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Fisioterapia no SUS

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Prévia do material em texto

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ - FIOCRUZ 
ESCOLA NACIONAL DE SAÚDE PÚBLICA SERGIO AROUCA - ENSP 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA 
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA 
 
 
 
 
 
 
ANA LUÍSA PINHO PINTO 
 
 
 
 
 
 
 
 
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE E FISIOTERAPIA: REFLEXÕES ACERCA DA 
FORMAÇÃO DESTES PROFISSIONAIS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rio de Janeiro, 2011 
 
 
ANA LUÍSA PINHO PINTO 
 
 
 
 
 
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE E FISIOTERAPIA: REFLEXÕES ACERCA DA 
FORMAÇÃO DESTES PROFISSIONAIS 
 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso 
apresentado como requisito parcial 
para obtenção do Título de 
Sanitarista, pela Escola Nacional de 
Saúde Pública Sérgio Arouca/RJ. 
 
 
 
 
 
 
Orientadora: Prof. Mônica de Rezende 
 
 
 
 
 
 
 
Rio de Janeiro, 2011 
 
 
ANA LUÍSA PINHO PINTO 
 
 
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE E FISIOTERAPIA: REFLEXÕES ACERCA DA 
FORMAÇÃO DESTES PROFISSIONAIS 
 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso 
apresentado como requisito parcial 
para obtenção do Título de 
Sanitarista, pela Escola Nacional de 
Saúde Pública Sérgio Arouca/RJ. 
 
 
 
Aprovado pela Banca Examinadora em _____ de ________________ de 2011. 
 
Banca Examinadora: 
 
 
 
Orientadora: Profa. MSc. Mônica de Rezende 
 
 
 
Prof. MSc. Fernando Manuel Bessa Fernandes 
 
 
 
Prof. Dr. Fábio Batalha Monteiro de Barros 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aos meus pais, Ivanilda Maria 
Pinho Pinto e Odenyr da Silva 
Pinto, pelo exemplo de vida que 
busco imitar em todos os momentos 
de minha caminhada. 
 
 
 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
Agradeço primeiramente a Deus que me iluminou com Sua sabedoria nos momentos difíceis 
desta caminhada, 
 
Agradeço imensamente aos meus pais Ivanilda e Odenyr pelo apoio incondicional; ao meu 
irmão Fernando Igor pelas horas compartilhadas no computador; e aos meus tios Luzia e 
Sandro pela presença e certeza do carinho de vocês por mim. 
 
 Ao meu namorado Lyverton, agradeço por dividir todas as angústias e as alegrias durante a 
realização deste projeto. 
 
Quero agradecer, aos meus colegas e professores de curso pela troca de conhecimento durante 
todo o ano de 2010. 
 
Agradeço ao suporte acadêmico oferecido pela Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio 
Arouca, um dos motivos que nos torna orgulhosos de pertencer a esta Instituição. 
 
À Ângela Vaamonde, pela atenção, carinho e escuta durante nossos encontros, aspectos que 
foram fundamentais para a conclusão deste trabalho. 
 
Às profas. Danielli Righetti, Fátima Figueiredo e Sheyla Torres por me apresentarem ao 
mundo da Saúde Pública, como uma área possível de atuação do Fisioterapeuta. 
 
Em especial, agradeço à Mônica Rezende, minha orientadora, que cumpriu exemplarmente o 
seu papel de educadora, através de palavras que foram importantes não só para construção 
deste trabalho, mas também que me guiaram para uma vida mais feliz e enriquecedora. 
 
 Enfim, a todos aqueles que contribuíram de uma forma ou de outra para a realização deste 
trabalho. 
 
 
 
 
 
RESUMO 
A crescente demanda da população por serviços de saúde de qualidade, associado à necessidade 
de se discutir o tema da formação nas diversas profissões, visando adequá-las a esta demanda, 
traz a importância de discutir a relação entre a formação de nível superior em Fisioterapia e o 
Sistema Único de Saúde (SUS). Este trabalho caracteriza-se como uma pesquisa descritiva e 
tem como objetivo qualificar a produção bibliográfica nacional sobre a relação entre a formação 
de fisioterapeutas e sua atuação no SUS, no período de 1996 a 2010. Almeja contribuir para o 
debate sobre a inserção deste profissional no SUS ao apontar, a partir da análise dos resultados, 
questões que precisam ser aprofundadas em estudos futuros. Para atingir tais objetivos, foi 
realizado um levantamento bibliográfico nas seguintes bases de dados: LILACS (Literatura 
Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), SCIELO (Scientific Electronic Library 
Online) e Banco de teses da Capes. Como resultado, foram encontradas 13 publicações, que 
foram classificadas pelas variáveis ano, tipo de publicação e região em que foi publicada e pelas 
categorias ‘diretrizes curriculares nacionais’, ‘responsabilidade do profissional’, ‘integralidade 
em saúde’ e ‘concepções dos docentes na formação em Fisioterapia’. Verificou-se: um aumento 
progressivo no número de publicações a partir do ano de 2005; maior quantidade de artigos em 
relação aos outros tipos de publicações (monografias, dissertações e teses); importante 
diferença entre as regiões federativas do Brasil, com maior prevalência de estudos na região Sul 
(53,8%); e um maior número de publicações referentes à categoria ‘diretrizes curriculares 
nacionais’. Foram destacadas diversas questões que giram em torno da aplicabilidade das 
orientações das DCN nos projetos pedagógicos dos cursos; adequação dos docentes à realidade 
do sistema de saúde; investigação dos modelos de atenção à saúde que estão sendo abordados 
nos ambientes formadores; contribuição das Instituições de Ensino Superior de cunho particular 
na articulação ensino, pesquisa, extensão/assistência; a possível influência da abrangência do 
sistema de saúde das regiões na formação dos profissionais; além da discussão sobre a 
responsabilidade de órgãos competentes da profissão na inserção da Fisioterapia nas ações do 
sistema de saúde. Cabe aos fisioterapeutas aprofundar estas discussões na busca de identificar 
a posição que a Fisioterapia deseja assumir diante do longo processo de consolidação do SUS. 
 
Palavras-chaves: Fisioterapia, Sistema Único de Saúde, Ensino superior 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ABSTRACT 
The growing population's demand for quality health services, associated with the need to 
discuss the issue of training in various professions, by adapting them to this demand brings the 
importance of discussing the relationship between the in education higher in Physiotherapy and 
National Health System (SUS). This work is characterized as a descriptive and aims to qualify 
the production national literature on the relationship between the training of therapists and their 
performance in the SUS in the period 1996 to 2010. Aims to contribute to the debate on the 
integration of training in the SUS point, the results from the analysis of issues that need to be 
deepened in future studies. To achieve these objectives, a survey was conducted in the following 
bibliographic databases: LILACS (Latin American and Caribbean Health Sciences), SciELO 
(Scientific Electronic Library Online) and Bank of the CAPES. 
As a result, we found 13 publications, which were classified by the variables year, publication 
type and region in which it was published and the categories' national curriculum guidelines', 
'professional responsibility', 'full health' and 'conceptions of teachers in training in physical 
therapy. " It was found: a progressive increase in the number of publications since the year 
2005, increased number of articles in relation to other types of publications (monographs, theses 
and dissertations); important difference between the regions of Brazil, with higher prevalence 
of studies in the South (53.8%) and a greater number of publications for the category 'national 
curriculum guidelines. " We highlighted several issues that revolvearound the applicability of 
the guidelines of the DCN in the pedagogical projects; suitability of teachers to the reality of 
healthcare, research models of health care that are being addressed in environments trainers 
contribution of university Superior special flavor in teaching, research, extension / assistance, 
the possible influence of the coverage of health care regions in the training, besides the 
discussion on the responsibility of the competent organs of the profession in the insertion of 
Physiotherapy in the actions of the system health. It is up to therapists deepen these discussions 
in order to identify the position you want to take the Physiotherapy before the long process of 
consolidation of the SUS. 
 
Keywords: Physiotherapy, National Health System, Higher education 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 08 
1.1. OBJETIVO GERAL..............................................................................................10 
1.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS................................................................................ 10 
2. REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................................. 11 
 2.1. HISTÓRICO DA FORMAÇÃO UNIVERSITÁRIA EM SAÚDE NO BRASIL: DA 
CRIAÇÃO DOS PRIMEIROS CURSOS ÀS DIRETRIZES CURRICULARES 
NACIONAIS ............................................................................................................................ 11 
 2.2. A FORMAÇÃO EM FISIOTERAPIA NO BRASIL .............................................. 17 
 2.2.1. Construção da Profissão e da Formação Universitária ................................. 17 
 2.2.2. Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Graduação em Fisioterapia
 22 
 2.3. A FORMAÇÃO UNIVERSITÁRIA EM FISIOTERAPIA E O SISTEMA ÚNICO 
DE SAÚDE .............................................................................................................................. 24 
3. CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS .......................................................................... 28 
4. DISCUSSÃO ........................................................................................................................ 31 
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 38 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 40 
 
 
 
 
8 
 
1. INTRODUÇÃO 
Atualmente, a formação dos profissionais em saúde é apontada como assunto relevante 
nas discussões acerca da formulação de políticas públicas voltadas para o setor. A preocupação 
com a formação em consonância com as diretrizes e princípios do sistema de saúde se 
fundamenta pela necessidade em se adaptar às transformações do perfil epidemiológico e 
demográfico brasileiros, a fim de corresponder às reais necessidades de saúde da população 
(Ceccim e Carvalho, 2006). Diante dos atuais debates acerca da formação destes profissionais, 
verifica-se a importância em discutir a relação da formação em Fisioterapia, como profissão 
pertencente à área da saúde, com a atuação dos fisioterapeutas no sistema público de saúde 
brasileiro. 
A Fisioterapia como profissão de nível superior foi regulamentada no Brasil no ano de 
1969, através do Decreto-Lei nº 938 e desde então, assegura ao profissional a execução de 
métodos e técnicas terapêuticas, a fim de restaurar, desenvolver e conservar a saúde do paciente. 
Com atividades que circundam a assistência à saúde, direção e supervisão no âmbito dos 
serviços e magistério, a Fisioterapia avançou ao longo dos anos, fato este que se revelou através 
da expansão da oferta de cursos de graduação, inserção de inúmeros profissionais no mercado 
de trabalho, e de um conseqüente aumento no seu campo de atuação. 
Apesar da origem da profissão ser descrita pela necessidade de conferir uma resposta à 
sociedade em torno dos excessivos casos de poliomielite e inúmeros acidentes de trabalho 
evidenciados no país (Rebelatto e Botomé, 1999), atualmente a Fisioterapia é vista como uma 
profissão capaz de atuar não apenas na reabilitação das doenças, mas também nos diversos 
níveis de atenção, colaborando para uma atenção integral à saúde da população. Rezende et al 
(2009, p. 1409), ao referirem-se à atuação do fisioterapeuta na atenção básica, através de sua 
integração às equipes de Saúde da Família, apontam que “a integração de profissionais de 
várias categorias nas equipes de saúde permite distintos olhares, ampliando as possibilidades 
inovadoras das práticas do cuidado e aumentando o potencial de resolutividade”. 
Ao se relacionar com a saúde da população, a Fisioterapia se aproxima do Sistema Único 
de Saúde (SUS), de modo a compartilhar de uma concepção de saúde ampliada. Esta forma de 
compreender a saúde começa a se consolidar no Brasil, ainda na década de 1970, através do 
movimento de Reforma Sanitária, que juntamente com eventos realizados nos anos seguintes, 
admitindo a saúde como direito social, atuam na constituição do sistema de saúde brasileiro. 
9 
 
O SUS é o sistema nacional de saúde brasileiro, regulamentado pelas Leis Orgânicas nº 
8.080 e nº 8.142 de 1990, que trata das ações de saúde, organização e funcionamento dos 
serviços, sob a forma de princípios e diretrizes (BRASIL, 1990). Através do SUS, as ações em 
saúde visam intervir nas condições de vida da população, com a finalidade de melhoria da 
qualidade de vida. 
Com uma nova forma de compreender a saúde da população, a discussão acerca da 
adequação dos profissionais de saúde torna-se fundamental. Assim, as instituições de ensino 
superior (IES) em saúde, emergem como importante instrumento para as ações do SUS. Com a 
finalidade de proporcionar a aproximação da Educação Superior com os desígnios do SUS, 
desde o ano 2000 as orientações para os cursos de graduação encontram-se pautadas nas 
Diretrizes Curriculares Nacionais, que propõe a formação de egressos/profissionais de saúde 
com ênfase na promoção, prevenção, recuperação e reabilitação da saúde. 
A crescente demanda da população por serviços de saúde de qualidade, associado à 
necessidade de se discutir o tema da formação nas diversas profissões, inclusive na Fisioterapia 
- visando adequá-las à esta demanda - foram motivos importantes que levaram à realização 
deste trabalho. 
Ao iniciar minha vida acadêmica, ainda na graduação, me identifiquei instantaneamente 
com o ideário da saúde pública, por intermédio do contato com esta disciplina. A expectativa 
de ampliar meu conhecimento em torno da atuação da Fisioterapia nessa área era algo que se 
acentuava com o passar dos períodos letivos. Posteriormente, ao término da graduação, no 
intuito de confirmar minha vontade de atuar na área, procurei o Curso de Especialização em 
Saúde Pública, da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP – FIOCRUZ). Tal 
curso contribuiu não só na minha formação como profissional, mas também como cidadã. O 
ponto fundamental que me incitou à realização deste trabalho foi a ausência, na minha 
graduação, de certos assuntos relevantes para o entendimento do sistema de saúde, como 
exemplo: sua história e construção social. Dúvidas ligadas ao reconhecimento por parte das IES 
quanto à importância da formação generalista do profissional de Fisioterapia para as ações 
coletivas em saúde orientaram a minha questão de pesquisa: como procede, no espaço 
acadêmico, a discussão acerca da formação em Fisioterapia e sua atuação no SUS?1.1. OBJETIVO GERAL 
10 
 
Analisar a produção bibliográfica nacional sobre a relação entre a formação de 
fisioterapeutas e sua atuação no SUS, no período de 1996 a 2010. 
1.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS 
 Caracterizar as Diretrizes Curriculares Nacionais quanto a formação dos 
profissionais fisioterapeutas voltada para sua atuação no SUS; 
 realizar levantamento bibliográfico em bases de dados nacionais, no período de 
1996 a 2010, referente à relação entre a formação de profissionais de fisioterapia 
e sua atuação no SUS e; 
 qualificar a produção bibliográfica levantada. 
11 
 
2. REFERENCIAL TEÓRICO 
2.1. HISTÓRICO DA FORMAÇÃO UNIVERSITÁRIA EM SAÚDE NO BRASIL: DA 
CRIAÇÃO DOS PRIMEIROS CURSOS ÀS DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS 
A compreensão da trajetória educacional de ensino superior na sociedade brasileira 
inicia-se com a transferência da Família Real, fato que trouxe um importante legado cultural à 
sede da colônia e acarretou na criação dos primeiros cursos superiores, porém limitados ao 
município da Corte (Rio de Janeiro) e à Bahia (Vieira e Farias, 2007). São inicialmente criados 
cursos ligados à defesa militar e à saúde, como a primeira faculdade de medicina, que trouxe a 
preocupação com a institucionalização de programas de ensino e com a normalização da prática 
médica em conformidade com os moldes europeus (Baptista, 2007). No decorrer dos anos, até 
o Brasil República, são instituídos vários cursos, dentre eles, os de medicina, Farmácia e 
Odontologia, que caracterizavam, na época, a educação superior em saúde no país (Ceccim e 
Carvalho, 2006). 
O final do século XIX foi caracterizado por importantes fatos políticos para a sociedade 
brasileira, com destaque para o advento da República. A educação superior em saúde 
apresentou como aspecto marcante o paradigma biologicista (anatomoclínica e fisiopatologia). 
Este fato perdurou pelo século XX, principalmente através da reforma do ensino médico 
ocorrida no início do século nos Estados Unidos (entre 1910 e 1920), pelo Relatório de 
Abraham Flexner, defendendo um ideal científico na formação de cursos médicos que seria 
extensivo a todos os cursos identificados com o conhecimento técnico-científico em saúde. Tal 
relatório considerava que a formação em saúde deveria ser pautada através da atenção 
hospitalar, com apelo para as especialidades e para a clínica da doença (Ceccim e Carvalho, 
2006). 
No período republicano, a preocupação com a educação é expressa através de diversos 
projetos de reformas, marcados pela oscilação entre a influência científica e a humanística 
clássica, representado por sucessivos documentos legislativos, com o intuito de organizar o 
ensino instituído (Vieira e Farias, 2007). Baptista (2007) afirma que neste período, inicia-se um 
maior incentivo às pesquisas nas faculdades de Medicina, além da criação de institutos de 
pesquisa, como o Instituto Soroterápico Federal, criado em 1900, sendo nomeado como 
Instituto Oswaldo Cruz cerca de um ano após sua criação. 
12 
 
No período getulista, as reformas continuam a surgir no cenário educacional, porém 
com traços de autoritarismo e centralizadoras, aspectos marcantes dos anos 1930. Nesta mesma 
época a educação passa a constituir objeto de maior interesse político, sendo criado o Ministério 
de Educação e Saúde. Uma das primeiras medidas adotadas, constituiu na instituição do ensino 
superior inserido ao sistema universitário, além de tratar também da organização técnica e 
administrativa das universidades, observando os dispositivos do Estatuto das Universidades 
Brasileiras, definidos no mesmo texto. (Vieira e Farias, 2007). 
Ainda na era Vargas, ocorre a promulgação de duas constituições: 1934 e 1937. Em 
termos gerais, a Constituição de 1934 - no tocante à educação - traz entre seus artigos 
orientações, tanto laicas quanto religiosas, a defesa da escola pública, e também a preservação 
de privilégios das instituições privadas. Com a mudança social imposta pelas forças ditatoriais, 
em 1937 o país recebe uma nova Constituição; que confere uma posição de omissão do Estado 
à algumas modalidades de ensino, priorizando o ensino profissionalizante nas reformas da 
época (ensino este, direcionado à população mais pobre, enquanto que o acesso ao ensino 
secundário era conferido à uma parcela menor - às elites) (Vieira e Farias, 2007). 
As diretrizes educacionais criadas na década de 1930 orientaram o sistema de ensino até 
a configuração da Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), em 1961, através 
da promulgação da Lei nº 4.024/61. Ao tratar da nova LDB de 1961, Vieira e Farias (2007, 
p.115) afirmam que, na tentativa de associar interesses distintos num só texto, “surge uma lei 
que mais favorece a ideologia da escola privada, do que o aprimoramento da escola pública”. 
Vale ressaltar que, no mundo, entre os anos 1950 e 1960, desponta um novo movimento 
(iniciado na Inglaterra e disseminado pelos EUA e Canadá) que aponta a formação como 
estratégia para transformação das práticas de saúde: o movimento preventivista, onde “as 
necessidades de saúde da população são apresentadas como o mote para a transformação da 
educação dos profissionais de saúde” (Ceccim e Carvalho, 2006, p.80). Entretanto, os mesmos 
autores afirmam que não houve o acompanhamento de forma relevante pelo sistema de 
educação das necessidades apontadas. No Brasil, em 1953, ocorre a separação dos setores saúde 
e educação, sendo instituídos os Ministérios da Saúde e da Educação e Cultura. A partir de 
então, na área da saúde, houve a criação de diversos órgãos responsáveis pelo combate de 
doenças, utilizando-se das campanhas sanitárias como forma de intervenção (Paim, 2009). 
Em 28 de novembro de 1968, através da Lei Federal nº 5.540, foram fixadas as normas 
de organização e funcionamento do ensino superior e sua articulação com a escola média 
13 
 
(BRASIL, 1968), conhecida como a Reforma Universitária. Surge a definição do currículo 
mínimo para as instituições, lei que vigorou até a aprovação da LDB em 1996. O currículo 
mínimo representava um conjunto de atividades, com desenvolvimento a ser realizado em 
período definido, carga horária prefixada, composto por disciplinas obrigatórias e eletivas 
(Ceccim e Carvalho, 2006). 
Como salientam Vieira e Farias (2007), a Reforma Universitária representou uma 
resposta à uma crescente demanda de acesso ao ensino superior, de modo especifico pelas 
camadas médias da população, e também procurou conter uma expansão desordenada deste 
nível de ensino, a fim de prover meios para uma melhoria na educação universitária, além de 
manter sob controle a participação estudantil na época, que vivia num momento conturbado - 
em pleno regime militar brasileiro. Vale ressaltar que desponta desta Lei a indissociabilidade 
entre ensino e pesquisa, dentre outras medidas. Outra reforma acompanha o período, com o 
intuito de assegurar ainda mais o controle da demanda pelo ensino superior, a chamada Reforma 
do ensino de 1º e 2º graus, que fomentava a formação de quadros técnicos de nível médio (Vieira 
e Farias, 2007). 
A Reforma Universitária de 1968 introduziu a abertura de departamentos, disciplinas, 
setores e/ou áreas de ensino da saúde pública, principalmente nos cursos de Medicina, 
Odontologia e Enfermagem. Assim, contribuiu para a contestação da prática biomédica vigente, 
além de representar a noção de um movimento organizado de mudança na educação dos 
profissionais de saúde (Ceccim e Carvalho, 2006). 
Com relação à oferta no ensino superior, a contenção da “expansão desordenada” ou 
ainda, a observância às exigências estabelecidas na reforma de 1968, na verdade não ocorreu. 
Houve um expressivo aumentodos cursos em instituições privadas, principalmente entre 1962 
e 1973, fato que se acentuou em decorrência da própria política educacional adotada no período 
militar, com forte contribuição da LDB de 1961 e das reformas criadas no período. Nesta 
década, alguns cursos de formação da área de saúde, antes com enfoque técnico-profissional, 
ascendem à formação técnico-científica, motivando a pesquisa e a incorporação tecnológica 
(Ceccim e Carvalho, 2006). Como exemplo, o curso de Fisioterapia, objeto de estudo deste 
trabalho. Vieira e Farias (2007, p.134) salientam que, tal aumento resultou da prática de 
estabelecimentos isolados, que ofereciam cursos de baixo custo, sem muitas pretensões de 
qualidade de ensino - “o que parecia satisfazer à demanda reprimida por educação superior 
por parte das camadas médias da população”. 
14 
 
Após um período de pleno desenvolvimento econômico no país, apelidado de “milagre 
econômico” (1967/68-1973), inicia-se uma fase de recessão econômica, que emerge junto com 
a crise do petróleo em 1973, deflagrando diversos movimentos sociais que demonstravam 
insatisfação com o momento político vivido (Vieira e Farias, 2007). Para o setor saúde, esta 
época constituiu-se como um dos importantes marcos para a política brasileira: num momento 
de crise política, institucional e econômica protagonizada pelo regime militar vigente, o 
“movimento sanitário”, formado por intelectuais do setor saúde que se estabeleciam em 
diversas instituições acadêmicas do país, fortalecia suas bases a partir da divulgação de estudos 
sobre as condições sociais e de saúde da população, reivindicando mudanças efetivas na 
assistência à saúde no Brasil. O ideal da Reforma Sanitária Brasileira (RSB) trazia consigo um 
novo pensamento sobre o papel do Estado, pautado no direito universal à saúde. Versava sobre 
uma gestão administrativa e financeira descentralizada para estados e municípios, além da 
função do Estado de promotor da participação e controle social das ações em saúde (Baptista, 
2007). 
A RSB apresentava outros relevantes aspectos acerca da proteção à saúde, como o 
desenvolvimento da cultura e educação (Paim, 2009). A fim de garantir a consolidação e 
manutenção de tais ideais, a RSB, enfatiza a importância de realizar uma ruptura com o 
reducionismo do modelo hegemônico vigente em 1970 (modelo médico-centrado e 
hospitalocêntrico), curativo e voltado à atenção individual, debatendo sobre a necessidade de 
novas práticas sanitárias que incorporassem o conceito da integralidade e uma visão ampliada 
do processo saúde-doença. Para Baptista (2007), inicia-se neste momento no Brasil, a 
ampliação do debate sobre o direito à saúde, a começar pela própria concepção de saúde. 
Na década de 1980, instituiu-se o retorno do estado democrático. Especificamente em 
1986, ocorre a realização da VIII Conferência Nacional de Saúde (CNS) que traz a tona (para 
a realidade brasileira da época) um conceito ampliado da saúde, no qual a mesma é entendida 
como um conjunto de determinantes das condições de vida, alimentação, lazer, acesso e posse 
da terra, transporte, emprego e moradia, com o discurso da garantia da saúde como direito de 
todos e dever do Estado (BRASIL, 1986). A VIII CNS representou um importante instrumento 
na discussão sobre saúde acerca da elaboração da nova Constituição Federal, promulgada em 
outubro de 1988, onde a saúde passou a ser reconhecida como um “direito de todos e dever do 
Estado” (BRASIL, 1988, art. 196). Paim (2009) aponta que, embora o direito à saúde tivesse 
sido difundido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1948, no Brasil, somente na 
“Constituição Cidadã” de 1988 houve o reconhecimento da saúde como direito social. 
15 
 
A partir das propostas da VIII CNS instituiu-se o Sistema Unificado e Descentralizado 
de Saúde (Suds), que foi o primeiro passo para a construção do atual sistema de saúde brasileiro 
– o Sistema Único de Saúde (SUS). O SUS foi regulamentado através da Lei Orgânica da Saúde 
em 19 de setembro de 1990 (Lei nº 8.080/90), e devido aos vetos sofridos, esta lei foi 
complementada em 28 de dezembro do mesmo ano, pela Lei nº 8.142/90. 
Segundo Paim (2009), o SUS pode ser definido como: 
“O conjunto de ações e serviços públicos de saúde, compondo uma rede regionalizada 
e hierarquizada, organizada a partir das diretrizes da descentralização, 
integralidade e participação da comunidade. É uma forma de organizar as ações e 
os serviços de saúde através dos dispositivos estabelecidos pela Constituição da 
República e pelas leis subseqüentes” (p.51). 
 
A partir da instituição do SUS, o Estado se compromete a garantir, mediante políticas 
sociais e econômicas, a redução do risco de doença e de outros agravos, além do acesso 
universal e igualitário às ações e serviços de saúde (BRASIL, 1988, art. 196). Paim (2009) 
afirma que, ao considerar os fatores determinantes e condicionantes para a saúde, a Lei 8.080/90 
reconhece a dimensão social da mesma, adotando, então, um conceito ampliado, já visto nas 
propostas da RSB ainda na década de 1970, e propagado na VIII CNS. 
Após estes fatos, houve a necessidade de se pensar numa formação dos profissionais de 
saúde adequada aos novos princípios e diretrizes propostos. Ceccim e Carvalho (2006) afirmam 
que tais debates foram instigados, principalmente, pela Constituição Federal, que passou a 
determinar que o setor saúde fosse o ordenador da formação dos seus profissionais. 
Em 1996, após oito anos de discussão, é aprovada a nova LDB através da Lei nº 9.394 
de 20 de dezembro de 1996, onde o governo federal assume a definição da política educacional, 
descentralizando sua execução para os Estados e municípios (Vieira e Farias, 2007). Ceccim e 
Carvalho (2006) ressaltam que a partir da nova LDB, o arranjo disciplinar se dá pela perspectiva 
das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN): 
“(as DCN) incentivam a maior flexibilidade dos desenhos curriculares, a liberdade 
para organizar as atividades de ensino e a diversidade das formações pela ampla 
participação nas realidades locais de saúde e ativa participação estudantil” (p.77). 
Para constituição das novas DCN para os cursos de graduação, em 1997, foi divulgado 
o edital nº4/97, pelo Ministério da Educação e do Desporto (MEC) por intermédio da Secretaria 
de Educação Superior (SESu), com o objetivo de convocar as Instituições de Ensino Superior 
(IES) a apresentar suas propostas, sob a justificativa de atender ao inciso II da Lei nº 9394/96 
16 
 
(LDB). Desta convocação, foi elaborado um relatório por uma comissão de especialistas e 
encaminhado ao Conselho Nacional de Educação / Câmara de Educação Superior. 
Além do relatório encaminhado pelo SESu, a constituição das DCN teve como 
referência diversos documentos (BRASIL, 2001), que vão desde a Constituição de 1988; a Lei 
Orgânica da Saúde; até os vários documentos apresentados pela Organização Panamericana de 
Saúde (OPAS), OMS e Rede Unida. 
Assim, com um processo iniciado em 1997, a educação nacional, especificamente os 
cursos de graduação da área da saúde, entre os anos 2001 a 2004, passam a ter como orientação 
as DCN (Ceccim e Carvalho, 2006). Estas foram criadas com o objetivo de garantir a qualidade 
da formação, gerar desenvolvimento intelectual e promover em cada estudante uma capacidade 
crítica-reflexiva, a partir de reflexões éticas e humanistas, com direcionamento para atitudes 
cidadãs; dentre outras ações (BRASIL, 1997). 
Uma das justificativas encontradas para resolução das DCN é de que os cursos de 
graduação teriam que deixar de ser meros transmissores de conhecimento, passando a assumir 
a posição de formadores capazes de preparar os futuros profissionais para as intensas 
transformaçõesda sociedade. Os objetivos propostos levam em consideração o aumento da 
garantia de capacidade de autonomia e discernimento dos futuros profissionais, buscando a 
integralidade da atenção e a qualidade e humanização do atendimento prestado aos indivíduos, 
famílias e comunidades (BRASIL, 2001). Assim, a caracterização do SUS é apresentada no 
contexto das DCN como um caminho para a proposta de formação. 
Com as propostas das DCN, bem como a partir dos debates iniciados ainda no século 
XX, alavancados por diversas reuniões científicas em torno do tema educação e ciências da 
saúde, surgiram algumas iniciativas nacionais, a partir de 2003, com o intuito de intensificar a 
articulação entre a educação e o SUS, são eles: os Pólos de Educação Permanente em Saúde 
para o SUS, as vivências e estágios para os estudantes de graduação na realidade do SUS (VER-
SUS), o AprenderSUS que liga o SUS e os cursos de graduação da área da saúde, além do 
EnsinaSUS que busca articular o ensino da integralidade na área da saúde (Ceccim e Carvalho, 
2006). Além desses exemplos, evidenciam-se ações como o Programa Nacional de 
Reorientação da Formação Profissional em Saúde (Pró-Saúde) que soma esforços em busca de 
reorientação da formação profissional, assegurando uma abordagem integral do processo saúde-
doença; e o Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (Pet-Saúde) que fomenta a 
integração ensino-serviço-comunidade, através do incentivo à atuação de estudantes nas 
equipes de Saúde da Família. 
 
17 
 
2.2. A FORMAÇÃO EM FISIOTERAPIA NO BRASIL 
2.2.1. Construção da Profissão e da Formação Universitária 
Apesar de alguns recursos da Fisioterapia, amplamente utilizados atualmente, datarem 
desde a antiguidade (4.000 A.C), foi a partir do século XX que surgiram os primeiros cursos de 
Fisioterapia no mundo, em consequência do elevado número de seqüelas, seja em decorrência 
das grandes guerras, acidentes de trabalho ou acometimentos por doenças (Freitas, 2006). 
Com a formação dos primeiros médicos no Brasil, influenciados por suas viagens ao 
continente europeu, começam a surgir os primeiros traços da Fisioterapia, ainda no século XIX. 
Estudiosos afirmam que os primeiros serviços que surgiram foram hidroterapia e eletricidade 
médica (hoje, eletroterapia) entre 1879 e 1883. Neste período, a Fisioterapia era vista com 
entusiasmo pela classe médica, sendo alvo de várias disputas pelo seu conhecimento e domínio 
(Barros, 2002). 
Segundo este autor, em 1884 foi organizado, no Hospital de Misericórdia do Rio de 
Janeiro, através da cooperação do médico Arthur Silva, o primeiro serviço de Fisioterapia da 
América do Sul. Já em 1919, o médico Raphael Penteado de Barros fundou o departamento de 
eletricidade médica, onde futuramente se constituiria a Universidade de São Paulo (USP), e o 
médico Waldo Rolim de Moraes, em 1929, instalou o Serviço de Fisioterapia do Instituto 
Radium Arnaldo Vieira de Carvalho. 
No decorrer dos anos, vários outros médicos, participaram da história da Fisioterapia 
através de contribuições; sejam elas pela criação de departamentos de Fisioterapia, ou ainda 
relatos acerca de estudos sobre os benefícios dos novos recursos terapêuticos. A respeito da 
participação médica nos primeiros estudos da Fisioterapia, Freitas (2006) salienta que: 
“[...] reflete a característica de uma medicina voltada para a prática que valorizava 
o desenvolvimento das especializações, [...] e a compartimentalização do corpo, além 
da tendência do enquadramento da Fisioterapia como um recurso terapêutico a ser 
desenvolvido e/ou, no máximo, uma nova especialização médica em construção”. (p. 
30) 
 
Dois fatores relevantes que ocorreram na primeira metade do século XX contribuíram 
para a construção do campo de trabalho da Fisioterapia; são eles: a preocupação com os casos 
de acidentes de trabalhos e a epidemia de poliomielite (Freitas, 2006) 
Com a crise de 1929, ocorreu no Brasil a decadência da cafeicultura e a ascendência da 
indústria, o que trouxe como conseqüência a intensificação da atividade industrial no país. Com 
a mudança nos meios de produção, algumas questões iniciaram uma fase de preocupações 
sociais, como as perdas das funções laborais de pessoas inseridas no ambiente de trabalho, 
18 
 
sejam elas por acidentes ou por doenças ocupacionais (Freitas, 2006). Segundo Rebelatto e 
Botomé (1999), o Brasil apresentava um dos maiores índices de acidentes de trabalho da 
América do Sul. 
Na década 1950, a incidência de poliomielite encontrava-se alta no país, o que gerava 
um elevado número de portadores de seqüelas (Barros, 2002). Tal surto atingiu a população 
independente de sua classe social (Freitas, 2006). Diante do contexto apresentado, passou a 
existir uma demanda por serviços de reabilitação, que configurava na necessidade de reinserir 
na sociedade os indivíduos acometidos pelos agravos citados anteriormente. Começava a 
configurar-se então, as primeiras definições da Fisioterapia, apoiando-se nas medidas 
reabilitadoras (Rebelatto e Botomé, 1999), como resposta a uma demanda social. 
A formação em Fisioterapia no Brasil acontece num momento em que a constatação da 
ausência de estudos e práticas leva a necessidade de implementar uma proposta que levasse a 
uma resposta social eficaz e eficiente para a possível retomada dos indivíduos aos seus meios 
produtivos (Freitas, 2006). Em 1951, foi criado o curso para a formação de técnicos de 
Fisioterapia (Barros, 2002), chamados de fisioterapistas - denominação originária do termo 
physiotherapist, utilizado pela escola anglosaxônica - no Hospital de Clínicas de São Paulo 
(Almeida, 2008). 
No Rio de Janeiro, em 1954, ocorreu a criação da Associação Beneficente de 
Reabilitação (ABBR) e, em 1956, teve início o primeiro curso com a intenção de formar 
Fisioterapeutas e Terapeutas Ocupacionais, com duração de dois anos e formação de dezesseis 
fisioterapeutas. 
Nesta mesma época, na Universidade de São Paulo (USP), acontece o primeiro curso 
para formação superior de fisioterapeutas, que estabeleceu convênios com a Organização 
Panamericana de Saúde (OPAS)/Organização Mundial de Saúde (OMS) e a World 
Confederation for Physical Therapy para garantir a participação de fisioterapeutas estrangeiros 
como docentes (Freitas, 2006). 
A partir de então, a formação superior em Fisioterapia no Brasil se expande preocupada 
em preparar “um profissional que atuasse de forma quase que exclusiva em centros de 
reabilitação, nas seqüelas físico-funcionais apresentadas pelos pacientes.” (Freitas, 2006, p. 
36). 
Apesar da formação de fisioterapeutas se apresentar como superior, suas funções eram 
restritas à execução do tratamento prescrito pelo médico e o fisioterapeuta apresentava-se como 
um “auxiliar médico” (Galvão, 1999 apud Barros, 2002). 
19 
 
Em 1959, funda-se a Associação Brasileira de Fisioterapia (ABF) cujo um dos objetivos 
era colaborar para o aprimoramento do ensino da profissão, o que durante toda a década de 
1960 buscou-se colocar em prática através das tentativas de estruturar a profissão a partir de 
uma formação mais adequada aos interesses da categoria, além do objetivo de obter o 
reconhecimento do Estado (Barros, 2002). Neste mesmo ano, na Assembléia Geral da ABF, 
decidiu-se adotar a terminologia fisioterapeuta para aqueles que se formavam nos cursos 
ministrados (Almeida, 2008). 
Na década de 1960, a partir da solicitação da ABBR e do Instituto de Reabilitação da 
USP, o Conselho Federal de Educação estabeleceu o currículo mínimo para a formação 
universitária em Fisioterapia no país, através do Parecer 388/63 homologado através da Portaria 
511/64 do Ministério da Educação e Cultura (MEC), (Barros, 2002). Apesar deter sido 
elaborado com a finalidade de redimensionar o currículo de formação do fisioterapeuta, o 
referido parecer trouxe certas limitações quanto à atuação deste profissional. Barros (2002) 
destaca dois trechos do citado parecer: 
“[...] A referida Comissão insiste na caracterização desses profissionais como 
auxiliares médicos que desempenham tarefas de caráter terapêutico sob a orientação 
e a responsabilidade do médico [...] Não compete (ao fisioterapeuta e terapeuta 
ocupacional) o diagnóstico da doença ou da deficiência a ser corrigido. Cabe-lhes 
executar, com perfeição, aquelas técnicas, aprendizagem e exercícios recomendados 
pelo médico...” (p.39) 
 
Segundo Figuerôa (apud Barros, 2002), o parecer trouxe avanços para a profissão 
quanto à duração mínima de três anos para os cursos e carga horária mínima de 2.160 horas, 
porém trouxe também a reafirmação do profissional de Fisioterapia como apenas um auxiliar 
médico. Freitas (2006) aponta que a análise do Parecer 388/63 leva a intenção de desqualificar 
os profissionais de Fisioterapia, que por uma ausência de Lei regulamentadora da profissão, 
seria considerado como técnico. 
Como efeito do parecer de 1963, houve imediatamente, o crescimento da mobilização 
da categoria de fisioterapeutas quanto à busca da autonomia profissional através de uma lei 
própria, aliados às ações da ABF em torno do mesmo propósito. 
Em 13 de outubro de 1969 a Fisioterapia e a Terapia Ocupacional foram finalmente 
reconhecidas como profissões de nível superior através do Decreto-Lei nº 938. O presente 
Decreto representou uma grande vitória para a Fisioterapia, mostrando-se fundamental para 
desenvolvimento da profissão no país. Dentre seus artigos, institui o exercício dos 
fisioterapeutas como profissionais de nível superior, caracterizando suas atividades de cunho 
privativo, através da restauração, desenvolvimento e conservação da capacidade física do 
paciente. Além disso, instituiu a atuação de fisioterapeutas em cargos de direção de órgãos e 
20 
 
serviços públicos e/ou particulares, e previu sobre a capacidade de exercer o magistério nas 
disciplinas tanto de formação básica quanto de nível médio ou superior e a atuação na 
supervisão de alunos e profissionais (BRASIL, 1969). 
Freitas (2006) aponta que embora os documentos representassem avanços quanto à 
profissão, ambos apresentavam lacunas quanto à participação dos profissionais de saúde na 
redação das suas propostas, o que segundo o autor, pode levar a uma discussão não tão ampla 
sobre as necessidades da Fisioterapia e dos fisioterapeutas. Talvez, uma das principais 
conseqüências de tal fato, seja a afirmação levantada pelo mesmo autor acerca do Decreto de 
1969: 
“[...] apesar da essência desse documento estar voltada para a garantia do exercício 
profissional do fisioterapeuta como um profissional autônomo e/ou liberal, acabou 
reforçando a concepção de que o trabalho do fisioterapeuta estaria restrito aos níveis 
de atenção à saúde na qual a capacidade física das pessoas já estivesse 
comprometida.” (p.43) 
 
Apesar da conquista do Decreto-Lei ainda se fazia necessário colocar em prática os 
direitos adquiridos pelos fisioterapeutas. Foi então que, através da ABF, houve a realização de 
projetos para a constituição dos Conselhos Regionais de Fisioterapia, aprovados seguidamente 
por intermédio da Resolução do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional – 
COFFITO, nº 01, de 11 de dezembro de 1977. Foram aprovadas as normas para instalação e 
organização dos primeiros Conselhos Regionais, com a função de normatizar e fiscalizar o 
exercício profissional da Fisioterapia em todo o país (COFFITO, 1977). A partir da criação dos 
conselhos, foram instituídas várias resoluções, dentre elas a que aprova as normas para 
habilitação do exercício das profissões de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Resolução 
COFFITO 08) e a Resolução COFFITO 10, que trata do código de ética da profissão 
(COFFITO, 1978). 
A década de 1980 foi atravessada por incessantes disputas travadas pela Sociedade 
Brasileira de Medicina Física e Reabilitação e o Conselho Federal de Medicina – CFM e os 
Conselhos e Associação de Fisioterapia. A ação judicial movida pelos órgãos ligados a 
Medicina, tinha como objetivo contestar a constitucionalidade dos artigos 3o e 4o do Decreto-
Lei 938/69 e do Parágrafo Único do artigo 12 da Lei 6.316/75. Estes artigos contestados 
tornavam os métodos e técnicas fisioterápicas privativas do fisioterapeuta, o que obrigava às 
empresas (inclusive as que pertencessem aos médicos) que prestassem serviços de fisioterapia 
à inscrição no respectivo Conselho da profissão, ficando estas empresas, sob o poder normativo 
e fiscalizador do Conselho de Fisioterapia (Barros, 2002). Como desfecho, a autonomia dos 
21 
 
profissionais de Fisioterapia permaneceu garantida, bem como a obrigação das empresas que 
prestam serviços de Fisioterapia nos conselhos da categoria. 
Retornando especificamente para o tema da formação do fisioterapeuta, ainda 
encontrava-se em vigência desde 1963 o currículo mínimo que estabelecia a formação do 
fisioterapeuta como auxiliar médico, dentre outras particularidades já mencionadas. A partir de 
1983 (até o ano de 2001), inicia-se a vigência de um novo currículo mínimo que previa a 
formação com duração mínima de 4 anos e máxima de 8 anos, carga horária de 3.240 horas, e 
estabelecia-se em torno de 4 ciclos de matérias (quadro 1): 
Quadro 1: Ciclo de matérias instituídas a partir do novo currículo mínimo 
Biológicas Biologia, Ciências morfológicas, Ciências fisiológicas e 
Patologias 
Formação Geral Sociologia, Antropologia, Psicologia, Ética e Deontologia; 
Introdução à Saúde Humana, compreendendo Saúde pública; 
Metodologia de Pesquisa Científica, incluindo Estatística. 
Pré-
profissionalizantes 
Fundamentos de Fisioterapia, Avaliação funcional; Fisioterapia 
geral; Exercício terapêutico e Reeducação funcional; Recursos 
terapêuticos manuais 
Profissionalizante Fisioterapia aplicada às condições neuro-músculo-esqueléticas; 
fisioterapia aplicada às condições Cárdio-pulmonares, 
fisioterapia aplicada às condições Gineco-obstétricas e 
pediátricas fisioterapia aplicada à pediatria; fisioterapia aplicada 
às condições sanitárias, incluindo fisioterapia preventiva; estágio 
supervisionado, constando de prática de fisioterapia 
supervisionada. 
Fonte: Adaptado de Barros (2002) 
A década de 1990 apresentou diversas resoluções e legislações oriundas do Ministério 
da Saúde e do COFFITO em torno do reconhecimento e da valorização da Fisioterapia. Segundo 
Barros (2002), “esta quantidade de resoluções, portarias e decretos vinham consolidando o 
campo assistencial da Fisioterapia cada vez mais, reconhecendo legalmente, o que o 
fisioterapeuta já fazia, na prática, há anos atrás”. (p. 54) 
Ao tratar da expansão do ensino da profissão, tem-se na segunda metade da década de 
1990, um aumento exponencial dos cursos ofertados, de 63 para 115 cursos equivalentes a 80% 
de aumento; tendência que prevaleceu entre 1999 e 2003 aumentando de 115 para 298 a 
quantidade de cursos (cerca de 159% de aumento em apenas 5 anos), quando em 2008 o número 
de cursos alcançou o patamar de 479 (Bispo Júnior, 2009). 
Além da constatação do forte crescimento no ensino da profissão, no período de 1995 a 
2003, de acordo com Pereira e Almeida (2006), a distribuição desses cursos no país não se deu 
22 
 
de forma equilibrada, isto porque as regiões Sul e Sudeste concentravam juntas cerca de 70% 
dos cursos de Fisioterapia, enquanto que a Região Nordeste apresentou diminuição de cursos 
no decorrer do período e uma melhora pouco expressiva nas Regiões Norte e Centro-Oeste.Um dos pontos que motivaram tal situação foi a ampliação da oferta de cursos. Pereira 
e Almeida (2006) apontam a grande expansão da oferta de graduação do setor privado em 
relação ao público, principalmente a partir de 1998. Macedo et al (2005) salienta que a 
consequência da ampliação do número de cursos se deu de forma desordenada, gerando baixa 
qualidade no ensino e o desequilíbrio entre áreas de conhecimento e entre as regiões geográficas 
do país. 
A partir das mudanças no cenário social brasileiro, principalmente no setor saúde - 
iniciadas ainda na década de 1980, a preocupação em repensar os modelos de formação 
adotados nas instituições de ensino superior no país tornou-se marcante. Com a aprovação da 
nova Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional em 1996, o ensino de graduação em 
Fisioterapia, através da Resolução nº 4 de 19 de fevereiro de 2002, passa a ser orientado pelas 
Diretrizes Curriculares Nacionais; com fundamento no Parecer CES 1.210/2001. 
 
2.2.2. Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Graduação em Fisioterapia 
As DCN para os cursos de graduação em Fisioterapia têm por objetivos definir os 
princípios, fundamentos, condições e procedimentos da formação de fisioterapeutas, para 
aplicação em âmbito nacional na organização, desenvolvimento e avaliação dos projetos 
pedagógicos dos cursos das IES. Considera como perfil profissional: 
“[...] o Fisioterapeuta, com formação generalista, humanista, crítica e 
reflexiva, capacitado a atuar em todos os níveis de atenção à saúde, 
com base no rigor científico e intelectual. Detém visão ampla e global 
[...] Capaz de ter como objeto de estudo o movimento humano em todas 
as suas formas de expressão e potencialidades [...] objetivando a 
preservar, desenvolver, restaurar a integridade de órgãos, sistemas e 
funções [...] (BRASIL, 2002).” (p.11) 
 
Além disso, apresenta dentre outras competências, a atenção à saúde onde o 
fisioterapeuta dentro de seu âmbito profissional, deve estar apto a desenvolver ações de 
prevenção, promoção, proteção e reabilitação da saúde, tanto em nível individual quanto 
coletivo, sensibilizados e comprometidos com o ser humano, atuando multiprofissionalmente 
(BRASIL, 2002). 
O texto sobre a aprovação das DCN para os cursos de fisioterapia destaca, dentre seus 
artigos, a necessidade da formação de um profissional comprometido com o contexto social, 
que deve atender ao sistema de saúde vigente. Para isso selecionam vários conteúdos - ditos 
23 
 
essenciais, com associação na prática, instituída por estágios curriculares: - conhecimentos 
biológicos, sociais e humanos, biotecnológicos e fisioterapêuticos (BRASIL, 2002). 
Quanto às obrigações das IES, cabe promover um projeto pedagógico para seus cursos 
de graduação, tendo como consciência a busca pela formação integral e adequada através de 
uma articulação entre o ensino, a pesquisa e a extensão/assistência. Todavia, as mesmas podem 
flexibilizar e aperfeiçoar as suas propostas curriculares, considerando o contexto sócio-
econômico em que se enquadram, mas sempre sob a responsabilidade de assegurar uma 
formação generalista (BRASIL, 2002). 
Ceccim e Feuerwerker (2004) discutem a importância do papel das IES ao afirmarem 
que a universidade exerce um “mandato público”, entendendo-se que suas ações devem ser 
geridas de acordo com os interesses da sociedade. Acrescentam, ainda, que a relevância pública 
da saúde (definida constitucionalmente) deveria representar uma exceção quando se trata de 
autonomia das IES. 
O papel das DCN para a graduação na área de saúde, esbarra no modelo de formação 
adotado e propagado desde a criação dos cursos superiores, que considera o processo saúde-
doença apenas como um processo biológico; o que gera grandes desafios no cumprimento das 
diretrizes. 
No caso específico da fisioterapia, não há registros de sua inclusão nas discussões sobre 
as transformações no sistema de saúde promovidas até a instituição do SUS. Tal fato, somado 
à necessidade da auto-afirmação da profissão no cenário da saúde, leva a um maior desafio de 
instituir mudanças no campo de trabalho, bem como na concepção de uma formação 
direcionada para as propostas do SUS (Freitas, 2006). 
Apesar das DCN instituírem uma proposta norteadora para os cursos de graduação, 
Ceccim e Feuerwerker (2004) ressaltam que: 
“[...] considerando-se as transformações ocorridas no mundo do 
trabalho e da produção de conhecimento, torna-se fundamental firmar 
uma política pública de mudança na graduação para que as diretrizes 
constitucionais do SUS e as diretrizes curriculares nacionais 
pertençam à obediência às normas gerais da União e à observância às 
diretrizes gerais pertinentes ou atinentes, como prevê a LDB (Lei das 
Diretrizes Básicas)”. (p. 1403) 
 
As DCN, assim como as diretrizes do SUS e os movimentos de mudança na formação 
dos profissionais de saúde, trazem as perspectivas da existência de IES comprometidas com as 
questões de relevância social (Pinheiro e Ceccim, 2006). Deste modo, as DCN para os cursos 
de Fisioterapia apresentam, além de uma orientação para as IES, um caminho que insere o 
fisioterapeuta nos serviços de saúde pública de uma forma integral e humanizada, propondo 
24 
 
transformações em sua atuação. Traz, desta forma, grandes desafios aos atores sociais 
envolvidos na formação (entendendo-se as universidades, os docentes, os responsáveis pela 
elaboração das políticas e os próprios alunos): 
1) romper com um modelo enraizado na assistência curativa e; 
2) promover, no âmbito da formação, ações que envolvam os futuros profissionais com as 
demandas provenientes do sistema de saúde, entendendo que o agir transformador se inicia com 
o pensamento crítico e reflexivo de tais questões que irão determinar o resignificado de suas 
práticas na saúde pública. 
 
2.3. A FORMAÇÃO UNIVERSITÁRIA EM FISIOTERAPIA E O SISTEMA ÚNICO DE 
SAÚDE 
Atualmente, a tentativa de compreender o processo saúde-doença a partir de um 
conceito amplo de saúde busca ultrapassar as dimensões biológicas, tão propagadas no início 
da formação na área de saúde. Assim, uma formação que considera a saúde como uma área que 
abrange as questões sociais, ambientais, biológicas e comportamentais como determinantes das 
condições de saúde da população está comprometida com o ideário difundido pelo projeto da 
Reforma Sanitária que contribuiu para a formulação do atual sistema de saúde brasileiro, além 
de cumprir com a orientação das DCN. 
Para Rebelatto e Botomé (1999), o objeto de trabalho do setor saúde ainda está muito 
enraizado na doença, “obscurecendo a totalidade desse objeto que são as condições de saúde” 
(p.17). Tais autores consideram que na Fisioterapia esse problema é acentuado: “há uma 
absoluta atenção à doença” (p.18). 
Em contrapartida, observa-se nos princípios do SUS a preocupação de alcançar a 
universalidade de acesso em todos os níveis de assistência, garantindo a integralidade da 
mesma, que vem a ser entendida como um conjunto das ações e serviços preventivos e 
curativos, individuais e coletivos (BRASIL, 1988). Baptista (2007) complementa que com a 
reforma no sistema de saúde, os profissionais devem incorporar e construir uma nova concepção 
de saúde, com a necessidade de compreender o indivíduo no contexto da coletividade e dos 
problemas que dela emana. O que vale questionar diante desse quadro é: como a formação em 
Fisioterapia se posiciona diante dos desafios propostos pelo SUS? 
Como visto anteriormente, a própria origem da Fisioterapia se deu pela necessidade de 
tratar indivíduos doentes, direcionando sua atuação para atividades curativas. As características 
educacionais da maioria das instituições de ensinoem saúde, induzidas pelo desenvolvimento 
25 
 
do modelo flexneriano - onde predomina a transmissão do conhecimento tecnicista, sólida 
formação em ciências básicas, centralidade na figura do professor, a pouca ênfase nos aspectos 
de prevenção e promoção da saúde, com especial atenção médica individual e estímulo a 
aprendizagem dentro do ambiente hospitalar (Freitas, 2006); também contribuíram para a visão 
limitada da Fisioterapia como profissão voltada apenas para a cura e reabilitação de doenças 
(Bispo Júnior, 2009). Essas considerações levam a refletir sobre as conseqüências do tipo de 
formação para os futuros profissionais e para a população. 
As IES e outras instituições formadoras vêm sendo pressionadas por mudanças no 
processo de formação que visam maior articulação com o sistema de saúde, devendo propagar 
o conceito, diretrizes e princípios do SUS, bem como estar em conformidade com as DCN. Esta 
necessidade de mudança decorre das novas exigências em relação ao perfil dos profissionais e 
como conseqüência, da reconstrução do papel social da universidade (Ceccim e Feuerwerker, 
2004). Barros (2002) enfatiza que neste contexto de mudanças, o fisioterapeuta pode ter um 
papel de destaque, participando efetivamente de uma equipe multidisciplinar contribuindo na 
organização dos serviços de saúde, porém o que se percebe é a participação secundária da 
profissão; e isso pode ser instituído no próprio ambiente formador pela falta de interesse nas 
disciplinas de cunho social, em decorrência da quase exclusividade de interesses pelas 
disciplinas “técnicas”. 
Cabe ressaltar que a tentativa de aproximar fisioterapeutas das demandas populacionais 
em saúde não pode ser exclusivamente através das práticas reabilitadoras, cabe a profissão 
adequar-se à nova lógica de organização dos modelos de atenção e ao atual perfil 
epidemiológico da população (Bispo Júnior, 2009). Um dos documentos que versam sobre as 
atividades de fisioterapeutas para além da assistência curativa (além das DCN) é o Código de 
Ética da profissão que institui ao Fisioterapeuta a assistência ao homem, tanto em atividades de 
promoção, tratamento e recuperação da sua saúde, bem como a participação em programas de 
assistência à comunidade (BRASIL, 1978). 
Como forma de adaptação a esta nova realidade, a Associação Brasileira de Ensino em 
Fisioterapia (ABENFISIO) desenvolveu Oficinas de Implementação das DCN em cooperação 
com a Organização Pan Americana da Saúde e o Ministério da Saúde/Departamento de 
Educação e Gestão em Saúde, com o objetivo de contribuir para a mudança do enfoque da 
formação do fisioterapeuta. Uma de suas questões norteadoras foi como desenvolver a 
integração entre o SUS e formação acadêmica (ABENFISIO, 2007). 
Freitas (2006) aponta que a instituição das DCN coloca a Fisioterapia no campo da 
atenção primária à saúde, desafiando-a a resignificar os valores e práticas da profissão; e 
26 
 
trazendo para o campo da sua formação a responsabilidade de organizar sua metodologia de 
ensino e currículo em torno das demandas sociais e das políticas públicas de saúde. 
Contudo, segundo Da Silva e Da Ros (2007) ainda existe uma escassez de documentos 
tanto oficiais (dos ministérios) como da própria categoria profissional indicando o espaço de 
atuação do fisioterapeuta no SUS. 
Apesar de esforços trazidos pela aplicabilidade das DCN e dos conselhos e associações 
ligadas às profissões de saúde, novos rumos parecem ser necessários para reais mudanças na 
formação dos profissionais adequados à realidade da atenção integral à saúde. Da Silva e Da 
Ros (2007) salientam a necessidade de: 
“[...] políticas claras do SUS, pautadas por suas diretrizes, devem indicar ações 
orientadas para a mudança na formação dos profissionais [...] ser capaz de ir além 
das declarações de intenção e da existência formal de propostas, instâncias ou 
estruturas. Tem de ser capaz de convocar o pensamento crítico e o compromisso de 
todos os atores (docentes, estudantes, gestores de saúde e de educação, conselheiros 
de saúde e movimentos sociais), além de oferecer possibilidades de interferência real 
no processo de formação profissional.” (p.1405). 
 
Cunha (2006) é enfática ao afirmar que a formação em graduação dos futuros 
fisioterapeutas, apesar de obter melhoria da qualidade com o passar dos anos, ainda permanece 
enraizada na simples transmissão de técnicas de tratamento e de receitas de procedimentos a 
serem aplicados, onde a desarticulação entre teoria e prática e a ausência de preparação desses 
futuros profissionais para atuarem em pesquisas e em questões relacionadas ao ensino de novos 
profissionais, são os maiores problemas encontrados neste processo de formação. Bispo Júnior 
(2009) afirma que a consolidação das DCN na orientação da formação em Fisioterapia se 
caracteriza como instrumento imprescindível para a garantia da qualidade de ensino, 
direcionada de acordo com a realidade epidemiológica e com os novos modelos de atenção à 
saúde. 
A Fisioterapia tem, instituído nas DCN, um grande desafio em torno da mudança da 
formação dos seus profissionais. Como um caminho a ser seguido, os responsáveis por tal 
formação devem estar imbuídos de um espírito transformador, comprometidos com a 
sociedade, com a ética de suas ações e identificados com a necessidade de cumprimento do 
papel da profissão na área da saúde. 
 
27 
 
3. CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS 
Esta pesquisa caracteriza-se como uma pesquisa descritiva, “na qual o pesquisador 
limita-se a descrever o fenômeno observado, sem inferir relações de causalidade entre as 
variáveis estudadas” (Appolinário, 2004, p.153). 
Para produção dos objetivos da pesquisa, foram realizados debates e estudos 
preliminares sobre algumas questões que apontavam, inicialmente, para o estudo de bases de 
dados (BD). As perguntas que norteavam o tema eram: o que são as BD; quais as principais 
bases que trabalham com educação e saúde; e como se dá a organização de uma base de dados. 
O mesmo foi feito para o estudo das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) a fim de 
esclarecer questões que apontavam para sua definição, constituição e relação com o SUS. 
Na primeira fase, foi realizada análise documental do texto das DCN para o curso de 
graduação em Fisioterapia, com o intuito de identificar, neste documento, a relação da formação 
do profissional com a sua atuação no SUS. Este estudo permitiu delimitar o recorte do período 
da pesquisa, pois a partir dele foi possível identificar a Lei que rege o sistema educacional 
brasileiro: Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996 que versa sobre a Lei das Diretrizes Básicas 
da Educação; incluindo no período selecionado para a pesquisa a aprovação das Diretrizes 
Curriculares para os Cursos de Fisioterapia, no ano de 2002, através da Resolução CNE/CES 
4/2002. Estes fatos são importantes, pois constituem avanços para a educação superior no país, 
além de a aprovação das DCN se apresentar como um ponto relevante para a discussão acerca 
da formação em Fisioterapia e sua relação com o sistema de saúde brasileiro. 
Em seguida, iniciou-se o processo de busca bibliográfica (BB), utilizando como 
ferramenta o serviço de BB da Biblioteca de Saúde Pública da ENSP, a fim de delimitar as 
bases de dados a serem pesquisadas, bem como as palavras-chaves a serem utilizadas. Optou-
se por bases de abrangência nacional e latina, já que o intuito da pesquisa é identificar as 
publicações nacionais que discutem o tema proposto. As bases selecionadas foram: LILACS 
(Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), SCIELO (Scientific 
Electronic Library Online) e Banco de teses da Capes. 
A LILACS possui um vasto índice bibliográfico das ciênciasda saúde, considerando 
países da América Latina e Caribe. Foram utilizadas as palavras-chaves formacao and 
fisioterapia (palavras) and SUS com acesso em março de 2011. 
A base SCIELO foi selecionada por possuir publicações que elencam países latinos, 
bem como o Brasil, além de indexar importantes periódicos de educação e saúde. Para a busca, 
28 
 
em março de 2011, foram utilizadas as palavras-chaves formacao and fisioterap$ and 
graduação and SUS. 
Foi observado, nesta fase, um grande número de textos sobre a proposta da pesquisa, 
que tinham como características serem publicações referentes a trabalhos acadêmicos, como 
monografias, dissertações e teses. Assim, o Banco de Teses da Capes foi selecionado como 
base para o estudo. Nesta base, acessada também em março de 2011, utilizou-se as seguintes 
palavras-chaves: fisioterapia, graduação, sistema único de saúde. 
Após a busca bibliográfica, foi realizado um trabalho de organização das publicações 
selecionadas, considerando-se os seguintes tópicos: palavras-chaves utilizadas, título da 
publicação, base de dados pesquisada, ano da publicação, objetivo do trabalho, resumo e 
questões-chaves da pesquisa. Para tal organização, trabalhou-se através de tabelas 
disponibilizadas pelos recursos do programa Excel – 2007, elencando as publicações por ordem 
alfabética. 
Foram considerados como aspectos relevantes para a análise: os anos das pesquisas, as 
regiões federativas onde as mesmas foram realizadas e os tipos das publicações (artigo, 
monografia, dissertação ou tese). Pretende-se com tais discussões, fomentar o debate acerca da 
importância da realização de tais estudos pertinentes à formação do fisioterapeuta; utilizando-
se da qualificação da produção bibliográfica levantada. 
Como forma de análise dos dados levantados, utilizou-se do estudo criterioso dos 
resumos, onde buscou-se trabalhar com as questões que se apresentaram mais evidentes e 
apontadas com maior freqüência nestas leituras. Considera-se com isso, selecionar as categorias 
que se mostraram mais relevantes nos estudos, ao tratar do tema da formação do fisioterapeuta 
relacionada ao SUS. A partir desta análise, foram destacadas as seguintes categorias: diretrizes 
curriculares nacionais, a responsabilidade do profissional, a integralidade em saúde e as 
concepções dos docentes na formação do fisioterapeuta. 
Observam-se na categoria “diretrizes curriculares nacionais” publicações que discutem 
a importância e real aplicação das diretrizes na formação dos fisioterapeutas. Na categoria 
“responsabilidade do profissional” foram incluídas publicações que referem-se à co-
responsabilidade da profissão e, conseqüentemente dos fisioterapeutas, na mudança de 
abordagem da formação, a fim de constituir a inserção da profissão nos moldes do que preconiza 
o sistema de saúde no Brasil. Além disso, é apontada a adequação das resoluções dos órgãos de 
Fisioterapia no tocante à consonância com as políticas e programas que incentivam a formação 
voltada aos moldes do SUS. A categoria “integralidade em saúde” é composta por publicações 
que tratam sobre a formação pautada na complexidade do ser humano, somados à artigos que 
29 
 
discutem a formação em Fisioterapia a partir da ótica da integralidade - como um dos princípios 
do SUS. Por fim, a categoria “concepções dos docentes na formação do fisioterapeuta” é 
justificada a partir de publicações que falam sobre a necessidade da formação adequada de 
docentes para o ensino em Fisioterapia articulado com os preceitos do SUS, que consideram a 
importância dos docentes no processo de transformação da formação em Fisioterapia. 
 
30 
 
4. DISCUSSÃO 
A organização dos dados obtidos com a pesquisa em distintas tabelas possibilitou tanto 
a análise dos resultados que serão expostos e discutidos a seguir, quanto a qualificação da 
produção bibliográfica sobre o tema, no período estudado. 
Inicialmente, foi possível observar que todas as publicações inseridas no corpus da 
análise datam dos anos 2000, especificamente a partir do ano de 2005. De 1996 a 2004 não 
foram identificadas publicações; foi encontrada uma única publicação em 2005, outra em 2006, 
2 em 2007 e em 2008, 3 em 2009 e 4 em 2010, totalizando 13 publicações (Tabela 1). 
 
Tabela 1: Anos das Publicações 
Ano Número de publicações % 
1996 0 0 
1997 0 0 
1998 0 0 
1999 0 0 
2000 0 0 
2001 0 0 
2002 0 0 
2003 0 0 
2004 0 0 
2005 1 7,7 
2006 1 7,7 
2007 2 15,4 
2008 2 15,4 
2009 3 23 
2010 4 30,8 
Total 13 100 
 
 Fonte: Elaboração própria 
 
Foi verificado um aumento progressivo no número de publicações, chegando a 4 no ano 
de 2010, 30,8% do total. 
Os resumos pesquisados sugerem relação entre os anos de suas publicações e o período 
da instituição das DCN no ano de 2002, caracterizado como fato histórico para o contexto da 
formação em saúde. Este dado indica que a discussão em torno das novas diretrizes para a 
formação dos profissionais de saúde produziu algum efeito impulsionador em fisioterapeutas 
que estavam olhando ou passaram a olhar para saúde pública como um campo de atuação e de 
pesquisa. Cabe uma reflexão sobre como adequar os projetos pedagógicos dos cursos às 
diretrizes deste novo campo, em torno de propostas articuladas entre os diversos atores 
participantes deste processo (discentes, docentes, coordenadores de cursos, gestores públicos); 
31 
 
com vistas a tornar as propostas das DCN uma realidade nos cursos de Fisioterapia. Outro ponto 
que leva ao questionamento é como analisar a atuação de associações e órgãos legisladores da 
Fisioterapia em torno das estratégias pertinentes às mudanças na formação do profissional, de 
acordo com as DCN. 
Nota-se que, apesar de ter havido um crescimento significativo no número de cursos a 
partir da segunda metade da década de 1990 - cerca de 80% de aumento, como afirma Bispo 
Júnior (2009), não houve, em tal período, publicações acerca da discussão sobre a formação em 
Fisioterapia e sua relação com o SUS. Esta constatação destaca a importância de se refletir, nos 
dias de hoje, acerca da posição da Fisioterapia diante do processo de consolidação do sistema 
único de saúde: que lugar a profissão deseja assumir nas propostas do SUS? Como forma de 
discutir tal questão, tem-se na universidade um dos caminhos para aproximação da profissão 
com o sistema de saúde público. 
Outra observação importante a ser feita a respeito dos trabalhos publicados refere-se aos 
tipos de publicações. Dentre as 13 publicações, havia 7 artigos científicos (cerca de 53,8% do 
total), 1 monografia, 4 dissertações e 1 capítulo de livro (Tabela 2) 
 
Tabela 2: Anos e tipos de publicações 
Ano 
Artigo Monografia Dissertação Capítulo de 
Livro 
2005 0 0 1 0 
2006 0 0 0 1 
2007 2 0 0 0 
2008 0 0 2 0 
2009 1 1 1 0 
2010 4 0 0 0 
Total 7 1 4 1 
% 53,8 7,7 30,8 7,7 
 Fonte: Elaboração própria 
 
Observou-se uma quantidade relevante de artigos em relação aos outros tipos de 
publicações, sendo importante considerar que caracteriza-se como a totalidade das publicações 
no ano de 2010. Este fato sugere identificar o motivo crescente do interesse de pesquisadores 
acerca da discussão da relação entre formação em Fisioterapia e o SUS. 
Entretanto, cabe ressaltar que a publicação de 2005 é uma dissertação de mestrado. Tal 
fato é relevante, tendo em vista que a publicação de uma dissertação em um determinado ano 
significa o início de um estudo dois anos antes. Desta forma, se lembrarmos que as DCN para 
Fisioterapia foram aprovadas em 2002, percebe-se que o interesse pela discussão, neste caso, 
iniciou-se logo em seguida. 
32 
 
Identificou-sea ausência de teses de doutorado acerca da relação entre a formação de 
Fisioterapia e o sistema de saúde, no período selecionado para a pesquisa. Tal fato corrobora 
com o achado de Coury e Vilella (2009), de que há um predomínio das áreas biológicas na 
formação dos pesquisadores fisioterapeutas. Isso incita a reflexão sobre a carência de pesquisas 
da Fisioterapia na área de saúde pública, o que se torna relevante à medida que se observa a 
instituição de um campo crescente de atuação, que é o cenário do SUS, com muitos aspectos a 
serem debatidos e com grande necessidade de participação multiprofissional. 
Os mesmos autores constatam, ainda, que a maioria dos pesquisadores fisioterapeutas 
escolhe as universidades particulares como área de atuação, sendo poucos os profissionais que 
se fixam em órgãos públicos ou institutos de pesquisa. Contudo, ao apurar as instituições nas 
quais foram produzidos os trabalhos científicos (monografia e dissertações), nota-se a ausência 
de universidades particulares como fonte institucional das publicações encontradas. Foram 
localizados 2 órgãos federais e 3 órgãos estaduais: Escola de Saúde Pública do Rio Grande do 
Sul, Universidade Estadual de Londrina, Universidade Federal de São Paulo, Universidade do 
Vale do Itajaí e Universidade Federal do Rio Grande. Tal achado indica que, apesar de ser 
menor o número de pesquisadores preocupados com as questões da fisioterapia inseridos em 
órgãos ou institutos de pesquisa públicos, são eles que estão produzindo sobre a relação entre a 
formação do fisioterapeuta e sua atuação no SUS. Isso revela a importância de se investigar a 
relação ‘instituições de ensino superior (IES) públicas e privadas versus modelo de atenção à 
saúde utilizado como referência para atuação profissional’. E, também, ao considerar as 
orientações das DCN, cabe questionar acerca da contribuição das IES particulares, em torno da 
articulação entre o ensino, a pesquisa e a extensão/assistência. 
Outras questões podem ser levantadas em torno da carência de pesquisadores 
fisioterapeutas estudando a relação entre a formação da Fisioterapia e sua atuação no SUS: 
como propor incentivos que levem a maior inserção de fisioterapeutas em áreas de pesquisas, 
onde os mesmos não estão fortemente inseridos, como a própria área de saúde pública; como 
se pode pensar em inserir o fisioterapeuta pesquisador neste campo? Cabe considerar se os 
fomentos, como auxílios e bolsas, são suficientes para real adequação do profissional nas 
propostas da área de saúde pública. 
A respeito dos artigos publicados, há uma predominância de publicações em revistas 
cientificas que abordam temas de abrangência da área de Fisioterapia: Fisioterapia em 
Movimento, Fisioterapia e Pesquisa, Fisioterapia Brasil. Apenas um dos trabalhos foi publicado 
na Revista Ciência e Saúde Coletiva, editada pela Associação Brasileira de Pós-Graduação em 
Saúde Coletiva (ABRASCO). As revistas editam suas publicações em períodos diversos, desde 
33 
 
trimestral, bimestral até mensalmente, e todas apresentam indexações em mais de uma base de 
dados, nacionais e internacionais. 
Das revistas próprias da área de Fisioterapia, 2 delas são publicações de cursos da área 
de saúde de instituições de ensino: uma do curso de Fisioterapia da Pontifícia Universidade 
Católica do Paraná e outra da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, particular 
e pública, respectivamente. Este dado propõe a reflexão a respeito da contribuição das 
universidades na propagação da pesquisa em Fisioterapia. 
No que se refere às Regiões do país, observou-se significativa prevalência de estudos 
na região Sul, num total de 7 publicações. As demais se apresentaram da seguinte forma: 2 no 
Sudeste, 1 no Nordeste, 2 no Centro-Oeste e nenhuma na região Norte. Em uma das publicações 
analisadas não foi possível obter tal informação (Tabela 3). 
 
Tabela 3: Regiões das Publicações 
Regiões Número de publicações % 
Sul 7 53,8 
Sudeste 2 15,3 
Nordeste 1 7,6 
Centro-Oeste 2 15,3 
Norte 0 0 
Não identificado 1 7,6 
Total 13 100 
 
 Fonte: Elaboração própria 
 
Observa-se uma significativa diferença entre as regiões federativas, além da ausência 
ou insuficiência de estudos relacionados à formação de fisioterapeutas e o SUS em algumas 
regiões. A região Sul representa um volume de publicações muito maior quando relacionado às 
outras regiões, cerca de 53,8% das publicações. Cabe refletir acerca o porquê desta disparidade. 
Vale afirmar que, além das diferenças espaciais, sociais e econômicas entre as regiões 
brasileiras, também são evidenciadas diferenças nas ofertas de serviços de saúde, e isto pode 
indicar possíveis considerações acerca dos dados encontrados nesta pesquisa. Estes fatos 
conduzem para uma questão que pode influenciar na formação dos profissionais de saúde: a 
menor ou insuficiente abrangência do sistema de saúde público em algumas regiões pode 
apontar para uma desqualificação da formação em saúde voltada aos preceitos do SUS? Pode-
se pensar que o melhor desenvolvimento social e cientifico de algumas regiões, contribui para 
o maior número de publicações encontradas, trazendo a tona elementos importantes que podem 
34 
 
auxiliar na qualidade da formação como, maior acesso às bolsas de incentivo, a programas de 
formação, etc.? 
Cabe ressaltar que, com relação ao local de editoração dos periódicos, observou-se que 
3 das 4 revistas, são editadas em estados da região Sudeste, sendo a outra editada na região Sul. 
Este dado leva ao questionamento acerca da necessidade de se promover formas de incentivo 
às editoras científicas das diversas regiões, no tocante à contribuição da divulgação de estudos 
na área de Fisioterapia e às demais áreas da saúde. 
A análise dos resumos permitiu criar quatro categorias a partir dos assuntos que foram 
abordados nas publicações. O número de publicações encontradas para cada uma das categorias 
criadas encontra-se na Tabela 4. 
 
Tabela 4: Categorias de análise traçadas 
Categorias de 
Análise 
Num. publicações que tratam das 
categorias 
% 
Diretrizes 
Curriculares Nacionais 
6 
33,3 
Responsabilidade 
do Profissional 
4 
22,2 
Integralidade em 
Saúde 
5 
27,7 
Concepções dos 
docentes na formação 
em Fisioterapia 
3 
16,6 
Total 18* 100 
 
Fonte: Elaboração própria 
* Considera-se que uma publicação pode tratar de mais de uma categoria 
Ao tratar das categorias de análise, cabe ressaltar os olhares que os autores estão tendo 
sobre os temas abordados. 
Na categoria “diretrizes curriculares nacionais”, tratam da atuação diferenciada na 
prática do fisioterapeuta, a ser produzida a partir da interação entre as DCN, que enfatizam um 
olhar generalista, crítico e envolvido com a comunidade, e a realidade acadêmica na graduação 
em Fisioterapia. 
Nota-se, na Tabela 4, que esta categoria encontra-se em evidência quando comparada 
às demais categorias (33,3%). A partir desta análise é possível suscitar a seguinte indagação: o 
debate sobre a formação em saúde voltada para o SUS, com relação à profissão de Fisioterapia, 
gira em torno da inserção das DCN nos ambiente formadores, porém, a sua aplicação 
acompanha o mesmo passo das discussões acerca do tema? 
35 
 
Na categoria “responsabilidade do profissional”, as publicações abordam: (1) a 
responsabilidade da profissão com a mudança de abordagem nos processos pedagógicos dos 
cursos a partir da inserção da Fisioterapia em programas de saúde pública; (2) a participação e 
responsabilidade de órgãos competentes da profissão na inserção da Fisioterapia nas ações do 
sistema de saúde; e (3) a mobilização dos estudantes em prol

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