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1 A CONTRIBUIÇÃO DOS IMIGRANTES BRASILEIROS NO POVOAMENTO DO LESTE PARAGUAIO

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A CONTRIBUIÇÃO DOS IMIGRANTES BRASILEIROS NO POVOAMENTO DO LESTE PARAGUAIO
	
GT-6: Sustentabilidades socioambientais e território
RESUMO
O artigo analisa o processo migratório de brasileiros para o leste paraguaio e sua contribuição para o aumento demográfico e econômico na região de fronteira daquele país, entre os anos 1950-90. Enfatiza o processo evolutivo das questões migratórias no Paraguai, motivados pela baixa densidade demográfica e da concentração populacional em torno da região de Assunção, em decorrência de fatores geográficos, políticos e econômicos. Para ser construído, este artigo se utilizou da metodologia de revisão bibliográfica do tipo narrativa. 
PALAVRAS CHAVE: Paraguai – Imigrantes – Brasileiros - Demografia
RESUMEN 
 
El artículo hace un análisis del proceso migratorio de brasileños hacia el este paraguayo y su contribución en el aumento demográfico y el desarrollo económico de aquel país entre los años 1950-90. Enfatiza el proceso evolutivo de las cuestiones migratorias en Paraguay, motivados por la baja densidad demográfica, de la concentración poblacional en torno de la región de Asunción, como consequencia de factores geográficos, políticos y económicos. Para ser construido, este artículo se utilizó de la metodología de revisión bibliográfica del tipo narrativa.
PALABRAS CLAVE: Paraguay – Inmigrantes – Brasileños - Demografía
1. Introdução 
Os movimentos migratórios fazem parte da história da humanidade, estando vinculados as necessidades de alimentos, de proteção das intempéries da natureza. Porém, independentemente da época em que ocorrem, as migrações promovem mudanças nas características dos locais onde afluem. Por ser assim, se tornaram convenientes ou indesejáveis, mas significativas no sentido de recompor populações e estimular a economia de certos países.
Após a Segunda Guerra Mundial, verificou-se um novo ciclo do processo migratório no mundo, procedente, principalmente, de países assolados por guerras, fome, seca e, claro, pela busca de novas oportunidades, ou seja, as migrações são cíclicas, imitam os mesmos padrões, mesmo em épocas distintas.
O Brasil sempre recebeu contingentes migratórios de diferentes continentes, cuja mistura de raças hoje povoam o país. Por outro lado, gerou emigrantes que se estabeleceram, inclusive, em países vizinhos mais pobres que o Brasil.
	O Paraguai está entre os países que receberam imigrantes brasileiros. Eles foram a procura de boas terras e novas oportunidades, e se estabeleceram principalmente na faixa fronteiriça com o Brasil. Isso foi possível em razão de acordos políticos e econômicos entre Brasil e Paraguai, que almejavam a ocupação e o desenvolvimento de territórios vazios, com a criação de infraestruturas de conexão entre ambos países. Tal estratégia tinha como objetivo atrair pioneiros brasileiros para os espaços desabitados da fronteira paraguaia.
Ao longo de sua história, o Paraguai foi um país de escassa população, fato que se agravou depois da Guerra da Tríplice Aliança (1865-1870), pois o conflito reduziu de maneira drástica seus habitantes, que antes tampouco era numeroso. Apesar das tentativas do governo para aumentar a população e povoar os territórios periféricos, quase nada mudou até os anos 1950, quando os primeiros imigrantes brasileiros começaram a ocupar, de maneira lenta, mas progressiva, espaços fronteiriços. 
É no contexto da migração de brasileiros ao Paraguai (1950-1990), que este artigo evidencia a importância dos imigrantes na recomposição demográfica e econômica do leste paraguaio.
	
2. Metodologia
 A metodologia utilizada nessa pesquisa foi a narrativa. Estabelecemos, deliberadamente, uma linha histórica sobre o processo de povoamento do Paraguai desde sua colonização, com a intenção de explicar as causas de sua escassa população e a conveniência de atrair imigrantes brasileiros para povoar territórios vazios na fronteira. Para tal, nos apoiamos em publicações dos historiadores paraguaios CARDOZO (1998) e FLORENTIN (1998); do sociólogo FOGEL (1995); dos estudos sobre a população paraguaia realizados pelo CICREDI (1974) e; das estatísticas censitárias do governo, publicadas pelo DGEEC (2014). 
3. Assunção: arcabouço da nação paraguaia
Os fatores naturais sempre influenciaram de alguma maneira na construção territorial, no povoamento e na economia dos países. O Paraguai é um exemplo de que o insulamento e o condicionamento a uma única via de comunicação, o rio Paraguai, isolou sua população e restringiu a ocupação de seu território aos arredores de Assunção, durante a colonização e depois de sua independência, em 1811.
A história paraguaia gira em torno de Assunção. A humilde Casa Forte erguida pelo capitão Juan de Salazar em 1537, foi convertida em cidade em 1541, por Domingo Irala (CARDOZO, 1998). De acordo com o CICRED (1974), a cidade de Assunção, na época colonial, apresentava reduzida população branca, contando com alguns indígenas, que eram mantidos como serviçais junto aos primeiros contingentes espanhóis que ali se instalaram.
A cidade, eleita pelos europeus como centro das conquistas regionais tinha como função, inicialmente, servir de entreposto para abastecer as expedições que rumavam ao Peru. Foi nesse cenário que surgiu o embrião, ao redor do qual, por motivos físicos, espirituais, sociais e biológicos, foram se agrupando os elementos que constituíram a nação paraguaia (CARDOZO, 1998). 
Porém, por não oferecer ouro à Coroa espanhola, e em consequência da descoberta de rotas mais acessíveis às minas do Peru, Assunção foi perdendo protagonismo. A população da cidade permaneceu quase inalterada durante décadas. Contava somente com 4.941 habitantes em 1782 (MELIÁ, 2007). Às vésperas de sua independência da Espanha, em 1799, a Província do Paraguai abrigava em todo seu território apenas 89.597 habitantes (D.G.E.E.C., 2003).
Ao longo do período colonial, foram realizados sucessivos esforços para a ocupação e controle territorial orientadas para a região leste da atual capital, uma vez que para oeste havia a presença de grupos indígenas violentos, além das condições geográficas inóspitas, impedia tal avanço. A redução da população do território paraguaio no período colonial se justifica, por CICRED (1974) pela região ter de se proteger das incursões sangrentas dos “malones chaqueños”, que juntamente com os mamelucos, atacavam as povoações ao redor de Assunção. Por esse motivo, a população passou a se confinar na zona controlada de Assunção. Mais tarde, durante o período de independência, a população ainda se concentrava na Capital e em uma franja adjacente, onde se encontravam alguns centros populacionais. (CICRED, 1974).
A polarização de Assunção, que concentrava a maior parte da população paraguaia, deixava a periferia do país vazia. Depois que os jesuítas foram expulsos, no final do século XVIII, Encarnação, ao sul, surgiu como importante centro de povoamento, pois era ligada à capital por uma ferrovia, que por sua vez favoreceu o aparecimento de outros povoados, mas que não subsistiram depois da Guerra da Tríplice Aliança (GAMBETTA e CURY, 2018).
Antes da Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870), o Paraguai já havia realizado censos demográficos para ter o número de sua população. É considerado o recenseamento mais completo do período, o realizado em 1846, pelo bispo Basílio Lopez. O censo de 1846 contabilizou 233.394 habitantes, resultado contestado, e em outro levantamento contou-se aproximadamente 300.000 habitantes. Outras sondagens foram realizadas após este último censo. Em 1846, Arsênio Lopez Decoud chegou ao número total de 875.000 habitantes, em 1865 V. Ayala Queirolo, contabilizou 600.000 habitantes (CICRED, 1974).
Após a Guerra da Tríplice Aliança, o número da população paraguaia reduziu drasticamente, se estima que um terço foi morta na Guerra. Devido as dificuldades de viver no país, destruído pelo conflito, milhares de paraguaios migraram principalmente para a Argentina. Outros países como a Bolívia, Uruguai e Chile, alémdo Brasil, igualmente receberam paraguaios. A Tabela 1 mostra a estrutura populacional no pós-guerra.
Tabela 1 – População do Paraguai por grupo de idade e sexo, 1886/1887
	Grupos de Idade
	
	
	Homens
	Mulheres
	Menos de 5 anos
5 a 9 anos
10 a 14 anos
15 a 20 anos
21 a 30 anos
31 a 40 anos
41 a 50 anos
51 a 70 anos
Acima de 71 anos
	20.324
18.127
9.975
10.641
22.586
6.420
3.497
2.652
646
	20.982
18.186
10.069
13.478
31.900
18.697
12.124
9.284
2.290
	TOTAL
	94.868
	137.010
 Fonte: Anuário Estadistico de la Republica del Paraguay. CICRED, 1974.
 
Nota-se que o total de mulheres entre 15 e 50 anos superava, deveras, o número de homens. Isso deixa claro que a maioria dos homens adultos e produtivos morreram no conflito bélico.
De acordo com Florentin (1998), o governo paraguaio se viu obrigado a promover projetos de ocupação estrangeira, dando prioridade aos emigrantes europeus, mas a tentativa fracassou, principalmente pela localização mediterrânea do país e pela repercussão da Guerra na Europa.
 Destruído pela Guerra, a pestilência, e uma terrível falta de alimentos, o governo abriu as portas para outros imigrantes, não apenas europeus, mas grupos distintos de outros países, como grupos menonitas, gentes do noroeste europeu, japoneses e, mais recentemente, para milhares de brasileiros que ocuparam a Região Oriental do Paraguai. A tabela 2 mostra o número de imigrantes por período, sem revelar a origem dos imigrantes.
Tabela 2 – Paraguai – Imigração Acumulada do período de 1881-1920
	Período
	Número de Imigrantes
	1881-1885
1886-1890
1891-1895
1896-1900
1901-1905
1906-1910
1911-1915
1916-1920
	885
5.635
7.448
8.695
11.015
16.088
20.732
22.305
Fonte: CICRED, 1974
				Entre 1950 e 1972, quando grandes fluxos migratórios ocorreram no Paraguai por conta de políticas de governo para ocupação da região leste do país, houve aumento significativo da população paraguaia, conforme mostra a Tabela 3.
Tabela 3 – População estrangeira registrada nos Censos Nacionais da População no período de 1950, 1962 e 1972
	Anos
	Número de 
Estrangeiros
	População
Total
	% em Relação a População Total
	1950
1962
1972
	54.171
49.075
82.590
	1.328.452
1.819.103
2.350.320
	4.07
2.70
3.51
Fonte: CICRED, 1974
A história da migração no Paraguai depois da independência, em razão das pressões da Argentina e Brasil de avançar sobre seu território, foi quase insignificante, reduzido a níveis extremamente baixos (CICRED, 1974, p. 18). Durante o governo de José Gaspar Rodríguez de Francia, houve limitação de entrada de estrangeiros devido a postura ditatorial, o qual chegou a proibir casamentos entre mulheres brancas e crioulos. O ditador era admirado pelos menos favorecidos ao impedir a entrada de estrangeiros para não comprometer a renda dos paraguaios, em detrimento dos grupos de imigrantes (COLAZZO, 2004).
O governo de Carlos Antônio López, por sua vez, abriu as portas para entrada de estrangeiros, mas de forma controlada (COLAZZO, 2004).
A entrada progressiva de imigrantes aconteceu de forma mais intensa a partir da década e 1950, quando o governo paraguaio planejou a colonização das terras do leste com o objetivo de modernizar a agricultura. Foi durante esse processo que houve uma intensa migração de brasileiros. A migração de brasileiros tomou proporções maiores com a construção da Represa de Itaipu, da Ponte da Amizade, e da Ruta 7, que liga Cidade do Leste à Assunção; importantes infraestruturas construídas entre os anos 1965 e 1982. 
Segundo GODOY (2014), as estimativas indicam que o Paraguai possui a segunda maior comunidade de brasileiros fora do Brasil, perdendo apenas para os Estados Unidos.
4. A distribuição dos imigrantes brasileiros nos departamentos fronteiriços com o Brasil
Os brasileiros foram atraídos ao Paraguai pelo baixo preço de suas terras férteis. Devido a fraca humanização da fronteira, a região oferecia um grande potencial a ser explorado. Durante os anos 1960-70, os colonos brasileiros se fixaram principalmente em três departamentos do extremo oriente paraguaio: Alto Paraná, Canindeyú, e Amambay, Algumas estatísticas mostram que os brasileiros no Paraguai, em 1962, eram aproximadamente 2.250 e, em 1972, em torno de 30.000. Por ordem de ocupação, os departamentos mais habitados por estrangeiros estariam assim relacionados: Canindeyú - 12.028 – Amambay - 10.027; Alto Paraná - 7.130 (NICKSON,1981). Nos anos 1970, haviam chegado ao Paraguai uns 10% do total de imigrantes que ocupariam o país nos anos seguintes. Sua expressão numérica não se podia comparar ao que é hoje, mas já haviam começado a fundar os primeiros núcleos populacionais e organizar as bases da colônia.
Como se pode observar, o departamento do Alto Paraná era o menos povoado pelos imigrantes, pelo menos no início da colonização. Mas esse quadro mudou quando foi terminada a construção da Ponte da Amizade e da Ruta 7, que ligava Cidade Presidente Stroessner (hoje Cidade do Leste) à Foz do Iguaçu. O objetivo da criação das infraestruturas, como já foi dito, era abrir um canal de acesso ao território que deveria ser colonizado o que, como os números mostram, surtiu o efeito desejado. Outra estatística feita entre os anos 1977 e 1981, apontam novos números destacando que a imigração não só continuava, mas apresentava um importante aumento. Naqueles tempos, o número de imigrantes subiu para 51.363, tendo como novidade o fato de que Itapúa era o novo departamento incluído nas estatísticas, posicionando-se como segundo colocado na preferência dos brasileiros. A classificação dos departamentos que mais recebiam imigrantes, assim se constituía naqueles anos: Alto Paraná: 27.409 – Itapúa: 12.969 – Canindeyú: 6.615 – Amambay: 4.370 (FOGUEL, 1989).
Nota-se que a população estrangeira aumenta no departamento do Alto Paraná, mas diminui em Amambay e Canindeyú. Existem três fatores que podem explicar este declínio: a mudança de destino dos novos imigrantes que preferiam instalar-se nos departamentos de Itapúa e Alto Paraná; o retorno de muitos brasileiros na década de 1980, quando houve o fenômeno da volta dos chamados brasiguaios; e o movimento interno dos agricultores que procuravam novas terras. Em menos de uma década, houve uma redefinição quanto ao destino e a preferência dos imigrantes por instalar-se em outros territórios, que não aqueles procurados logo no início do fenômeno imigratório. Os departamentos de Amanbay e Canindeyú, que antes da construção da Ponte da Amizade recebiam a maior parte dos colonos, por razões de acessibilidade, perderam interesse depois da construção da passarela internacional. A Ponte da Amizade facilitou a entrada dos colonos nos departamentos mais próximos de Foz do Iguaçu e Cidade do Leste, que se destacavam como os principais centros provedores de máquinas e suplementos agrícolas, que necessitavam os colonos. 
A qualidade superior das terras nessa região também contribuiu para que os imigrantes preferissem instalar-se principalmente em Alto Paraná e Itapúa. Outra causa que definitivamente fez diminuir a população estrangeira nos departamentos de Amambay e Canindeyú foi o retorno de milhares de brasileiros que ali residiam na década de 1980. Voltaram ao Brasil porque tinham problemas de documentação ou econômicos. Segundo SPRANDEL (2000), cerca de 500 famílias de imigrantes retornaram ao Brasil nesse período. Para o reordenamento do movimento migratório, também contribuiu a vontade de muitos colonos de aumentar e melhorar suas propriedades e, por esse motivo, buscavam terras férteis, porém mais acessíveis ao comércio e aos centros urbanos. Alto Paraná e Itapúa estavam mais bem servidos de estradas e meios de comunicação, daí a preferência dos colonos por essa região. O departamento do Alto Paraná seguiu sendo o mais povoado pelos imigrantes, mas na década de 1990 Canindeyú superou Itapúa. Atualmente a maior concentração de brasileiros está em Alto Paranáe Canindeyú. 
Por motivos políticos e econômicos, a colônia sofreu uma reorganização na década de 1980, mas mesmo assim os números continuavam a apontar aumento da imigração. Finalmente o governo paraguaio resolveu fazer um censo populacional no ano de 1992 e, a partir dessa data, podemos contar com cifras oficiais, apesar de serem pouco exatas. Depois do censo de 1992, o número de brasileiros residindo no Paraguai subiu para 108.526. Por departamentos, os colonos estavam assim divididos: Alto Paraná: 43.414 – Canindeyú: 24.234 – Itapúa: 11.184 – Caaguazú: 6.444 – Amambay: 3.503 (D.G.E.E.C., 1992). Os outros 19.747 colonos faltantes para completar a cifra estariam espalhados nos demais departamentos, principalmente em Concepción e Caazapá.
Estimativas mais recentes da Dirección General de Encuestas y Estadísticas (D.G.E.E.C.) mostram que o crescimento da população nas áreas rurais tem sido significativo. Os departamentos com maior densidade demográfica, tradicionalmente povoados por paraguaios (Asunción, Central e Cordilheira), continuaram a evoluir, mas os departamentos que mais se destacam por seu crescimento populacional evolutivo são aqueles onde se instalaram os brasileiros.
Com exceção do departamento do Alto Paraná, nos demais departamentos colonizados pelos brasileiros, a maioria da população vive na zona rural. Mesmo tendo quase 60% da população vivendo em áreas urbanas, no Alto Paraná grande parte dessa porcentagem é constituída de brasileiros residentes em pequenas cidades, no interior do departamento. Dos 362.242 habitantes urbanos do departamento, 140.000 vivia na capital, Cidade do Leste, em 1994 (D.G.E.E.C., 1992). Os restantes 222.000 moradores urbanos estavam distribuídos em pequenas cidades nas áreas rurais, das quais muitas são habitadas quase que exclusivamente por brasileiros. O município de Los Cedrales é um exemplo que ilustra bem o caso. A localidade está situada a uns 30 quilômetros da fronteira com o Brasil, e dos seus 18.700 (LOS CEDRALES, 2002) habitantes, pelo menos 70% são brasileiros, sendo que no núcleo urbano eles chegam a somar 80% do total dos moradores. Casos como este, se repetem em inúmeras cidades nos departamentos onde os brasileiros são a maioria da população, chegando a atingir 80 e até 90% do total dos habitantes.
O governo paraguaio não fornece detalhes dessas cifras e nos relatórios do D.G.E.E.C., os estrangeiros nem sequer são distinguidos por sua nacionalidade. Essa atitude demonstra certa tendência em ocultar a presença massiva dos brasileiros nos departamentos situados na fronteira com o Brasil e nos demais departamentos.
A figura 1 mostra a abrangência dos colonos brasileiros em território paraguaio, apesar de que para os órgãos governamentais, e do Censo, eles não conformam número expressivo de estrangeiros, por outro lado, é considerado uma invasão pelos próprios camponeses paraguaios.
Figura 1: Mapa da “invasão” brasileira no Paraguai.
Fonte: GODOY, 2014, p. 39
Alguns estudos feitos por órgãos departamentais e nacionais citam o impacto das colônias menonitas situadas no Chaco Central, porém não leva em consideração a superioridade numérica e econômica que representa ao país a colônia de brasileiros na Região Oriental. Teria o governo paraguaio receio em expor a real importância desses números? Diante da dificuldade em apresentar estatísticas concretas e confiáveis, pensamos que somente uma pesquisa de campo exaustiva e detalhada poderia dizer com mais precisão quantos brasileiros e seus filhos vivem no Paraguai. De momento, os números aqui apresentados têm como base duas fontes de dados: a do governo, que como já dissemos tenta dissimular uma realidade, e a referência de alguns autores que estudaram o assunto.
Os números são deveras contraditórios quando comparamos as cifras do censo do governo com as de algumas publicações, as quais dizem que os brasileiros residentes no Paraguai seriam 300.000 (FOGUEL, 1995), 400.000 (PEBAYLE, 1994), ou até mesmo 500.000 (SPRANDEL, 2000) Os governos brasileiro e paraguaio concordam que o número de imigrantes pode chegar a 450.000, e que os 108.526 que apontam o censo, representam somente o número de documentados. Com relação ao número de filhos dos imigrantes não se sabe exatamente quantos poderiam ser. Muitas famílias nem sequer registram seus filhos no Paraguai, por não considerar o país como sua pátria. Outros por questões de segurança registram os filhos no Brasil e no Paraguai. Determinar quantos são os filhos de brasileiros que possam ser paraguaios é quase impossível. Poder-se-ia chegar a uma porcentagem aproximada fazendo uma investigação de porta em porta nas localidades onde predominam os brasileiros.
Como foi dito, é difícil determinar com exatidão quantos são os imigrantes e seus descendentes no Paraguai. Além das dificuldades encontradas, se somam outras, como aqueles dados que não aparecem nas estatísticas, como é o caso de brasileiros que possuem terras no Paraguai, mas que não residem no país. Não obstante, apesar de serem pouco exatos e confiáveis, os dados são reveladores e deixam claros as tendências dos fluxos migratórios. 
As estatísticas apontam que a imigração no Paraguai passou de 223.160 pessoas em 1972, para 1.221.101 em 1992. Esses números representavam, na época, 9,47%, e 29,4% do total da população do país, respectivamente. Em volume, são cinco vezes mais imigrantes em apenas duas décadas, sendo que a população do país passou de 2.357.955 habitantes em 1972, para 4.152.588 habitantes em 1992 (PALAU, 1995). 
Ao comparar a evolução da população absoluta com relação a dos imigrantes, percebemos que o aumento da população paraguaia foi de 76%, enquanto que o volume de imigrantes subiu 288%. Do total desses imigrantes, acredita-se que 60% sejam brasileiros. Os demais são árabes e asiáticos que controlam o comércio na área de fronteira; os menonitas que se estabeleceram no Chaco Central, e os argentinos que se concentram principalmente em Assunção e Itapúa. Partindo do princípio que a população paraguaia em 1992 era de 4.152.588 indivíduos, e que os estrangeiros somavam quase 30% desse total, sendo que, dessa soma, 60% são brasileiros, chegaríamos facilmente a um número de 700.000. De 1972 a 2002, houve um crescimento no número de brasileiros em território paraguaio. De lá para cá se passaram mais de quatro décadas. Quantos seriam hoje os imigrantes, seus filhos e netos? Diante de tais números a única conclusão que se pode chegar é que seja qual for o total de brasileiros existentes no Paraguai, eles são muito importantes não só por sua expressividade demográfica, mas muito mais pelas mudanças que provocaram no país.
 
Figura 2: Paraguai: evolução demográfica por departamento, anos 1972, 1982 Fonte: D.G.E.E.C. Anuário Estadístico, 2003.
 
Figura 3: Paraguai: evolução demográfica por departamento, anos 1992 e 2015
Fonte: D.G.E.E.C. Anuário Estadístico, 2015
5. Considerações finais
A fronteira leste paraguaia, emersa em florestas desde a colonização, sofreu um processo de radicais transformações econômicas e demográficas a partir dos anos 1950 e, especialmente durante os anos de 1980, período em que recebeu milhares de imigrantes agricultores, provenientes do sul do Brasil.
A ocupação dos territórios fronteiriços por brasileiros foi possível por que as bases da economia paraguaia eram fracas para impulsionar o desenvolvimento dessas regiões, antes e depois da colonização. O isolamento imposto pela geografia e a concentração da população ao redor de Assunção, no centro do país, constituem fatores que impediram a ocupação das terras periféricas. 
Porém, outros fatos históricos igualmente contribuíram para o esvaziamento das fronteiras, como a Guerra da Tríplice Aliança e as políticas migratórias mal dirigidas pelos governos do pós-guerra. A guerra não só dizimou a população do Paraguai, como desmantelou o prodigioso sistema agrário, base principal de sua economia, relativamente autônoma, como deixou vastos territórios livrespara futuras conquistas migratórias.
Por outro lado, analisar a dinâmica populacional do Paraguai antes e depois da chegado dos brasileiros, não só revela que os imigrantes dinamizaram a economia, consequência da modernização da agricultura, como mostra efeitos sem precedentes de um impressionante aumento demográfico, capaz de incorporar os territórios periféricos, antes desintegrados do resto do país.
6. Referências
CARDOZO, Efraín. El Paraguay colonial. Editora El Lector, Asunción, 1998.
CICRED. Comité Internacional para la Coordinación de las Investigaciones Nacionales en Demografía. La Población del Paraguay, 1974. Disponível em: http://www.cicred.org/Eng/Publications/pdf/c-c40.pdf. Acesso em: 23/04/2018.
COLLAZO Odriozola, Jaime El dictador Francia y la sociedad paraguaya Contribuciones desde Coatepec, núm. 7, julio-diciembre, 2004, pp. 81-107 Universidad Autónoma del Estado de México Toluca, México.
FOGUEL, Ramón Bruno. Relaciones interétnicas en el borde este del Paraguay. In: Práticas de integração na fronteira: Temas para o MERCOSUL. Porto Alegre: UFRGS, 1995.
FLORENTIN, Carlos Gomez. El Paraguay de la Post Guerra. Editora El Lector, Asunción,1998.
GODOY, A. Maria, Paola. Migración Brasileña en el Paraguay: El caso “Brasiguayos”, las dificultades sociales y diplomáticas que acarrea. 2014, 61 ps. Trabajo de Conclusión de Curso de Relaciones Internacionales e Integración - Universidad Federal de Integración Latino-Americana, Foz de Iguazu, 2014. Disponível em: https://dspace.unila.edu.br/bitstream/handle/123456789/464/J%20TCC%20MARIA%20PAOLA%20AYALA%20GODOY.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em 26/04/2018.
GAMBETTA, Luiz C.; CURY, Mauro Jose Ferreira. A Territorialidade Urbana no Paraguai: o processo de urbanização na porção oriental. IN: CURY, Mauro José F. Olhares Interdisciplinares sobre o território e as territorialidades em fronteiras. 1ª Ed. Editora CRV: Curitiba, 2018.
MELIÁ, Bartolomeu. Paraguai: identidades, substituições e transformações. In: Revista Diplomacia, Estratégia e Política, num. 8. Brasilia: MRE/Funag, 2007, p. 164.
Municipalidad de Los Cedrales. Datos y Estadísticas del Distrito, 2002, p. 69.
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