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Sociologia da educacao Final

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Prévia do material em texto

Sociologia da Educação
FERNANDA SANSÃO RAMOS MATTOS
1ª Edição
Brasília/DF - 2018
Autores
Fernanda Sansão Ramos Mattos
Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e 
Editoração
Sumário
Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa ..................................................................................................... 4
Introdução ............................................................................................................................................................................. 6
Aula 1
Sociologia e Educação ................................................................................................................................................ 7
Aula 2
Em busca de uma ciência para entender a sociedade ..................................................................................28
Aula 3
Max Weber e a ação social ......................................................................................................................................45
Aula 4
Émile Durkheim e os fatos sociais ........................................................................................................................58
Aula 5
Karl Marx e a educação transformadora ............................................................................................................74
Aula 6
Dos clássicos ao pensamento contemporâneo ................................................................................................90
Referências ....................................................................................................................................................................104
4
Organização do Caderno de 
Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, 
de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com 
questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. 
Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras 
e pesquisas complementares.
A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de 
Estudos e Pesquisa.
Atenção
Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a 
síntese/conclusão do assunto abordado.
Cuidado
Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o 
aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado.
Importante
Indicado para ressaltar trechos importantes do texto.
Observe a Lei
Conjunto de normas que dispõem sobre determinada matéria, ou seja, ela é origem, 
a fonte primária sobre um determinado assunto.
5
ORgAnIzAçãO DO CADERnO DE EStuDOS E PESquISA
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa 
e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. 
É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus 
sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas 
conclusões.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes 
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor 
conteudista.
Saiba mais
Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões 
sobre o assunto abordado.
Sintetizando
Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o 
entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.
Sugestão de estudo complementar
Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, 
discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.
Posicionamento do autor
Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o 
aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado.
6
Introdução
A Sociologia da Educação pode ser entendida como uma área específica de estudo em que o 
olhar sociológico é utilizado como forma de melhor compreender as dinâmicas da vida social, 
as relações que se estabelecem no processo educativo e as disputas de força pertinentes ao fazer 
educacional enquanto aspecto político da vida em sociedade.
Para estabelecer com segurança esta discussão, nosso estudo está dividido em seis capítulos.
No primeiro, justificaremos a presença da disciplina Sociologia da Educação na grade curricular 
de formação docente, apresentando, de forma ampla, as contribuições das reflexões sociológicas 
para o fazer cotidiano do professor. 
No segundo capítulo, definiremos Sociologia enquanto estudo das sociedades, que prima pela 
observação objetiva, sistemática e metódica dos fenômenos sociais, em sintonia com o tipo de 
construção de conhecimento proposto pelas ciências da natureza. 
Posteriormente, iniciaremos o estudo teórico dos autores clássicos da Sociologia, que se estenderá 
ao longo de três capítulos. No capítulo 3 estudaremos o sociólogo alemão Max Weber; no 4 a obra 
do funcionalista francês Émile Durkheim e, por fim, no capítulo 5 analisaremos a sociologia de 
Karl Marx. 
A compreensão do pensamento desses três autores será fundamental para que no capítulo 6 
possamos analisar as correntes mais contemporâneas da Sociologia da Educação, aquelas que, 
nos dias de hoje, vêm dando sustentação à reflexão teórica e metodológica a respeito da prática 
docente e dos demais aspectos das relações de ensino e aprendizagem.
Esperamos que ao final deste material você tenha compreendido a importância da reflexão 
sociológica para o fazer do professor, e que se sinta estimulado a desenvolver suas próprias 
investigações e reflexões sobre o tema.
Objetivos 
 » Justificar a importância da Sociologia na grade curricular dos cursos de licenciatura, 
apresentando a educação enquanto uma instituição social que precisa ser compreendida 
de acordo com o contexto em que está inserida.
 » Relacionar o surgimento da Sociologia com o contexto das grandes transformações da 
modernidade.
 » Apresentar as teorias sociológicas de Weber, Durkheim e Marx, para fundamentar todas 
as reflexões posteriores sobre a educação.
 » Investigar as correntes contemporâneas da Sociologia da Educação, em especial o 
neocolonialismo, os estudos culturais e a Nova Sociologia da Educação.
7
Introdução 
Neste primeiro capítulo, justificaremos a presença da disciplina Sociologia da Educação na sua 
grade curricular de formação docente, apresentando, de forma ampla, as contribuições das 
reflexões sociológicas para o fazer cotidiano do professor.
Esperamos que, através desta discussão, você seja capaz de contextualizar a educação enquanto 
uma instituição social, que precisa ser compreendida dentro dos contextos específicos em que 
está inserida. Veremos ainda, que a prática cotidiana do professor precisa estar alinhada com 
os desafios sociais para a educação, e que o referencial teórico da sociologia pode auxiliá-lo a 
situar-se em relação a estas questões.
Objetivos 
 » Refletir a respeito dos fatores que fazem com que um aprendizado possa ser considerado 
significativo.
 » Justificar a inclusão da Sociologia da Educação nas grades dos cursos de licenciatura.
 » Analisar a educação enquanto instituição social.
 » Refletir a respeito dos objetivos determinados juridicamente para a educação nacional.
 » Definir os conceitos de etnocentrismo, violência simbólica e relativismo cultural.
 » Refletir sobre os dilemas contemporâneos da educação e a necessidade de o professor 
estar preparado para lidar com eles.
1AULASOCIOLOgIA E EDuCAçãO
8
AULA 1 • SOCIOLOgIA E EDuCAçãO
Por que estudar Sociologia da Educação? 
Ao nos aproximarmos de uma nova temática de estudo, é comum, e inclusivedesejável, que 
nos indaguemos a respeito da necessidade e importância deste conhecimento, habilidade ou 
competência a ser desenvolvido. 
Devemos sempre tentar responder à pergunta “por que eu preciso saber sobre isso?”, pois ao 
termos consciência dos usos e aplicações que poderemos fazer daquele novo conhecimento 
em nossa atividade prática, estaremos muito mais engajados no processo de aprendizagem, 
que deixará de ser um ato mecânico de mero cumprimento formal de uma grade disciplinar 
predefinida e passará a ser significativo.
De acordo com Carl Rogers (2001), a aprendizagem significativa é aquela que vai muito além 
da simples acumulação de fatos e conceitos, realmente penetrando todas as esferas da vida do 
indivíduo. Este é o tipo de educação em que ocorre uma verdadeira modificação no aprendiz, 
seja ela no comportamento, na personalidade, nas atitudes ou na forma como ele orientará as 
suas ações futuras. 
Segundo, ainda, Rogers (2001), uma das tendências mais básicas da educação, aquela em que 
podemos sempre confiar, é a de que o aluno possui um desejo natural de aprender, descobrir 
e aumentar seus conhecimentos e suas experiências. No entanto, esse desejo muitas vezes é 
neutralizado pelo sistema educacional, que não compreende que para que uma aprendizagem 
seja significativa, a matéria de estudo precisa ser percebida pelo aluno como algo relevante para 
que ele atinja seus objetivos.
A pessoa aprende significantemente apenas aquilo que ela percebe como 
envolvido na manutenção e engrandecimento do seu próprio eu (tendência à 
autorrealização). Rogers dá como exemplo dois alunos em um curso de estatística: 
um deles desenvolvendo um projeto no qual necessita usar o conteúdo, e o outro 
fazendo-o apenas porque é obrigatório. Indiscutivelmente, as aprendizagens 
serão diferentes. Além disso, quando o aluno percebe que o conteúdo é relevante 
para atingir certo objetivo, a aprendizagem é muito mais rápida. (MOREIRA, 
1999, p. 142).
9
SOCIOLOgIA E EDuCAçãO • AULA 1
Saiba mais
Carl Rogers foi um psicólogo americano que desenvolveu uma abordagem terapêutica que recusava a visão do paciente 
como um doente que necessitava de cura, mas, sim, como um ser autônomo que precisaria 
reencontrar seu próprio equilíbrio natural. 
Este pensamento foi adaptado também para a educação, baseando-se na premissa de que o 
aluno possui um desejo natural para o aprendizado, que se concretiza quando reduzimos os 
fatores de ameaça do contexto educacional.
Algumas de suas principais obras são:
 » Tornar-se pessoa (1961).
 » Sobre o poder pessoal (1977).
 » A pessoa como centro (1977).
 » Um jeito de ser (1980). 
Fonte: <https://medium.com/@dan.musashi/uma-defini%C3%A7% 
C3%A3o-de-empatia-por-carl-rogers-acb7386cbfbf>
Imagine que no primeiro dia de aula no ensino superior você recebe de presente uma caixa de 
ferramentas vazia e, ao longo do curso e das disciplinas, você vai equipando esta caixa com todas 
as habilidades, competências e conceitos que serão, no futuro, as suas ferramentas de trabalho, 
aquelas que serão utilizadas para solucionar os desafios da prática profissional. Essa caixa de 
ferramentas é preciosa e, por isso, deverá ser tratada com carinho e respeito, sendo atualizada 
de acordo com a transformação dos problemas a que elas se propõem a solucionar. 
Iniciaremos, então, esta conversa sobre Sociologia justificando a presença dela na sua grade 
curricular. Por que um professor competente precisa entender de Sociologia da Educação? 
Isso é necessário, mesmo que futuramente ele vá lecionar disciplinas de outras áreas, como 
Matemática ou Ciências? Por que a Sociologia da Educação merece um espacinho na minha 
caixa de ferramentas?
A resposta para estas perguntas se encontra nos seguintes fatores:
 » A educação é uma instituição social, portanto não pode ser compreendida separadamente 
do contexto social, e a Sociologia nos ajuda a compreender este contexto.
 » A Sociologia nos dá o suporte necessário para refletir criticamente sobre a prática 
docente, questionando nosso papel enquanto educadores e desnaturalizando tudo o 
que fazemos cotidianamente.
 » A Sociologia nos auxilia a lidar com os desafios sociais contemporâneos, com os quais 
o professor precisa lidar em sua prática profissional.
10
AULA 1 • SOCIOLOgIA E EDuCAçãO
Ao analisar esses três fatores, esperamos que fique claro para você o porquê de a compreensão 
dos conceitos e reflexões da Sociologia fazerem desta disciplina uma ferramenta valiosa para 
estar na sua caixa de ferramentas. 
A educação enquanto instituição social
De acordo com Reinaldo Dias (2010), instituições sociais podem ser definidas como sistemas 
abstratos e complexos que incorporam os valores fundamentais adotados pela sociedade, 
estabelecendo um conjunto de normas, padrões de comportamento e relações sociais que deverão 
ser seguidos em prol da satisfação de uma necessidade básica específica. Por se relacionarem 
a temas fundamentais da vida social, são relativamente duradouras e qualquer modificação 
significativa em um destes sistemas provavelmente afetará os demais.
Muito complicado? Não se preocupe, pois vamos entender cada uma das partes desta definição 
utilizando como referência a instituição social da Educação, que é a que nos interessa neste 
momento.
Figura 1. Exemplos de instituições sociais básicas.
 
Instituições sociais básicas
Família
Economia
Religião
Educação
Política
Fonte: Adaptado de Dias (2010, p. 239).
Como vimos na imagem acima, existem diferentes tipos de instituições sociais, e cada uma delas 
se organiza a partir de uma necessidade coletiva fundamental. 
Todas as sociedades humanas possuem, por exemplo, a necessidade de transmitir às novas 
gerações os conhecimentos acumulados pelas gerações anteriores, bem como de preparar seus 
indivíduos mais jovens para desempenhar os papéis sociais que são esperados deles. Nenhum 
de nós nasce sabendo viver em sociedade, é preciso que sejamos socializados para que passemos 
a nos comportar da maneira vista como adequada. 
Na tentativa de atender a esta demanda, surge a educação enquanto instituição social, um 
sistema, que como afirma a definição anterior, é complexo e abstrato.
11
SOCIOLOgIA E EDuCAçãO • AULA 1
O primeiro ponto a ser esclarecido diz respeito à caracterização da instituição social enquanto 
um sistema. Isso quer dizer que ela é composta por um conjunto de elementos que atuam de 
forma integrada para o seu bom funcionamento.
Figura 2. Elementos da instituição social
 
Fonte: Desenvolvida a partir dos conceitos de Dias (2010, p. 239).
A complexidade deste sistema está no fato de que todos os seus elementos interagem entre si, 
influenciando uns aos outros e criando, através da sua relação, algo novo, que vai além da simples 
soma das partes. Imagine, por exemplo, os grandes projetos que podem ser concretizados quando 
um bom professor tem acesso a recursos materiais de ponta; ou quando a secretaria de educação 
consegue trabalhar de verdade em parceria com as escolas e as famílias. 
No que diz respeito à abstração, queremos dizer que a instituição social existe enquanto ideia, 
mas não é tangível fisicamente, sendo os elementos que a compõem responsáveis por garantir a 
sua materialidade. Você sempre pode visitar o prédio da escola, cumprimentar seu professor ao 
encontrá-lo na rua, segurar os livros que utiliza para estudar, mas a educação em si é algo que 
você não pode enxergar ou tocar. Ela é uma ideia que organiza todos estes elementos concretos.
Prosseguindo com a análise de nossa definição inicial, temos a afirmação de que as instituições 
incorporam valores que são compartilhados pela sociedade, ou, ao menos, pela sua maioria. 
No caso da educação, podemos assinalar como exemplo valores como o respeito à pessoa, 
a universalização da educação,a lisura na gestão dos recursos destinados às escolas, etc. 
Estes valores são tão relevantes para a sociedade, que mesmo aqueles indivíduos que não se 
beneficiam diretamente deles reconhecem a sua importância. Como no caso de um indivíduo 
adulto, já escolarizado e sem filhos, que, ainda assim, se revolta diante de um caso de desvio 
de dinheiro da merenda, de crianças em comunidades rurais que caminham horas para chegar 
à escola mais próxima, etc.
12
AULA 1 • SOCIOLOgIA E EDuCAçãO
Estes valores servem de base reguladora para o estabelecimento do conjunto de normas, 
padrões de comportamento e relações sociais a partir dos quais a instituição social buscará 
atender a sua finalidade. 
Figura 3. Organização das instituições sociais
 
Necessidade 
fundamental a ser 
atendida
Valores sociais
Determinam e orientam as estratégias 
coletivas que serão usadas para o 
atendimento das necessidades.
Normas
Auxiliam o objetivo a ser 
cumprido, sem 
desrespeitar os valores
Comportamentos
Auxiliam o objetivo a ser 
cumprido, sem 
desrespeitar os valores
Relações
Auxiliam o objetivo a ser 
cumprido, sem 
desrespeitar os valores
Fonte: Desenvolvida a partir dos conceitos de Dias (2010).
A educação tem como função atender à necessidade básica de formar as novas gerações para 
viver em sociedade e dominar os conhecimentos, valores e condutas acumulados pelas gerações 
anteriores. A realização deste objetivo será perseguida a partir de normas, comportamentos e 
relações sociais padronizadas, que jamais poderão ir contra os valores daquela sociedade.
Todos esperamos, por exemplo, que a escola seja um espaço de socialização onde os indivíduos 
aprendam a controlar suas vontades individuais de acordo com as regras coletivas. A disciplina, 
neste contexto, será um valor norteador para a educação, sendo criadas estratégias que nos levem 
à finalidade inicial de socializar para a convivência.
Em determinado momento histórico, as punições físicas eram vistas como estratégia legítima para 
atingir este valor, mas com a mudança social e a inclusão de novos valores, como o de respeito 
à dignidade humana e o repúdio à tortura, as escolas precisaram se reorganizar para continuar 
servindo ao seu propósito sem, contudo, ferir os valores da sociedade.
E esta é uma transformação que, normalmente, não se restringe apenas a uma das instituições 
sociais, visto que estes valores perpassam toda a vida social. Há entre as instituições um alto 
grau de interdependência, que faz com que as transformações ocorridas em uma delas se 
multipliquem nas demais.
As instituições exercem tal influência que suas atividades ocupam um lugar central 
dentro da sociedade; uma mudança drástica em uma instituição provavelmente 
provocará mudanças em outras. 
13
SOCIOLOgIA E EDuCAçãO • AULA 1
Por exemplo, as mudanças econômicas de um modo geral afetam enormemente 
as outras instituições. Elas influenciarão a estabilidade da família, a capacidade 
de o governo atender às demandas por seus serviços, podendo afetar até mesmo a 
qualidade da educação. As mudanças que ocorrem na educação podem influenciar 
os relacionamentos familiares, as instituições religiosas e o desenvolvimento 
econômico. (DIAS, 2010, p. 242).
Vale destacar, no entanto, que ainda que os valores de uma sociedade eventualmente se 
transformem, fazendo com que as normas, comportamentos e relações precisem ser revistas, a 
finalidade básica a que se destina a instituição social é permanente, não sendo modificada com 
o passar do tempo ou de acordo com os diferentes contextos sociais. 
Para que haja continuidade e previsão nas relações sociais, deve haver uma certa 
rotina nos procedimentos e meios aceitos de lidar com os problemas que surgem. 
Cada nova geração não precisa inventar seus próprios métodos e crenças para 
lidar com tais problemas; as gerações anteriores já criaram as instituições. Essas, 
por sua vez, permanecerão por bastante tempo. É certo que sofrerão algumas 
alterações, mas, em sua essência, elas continuaram a suprir aquelas mesmas 
necessidades para as quais foram criadas. (DIAS, 2010, p. 239).
De acordo com Reinaldo Dias (2010, p. 243), esta função básica das Instituições Sociais é 
composta por diferentes tópicos, que podem ser gerais – quando se aplicam a todas as Instituições 
Sociais – ou específicos – quando se aplicam a apenas uma ou algumas Instituições.
No caso da educação, Dias (2010, p. 243) apresenta a seguinte relação de objetivos:
 » Gerais (se aplicam a todas as instituições sociais)
 › Contribuir para o processo de socialização, pois as pessoas aprendem com maior 
facilidade a diferenciar a forma certa e errada de agir em um contexto institucional.
 › Estabelecer um grande número de papéis sociais atrelando a eles modelos de 
comportamento tidos como adequados.
 › Dar estabilidade e consistência aos membros da sociedade através do 
comportamento institucionalizado.
 » Específicos da Educação
 › Familiarizar os indivíduos com os diversos papéis sociais existentes na sociedade;
 › Preparar os alunos para desempenharem os papéis sociais esperados deles, 
especialmente os ocupacionais e profissionais;
 › Transmitir às novas gerações a herança cultural acumulada pelas gerações 
anteriores;
14
AULA 1 • SOCIOLOgIA E EDuCAçãO
 › Estimular a adaptação pessoal e aprimorar os relacionamentos sociais.
Através da leitura cuidadosa destes objetivos, percebemos que a educação enquanto instituição 
social está diretamente relacionada à compreensão pelo indivíduo da sociedade em que vive. 
Devemos, portanto, permitir ao aluno utilizar os conhecimentos, habilidades e competências 
curriculares para, através deles, agir no mundo; ser membro consciente e participativo na 
sociedade. Por este motivo, é impossível pensar a educação desatrelada do contexto social 
em que ela acontece. 
Afirmamos, desta maneira, que mesmo que um professor esteja em sala de aula ensinando 
conceitos puramente teóricos da Matemática, ele deverá estar o tempo todo consciente dos 
usos sociais da Matemática na vida cotidiana dos alunos. Ele deverá também estar atento, 
enquanto ensina Matemática, para todos os fatores socioculturais envolvidos no processo, 
que podem estar contribuindo ou dificultando a aprendizagem.
Ser professor implica, portanto, saber ler o contexto social e se posicionar diante dele. E a 
Sociologia é a ciência que nos ensina a fazer isso.
Sociologia e atividade docente
Ainda que a função social da educação enquanto instituição social seja bem delimitada, como 
vimos na anteriormente, existe, ainda, muita disputa com relação aos significados, valores e 
delimitações destes objetivos, especialmente no que diz respeito à educação que acontece dentro 
dos muros da escola. 
Existem grupos sociais que defendem a participação da escola no desenvolvimento global dos 
sujeitos, enquanto outros acreditam que a escola deve se ater apenas a transmitir conteúdos 
disciplinares para o preparo do aluno para exercer seus papéis sociais relacionados ao trabalho. 
Esta é uma discussão longa, baseada em diferentes formas de entender o mundo, mas muito 
produtiva, uma vez que é através do debate de ideias que somos capazes de nos aprimorar tanto 
como indivíduos quanto como sociedade.
Não podemos deixar de considerar, contudo, que ao assumir um cargo docente, estamos 
assumindo, como em qualquer outra atividade profissional, um compromisso legal e ético de agir 
de acordo com o que determina a nossa legislação, que nada mais é do que a vontade popular 
concretizada democraticamente através do Poder Legislativo.
Por mais que discutamos o papel da educação, investigando diferentes aspectos de diferentes 
correntes de pensamento social e político, existe no ordenamento jurídico brasileiro uma definição 
clara e precisa do papel da educação em nossa sociedade, combase na qual todo professor deve 
orientar a sua prática docente.
15
SOCIOLOgIA E EDuCAçãO • AULA 1
A Constituição Federal de 1988, que é o ponto mais alto do ordenamento jurídico brasileiro e, 
portanto, se sobrepõe a qualquer tipo de legislação estadual ou municipal, define o seguinte:
A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e 
incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento 
da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o 
trabalho. (BRASIL, 2016, p. 123).
Como vimos, a Constituição Federal afirma especificamente que cabe à educação não só 
apresentar ao aluno os conteúdos específicos das disciplinas curriculares, mas, também, 
contribuir para que ele se desenvolva plenamente, ou seja, em seus aspectos intelectual, físico, 
emocional, cultural e social. Cabe a ela ainda preparar o indivíduo para exercer a sua cidadania 
e estar pronto para ingressar no mercado de trabalho.
Durante a formação profissional para lecionar, você está se preparando para fazer parte deste 
sistema da educação, desempenhando um papel importantíssimo que é o de professor. Portanto, 
é fundamental que não perca de vista que estas recomendações deverão ser o norte em direção 
ao qual caminha a sua prática, seja ela na educação infantil, no ensino médio, na educação de 
jovens e adultos ou em qualquer outro espaço em que se desenvolvam práticas educativas.
É um desafio e tanto! Mas é um desafio possível!
E é justamente para nos ajudar a enfrentar este desafio que se justifica a presença desta disciplina 
de Sociologia na sua grade de formação docente, ainda que muitos alunos ainda se mantenham 
resistentes quanto ao seu estudo. 
Isto se dá pelo fato de a Sociologia ser uma ciência incômoda, que tende a nos tirar da nossa 
zona de conforto ao nos fazer refletir a respeito de temas complexos da realidade, como 
sexualidade, religiosidade, ideologia, identidades, entre tantas outras temáticas polêmicas. 
Ela nos propõe, a partir destes temas, um olhar o mundo com outros olhos, tentando se colocar 
no lugar do outro para buscar compreender a realidade a partir do ponto de vista dele. Isso é 
assustador! Faz com que, mesmo que por um minuto, eu precise me afastar das minhas certezas 
para dar uma oportunidade à compreensão das certezas do outro. E, com isso, passo a refletir 
não só sobre ele, mas, também, sobre mim mesmo.
De acordo com Rogers (2001), toda aprendizagem que envolve uma mudança na percepção que 
o indivíduo tem de si mesmo tende a suscitar resistência, por ser compreendida por ele como 
algo ameaçador, que está ali para eliminar as certezas sobre as quais organiza o seu próprio eu.
Para a maioria das pessoas parece que na medida que outros estão certos, elas 
estão erradas. Então, a aceitação de valores externos pode ser profundamente 
ameaçadora aos valores que a pessoa já tem, daí a resistência a este tipo de 
aprendizagem. (MOREIRA, 1999, p. 142).
16
AULA 1 • SOCIOLOgIA E EDuCAçãO
Tomemos um exemplo simples. No Japão, o feijão é regularmente consumido pela população 
como uma iguaria doce. O anko é uma pasta que serve de recheio para diversas sobremesas 
populares nos países asiáticos e é feita à base de feijão vermelho e açúcar ou mel. Nós brasileiros, 
por outro lado, consumimos o feijão salgado diariamente e tendemos a ver com estranheza o 
costume oriental. É como se a mera existência de uma forma diferente de comer feijão ameaçasse 
a sacralidade da nossa maneira de fazê-lo. Quem está certo? Eles ou nós? Será que provar que os 
japoneses estão errados me ajuda também a provar que eu estou certo?
É este tipo de reflexão incômoda que Rogers (2001) caracteriza como ameaçadora e, portanto, 
dificultadora do processo de aprendizagem, uma vez que o aluno passa a não estar mais 
predisposto a aprender. 
A Sociologia, neste sentido, nos auxilia a ver que aceitar que é certo para os japoneses comer o 
feijão doce não faz com que seja errado para nós comer o feijão salgado. São apenas duas formas 
diferentes de comer feijão e eu nem preciso passar a comer anko, apenas tenho que respeitar o 
direito dos japoneses de apreciar essa iguaria.
Esse olhar específico das Ciências Sociais, que nos ajuda a tentar colocar as lentes do outro para 
entender como ele percebe o mundo, é denominado relativismo e deve ser analisado como uma 
oposição direta ao etnocentrismo.
Etnocentrismo
Consiste na atitude de julgar as práticas, crenças e valores de determinada cultura ou grupo social, 
tomando como base os critérios da cultura do próprio observador, ou seja, quando julgamos o 
outro a partir de nós mesmos.
Este comportamento, como define Allan de Paula Oliveira (2018, p. 73), não é inscrito em um 
momento histórico específico ou mesmo restrito a apenas algumas sociedades: 
A história das relações entre as sociedades humanas é, em grande medida, 
uma história do etnocentrismo. Quando os gregos [...] classificaram os povos 
que não falavam a sua língua como bárbaros, havia nisso um componente 
etnocêntrico. O ponto de vista central nesse julgamento era a própria cultura 
grega. Nessa perspectiva, bárbaros eram os outros. Da mesma forma, quando os 
europeus, no século XVI, chegaram às Américas e julgaram as práticas de muitas 
sociedades americanas como bestiais e selvagens ou, ainda, negaram o estatuto 
de humanidade aos indígenas, seus posicionamentos foram marcados por um 
caráter etnocêntrico. 
Em ambos os casos, tratava-se de julgar a alteridade, as diferenças, a partir dos 
valores da própria sociedade. É interessante observar que o contrário também 
17
SOCIOLOgIA E EDuCAçãO • AULA 1
é verdadeiro: os índios da América do Sul duvidavam do caráter humano dos 
europeus. [...] Lévi-Strauss evidencia, em um texto célebre, relatos do século 
XVI sobre como os indígenas americanos mantinham submersos os corpos de 
espanhóis (vistos como seres estranhos) mortos para descobrir se eram sujeitos 
a putrefação. Na mesma época, do outro lado do Atlântico, teólogos e juristas 
espanhóis travavam discussões intermináveis para determinar se os indígenas 
americanos tinham alma.
Nesses exemplos, o etnocentrismo aparece como uma forma de julgamento das 
diferenças e de autoconfirmação das sociedades. Os gregos se consideravam 
superiores aos bárbaros, assim como os europeus, no século XVI, viam-se como 
o centro do mundo diante dos indígenas americanos.
Estas relações entre sociedades ou grupos estabelecidos com base no etnocentrismo, ou 
seja, na crença de que a cultura do observador é superior à do observado, pode causar sérias 
repercussões, como guerras, preconceitos, segregação e, até mesmo, o extermínio daqueles 
considerados diferentes. 
Pensamos, automaticamente, em casos extremos, como os campos de concentração na 
Alemanha nazista, as guerras constantes entre grupos étnicos nos Balcãs, as disputas entre 
judeus e mulçumanos na Palestina, a segregação dos negros na África do Sul durante a vigência 
do Apartheid. E, por isso, você pode estar se perguntando: mas o que tem o etnocentrismo 
e estes grandes conflitos e situações de violência a ver com a prática docente? 
O etnocentrismo ocorre também em situações cotidianas, no interior de uma mesma sociedade, 
quando a incompreensão diante de comportamentos diferentes ao do nosso próprio grupo nos 
fazem criar uma linha hierárquica que tende sempre a colocar a nós mesmos em situação de 
superioridade.
Oliveira (2018) apresenta o exemplo do uso da palavra religião, que costuma ser utilizada para 
designar alguns conjuntos de práticas, enquanto outros são tratados como crenças ou cultos. 
Temos, assim, um discurso no qual se fala sobre religião católica, religião budista, religião 
protestante e crenças indígenas e cultos afro-brasileiros. A utilização dos termos culto e crença, 
como defende o autor, são “formas de diminuiras práticas e as concepções sagradas daqueles 
considerados outros” (2018, p. 77).
Pense ainda no exemplo de uma escola pública dentro de uma comunidade carente, em que o 
professor que leciona – muitas vezes pertencente à classe média e morador de bairros considerados 
mais abastados – propõe uma atividade aos alunos com base em uma música. Ele escolherá para 
a atividade uma música que esteja de acordo com o gosto de sua própria classe, em detrimento, 
por exemplo, do funk, que pode ser uma predileção daquela comunidade escolar. Muitas vezes, 
este estilo musical é, inclusive, tratado pelas elites como “barulho” e não como música.
18
AULA 1 • SOCIOLOgIA E EDuCAçãO
Estes dois exemplos, como vimos, não implicam necessariamente a violência física contra o 
outro. No entanto, concretizam um tipo de violência igualmente perigosa, a violência simbólica.
Violência simbólica
De acordo com Pierre Bourdieu (1992 e 2007), a socialização do indivíduo às normas da sociedade 
em que vive consiste na construção de seu habitus, ou seja, na apreensão pelos indivíduos – 
de maneira mais ou menos consciente – dos esquemas de percepções, de apreciação e ação 
específicos daquela sociedade.
Figura 4. Socialização.
 
H
a
b
it
u
s
Esquemas de 
percepção
Maneiras de perceber o mundo
Esquemas de 
apreciação
Maneiras de julgar o mundo
Esquemas de ação
Maneiras de comportar-se no 
mundo
Fonte: Desenvolvida a partir dos conceitos de Jourdain e noulin (2017).
Este processo ocorre ao longo de toda a vida do indivíduo e divide-se nas seguintes etapas de 
socialização:
 » Socialização primária: que acontece durante a infância, quando o sujeito é apresentado 
pela primeira vez aos significados atribuídos aos diversos aspectos da vida social. É, 
portanto, mais profunda e mais difícil de ser modificada.
 » Socialização secundária: que acontece já na vida adulta, quando o sujeito modifica 
seus esquemas de percepção, apreciação e ação.
Sendo assim, temos mais enraizados aqueles esquemas adquiridos na família e na escola, e os 
utilizaremos no futuro em outras situações sociais, como o mercado de trabalho. Isso implica dizer, 
por exemplo, que um indivíduo aprende ainda na infância a respeitar as figuras de autoridade 
como os pais e os professores, e isso vai orientar futuramente a forma como ele se comportará 
diante do chefe. 
Vale ressaltar, no entanto, que os habitus dentro de uma sociedade não são uniformizados, eles 
variam de acordo com as condições de vida de cada sujeito e a sua trajetória social. Imaginemos 
um grupo de crianças que vivam na mesma cidadezinha rural. Todas construirão um mesmo 
habitus, uma vez que as condições socioeconômicas em que vivem são as mesmas. Bourdieu 
(1992 e 2007) chama isso de habitus de classe. Imaginemos, no entanto, que uma destas crianças, 
19
SOCIOLOgIA E EDuCAçãO • AULA 1
já na vida adulta, se mude para um grande centro urbano, ou que outra delas seja eleita prefeito 
daquela cidade. Estas trajetórias de vida individuais trarão diversas modificações em seu habitus 
em relação àquelas que se mantiveram de forma inalterada dentro do mesmo contexto de sua 
socialização primária.
Podemos dizer, assim, que: 
As disposições do habitus são duráveis à medida que, sendo enraizadas nas 
pessoas, elas tendem a se perpetuar e a resistir à mudança. Salvo uma mudança 
radical nas condições socioeconômicas do entorno, os indivíduos tendem a 
conservar as disposições adquiridas ao longo de sua socialização. (JOURDAIN 
e NOULIN, 2017, p. 51).
Bourdieu salienta ainda que toda sociedade se divide internamente entre dominantes e dominados, 
sendo o primeiro grupo formado pela elite intelectual e econômica, e o segundo pelas camadas 
populares. Estas classes dominantes, segundo ele, possuem o poder para definir o valor que será 
atribuído a cada prática ou aspecto da vida cultural. São elas que determinaram a legitimidade 
da cultura, criando com isso uma divisão entre aquilo que é de “bom gosto” ou de “mal gosto”, 
sendo o primeiro sempre aquele que se refere às práticas das classes dominantes e o segundo 
às práticas das classes dominadas. 
Bourdieu apresenta, assim, que a hierarquia socioeconômica cria uma hierarquia cultural 
a medida que as classes mais abastadas impõem o seu próprio habitus de classe sobre as 
demais, pois a cultura não possui valor em si mesma, mas, sim, aquele que é atribuído pela 
sociedade.
Cabelo, por exemplo, é apenas cabelo, mas aprendemos desde que somos muito jovens que 
existe uma distinção social muito bem delimitada entre o que é um “cabelo bom” e um “cabelo 
ruim”. O cabelo bom é liso, enquanto o cabelo ruim é crespo, mas ninguém nos explica que em 
sua origem esta distinção tinha um objetivo muito específico de desclassificar a ancestralidade 
africana do possuidor do cabelo. Negros ocupam historicamente no Brasil as posições mais baixas 
na hierarquia social e, portanto, aquilo que faz parte do seu habitus específico é desqualificado: o 
cabelo, as músicas, a religião, etc. E isso continua sendo reproduzido até os dias de hoje, disfarçado 
de senso comum, de bom gosto ou mesmo como sinônimo para pessoas bem ou mal-educadas. 
De acordo com Bourdieu estes esquemas de dominação consistem em um tipo de violência 
simbólica, pois eles submetem a própria vontade do dominado em perpetuar a dominação, uma 
vez que o habitus das classes dominantes é ensinado dentro do processo de socialização como 
única cultura legítima. Sendo assim, o indivíduo apreende aqueles valores, comportamentos e 
formas de ver o mundo como corretos e desejáveis, reproduzindo-os sem os questionar.
Pense, por exemplo, em quantas meninas negras alisam seus cabelos crespos para se sentirem 
de acordo com a norma, para conquistarem melhores empregos, para serem levadas a sério 
20
AULA 1 • SOCIOLOgIA E EDuCAçãO
e respeitadas em diversos contextos sociais. Isso ocorre porque a socialização a que somos 
submetidos diz que o cabelo crespo é ruim, sujo, malcuidado, e que a pessoa que o tem é 
desorganizada, descuidada, descomprometida. 
Novamente, cabelo é apenas cabelo e os significados culturais que atrelamos a eles são construídos 
pela sociedade, tendo como referência as classes dominantes.
Vale destacar ainda, que, de acordo com Bourdieu, 
uma das principais ferramentas desse processo 
de dominação é a escola, quando ensina a cultura 
das classes dominantes como única cultura 
legítima. Para este autor, a escola é reprodutora 
do status social vigente justamente por perpetuar 
as relações de dominação.
Retomemos o exemplo apresentado 
anteriormente de uma atividade proposta em sala de aula tendo uma música como referência. 
A música utilizada na atividade proposta será escolhida de acordo com o gosto do professor 
que, independentemente de sua classe econômica, é membro de uma elite intelectual, e estilos 
musicais como o funk ou o rap, que são típicos das periferias e das camadas mais populares da 
população, usualmente são classificados como música de “mau gosto” ou de “má qualidade”, 
não havendo, portanto, espaço para eles dentro do contexto escolar.
Perceba que, neste caso, o professor atua como reprodutor das relações de poder, muitas vezes 
sem sequer ter consciência disto. O aluno, da mesma forma, aceita a dominação ao não se 
questionar sobre a legitimidade da música erudita em detrimento da música popular.
Este é um ciclo cruel de manutenção das desigualdades e a consciência de sua existência ajuda 
o professor a retirar-se da equação, dando aos seus alunos maiores chances de entenderem 
também o seu papel nestas relações. 
Falamos sobre o exemplo do cabelo e da música, mas poderíamos nos alongar a respeito das 
próprias expectativas relacionadas à educação popular, como as ideias de que nas escolas públicas 
as famílias não se importam, os alunos são fracos, desinteressados, acomodados,sem ambições 
para o futuro. E estes preconceitos, em alguns casos, acabam sendo absorvidos pelo professor, 
que passa a nortear sua prática profissional com base neles.
Quem gosta de perder tempo com causas perdidas? Quem deseja investir tempo e esforço em um 
projeto em que os bons resultados são impossíveis? Pra que vou chamar a família para participar 
do processo educativo se ela não vai comparecer mesmo?
Saiba mais
Para uma reflexão mais aprofundada a respeito deste 
tema, escute o programa 173 do podcast Mamilos, onde 
é abordada a questão do racismo e toda a violência 
simbólica a que é submetida a cultura negra. 
O programa está disponível gratuitamente em www.
b9.com.br/100487/mamilos-173-eu-nao-sou-racista/.
21
SOCIOLOgIA E EDuCAçãO • AULA 1
Assim, quando assumimos o discurso de que os alunos não são capazes, simplesmente paramos 
de tentar, de estimular, de buscar novas estratégias, e, com isso, a profecia se autorrealiza, os 
alunos de fato não progridem e a violência simbólica se perpetua.
Tomemos como exemplo o experimento desenvolvido na década de 1960 pelos pesquisadores 
Rosenthal e Jacobson:
O objetivo dos autores era testar a hipótese de que, em situação escolar, aquelas 
crianças das quais os professores esperam um maior crescimento intelectual, 
realmente mostram tal progresso.
Como justificativa para o estudo foi dito às professoras que havia necessidade 
de avaliar a eficiência de um novo tipo de teste, planejado para predizer o 
progresso intelectual das crianças. Utilizou-se o Teste de Capacidade Geral de 
Flanagan (TOGA), que é um teste padronizado de inteligência e desconhecido 
pelas professoras na época, por ser relativamente novo. Este teste é formado por 
dois subtestes relativamente independentes, destinados a avaliar a capacidade 
verbal (compreensão da língua) e o raciocínio.
O teste foi aplicado a todas as crianças da escola pelas professoras. Em cada uma das 
18 classes cerca de 20% das crianças foram aleatoriamente escolhidas e indicadas 
a suas professoras como potencialmente capazes de rápido desenvolvimento 
intelectual, a partir dos resultados obtidos no teste. A apresentação dos nomes 
das crianças para as professoras foi intencionalmente informal. O tratamento 
experimental constituiu-se, pois, apenas em indicar os nomes de algumas crianças 
a suas professoras como sendo crianças das quais se poderia esperar progressos 
intelectuais rápidos no ano que se iniciava. Portanto, a diferença entre as crianças 
do grupo experimental e as crianças do grupo controle (todas as outras que não 
foram indicadas), estavam apenas na mente das professoras.
Todas as crianças responderam novamente aos testes 4 meses depois do início 
das aulas e ao fim do ano escolar.
Os resultados, de maneira geral, indicaram que as crianças de quem as professoras 
esperavam melhores resultados intelectuais mostraram tais progressos. (BRITTO 
e LOMONACO, 1983, p. 60).
Não se pretende com isso atribuir a responsabilidade pelo fracasso escolar apenas ao professor, 
pois sabemos que ele é causado por uma complexa rede de fatores sociais, culturais, históricos, 
econômicos e culturais. No entanto, precisamos entender que somos também parte do problema, 
e que, ao termos consciência disso, somos capazes de refletir criticamente e buscar maneiras 
de modificar este quadro.
Uma estratégia fundamental para o combate à violência simbólica nas escolas é a adoção, 
especialmente por parte dos professores, da atitude relativista.
22
AULA 1 • SOCIOLOgIA E EDuCAçãO
Relativismo cultural
O relativismo cultural consiste em compreender a cultura do outro a partir dos seus próprios 
termos, buscando entender os significados que as pessoas que fazem parte daquele grupo 
atribuem aos fatos e valores de sua cultura. Deixa-se, assim, de julgar os costumes e valores 
do outro com base nos do próprio observador e aquilo que, para o senso comum, poderia ser 
classificado como irracional ou carente de sentido passa a ser encarado como algo significativo 
para aquele grupo específico de pessoas.
Vejamos o exemplo a seguir:
O francês Loïc Wacquant (2002) realizou um trabalho de campo em uma academia 
de boxe em um bairro pobre de Chicago. Se, para muitos, o boxe é um ritual de 
violência gratuita, sem sentido algum, Wacquant revela a importância desse 
esporte para muitos jovens do bairro. Para eles, o boxe é fonte de disciplina moral, 
corporal e estética, além de oferecer projetos de vida em um contexto marcado 
por segregação e exclusões sociais. (OLIVEIRA, 2018, p. 93).
As aplicações deste conceito para a realidade educacional e a violência simbólica nas escolas 
são inúmeras. No que diz respeito à postura do professor, representa uma modificação moral 
no comportamento com relação aos estudantes, pois, antes de julgar e condenar certas práticas, 
deve tentar compreendê-las de acordo com o contexto em que estão inseridas.
Podemos refletir sobre esta possibilidade partindo do exemplo hipotético de um aluno muito 
comunicativo, desenvolto na forma de falar, mas que utiliza muitas gírias e comete muitos erros 
de concordância. Para um professor de Língua Portuguesa etnocêntrico, esta conduta pode ser 
julgada como desinteresse e falta de competência, pois se baseia na utilização da forma culta 
da língua enquanto único marco de referência para o “falar bem”. A conduta deste professor, em 
consequência, será normatizada por este valor e o aluno será tratado como fraco, punido com 
notas baixas, ou mesmo ignorado por não manifestar qualquer tipo de inclinação especial para 
o estudo de línguas.
Um segundo professor de Língua Portuguesa, no entanto, compreende que este aluno vem de um 
contexto social em que as pessoas falam desta forma, que ele foi socializado desde que nasceu 
nesta estrutura linguística e com aquele tipo de vocabulário. Percebendo a fala do aluno a partir 
dos seus próprios critérios, ele percebe um desempenho acima da média na comunicação do 
aluno, na forma como organiza seu pensamento e transmite suas ideias. A partir daí, o que antes 
foi visto como deficiência será tratado como potencialidade e o aprendizado da norma culta 
será apresentado ao aluno como uma nova estratégia de comunicação que se acredita que ele é 
completamente capaz de dominar.
23
SOCIOLOgIA E EDuCAçãO • AULA 1
Qual professor você imagina que obterá os melhores resultados no desempenho deste aluno na 
disciplina de Língua Portuguesa? O que apresenta a norma culta como resolução para um defeito 
ou o que a trabalha como forma de aprimorar uma qualidade?
No mesmo sentido, no exemplo da música utilizada como motivador para uma atividade em 
sala de aula, um professor que relativize o contexto sociocultural de seus alunos escolherá 
uma música que se adéque ao tema a ser trabalhado, mas que igualmente seja interessante e 
faça sentido para os alunos. Este é um ponto de partida, no qual o aluno se identifica, sente o 
seu próprio saber valorizado e, posteriormente, se interessa em saber mais sobre o assunto. O 
professor pode, então, com muito mais sucesso, apresentar outras propostas musicais.
Trata-se, neste sentido, de ampliar o conhecimento e não de substituir. Não é necessário 
desqualificar aquilo que o aluno entende, gosta e identifica como seu, para apresentar a ele 
novas formas de ver o mundo. Tampouco significa permitir que os alunos se mantenham em 
sua zona de conforto, com o repertório limitado àquilo que ele traz de casa e da comunidade 
para a escola.
O que estamos propondo é um diálogo entre os referenciais já utilizados pelo aluno e aqueles 
novos referenciais que serão apresentados pela escola.
Cuidado
Tratar com respeito e empatia os referenciais do outro não equivale a aceitar qualquer coisa com a justificativa da 
diversidade cultural. Não é uma questão de vale-tudo!
A proposta é não criar generalizações do tipo “tudo nesteuniverso é bom” e “tudo naquele universo é ruim”. No entanto, 
qualquer conteúdo cultural que faça alusão a crime, violência ou a desrespeito aos direitos humanos deverá ser questionado 
e, por isso mesmo, o processo é orientado pelo professor. Cabe a ele decidir pedagogicamente as estratégias a serem 
adotadas para trabalhar diferentes conteúdos culturais e a adequação de cada um deles de acordo com as turmas em que 
serão trabalhados.
Sociologia e os desafios contemporâneos da educação
Por fim, a Sociologia da educação justifica a sua presença nos cursos de licenciatura por nos 
oferecerem os conceitos teóricos e metodológicos que nos permitam lidar com os inúmeros 
desafios sociais que se apresentam no cotidiano da sala de aula. 
Não é possível que o professor se mantenha vendado para as transformações sociais, acreditando 
que a escola seja uma espécie de Ogígia, ilha mitológica afastada de toda a realidade exterior, 
onde o tempo não passa e nenhuma influência externa pode penetrar. Este posicionamento, 
fundado num saudosismo romantizado de que “no meu tempo tudo era melhor”, não traz 
qualquer contribuição para a prática docente, apenas rancor e nenhuma motivação.
24
AULA 1 • SOCIOLOgIA E EDuCAçãO
A educação, como vimos, é uma instituição social e, portanto, a escola, os alunos, os conteúdos, as 
metodologias e qualquer outro referencial atrelado a ela não podem ser entendidos isoladamente. 
O preço a pagar por esta tentativa de afastamento do docente entre a sua prática e a realidade 
é aos poucos ele ir deixando de ser um professor e transformar-se no que Celso Antunes (2007) 
define como um “professauro”, ou seja, aquele professor que pretende a qualquer custo fazer 
com que os novos tempos se adéquem a ele, e não o contrário. 
Como defende o autor, é impossível desejar, nos dias de hoje, os mesmos resultados alcançados 
com uma aula planejada há 30 anos:
Há trinta anos não havia o celular, os computadores não eram o que hoje são e 
uma simples viagem de São Paulo a Ubatuba não demorava menos que seis horas. 
Nesses trinta anos o mundo mudou, a medicina evoluiu, a tecnologia avançou, 
os transportes se aceleraram. Mas ainda existem aulas em que o professor é o 
centro do processo de aprendizagem. Nem todos os dinossauros foram extintos. 
(ANTUNES, 2007, p. 16)
O autor prossegue deixando claro que a utilização do vocábulo dinossauro, neste contexto, não 
tem a intenção de ser ofensiva, mas designa aqueles profissionais que insistem em conduzir 
a sua prática segundo procedimentos e expectativas de uma escola que não existe mais. O 
mundo muda, as sociedades se transformam e a educação precisa acompanhar este processo. 
Se definimos no início deste capítulo que o objetivo da educação enquanto instituição social é 
formar os indivíduos para a vida em sociedade, precisamos entender que sociedade é essa, ou 
estaremos falhando em nossa missão.
Sendo assim, podemos estabelecer os seguintes itens como principais características da sociedade 
de nossos tempos a causar impacto sobre a realidade das salas de aula:
 » Diversidade: as escolas contam com uma diversidade de pessoas nunca anteriormente 
vistas e precisa estar pronta para lidar com ela. No contexto crescente de imigrantes e 
refugiados, temos escolas cujos alunos sequer dominam o uso mais básico da Língua 
Portuguesa; com os programas de inclusão, as pessoas com deficiência deixaram de ser 
segregadas e passaram a fazer parte do cotidiano escolar. Temos, ainda, diversos grupos 
que se organizam em torno de identidades coletivas compartilhadas, que coexistem 
dentro da escola, sejam estas identidades religiosas, étnicas relacionadas à sexualidade, 
a estilos de vida e tantos outros, que possuem valores e comportamentos expectativas 
tão diferentes umas das outras que transformam a escola em um grande exercício de 
convivência e tolerância. 
 » Sociedade tecnológica: o mundo conheceu, nas últimas décadas, uma série de avanços 
tecnológicos, especialmente nas áreas de informação e conectividade, que reconstruíram 
completamente aquilo que esperamos da educação. Se antes chamávamos de sociedade 
25
SOCIOLOgIA E EDuCAçãO • AULA 1
da informação o contexto em que o possuidor de determinado conhecimento era 
altamente valorizado, hoje o conhecimento está largamente difundido e disponível 
a qualquer um apenas com um clique. O diferencial, portanto, é formar o aluno para 
saber fazer bom uso desse recurso inesgotável de informações disponíveis. Parte deste 
processo inclui a preparação do professor para falar a mesma língua dos alunos, pois é 
impossível o diálogo entre um sujeito que no ensino fundamental já consegue programar 
e um professor que mal sabe ligar o próprio computador.
 » Conectividade: os alunos que entram hoje no ensino formal nunca conheceram o 
mundo analógico. Eles já nasceram conectados à internet e toda a sua forma de lidar 
com o mundo real está diretamente associada à relação estabelecida como virtual. Estes 
indivíduos possuem uma noção de intimidade e privacidade completamente diferente 
das gerações anteriores, bem como as relações estabelecidas com as pessoas, o tempo 
e o espaço são completamente diferentes e mais aceleradas. 
 » Novo mercado de trabalho: era comum no passado que um indivíduo planejasse e 
desejasse, ao longo de toda a sua carreira escolar, atingir futuramente uma carreira 
específica. Alunos e suas famílias organizavam suas expectativas e habilidades em 
torno de profissões tradicionais como advogados, médicos e engenheiros. Atualmente, 
no entanto, o mercado de trabalho sofre modificações tão rápidas para acompanhar 
as transformações sociais que o professor Jorge Luis Nicolas Audy, superintendente de 
Inovação e Desenvolvimento da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul 
(PUCRS), estima que setenta por cento dos alunos que estão concluindo o ensino médio 
e ingressando no ensino superior, no futuro trabalharão em atividades que hoje ainda 
nem foram inventadas (G1 RS, 2018).
Considerando que um dos maiores desafios da escola sempre foi o de formar os alunos para se 
integrarem ao mercado de trabalho, podemos dizer que este desafio aumenta enormemente 
quando nos referimos a um mercado de trabalho que não entendemos e que sequer existe ainda.
Estes são apenas alguns entre os tantos fatores que um docente precisa considerar ao organizar 
a sua prática de forma reflexiva e contextualizada no Brasil contemporâneo. E, com isso, sequer 
nos aproximamos dos tantos desafios locais e regionais que se apresentam ao professor.
No entanto, podemos garantir que o estudo da Sociologia lhe ajudará a lançar uma boa luz sobre 
estes temas, o que faz desta disciplina uma ferramenta indispensável na sua caixa de ferramentas 
docente.
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AULA 1 • SOCIOLOgIA E EDuCAçãO
Para refletir
Professores & professauros (um exercício de ficção)
Que se imagine outra galáxia e, nesta, um planeta habitado. Com civilização bem mais antiga que a da Terra, apresenta 
progresso material e moral bem mais avançado que o nosso. Nesse planeta, um pesquisador resolve conhecer um pouco 
sobre como se desenvolve a educação em outro mundo habitado, agora bem mais atrasado, e que se chama Terra. Valendo-
se da notável tecnologia que sua avançada cultura alcançou, disfarça-se em estudante terráqueo e, após muitas aulas que 
observa, prepara seu relatório, destacando que no planeta visitado encontrou dois tipos de ensinantes que, trabalhando 
com as mesmas dificuldades e regalias no mesmo espaço, apresentam significativas diferenças entre si. Para diferenciar 
profissionais assim tão dispares, chama o primeiro de professores e os outros de professauros, por identificar, nestes 
últimos, formas de pensamento comuns ao período Cretáceo, dominado pelos grandes dinossauros. Segue, extraído deste 
original relatório, algumas diferenças essenciais entre os dois.
Quanto aoano letivo que se inicia: 
Para os professores, uma oportunidade ímpar de aprender e crescer, um momento mágico de revisão crítica e decisões 
corajosas; para os professauros, o angustiante retorno a uma rotina odiosa, o eterno repetir amanhã tudo quanto de certo e 
de errado se fez ontem. 
Quanto aos alunos que acolhem: 
Para os professores, a alegria de percebê-los cada vez mais sabidos e curiosos e a vontade de fazê-los efetivos protagonistas 
das aulas que ministrarão. A certeza de que não os ensinarão, mas poderão contribuir de forma decisiva para iluminar suas 
inteligências e afiar suas muitas competências. Para os professauros, nada mais que chatíssimos clientes que transformados 
em espectadores pensarão sempre mais na indisciplina que na aprendizagem, na vagabundice que no crescimento interior.
Quanto às aulas que deverão ministrar:
Para os professores, um momento especial para propor novas situações de aprendizagens pesquisadas e através das mesmas 
provocar reflexões, despertar argumentações, estimular competências e habilidades; para os professauros, nada além que a 
repetitividade de informações que estão nos livros e apostilas e a solicitação de esforço agudo das memórias para acolher o 
que se transmite, ainda que sem qualquer significação e poder de contextualização ao mundo em que se vive. 
Quanto aos saberes que se trabalhará: 
Para os professores, um volume de informações que necessitará ser transformado em conhecimentos, uma série de veículos 
para que com eles se aprenda a pensar, criar, imaginar e viver; para os professauros, trechos cansativos de programas 
estáticos que precisam ser ditos, ainda que não se saiba por que fazê-lo. 
Quanto à vida que se vive e os sonhos que se acalenta: 
Para os professores, desafios a superar, esperanças a aguardar, conhecimentos para cada vez mais se aprender, a fim de se 
fazer da arte de amar o segredo de viver; para os professauros, a rotina de se trabalhar por imposição, casar por obrigação, 
fazer filhos por tradição, empanturrar-se para depressa se aposentar e quanto antes morrer. 
O relatório do pesquisador espacial prossegue, mas não é objetivo desta crônica pelo mesmo avançar. O que com a mesma, 
efetivamente, se pretende são duas singelas interrogações. Você descobre em colegas que conhece quem pertence a uma e a 
outra categoria? E você, prezado amigo, com sinceridade, a que categoria pertence?
(ANTUNES, 2007, p. 13-14).
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SOCIOLOgIA E EDuCAçãO • AULA 1
Sintetizando
Vimos até agora:
 » Para que uma aprendizagem possa ser considerada significativa, o aluno deve compreendê-la como relevante para a 
obtenção de seus objetivos.
 » A presença da Sociologia da Educação nos cursos de formação de professores pode se justificar pelos seguintes motivos:
A educação é uma instituição social, que, portanto, não pode ser compreendida separadamente do contexto social, e a 
Sociologia nos ajuda a compreender este contexto.
A Sociologia nos dá o suporte necessário para refletir criticamente sobre a prática docente, questionando nosso papel 
enquanto educadores e desnaturalizando tudo o que fazemos cotidianamente.
A Sociologia nos auxilia a lidar com os desafios sociais contemporâneos, com os quais o professor precisa lidar em sua 
prática profissional.
 » Instituições sociais podem ser definidas como sistemas abstratos e complexos que incorporam os valores fundamentais 
adotados pela sociedade, estabelecendo um conjunto de normas, padrões de comportamento e relações sociais 
que deverão ser seguidos em prol da satisfação de uma necessidade básica específica. Por se relacionarem a temas 
fundamentais da vida social, são relativamente duradouras e qualquer modificação significativa em um destes sistemas 
provavelmente afetará os demais. 
 » A educação é uma instituição social que visa atender à necessidade básica de formar as novas gerações para viver em 
sociedade e dominar os conhecimentos, valores e condutas acumulados pelas gerações anteriores.
 » De acordo com a Constituição Federal, cabe à educação não só apresentar ao aluno os conteúdos específicos das 
disciplinas curriculares, mas, também, contribuir para que ele se desenvolva plenamente, ou seja, em seus aspectos 
intelectual, físico, emocional, cultural e social. Cabe a ela, ainda, preparar o indivíduo para exercer a sua cidadania e estar 
pronto para ingressar no mercado de trabalho.
 » O conceito de etnocentrismo consiste na atitude de julgar as práticas, crenças e valores de determinada cultura ou grupo 
social, tomando como base os critérios da cultura do próprio observador, ou seja, quando julgamos o outro a partir de nós 
mesmos.
 » A violência simbólica ocorre quando os esquemas de dominação submetem a própria vontade do dominado em perpetuar 
a dominação, uma vez que o habitus das classes dominantes é ensinado dentro do processo de socialização como única 
cultura legítima.
 » O relativismo cultural consiste em compreender a cultura do outro a partir dos seus próprios termos, buscando entender 
os significados que as pessoas que fazem parte daquele grupo atribuem aos fatos e valores de sua cultura.
 » As transformações na sociedade implicam também transformações no campo da educação, com relação às quais o 
professor precisa manter-se atualizado.
28
Introdução 
Neste capítulo, definiremos a Sociologia enquanto estudo das sociedades, que prima pela 
observação objetiva, sistemática e metódica dos fenômenos sociais, em sintonia com o tipo de 
construção de conhecimento proposto pelas Ciências da Natureza. 
Veremos que o pensamento científico não é a única forma através da qual os seres humanos 
explicam a sua própria realidade e analisaremos as transformações sociais desenroladas a partir 
do século XV que levaram à valorização deste tipo de saber. 
Com base nesta contextualização, localizaremos também o surgimento da Sociologia e 
apresentaremos o pensamento de Auguste Comte, um dos principais fundadores da disciplina.
Objetivos 
 » Apresentar as quatro principais formas de pensamento através das quais os indivíduos 
constroem conhecimento a respeito do mundo.
 » Definir a Sociologia como forma de investigação da realidade, que surge ancorada na 
valorização do pensamento e da metodologia científica.
 » Contextualizar o surgimento da Sociologia, deixando clara a sua relação com as 
transformações advindas da passagem da Idade Média para a Modernidade.
 » Apresentar o Positivismo e o pensamento de Auguste Comte.
2
AULA
EM BuSCA DE uMA CIÊnCIA PARA 
EntEnDER A SOCIEDADE
29
EM BuSCA DE uMA CIÊnCIA PARA EntEnDER A SOCIEDADE • AULA 2
Como conhecemos o mundo
Quando falamos sobre Sociologia, a primeira imagem que vem à mente da maioria das pessoas 
é a de um campo de estudos que pensa sobre a sociedade, buscando entender e explicar de que 
forma ela funciona. O propósito do sociólogo seria, portanto, responder a perguntas como:
 » Por que os indivíduos em sociedade fazem o que fazem? 
 » Por que os indivíduos em sociedade fazem o que fazem da maneira que fazem? 
 » Por que os indivíduos em sociedade fazem o que fazem no momento em que fazem? 
 » Por que os indivíduos em sociedade fazem o que fazem nas condições que fazem? 
 » Por que os indivíduos em sociedade fazem o que fazem com as pessoas que fazem?
Certamente, uma infinidade de pessoas em lugares e épocas diferentes se fizeram perguntas 
como estas. Será possível afirmar então que a Sociologia sempre existiu? Será que podemos, 
por exemplo, dizer que o homem sentado no interior de uma caverna a sessenta mil anos atrás, 
que se perguntava por que todos as pessoas se abrigavam em suas cavernas quando começava 
a chover, já era um sociólogo? Ora, ele estava justamente tentando entender o comportamento 
coletivo do grupo em que vivia!
Na verdade, este ato de se perguntar a respeito do mundo é o que nos torna diferentes de todosos outros animais. O ser humano não só pensa, como é capaz de utilizar este pensamento para 
interpretar o mundo, analisar seus próprios atos, planejar, criar e transmitir o conhecimento 
acumulado através das gerações.
No entanto, é preciso compreender que existem diferentes tipos de conhecimentos que podem 
ser construídos através do pensamento, cada um deles partindo de uma premissa diferente 
para responder a um questionamento. Sendo assim, não é a pergunta em si que nos leva a uma 
resposta, mas o tipo de pensamento que utilizamos para abordar esta pergunta, que nos levará 
a um resultado entre muitos possíveis.
Vejamos a seguir os quatro principais tipos de conhecimentos e as premissas a partir das quais 
cada um deles busca analisar os fatos: 
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Figura 5. tipos de conhecimento.
Fonte: Elaboração da autora.
 » Conhecimento empírico ou de senso comum: produzido a partir da experiência 
cotidiana do indivíduo, sem aprofundamento ou verificação. É também aquele 
transmitido através da tradição de uma geração para a outra, quando os mais jovens 
repetem o que fazem os mais velhos sem se questionar ou tentar refutar aquele 
comportamento.
 » Conhecimento teológico: tipo de saber fundamentado na crença em um universo 
sobrenatural, com seres – deuses, espíritos, etc. – capazes de agir sobre a realidade e 
a vida dos indivíduos. Estão incluídos neste tipo de conhecimento todos os pontos de 
vista baseados em mitos, ou nas mais diversas religiões, cabendo ao indivíduo apenas 
ter fé e acreditar, sem questionar ou tentar refutar.
 » Conhecimento filosófico: aquele que tem como fundamento a reflexão racional a 
respeito do mundo, fazendo uso da observação e da reflexão para responder tanto sobre 
as questões materiais quanto imateriais da vida humana. Nele, a cada descoberta, novas 
problemáticas e indagações são geradas, fazendo com que o indivíduo continue sempre 
refletindo e questionando suas próprias respostas. 
 » Conhecimento científico: tipo de conhecimento que busca analisar os fatos 
objetivamente, com base em evidências coletadas e testadas através de uma 
rigorosa metodologia. O cientista deve considerar apenas os fatos, baseando suas 
conclusões exclusivamente nos resultados de seus experimentos e não em valores, 
predileções ou crenças pessoais.
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EM BuSCA DE uMA CIÊnCIA PARA EntEnDER A SOCIEDADE • AULA 2
Qualquer evento da vida cotidiana pode ser 
analisado através destes diferentes tipos de 
abordagens e qualquer pergunta que nos façamos 
pode ser respondida utilizando um destes quatro 
tipos de conhecimentos, gerando provavelmente 
respostas completamente diferentes para uma 
mesma indagação.
Imagine, por exemplo, que você está se preparando 
para ir ao cinema com os amigos e, ao abrir a porta para sair de casa, se depara com um céu 
carregado de nuvens escuras. Imediatamente você se pergunta: Será que vai chover? Devo ir ao 
cinema ou ficar em casa?
Vamos imaginar algumas respostas possíveis para estes questionamentos:
 » Tenho certeza de que vai chover! Esse céu preto não me engana. Toda vez que fica assim 
cai um baita temporal. É melhor levar um guarda-chuva e, antes de sair, vou cobrir o 
espelho da penteadeira, pois minha avó sempre me disse que espelho descoberto em 
dia de temporal atrai raio. Não sei se isso é verdade, mas é melhor não arriscar. 
 » Ah, não! Vai cair o maior temporal! É Deus me castigando porque eu disse pra minha 
mãe que ia ficar em casa estudando. Pode ser também um aviso divino de que se eu sair 
de casa uma coisa terrível vai acontecer, como um acidente ou um assalto. É melhor 
ficar em casa. Vou ligar pro pessoal e dizer que eu não vou.
 » Sempre que o céu está cheio de nuvens negras a probabilidade de que chova aumenta 
consideravelmente. Está tarde; o céu está cheio de nuvens negras, portanto é lógico 
afirmar que a probabilidade de que chova aumentou consideravelmente. Deixar de ir 
ao cinema, nesta situação, seria uma ação sábia, mas será que tal comportamento não 
seria antiético, uma vez que meus amigos já podem ter saído de casa e, portanto, estão 
expostos às consequências da chuva acreditando que eu honrarei a minha palavra e me 
encontrarei com eles na entrada do cinema?
 » Essa quantidade de nuvens negras no céu me leva a crer que vai chover, pois as nuvens 
de chuva normalmente são mais espessas por estarem carregadas de gotículas de água, 
o que dificulta a passagem dos raios de sol, explicando, assim, a coloração escura. No 
entanto, a mera aglomeração de nuvens e a sua coloração não me fornecem dados 
suficientes para determinar as chances de chover. Vou consultar a previsão do site do 
Instituto Nacional de Meteorologia, pois eles utilizam dados confiáveis coletados por 
satélite e uma metodologia de cálculo da possibilidade de chuva com uma alta taxa de 
acertos. Vou fazer esta pesquisa antes de tomar uma decisão sobre ir ou não ao cinema.
Saiba mais
Para visualizar as principais características de cada 
um dos quatro tipos de conhecimento estudados 
neste capítulo, convido você a pausar sua leitura 
e visitar a Trilha de Aprendizagem da primeira 
estação da disciplina, onde está disponibilizado um 
quadro comparativo para complementar e fixar o 
conhecimento construído até aqui.
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AULA 2 • EM BuSCA DE uMA CIÊnCIA PARA EntEnDER A SOCIEDADE
Você consegue identificar a que tipo de conhecimento se relaciona cada uma das respostas 
apresentadas acima?
No primeiro caso, temos um exemplo de conhecimento empírico ou de senso comum, pois a 
avaliação sobre a chuva se deu apenas através da experiência cotidiana do indivíduo. Ele percebeu 
que em diversas situações anteriores um grande temporal foi precedido por um céu coberto de 
nuvens negras e usou essa comparação para concluir que choveria. Percebemos também, nesta 
resposta, a menção a uma crença popular, de que cobrir espelhos durante um temporal impede 
que eles atraiam raios, mesmo que as pessoas que ainda mantêm este costume não saibam 
explicar o porquê. 
Já na segunda resposta, a questão sobre o mau tempo foi respondida com base no pensamento 
teológico, pois a possibilidade de chuva foi associada a um ato divino. Deus estaria punindo o 
sujeito por um mau comportamento ou enviando um presságio para protegê-lo de um infortúnio 
iminente. Neste caso, o conhecimento sobre a chuva se fundamenta estritamente na fé do 
indivíduo de que Deus tem o poder de transformar o tempo de acordo com a sua vontade, e não 
cabe ao devoto questionar este fato.
No terceiro caso, o conhecimento utilizado para refletir sobre o tempo foi o filosófico. Perceba 
que o sujeito parte da observação racional e lógica para determinar que a chuva se aproxima 
e, partindo desta informação, conclui que a melhor ação a tomar seria não se arriscar saindo 
de casa. No entanto, esta conclusão o leva a uma nova reflexão, que diz respeito às implicações 
éticas atreladas ao seu não comparecimento ao cinema. 
Por fim, temos uma resposta fundamentada no conhecimento científico, pois o sujeito associa 
sua observação objetiva do tempo aos conhecimentos já testados e verificados a respeito da 
formação das nuvens de chuva. Complementando esta análise, ele decide verificar uma fonte 
de dados confiável, da qual ele conhece o método rigoroso de coleta e análise de informações, 
para chegar a uma resposta a mais próxima possível da realidade. Apenas quando todos estes 
fatores forem devidamente analisados será possível passar à próxima pergunta, que diz respeito 
a ida ou não ao cinema.
Tanto no pensamento filosófico quanto no pensamento científico, percebemos pelos exemplos 
que a razão é o fundamento de partida para a construção do conhecimento, o que pode criar 
algumas dúvidas na diferenciação dos dois. O que distingue, afinal a filosofia da ciência?
As principais diferenças entre essesdois tipos de conhecimento têm a ver com 
o objeto e o método de estudo. O objeto de estudo do conhecimento científico 
são dados materiais, que podem ser percebidos pelos sentidos e observados 
com a ajuda do método experimental. Já o objeto do conhecimento filosófico 
é bem diferente. A filosofia está interessada em temas que vão além do que os 
sentidos podem captar: ela parte da experiência material para a reflexão abstrata. 
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EM BuSCA DE uMA CIÊnCIA PARA EntEnDER A SOCIEDADE • AULA 2
Aqui, usamos a reflexão para pensar sobre nós mesmos e sobre a realidade. 
(MASCARENHAS, 2012, p. 23).
Da mesma forma, é possível argumentar que tanto a ciência quanto o senso comum podem partir 
da observação de um fato e da experimentação para construir um conhecimento. No entanto, 
a ciência precisa ser objetiva, e restringir as suas conclusões apenas àquilo que se pode avaliar 
e concluir através dos dados analisados, enquanto o senso comum é subjetivo e, portanto, abre 
espaço para a imaginação, as predileções, valores e afetos.
Considere que um estudo conduzido cientificamente conclui que o chá de camomila e o chá 
de erva cidreira contêm um elemento em sua composição que possui propriedades calmantes. 
Uma pessoa que escute os conselhos da avó poderá chegar à mesma conclusão simplesmente 
tomando o chá em um dia estressante e sentindo-se mais calma depois disso. 
Se perguntarmos ao cientista qual dos dois chás é mais eficiente, sua resposta estará vinculada 
à composição química das ervas e de sua reação na bioquímica do corpo. Ele deverá ainda 
apresentar junto com suas conclusões o exato processo através do qual testou e investigou as 
propriedades calmantes das duas ervas, para que outro pesquisador, se desejar, possa reproduzir 
o experimento para comprovar ou refutar a sua hipótese. 
A pessoa que simplesmente toma o chá recomendado pela avó, por outro lado, poderá dizer 
que um deles é melhor porque é mais gostoso ou porque tem uma recordação afetiva da avó 
preparando o chá. E se fizermos a mesma pergunta a outro bebedor de chás, seu veredito pode 
ser exatamente oposto baseado nas mesmas justificativas. 
Você agora deve estar pensando: então, se a ciência me garante maior precisão nas respostas, 
posso dizer que o conhecimento científico é melhor do que todos os outros! 
Não necessariamente.
Dentre os quatro tipos de conhecimento apresentados, o científico é o único que se baseia 
exclusivamente na análise dos fatos, sem permitir a utilização da subjetividade para modificar 
os seus resultados. Valores, ideais, predileções, opiniões e afetos variam de uma pessoa para 
outra, por isso não podem ser considerados para um resultado científico. 
Contudo, o que definirá o quão “melhor” será um tipo de conhecimento, será o contexto em 
que ele será necessário, seus objetivos e a utilização que será feita dele. Se você deseja construir 
uma ponte, aconselho que utilize o método científico; para decidir que sapato usar na festa de 
aniversário do seu irmão, o senso comum poderá ser mais indicado; no caso da perda de um ente 
querido, o conhecimento religioso pode ser capaz de trazer o conforto que nenhum dos outros 
trará; e o conhecimento filosófico pode ser essencial para que você analise todas as implicações 
envolvidas em contar para sua melhor amiga que o marido dela está tendo um caso extraconjugal.
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Mas o que tudo isso tem a ver com a Sociologia? Como toda esta distinção entre tipos de 
conhecimento nos ajuda a saber se nosso amigo das cavernas, há sessenta mil anos, refletindo 
sobre as pessoas se abrigando da chuva já era um sociólogo?
Estou certa de que, depois de discutirmos os diferentes tipos de conhecimentos, você pode imaginar 
que a resposta a que aquele sujeito chegou sobre o dilema da chuva foi baseada na reflexão religiosa 
ou do senso comum. A utilização da racionalidade na construção de conhecimento surgiu apenas 
na Grécia do século VI a.C., quando a insatisfação diante das respostas fornecidas pelos mitos 
fez com que os primeiros filósofos buscassem uma nova forma de explicar o mundo, não mais 
centrada no sobrenatural, mas, sim, na observação e na reflexão racional a respeito da realidade.
Com o passar do tempo, esta observação racional da filosofia a respeito dos fenômenos da natureza 
foi se tornando cada vez mais metódica e especializada, dando origem, assim, a ciências como 
Biologia, Física, Química, etc. 
Entretanto, é apenas no século XV, com o final da Idade Média e o início da Idade Moderna, que 
a ciência se tornará, como aponta Alessandro Paixão (2012), a forma dominante e aceita como 
verdadeira para explicar a realidade. Este, para nós, é um dado importante, pois foi apenas quando 
atribuímos à ciência a primazia enquanto forma de explicação da realidade, que estabelecemos 
o contexto propício para o surgimento da Sociologia.
O contexto histórico para o surgimento da Sociologia
Para de fato compreendermos o que é a Sociologia, seu objeto de estudo e o método através do 
qual ela se dedica a explicar a sociedade, é fundamental compreendermos o contexto histórico e 
social em que se dá o nascimento desta disciplina. Como apontado por Bomeny (2016), a Sociologia 
é uma filha da modernidade, criada na Europa no século XIX, mas herdeira das transformações 
sociais que se iniciaram a partir do século XV.
Os “tempos modernos” se iniciaram no século XV, quando uma série de mudanças 
afetou as sociedades europeias e a vida urbana foi impulsionada, como reflexo 
das Grandes Navegações e do desenvolvimento do comércio no continente 
europeu e no ultramar. A nova maneira de viver e de ver o mundo contrastava, 
cada vez mais, com a da sociedade medieval, caracterizada por estratificação 
rígida e imobilidade social. A estratificação era reforçada pelo dogma cristão 
que atribuía à vontade de Deus o lugar que cada um ocupava na sociedade. A 
igreja também se encarregava de definir o que era certo ou errado nos campos 
político, econômico e cultural. Com isso, por muito tempo, as atividades ligadas 
ao comércio não tiveram a mesma importância social das atividades agrícolas. 
O século XVIII se destacou no processo de mudanças que caracterizou os 
“tempos modernos” porque foi berço de importantes revoluções: a Revolução 
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Industrial e a Revolução Francesa. A primeira trouxe, para as cidades, novos 
contingentes originários das vilas rurais, o que gerou um profundo impacto social; 
a segunda buscou assegurar direitos da nova população que havia se instalado 
no ambiente urbano. A cidade foi o espaço privilegiado para transformações 
sociais, econômicas e políticas na Era Moderna. O ritmo urbano acelerado e as 
mudanças econômicas e políticas, bem como o desenvolvimento da ciência e da 
tecnologia, alimentaram a ideia de que a vida em sociedade é fruto do trabalho e 
da invenção humana. Essa nova mentalidade contribuiu para o desenvolvimento, 
em meados do século XIX, de um campo de estudos dedicado a compreender 
o sentido das transformações sociais e como os indivíduos reagiam a elas. Com 
essa promessa, nasceu a sociologia. (BOMENY et al.., 2016, p. 23).
Vejamos a seguir mais detidamente a contribuição de cada uma destas grandes transformações 
sociais para o surgimento da Sociologia:
 » Urbanização – a partir do século XV, a Europa, até então predominantemente rural, 
experimenta um grande fluxo de pessoas saídas do campo para povoar as cidades, que 
se viam cada vez mais populosas sem estarem devidamente preparadas para o novo 
contingente de habitantes. Esta proximidade constante entre vizinhos, muitas vezes de 
diferentes etnias, religiões e até mesmo classes sociais, fez aflorar uma série de novas 
problemáticas sociais.
 » Grandes Navegações – movimento de exploração marítima que se iniciou

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