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DIAGNÓSTICO DAS RESSACAS DO ESTADO DO AMAPÁ: BACIAS DO IGARAPÉ DA FORTALEZA E RIO CURIAÚ Cunha, A.C. ; Sousa, J.A. ; Gomes, W. L. ; Baía, J.S.F. ; Cunha, H.F.A. Estudo Preliminar Sobre a Variação Espaço-Temporal de Parâmetros de Qualidade de Água no Igarapé da Fortaleza. pp. 105-136 In: Takiyama, L.R. ; Silva, A.Q. da (orgs.). Diagnóstico das Ressacas do Estado do Amapá: Bacias do Igarapé da Fortaleza e Rio Curiaú, Macapá-AP, CPAQ/IEPA e DGEO/SEMA, 2003, p.105-136. CAPÍTULO 7 Estudo Preliminar Sobre a Variação Espaço-Temporal de Parâmetros da Qualidade da Água no Igarapé da Fortaleza Alan Cavalcanti da Cunha Jaceline de Araújo Sousa Willington Lima Gomes Jorge Socorro Ferreira Baía Helenilza Ferreira Albuquerque Cunha Resumo Este estudo é parte de um projeto mais amplo que envolve quatro rios da região totalizando cinco pontos de coleta no rio Matapi, dois no rio Vila Nova, seis no igarapé da Fortaleza e dois no igarapé do Paxicu. No presente estudo é dada ênfase à micro-bacia do igarapé da Fortaleza, compreendendo principalmente os seis e meio quilômetros do seu canal principal, partindo-se da sua foz. Neste trecho o rio divide os municípios de Macapá (leste) e Santana (oeste), incluindo as áreas urbanas e peri-urbanas dos dois municípios, desaguando no rio Amazonas (sul), e Lagoa dos Índios (norte). A qualidade da água no igarapé da Fortaleza foi estudada no período de setembro de 1999 até setembro de 2002, totalizando três anos de investigação. As coletas foram executadas mensalmente e os parâmetros da qualidade da água analisados foram: coliformes fecais (CF), turbidez, condutividade elétrica, sólidos dissolvidos totais (SDT), sólidos em suspensão (SS), sólidos totais (ST), temperatura do ar e da água, oxigênio dissolvido (OD), demanda bioquímica de oxigênio (DBO) e potencial hidrogeniônico (pH). A análise dos dados resultou em informações sobre saneamento e riscos à saúde pública bem como sobre a qualidade da água da bacia e sua relação com o entorno. Para isto, acrescentou-se a estes componentes a análise sócio-econômica e cultural relevantes na micro-bacia. A evolução espaço-temporal dos parâmetros físico-químicos e bacteriológicos foi analisada e os resultados indicaram um significativo grau de comprometimento e degradação ambiental. Alguns dos principais parâmetros da qualidade da água, tais como número mais provável de coliformes fecais, oxigênio dissolvido, sólidos dissolvidos, suspensos e totais, indicaram que suas variações são complexas e governadas tanto por funções de força climática, de maré quanto antrópica. Contudo, verificou-se que nos três anos de estudo, estas faixas de variação espaço-temporal foram bem determinadas pelo monitoramento, principalmente no igarapé da Fortaleza. A determinação dessas faixas pode ser útil para avaliar a probabilidade e distribuição espaço-temporal que cada parâmetro pode representar à saúde pública e ao meio ambiente, uma vez que a quase completa ausência de informação hidrodinâmica e climática nos induzem a abordar o problema da qualidade da água utilizando modelos estatísticos. A exemplo da concentração de coliformes fecais, onde os níveis têm ultrapassado o aceitável, existem preocupações sérias de que a população ribeirinha tenha elevados riscos de contração de doenças de veiculação hídrica que têm sido sistematicamente registradas pelo centro de Saúde do igarapé da Fortaleza, considerando-se os hábitos culturais de uso dos recursos hídricos em quase todas as atividades vitais da população ribeirinha. Com relação ao ecossistema tem sido observada a deterioração das matas ciliares, erosão das margens, assoreamento intensivo e urbanização desordenada, com reflexos negativos para qualidade da água da bacia. Como conclusão, a presente pesquisa analisou alguns dos principais problemas que começam a afligir os corpos de água da bacia, incorporando suas dimensões ambiental e humana. CAPÍTULO 7 106 7.1. Introdução O presente trabalho de pesquisa explora os meios nos quais as informações das análises microbiológicas obtidas de monitoramento mensal em combinação com dados ambientais básicos podem fornecer luz sobre os fatores que afetam as concentrações de organismos nas águas estuarinas do Estado do Amapá, especificamente nas áreas urbanas e periurbanas das cidades de Macapá e Santana. Neste caso, a principal preocupação é com a saúde pública. Tem-se observado elevados níveis de concentração de coliformes fecais (CF), fortemente associados com precipitação de chuvas, em certas épocas do ano, fontes de esgoto pontuais e difusas na bacia hidrográfica e influência de marés oriundas do Rio Amazonas. A abordagem usada aqui fornece uma ferramenta de gerenciamento para investigação de qualquer um dos seis pontos de monitoramento que incida sobre ou extrapole os padrões da qualidade da água deste corpo d’água. Dado ao avanço e aumento da densidade demográfica e implementação de vários empreendimentos urbanos nestas áreas, tornou-se necessário realizar pesquisas que pudessem diagnosticar os níveis dos impactos que atingem as bacias hidrográficas, especificamente suas águas superficiais, representadas pelos seus rios. O principal desafio é fundamentar, com informações técnico-científicas, o eixo de planejamento e gestão da bacia hidrográfica, tanto na atualidade quanto no futuro, para que as atividades econômicas de desenvolvimento não conflitem com a capacidade de sustentabilidade ambiental. Os principais componentes dos estudos que quantificam a capacidade de suporte ambiental da bacia hidrográfica são aquelas que envolvem a hidrologia e a hidrodinâmica locais, bem como os parâmetros da qualidade da água. Os mesmos devem ser incorporados em suas avaliações, tais como as grandezas físico-químicas e hidráulicas do escoamento que sejam facilmente mensuráveis: a altura da lâmina d’água, declividade do canal, perímetro molhado da seção reta, etc. Por isso a batimetria é importante tanto quanto as coletas de dados de qualidade da água. Os parâmetros hidráulicos influenciam terminantemente na dinâmica de dispersão de substâncias, na autodepuração (Crowther et al., 2000; Cunha, 2001; Cunha et al., 2000, Cunha et al., 2001 a,b), na sedimentação (Lung et al., 1993) e outros processos importantes nos ciclos biogeoquímicos naturais (Velz, 1984; James, 2002). Outro aspecto para o entendimento das causas naturais e antrópicas dos efeitos de poluição dos corpos d’água são os aspectos sócio-econômicos das populações da bacia. Por este motivo foi necessário realizar um levantamento sobre o perfil das atividades antrópicas consideradas mais relevantes, tais como aquelas observadas pela Erro! Vínculo não válido. sobre o Zoneamento Ecológico e Econômico do Diagnóstico Rápido Participativo (DRP) (2002). A Figura 7.1 mostra de forma mais objetiva as áreas de ocupação antrópica e drenagem, a rede viária, os limites da bacia e as quadras das cidades de Macapá e Santana. Observa-se que a partir da foz do igarapé da Fortaleza o primeiro afluente (igarapé do Provedor) apresenta pelo menos quatro ramificações que drenam a cidade de Santana, sendo sua confluência com o igarapé da Fortaleza o ponto de maior contaminação de Coliformes Fecais entre todos os trechos estudados, de acordo com a série histórica observada. As fotos aéreas mostram partes da área estudada – ponte do igarapé da Fortaleza e Bairro do Zerão - podem ser vistas nas Figuras 7.2 e 7.3, respectivamente. Acima se observa a foz do igarapé desembocando no rio Amazonas (Canal do Norte). Logo abaixo é visualizado um dos pontos de coleta (Ponte). Na margem direita localiza-se parte do município de Santana e a esquerda Distrito de Fazendinha, Macapá. A Tabela 7.1 mostra as quatro principais zonas estudadas pelo DRP (2002), segundo a própria visão das comunidades ribeirinhas e dos técnicosque o elaboraram. Tem sido observado por Cunha & Couto (2002) e conseqüentemente pelo monitoramento da qualidade da água a intensificação da pressão antrópica sobre os ambientes aquáticos, além da pressão das comunidades aos órgãos governamentais com relação a uma antiga reivindicação, que é transformar a REBIO (Reserva Biológica da Fazendinha) em Área de Estudo Preliminar Sobre a Variação Espaço-Temporal de Parâmetros de Qualidade de Água no Igarapé da Fortaleza 107 Proteção Ambiental, conforme a ATA da audiência pública referente à mudança de categoria de reserva biológica para área de proteção ambiental, realizada no dia 20 de setembro de 2002. As razões são múltiplas, mas dentre as avaliadas destacam-se principalmente: a) as estruturas básicas como posto de saúde, policiamento e segurança, escolas, etc e os recursos financeiros e humanos para operacionalizá-los; b) a questão ambiental da degradação intensa do igarapé da Fortaleza. Neste caso, consta na ATA da audiência pública que a população solicita a inclusão da APA o canal do igarapé da Fortaleza bem como sua extensão até a Lagoa dos Índios. Tabela 7.1. Zoneamento Ecológico e Econômico na Micro-bacia do igarapé da Fortaleza. Definição de setores importantes para o estudo segundo a visão da própria comunidade e órgãos institucionais participantes do DRP-2002. Zoneamento Econômico Ecológico na Microbacia do igarapé da Fortaleza. Fonte: Cunha et al (2002)*. Zona Características sócio econômicas Características ambientais Provedor - Ponte - Maior concentração populacional e atividades urbanas. - Área ocupada e urbanizada desordenadamente. - Trecho de mata de terra-firme atrás do - Colégio da Fortaleza. - Altos níveis de poluição do igarapé Provedor. - Pequena criação de búfalos. REBIO da Fazendinha - Extração de madeira e coleta de açaí. - Porto 24 horas. - Maior parte das atividades rurais da população (pesca, extração de madeira e palmito e coleta de açaí) é realizada fora da reserva. - A ocupação se dá pela atração dos benefícios dos equipamentos e serviços urbanos. - Floresta de várzea. - Área protegida legalmente. Calha do igarapé Fortaleza e afluentes - Pecuária. - Pequena pesca artesanal de camarão e peixe. - Manejo de açaizal. - Presença de produtores rurais dedicados a roça de cana, milho, macaxeira e sistemas agro- florestais com açaí, cupuaçu, goiaba. - balneários. - Presença de várzea e mata de terra- firme. - Nas cabeceiras de braços do Ig. - Fortaleza ocorrem pequenos igapós que servem como berçários de peixes. - Na terra firme são feitas construções. - A mata ciliar tem sido afetada ‘para implantação de pastos e balneários e extração predatória de palmito de açaí. Lagoa dos Índios e Ressacas de Cima (Congos, Zerão, Buritizal e Infraero) - Lago utilizado como área de lazer, pesca artesanal e banho. - Concentração de comércios e grande número de funcionários públicos. - Existência de uma comunidade remanescente de quilombo com aproximadamente 50 famílias, organizadas em 2 associações. - Produção de farinha, milho e feijão, para comercialização. - Marcado pela lagoa e ressacas. - Alta concentração de infra-estrutura urbana, com residenciais de classe média na lagoa e construções irregulares pela classe baixa nas ressacas. - Resquícios de mata de terra firme no entorno das ressacas. - Altos níveis de poluição. - Ausência de fiscalização ambiental. * Dados ainda não publicados – DRP-SETEC (2002). Na Figura 7.3 observa-se o avanço da urbanização sobre um determinado trecho (igarapé da Volta) do canal do igarapé da Fortaleza. Na margem esquerda (lado direito da foto) localiza-se o bairro do Zerão em Macapá (Cunha & Couto, 2002). CAPÍTULO 7 108 Figura 7.1. Imagem processada da drenagem da micro-bacia do igarapé da Fortaleza mostrando a parte leste da cidade de Santana e a cidade de Macapá. Fonte: SIAG-SEMA (2002). O objetivo geral do projeto do qual faz parte o estudo do igarapé da Fortaleza, é monitorar e avaliar parâmetros físico-químicos, bacteriológicos e hidráulicos relevantes para a avaliação da qualidade da água em escoamentos naturais na bacia do igarapé da Fortaleza, com os seguintes pontos a serem explorados: Estudo Preliminar Sobre a Variação Espaço-Temporal de Parâmetros de Qualidade de Água no Igarapé da Fortaleza 109 Figura 7.2. A foto aérea mostra parte da área estudada no igarapé da Fortaleza, no ponto de coleta número seis (Ponte do igarapé da Fortaleza). Fonte: Cunha & Couto (2002). Foto: Paulo Uchoa. Figura 7.3. Foto aérea mostrando parte da área estuda no igarapé da Volta (ponto de coleta número um) no igarapé da Fortaleza (Bairro do Zerão). Foto: Paulo Uchoa. - Planejamento de futuros estudos de campo como a determinação de parâmetros relevantes para a qualidade da água. - Viabilização e elaboração de modelos matemáticos que incorporem parâmetros físicos e hidrodinâmicos para auxiliar no gerenciamento dos recursos hídricos locais, como os coeficientes de autodepuração física, química e microbiológica; - Sistematização de informações disponíveis sobre o rio Fortaleza junto às entidades ligadas às bacias estudadas, de forma a constituir uma fonte de consulta para pesquisadores e profissionais da área de hidráulica, saneamento e engenharia CAPÍTULO 7 110 ambiental, favorecendo a troca de conhecimentos entre órgãos ambientais e as comunidades locais; - Geração de bases de informações de interesse hidro-sanitário tais como estudo de variação temporal e espacial das concentrações de Coliformes Fecais, OD (Oxigênio Dissolvido) e DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio) e caracterização de fontes poluidoras; - Utilização e elaboração de modelos hidrodinâmicos disponíveis para a simulação de dispersão de poluentes em corpos de água aplicados à realidade Amazônica. - Proposição da utilização da base do Modelo Racional como ferramenta de análise, considerando os principais parâmetros relevantes envolvidos nas suas médias temporais, minimizando os fatores de flutuações das marés e as variações das substâncias passíveis do escoamento. - Elaboração de um diagnóstico sócio-econômico-ambiental da microbacia do igarapé da Fortaleza. 7.2. Metodologia Neste estudo foi reportada a amplitude em que a qualidade da água está sendo afetada pela poluição nas correntes de água de rios estuarinos próximos às cidades de Macapá e Santana. Parâmetros bacteriológicos e físico-químicos foram avaliados em 6 estações de coleta, tal como indicado pela Tabela 7.2 e mostrado na Figura 7.4. Os parâmetros referidos que compreendem os bacteriológicos foram os coliformes fecais. Os parâmetros físico- químicos são aqueles normalmente mais utilizados para a qualidade da água, ou seja, pH, oxigênio dissolvido, turbidez, condutividade elétrica, sólidos dissolvidos, sólidos totais, demanda bioquímica de oxigênio (DBO) e temperaturas do ar e da água. Os trechos escolhidos para o monitoramento da qualidade da água foram determinados por fatores tais como uso da terra, riscos ambientais, influência de tributários por corpos de águas poluídas em áreas urbanas e periurbanas, bem como outras possíveis fontes de poluição (Cunha et al., 2000; Cunha et al., 2001a,b). O período da investigação abrangeu desde o mês de setembro de 1999 até setembro de 2002, configurando-se em 36 campanhas já realizadas. Os pontos de coleta foram geo-referenciados e estão também indicados na Tabela 7.2. Tabela 7.2. Pontos de coleta de qualidade da água geo-referenciados e sob monitoramento, compreendendo igarapé da Fortaleza, Rio Matapi, Rio Vila Nova e igarapé do Paxicu. (Cunha et al., 2001a,b). Ponto de coleta geo-referenciado PontosRegistros Localização Geo-referenciada 1 – Fortaleza – igarapé Volta 2 – Fortaleza – igarapé Jussara 3 – Fortaleza – igarapé Pau Mulato 4 – Fortaleza – igarapé Provedor 5 – Fortaleza – Ponte 6 – Fortaleza – Foz 7 – Matapi – Foz 8 – Matapi – igarapé Correia 9 – Matapi – Balsa 10 – Matapi – Serraria 11 – Matapi – Porto do Céu 12 – Paxicu - Dentro (Matadouro) 13 – Paxicu - Foz 14 – Vila Nova – Canal esquerdo 15 – Vila Nova – E. esquerdo (Foz) 1944 1945 1955 1956 1959 1959 1981 1983 1985 1987 1988 1935 1935 1973 1975 S. 00 01’ 02.0” W051 07’ 06.1” S. 00 01’ 05.9” W051 07’ 28.2” S. 00 01’ 13.8” W051 08’ 01.2” S. 00 02’ 01.6” W051 08’ 40.4” S. 00 02’ 55.5” W051 08’ 17.2” S. 00 03’ 06.0” W051 08’ 24.3” S. 00 02’ 56.6” W051 12’ 07.5” S. 00 01’ 35.0” W051 12’ 19.6” S. 00 00’ 40.2” W051 12’ 13.6” S. 00 00’ 04.9” W051 12’ 12.4” S. 00 00’ 22.6” W051 12’ 04.3” S. 00 03’ 04.2” W051 07’ 07.5” S. 00 03’ 15.1” W051 07’ 05.3” S. 00 04’ 43.1” N051 14’ 59.5” S. 00 04’ 34.2” W051 13’ 48.9” Estudo Preliminar Sobre a Variação Espaço-Temporal de Parâmetros de Qualidade de Água no Igarapé da Fortaleza 111 Re ss a c a d o Bei rol Ig . Ba rre iro Ig. das Pedrinhas Ig ar ap é For tale za Iga rap é Fo rta le za La g o d o Pa co va l Rio Ma ta pi Ig ar ap é Ja ca ré Ig . Mu jú Ig . Fle xe ira Ig . Ta m at at iva Sã o J os é d o M a ta p i Po rto d o C éu Ig . Arraia Fa z. N a za ré Fa z. B oa E sp e ra n ça Re tir o S ã o J os é i G rja . S a nt a H e le na Re t. Sa nt a R ita Re t. Id a d e J e su s Re t. Pa d re In á c io Re t. Pa d re In á ci o Re t. Sa nt a L u zia Re t. Sã o L u ís Sí t. Sa b iá G rja . N . S . d a C o nc ei ç ã o C há c. V o vó A c in d a Re t. Sã o P ed ro G rja . A ve n ov a Sí t. Sa g ui Po lo H o rti g ra nj ei ro Sí tio M a ris c o Re t. C a sc a lh e ira Ri o M a ra pu c u Ig . Pa dr e In á ci o Rio Matapi Ig. Miri Canal de Sa nt an a AM AZO NAS RIO Ig. Ig. Ig. Pro ved or M u c ajá Ig ar a pé Fo rt ale za La g o Ta b a tin g a Ig. Cascalheira Ac a rá U FP - N úc le o d e E d uc a ç ã o EM BR A PA M u se u C o st a Lim a Pa rq ue d e Ex p os iç õ e s Fa ro l Se rr. Pe . I n á c io C o m . I nd . A tlâ n tic o (s e rr. ) C p a. d e S ã o Jo sé Su b st a ç ã o d e S a nt a na ( E LE TR O N O R TE ) ii i i Po rto ( p a rt. ) In d . L e a l S an to s ( p es c a d o) As se m bl é ia d e D e us Br a sz tim b e r ( m a d e ira s ) In d . M un d ia l ( c o ns er va s ) B al sa Ig . C o rr e ia F o z F o z Fo z D e n tr o Po n te P ro ve d o rP a u M u la to Ig . V o lt a C an a l e sq u e rd o F o z E n tr a d a e sq u e rd a S e rr ar ia Ilh a d e S an ta na Ilh a d o F a ro l An a ue ra p u cu El es b ão Eq ua d o r i AP - 010 A P - 01 0 AP - 0 10 AP - 01 0 H o rto M un ic ip a l Pa ra ís o Tr op ic a l SA N TA N A M AC A PA SA N TA N A Vi la il ha d e S a nt an a Vi la d e F a ze nd in ha G ra j. Ta va re s Sí t. Sã o C a et a no Sí t. Se m p re c om D e us Es t. D u q ue d e C a xia s G ra j. Sã o Pa u lo G ra j. A vi a g ro G ra j. A m a n do C a rd o so Sí t. Sã o Jo ã o A C AD EP O L C o lô p ni a P e na l G ra j. An ne C ar o lin a Sí t. Pe d rin ha C o nj . H a b ita c io na l C a b ra lz in ho G ra j. d o P o rtu g u ês Ig r. d e N . S . d o C a rm o Fa z. E q ua d or G ra j.C o uz e AP - 01 0 BR - 21 0 RF FS A EF A Fa z. R o sa s d o s Ve nt o s Re se rv a d e T ra ta m e nt o d e Á gu a AP - 0 1 0 Fa z. S a nt a C ru z Ae ro p o rto In te na ci o na l G o ia b al Vi la C or a ça l Fo rta le za C lo d o a ld o In d . R e ic o n Ra b e lo Ig . Pa xi c u J u ss a ra Ro d ov ia Po n to d e am o st ra g e m Ra m a l Fe rro vi a D re na g e m LE G EN D A C O N VE N Ç Õ ES Ba se a da pt a d a do m a pa d o M un ic íp io d e M a ca pá - Es c. 1 :1 00 00 0 IB G E C EN SO 2 00 0 M ap a d e L o ca li za çã o d o s Po n to s d e A m o st ra g en s Fa z. S . j o sé Po rt o d o C é u Fi gu ra 7 .4 . E xt en sã o da p es qu is a. O s po nt os e m v er m el ho in di ca m o s lo ca is d e co le ta p ar a ca da ri o es tu da do . F on te : C un ha (2 00 1) . CAPÍTULO 7 112 Nos estudos do igarapé da Fortaleza foram escolhidos seis pontos considerados estratégicos e suficientes para a presente investigação, tendo em vista a variabilidade espacial-temporal dos parâmetros físico-químicos e bacteriológicos já estudados (Cunha et al., 2001a, b). No igarapé da Fortaleza o interesse resultou da observação de uma intensa ocupação urbana, desmatamento da mata ciliar, num ritmo considerado preocupante, e sensível diminuição da qualidade da água, facilmente observável durante as visitas prévias inicializadas em setembro de 1999. Além disso, o igarapé da Fortaleza, no âmbito das micro-bacias próximas, parece estar com a qualidade da água sendo alterada num ritmo mais rápido do que os outros corpos de água estudados. O referido corpo de água tornou-se importante também para a análise por ser um afluente próximo do rio Amazonas que se interliga com a lagoa dos Índios, que por sua vez é um ponto turístico tombado pela Lei Estadual 455/99 (Lei das Ressacas), assunto principal deste texto. Neste caso, houve o interesse de realizar estudos comparativos com o rio Matapí, em que ambos apresentam características hidráulicas, físico-químicas e bacteriológicas úteis interessantes para efeito de comparação, principalmente na elaboração de modelosreduzidos do comportamento hidrodinâmico. A Figura 7.5 mostra os limites da bacia hidrográfica do igarapé da Fortaleza. A área indicada pela cor azul indica a extensão da área de estudo dentro da bacia efetivamente estudada pelo monitoramento da qualidade da água, a qual representa cerca de 5% do total da bacia. 7.2.1. Principais Fases de Análise de Água dos Rios Dentre as principais fases do projeto que estão sendo detalhadas na avaliação da capacidade de assimilação de resíduos, compreenderam-se os seguintes itens: a) Avaliação dos impactos ambientais nos rios (incluindo sócio-econômico). b) Identificação e estimativa de cargas de resíduos; c) Definição de fatores hidrológicos e climatológicos; d) Adoção e verificação de fatores de autodepuração; e) Previsão de condições de correntes esperadas; A fase a) é de acompanhamento e de verificação mensal de parâmetros relevantes dentro das bacias hidrográficas estudadas. Muitos impactos sobre a qualidade da água nestes corpos de água já foram sendo observados (Cunha et al., 2000; Cunha et al., 2001a,b; Cunha & Couto, 2002), devido aos problemas de desmatamento, industrialização, urbanização e agricultura. Esta última com elevado comprometimento das matas ciliares, principalmente nos rios Matapi e Fortaleza, pelas características de acesso e localização estratégica que favorecem ocupações desses espaços. As fases b) e c) estão concluídas, apesar de existir ainda grande escassez de informações que possam subsidiar as avaliações e análises de interesse do presente projeto. Esta foi uma etapa que buscou a análise conjunta dos parâmetros da qualidade da água. Basicamente existem alguns dados disponíveis de campo implementada pela pesquisa e pela SEMA, SESA (Secretaria Estadual de Saúde), Posto de Saúde do igarapé da Fortaleza (Santana), bem como da antiga Rede da Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL, até 1999. Porém, ainda não estão disponíveis ou de fácil obtenção em áreas de interesse deste projeto. As fases d) e e) foram as que tiveram maiores dificuldades na sua execução, porque encontra-se dependendo principalmente das análises correntométricas e batimétricas, as quais somente só foram definitivamente cumpridas uma única vez, no final de setembro de 2001, quando o equipamento ADCP fora disponibilizado pela UNB para medições, o qual não permaneceu tempo suficiente no Estado para realizar outros experimentos. Estudo Preliminar Sobre a Variação Espaço-Temporal de Parâmetros de Qualidade de Água no Igarapé da Fortaleza 113 A seguir serão descritas as principais etapas de Análise de Resultados obtidos em testes de campo e laboratório para todos os pontos de coleta, seguindo a distribuição temporal da evolução dos mesmos. Figura 7.5. Bacia do igarapé da Fortaleza, mostrando a área de estudo. Fonte: SIAG-SEMA (2002). CAPÍTULO 7 114 7.2.2. Plano de Trabalho e Cronograma O trabalho de pesquisa se desenvolveu através da definição de algumas etapas (Tabela 7.3): Tabela 7.3. Cronograma de atividades previstas. ATIVIDADES 1999 2000 2001 2002 Revisão Bibliográfica Levantamento da Área de Estudo Coleta de dados em campo – delimitação da área de estudo. Trabalho de campo – coletas e hidrodinâmica Análise dos dados coletados Apresentação do relatório final – DCR* * Conclusão prevista para dezembro de 2002. A primeira etapa foi concluída. Esta compreendeu as atividades que já foram realizadas nos levantamentos da literatura de suporte teórico e histórico relacionadas às especificações físico-químicas da água e estudos sobre modelos de qualidade da água – utilizando-se os recursos logísticos e de laboratório da SEMA-IEPA. Esse levantamento foi complementado na medida em que havia necessidade de novas informações. Outras contribuições foram: - Continuação do levantamento e sistematização de dados estatísticos existentes da qualidade da água e sócio-econômicos e ambientais em excursões de campo, número de habitantes, informações meteorológicas, da qualidade da água e solo, desmatamento de áreas, imigração - que permitiram traçar uma evolução das transformações da bacia através das atividades antrópicas. - Estudo das características físico-químicas, bacteriológicas, sócio-econômicas e hidráulicas nos cursos de água nas bacias citadas. - Campanhas e coletas de dados ao longo dos rios citados, cuja importância estratégica para o gerenciamento de recursos hídricos é comprovadamente relevante. Estão sendo feitas as expansões de informações das planilhas e gráficos de resultados das coletas específicas para fins de análises para o projeto. - Diagnóstico sobre a qualidade da água e variabilidade espaço-temporal dos parâmetros analisados. Geração e estudos dos modelos estatísticos e hidrodinâmicos elaborados. Avaliação, re-interpretação e análise dos dados. Conclusões. 7.2.3. Forma de Análise A avaliação e análise dos dados obtidos em Laboratório de Análises Químicas (SEMA/IEPA) e no campo foram o tema central do estudo. Foram feitos, assim, ajustes de curvas e análise estatística dos parâmetros e comparações entre médias utilizando modelos estatísticos da literatura. Outras contribuições importantes foram: - Proposição de metodologias apropriadas para região. Localização de pontos de coleta ótimos. Análise e coleta de amostras de água, topografia, medidas de velocidade e vazão, área, etc. Estimativa da capacidade de autodepuração dos corpos de água, utilizando modelos de qualidade da água encontrados na literatura. Estudo Preliminar Sobre a Variação Espaço-Temporal de Parâmetros de Qualidade de Água no Igarapé da Fortaleza 115 - Estimar a zonas de mistura e os coeficientes de dispersão longitudinais. - Análise e seleção de trechos importantes para a coleta de amostras. Condições de escoamento predominante: regime permanente e não-permanente dos escoamentos. - Uso de modelos matemáticos disponíveis e determinação da ordem de grandeza dos parâmetros hidráulicos e hidrodinâmicos e sua comparação com dados da literatura. Busca-se avaliar e estimar a qualidade da água em função de simulação de condições reais para o corpo d’água estudado. - Conjugar as principais conclusões obtidas para propor e elaborar estratégias de gerenciamento. Com isto, os possíveis efeitos da poluição das águas sobre a saúde humana podem ser estimados nos municípios que envolvem a bacia hidrográfica, pois algumas doenças de veiculação hídrica dependem fundamentalmente da melhoria da disposição dos excrementos ou efluentes de atividades antrópicas, os quais por sua vez dependem da dinâmica dos parâmetros da qualidade da água. As informações geradas devem auxiliar na legislação sobre águas, no âmbito estadual e municipal, a fim de efetuar uma melhor classificação dos corpos de água. 7.3. Resultados e Discussões Os resultados obtidos são específicos, e não devem ser extrapoladas para outras regiões e sim utilizadas como uma primeira avaliação espaço-temporal local e como um experimento piloto. A razão é que os fatores externos, além daqueles parâmetros de influência da qualidade da água, têm pouca relação com o que se tem obtido das análises de campo e laboratório. Ou seja, até o presente momento, esta análise tem seu principal fundamento a avaliação estatística dos resultados, e não a relação direta de causa-efeito da dinâmica do ecossistema aquático, influências de impactos antrópicos ou até mesmo os fatores climatológicos determinantes envolvidos. As referidas razões são cruciais para que não se façam extrapolações errôneas para outras áreas de outras bacias, mesmo com características semelhantes. 7.3.1. Análise de Coliformes Fecais e a Qualidade da Água O presente resultado mostra uma aparente deteriorização da qualidade da águaem termos de concentração de coliformes fecais nos quatro corpos de água estudados, haja vista a ampla faixa de concentração de coliformes fecais encontrada na região. A Figura 7.6 mostra esta faixa de concentração média global, incluindo-se além do igarapé da Fortaleza, o igarapé do Paxicu, os rios Vila Nova e Matapi. Uma análise mais profunda desta curva de probabilidade de concentração demonstrou que há um certo comportamento cíclico de variabilidade da concentração, conforme a época do ano. Porém, isto demonstra e reforça a hipótese de que ela ocorre mais intensamente nas épocas de início das chuvas, quando ocorrem os maiores picos. Quando picos surgem, elevando demasiadamente seus valores, conclui-se que provavelmente estes são de origem de lançamentos de resíduos (esgotos) que o monitoramento mensal detectara. No gráfico, cada ponto representa a média de 24 coletas (dados globais analisados até setembro de 2001), onde cada ponto é representado pela média dos 24 amostras (sendo seis do igarapé da Fortaleza), que demonstram alterações da qualidade da água nas bacias estudadas. Estão sendo analisados os 12 pontos do ano de 2002 e restante dos meses de 2001. A Figura 7.6 tem como principal finalidade mostrar a probabilidade de ocorrência em que as concentrações de coliformes fecais alcançam um determinado valor Y. Por exemplo, no gráfico observa-se que, partindo-se do eixo das abscissas (50%) até a curva da regressão, e projetando-se uma linha imaginária da curva de regressão para o eixo das ordenadas, há 50% de probabilidade de que a média de concentração entre os 15 pontos analisados seja maior ou igual ao log de 3,25 (acima de 1000/100ml). A curva traçada se ajusta bem a uma CAPÍTULO 7 116 distribuição normal, em que o coeficiente de Pearson (R2 = 0,9284) está próximo de 1. Esta avaliação nos permite concluir que há uma enorme faixa de variação das concentrações de coliformes fecais, tanto do ponto de vista espacial quanto do ponto de vista temporal que está além daquela permita por lei federal. Curva de Probabilidade da Distribuição Temporal Global de Concentração M édia nos Rios Estudados no Amapá - 24 mêses de Coleta e Análise 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 x - probabilidade % Lo g N M P/ 10 0m l y = 0,0189x + 2,3473 R 2 = 0,928 Figura 7.6. Curva de probabilidade da distribuição temporal de coliformes fecais nos quatro rios estuarinos. Na Figura 7.7 observamos a variação temporal de coliformes fecais para o igarapé da Fortaleza, durante os três anos de coleta e discriminados em seis pontos previamente localizados. A linha vermelha no centro do gráfico indica o valor máximo permitido pela Resolução CONAMA – 86, para rios classe 2. Observa-se a elevada freqüência com que os níveis máximos são ultrapassados, observando-se uma leve tendência de elevação, na média, ao longo do tempo. As interrupções de algumas linhas indicam perda ou ausência de coleta no referido ponto ou data. A análise do que está ocorrendo no eixo espacial pode ser explicada pela Tabela 7.4, onde são significativas as correspondentes correlações entre médias e variâncias das concentrações (temporal-espacial) de CF. Esta se dá com maior ênfase entre pontos próximos do que entre pontos distantes. Por exemplo, em média, existe uma correlação de 73% na variabilidade temporal entre o ponto de coleta do igarapé da Volta e o ponto de coleta do igarapé Davi. De forma inversa, há somente 44% de correlação entre o ponto de coleta do igarapé da Volta e o ponto de coleta da Foz do igarapé da Fortaleza. Isto demonstra a grande influência que a dinâmica de marés tem sobre todos os pontos analisados do corpo de água. A Figura 7.7 mostra também que há um elevado grau de risco à saúde humana, além de uma demonstração de significativa alteração dos ecossistemas aquáticos e qualidade da água. A Figura 7.8 mostra de forma mais detalhada a variabilidade temporal da concentração de coliformes fecais durante os três anos de coleta no ponto igarapé da Volta. Os maiores picos foram observados normalmente nos períodos de chuva de 2000 e 2001. Contudo, a tendência atual neste ponto é historicamente de decrescimento da concentração com relação aos anos anteriores. Porém, isto não ocorreu sistematicamente com outros pontos. Pelo contrário, na média, o igarapé da Fortaleza tem mostrado uma tendência de aumento Estudo Preliminar Sobre a Variação Espaço-Temporal de Parâmetros de Qualidade de Água no Igarapé da Fortaleza 117 da concentração. O pico máximo ocorreu em março de 2000, não se repetindo em março de 2001. Variação Temporal da Concentração de Coliformes Fecais no Igarapé da Fortaleza - AP Durante três anos - IEPA/CNPq. Fonte: Cunha (2002) 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 No. Coleta Ig. Volta Ig. Jussara Ig. Davi Ig. Provedor Ponte Foz Conama Figura 7.7. Resultados das análises de coliformes fecais nos seis pontos de coleta do igarapé da Fortaleza, indicando a variação temporal-espacial de CF. Tabela 7.4. Análise de correlação no igarapé da Fortaleza, indicando quão semelhantes ou correlacionados são as concentrações entre os pontos de coleta um do outro. Análise de Correlação – igarapé Fortaleza Volta Jussara Davi Provedor Ponte Foz Igarapé da Volta 1 Igarapé Jussara 0,73 1 Igarapé Davi 0,72 0,62 1 Igarapé Provedor 0,53 0,51 0,66 1 Ponte 0,58 0,63 0,37 0,66 1 Foz Fortaleza 0,44 0,58 0,45 0,59 0,73 1 A Figura 7.9 mostra, de forma mais geral, a freqüência e a curva de probabilidade de coliformes fecais durante três anos de coleta no ponto igarapé da Volta. Uma análise mais profunda do gráfico aponta para uma ampla faixa em que os níveis de concentração de coliformes fecais estão acima do que permite a Resolução N. 20 do CONAMA. Observa-se pelo valor explicitado do coeficiente de Pearson (R2 = 0,92), que a equação de regressão linear (log – normal) está bem ajustada a uma distribuição normal. Além destas avaliações estão sendo realizadas análises estatísticas para cruzamento de dados da qualidade da água com algumas informações do Posto de Saúde do igarapé da Fortaleza. Após tabulação e organização dos mesmos, constatou-se que houve um aumento de incidência de doenças de veiculação hídrica durante os períodos de inverno, pelo menos CAPÍTULO 7 118 entre junho de 1999 até agosto de 2001. Tais fatos, certamente estão ligados a fatores de disposição incorreta de resíduos sólidos, lançamento de esgotos, falta de saneamento básico, lixiviação oriundo das áreas degradadas, desmatamento da mata ciliar e erosão do solo, os quais aumentam em muito a concentração de poluentes nas águas dos rios. Esta última bastante relacionada com sólidos dissolvidos, suspensos e totais na água e outros parâmetros ambientais ou de qualidade da água. Igarapé da Fortaleza - Ponto de Coleta Ig. da Volta - 30 campanhas 0 5000 10000 15000 20000 25000 30000 35000 40000 45000 50000 10 /0 9/ 99 13 /1 2/ 99 18 /0 1/ 00 30 /0 5/ 00 31 /0 7/ 00 26 /0 9/ 00 15 /0 1/ 01 27 /0 3/ 01 28 /0 5/ 01 24 /0 7/ 01 24 /0 9/ 01 26 /1 1/ 01 28 /0 1/ 02 25 /0 3/ 02 27 /0 5/ 02 27 /0 8/ 02 Data da Coleta C ol ifo rm es F ec ai s N M P/ 10 0m l Coliformes NMP/100ml Figura 7.8. Resultados da análise temporal da concentração de coliformes fecais no ponto mais interno da micro-bacia do igarapé da Fortaleza, ou seja, ponto de coleta igarapé da Volta. Curva de Probabilidade de CF - Ig. da Volta - Ig. Fortaleza 1,00 2,00 3,00 4,00 0,0 20,0 40,0 60,0 80,0 100,0 Probabilidadede Ocorrência - % Lo g - C ol ifo rm es F ec ai s (C F) y = 0,0231x + 1,8377 R 2 = 0,9168 Figura 7.9. Resultado da análise da curva de probabilidade de coliformes fecais durante três anos de coleta no ponto igarapé da Volta. Estudo Preliminar Sobre a Variação Espaço-Temporal de Parâmetros de Qualidade de Água no Igarapé da Fortaleza 119 7.3.2. Análise de STD e a Qualidade da Água A exemplo do que foi feito com o parâmetro coliforme fecal, já estão sendo analisados outros parâmetros físico-químicos da qualidade da água, resultantes das campanhas concluídas. Por exemplo, ao se comparar os parâmetros STD ou TDS (inglês) - (sólidos dissolvidos totais – mg/L) entre dois pontos de coleta (igarapé da Volta e igarapé Jussara), observou-se estatisticamente que para este parâmetro não há diferenças significativas entre as médias históricas. A Tabela 7.5 mostra a análise de variância e os resultados desta avaliação comparativa. Dois testes de inferência foram feitos: t-student e análise de variância (ANOVA de fator único). O teste preliminar F de Fisher também avaliou se as variâncias eram ou não homossedásticas, para saber se as variâncias por si só não seriam fontes de variação que iriam ser as causas das possíveis diferenças entre as médias em questão. Tabela 7.5. Análise comparativa para avaliar igualdade entre médias históricas da qualidade da água do parâmetro STD. O mesmo também está sendo feito para todos os outros parâmetros da qualidade da água. Teste-F: duas amostras para variâncias Variável 1 Variável 2 Média 32,81875 35,10625 Variância 1630,388 1569,5632 Observações 32 32 Gl 31 31 F 1,0387527 P(F<=f) uni-caudal 0,4581911 F crítico uni-caudal 1,8221336 Anova: fator único RESUMO Grupo Contagem Soma Média Variância Coluna 1 32 1050,2 32,81875 1630,388 Coluna 2 32 1123,4 35,10625 1569,563 ANOVA Fonte da variação SQ gl MQ F valor-P F crítico Entre grupos 83,7225 1 83,7225 0,052327 0,819815 3,995893 Dentro dos grupos 99198,488 62 1599,976 Total 99282,21 63 Teste-t: duas amostras presumindo variâncias equivalentes Variável 1 Variável 2 Média 32,81875 35,10625 Variância 1630,388 1569,5632 Observações 32 32 Variância agrupada 1599,9756 Hipótese da diferença de média 0 Gl 62 Stat t -0,2287517 P(T<=t) uni-caudal 0,4099074 t crítico uni-caudal 1,669805 P(T<=t) bi-caudal 0,8198147 t crítico bi-caudal 1,9989693 CAPÍTULO 7 120 Os valores em negrito são aqueles correspondentes aos valores críticos do modelo estatístico (t-Student, ANOVA ou Fischer). Quando a análise resulta em valor menor que o crítico, a hipótese de igualdade é mantida. Caso contrário, a análise acusa uma diferença entre as médias comparadas. Pode-se utilizar esta informação para diminuirmos ou acrescentarmos o número de pontos de coleta no corpo de água estudado ou monitorado, ou pelo menos diminuir o número de análise de parâmetros, no caso, STD, se for o caso. Em termos de custos operacionais estas informações são válidas e críticas. É importante observar que as coletas foram realizadas nas marés vazantes, em quase 70% dos casos. A análise dos dados, obtida nos períodos de chuvas, tem apontado para a piora da qualidade da água em muitas situações. Em dias de sol a qualidade da água pode piorar ou não, dependendo da época do ano, em decorrência de efeitos antrópicos, ou marés. As variáveis a serem controladas são tantas que se torna quase impossível fazer uma análise mais profunda, sem o controle das fontes e sumidouros do agente passivo do escoamento. Entretanto, quando na maré enchente, há uma tendência a favorecer uma melhoria da qualidade da água. Mas isso vai depender da dinâmica de lançamento de efluentes na bacia hidrográfica e do tipo de fonte poluidora, como a hora do dia, época do ano, dentre outros fatores. Quando se analisa a série histórica dos valores de STD no igarapé da Volta, por exemplo, observa-se uma aparente tendência da elevação do parâmetro STD a partir do início do ano 2002 (vigésima oitava em diante) (Figura 7.10). A concentração de STD aumentou na média móvel, ou seja, a partir daquele referido período este parâmetro acusou que o sistema aquático ou a qualidade da água mudou de comportamento. Neste caso, observou-se uma mudança brusca da concentração de sólidos no corpo de água, provavelmente em decorrência de lançamento de esgotos e também processos erosivos dos solos na bacia. 0 50 100 150 200 250 Número da Coleta TD S (m g/ l) Real Previsão Igarapé da Fortaleza - Igarapé da Volta - 34 campanhas M édia móvel - TDS (mg/l) Figura 7.10. Variação da média móvel do parâmetro STD ao longo dos três anos de coleta no igarapé da Fortaleza. A Figura 7.11 mostra com maior detalhamento a variação da concentração de STD no eixo temporal. Observa-se o comportamento cíclico de acordo com a época do ano, porém a Estudo Preliminar Sobre a Variação Espaço-Temporal de Parâmetros de Qualidade de Água no Igarapé da Fortaleza 121 série histórica não conseguiu captar em quais meses realmente a concentração de STD é maior. Esta imprevisão pode ser decorrente da grande variabilidade de influências que ocorrem na bacia hidrográfica (ações antrópicas, clima e marés, principalmente). Por isso é importante o cruzamento destes dados com outros parâmetros, a fim de analisar mais profundamente o que está ocorrendo na bacia. Igarapé da Fortaleza - Ig. da Volta 34 campanhas - TDS (mg/l) 10 40 70 100 130 160 190 220 10 /9 /1 99 9 13 /1 2/ 19 99 18 /1 /2 00 0 28 /3 /2 00 0 30 /5 /2 00 0 31 /7 /2 00 0 26 /9 /2 00 0 15 /1 /2 00 1 27 /3 /2 00 1 28 /5 /2 00 1 24 /7 /2 00 1 24 /9 /2 00 1 26 /1 1/ 20 01 28 /1 /2 00 2 25 /3 /2 00 2 27 /5 /2 00 2 Data Só lid os S us pe ns os T ot ai s (m g/ ) TDS mg/l Figura 7.11. Variação temporal da concentração STD nos três anos de coleta no igarapé da Fortaleza (igarapé da Volta), que demonstram alterações da qualidade da água na bacia estudada. 7.3.3. Análise da Condutividade Elétrica e a Qualidade da Água Outro parâmetro da qualidade da água avaliado foi a condutividade elétrica da água. Este parâmetro está intrinsecamente relacionado com a concentração de STD. A exemplo do que foi feito com o parâmetro coliforme fecal e STD, também já estão sendo analisados os dados sobre condutividade elétrica na água. Este parâmetro tem uma forte relação com as intrusões de marés, sendo um excelente indicador de variabilidade de concentração espacial e é muito útil para a determinação de parâmetros hidráulicos como coeficiente de dispersão lateral, longitudinal, etc. Outra importância deste parâmetro é que quando intensamente observado e analisado, é possível de ser utilizado para subsidiar informações hidrodinâmica do corpo de água. Percebe-se uma variabilidade sazonal da concentração durante certas épocas do ano, marcando acentuadamente as épocas de verão (alta concentração de íons) e época de inverno (baixa concentração de íons). A Figura 7.12 mostra esta variabilidade, sendo esta associada à sua média móvel. CAPÍTULO 7 122 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 Número da Campanha uS /c m Real Previsão Igarapé da Fortaleza - Igarapé da Volta - 28 Campanhas Média Móvel (uS/cm ) Figura 7.12. Variação da média móvel ao longo dos três anos de coleta no igarapé da Fortaleza (igarapéda Volta). Não houve uma aparente tendência da elevação do parâmetro condutividade elétrica. Ou seja, houve apenas uma forte tendência deste parâmetro estar relacionado com as variações sazonais. Muito mais do que com a dinâmica provável de causa-efeito de impactos antrópicos na bacia. 7.3.4. Análise do Oxigênio Dissolvido (OD) e a Qualidade da Água Da mesma maneira que os parâmetros coliformes fecais, TDS, condutividade elétrica, também já estão sendo analisados os resultados das concentrações médias de oxigênio dissolvido. Este parâmetro é talvez o mais importante da qualidade da água, sendo fundamental para a manutenção de seres aquáticos aeróbios e facultativos. Contudo há muitas dificuldades de fazer previsões de variação de OD nestes ambientes pelas mesmas razões já comentadas. Pelo fato do OD ser parte essencial de vários processos do ciclo biogeoquímicos do carbono, do nitrogênio, do enxofre, torna-se imprescindível entender ou pelo menos observar como se dá sua variação no tempo e no espaço. Normalmente as concentrações de OD na água corrente varia entre 4 e 9 mg/l. Próximo ao nível do mar, como é o presente caso, quanto maior a temperatura ambiente menor é o grau de saturação de OD na água. Provavelmente, por isso mesmo os níveis observados localmente têm sido baixos. Porém, há outras razões para que o OD se encontre em níveis bem mais baixos do que o 9 mg/l, por exemplo. Presença de matéria orgânica, vida microbiológica aquática, potencial hidrogeniônico – pH, condições de hidráulicas do escoamento, clima, poluição, entre outros. A Figura 7.13 indica a freqüência e a probabilidade de obtenção das concentrações de OD observadas ao longo do tempo no igarapé da Volta. Observa-se que pelo menos 55% das análises acusaram níveis baixos de OD, mostrando uma significativa depleção com relação aos níveis normais (5 – 7 mg/l) para as temperaturas de 28 – 30 graus Celsius. Contudo, não foi possível identificar se este processo é natural ou conseqüência de ação antrópica. Estudo Preliminar Sobre a Variação Espaço-Temporal de Parâmetros de Qualidade de Água no Igarapé da Fortaleza 123 A Figura 7.14 mostra a análise de resíduo para o OD. A dispersão aparentemente aleatória do dos pontos mostra que as análises de campo não apresentam erros sistemáticos ou quaisquer outros que possam indicar um falsa relação da curva indicada na Figura 7.13. Curva de Probabilidade de OD - Ig. da Volta - Ig. Fortaleza y = 0.0419x + 1.5795 R 2 = 0.9107 1.0 2.0 3.0 4.0 5.0 6.0 7.0 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Probabilidade X - Ocorrência em % C on ce nt ra çã o O D (m g/ l) Serial (mg/l) OD (mg/l) Linear (Serial (mg/l) OD (mg/l)) Figura 7.13. A curva de probabilidade da concentração de oxigênio dissolvido no igarapé da Fortaleza, ponto de coleta do igarapé da Volta. Apenas dezoito coletas para OD foram realizadas. Análise de Resíduos para o OD - Ig. Volta - Fortaleza -3 -2 -1 0 1 2 3 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 Número da Coleta Mensal R es íd uo s O D Figura 7.14. Análise de resíduos com relação ao parâmetro OD indica que o modelo linear obtido da regressão está bem representado. CAPÍTULO 7 124 7.3.5. Análise de pH e a Qualidade da Água O parâmetro da qualidade da água – potencial hidrogeniônico (pH) - tem uma importância fundamental ao equilíbrio osmótico dos seres aquáticos, ciclos biogeoquímicos, controle e regulação das reações bioquímicas nos ecossistemas aquáticos. A Figura 7.15 mostra a curva de probabilidade do pH no igarapé da Volta, demonstrando um comportamento variando do levemente ácido ao de neutralidade (5 < pH < 7,0), devido às características do solo, presença de matéria orgânica e chuvas, naturalmente levemente ácidas. Estas faixas eram esperadas dentro de um certo limite. Contudo, há uma tendência para a acidificação das águas devidos aos processos erosivos, já acusados pelo parâmetros STD, os quais podem influenciar na acidez e qualidade da água. Curva de Probabilidade de pH - Ig. da Volta - Ig. Fortaleza 5.0 5.5 6.0 6.5 7.0 0.0 10.0 20.0 30.0 40.0 50.0 60.0 70.0 80.0 90.0 100.0 Probabilidade X - ocorrência % Va lo re s de p H y = 0.0127x + 5.6386 R2 = 0.9113 Figura 7.15. Curva de probabilidade do pH no igarapé da Volta. Trinta e três análises foram realizadas e o ajuste da curva indica que três pontos, o primeiro e os dois últimos podem ser descartados na modelagem. Esta dispersão também aparentemente aleatória dos pontos mostra que as análises de campo não apresentam erros sistemáticos ou quaisquer outros que possam indicar um falsa relação da curva indicada na Figura 7.16. Esse tipo de análise será muito útil na elaboração e escolha de modelos matemáticos que relacionam entre si outros parâmetros da qualidade da água na análise de regressão múltipla, por exemplo. 7.3.6. Análise dos Parâmetros Hidrodinâmicos e a Qualidade da Água Os parâmetros hidrodinâmicos são essenciais para a correta avaliação da qualidade da água no eixo temporal-espacial, uma vez que aqueles determinam o tempo de viagem das plumas de poluentes, a velocidade e a distância de influência no corpo de água. De acordo com Streeter & Phelps, (1925), Cunha et al. (2001a,b), McCutcheon (1989), Velz (1984), Wrobel (1989), Helou (1994), Siqueira (1996), Siqueira & Cunha (2001), Lung (1993), Rutherford (1994), Runkel (1997), entre outros, este pode ser mais importante para o entendimento do comportamento da qualidade da água do que os próprios parâmetros já analisados anteriormente, como OD, STD, pH, turbidez, etc. Estudo Preliminar Sobre a Variação Espaço-Temporal de Parâmetros de Qualidade de Água no Igarapé da Fortaleza 125 Ig. Fortaleza - Ig. Da Volta - Análise de Resíduos para o pH - -1.1 -0.6 -0.1 0.4 0.9 0 6 12 18 24 30 36 Número da Coleta R es íd uo s - p H Figura 7.16. Análise de resíduos com relação ao parâmetro pH. Os parâmetros hidrodinâmicos estão estreitamente relacionados com a capacidade de diluição, dispersiva e autodepurativa do corpo de água. Esta por sua vez sempre está intrinsecamente relacionada com a hidrologia ou hidrodinâmica e clima locais. Refletem-se nas características hidráulicas naturais dos canais e estes, sendo que cada um é único do ponto de vista da autodepuração do corpo de água. Adiante será demonstrado como estas informações podem ser úteis neste tipo de análise, entendendo como uma pluma de poluente ou carga poluidora lançada no corpo de água é transportada, diluída ou mesmo dispersa neste ambiente. Para ser mais objetivo ilustrar-se-á na análise uma fonte poluente (esgoto) lançado num ponto qualquer de um trecho do igarapé da Fortaleza, como por exemplo, no igarapé da Volta, na maré vazante. Assume-se que a duração do lançamento seja de cerca de 2 horas, a vazão, a velocidade e as características geométricas do canal não mudem significativamente durante todo o lançamento hipotético do poluente. 7.3.6.1. Análise de Runkel – Modelo Matemático Linear para uma Fonte Finita de Contaminação Runkel (1997) apresentou uma solução analítica interessante para os casos onde a fonte de lançamento do traçador ou poluente (conservativo ou não) era contínua, porém de duração finita, ao contrário do que a literatura apresenta, isto é, lançamento com tempo infinito. A solução da equação de difusão-advecção é dada pela equação abaixo: ( ) ( ) ( ) ( ) − Γ−+− Γ+ Γ++ + − Γ−−− Γ− Γ− = τ τ τ τ tD tUxerfcDt Utxerfc D Ux tD tUxerfc Dt Utxerfc D Ux CtxC 2 ) 2 )1( 2 exp... ... 2 ) 2 )1( 2 exp 2 ),( 0 (7.1) CAPÍTULO 7 126 onde: H21+=Γ (7.2) 2 2 U DH λ= (7.3) e C = concentração [ML-3], t = tempo [t], τ = duração do lançamento [t], U = velocidade do escoamento [Lt-1], x = distância [L], D = coeficiente de dispersão [L2t-1], e λ = coeficiente de taxa de reação de primeira ordem [t-1]. A Tabela 7.6 mostra os parâmetros e variáveis utilizadas para a simulação. Os dados hidrodinâmicos foram medidos localmente (09/09/2001) e o resultado da análise foi: Dados de Campo – Vazão Média Estimada para um Ciclo de Maré de 13 horas. Enchente: Q entre - 0 m3/s e - 69 m3/s: Vazante: Q entre + 0 m3/s e + 65 m3/s: Dados de Campo – Velocidade Média Estimada Enchente: U entre - 0 m/s e – 0,40 m/s: Vazante: U entre + 0 m/s e + 0,39 m/s: Tabela 7.6. Valores de Parâmetros e Variáveis utilizadas dentro da faixa compreendida nas medições em campo. Data da medição ADCP realizado em 09 de setembro de 2001. Equação Analítica Geral - Duração Finita (Runkel) D/U.x = 0,5000 H = 2.Lam.D/U^2 H = 0,0000 Gama = Sqrt(1+2H) Gama = 1,0000 Co = 100,00000 mg/l Co = 100,00 U = 0,1 m/s U = 0,1000 Lam = 0,00001 s-1 Lam = 0,0001 D = 5,0 m2/s D = 5,0000 A Equação 7.1 foi avaliada e testada utilizando-se alguns dos parâmetros hidráulicos já obtidos no presente estudo. Pode-se executar uma avaliação do estudo do modelo utilizando alguns dados hidrodinâmicos obtidos no igarapé da Fortaleza, conforme mostrado na Figura 7.17. Os detalhes da obtenção desses resultados estão mostrados no Capítulo 8, deste relatório e fazem parte das atividades do projeto Hidrodinâmica e Morfodinâmica da Orla Fluvial – entre o Rio Vila Nova e o Canal do Jandiá – Um subsídio ao Planejamento de Obras Públicas, executado pelo IEPA. O trecho escolhido para a simulação é um ponto entre o igarapé do Provedor e a Ponte do igarapé da Fortaleza. Neste ponto a Largura média era de 40 m, profundidade média de 6m e a velocidade média de 0,28 m/s. (considera-se que a vazão, a altura, e a velocidade, apesar da maré, variaram de forma insignificante). As simulações estão sendo aperfeiçoadas para o igarapé da Fortaleza. Em trechos estudados no Matapi e Vila Nova talvez a condição unidimensional não se aplique. A partir das futuras análises estas informações serão úteis para auxiliar nos estudos de caracterização hidrodinâmica, envolvendo a reaeração atmosférica, dispersão lateral e longitudinal, diluição e suas associações com a qualidade da água. A limitação da análise é que somente foi possível realizar uma única medição de descarga, em decorrência das limitações ou inexistência de equipamentos dessa natureza no IEPA. Estudo Preliminar Sobre a Variação Espaço-Temporal de Parâmetros de Qualidade de Água no Igarapé da Fortaleza 127 Simulação de Dispersão Unidimensional - Fonte de Duração Finita - Rankel 11 0 10 20 30 40 50 60 70 80 0 2000 4000 6000 8000 10000 12000 Tempo (s) C (m g /l ) c(x,t) = (mg/l) Figura 7.17. Solução para a equação de adveção-difusão: carga orgânica contínua de duração finita, fundamentada em Runkel (1997). A solução representa a pluma à jusante do ponto de lançamento. Até o presente momento as análises realizadas demonstram a abordagem preliminar e a amplitude do estudo na presente pesquisa. Da mesma forma como que no igarapé da Volta, análises completas dos outros pontos serão realizadas. As implementações finais, contudo, necessitam das medições adicionais de correntometria a serem realizadas simultaneamente com as medições de parâmetros da qualidade da água. Assim, dever-se-á eliminar as flutuações das marés, trabalhando com médias efetivas para simplificação das análises. Somente desta forma poder-se-á obter conclusões mais confiáveis para melhor entender a dinâmica dos ecossistemas aquáticos da região. No final dos estudos, espera-se ter os subsídios mínimos para elaborar algoritmos computacionais que reflitam e simulem as realísticas condições e resultados aqui demonstrados, desde que o monitoramento da qualidade e quantidade da água forem mantidos ou mais intensamente implementados. A geração de séries históricas é uma limitação momentânea que deve ser superada. A idéia é usar o método racional (com medições intensas correntométricas durante vários ciclos de marés com freqüência mensal), dará o suporte definitivo muito forte nas simulações de modelos elaborados regionalmente ou existentes na literatura. Não esquecendo os fatores sócio-econômicos, culturais e de hábitos de lançamento de efluentes nos corpos de água naturais, estas informações balizarão de forma contundente as tomadas de decisão, monitoramento, fiscalização e legislação dos corpos de água na bacia do igarapé da Fortaleza. E poderá expandir-se para outras bacias durante o avanço da implementação do Programa Estadual de Monitoramento de Clima, Tempo e Recursos Hídricos (PMCTRH) num breve futuro. 7.5. Considerações Finais A rápida urbanização e o crescimento das atividades antrópicas nos recentes anos têm causado impactos nos corpos naturais de água devido à inconveniente ação de lançamento de águas residuárias nas correntes com muito pouco ou quase nenhum tratamento. Como CAPÍTULO 7 128 conseqüência, existe uma notável redução de áreas úteis com impedimento de uso da bacia hidrográfica do igarapé da Fortaleza, tanto em Macapá quanto em Santana. A ocupação do espaço territorial de forma desordenada e falta de infra-estrutura adequada de saneamento podem representar grandes riscos para as comunidades ribeirinhas e outras populações que vivem em áreas de ressacas. Torna-se necessária a implementação de medidas de controle de descargas adequadas, controle de lançamento de efluentes agrícolas (runoff - escoamento superficial difuso), sendo muito importante a construção de sistemas de tratamento de esgotos para a região, respeitando-se sua dinâmica, seu espaço e sua cultura local, principalmente no que concerne ao igarapé do Paraíso que lança no igarapé do Provedor esgoto bruto de Santana. No aspecto local, no âmbito da pesquisa ora descrita, foi possível avaliar algumas características que geraram informações úteis para a região. Tais informações serão certamente base para um banco de dados mais abrangente (SIAG/SEMA, por exemplo), os quais objetivam direcionar esse futuro programa de monitoramento do estado, com alguns benefícios observáveis: a) Fornecer informações para um melhor planejamento dos recursos hídricos na região sudeste do Estado, onde se encontra a maior parte da população e oferece os maiores riscos ambientais e de Saúde Pública; b) Auxiliar em estudos de impactos ambientais sobre as bacias hidrográficas e os riscos inerentes; c) Estabelecer um plano de monitoramento para os rios estuarinos do sudeste do Amapá; d) Identificar fontes de poluição doméstica, agrícola (urbana e rural) e industrial. O Projeto de Lei que protege as áreas de Ressacas (onde se concentram as áreas urbanas de Macapá e Santana) ainda encontra-se tramitando na Procuradoria do Estado para a sua regulamentação. Neste aspecto, se não implementá-la o mais depressa possível, o Estado terá grandes dificuldades para executar um controle da qualidade de seus corpos de água, bem como usufruir recursos financeiros oriundos de projetos externos federais e internacionais. Algumas iniciativas estão sendo implementadas através de projetos do IEPA-SEPLAN (Projeto Diagnóstico Ambiental das Ressacas), em conjunto com outras instituições do Estado. O estudo pode fornecer os primeiros subsídios e ferramentas para avaliar futuros impactos ambientais sobre os Recursos Hídricos, diagnosticando áreas de interesseambiental e regulamentações de uso dessas áreas e dos Recursos Hídricos. Mas de nada adiantará serem implementada toda uma rede de trabalho e investigação se a população desconhece estes objetivos e a utilidade desses projetos. É necessário se iniciar um amplo debate sobre a Educação Ambiental voltada para os problemas reais das Bacias Hidrográficas. Além disso, há ainda um certo desconhecimento das interfaces importantes, como as educacionais, legais, Saúde Pública, controle e monitoramento dos Recursos Hídricos. A SEMA deverá continuar monitorando estes corpos de água com o apoio do IEPA. O sistema de monitoramento deverá ser ampliado tornando mais fácil executar o controle de pontos críticos, implementar planos de gestão ambiental, pesquisas e avaliações de impactos ambientais, bem como obtenção de dados informativos para futuras implantações de estações de tratamento de efluentes e de controle de cheias, bem como seus riscos. Atualmente o que se vê é um monitoramento da quantidade de água na região norte do Estado que não está integrado com as políticas governamentais. Tanto o monitoramento quantitativo quanto o qualitativo devem ser integrado o quanto antes, a fim de melhorar a confiabilidade das séries históricas das informações sobre os corpos de água da região. Ambas, quando obtidas separadamente são, por si só, insuficientes para a tomada de decisão confiável e, por isso mesmo, devem ser complementadas utilizando o que de real Estudo Preliminar Sobre a Variação Espaço-Temporal de Parâmetros de Qualidade de Água no Igarapé da Fortaleza 129 existe em estrutura, equipamentos e recursos humanos para implementar o monitoramento em todo o Estado de forma mais integrada. Desta forma, busca-se entender as verdadeiras relações entre causas e efeitos de poluição sobre a qualidade da água nas bacias hidrográficas (Cunha, 2000). Essa visão ampla do monitoramento e dos estudos sobre a qualidade da água, bem como sua gestão visa um maior controle e manutenção dos padrões da qualidade da água, visando seus usos múltiplos, tanto no abastecimento de água potável quanto em outras prioridades, como o saneamento básico, drenagem e disposição final de resíduos. Destacam-se principalmente os mais importantes: a) Suprimento de água de abastecimento e alimentação; b) Recreação: turismo, banho, esportes aquáticos, velejamento; c) Irrigação; d) Navegação g) Pesca de peixes, mariscos h) Aqüicultura; g) Necessidade de disposição final de resíduos de comunidades, indústrias, agricultura e fontes naturais. Como mostra a Tabela 7.7, a utilização das águas nestes rios implicam já em algumas restrições de uso, tais como: pesca, banho, alimentação, higiene e outros. As áreas que apresentam alguma alteração na qualidade da água são naturalmente não utilizadas, mesmo que a população não tenha consciência real de que esta pode estar em condições inadequadas. Por exemplo: parte dos pescadores do igarapé da Fortaleza não gosta de pescar neste rio, mostrando como resultado deste comportamento a certa relação de causa e efeitos negativos sobre meio ambiente e sobre a Saúde Pública de modo geral. Tabela 7.7. Utilização das águas dos rios para diversas atividades, em percentuais de respostas dadas dos entrevistados. (CUNHA et al. 2001a,b) Matapi Fortaleza Vila Nova Paxicu Utilização do rio Total % Total % Total % Total % Pesca 23 89 24 48 19 95 3 16 Banho 23 89 37 74 20 100 4 20 Alimentação 22 85 8 16 16 80 0 0 Navegação 19 73 4 8 19 95 2 10 Higiene de animais 13 50 13 12 10 50 0 0 Irrigação 3 12 0 0 2 10 0 0 Não utiliza 1 4 0 0 0 0 14 74 A Tabela 7.8 mostra um dos indicativos que deverão nortear as seqüências temporais causadas por stress ambiental causado pela poluição hídrica, dentre os quais alguns já estão sendo detectados nos ecossistemas locais e pela própria população ribeirinha de Macapá e Santana. O igarapé da Fortaleza apresentou características de poluição urbana (esgoto bruto) e rural (resíduo de pasto) e desmatamento bastante preocupantes, merecendo uma atenção especial pela sua importância para as cidades de Macapá e Santana. Outra atenção CAPÍTULO 7 130 especial que deve ser dada ao igarapé da Fortaleza é pela sua importância como canal de drenagem para a Lagoa dos Índios, a qual é um patrimônio natural urbano de Macapá. Observa-se que quanto mais urbano é o rio, maior é sua restrição de uso. Nota-se pela Tabela 7.8 que facilmente pode se avaliar esta afirmação comparando os dados do rio Vila Nova (mais distante da área urbana) com o Paxicu (mais próximo da área urbana). Intermediariamente encontram-se os rios Matapi, segundo melhor, seguido pelo igarapé da Fortaleza. Neste tipo de avaliação prevaleceu a lógica. Contudo, é importante manter o monitoramento para averiguar se a tendência comportamental da qualidade da água será mantida. Tabela 7.8. Mudanças atuais e futuras que poderão ser percebidas na qualidade da água das áreas estudadas em termos dos efeitos de stress causados pela poluição sobre a vida aquática e bacias hidrográficas, adaptadas de Sinderman (1995). Sequência Temporal Efeitos Negativos da Contaminação Atual Estágio de Entendimento no Estado do Amapá Imediato Detecção de mudanças de comportamentos dos ambientes Efeitos sobre os sistemas neurais e endócrinos de peixes e outros. Efeitos sobre as membranas epiteliais de peixes e outros. Devastação das matas ciliares, desaparecimento de espécies de peixes e mariscos; desaparecimento de animais silvestres e pássaros. Invasão da urbanização, pasto e agricultura. Em menor, escala a indústria. Não há estudos locais sobre estes aspectos ou efeitos desconhecidos. Não há estudos locais sobre estes aspectos ou efeitos desconhecidos. Minutos a dias Respostas Bioquímicas Alteração no metabolismo, fluidos dos corpos e enzimas Não há estudos locais sobre estes aspectos ou efeitos desconhecidos. Horas a semanas Respostas Fisiológicas: Consumo de oxigênio Balanço osmótico Alimentação Digestão Não há estudos locais sobre estes aspectos ou efeitos desconhecidos. Nas águas dos rios estudados apenas se tem observado baixos níveis de oxigênio, mas que se supõem serem normais para a região e característico dos rios amazônicos. Em casos esporádicos já se detectou concentrações de até 3,5 mg/l, no Paxicu, o que é preocupante. Outro fator importante é o pH levemente ácido que têm sua importância para o balanço osmótico e bioquímico dos peixes. Alterações das faixas normais têm sido observadas no rio Paxicu e Fortaleza. É fato que quando se desmatam as margens dos rios, deixa-se de produzir os alimentos dos peixes: faltam as sementes, as folhas, os frutos e outros. Esse fator, além da pesca predatória, é basicamente um dos prováveis diminuidores da disponibilidade de peixes antes abundantes em alguns dos rios estudados. Além disso, o desbarrancamento dos rios podem provocar intensas influências sobre diminuição da penetração de luz, aumento da turbidez e sedimentos na água, que influenciam na biota bentônica e de superfície, alterando a cadeia alimentar dos animais superiores. Dias a meses Desempenho fisiológico alterado: Crescimento e Reprodução Não há estudos locais sobre estes aspectos ou efeitos desconhecidos. Estudo Preliminar Sobre a Variação Espaço-Temporal de Parâmetros de Qualidade de Água no Igarapé da Fortaleza 131 Sequência Efeitos Negativos da Atual Estágio de Entendimento no Estado do Amapá Temporal Contaminação Meses a Anos Impacto na população humana e ictiofauna Restrição de uso amplo da água e de seus recursos aquáticos(peixes, crustáceos, mariscos). Água potável, mesmo quando existente, não é segura, porque outras formas de contato de risco são o banho, alimentos, cozinhamento, com água de rio contaminada. Altos níveis de coliformes fecais (elevados níveis de matéria orgânica), alterações de pH, alterações elevadas na turbidez, além das faixas normais; Problemas nos ecossistemas e de Saúde Pública. Assoreamento de rios. Restrição para a navegação e Captação de água. Aumento progressivo de risco de doenças de veiculação hídrica. Devido ao saneamento básico extremamente difícil de ser efetivado em conseqüência das muitas restrições físicas e naturais de entradas de caminhões de lixo nestas áreas (palafitas), dificuldades de implementação de infra-estrutura para esgoto e água potável. Contaminação dos lençóis freáticos e morte e sepultamento de pequenos córregos que drenam as bacias hidrográficas. Anos a décadas Estrutura de comunidades, Estrutura e Função do Ecossistema Não há estudos sobre estes aspectos ou efeitos desconhecidos. O Período de estudo exige um acompanhamento que extrapolam a atual condição do Estado para avaliar esses efeitos. Todo o entendimento da dinâmica da bacia está concentrado nestes projetos citados no texto. É necessária e urgente a implantação de sistemas de monitoramento e estruturas de contenção da poluição, basicamente estações ou dispositivos de tratamento e disposição de efluentes. Em Macapá e Santana observou-se que os hábitos da população em utilizar as águas sob alto risco, na orla estuarina, já podem estar se refletindo em problemas de Saúde Pública. Ou seja, é difícil entender por quê a população não apresenta índices de morbidade maiores do que o esperado, uma vez que é muito comum o uso desses locais como balneários públicos, processamento de alimentos, usos domésticos e outros. Na linha de discussão aqui arrolada, deve-se crer que o poder autodepurativo dos corpos de água é uma das componentes importantes que favorecem uma menor morbidade do que aquela esperada para muitas das situações observadas. Por outro lado, além dos resultados de exames bacteriológicos de amostras de água em laboratório, a interpretação da qualidade da água destinada para o uso e contato humano depende fortemente da extensão da investigação detalhada em campo e da observação vigilante da área tributária ao curso d’água estudado (Cunha et al., 2001b). O padrão sazonal de contribuição de bactérias coliformes per capta é um fator importante que controla estas variações de concentração de coliformes fecais na água. Desta forma, a literatura pertinente sugere que a evidência aponta para um período de máxima contribuição como nas estações mais quentes (Velz, 1984). Mas, contrariamente, Cunha et al. (2001a,b) afirmam que, nos ambientes da Zona Estuarina do Estado do Amapá estudado, a influência sazonal provavelmente seja muito mais dependente das precipitações das estações chuvosas e da dinâmica antrópica da bacia do que propriamente da maior elevação de temperatura, nas estiagens, por causa de seu comportamento pouco variável ao longo do ano. O fato pode ser melhor interpretado quando se avaliam os resultados de análises de coliformes fecais, maior turbidez nas águas nos períodos de chuvas, no início do inverno. Torna-se evidente que toda a carga de poluentes urbana é lixiviada para as áreas de drenagens com forte impacto na qualidade da água no início das chuvas. Em Cunha et al. (2001a,b), foram mostrados que durante o período de inverno, ou de maior incidência das chuvas, entre dezembro e abril, o número de doenças de veiculação hídrica é CAPÍTULO 7 132 signifcativamente maior do que no verão, contrariando a hipótese de que no inverno esta incidência diminuiria. Contudo, esta tendência não tem sido mantida para todos os parâmetros da qualidade da água, nem espacial nem temporalmente de forma generalizada. Neste aspecto, podemos notar as causas principais. No que se refere às precárias condições de drenagem e saneamento das áreas urbanas, peri-urbanas e rurais, nas principais cidades ou vilarejos, essa hipótese é sustentada, uma vez que as condições de infra-estrutura não são suficientes para evitar uma contaminação elevada dos corpos de água, tais como as encontrada nos rios Fortaleza, Matapi e Paxicu. Poucas foram as ocasiões em que os níveis de coliformes não resultaram em número elevado. Poucas são as exceções em que estes níveis estão abaixo do padrão Resolução – 20 do CONAMA. Neste caso, a poluição difusa tem um papel muito importante e deve ser considerada como a principal causa de contaminação nas áreas estudadas, exceto no Paxicu, em que a fonte de contaminação é bem definida pelo matadouro municipal e áreas urbanas próximas e também no igarapé do Provedor, cuja poluição é oriunda das cabeceiras localizadas no área periurbana de Santana. As análises finais do projeto estão sendo conduzidas pontualmente e globalmente. Isto é, estão sendo realizadas análises de cada ponto de coleta, com sua respectiva variabilidade temporal, bem como as análises da distribuição espacial de cada parâmetro, por corpo d’água. Contudo, neste caso, pode-se concluir que a complexidade dinâmica dos rios estuarinos estudados leva a muitas abordagens e interpretações sobre a avaliação de dispersão, diluição e autopurificação dos corpos de água. Uma grande quantidade de variáveis independentes é normalmente envolvida, mas, por outro lado, somente pouco das variáveis necessárias são realmente medidas e um número considerável de hipóteses deve ser elaborada na aplicação dos modelos de interesse para os rios estuarinos específicos. É urgente e necessária a atenção para principalmente coleta de dados e informação básica, especialmente hidrológica e climatológica, de forma que se possam computar as relações de causa-efeito que representem a dinâmica da dispersão e autodepuração em diversos corpos de água no mundo todo, tal como indicado nos estudos de Sun et al., (2001), Crowther et al., (2001) e Amon et al., (1993). Os consideráveis avanços têm sido feitos nos recentes anos nos elementos necessários para a previsão da qualidade da água na região estuarina do Estado do Amapá, especialmente na obtenção de informações sobre vários parâmetros da qualidade da água em áreas nunca estudadas anteriormente. Estes dados são importantes como entrada nos modelos da qualidade da água, os quais poderão ser utilizados na futura modelagem regionalizada. Ao mesmo tempo, as informações são úteis como balizamento estatístico, formando uma seqüência histórica de dados, os quais poderão modificar-se no curto, médio e longo prazos, evidenciando-se tendências comportamentais de cada parâmetro da qualidade da água nos eixos temporal e espacial da bacia hidrográfica. De acordo com Cunha et al., (2001b), a análise estatística, apesar de não relacionar a causa e efeito da qualidade da água, é passível de ser avaliada e testada com relação ao comportamento real da qualidade da água. Quando se deseja realizar coleta, em qualquer período ou trecho do corpo d’água estudado, é possível avaliar se as concentrações obtidas em análises estão dentro das faixas observadas pelo modelo estatístico. Caso afirmativo, o modelo está representando com fidedignidade a variação do parâmetro no corpo de água. Em caso negativo, é provável que o modelo não tenha observado alterações importantes que extrapolaram as faixas históricas anteriormente observadas. Neste caso, testa-se o modelo e fazem-se as alterações necessárias, adaptando-o à nova realidade. Contudo, este tipo de resultado não pode ser diretamente relacionado com a hidrodinâmica, ou com efeitos sazonais climáticos, ou mesmo antrópicos, os quais são justamente os elementos mais influentes e modificadores das concentrações e, conseqüentemente, da qualidade
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