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HABILIDADES-METALINGUÍSTICAS

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SUMÁRIO 
1 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE MORFOLOGIA ............................... 2 
2 CLASSES E FUNÇÕES.............................................................................. 4 
3 POR QUE CLASSIFICAR OS VOCÁBULOS? ............................................ 7 
3.1 CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO .................................................... 11 
3.2 CRITÉRIO MÓRFICO ........................................................................ 12 
3.3 CRITÉRIO FUNCIONAL ..................................................................... 13 
4 A CLASSE DOS NOMES EM PORTUGUÊs ............................................ 17 
5 SUBSTANTIVO/ADJETIVO - PROBLEMA DE CLASSIFICAÇÃO ............ 30 
6 FLEXÃO DOS NOMES - GÊNERO .......................................................... 32 
6.1 Gênero do adjetivo ............................................................................. 36 
6.2 Flexão dos nomes – número .............................................................. 37 
6.3 O grau como processo derivacional ................................................... 40 
7 PERSPECTIVAS QUANTO AO ENSINO ................................................. 49 
BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 52 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE MORFOLOGIA 
Um pouco de morfologia para começar. 
Em qualquer frase que produzimos, a compreensão estará garantida se nós e 
o nosso interlocutor tivermos alguns pontos em comum. Suponhamos o seguinte 
diálogo, ouvido em um escritório: 
 
Pedro: - Por favor, escaneie este artigo do jornal para mim. 
João: - Escan o que? 
Pedro: - Escanear, passar o "scanner". 
João: - O que é "scanner"? 
Pedro: - É um aparelho que se usa junto com o computador. 
Escanear é copiar. 
João: - Agora, sim. Eu até entendi que você queria que eu fizesse 
alguma coisa com o artigo do jornal, mas não percebi o quê exatamente. 
 
O problema de comunicação neste diálogo ocorreu porque João desconhece o 
sentido do vocábulo "escanear". Ele até percebeu que significava "fazer alguma 
coisa", mas só chegou até aí. 
Escanear vem sendo muito usado em português, na área de informática. Vem 
de "scan" (esquadrinhar, explorar) e "scanner" (a máquina que faz cópias), vocábulos 
de origem inglesa. Esse processo é semelhante ao que gerou em português o verbo 
xerocar, a partir de Xerox, nome da firma que produz a máquina. 
Em um e outro caso, formaram-se em português verbos reunindo um radical 
inglês e uma desinência verbal de infinitivo de 1ª conjugação, própria do português. 
Esse processo é muito produtivo, não somente na área de informática. Observe: 
malufar (= aderir a ideias de Paulo Maluf); resetar (= religar o computador); surfar (= 
praticar o esporte chamado surf). 
O falante tem um conhecimento intuitivo da possibilidade de combinar um 
número ilimitado de elementos lexicais com um número reduzido de elementos 
 
 
 
 
 
 
gramaticais, específicos do português, resultando dessa combinação os vocábulos 
com que expressa o seu conhecimento do mundo. 
Essa significação lexical é expressa nos vocábulos por aquilo que, em 
morfologia, designamos por morfema lexical. Já a significação gramatical corresponde 
ao que designamos por morfema gramatical. 
Os vocábulos em português resultam da seleção e da combinação de 
morfemas, formas mínimas que contêm significação. Tanto os morfemas lexicais 
quanto os gramaticais retratam a maneira como o homem vê a realidade que o rodeia. 
Os morfemas lexicais, como já foi dito, têm significação externa, relacionam-
se ao mundo extralinguístico. Exemplos: flor, sol, árvore, saudade. 
Os morfemas gramaticais têm significação interna, gramatical, relacionam-se 
com o sistema linguístico e são responsáveis por representar categorias gramaticais 
próprias da língua, no processo de flexão. Exemplo: -s é o morfema gramatical que, 
em português, traduz a noção de plural. Podem também ter uma função relacional, 
reunindo, nas frases da língua, os vocábulos constituintes. Exemplos: livro de leitura, 
café com leite, gostei mas não comprei. 
Existe uma outra característica que distingue os morfemas lexicais dos 
morfemas gramaticais: os lexicais constituem um conjunto aberto, pois novos 
elementos podem ser acrescentados aos já existentes; os gramaticais constituem um 
conjunto fechado, finito, próprio de uma língua. 
Retomemos o verbo escanear. Ele foi criado a partir de um termo do inglês, 
scan, ao qual se acrescentou a terminação -ar, que marca os verbos de 1ª conjugação. 
Da mesma forma, incorporaram-se ao léxico português os verbos malufar, surfar, em 
que temos os morfemas lexicais maluf- e surf-(inventário aberto), aos quais se juntou 
a mesma terminação -ar (composta pelos morfemas gramaticais -a e -r). 
Para reforçar a noção de inventário aberto e inventário fechado, transcrevemos 
aqui alguns trechos do texto "Nós, os temulentos", de Guimarães Rosa, um dos 
prefácios de Tutaméia, o último livro publicado em vida do autor. 
 
 
 
 
 
 
 
Nós, os temulentos 
E, mais três passos, pernibambo, tapava o caminho a uma senhora, de 
paupérrimas feições, que em ira o mirou, com trinta espetos. 
- Feia! - o Chico disse; fora-se-lhe a galanteria. 
- E você, seu bêbado!? - megerizou a cuja. 
E, aí, o Chico: - Ah, mas … Eu?… Eu, amanhã, estou bom … 
E, continuando, com segura incerteza, deu consigo noutro local, onde se 
achavam os copoanheiros, com método iam combeber. Já o José, no 
ultimato, errava mão, despejando-se o preciosíssimo líquido orelha adentro. 
- Formidável! Educaste-a? - perguntou o João, de apurado falar. 
- Não. Eu bebo para me desapaixonar … 
Mas o Chico possuía outros iguais motivos: 
- E eu para esquecer … 
- Esquecer o que? 
- Esqueci. 
 
Considerando-se o inventário aberto e fechado, destaque os morfemas lexicais 
que constituem um conjunto aberto, pois novos elementos podem ser acrescentados 
aos já existentes; e alguns gramaticais que constituem um conjunto fechado, finito, 
próprio de uma língua. 
2 CLASSES E FUNÇÕES 
Antes de abordar a questão das classes, é necessário esclarecer os conceitos 
de classe e função: 
 
 Classe 
· "classe é um conjunto de elementos linguísticos com uma 
propriedade essencial em comum" (Mattoso Câmara, 1977). 
· “uma classe será definida como o conjunto de unidades 
que têm as mesmas possibilidades de aparecer num dado 
ponto do enunciado” (Dubois, 1978). 
 
 
 
 
 
 
· "uma classe é um conjunto (não necessariamente finito) de 
formas linguísticas" (Perini, 1985). 
· "classe é uma propriedade que se atribui a um elemento 
fora de contexto "(Perini, 1995) 
 
 Função 
· "função é a aplicação que tem na língua uma forma em vista 
do seu valor gramatical" (Mattoso Câmara, 1977) 
· "função é o papel representado por um termo na estrutura 
gramatical de um enunciado, sendo cada membro considerado 
como participando do sentido geral desta. 
 
(Dubois, 1978) 
· "uma função é um princípio organizacional da linguagem" 
(Perini, 1985) 
· "determinar a função de um constituinte é formular sua 
relação com os demais constituintes da unidade de que ambos 
fazem parte" (Perini, 1985) 
. “a relação que se estabelece entre dois elementos que se 
articulam” (Carone, 2002) 
. “na estrutura sintática é o papel exercido por um dos 
componentes em relação a outro: adjunto adnominal (do 
substantivo...), sujeito (do verbo...)” (Carone, 2002) 
 
Entretanto, não devemos trabalhar com estes dois conceitos de maneira 
estanque, porque fica cada vez mais evidente que, para definirmos uma classe devocábulos, precisamos usar critérios funcionais. Ou seja, precisamos definir qual o 
papel do vocábulo na unidade sintagmática em que ele ocorre. 
Por unidade sintagmática deve ser entendido um agrupamento intermediário 
entre o nível do vocábulo e o da oração. Desta maneira, um ou mais vocábulos se 
unem (em sintagmas) para formar uma unidade maior, que é a oração. 
 
 
 
 
 
 
 
O cientista não resolveu todas as questões 
 
 
O cientista 
 
Não resolveu todas as questões 
 
Sintagma nominal 
 
sintagma verbal 
 
 
 
Os vocábulos que compõem a unidade sintagmática se organizam em torno de 
um núcleo; dependendo do núcleo, podemos falar em sintagma nominal e sintagma 
verbal. 
 
Chama-se sintagma uma sequência de palavras que constituem 
uma unidade (sintagma vem de uma palavra grega que comporta o 
prefixo sim, que significa com, que encontramos, por exemplo, em 
simpatia e sincronia). Um sintagma é uma associação de elementos 
compostos num conjunto, organizados num todo, funcionando 
conjuntamente. (…) sintagma significa, por definição, organização e 
relações de dependência e de ordem à volta de um elemento 
essencial." 
(Dubois-Charlier. Bases de Análise Linguística) 
 
 
Diferentes vocábulos que pertencem a um mesmo sintagma desempenham 
dentro dele funções distintas: no sintagma nominal, por exemplo, o nome substantivo 
O cientista Não resolveu todas as questões 
sintagma nominal mod. verbo sintagma nominal 
O cientista não resolveu todas as questões 
Determinante+núcleo 
nominal 
adv + núcleo verbal det. + det. + núcleo 
nominal 
 
 
 
 
 
 
que funciona como núcleo pode ser determinado por artigos, pronomes e numerais e 
modificado por adjetivos, locuções adjetivas e/ou orações subordinadas adjetivas. 
Desta maneira, é evidente que existe, dentro do sintagma, uma organização em que 
os vocábulos, dependendo de sua posição e da relação que estabelecem entre si, 
desempenham diferentes funções. 
3 POR QUE CLASSIFICAR OS VOCÁBULOS? 
Ao incluirmos nesta série de temas de Língua Portuguesa um texto sobre. 
As classes de vocábulos, queremos, em primeiro lugar, esclarecer que nossa 
intenção é encaminhar o assunto visando ampliar a capacidade de expressão oral e 
escrita do aluno, em uma perspectiva produtiva. 
Por que, então, arrumar os vocábulos em classes? 
Em qualquer livro didático, encontramos, invariavelmente, um capítulo 
dedicado ao estudo das classes. No entanto, percebemos que os livros repetem a 
enumeração de forma puramente descritiva, o que leva os alunos a uma simples 
memorização, sem entender bem para que estejam aprendendo aquilo. É necessário, 
portanto, que o professor, no trabalho com o ensino da língua, tenha clareza da 
diferença entre uma perspectiva descritiva e uma perspectiva produtiva. 
 
Fonte: www.2.bp.blogspot.com 
 
 
 
 
 
 
Na tradição da abordagem descritiva, destacaremos aqui a visão do professor 
Mário Perini, que, há tempo, vem se dedicando ao estudo da gramática do português, 
refletindo e propondo algumas inovações. Em 1985, publicou, pela editora Ática, para 
uma nova gramática do português, que constitui uma proposta de renovação do 
ensino gramatical, partindo de uma crítica das bases teóricas da gramática tradicional. 
No capítulo "Classes e funções", Perini mostra a distinção entre classe e função, de 
forma clara, concluindo que: "A classificação das palavras é apenas um caso particular 
da classificação das formas sintáticas, e desprezar esse fato equivale a deixar de 
exprimir muitas generalizações importantes sobre a estrutura da língua." 
Mário Perini publicou, também pela editora Ática (1995), a Gramática descritiva 
do português, em que dedica dois capítulos ao estudo das classes. Retomando a 
abordagem de 1985, o autor justifica a colocação de duas ou mais palavras na mesma 
classe com base no princípio da economia. O que vem a ser esse princípio? Existem 
afirmações que podem ser feitas para um grande número de palavras. "Se as 
colocarmos todas na mesma classe, poderemos fazer nossa afirmação única no lugar 
de milhares de afirmações idênticas separadas. Além disso, poderemos descobrir que 
há outras afirmações gramaticais que valem exatamente para essas mesmas palavras 
- ou seja, para essa mesma classe.” 
Em livro mais recente (1998), Perini faz uma interessante crítica sobre o ensino 
das classes de vocábulos e da gramática em geral. 
 
"Uma coisa que nos poderiam ter dito na escola (mas, em geral, não 
disseram) é para quê a gente precisa separar as palavras em classes. Ora, a 
razão é semelhante à que nos obriga a separar os animais em classes, 
ordens, espécies etc.: classificamos as palavras para podermos tratar delas 
com um mínimo de economia.” (p. 41) 
 
Um pouco antes ele havia afirmado: 
 
 
 
 
 
 
 
Grande parte do labor científico consiste em classificar 
entidades e elaborar justificativas para essa classificação. A ciência 
não se limita a isso, evidentemente: uma ciência é muito mais que 
uma classificação de objetos. Mas, em geral, depende de 
classificações, até mesmo para possibilitar o diálogo entre 
cientistas. 
Por exemplo, os zoólogos dividem os animais em diversas 
categorias: mamíferos, répteis, peixes, insetos, aves, anfíbios, e 
assim por diante. Sem essas categorias seria muito difícil fazer 
zoologia, ou mesmo falar de zoologia, pois elas permitem ao cientista 
referir-se a tipos de animais, em vez de referir-se a cada animal (ou 
cada espécie) individualmente. Assim, podemos encontrar trabalhos 
descritivos sobre os mamíferos da América do Sul, ou sobre a 
evolução dos répteis, ou sobre a fisiologia dos insetos etc. Esses 
trabalhos, e muitíssimos outros, dependem da classificação prévia 
dos animais (classes, ordens, famílias, gêneros e espécies) para a 
definição de seu campo de interesse; nesse sentido, todo o trabalho 
da zoologia repousa sobre classificações. 
É preciso, naturalmente, dispor de critérios objetivos para 
colocar um animal nesta ou naquela classe. Assim, os mamíferos se 
distinguem dos répteis graças a diversos traços de sua estrutura e 
funcionamento: 
a temperatura do corpo dos mamíferos é constante, a dos répteis 
depende da temperatura ambiente; os mamíferos dão à luz filhotes 
vivos, os répteis põem ovos; os mamíferos amamentam os filhotes, 
os répteis não; os mamíferos têm pelos, os répteis têm a pele nua ou 
coberta de escamas. Com esses quatro critérios é possível, em geral, 
decidir rapidamente se um animal é mamífero ou réptil: lagartixas e 
vacas não apresentam dificuldades a esse respeito. 
Mas dificuldades há, embora nem sempre sejam mencionadas 
nos livros de introdução à biologia. Uma delas é o ornitorrinco. Esse 
estranho bicho australiano bota ovos, mas amamenta os filhotes; 
 
 
 
 
 
 
tem temperatura do corpo parcialmente dependente da temperatura 
ambiente e tem pelos. Será um mamífero, um réptil ou outra categoria 
qualquer? Isso depende de darmos mais importância a um ou outro 
dos critérios que definem as classes. De qualquer forma, é 
necessário admitir que as categorias “mamíferas” e répteis”, embora 
convenientes e úteis, não são perfeitas. A maioria dos animais se 
coloca claramente em um ou outra das diversas classes 
reconhecidas pelos zoólogos; mas há alguns, como o ornitorrinco, 
que ficam mais ou menos no meio." (p.39/40) 
 
Sem negar a necessidade de trabalhar sob uma perspectiva descritiva, é 
preciso ter em mente que um ensino mais produtivo da língua está vinculado ao 
conhecimento de como cada classe atua na organização e produção de textos. Sob 
esse ponto de vista,o estudo das classes deveria contribuir para ampliar a expressão 
oral e escrita do aluno, permitindo-lhe explorar, com mais expressividade, as 
possibilidades combinatórias dos vocábulos na construção do texto. 
Um dos conhecimentos que o aluno pode adquirir, por exemplo, diz respeito à 
mobilidade que certos vocábulos apresentam. Observe o emprego do advérbio nestas 
frases: 
A moto em que ele estava passeando lentamente saiu da estrada. 
 
 
 
 
 
 
3.1 Critérios de classificação 
 
Fonte: www.o.aolcdn.com 
Os vocábulos de uma língua constituem um conjunto ordenado, e o que 
concorre para essa ordenação é o fato de apresentarem semelhanças de forma, de 
sentido e de função, como vimos na introdução. Daí poderem ser agrupados ou 
classificados levando em conta três critérios: o formal ou mórfico, o semântico e o 
funcional. O critério formal ou mórfico baseia-se nas características da estrutura do 
vocábulo; o semântico baseia-se no seu modo de significação (extralinguístico e 
intralinguístico), e o funcional baseia-se na função ou papel que ele desempenha na 
oração. A aplicação desses critérios nos conduzirá às classes de vocábulos, ou seja, 
aos conjuntos "das unidades que têm as mesmas possibilidades de aparecer num 
dado enunciado" (Dubois, 1973, p.108). 
Para reforçar a opção por esses critérios, convém lembrar que a língua é um 
sistema de elementos e de relações; esse sistema, formado de subsistemas, se 
organiza nos níveis fonológico, morfossintático e semântico. 
Segundo Mattoso Câmara, o critério semântico não deve ser observado 
isoladamente, como acontece comumente na Gramática Tradicional. Para ele, o 
critério semântico e o critério mórfico se associam de forma muito estreita, pois o 
vocábulo é uma unidade de forma e de sentido. "O sentido não é qualquer coisa de 
independente, ou, mais particularmente, não é apenas um conceito; conjuga-se a uma 
 
 
 
 
 
 
forma. O termo sentido só pode ser entendido com o auxílio do conceito deforma." 
(Mattoso Câmara, 1970). 
De acordo com o critério morfo-semântico, os vocábulos do português se 
agrupam em nomes, verbos, pronomes, advérbios e conectivos, constituindo-se 
as três primeiras classes, de vocábulos variáveis, e as duas últimas, de vocábulos 
invariáveis. A diferença entre essas classes está no modo de significação e nas 
categorias gramaticais que cada uma delas expressa, ou seja, na sua flexão. 
 O nome, por nomear os seres, expressa as categorias de gênero e número; 
 O pronome faz uma referência ao nome dentro de um contexto e por isso 
expressa também as categorias de gênero e número, além de possuir formas 
diferentes para pessoas e funções sintáticas; 
 O verbo, que expressa um processo, se distingue das outras classes do grupo 
porque apresenta variação de modo, tempo (aspecto) e pessoa (número); 
 O advérbio especifica a significação de um processo verbal e é invariável; 
 Os conectores estabelecem relações de sentido entre os elementos da frase e 
são invariáveis. 
Por outro lado, os critérios mórfico e funcional estão também intimamente 
relacionados, pois a forma depende da função que o vocábulo desempenha na frase, 
das relações de regência e concordância que se estabelecem. 
Do ponto de vista funcional, as classes de vocábulos podem ser diferenciadas 
de acordo com características sintáticas. O nome substantivo funciona como núcleo 
do sintagma nominal, acompanhado por determinantes e modificadores. O verbo 
funciona como núcleo do sintagma verbal, acompanhado por complementos e 
modificadores. 
Os quadros a seguir apresentam a classificação dos vocábulos de acordo com 
esses critérios: 
3.2 Critério mórfico 
 
 substantivo adjetivo Advérbio 
nome variável variável Invariável 
 
 
 
 
 
 
pronome variável variável Invariável 
 
CRITÉRIO SEMÂNTICO 
 substantivo adjetivo Advérbio 
nome 
nomeia os 
seres 
especifica o nome 
substantivo 
especifica o verbo 
ou o nome adjetivo 
pronome 
situa no 
contexto 
situa no contexto 
expressa as 
circunstâncias da 
ação verbal 
3.3 Critério funcional 
 substantivo adjetivo Advérbio 
Nome 
núcleo de 
sintagma 
modificador do 
núcleo do sintagma 
nominal 
modificador do núcleo do 
sintagma verbal ou de um 
modificador do núcleo do 
sintagma nominal 
pronome 
núcleo de 
sintagma 
modificador do 
núcleo do sintagma 
nominal 
modificador do núcleo do 
sintagma verbal ou de um 
modificador do núcleo do 
sintagma nominal 
 
Retomando o conceito de função como um princípio da organização da oração, 
devemos entender que “determinar a função de um constituinte é formular sua relação 
com os demais constituintes da unidade de que ambos fazem parte" (Perini, 1995). 
Para Perini (1995), "classificar as palavras implica elaborar uma classificação 
sobre critérios formais (sem excluir da descrição a classificação semântica, mas 
separando-se nitidamente dela)". Afirma que "é necessário classificar as palavras 
quanto a seus traços formais, isto é, quanto ao seu comportamento sintático e 
morfológico; e também é necessário classificá-las quanto a seus traços de 
significado". Segundo ele, é preciso estar atento à coerência que deve haver dentro 
 
 
 
 
 
 
de cada classe, isto é, a definição que se dá desta classe deve se adequar ao conjunto 
de vocábulos nela incluído; deve haver também uma relativa homogeneidade entre os 
componentes da classe quanto ao comportamento gramatical. 
Embora esses conjuntos de vocábulos possam ser estabelecidos com base em 
semelhanças de comportamento gramatical, a função que eles desempenham é 
fundamental para determinar suas características semânticas e morfológicas. Por 
isso, a separação entre as classes não é estanque. Observe estes parágrafos 
extraídos do texto Nós, o pistoleiro, não devemos ter piedade, de Moacyr Scliar. 
 
[...] porta se abre. Entra um mexicano chamado Alonso. Dirige-se a nós 
com desrespeito. Chama-nos de gringo, ri alto, faz tilintar a espora. Nós 
fingimos ignorá-lo. Continuamos bebendo nosso uísque a pequenos goles. O 
mexicano aproxima-se de nós. Insulta-nos. Esbofeteia-nos. Nosso coração se 
confrange. Não queríamos matar mais ninguém. Mas teremos de abrir uma 
exceção para Alonso, cão mexicano. 
Combinamos o duelo para o dia seguinte, ao nascer do sol. Alonso dá-
nos mais uma pequena bofetada e vai-se. Ficamos pensativos, bebendo o 
uísque a pequenos goles. Finalmente atiramos uma moeda de ouro sobre o 
balcão e saímos. Caminhamos lentamente em direção ao nosso hotel. A 
população nos olha. Sabe que somos um terrível pistoleiro. Pobre mexicano, 
pobre Alonso.[…] 
(Para gostar de ler, vol.9, São Paulo, Ática, 1992) 
 
Comparando os sintagmas um mexicano, o mexicano, pobre mexicano, cão 
mexicano, verifique como funciona a palavra mexicana e no último sintagma. Explique 
o que ocorre, a partir da noção de mobilidade dentro dos sintagmas e mudança na 
sua função. 
Há, de certa forma, entre os autores citados, uma concordância de que é 
importante considerar os vocábulos em seus diferentes aspectos (morfológico, 
funcional e semântico). O problema com os livros de gramática e os livros didáticos é 
que, em geral, a definição de cada classe não leva em conta os mesmos critérios, o 
que resulta em definições confusas, privilegiando ora um, ora outro critério. De uma 
 
 
 
 
 
 
forma geral, a classificação se apóia basicamente no critério semântico, 
complementado às vezes pelo morfológico. 
Essa posição tem origens históricas. Os antigos gramáticos gregos e latinos já 
se preocupavam com o estudo das diferentes classes,estabelecendo, com base em 
uma perspectiva morfológica, distinções baseadas nas flexões a que cada tipo de 
vocábulo se submetia. Por exemplo, o substantivo era diferenciado do verbo por 
apresentar flexão de gênero e número, e não de pessoa, tempo e modo. 
Seguindo esse modelo, as gramáticas normativas também privilegiam o critério 
morfológico, aliando-o, agora, ao critério semântico. Já nos estudos linguísticos mais 
recentes, fica evidente a necessidade de basear a classificação dos vocábulos no 
critério funcional. 
Em português, distinguem-se, tradicionalmente, dez classes de vocábulos. 
Vejamos as definições normalmente encontradas nos compêndios gramaticais: 
 
Substantivo - é o nome de todos os seres (critério 
semântico) que existem ou que imaginamos existir. 
Adjetivo - é toda e qualquer palavra que, junto de um 
substantivo, (critério funcional) indica uma qualidade, estado, 
defeito ou condição (critério semântico). 
Numeral - é a palavra que dá idéia de número (critério 
semântico). 
Artigo - é a palavra que antecede o substantivo (critério 
funcional) e indica o seu gênero e número, (critério 
morfológico) individualizando-o ou generalizando-o (critério 
semântico). 
Pronome - a palavra que substitui ou acompanha um 
substantivo (nome) , (critério funcional) em relação às pessoas 
do discurso (critério morfo-semântico). 
Verbo - é a palavra que pode sofrer as flexões de tempo, 
pessoa, número e modo. (critério morfológico) (...) é a palavra 
que pode ser conjugada; indica essencialmente um 
 
 
 
 
 
 
desenvolvimento, um processo (ação, estado ou fenômeno) 
(critério semântico). 
Advérbio - é a palavra invariável, (critério morfológico) 
que modifica essencialmente o verbo (critério funcional), 
exprimindo uma circunstância (tempo, modo, lugar, etc.) 
(critério funcional) . 
Preposição - é a palavra invariável (critério morfológico) 
que liga duas outras palavras entre si (critério funcional), 
estabelecendo entre elas certas relações (critério semântico). 
Conjunção - é a palavra invariável (critério morfológico) 
que liga orações, ou, ainda, termos de uma mesma função 
sintática (critério funcional). 
Interjeição - é a palavra invariável (critério morfológico) 
que exprime emoção ou sentimento repentino (critério 
semântico) . 
 
Essas definições são incompletas e devem ser revistas, porque privilegiam, 
seguindo a tradição gramatical, quase que exclusivamente o critério semântico. 
Essas definições, seguindo a tradição gramatical, privilegiam quase que 
exclusivamente o critério semântico, o que as torna definições incompletas. 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: www.uptokids.pt 
Em um dos compêndios analisados, encontra-se, inclusive, a seguinte 
afirmação sobre as interjeições: "As interjeições são, na verdade, frases implícitas, e 
não palavras invariáveis. Comprova-o o fato de a interjeição não exercer nenhuma 
função na oração." Este tipo de definição é contraditório porque, apesar de 
encaminhar a argumentação com base em um critério funcional ("a interjeição é uma 
frase implícita"), conclui o raciocínio com base em um critério morfo-semântico 
("palavra invariável que exprime noção ou sentimento repentino"). 
Tendo em vista esse problema, vamos procurar trabalhar, nesta unidade, com 
uma classificação que tenha uma coerência maior, levando em conta as 
considerações anteriormente feitas. 
Elizabeth B. R. Oliveira, José Luiz C. Negrini e Nina R. P. Lourenço (1977), na 
série "Encontro com a linguagem", publicação destinada ao ensino de língua e 
literatura no segundo grau, apresentam um estudo muito coerente das classes de 
vocábulos, seguindo a linha proposta por Mattoso Câmara. Três critérios, portanto, 
orientam o estudo de cada uma das classes: o funcional, o mórfico e o semântico, 
coerentemente com o que foi discutido antes. Esta orientação, ao lado da de Perini, é 
a que seguiremos na abordagem de cada classe em particular. 
4 A CLASSE DOS NOMES EM PORTUGUÊS 
No nosso dia-a-dia, fazemos um uso muito frequente de nomes, para dois tipos 
de função: 
a) identificar seres e objetos (substantivos); 
b) caracterizar, especificar, especializar seres e objetos (adjetivos); 
 
Substantivos e adjetivos fazem parte da ampla classe dos nomes. Existe uma 
diferença entre eles, mas essa diferença só se evidencia funcionalmente, quando 
aparecem combinados no sintagma, numa ordem linear. Quando isolados, nem 
sempre é possível uma distinção nítida entre substantivos e adjetivos, porque eles têm 
características mórficas semelhantes, isto é, flexionam-se para expressar as 
categorias de gênero e número. 
 
 
 
 
 
 
Percebemos que os substantivos podem ser modificados por adjetivos, 
elementos capazes de precisar o seu sentido, e que esse processo constitui um 
mecanismo produtivo na língua, dada a capacidade dos adjetivos de expandir a idéia 
básica definida pelos substantivos. 
 
Texto 1 
 
Rios de Petrópolis 
A poluição faz rios coloridos. 
Não é tão feia assim. Como atração 
reproduz, em matizes escolhidos, 
as belas cores da televisão. 
(Carlos Drummond de Andrade) 
 
Comentário sobre o texto 1 
Neste texto podemos observar a relação núcleo (termo determinado) e 
modificador (termo determinante) de maneira muito clara. 
 
modificador núcleo 
(adjetivos) (substantivos) 
 
 
 
núcleo modificador 
(substantivos) (adjetivos) 
 
 
 
Nome substantivo 
 
 
 
 
 
 
 Vocábulo que funciona como termo determinado, como núcleo de um sintagma 
nominal (critério funcional); 
 Vocábulo formado por morfema lexical mais morfemas gramaticais (critério 
mórfico); 
 Vocábulo que se refere a seres reais ou imaginários, relacionando-se ao mundo 
extralinguístico (critério semântico). 
 
"Na linguagem, o conceito de ente ou ser é, muitas 
vezes, convencional em referência à realidade física e nem 
sempre corresponde à de um corpo individual, como sucede 
em homem, tigre, mesa. Traduz também uma interpretação - a) 
social (ex.: Brasil), b) impressionística (ex.: mar), c) abstrativa 
(ex.: beleza, sofrimento). 
(Mattoso Camara, 1978) 
 
Texto 2 
 
 
 
 
 
 
 
Família 
Três meninos e duas meninas, 
sendo uma ainda de colo. 
A cozinheira preta, a copeira mulata, 
o papagaio, o gato, o cachorro, 
as galinhas gordas no palmo de horta 
e a mulher que trata de tudo. 
A espreguiçadeira, a cama, a gangorra, 
o cigarro, o trabalho, a reza, 
a goiabada na sobremesa de domingo, 
o palito nos dentes contentes, 
o gramofone rouco toda noite 
e a mulher que trata de tudo. 
O agiota, o leiteiro, o turco, 
o médico uma vez por mês, 
o bilhete todas as semanas 
branco! mas a esperança sempre verde. 
A mulher que trata de tudo 
e a felicidade. 
(Carlos Drummond de Andrade) 
 
Comentário sobre o texto 2 
 
Como é feita a descrição da família? 
Como e pode caracterizar esse texto? Com base nominal ou verbal, explique. 
Como se agrupam os? 
Qual substantivo se destaca? Grife os exemplos. 
Como se caracteriza o quotidiano da família? 
Há dois substantivos abstratos, grife-os. Determine como eles funcionam no 
texto. 
 
 
 
 
 
 
 
Destacando alguns substantivos, vejamos como podem ser aplicados a eles os 
critérios de classificação: 
 
A- Critério funcional - do ponto de vista funcional, os substantivos 
destacados ocupam a posição de núcleo do sintagma nominal. 
B- Critério mórfico - do ponto de vista mórfico, podemos observar os 
morfemas que caracterizam o nome: o morfema lexical e os morfemas gramaticais (a 
vogal temática, o morfemade gênero e o morfema de número) 
 
Substantivos 
morfema 
lexical 
morfemas gramaticais: 
 
Vogal 
Temática 
Gênero Número 
Meninos menin- -o ø -s 
Meninas menin- 
Colo col- 
cozinheira cozinheir- 
Leiteiro leiteir- 
Cachorro cachorr- 
Médico médic- 
Horta hort- 
Mulher mulher 
Mês mês 
Bilhete bilhet- 
Semanas seman- 
esperança esperanç- 
felicidade felicidad- 
 
 
 
 
 
 
 
De acordo com a sua formação (critério mórfico), os substantivos podem ser 
assim agrupados: 
 Primitivos - leite, goiaba 
 Derivados - leiteiro, goiabada 
 Simples - cama, bilhete, galinha 
 Compostos - sofá-cama, carta-bilhete, galinha-d'angola 
C- Critério semântico - com base na distinção entre a significação 
extralinguística e a significação intralinguística, podemos opor o substantivo a outros 
tipos de vocábulos. 
 
Vocábulos 
Significação 
extralinguística 
Significação 
intralinguística 
meninos 
e 
cozinheira 
a 
cachorro 
galinhas 
que 
de 
mulher 
o 
 
De acordo com o critério semântico, podemos agrupar os substantivos da 
seguinte maneira: 
 comuns - designam a espécie. Ex.: mulher, homem, leite. 
 próprios - designam um representante da espécie. Ex.: Maria, Pedro. 
 concretos- designam seres reais ou imaginários, sem relação de 
dependência. Ex.: gato, trabalho, semana. 
 abstratos - designam noções, estados, ações, qualidades. Ex.: 
esperança, felicidade. 
 
 
 
 
 
 
 coletivos - designam um conjunto de seres ou objetos sob a forma de 
um nome singular. Ex.: turma - coletivo de estudantes, de trabalhadores; constelação 
- coletivo de estrelas 
Os substantivos coletivos, por terem essa particularidade - vocábulo no singular 
para se referir a um conjunto -, geram variação na concordância verbal, principalmente 
na língua falada e em uma seqüência em que se encontrem mais afastados do verbo. 
Por isso, pode ocorrer uma alternância entre "o pessoal foi" e "o pessoal foram". 
 
Ex: O pessoal que eu convidei pra festa de aniversário dos 
meus filhos mais novos foram chegando aos pouquinhos." (Língua 
falada, situação informal, sujeito distante do núcleo verbal) 
 
Observação: A divisão dos substantivos em concreto/abstrato prende-se a 
critérios filosóficos, por isto é uma divisão questionável. Na verdade, a divisão dos 
substantivos pelo critério semântico não acrescenta muita novidade ao estudo da 
língua. 
Nome adjetivo 
 Vocábulo que funciona como modificador do núcleo de um sintagma nominal. 
O adjetivo sempre se refere a um substantivo, expresso ou subentendido 
(critério funcional); 
 Vocábulo formado por morfema lexical mais morfemas gramaticais 
indicadores de gênero e número. (critério formal ou mórfico); 
 Vocábulo que especifica e/ou caracteriza seres animados e inanimados reais 
ou imaginários, atribuindo-lhes estados ou qualidades (critério semântico). 
 
Texto 3 
 
Trecho do "Conto de Escola" 
(...)Começou a lição de escrita. Custa-me dizer que eu era dos 
mais adiantados da escola; mas era. Não digo também que era dos 
mais inteligentes, por um escrúpulo fácil de entender e de excelente 
 
 
 
 
 
 
efeito no estilo, mas não tenho outra convicção. Note-se que não era 
pálido nem mofino; tinha boas cores e músculos de ferro. Na lição de 
escrita, por exemplo, acabava sempre antes de todos, mas deixava-me 
estar a recortar narizes no papel ou na tábua, ocupação sem nobreza 
nem espiritualidade, mas em todo caso ingênua. Naquele dia foi a 
mesma cousa; tão depressa acabei, como entrei a reproduzir o nariz 
do mestre, dando-lhe cinco ou seis atitudes diferentes, das quais 
recordo a interrogativa, a admirativa, a dubitativa e a cogitativa. Não 
lhes punha esses nomes, pobre estudante de primeiras letras que era; 
mas, instintivamente, dava-lhes essas expressões. Os outros foram 
acabando; não tive remédio senão acabar também, entregar escrita, e 
voltar para o meu lugar. (...) 
(Machado de Assis) 
 
Comentário sobre o texto 3 
 
A caracterização do personagem se faz pelo contraste entre adjetivos 
relacionados ao intelecto - adiantado, inteligente, excelente - e ao físico - pálido, 
mofino. 
A ironia, também presente no texto, se mostra na adjetivação que o estudante 
utiliza para caracterizar, metonimicamente, as atitudes do nariz do mestre - 
interrogativa, admirativa, dubitativa, cogitativa. 
Vamos examinar os adjetivos presentes no texto, levando em conta os critérios 
de classificação. 
A) Critério funcional - do ponto de vista funcional, os adjetivos destacados 
ocupam a posição de modificadores do núcleo do sintagma nominal. 
Em alguns casos, como nos destacados acima, a relação entre núcleo e 
modificador do sintagma nominal pode ser facilmente observada. Em outros, verifica-
se uma forte semelhança entre o adjetivo e o substantivo, por isso é preciso recorrer 
ao critério funcional para perceber qual é o vocábulo determinado (substantivo) e qual 
é o vocábulo determinante (adjetivo). 
Observe estas frases: 
 
 
 
 
 
 
O campeão da Copa de 94 foi o Brasil. 
O time campeão marcou muitos gols. 
 
Quando dizemos 'O campeão da Copa de 94 foi o Brasil', a palavra campeão 
é o núcleo do sintagma, a base, o centro da informação contida em o campeão da 
Copa de 94. Estamos falando do campeão. Quando dizemos 'O time campeão marcou 
muitos gols', o centro da informação contida no sintagma o time campeão é a palavra 
time. Estamos falando do time. 
 
 
Fonte: www.posgraduacaofaveni.com.br 
No trabalho com a produção de textos, é importante mostrar a semelhança de 
função entre o adjetivo e a locução adjetiva, ambos modificadores do núcleo do 
sintagma nominal. A locução é formada por uma preposição mais um substantivo 
(sintagma preposicionado). No texto "Conto de Escola", encontramos, por exemplo, 
músculos de ferro, em que músculos é o núcleo e a locução adjetiva de ferro é o 
modificador. 
Na função de modificadores, os adjetivos e as locuções adjetivas podem 
especificar, caracterizar ou expressar uma avaliação do falante sobre os substantivos. 
Para especificar e caracterizar os substantivos, usamos, com maior frequência, as 
locuções adjetivas; para avaliar, são mais frequentes os adjetivos simples. 
 
ESPECIFICAÇÃO 
 
 
 
 
 
 
bola 
de 
futebol 
de 
basquete 
de gude 
 
panela 
de 
arroz 
de feijão 
de pipoca 
 
forma 
de 
bolo 
de queijo 
de pudim 
de pizza 
 
pista 
de 
corrida 
de atletismo 
de dança 
 
 
CARACTERIZAÇÃO 
 
bola 
de plástico 
de couro 
de meia 
 
santo 
de barro 
de madeira 
de gesso 
 
panela 
de barro 
de ferro 
de alumínio 
 
 
 
AVALIAÇÃO 
bola 
estragada 
velha 
nova 
bonita 
 
juiz 
educado 
honesto 
ladrão 
trabalhador 
 
 
É muito importante que o usuário perceba essas diferenças para aplicá-las na 
produção de sintagmas mais complexos. Observe: 
 
a) uma forma velha de queijo 
uma velha forma de queijo 
 
Aparentemente não há diferença na ordenação dos adjetivos nos sintagmas 
acima. Entretanto, a anteposição de velha a forma, na segunda, pode deixar 
transparecer certa afetividade com relação à forma, como se se tratasse de uma 
forma de estimação. 
 
b) uma forma quadrada velha de queijo 
uma velha forma quadrada de queijo 
 
 
 
 
 
 
uma forma velha quadrada de queijo 
 
Já neste outro grupo de sintagmas, a função do adjetivo quadrada éespecificar 
o substantivo forma enquanto o adjetivo velha tem a função de avaliar. A diferença 
de função condiciona uma diferença na colocação, um anteposto e outro posposto ao 
núcleo. Por isso, o segundo sintagma é o que apresenta uma ordem mais clara e 
aceitável. Isto significa que, quanto mais complexos forem os sintagmas, maiores 
restrições haverá na organização dos vocábulos constituintes. 
 
B) Critério mórfico - do ponto de vista mórfico, podemos observar os 
morfemas que caracterizam o nome: o morfema lexical e os morfemas gramaticais (a 
vogal temática, o morfema de gênero e o morfema de número) 
 
Adjetivos 
morfema 
lexical 
Vogal 
Temática 
Gênero Número 
adiantados 
inteligentes 
pálido 
excelente 
Interrogativa 
Pobre 
 
Do mesmo modo que os substantivos, os adjetivos, pelo critério mórfico, podem 
ser agrupados em: 
simples - pálido, fácil 
compostos - rosa-pálido, verde-amarelo 
primitivos - mofino 
derivados - amofinado 
 
 
 
 
 
 
 
C) Critério semântico - com base na distinção entre a significação 
extralinguística e a significação intralinguística, podemos opor o adjetivo a outros 
tipos de vocábulos. 
 
Vocábulos 
Significação 
extralinguística 
Significação 
intralinguística 
adiantados 
e 
fácil 
a 
ingênua 
admirativa 
mas 
de 
admirativa 
ou 
 
Algumas observações sobre o uso do adjetivo: 
Por fim, ainda com relação ao nome adjetivo, vale ressaltar o seguinte aspecto: 
na língua falada, podemos observar algumas tendências à simplificação de sintagmas 
nominais complexos. Duas soluções/ possibilidades se apresentam: 
 
a- Sintagmas formados de um substantivo (subst.1) mais um especificador 
alterna com um sintagma formado de um único substantivo (subst.2), originado de 
uma gíria, de um estrangeirismo, de um processo metafórico. 
 
Exemplo: 
funcionário público = barnabé 
 
 
 
 
 
 
 
b- Sintagmas formados de um substantivo mais um adjetivo (adj.1) ou 
locução adjetiva simplificam-se em um sintagma constituído apenas pelo substantivo 
ou pelo adjetivo (adj. 2), que ampliam então seu campo de significação. 
 
Exemplos: 
batatas fritas = fritas 
centro da cidade = centro / cidade 
curso de pré-vestibular = cursinho 
prova de vestibular = vestibular 
 
Quanto à posição do adjetivo em relação ao substantivo, podemos constatar 
diferenças entre as línguas: no inglês e no alemão, o adjetivo é colocado antes do 
substantivo; em francês, existem algumas regras para a sua colocação; somente o 
português e o espanhol apresentam uma liberdade maior, e dessa flexibilidade 
resultam possibilidades de expressão que são, em geral, bastante exploradas na 
linguagem literária. Observe: 
 
Texto 4 
 
Parágrafo, extraído de "Vidas Secas" 
(Graciliano Ramos) 
"Uma noite de inverno, gelada e nevoenta, cercava a criaturinha. 
Silêncio completo, nenhum sinal de vida nos arredores. O galo velho não 
cantava no poleiro, nem Fabiano roncava na cama de varas. Estes sons 
não interessavam Baleia, mas quando o galo batia as asas e Fabiano se 
virava, emanações familiares revelavam-lhe a presença deles. Agora 
parecia que a fazenda se tinha despovoado." 
 
Comentário sobre o texto 4 
 
 
 
 
 
 
 
A colocação dos adjetivos gelada e nevoenta entre vírgulas revela a intenção 
do narrador de caracterizar a noite, numa narrativa linear. O efeito seria outro se ele 
tivesse optado por uma ordem diferente: 
 
Uma gelada e nevoenta noite de inverno cercava a criatura. 
 
Outro exemplo: 
O galo velho não cantava no poleiro. 
O velho galo não cantava no poleiro. 
 
Na primeira frase, velho foi empregado com o sentido de indicar a velhice do 
galo, a sua longa vida. Anteposto ao substantivo, velho adquire uma conotação de 
afetividade, de compaixão. 
Há, portanto, uma questão de estilo a ser apontada: o adjetivo colocado após 
o substantivo tende a conservar o seu sentido próprio, objetivo; colocado antes do 
substantivo, adquire um valor sentimental. 
É nessas escolhas de colocação que os autores revelam suas intenções, sua 
visão do mundo que os cerca, suas impressões a respeito das pessoas e dos fatos. 
5 SUBSTANTIVO/ADJETIVO - PROBLEMA DE CLASSIFICAÇÃO 
Até agora vimos afirmando que os nomes se dividem em substantivos e 
adjetivos, de acordo com o seu funcionamento na frase. Entretanto, essa distinção 
não é tão simples quanto pode parecer. Perini (1997) aborda esse problema em seu 
livro "Sofrendo a gramática", no capítulo denominado O adjetivo e o ornitorrinco, 
estimulando uma reflexão sobre o tratamento que as gramáticas tradicionalmente 
propõem para essa distinção. Destacamos do artigo mencionado estes dois 
parágrafos: 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: www.1.bp.blogspot.com 
[…] " As coisas se tornam muito diferentes quando tratamos 
dos chamados "adjetivos" e "substantivos". Essas duas classes, 
embora tradicionalmente separadas, são extremamente difíceis de 
distinguir. Na verdade, depois de vários anos estudando o problema, 
acredito que são impossíveis de distinguir, pelo menos em duas 
classes como fazem as gramáticas usuais. O que temos aí é ou um 
grande número de classes ou, mais provavelmente, uma grande 
classe composta de membros cujas propriedades são muito 
variadas. 
[…] A conclusão é que a classificação tradicional, no que se 
refere aos substantivos e aos adjetivos (e ainda aos pronomes), não 
tem salvação. Não se conseguiu, até hoje, uma definição que 
separasse com clareza essas três classes. Eu tendo a acreditar que 
são uma grande classe, dentro da qual se distinguem muitos tipos 
de comportamento gramatical. Acredito que as diferenças de 
comportamento dentro dessa grande classe (que podemos chamar 
a classe dos nominais) provêm principalmente das diferenças de 
significado. No momento em que uma palavra começa a ser usada 
com um novo significado (o que acontece com freqüência), ela 
 
 
 
 
 
 
precisa mudar seu comportamento gramatical de acordo com sua 
nova função." 
 
Basílio (1995) apresenta um estudo mais detalhado dessa questão no artigo O 
fator semântico na flutuação substantivo/adjetivo em português, oferecendo 
subsídios ao trabalho do professor em sala de aula. Ao analisar os nomes terminados 
em -dor, -nte e -ista e o processo de substantivação dos adjetivos, a autora oferece 
dados mais concretos sobre esse assunto. Reproduzimos aqui algumas partes do 
artigo. 
 
[…] "A distinção entre as classes de substantivo e adjetivo é 
problemática na língua portuguesa não apenas pelo fato estrutural de 
que os membros destas classes não apresentam propriedades 
semânticas e situações de ocorrência completamente distintas, mas 
também pela conjuntura de que as gramáticas normativas do português 
utilizam diferentes critérios para a definição de cada classe. Assim, por 
exemplo, o substantivo é definido em termos semânticos, enquanto o 
adjetivo mais frequentemente recebe uma definição sintática ou 
funcional. […] Existem várias palavras em português que podem 
ocorrer como substantivos ou como adjetivos. […] Entretanto, palavras 
que apresentam características plenas de adjetivos e substantivos 
constituem minoria no vocabulário do português. A grande maioria dos 
substantivos não apresenta propriedades plenas de adjetivos, tendo, 
no máximo, uma ocorrência marginal em posições/funções restritas a 
adjetivos; e o mesmo acontece com adjetivos: só um número restrito 
apresenta características plenas de substantivos." 
6 FLEXÃO DOS NOMES - GÊNERO 
Acategoria gramatical de gênero divide, em português, os nomes em 
masculinos e femininos. Entretanto, substantivos e adjetivos apresentam maneiras 
diferentes de expressar essa categoria. Nos nomes substantivos, a categoria de 
 
 
 
 
 
 
gênero é inerente, convencional, arbitrária, independente do significado do vocábulo. 
Por exemplo, lápis não apresenta nenhuma marca fonológica, nem condicionamento 
semântico que caracterize sua inclusão no grupo das palavras masculinas. No 
entanto, dizemos o lápis, lápis novo. O mesmo acontece com o vocábulo problema, 
pois dizemos obrigatoriamente o problema, problema complicado. 
Por isso, falantes não nativos do português têm dificuldade em empregar 
adequadamente os nomes substantivos de acordo com o seu gênero 
convencionalizado na nossa língua. É muito comum ouvirmos estrangeiros realizarem, 
por exemplo, minha dinheiro, este casa, etc. 
Os nomes adjetivos, ao contrário, não têm um gênero próprio, imanente. A 
maior parte deles flexiona-se em gênero para concordar com o substantivo núcleo do 
sintagma nominal. 
A única flexão de gênero em português é obtida com o acréscimo do morfema 
gramatical -a à forma masculina; a vogal temática (-o, -e), quando existe na forma 
masculina, é suprimida. 
 
Exemplos: 
alun(o) - aluna 
doutor - doutora 
freguês - 
freguesa 
mestr(e) - 
mestra 
 
Gênero do substantivo 
 
A oposição masculino/feminino (que atinge todos os substantivos) não deve ser 
associada à oposição de sexo, porque todos os substantivos se encaixam ou no 
masculino ou no feminino, enquanto apenas alguns designam seres sexuados. 
 
Exemplos: 
 
 
 
 
 
 
menina - gênero feminino, sexo 
feminino 
casa - gênero feminino 
médico - gênero masculino, sexo 
masculino 
bilhete - gênero masculino 
 
Para indicar o sexo, existem na língua alguns processos, além do processo 
flexional, marcado pelo morfema -a de feminino. 
 
a) léxico-semântico - pela alternância entre dois vocábulos da língua 
mãe / pai 
homem / mulher 
bode / cabra 
 
b) derivacional - pelo acréscimo de um sufixo derivacional 
rei / rainha 
embaixador / embaixatriz 
barão / baronesa 
 
c) sintático - outros elementos do sintagma são responsáveis pela 
informação do sexo 
o dentista famoso / a dentista famosa 
uma baleia macho / uma baleia fêmea 
uma criança do sexo masculino / uma criança do sexo feminino 
o pianista estudioso / a pianista estudiosa 
 
As gramáticas, entretanto, apontam estes recursos (léxico-semânticos, 
derivacionais e sintáticos) como casos de flexão, o que não é aconselhável. Estes 
processos estão permanentemente em mudança na língua quotidiana pela pressão 
do uso. 
 
 
 
 
 
 
Assim, uma palavra como grama, por exemplo, que, pelo padrão culto, é tida 
como palavra masculina, vem tendo seu uso consagrado no feminino. É muito comum 
pedirmos "Por favor, quero duzentas gramas de presunto". Por isso, não devemos 
estranhar ou reprimir o uso generalizado de "duzentas gramas". 
A alternância entre embaixadora e embaixatriz passou a expressar uma 
diferença semântica: 
embaixadora = representante do país no exterior 
(processo flexional para expressão do gênero feminino - acréscimo do morfema 
-a) 
embaixatriz = esposa do embaixador 
(processo derivacional para expressar a diferença de sexo - acréscimo do 
sufixo derivacional -triz) 
A alternância entre a poeta e a poetisa reveste-se de um caráter valorativo, 
com a recusa, pelas feministas mais radicais, da forma poetisa. 
Reproduzimos abaixo alguns parágrafos do texto "A solidão do Girafo", de 
Carlos Drummond de Andrade, publicado no Jornal do Brasil, em 09/05/81. O tema é 
a necessidade de se enviar a Brasília uma girafa macho do Jardim Zoológico do Rio 
porque precisa de uma companheira, e a única fêmea disponível se encontra em 
Brasília. 
 
Texto 5 
 
A solidão do girafo 
(Carlos Drummond de Andrade) 
Vai, Raio de Luz, vai até Brasília e procura lá a tua namorada, 
que te dará prazer e filhos e, com eles, voltarás ao Rio de Janeiro, 
onde não tens chance de casamento e multiplicação da espécie. 
Não podias mais continuar no Rio, sem companheira 
prestante, e sujeito a equívocos escabrosos com os machos da tua 
espécie. Precisavas de uma girafa indubitável para o ofício do amor. 
Puseram-te em caminhão equipado com fiação elétrica e buzina de 
 
 
 
 
 
 
alarme, acionável ao menor indício de anormalidade, seja na rodovia 
seja no interior de tua silenciosa organização de girafo. 
Sei que deformo teu nome, trocando a letra final, mas já é 
tempo de dissipar a ambiguidade das designações genéricas, em 
meio à indefinição crescente dos sexos, observada na sociedade 
humana. Quando já não se sabe ao certo quem é varão quem é varoa, 
pelo menos se saiba distinguir o pavão da pavoa, o elefanto da 
elefanta, o sabiau da sabiá, o cisno da cisna, o tigro da tigra, em vez 
de nos socorrermos do aditamento macho e fêmea. Se distinguimos 
gato e gata, por que não foco e foca, tamanduó e tamanduá, tatu e 
tatua? Fica mais fácil e constitui merecida homenagem à pequena, 
mas divina, diferença que tornou viável o milagre da vida. 
(......) 
 
Comentário sobre o texto 5 
 
Neste texto, a confusão entre gênero e sexo foi tratada pelo autor com humor, 
ao mesmo tempo em que ironiza a arbitrariedade das regras gramaticais de formação 
do feminino em português. 
Percebemos que o autor faz uma brincadeira com a questão do gênero, 
sugerindo, para todos os nomes de animais, a formação de feminino por meio do 
acréscimo do morfema -a ao masculino. Desta forma, não haveria mais a necessidade 
de acrescentar macho e fêmea aos nomes para estabelecer sintaticamente a 
diferença entre sexo masculino e sexo feminino. 
6.1 Gênero do adjetivo 
Entre o adjetivo (termo determinante) e o substantivo (termo determinado), 
existe o que chamamos de concordância, isto é, o adjetivo acompanha o substantivo, 
variando em gênero (masculino, feminino). Muitas vezes, é por meio do adjetivo que 
se evidencia, na frase, o gênero do substantivo. 
No que diz respeito ao gênero, existem adjetivos que têm apenas uma forma 
(uniformes), tanto para o masculino como para o feminino, e existem adjetivos que 
 
 
 
 
 
 
apresentam flexão, isto é, recebem a desinência -a do feminino no lugar da vogal 
temática do masculino; estes são chamados biformes. 
Observe os exemplos: 
 
Uniformes 
escrúpulo 
fácil 
menino 
inteligente 
 lição fácil 
atitude 
inteligente 
Biformes atitude digna rosto pálido 
 trabalho digno mão pálida 
6.2 Flexão dos nomes – número 
O mecanismo flexional de número, no português, expressa oposição entre um 
singular não-marcado, ou ø, e um plural com marca própria, caracterizada pelo 
morfema -s. Esse acréscimo, muitas vezes, acarreta mudanças morfo-fonêmicas na 
raiz ou na vogal temática. 
A concordância de número é realizada, em português, por todos os elementos 
que compõem o sintagma nominal: determinantes (artigos, pronomes, numerais) e 
modificadores são flexionados de acordo com o vocábulo que ocupa a função de 
núcleo. 
Entretanto, na língua falada, esse mecanismo está se tornando cada vez mais 
instável. O fato de todos os elementos do sintagma nominal marcarem o número torna-
o uma marca redundante. 
 
Texto 6 
 
Quadrilha 
(Manuel Bandeira 
Três letras para melodias de Villa-Lobos) 
 
 
 
 
 
 
Roda, ciranda, 
Por aí fora, 
Chegou a hora 
De cirandar! 
Na tarde clara 
Vinde ligeiras, 
Ó companheiras, 
Rir e dançar! 
Roda ,ciranda,Como essas 
belas, Gratas estrelas 
Dos nossos céus! 
Vamos, em rondas 
Precipitadas, Como levadas 
Nas asas dos véus! 
Moças que 
dançam 
Nas horas breves 
Dos sonhos 
leves, 
Na doce idade 
Das ilusões, 
Guardam 
lembrança, 
Boa lembrança 
Da mocidade 
Nos corações. 
Moças que dançam 
Nas horas leves 
Dos sonhos breves, 
Na doce idade 
Das ilusões, 
Guardam lembrança, 
Boa lembrança 
Da mocidade 
Nos corações. 
 
 
 
Comentário sobre o texto 6 
 
Diferentemente do que ocorre muitas vezes na língua oral, o texto de Manuel 
Bandeira enfatiza a concordância de número, presente em todos os vocábulos do 
sintagma nominal. A sonoridade que a marca de plural -s empresta ao poema contribui 
para o ritmo e a melodia que convêm a uma ciranda. 
Observe estes sintagmas: 
 
 essas belas gratas estrelas dos nossos céus 
 em rondas precipitadas como levadas nas asas dos véus 
 nas horas breves dos sonhos leves 
 
 
 
 
 
 
Em relação ao plural dos nomes substantivos, algumas particularidades 
merecem ser lembradas: 
1) Os substantivos coletivos, mesmo no singular, indicam vários seres, 
pluralidade. 
 
Exemplos: 
constelação 
(estrelas) 
multidão 
(pessoas) 
elenco (atores) 
cacho (bananas, 
uvas) 
 
2) Alguns substantivos são usados no plural, expressando um conceito 
linguisticamente indecomponível. 
 
Exemplos: parabéns, óculos, 
arredores, pêsames 
 
3) Há substantivos que têm sentidos diferentes, conforme estejam no singular 
ou no plural. 
 
Exemplos: 
férias = período de descanso 
féria = lucro 
ouros = naipe do baralho 
ouro = metal precioso 
 
A língua interpreta uma série de seres homogêneos como uma unidade 
superior, que, como unidade, vem no singular: multidão pressupõe um conjunto de 
indivíduos, de cidadãos; ramagem indica coleção de ramos. Evidentemente, tais 
 
 
 
 
 
 
nomes, quando designam mais de um desses conjuntos, também se flexionam: 
multidões e ramagens. A língua interpreta ainda, linguisticamente, de um modo global, 
um contínuo de atos ou de partes integradas, os quais podem ser entendidos, no 
mundo extra-linguístico, como uma série ou sequência de partes componentes: 
algemas, exéquias, núpcias. Estes vocábulos não apresentam singular mórfico 
correspondente. 
6.3 O grau como processo derivacional 
Em português, a expressão do grau não é uma flexão. Enquanto a flexão é um 
processo automático e involuntário, a expressão do grau depende da escolha do 
usuário: 
· a concordância não é obrigatória - ao utilizar um dos elementos do sintagma 
em determinado grau, o usuário não está obrigado a estabelecer concordância de 
grau com os outros elementos do sintagma. 
Veja: 
O cachorro bonito / bonitinho / bonitão 
O cachorrinho bonito / bonitinho / bonitão 
O cachorão bonito / bonitinho / bonitão 
· o grau pode ser expresso lexicalmente ou derivacionalmente (por meio de um 
sufixo): 
Cachorro grande / cachorrão 
Muito lindo / lindíssimo 
· a lista de sufixos não é fechada, nem exclusiva; para os nomes substantivos, 
por exemplo, não existe apenas -ão para o aumentativo, nem somente -inho para o 
diminutivo. 
 
flo 
florão 
florona 
florzona 
 
flor 
florzinha 
florinha 
florita 
 
 
 
 
 
 
 
 
O grau corresponde a conteúdos distintos para o nome substantivo e para o 
nome adjetivo; para os substantivos, ele expressa tamanho maior ou menor do ser 
designado; para os adjetivos, a noção de quantidade e de intensidade. 
 
Exemplos: 
A casa é ampla. 
O casarão é mais amplo que a 
casa. 
O casarão é amplíssimo. 
 
Vamos examinar alguns textos em que o grau de substantivos e adjetivos tem 
uma função expressiva. 
 
Texto 7 
 
Balõezinhos 
(Manuel Bandeira) 
Na feira livre do arrabaldezinho 
Um homem loquaz apregoa balõezinhos de cor: 
- "O melhor divertimento para as crianças!" 
Em redor dele há um ajuntamento de meninos pobres, 
Fitando com olhos muito redondos os grandes 
balõezinhos muito redondos. 
No entanto a feira burburinha. 
Vão chegando as burguesinhas pobres, 
E as criadas das burguesinhas ricas, 
E as mulheres do povo, e as lavadeiras da redondeza. 
Nas bancas de peixe, 
Nas barraquinhas de cereais, 
Junto às cestas de hortaliças 
O tostão é regateado com acrimônia. 
Os meninos pobres não vêem as ervilhas tenras, 
 
 
 
 
 
 
Os tomatinhos vermelhos, 
Nem as frutas, 
Nem nada. 
Sente-se bem que para eles ali na feira os balõezinhos 
de cor são a única mercadoria útil e verdadeiramente 
indispensável. 
O vendedor infatigável apregoa: 
- "O melhor divertimento para as crianças!" 
E em torno do homem loquaz os menininhos pobres 
fazem um círculo movível de desejo e espanto. 
 
Comentário sobre o texto 7 
 
Que valor o diminutivo apresenta no texto e qual sua relação com o sentido do 
texto? 
O que expressa o termo grandes balõezinhos, podemos dizer que constitui uma 
incoerência? Explique. 
Conclua: para que servem os diminutivos? 
 
Os aumentativos não se prestam somente a indicar tamanho aumentado, 
podem transmitir afetividade ou sentimento. Estas frases, ouvidas no estádio de 
futebol, comprovam o que foi dito antes: "Ê, ô, ê, ô, o Fluzão é um terror!" "Não tenho 
palavras para dizer. Sou Mengão até morrer!" 
Mas podem, também, expressar um sentimento negativo: "Cuidado com aquele 
espertalhão." "Ele é metido a sabidão." 
 
Texto 8 
 
Trecho de entrevista 
"... minha louça é branca, com frisinho dourado em volta, 
sóbria e simplesinha, moderninha, os pratos sem borda, só 
fundinho. Os copos são branquinhos, de meio cristal (...) Você 
 
 
 
 
 
 
tem a casa da classe média, classe de subúrbio, que é 
inteiramente diferente da casa da zona sul ... aquela casa tão 
engraçadinha, com as calçadinhas, aqueles lampiõezinhos 
antigos, eu acho a coisa mais linda, né, aquelas cadeirinhas 
colocadas nas calçadas, as pessoas de cabecinha branca, tão 
bonitinho ..." 
 
Comentário sobre o texto 8 
 
O texto é transcrição da fala de uma informante do Projeto NURC/RJ, e serve 
para ilustrar o uso de diminutivos na língua falada. As duas passagens foram retiradas 
de uma entrevista em que o tema é Casa: no primeiro parágrafo, a pessoa fala de 
maneira muito carinhosa sobre os utensílios de sua própria casa; no segundo, faz uma 
comparação entre classes sociais e seus hábitos em termos de moradia. Como se vê, 
existe uma acentuada preferência pelos diminutivos. 
 
Texto 9 
 
Trecho extraído de entrevista 
"... um negócio assim superbacana, matemático, eles fizeram 
esse troço, bom, esta mesma firma veio pro Brasil pra fazer o metrô. 
Então vamos trabalhar. Então eles resolveram contratar a gente em 
fevereiro, eu morri de rir, o alemão que tinha comandado lá, sujeito 
simpaticíssimo, muito inteligente, não entendia por que em fevereiro 
não se contratava ninguém. Eu fui lá e disse que trabalhava a partir 
de março ..." 
 
Comentário sobre o texto 9 
 
O que chama nossa atenção neste texto é o fato de uma mesma pessoa 
empregar na sua fala três maneiras diferentes de expressar o grau do adjetivo. Duas 
delas se encontram registradas nas gramáticas: muito inteligente e simpaticíssimo. 
 
 
 
 
 
 
A terceira forma, feita com o auxílio de super, está se tornando muito comum na língua 
falada. A intenção de quem usa esta partícula é igualmente a de reforçar uma idéia, 
um pensamento, dando a impressão de que o advérbio muito não foi suficiente para 
exprimir a intensidadedaquilo que quer transmitir. 
Advérbios de base nominal 
 Vocábulos que basicamente funcionam como modificadores de um processo 
verbal, de um adjetivo ou de outro advérbio (critério funcional); 
 A característica morfológica dos advérbios é ser invariável; em termos de 
estrutura, pode haver dois tipos de advérbios: 
 Formados por morfema lexical mais morfema gramatical (advérbios com 
estrutura nominal - os advérbios em -mente); 
 Formados apenas por morfema gramatical (advérbios com estrutura 
pronominal) (critério formal ou mórfico) 
 Vocábulos que especificam a significação de um processo verbal, indicando 
suas circunstâncias; pode também se referir a um adjetivo ou a outro advérbio, 
intensificando seu sentido modificador (critério semântico) 
Dentro da classe dos nomes, abordaremos apenas os advérbios com estrutura 
nominal. Entre eles, os mais comuns são os terminados em -mente. Além de modificar 
o núcleo verbal, os advérbios em -mente podem funcionar como advérbios de frase, 
expressando a maneira como o sujeito falante se posiciona a respeito da informação 
contida na frase. Ex: 
 
Infelizmente nem todos os alunos foram aprovados no vestibular. 
 
De acordo com o seu papel na interação, eles podem ser distribuídos em quatro 
grupos: 
1) emotivos - os que permitem ao falante a exteriorização do seu estado de 
espírito em relação ao enunciado da oração adjacente. Incluem-se neste primeiro 
grupo os vocábulos adequadamente, perversamente, imperiosamente, 
razoavelmente, inevitavelmente ... 
 
Exemplo: "...(o sem terra) poderá, perversamente, transformar-se em mais 
um elo na engrenagem..." (JB, 5/10/95)" 
 
 
 
 
 
 
 
2) modais - "os que permitem pressupor, como mais provável, a verdade da 
proposição contida na oração adjacente". Os modais mais frequentes são 
evidentemente, provavelmente, certamente, aparentemente, necessariamente, 
simultaneamente, perfeitamente. Em textos de editoriais de jornais, é alta a frequência 
de advérbios modais, uma vez que tem-se a intenção de mostrar como mais provável, 
mais próxima da verdade as afirmações. 
 
Exemplos: "Provavelmente, por estar a uma distância maior do clima..." 
(JB, 16/9/95) "Obviamente, os membros da Procuradoria-Geral ... não têm direito 
adquirido algum..." (JB, 9/10/95) 
 
3) pragmáticos - que permitem ao falante caracterizar o conteúdo ou a forma 
do que diz. Incluímos neste grupo literalmente, efetivamente, fundamentalmente, 
indiscutivelmente. 
 
Exemplos: " Se as autoridades não tomarem providências, haverá, 
literalmente, uma guerra civil no Rio." (JB, 23/10/95) 
 
4) setoriais - "restringem o valor de verdade da proposição contida na oração 
adjacente a um dado domínio ou setor das artes, da ciência, da técnica, etc. ou da 
vida em geral": economicamente, historicamente, politicamente, oficialmente, 
constitucionalmente, tecnicamente. 
 
Exemplos: "Historicamente, a polícia fluminense se esvaziou." (JB, 
28/9/95) 
 
Sobre os advérbios, existem ainda muitos pontos que precisam ser 
explorados, mesmo porque os estudiosos nem sempre estão de 
acordo no tratamento dispensado a esta classe. Considerar a 
classe dos advérbios de frase já representa um avanço no estudo 
destes vocábulos, pois as gramáticas geralmente não se referem a 
 
 
 
 
 
 
esta outra possibilidade de emprego dos advérbios. É através dos 
advérbios de frase que quem fala ou escreve põe suas próprias 
marcas no texto, seja para revelar seu estado de espírito, seja para 
fazer sobressair a veracidade do que exprime, seja para caracterizar 
a forma ou o conteúdo da sua proposição, seja, finalmente, para 
enquadrar sua idéia num determinado domínio do conhecimento. 
Na verdade, os advérbios de frase contribuem para percebermos de 
que maneira os textos que lemos ou escrevemos são vistos ou 
sentidos pelos seus respectivos autores. 
 
Texto 10 
Trecho de entrevista 
"... eu tenho uma vida assim muito sedentária, eu faço pouco 
exercício, quase toda a minha atividade profissional é mais 
sentada, porque tanto na escola como na outra função que eu 
exerço eu trabalho a maior parte do tempo sentada. Venho pra 
casa, sento pra estudar, pra ler, então eu não tenho muita 
oportunidade de fazer exercício. Todo o tempo que eu tenho é 
tomado nas minhas atividades. Eu gostaria até de fazer ginástica, 
já nas férias eu geralmente faço ginástica pra evitar justamente 
manter todo o tempo sentada ..." 
(Projeto NURC/RJ - entrevista sobre o tema Alimentação, 
informante do sexo feminino) 
 
Estrutura nominal 
Estrutura 
pronominal 
realmente, geralmente, 
justamente 
muito, pouco, 
não, quase 
 
Os advérbios nominais assinalam modos de ser do processo a que se ligam, 
exprimindo circunstâncias de modo, dúvida, afirmação. Realmente, geralmente e 
justamente indicam o modo de realização do processo a que se referem. 
 
 
 
 
 
 
Os advérbios em -mente podem ter seu sentido intensificado ou reforçado por 
meio de dois tipos de processos: um processo derivacional e um processo sintático: 
· por meio de sufixos derivacionais, como -inho e -íssimo 
Ex: Atravessamos o gramado rapidinho porque já estava escurecendo. 
As babás cantavam baixinho pra fazer a gente dormir. 
 
por meio da combinação com advérbios intensificadores, como muito, tão, 
pouco 
Ex: O trabalho foi feito tão rapidamente quanto possível. Eu me retirei da reunião 
muito calmamente, apesar da discussão acalorada. 
 
4. Quadro resumo das classes de vocábulos em português 
 
Critério 
Classe 
Funcional 
(função ou papel 
na oração) 
Mórfico 
(caracterização da 
estrutura da 
palavra) 
Semântico (modo de 
significação: 
extralinguísticos e 
intralinguísticos) 
Substantivo 
Palavra que 
funciona com o 
núcleo de uma 
expressão ou 
com o termo 
determinado. 
Palavra formada 
por base lexical 
mais morfemas 
gramaticais. 
Palavra que designa os 
seres ou objetos reais ou 
imaginários. 
Adjetivo 
(qualificativo) 
Palavra que 
funciona como 
especificador do 
núcleo de uma 
expressão (ao 
qual atribui um 
estado ou 
qualidade). 
Palavra formada 
po? morfema lexical 
(base de 
significação) mais 
morfemas 
gramaticais. 
Palavra que especifica e 
caracteriza seres 
animados ou inanimados 
reais ou imaginários 
atribuindo-lhes estados ou 
qualidades. 
 
 
 
 
 
 
Pronome 
Palavra que 
substitui o núcleo 
ou funciona como 
termo 
determinante do 
núcleo de uma 
expressão. 
Palavra formada 
unicamente por 
morfema 
gramatical. 
Palavra que serve 
para designar as pessoas 
ou coisas, indicando-as 
(não nomeia as pessoas 
ou coisas nem as 
qualidades, ações, 
estados, quantidades, 
etc). Pronomes: pessoais, 
possessivos, 
demonstrativos, 
indefinidos, interrogativos 
e relativos. 
Artigo 
Palavra que 
funciona como 
termo 
determinante do 
núcleo de uma 
expressão. 
Palavra formada 
unicamente por 
morfema gramatical 
(palavra variável 
em gênero e 
número). 
Palavra que define ou 
indefine o substantivo a 
que se refere (definido, 
indefinido). 
Numeral 
Palavra que 
funciona como 
especificador do 
núcleo de uma 
expressão, ou 
como substituto 
desse mesmo 
núcleo. (numeral: 
substantivo, 
adjetivo) 
Palavra formada 
unicamente por 
morfema gramatical 
Palavra que indica a 
quantidade dos seres, sua 
ordenação ou proporção 
(cardinal, ordinal, múltiplo, 
fracionário, coletivo) 
VerboPalavra que 
funciona como 
núcleo de uma 
expressão ou 
Palavra 
formada por 
morfema lexical 
(base de 
Palavra que indica 
um processo (ações, 
estados, passagem de um 
estado a outro). Processo 
 
 
 
 
 
 
como termo 
determinado. 
significação) mais 
morfemas 
gramaticais. 
verbal => fenômeno em 
desenvolvimento, com 
indicação temporal. 
Advérbio 
Palavra que 
funciona 
basicamente 
como 
determinante de 
um processo 
verbal. 
Advérbios formados 
por morfema lexical 
mais morfema 
gramatical. 
Advérbios formados 
apenas por 
morfema 
gramatical. 
Palavra que 
especifica a significação 
de um processo verbal. 
Conectivos 
(preposição e 
conjunção) 
Palavra 
gramatical que 
funciona como 
elemento de 
ligação (conexão) 
entre palavras ou 
orações. Divisão 
dos conectivos: 
preposições e 
conjunções. 
Palavra formada 
apenas por 
morfema 
gramatical. 
Palavra que relaciona 
palavras e orações, e 
indica origem, posse, 
finalidade, meio, causa, 
etc. 
Fonte: BRAIT, NEGRINI, LOURENÇO. Encontros com a linguagem. Vol. 2. São Paulo, Editora Atual. 
7 PERSPECTIVAS QUANTO AO ENSINO 
O maior domínio das inúmeras possibilidades de expressão que a língua 
oferece é um dos nossos objetivos e, acreditamos, o objetivo de todo professor de 
língua portuguesa. É neste sentido que nos preocupamos com a maneira como o 
estudo das classes de vocábulos vem sendo feito em grande parte de nossas escolas 
de segundo grau. A partir de consultas a programas e a variados livros didáticos, 
podemos notar que, muitas vezes, este estudo se restringe a um conhecimento da 
nomenclatura apenas. Isto nos faz pensar e nos coloca diante de questões como: 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: www.3.bp.blogspot.com 
 
 Vale a pena estudar a nomenclatura pela nomenclatura? 
 Qual seria a utilidade deste tipo de estudo para um aluno de segundo grau? 
 Valeria a pena tentar modificar este quadro? E de que maneira? 
Essas questões nos levam a uma abordagem crítica da gramática normativa e 
a uma comparação com outros modelos teóricos de análise da língua. 
Propostas de atividades 
1- Confrontar dois textos jornalísticos. No primeiro, a notícia é dada de forma 
mais isenta, impessoal, sem adjetivos, como na seguinte manchete: 
"As dúvidas e os atrasos estão levando o clube à falência." (JB, 11/12/93) 
No segundo texto, a notícia é transmitida de maneira emocionada, mais parcial 
e pessoal, com muitos adjetivos, como no texto a seguir: 
"A história do brasileiro pobre que ficou rico fazendo gols, do garoto talentoso 
que virou ídolo internacional e do craque rebelde que virou herói nacional já não nos 
pertence mais, é do mundo" (JB, 18/7/94 - p.24) 
Seria interessante que se mostrasse como uma notícia pode veicular a opinião 
do emissor, induzindo o receptor a uma determinada conclusão, dependendo da 
escolha dos adjetivos feita pelo autor. 
 
 
 
 
 
 
2 - Pensar em situações em que alguém vá escolher, comprar, usar, etc. um 
objeto e essa escolha deverá ser feita entre várias espécies daquele mesmo objeto 
(bola de couro, bola de plástico, bola de pano, etc.) Através da caracterização o objeto 
é finalmente encontrado. 
Em outras situações, os adjetivos e/ou locuções adjetivas seriam usados para 
identificar a função do objeto (bola de futebol, de basquete, etc.) 
Por fim, imaginar situações em que o uso de adjetivos de avaliação (gol bonito, 
gol de placa, gol sem graça) provocaria divergências (discussão entre espectadores, 
ou entre jogadores, etc). 
 
 
 
 
 
 
 
8 BIBLIOGRAFIA 
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Editor, 1990. 
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CAMARA Jr., J. Mattoso. Princípios de linguística geral. Rio de Janeiro, Acadêmica, 
1969. 
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1970. 
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HORA, D. da (org.). Diversidade linguística no Brasil. João Pessoa, Idéia Editora, 
1997. 
KOCH, Ingedore V. e SILVA, M. Cecília P.S. (1985). Linguística aplicada ao 
português: morfologia. São Paulo, Cortez. 
 
 
 
 
 
 
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MIRA MATEUS, M.H. et alii. Gramática da Língua Portuguesa. Coimbra, Livraria 
Almedina, 1983. 
OLIVEIRA, Elisabeth B. et alii. Encontro com a linguagem. São Paulo, Atual, 1977. 
OLIVEIRA, M.T.I. e PINILLA, M.A.M. Advérbios em -mente: estudo comparativo na 
fala e na escrita. (mimeo) F.Letras / UFRJ, 1995. 
PERINI, M. Gramática descritiva do português. São Paulo, Ática, 1995. 
---------------- Para uma nova gramática do português. São Paulo, Ática, 1985. 
----------------- Sofrendo a gramática. São Paulo, Ática, 1997. 
SACCONI, Luiz Antonio. Nossa gramática. São Paulo, Editora Atual, 1994. 
SOARES, Magda B. e CAMPOS, E.N. Técnica de redação. Rio de Janeiro, Ao livro 
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WALDECK, S. E SOUZA, L.M. Roteiros de comunicação e expressão. Rio de Janeiro, 
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