palavras, Aldrin era espalhafatoso e provocador. Além de �do, embora �vesse experiência militar, Arms�ong era civil, e Aldrin, oficial da Força Aérea. Essa mesma solenidade foi solicitada dos as�o- nautas na hora de ba�zar suas espaçonaves. Depois de Gumdrop, Spider, Charlie Brown e Snoopy, a Nasa queria uma sensibilidade maior na Apollo 11, o que levou Arms�ong, Collins e Aldrin a ba�zarem seu módulo de comando e serviço de Columbia e o mó- dulo lunar de Eagle. O primeiro era uma referência ao Columbiad, canhão fictício que propiciava uma viagem à Lua no clássico de Jules Verne de 1865, Da Terra à Lua, além de se referir também ao explorador genovês Cristóvão Colombo. Já o segundo, a Águia, remetia ao animal símbolo dos Estados Unidos, representado também no emblema da missão. Os A decolagem da Apollo 11, na plataforma 39A do Centro Espacial Kennedy. De 16 a 24 de julho de 1969. Sim! A alunissagem é um sucesso, e a Nasa valida sua estratégia para a conquista da Lua. EMBLEMA DURAÇÃO TRIPULANTES DEU CERTO? Neil A. Armstrong Edwin 'Buzz' E. Aldrin Jr. Michael Collins 31DOSS I Ê SUPER CAP2.indd 31 12/06/19 18:59 Grupo Unico PDF Passe@diante as�onautas decidiram não colocar os próprios nomes na figura, com o in- �ito de sinalizar que a humanidade toda estava representada pela Apollo 11. Também coube à Nasa definir o lo- cal de pouso designado para a missão, a partir de cinco sítios previamente selecionados com imagens de satélite cap�radas pelas missões não �ipula- das. Da lista de possibilidades, acabou sendo escolhida a de número 2, no Mare Tranquilita�s, ou Mar da Tranquilidade, uma das bacias rela�vamente planas e pouco acidentadas do hemisfério pró- ximo lunar. Em sua missão de “quase pouso", a Apollo 10 sobrevoou a região a apenas 15 km de al��de e considerou o local adequado para a tenta�va. E então, às 9h32 (hora local) do dia 16 de julho de 1969, o Sa�rn V decolou da plataforma 39A do Cen�o Espacial Kennedy, na Flórida, levando o �io de as�onautas e a Apollo 11 até uma órbita terres�e baixa. Após uma volta e meia ao redor da Terra, o terceiro estágio do foguete, ainda acoplado à nave, disparou por 5 minutos e 48 segundos, colocando o conjunto a caminho da Lua. Por medida de segurança, e a exem- plo das missões Apollo 8 e 10, a �aje- tória inicial era de “retorno livre”. Ou seja, se algo desse errado no caminho e fosse impossível realizar qualquer ou�a manobra, a nave faria um oito ao redor da Lua e voltaria à Terra, por gravidade. Uma vez na rota translunar, era preciso separar a nave do foguete. O módulo de comando e serviço Colum- bia se desacoplou, virou 180 graus e se encaixou ao módulo lunar, para realizar sua ex�ação do terceiro estágio do fo- guete, onde viajou protegido por qua�o painéis ejetáveis. (Poucas horas depois, a �ipulação viu um objeto distante apa- rentemente acompanhando a Apollo 11 a caminho da Lua. O tal “óvni” era quase com certeza um desses painéis.) Era comum que todas as missões espaciais americanas levassem vários experimentos a ser realizados no in- terior da cápsula pelos as�onautas no ambiente de microgravidade. Mas não na Apollo 11. “Não queríamos dis�ações para os �ês dias em que fomos para a Lua”, disse Aldrin. “Então pedimos para não ter experimentos durante a ida.” Salvo por dois ajustes de curso no caminho, o principal �abalho era se preparar para pousar na Lua. Em 18 de julho, Arms�ong e Aldrin colocaram pela primeira vez seus �ajes espaciais e testaram os sistemas do mó- dulo lunar. Em 19 de julho, iniciou-se a manobra de inserção orbital lunar. Um disparo do motor do módulo de serviço por 357,5 segundos colocou a nave numa órbita elíp�ca, e um segundo disparo de 17 segundos circularizou a órbita com al��de em torno de 110 km. Em20 de julho, checagem final do Eagle e, 100 horas e 12 minutos após a par�da (4 dias, 4 horas e 12 minutos), ele se desacoplou do módulo de coman- do Columbia. Na descida, Arms�ong e Aldrin; em órbita lunar, Collins. O módulo lunar disparou seus moto- res para frear e, com isso, guiar sua des- cida até a Lua com a ajuda da gravidade n e i l a r m s t r o n g COMANDANTE 1930–2012 O mais famoso astronauta da história da exploração espacial nasceu em Wapakoneta, Ohio, e formou-se em engenharia aeronáutica pela Universidade de Purdue. Armstrong passou algum tempo como aviador na Marinha americana antes de deixar a carreira militar e se tornar piloto de teste para a Naca, organização aeronáutica precursora da Nasa. Nessa função, ele pilotou o avião- foguete X-15, capaz de realizar voos suborbitais, e foi selecionado para a Nasa na segunda turma de astronautas, em 1962. Fo to s: d iv ul ga çã o/ N A S A APOLLO CAP2.indd 32 12/06/19 18:59 Grupo Unico PDF Passe@diante lunar. Até aí, �do exatamente como executado na missão de ensaio, Apollo 10. A etapa final da descida, con�do, seria bastante tensa. Após novas manobras e o uso do motor de des- cida para um pouso con�olado, Arms�ong e Aldrin notaram que o terreno sob a nave estava passando alguns segundos antes do esperado – eles pousariam além do sí�o de pouso originalmente planejado. Para ajudar, o limitado sistema de computador da nave estava sobrecarregado por dados e disparando alertas de falha constantes. Arms�ong teve de con- �olar a descida final para evitar terreno pedregoso e consumiu 40 segundos a mais de combustível do que o previsto – e terminou com apenas mais 25 segundos es�mados de reserva de combustível. Ele teve de evitar uma cratera para onde o sistema de pouso automá�co estava levando o Eagle, enquanto Aldrin frene�camente lia as informações do painel. E então, após alguns segundos de silêncio que parece- ram uma eternidade no Cen�o de Con�ole, vieram as m i c h a e l c o l l i n s PILOTO DO MÓDULO DE COMANDO 1930- Nascido em Roma, Collins foi o segundo filho de um oficial do Exército americano estacionado na Itália. Interessado pela carreira militar, ele preferiu a Força Aérea para evitar acusações de nepotismo. Entrou para o grupo de astronautas com a terceira turma, de 1963. Chegou a ser escalado para a tripulação daquela que seria a Apollo 8, mas um problema cervical o tirou da missão. 1. Aldrin, na fotografia mais famosa da Apollo 11. 2. O módulo Eagle retorna da superfície lunar. 3. Uma das poucos fotos de Armstrong na Lua. 1 3 2 33DOSS I Ê SUPER CAP2.indd 33 12/06/19 18:59 Grupo Unico PDF Passe@diante palavras de Arms�ong: “Houston, Base Tranquilidade aqui... o Eagle pousou.” Às 16h17 (hora da Flórida) do dia 20 de julho, com o pouso bem-sucedido, começava um período de a�vidades de pouco mais de 21 horas em solo lunar – mas, claro, de todo esse tempo, a maior parte gasta den�o do módulo mesmo. Pouco depois do pouso, os as�onau- tas �nham um período de descanso agendado, mas preferiram pular e ini- ciar imediatamente os procedimentos para a primeira caminhada sobre a Lua. Duas horas e meia após a descida, Buzz Aldrin realizou uma comunhão – a pri- meira cerimônia religiosa em solo lunar. Presbiteriano, o as�onauta solicitou ao pastor de sua igreja um kit com cálice e hós�a, mas realizou o ato de forma privada. Isso porque a Nasa ainda estava enfrentando um processo judicial por supostamente fazer apologia religiosa com a lei�ra do Gênesis na Apollo 8. Pouco mais de qua�o horas após a alunissagem, Neil Arms�ong estava pronto para iniciar a saída do módu- lo Eagle rumo à superfície da Lua. Às 22h39 (na Flórida), o as�onauta abriu a esco�lha e vagarosamente iniciou a descida da escada à superfície. Dezes- sete minutos depois, colocou sua bota esquerda sobre o solo lunar. “Um pe- queno passo para um homem, um salto gigantesco para a humanidade.” Transmi�da pela televisão, graças a uma câmera instalada no próprio módu- lo lunar que Arms�ong a�vou ao des- cer a escada, a imagem fantasmagórica em preto e branco do primeiro homem na Lua foi vista ao vivo por cerca de 530 milhões de pessoas no mundo todo, batendo o recorde da �ansmissão da Apollo 8 na véspera de Natal de 1968. Na superfície lunar, os as�onautas tinham como principal missão me- ramente sobreviver. Dados os riscos envolvidos na primeira tentativa de pouso, o planejamento de experimentos na superfície da Lua para a Apollo 11 foi bem limitado. De saída, Arms�ong teria de simplesmente reportar o que estava vendo ao redor, avaliar o estado do módulo lunar e colher uma “amos�a de con�ngência” – um punhado de pó, uma pedrinha ou ou�a, para �azer de volta caso uma emergência obrigasse a uma decolagem rápida. Cerca de 20 minutos depois, Aldrin se juntou a Arms�ong na superfície. Eles colheram amos�as e instalaram um pacote de experimentos em solo, contendo poucos ins�umentos: um sis- mógrafo que �ansmi�ria dados à Terra, um coletor de partículas de vento solar, �azido de volta com eles, e um re�or- refletor projetado para rebater pulsos de laser e permi�r uma medição precisa da distância en�e a Terra e a Lua. Durante os �abalhos, Arms�ong e Aldrin fincaram a bandeira americana no solo lunar e receberam um telefone- ma do presidente Richard Nixon. Além dos ins�umentos científicos, eles deixariam na Lua também meda- lhas em homenagem aos as�onautas e cosmonautas que deram suas vidas pela conquista da Lua. Também foram levadas mensagens de boa-fé de 73 lí- deres mundiais e um broche com um ramo de oliveira, um símbolo de paz. b u z z a l d r i n PILOTO DO MÓDULO LUNAR 1930- Nascido em Nova Jersey, Edwin Eugene Aldrin Jr. se formou na Academia Militar de West Point em 1951, como engenheiro mecânico. Na Força Aérea, realizou 66 missões de combate durante a Guerra da Coreia. Entre 1959 e 1963, fez doutorado em astronáutica pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts, na esperança de virar astronauta. Seu apelido favorito sempre foi “Buzz”, modo como a irmã mais nova o chamava. Hoje, seu nome é oficialmente Buzz Aldrin. OS PRIMEIROS PASSOS DO HOMEM NA LUA FORAM VISTOS AO VIVO POR CERCA DE 530 MILHÕES DE PESSOAS EM TODO O MUNDO. Fotos: divulgação/NASA APOLLO CAP2.indd 34 12/06/19 18:59 Grupo Unico PDF Passe@diante 1 3 5 2 4 Aldrin foi o primeiro a retornar ao módulo lunar, seguido por Arms�ong cerca de 40 minutos depois. No total, as a�vidades ex�aveiculares duraram pou- co mais de duas horas e meia. De volta ao módulo lunar, um período de descanso de sete horas, antes da decolagem. O módulo lunar era dividido em duas partes, os estágios de descida e ascensão, com o pri- meiro servindo de plataforma de lançamento para o segundo, onde ficava a cabine para os as�onautas. Mesmo depois do pouso bem-sucedido, ainda havia tensão para a inédita decolagem lunar. Nixon já �nha até um discurso preparado, caso houvesse fracasso na par�da. Felizmente não foi preciso ler a funesta mensagem. A decolagem se deu no dia 21 de julho, e Aldrin notou pela janela que o jato de exaustão parecia ter derrubado a bandeira – o que de fato aconteceu e foi confirmado por imagens do local de pouso colhidas décadas mais tarde pela sonda Lunar Reconnaissance Orbiter. Após a subida, o estágio de ascensão do Eagle tornou a acoplar com o Columbia. Com amos�as (21,5 kg de rochas lunares) e as�onautas �ansferidos ao módulo de comando, o Eagle é descartado, para cair no solo lunar, e o motor do módulo de serviço é acionado para colocar a nave no rumo de volta para a Terra. Em 24 de julho, a cápsula da Apollo11 reen�a na atmosfera terres�e, sendo recuperada no Oceano Pacífico pelo USS Hornet. Era o fim da mais ousada aven�ra já empreendida pelo ser humano. Mas a burocracia estava apenas no começo. Os �ês as�onautas �veram de preencher formu- lários aduaneiros para en�ar nos Estados Unidos e, antes de iniciarem uma �rnê pelo mundo, ainda passariam 21 dias em quarentena, para que os médicos se cer�ficassem de que eles não haviam sido conta- minados por alguma infecção lunar (parece uma ideia maluca hoje, mas na época não dava para descartar). As rochas �azidas pela Apollo 11 seriam cata- logadas e estudadas num laboratório construído especialmente para esse fim, no Cen�o de Espaço- naves Tripuladas (hoje Cen�o Espacial Johnson), em Houston, e os Estados Unidos declarariam vitória defini�va na corrida espacial, cumprindo o desafio lançado pelo presidente Kennedy oito anos antes. Mas, para o programa Apollo, as coisas estavam apenas esquentando. O próximo voo seria em qua�o meses. 1. O resgate do Columbia no Oceano Pacífico. 2. Rochas lunares trazidas pela Apollo 11. 3. Célebre registro de uma pegada no solo lunar. 4. Buzz Aldrin descarrega equipamentos na Lua. 5. Em quarentena a bordo do USS Hornet, os astronautas encontram o presidente Nixon. 35DOSS I Ê SUPER CAP2.indd 35 12/06/19 18:59 Grupo Unico PDF Passe@diante Apollo 12 O primeiro pouso de alta precisão e a primeira expedição lunar de dois dias. 1. Alan Bean descendo do módulo lunar. 2. Conrad, Gordon e Bean posam para foto antes do lançamento. 3. Um eclipse solar produzido pela Terra, visto pela Apollo 12 na volta da Lua. Fo to s: d iv ul ga çã o/ N A S A 1 3 2 APOLLO CAP2.indd 36 12/06/19 18:59 Grupo Unico PDF Passe@diante (já em seu terceiro voo espacial), o piloto do módulo de comando Richard F. Gordon Jr. (em seu segundo voo) e o novato piloto do módulo lunar Alan L. Be- an. O �io formava uma equipe muito mais unida e descon�aída que a da Apollo 11, e dava para sen�r. A decolagem do Sa�rn V aconteceu em 14 de novembro de 1969, a par�r da plataforma 39A do Cen�o Espacial Kennedy – em meio a uma baita chuva. O foguete chegou a ser a�ngido por um raio aos 36 segundos de voo, o que deu uma zoada na ins�umentação do módulo de comando e serviço Yankee Clipper. Como se não bastasse, um segundo raio golpeou o foguete aos 52 segundos, deixando pirado o indicador de a��de (orientação espacial) do módulo de comando. A teleme�ia também esta- va chegando bagunçada ao con�ole da missão em Houston. A energia caiu a bordo. A sorte foi que o gerente responsável pela parte elé�ica se lembrou de um teste que teve falha de teleme�ia similar e sugeriu uma solução obscura e que por sua vez Alan Bean conseguiu lembrar do que se �atava, por ter par�cipado de um �einamento que simulou aquela falha. Não fosse isso, Conrad poderia ter optado por abortar a missão. Graças à intervenção, com a energia restaurada, o voo pôde prosseguir sem problemas. Três dias e meio depois, a Apollo 12 a�ngiu a órbita lunar. A separação do In�epid se deu sem problemas, e Conrad e Bean rumaram para a superfície, enquanto Gordon permanecia sozinho no Yankee Clipper. E a manobra foi com toda a precisão desejada: a nave pousou a apenas 183 me�os da Surveyor 3. Ao descer a escada e colocar sua bota na superfície, Conrad proferiu as famosas palavras: “Whoopie! Cara, pode ter sido pequeno para o Neil, mas é grande para mim.” Era �do parte de uma aposta que o as�onauta havia feito com uma jornalista para provar que a Nasa não havia ins�uído Arms�ong a dizer o que ele disse antes de se tornar o primeiro homem a pisar na Lua. A Apollo 12 levou uma câmera colorida de televi- são, mas a �ansmissão durou pouco. Infelizmente, ao reposicioná-la, Bean acabou apontando-a para o Sol por tempo suficiente para danificar o equipamento. E não seria a única �apalhada dele. Bean também esqueceria na Lua vários rolos de filme com as foto- grafias �radas durante as duas caminhadas espaciais, ambas com pouco menos de qua�o horas cada. Ao todo, o In�epid passou cerca de 38 horas na Lua, antes de decolar para o reencon�o com o Yankee Clipper. Em um retorno sem problemas, os as�onautas �veram o privilégio de observar um eclipse solar causado pela Terra, e foram resgatados no Oceano Pacífico em 24 de novembro de 1969. Era o fim de um ó�mo ano para o programa espacial americano. Mas, como a Nasa logo descobriria, confiança excessiva pode ser ex�emamente perigosa. A A APOLLO 11 PROVOU que era possível viajar até a Lua e retornar em segurança. Já a missão seguinte deveria mos�ar que o sistema Apollo era sofis�cado a ponto de permi�r uma alunissagem de alta precisão. Afinal, de que adiantaria obter imagens orbitais do globo lunar para escolher os locais cien�ficamente mais interessantes, se os as�onautas não podiam pousar onde se deseja para uma inves�gação mais detalhada? Primeira missão de tipo H (pós- -primeiro pouso) na lista da Nasa, a Apollo 12 tentaria essa descida de pre- cisão, além de permi�r estadias de até dois dias na Lua, com duas sessões de caminhadas lunares. Ficou decidido que o módulo lunar In�epid deveria pousar nas proximidades do sí�o de pouso de uma das missões não �ipuladas da Na- sa, a Surveyor 3. Se a missão pudesse descer à distância de uma caminhada de um marco tão claro quanto esse, estaria demons�ado que a Apollo podia enviar as�onautas a locais escolhidos de forma bastante criteriosa pelos cien�stas. A má notícia é que o local em si, no Oceanus Procellarum, era muito similar ao que Neil Arms�ong e Buzz Aldrin viram no Mare Tranquilita�s, o que frus�ava quem estava interessado em ciência lunar. Em compensação, a boa notícia é que seria muito interessante ver em que estado estava a Surveyor 3, depois de passar quase �ês anos na Lua. Partes da sonda poderiam ser �a- zidas de volta para a Terra para análise mais de�da. Os escolhidos para a missão foram o comandante Charles “Pete" Conrad Jr. De 14 a 24 de novembro de 1969. Sim. O Intrepid pousou a apenas 183 metros de seu alvo, a sonda Surveyor 3. EMBLEMA DURAÇÃO TRIPULANTES DEU CERTO? Charles 'Pete' Conrad Jr. Richard F. Gordon Jr. Alan L. Bean 37DOSS I Ê SUPER CAP2.indd 37 12/06/19 19:00 Grupo Unico PDF Passe@diante Apollo 13 Uma potencial tragédia convertida num colossal triunfo. N NINGUÉM ENVOLVIDO com as missões Apollo se iludia quanto aos riscos. A Apollo 7 decolou com ventos desfa- voráveis; se houvesse necessidade de abortar a missão durante a decolagem, a cápsula poderia ir parar em terra, em vez de no mar, ameaçando a sobrevivên- cia da �ipulação. A Apollo 8 arriscou uma viagem jamais realizada antes. A 1. Haise, Lovell e Swigert são resgatados pelo USS Iwo Jima. 2. A Lua vista da Apollo 13. 1 Apollo 10 quase perdeu o módulo lunar, com as�onautas den�o, na manobra de reencon�o com o módulo de comando. A Apollo 11 realizou uma alunissagem com pouco combustível, alarmes falsos do computador e uma manobra ma- nual para escapar de uma cratera. A Apollo 12 decolou na chuva e tomou dois raios, que os engenheiros temiam ter danificado o sistema de acionamento dos paraquedas; �vesse sido esse o caso, os as�onautas estariam condenados à morte no retorno. Em cada uma dessas ocasiões, uma �agédia em potencial. E, no entanto, nada aconteceu. Isso cria uma falsa impressão de segurança. Quando chegou a hora de lançar a Apollo 13, a confiança da agência era total. Seria a primeira missão realmente dedicada à ciência, visitando um local de alto interesse dos es�diosos da Lua: a formação Fra Mauro, onde se espera- vam encon�ar rochas ejetadas do im- pacto violento
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