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MODULO 1 - ETICA MORAL E ETICA PROFISSIONAL - ETICA E SUBJETIVAÇÃO
Ética e Moral  ( VAZQUEZ,2006)
Ética – (ethos) - grego -“modo de ser”, ou “caráter” Forma de vida adquirida ou conquistada pelo homem.
Moral – (mor, mores) – latim “costume” ou “costumes”.
Conjunto de regras ou normas adquiridas por hábito
Definição
Ética - ciência especulativa, que tem por objeto o estudo filosófico da ação e da conduta humana, procurando a justificativa racional dos juízos de valor sobre a moralidade.
Moral - sistema de normas, princípios e valores, segundo o qual são regulamentadas as relações mútuas entre os indivíduos ou entre estes e a comunidade, de tal maneira que estas normas dotadas de um caráter histórico e social sejam acatadas livres e conscientemente, por uma convicção íntima e não de uma maneira mecânica, externa e impessoal.
Relação
A relação entre Ética e moral está no comportamento humano com a diferença que a Ética é uma ciência especulativa, que estuda o comportamento moral dos homens, enquanto que a Moral é o próprio comportamento do homem junto com seus valores, normas e padrões.
Objeto de estudo:
Ética é o comportamento moral
Ligada ao valor:
 1. Valores universais
 2. Valores consensuais
 3. Valores pessoais
Essência da Moral Cap. III (Vazquez, 2006)
O normativo e o fatual
- A moral é um conjunto de normas, aceitas livre e conscientemente, que regulam o comportamento individual e social dos homens (p.63). 
- Encontramos na moral dois planos: o normativo: constituído pelas normas ou regras de ação e pelos imperativos que enunciam algo que deve ser. E o fatual: que é o plano dos fatos morais, constituído por certos atos humanos que se realizam efetivamente (p.63).
- Os atos adquirem um significado moral: são positivos ou moralmente valiosos quando estão de acordo com a norma e negativos quando violam ou não cumprem as normas. Portanto, certos atos são incluídos na esfera moral por cumprirem ou não uma determinada norma (p.64).
- O normativo não existe independentemente do fatual, mas aponta para um comportamento efetivo, pois, toda norma postula um tipo de comportamento que considera devido, exigindo que esse comportamento passe a fazer parte do mundo dos fatos morais, isto é, do comportamento efetivo real dos homens (p.64). 
- O fato de uma norma não ser cumprida não invalida a exigência de que ela seja posta em prática. Esta exigência e a validade da norma não são afetadas pelo que acontece no mundo dos fatos (p.65).
- O normativo e o fatual possuem uma relação mútua: o normativo exige ser realizado e orienta-se no sentido do fatual; o realizado (o fatual) só ganha significado moral na medida em que pode ser referido positiva ou negativamente a uma norma (p.65). 
Moral e moralidade
- A moral efetiva compreende as normas ou regras de ação e os fatos que possuem relação com ela (p.65).
- Esta distinção entre o plano normativo (ou ideal) e o fatual (real ou prático) leva alguns autores a propor dois termos para designar cada plano: moral e moralidade. A moral designaria o conjunto dos princípios, normas, imperativos ou idéias morais de uma época ou sociedade determinadas. A moralidade seria um componente efetivo das relações humanas concretas que adquirem um significado moral em relação à moral vigente (p.66).
- A moral estaria no plano ideal e a moralidade no plano real (p.66). 
- A moralidade é a moral em ação, a moral prática e praticada. Por isso, cremos que é melhor empregar um termo só: moral, indicando os dois planos, o normativo e o efetivo. Portanto, na moral se conjugam o normativo e o fatual (p.66).
Caráter social da moral
- A moral possui, em sua essência, uma qualidade social. Manifesta-se somente na sociedade, respondendo às suas necessidades e cumprindo uma função determinada. Uma mudança radical da estrutura social provoca uma mudança fundamental de moral (p. 67). 
- A moral possui um caráter social (p.67). 
- Cada indivíduo, comportando-se moralmente, se sujeita a determinados princípios, valores ou normas morais, sendo que o indivíduo não pode inventar os princípios ou normas nem modificá-los por exigência pessoal. O normativo é algo estabelecido e aceito por determinado meio social. Na sujeição do indivíduo a normas estabelecidas pela comunidade se manifesta claramente o caráter social da moral (p.67).
- O comportamento moral é tanto comportamento de indivíduos quanto de grupos sociais humanos. Mesmo quando se trata da conduta de um indivíduo, a conduta tem conseqüências de uma ou outra maneira para os demais, sendo objeto de sua aprovação ou reprovação. Mas, os atos individuais que não tem conseqüência alguma para os demais indivíduos não podem ser objeto de uma qualificação moral (p.68). 
- As idéias, normas e relações sociais nascem e se desenvolvem em correspondência com uma necessidade social. A função social da moral consiste na regulação das relações entre os homens visando manter e garantir uma determinada ordem social, ou seja, regular as ações dos indivíduos nas suas ações mútuas, ou as do indivíduo com a comunidade, visando preservar a sociedade no seu conjunto e a integridade de um grupo social (p.69). 
- O direito garante o cumprimento do estatuto social em vigor através da aceitação voluntária ou involuntária da ordem social juridicamente formulada, ou seja, o direito garante a aceitação externa da ordem social. A moral tende a fazer com que os indivíduos harmonizem voluntariamente, de maneira consciente e livre, seus interesses pessoais com os interesses coletivos (p.69). 
- Em resumo, a moral possui um caráter social pois os indivíduos se sujeitam a princípios, normas ou valores socialmente estabelecidos; regula somente atos e relações que acarretam conseqüências para outros e induz os indivíduos a aceitar livre e conscientemente determinados princípios, valores ou interesses (p.70). 
O individual e o coletivo na moral
- O indivíduo pode agir moralmente somente em sociedade (p.71).
- Uma parte do comportamento moral manifesta-se na forma de hábitos e costumes. O costume apresenta um caráter moral em razão de sua intuição normativa (p.71). 
- A moral implica sempre uma consciência individual que faz suas ou interioriza as regras de ação que se lhe apresentam com um caráter normativo, ainda que se trate de regras estabelecidas pelo costume (p.75). 
Estrutura do ato moral
- O ato moral se apresenta como uma totalidade de elementos: motivos, intenção ou fim, decisão pessoal, emprego de meios adequados, resultados e conseqüências (p.76).
- O ato moral não pode ser reduzido a um de seus elementos, mas está em todos eles, na sua unidade e nas suas mútuas relações (p.80). 
Singularidade do ato moral
- O ato moral assume um significado moral em relação a uma norma (p.81). 
- O ato moral, com o auxilio da norma, se apresenta como a solução de um caso determinado, singular. A norma, que apresenta um caráter universal, se singulariza no ato real (p.81-2). 
- A moral é um sistema de normas, princípios e valores, segundo o qual são regulamentadas as relações mútuas entre os indivíduos ou entre estes e a comunidade, de tal maneira que estas normas, dotadas de um caráter histórico e social, sejam acatadas livre e conscientemente, por uma convicção íntima, e não de uma maneira mecânica, externa ou impessoal (p.84). 
 
 
Responsabilidade Moral - Cap. V (Vazquez, 2006)
Capacidade de responder por alguém ou alguma coisa.
Existem duas condições para que possamos imputar a responsabilidade moral:
1. Que o indivíduo seja consciente. Tenha consciência do ato e que reconheça as circunstâncias e conseqüências dos seus atos.
Ignorância – se o indivíduo não sabe o que faz, então ignora o fato.
2. Liberdade de escolha
O contrário da liberdade é a:
Coação – o indivíduo não tem liberdade para escolher.
A coação pode ser: interna ou externa.
- A palavra autônomo vem do grego autos – que quer dizer si mesmo – e nomos – que quer dizer lei, regra, norma – ou seja, significa aquele que tem o poder de dar a si mesmo a norma, a regra, alei. Aquele que goza de autonomia e liberdade seria aquele com capacidade plena de autodeterminação.
Todavia, se levantamos o véu do individualismo, próprio do nosso tempo, percebemos que essa independência absoluta do sujeito em relação à sociedade é mais um mito de nossa cultura. Se todo ser é desde a sua origem social, o pré-requisito de nossa liberdade não pode então ser concebido, como supomos correntemente, como independência absoluta do mundo que nos cerca, representado pela máxima: o mundo somos nós mesmos. O pré-requisito da liberdade, segundo Stanghellini (2004), é a capacidade de pôr entre parênteses a representação preestabelecida do mundo, ou o conhecimento do senso comum, sem, entretanto, perder nossa histórica articulação com o mundo comum.
MÓDULO 2 - A REGULAMENTAÇÃO DA PSICOLOGIA NO BRASIL
Objetivo
Apresentar as condições sociais, históricas e políticas da autonomização da Psicologia em meados dos séculos XIX e XX no Brasil, na interface com outras ciências, como a Medicina.
Apresentar as condições sociais, históricas e políticas da regulamentação da Psicologia na década de 1960 no Brasil.
Contextualizar o surgimento do Conselho Federal de Psicologia, dos Regionais e sua atuação como Comissão de Fiscalização e Comissão de Ética. 
INTRODUÇÃO
A Psicologia foi regulamentada como profissão no Brasil no ano de 1962, decorrente da Lei nº 4119, de 27 de agosto de 1962. Em dezembro do mesmo ano, aprovou-se o parecer nº 403/62, do relator Conselheiro Valnir Chagas, que, pela primeira vez, fixava oficialmente um currículo mínimo de Psicologia, objetivando estabelecer os direitos do exercício profissional. Somente em 1971 é que se criou o Conselho Federal de Psicologia, órgão encarregado de zelar pela organização do exercício profissional e que congregava todos os psicólogos brasileiros.
A Psicologia conquistou seu espaço autônomo como área de conhecimento e campo de práticas em consequência da produção de ideias e práticas psicológicas no interior de outras áreas do saber. Foi chamada a contribuir para a solução de problemas relacionados à área da Saúde, à Educação e ao mundo do trabalho e das organizações.
Pereira & Pereira Neto (2003, p 20) definem esse período como o de profissionalização da Psicologia, de 1890 a 1975. "Abrange desde a gênese da institucionalização da prática psicológica até a regulamentação da profissão e a criação dos seus dispositivos formais." Os autores assinalam como marcos desse momento: a Reforma de Benjamin Constant no campo educacional (1890), a inauguração dos laboratório de psicologia junto ao campo educacional e médico (1906), e a criação do código de ética (1975).
Pessotti (1998), por sua vez, elaborou outro critério baseado na presença ou não de instituições com vínculos com a área psicológica. Elegeu três grandes marcos; foram eles: 1833, quando se criou as Faculdades de Medicina no Rio de Janeiro e na Bahia; 1934, quando se constituiu um curso de Psicologia na Universidade de São Paulo; e 1962, quando a Psicologia foi regulamentada.
Optou-se, nesse texto base, em assumir as diretrizes de Antunes (2004, 2006), que são ligadas ao referencial histórico, e, na medida do possível, iluminar os marcos apontados por esses outros autores de renome para os estudos historiográficos da Psicologia brasileira.
Antunes( 2006) indica que, no Brasil, a profissionalização e autonomização da Psicologia inicia-se com a parceira da psicologia com outros saberes ainda no século XIX, que apresentava um contexto sócio-histórico e político singular, no qual se tinha uma formação social dependente e atrasada, mas, ao mesmo tempo, uma busca pela modernidade, pelo caminho da industrialização. Diante desse cenário, o Brasil adotou o modelo republicano, conciliado com a ideologia liberal e uma economia de base agrário-comercial e exportadora. Também acontecia uma crescente urbanização e a definição da região Sudeste como polo sócio cultural do país. Essa configuração sócio política influenciou o meio acadêmico intelectual, com a crença na liberdade e a supremacia do individuo diante a sociedade.
Bernardes (2007) afirma que a psicologia construiu-se nas relações que mantinha com esse cenário, no qual os modelos de produção e consumo exigiam a padronização da igualdade, resultado do auge da produção industrial, que requeria alto padrão de produtividade. Diante desse quadro, a Psicologia, em sua nascente, foi marcada pelas estratégias de controle de variedade e produtividade, transformando-se em um saber de forte viés adaptativo.
Essa busca por padronização e adaptabilidade se deu em três grandes interfaces do saber psicológico pré científico. Foram elas: a Psicologia e as Instituições Médicas; a Psicologia e as Instituições Educacionais; a Psicologia e a organização do trabalho.
 A Psicologia e as Instituições Médicas
 Desde o século XIX, a Psicologia, enquanto conjunto de ideias articuladas, esteve intimamente relacionada com a prática médica e psiquiátrica, em instituições asilares e no âmbito da Medicina Legal. No caso, as Faculdades de Medicina na Bahia e no Rio de Janeiro e os hospícios foram as principais fontes de produção de ideias psicológicas.
Desde 1890, já existiam teses publicadas por médicos com teor psicológico, tais como as obras de José Tapajós, Psicofisiologia da percepção e das representações (1890), Das emoções de Veríssimo Dias de Castro (1890), A Memória e a personalidade de Seabra em 1894, a famosa tese de Henrique Roxo, Duração dos atos psíquicos elementares (1990), entre outras. 
A prática médica legal, por sua vez, possuía uma atuação higienicista, ao buscar erradicar ou minimizar as doenças infecto-contagiosas muito presentes nas cidades em desenvolvimento. Segundo Costa (1983), essas atuações dispersaram-se nas cidades, por meio de políticas públicas de saneamento básico e atingiu a educação moral e física das famílias, que passaram a se responsabilizar também pelos cuidados com a higiene pública e privada.
Antunes (2004) aponta que os pressupostos higienicistas articulavam-se com os princípios da eugenia e da limpeza étnica, intimamente ligados com a cultura racista brasileira vigente, conforme podemos vislumbrar:
 
Os ideais higienicistas geralmente se articulavam aos princípios da eugenia, intimamente ligados ao pensamento racista brasileiro. Baseavam-se numa concepção que afirmava a existência de uma hierarquia racial (sendo a raça ariana considerada superior e a raça negra a mais inferior de todas), do que decorria a teoria da degenerescência, que considerava a propensão à degenerescência física e mental das ditas raças inferiores. Por essa via, a reinvindicação de adoção de medidas higienicistas, cuja finalidade não era senão o embranquecimento da raça brasileira. (ANTUNES,2004, p. 119).
 
 Segundo Antunes (2006), as teorias da degenerescência e da eugenia extrapolavam os muros dos asilos e hospícios, propondo ações de disciplinarização da sociedade e dos seus corpos familiares. No Brasil, a junção dessas correntes originou uma experiência cruel de exclusão do louco e a preocupação com práticas profiláticas diante da loucura. Nesse projeto preventivo, o Estado devia se preocupar com a pobreza, a marginalidade, o crime, pois todos esses quadros possuíam uma familiaridade muito grande com a loucura, porque levavam os sujeitos à desordem, a não adaptação aos padrões requeridos. Podia-se afirmar que havia, ao mesmo tempo, uma visão moralizante e racionalizante da loucura
Antunes (2006) ainda aponta a preocupação com a ordem urbana e com a bandeira do progresso ligada ao ideário positivista, relacionado a práticas de exclusão daqueles que não se adaptassem às normas estabelecidas, os denominados desordeiros. Cabia à ciência médica e psicológica contribuírem na identificação desses sujeitos e no seu tratamento em locais específicos, como os asilos e manicômios.
Nos hospícios, também havia a produção de conhecimento psicológicoa partir das práticas nos laboratórios criados na época. Um dos mais relevantes foi, segundo Antunes (2004), o da Colônia de Psicopatas do Engenho de Dentro, criado em 1923, dirigido pelo psicólogo polonês Waclaw Radecki. Tornou-se nove anos depois, o Instituto de Psicologia, subordinado ao Ministério da Educação e da Saúde Pública. Produziu um rol de pesquisas temáticas em psicologia sobre seleção e orientação profissional, fadiga em trabalhadores menores de idade, seleção de aviadores, psicometria, entre outras.
Outro laboratório importante foi fundado junto à Liga Brasileira de Higiene Mental, em 1923, no Rio de Janeiro, dirigida por Alfred Fessard, Plínio Olinto e Lemes Lopes. Realizaram vários simpósios e seminários de Psicologia, com o intuito de divulgar as pesquisas realizadas. Predominava o ideal eugênico, profilático e a preocupação com a educação dos indivíduos mal adaptados. (ANTUNES, 2004)
Segundo Antunes (2006, p 51), em 1932, a " Liga propôs ao Ministério da Educação e da Saúde Pública, a presença obrigatória de gabinetes de Psicologia, junto às Clínicas Psiquiátricas" . Além disso, promovia, todo ano, as Jornadas Brasileiras de Psicologia, para difundir conhecimento. 
Um dos projetos que mais destoaram da tendência eugênica, foi o movimento antipsiquiátrico de Recife, com Ulysses Pernambucano e seu modelo humanista e existencial de atendimento dos doentes mentais. Também propiciou contribuições para a Educação e investia na formação dos funcionários: os monitores de saúde mental e auxiliares psicólogos.
Antunes (2006) afirma, que:
 
A evolução do pensamento psicológico no interior da Medicina até o século XIX preparou o terreno para que o conhecimento e a prática da Psicologia se desenvolvessem a tal ponto que fizeram delinear-se com maior clareza seus contornos, tendo assim contribuído para a penetração da Psicologia Científica e sua definição como campo autônomo de conhecimento e ação, o que veio a se concretizar nas décadas iniciais do século XX.(ANTUNES, 2006, p 61)
 
A Psicologia em Instituições Educacionais
 Com o desenvolvimento urbano-industrial, no século XX, o pensamento republicano aliado ao positivismo e à ideologia liberal, mostrava uma preocupação com uma educação humanista e cientificista. Surge no Brasil, então, uma corrente educacional que reivindicava a ampliação do número de escolas e o combate ao analfabetismo, a partir do ideário escolanovista.
Essa proposta de renovação e ampliação educacional chegou ao nosso país em 1882, pelas mãos de Rui Barbosa e alcançou o século XX com outras reformas importantes. Um exemplo foi a proposta de Benjamin Constant, em 1890, que propunha maior liberdade, laicidade e gratuidade do ensino. O escolanovismo implementou uma tendência cientificista, introduzindo disciplinas científicas, como a Psicologia e a Lógica, no lugar da Filosofia de cunho humanista.
Segundo Vidal (2003), o movimento da Escola Nova propôs uma renovação do ensino, na Europa, na América e no Brasil, na primeira metade do século XX. O escolanovismo desenvolveu-se no Brasil sob importantes impactos de transformações econômicas, políticas e sociais, porém, com eles surgiram graves conflitos nos aspectos políticos e sociais, resultando uma mudança significativa no ponto de vista intelectual brasileiro. 
O escolanovismo acreditava que a educação era o instrumento eficaz para a reconstrução de uma sociedade cidadã e legitimamente democrática, considerando as diversidades e a individualidade do sujeito, preparados psicossocialmente para refletir e mudar a sociedade em que viviam.
Esse movimento agregou nomes importantes ao cenário educacional e psicológico, como Antônio Carneiro Leão, Lourenço Filho, Anísio Teixeira, Manoel Bonfim, entre outros. Esse último educador merece destaque pelo seu enfrentamento dos problemas sociais e o seu entendimento de que a educação deveria ser instrumento contra a opressão, que a maioria do povo sofria. Afirmava, por exemplo, que o analfabetismo era uma vergonha nacional.
A Psicologia, enquanto saber foi essencial no projeto educacional do país, no inicio do século XX, pois serviu como pilar de sustentação científica para a consolidação do escolanovismo, ao cuidar dos sujeitos e das suas diferenças individuais (Psicologia Diferencial), ao estudar o processo de desenvolvimento vital, ao observar os processos de ensino-aprendizagem e ao criar testes de inteligência e de seleção profissional.
Ainda nesse cenário, apesar de nomes emancipadores como Bonfim, existia no campo educacional aliado ao suporte da Psicologia, a preocupação com a formação de um país robusto, baseado no lema de um povo forte mental e fisicamente, o que mantinha vivos os ideais eugênicos em busca da higienização das raças.
Nessa interface entre a Educação e a Psicologia, há de se destacar a criação do Instituto de Psicologia de Ulysses Pernambucano em Recife, em 1925, com produções significativas nas áreas de testes psicológicos de nível mental, aptidão, de cunho pedagógico, padronização de testes coletivos, entre outros, com o intuito de formar pesquisadores na área da Psicologia. (ANTUNES, 2006)
Também é indicada a importância das Escolas Normais para o estabelecimento da Psicologia Científica no Brasil, seja compondo os currículos ou construindo laboratórios de psicologia, por volta de 1912. Destaque para a Escola Normal de São Paulo, que foi responsável pela "divulgação das teorias psicológicas em voga na Europa e nos Estados Unidos e, por decorrência, das técnicas delas derivadas, em especial, a psicometria". (ANTUNES, 2006, p. 78)
Em 1925, Lourenço Filho revitalizou o laboratório de Psicologia Experimental, junto a Escola Normal de São Paulo, que se tornou anos depois Gabinete de Psicologia e Antropologia Pedagógica, com o italiano Ugo Pizzoli, com produções vinculadas à medida de funções psicológicas, com destaque para estudos perceptivos.
Antunes (2006) nos revela a importância das Escolas Normais para a autonomização da Psicologia, pois encontrou:
 
o mais fértil terreno para seu desenvolvimento, não somente por serem estas campos potenciais de aplicação de conhecimentos e técnicas derivadas da ciência psicológica, mas também por permitirem a produção de pesquisas. (...) além de, no caso, ter sido uma das mais importantes bases para que a Psicologia se tornasse mais tarde disciplina universitária. (ANTUNES, 2006, p 81)
 
 
 
A Psicologia e a organização do trabalho
 Com a promessa do desenvolvimento urbano-industrial desde o século XIX, o Brasil assistiu a emergência de diferentes camadas sociais, uma diversificação das atividades produtivas e novos conflitos sociais oriundos da complexificação econômica do país.
Segundo Antunes (2006, p 87), encontra-se na década de 20, em pleno século XX, as primeiras experiências da aplicação de Psicologia ao mundo do trabalho, confirmando-a como um "conjunto de conhecimento e práticas capazes de dar respostas e subsidiar ações que interviessem nos problemas sociais".
A Psicologia inseria-se nesse cenário, buscando promover ações que maximizassem a produção industrial. Participava de um conhecimento racionalizável e cientificista, como ocorreu com o panorama educacional. Eram práticas com finalidade de controle social nas indústrias, onde grupos de operários começavam a se organizar contra condições subumanas de trabalho, mantidas pelos modelos tayloristas e fordistas de produção.
Em 1929, criou-se o Instituto de Organização Científica do Trabalho, que possuía diferentes funções, como seleção e educação profissional, organização psicológica do modo de produção, entre outros. Porém, não conseguiu se manter devido a crises econômicas.
Em 1930, sob a tutela de Aldo Mario de Azevedo, criou-se o Instituto Paulista de Eficiência, que facilitou a Organização Racional do Trabalho (IDORT), que se desdobrou em instituições de claro cunho psicológico, como a Associação Brasileira para Prevenção de Acidentes.
Também foram experiênciasigualmente importantes, as pesquisas realizadas a partir dos processos de seleção de aviadores para a Aviação Militar, sob tutela do Laboratório de Psicologia da Colônia de Psicopatas do Engenho de Dentro.
Segundo Antunes (2006, p 91), nesse contexto, a Psicologia serviu como função de sustentáculo cientifico dos novos métodos administrativos, onde imperava a lógica racional e científica de atuação, seja pelos testes implementados ou por processos de seleção profissional objetivos. Nessa lógica, o individuo era compreendido como uma peça material do processo produtivo, inclusive pela própria Psicologia, que o nominava como parte dos Recursos Humanos.
A Regulamentação da Psicologia e do Conselho Federal 
A Psicologia foi regulamentada como profissão, no Brasil, no ano de 1962, decorrente da Lei nº 4119, de 27 de agosto de 1962. Porém, somente em 1972, é que se criou o Conselho Federal de Psicologia, órgão encarregado de zelar pela organização do exercício profissional e que congregava todos os psicólogos brasileiros.
Segundo Soares (2010, p.20), em 1946, foi aprovado um decreto-lei que "ampliava o regime didático da Filosofia, referindo-se à possibilidade de ter diploma de licenciado" em Psicologia, quem por exemplo, fosse aprovado nos três primeiros anos do curso de Filosofia, bem em cursos de Biologia, Fisiologia, Antropologia, Estatística e em cursos de especialização de Psicologia.
Em 1962, o Presidente da República João Goulart, promulgou a 27 de agosto, a Lei nº 4.119 dispondo sobre os Cursos de Formação de Psicólogos, com importantes inovações, tais como permitir, aos portadores de diplomas ou certificados de especialista em Psicologia, Psicologia Educacional, Psicologia Clínica e Psicologia Aplicada ao Trabalho, o exercício do ofício de psicólogo, como também permitir aos que já venham exercendo, na data da publicação da Lei, ou tenham exercido por mais de cinco anos, atividades profissionais de Psicologia Aplicada, o registro de Psicólogo. (SOARES,2010)
Romaro (2006, p 28) afirma que, a partir do Decreto 53464, em 1964, regulamenta-se definitivamente a Lei 4119 e se estruturam os cursos de psicologia, junto às Faculdades de Filosofia, em cursos de bacharelado, licenciatura e psicologia. A lei estabelece como "funções privativas do psicólogo brasileiro o diagnóstico psicológico, a orientação e seleção pessoal, a orientação psicopedagógica, a solução de problemas de ajustamento, a colaboração em assuntos psicológicos ligados a outras ciências".
Esse marco foi essencial para a profissionalização da Psicologia, pois como Pereira & Pereira Neto (2003) elucidam:
 
Para que uma atividade seja reconhecida como tal, é necessário que reúna algumas características. Por um lado, a profissão deve ter um conhecimento delimitado, complexo e institucionalizado. Por outro, ela tem que organizar seus interesses em associações profissionais que padronizem a conduta dos pares, realizando uma auto-regulação. O controle interno da profissão é feito através da fiscalização das condutas profissionais com dispositivos formais, entre os quais se destacam os códigos de ética. (PEREIRA&PEREIRA NETO, 2003, p 20)
 
Bock (2001), ao discutir a regulamentação da Psicologia em 1962, através da Lei nº 4119 e o Catálogo Brasileiro de Ocupações do mesmo ano, ressalta o caráter disciplinador e moralizante das práticas psicológicas, como podemos vislumbrar:
A psicologia e a profissão lá estão limitadas a aspectos intervencionistas orientados para o ajustamento e a adaptação do individuo. Fala-se, então, de desenvolvimento e de condições para sua facilitação, como se o desenvolvimento tivesse percurso determinado. (....) A finalidade do trabalho é ajustamento, adaptação, auto realização, desenvolvimento, convivência e desempenho, sempre supondo um estado de normalidade. O trabalho do psicólogo está muito relacionado a esses objetivos, seja ele em escolas, empresas ou clínicas. ( BOCK, 2001, p. 26).
 
Apenas em 1971 cria-se o Conselho Federal e os Conselhos Regionais de Psicologia, com o intuito de regulamentar, orientar, disciplinar e fiscalizar o exercício da profissão, sendo elaborando o primeiro Código de Ética apenas em 1975, pela resolução CFP 008/75, por uma Comissão de Ética. 
Segundo Soares (2010, p. 28), o primeiro Conselho Federal enfrentou uma tarefa árdua, pois precisou se empenhar em elaborar leis sobre "as quais viessem a assentar, sólidas e definitivas, a tradição e a unidade da classe, recentemente reconhecida, ao lado de uma consciência de corpo, sob a égide de uma só Autarquia".
Nesse processo constitutivo, o Conselho Federal de Psicologia no Brasil se definia como uma autarquia federal, ou seja, como instituição com autonomia de gestão didático-científica, administrativa e financeira. Porém, devido ao contexto político e histórico de teor ditatorial, nas décadas de 1960 e de 1970, o Conselho permaneceu como extensão dos poderes e decisões do Estado, sem independência jurídica ou social. Somente a partir da redemocratização do país, em meados dos anos de 1980, o Conselho assumiu sua vocação autárquica, mostrando-se com maior autonomia em suas agendas políticas e profissionais. Pode-se comprovar esse fato, pelas informações que constam atualmente no site do Conselho Federal:
 
O Conselho Federal de Psicologia – CFP é uma autarquia de direito público, com autonomia administrativa e financeira, cujos objetivos, além de regulamentar, orientar e fiscalizar o exercício profissional, como previsto na Lei 5766/1971, regulamentada pelo Decreto 79.822, de 17 de junho de 1977, deve promover espaços de discussão sobre os grandes temas da Psicologia que levem à qualificação dos serviços profissionais prestados pela categoria à sociedade. (CFP, disponível < http://site.cfp.org.br/cfp/conheca-o-cfp/>, acesso 2013)
 
 
 
Em 1976, elegeu-se o segundo Conselho Federal, focado em fortalecer a imagem profissional do psicólogo brasileiro, assim como também oficializar o exercício de fiscalização em relação ao exercício profissional, sob uma Comissão de Fiscalização, fixada pela Resolução nº 3, de 27 de fevereiro de 1977.
Desde então, o Conselho Federal de Psicologia passou por diferentes momentos dentro do contexto sociopolítico brasileiro. Entretanto, foi com a democratização e com a Constituição Cidadã, em 1988, que esse órgão passou a seguir uma vocação mais crítico-social, criando inúmeras Comissões pertinentes e comprometidas com a realidade brasileira. Atualmente, encontramos as seguintes comissões permanentes:
§ Comissão de Direitos Humanos, criada pela Resolução CFP nº 11/1998 tem como atribuições: incentivar a reflexão sobre os direitos humanos inerentes à formação, à prática profissional e à pesquisa em Psicologia; intervir em todas as situações em que existam violações dos direitos humanos que produzam sofrimento mental; participar de todas as iniciativas que preservem os direitos humanos na sociedade brasileira; apoiar o movimento internacional dos direitos humanos; e lutar contra todas as formas de exclusão que violem os direitos humanos e provoquem qualquer tipo de sofrimento mental.
§ Comissão de Análise sobre Título Especialistas, criada pela Resolução CFP nº 014/200, revogada pela Resolução CFP nº 013/2007: criada para fins de concessão de credenciamento de cursos de especialista e análise de recursos sobre títulos de especialistas. Essa comissão também tem a responsabilidade de subsidiar o plenário do CFP para as diversas demandas relacionadas ao tema “Especialidades em Psicologia”.
§ Comissão Nacional de Credenciamento de sites, criada pela Resolução CFP nº 003/2000, revogada pela Resolução CFP nº 012/2005: além de realizar avaliação dos sites que oferecem serviços de Psicologia, apresenta sugestões para o aprimoramento dos procedimentos e critérios envolvidos nesta tarefa e subsidia o Sistema Conselhos de Psicologia a respeito da matéria.
§ Comissão Consultiva em Avaliação Psicológica, criada pela Resolução CFP nº025/2001, revogada pela Resolução CFP nº 002/2003: integrada por psicólogos convidados de reconhecido saber em testes psicológicos, tem como objetivo analisar e emitir parecer sobre os testes psicológicos encaminhados ao CFP, com base nos parâmetros definidos nesta Resolução, bem como apresentar sugestões para o aprimoramento dos procedimentos e critérios envolvidos nessa tarefa, subsidiando as decisões do Plenário a respeito da matéria.
(CFP, disponível < http://site.cfp.org.br/cfp/conheca-o-cfp/>, acesso 2013)
 
Atualmente, no século XXI, segundo Pereira & Pereira Neto (2003), enfrentamos um período de profissionalização mais madura, porém a Psicologia sofre com as alterações e crises sócio econômicas, causando uma maior proliferação de faculdades de psicologia, a queda na qualidade da formação e, ao mesmo tempo, uma degradação do valor do trabalho do psicólogo no mercado de trabalho. Há novos espaços de atuação profissional que surgem devido, inclusive, a uma crise mercadológica e epistêmica no cenário clínico. Surgem novos dilemas éticos situados nos fenômenos intersubjetivos da contemporaneidade, desafiando a categoria profissional a se rever continua e criticamente. Esse é o processo de profissionalização aberto e ainda por ser feito, na prática cotidiana de uma profissão relativamente nova em nosso país.
MÓDULO 3 – INTRODUÇÃO AO CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DO PSICOLOGO
OBJETIVOS:
-Apresentar a História Breve dos Códigos de Ética do Psicólogo no Brasil.
-Apresentar as concepções de homem e mundo que subjazem o Código de Ética Profissional do Psicólogo: a concepção de homem social (provinda da ética material de Aristóteles) e a concepção sócio-histórica.
 INTRODUÇÃO E BIBLIOGRAFIAS
Toda profissão ao se definir como um conjunto de práticas e teorias que buscam atender as necessidades psicossociais de uma população, controlada por padrões técnicos e éticos, organiza-se e regulamenta-se a partir de um documento deontológico, denominado comumente de Código de Ética. Com a regulamentação da Psicologia em 1962, fez-se necessário construir um Código de normas para o reconhecimento social da profissão em âmbito nacional.
                 O novo Código de Ética do Psicólogo foi proposto em 2005, como resultado de um percurso histórico da Psicologia frente às novas demandas sociais e também como carta que dialoga ativamente com a Cultura de Direitos Humanos, instituída a partir da Constituição Federal de 1988.
 Esse documento promulgado em 27 de agosto de 2005, é o quarto Código de Ética do Psicólogo no Brasil. Ele veio responder, principalmente,  ao contexto organizacional e institucional, oriundo de um pedido social para as entidades representativas, os Conselhos Regionais de Psicologia. Portanto, esse é um Código que veio atender à evolução do contexto institucional do Brasil, com a crescente democratização e industrialização.
Em 1967, o primeiro Código de Ética do Psicólogo foi aprovado pela Associação Brasileira de Psicólogos, presidida por Arrigo Angelini, possuía cinco princípios fundamentais e 40 artigos. Em 1975, por sua vez, este foi modificado e reorganizado como oficialmente o primeiro Código de Ética, agora promulgado por um Conselho Federal de Psicologia.  (Romaro, 2006)
Em 1979, aprova-se o segundo Código de Ética da profissão, em tempos de ditadura militar no Brasil. Esse documento possuía, segundo Romaro (2006), cinco princípios fundamentais e 50 artigos, com grifos sobre o trabalho do psicólogo em equipes multiprofissionais.
Em 1987, aprova-se o terceiro Código de Ética Profissional da Psicologia, mais denso e com grande quantidade de artigos e alíneas, refletindo, segundo Romaro (2006), as dificuldades enfrentadas na confecção desse documento em um momento de transição da ditadura para a redemocratização do país. Os pontos salientados foram o respeito pelo outro e sua integridade, que faz alusão aos Direitos Humanos, e também à importância da função social do psicólogo por meio de uma análise crítica da realidade.
Depois de 40 anos, a classe profissional se viu mobilizada a rever esse documento, num contexto sócio político mais amadurecido e com novas demandas psicossociais, principalmente no cenário institucional, no qual os psicólogos brasileiros intervinham e encontravam dilemas éticos, complexos e pouco contemplados pelo Conselho Federal de Psicologia.
A partir desse novo cenário e dos novos fazeres, a Psicologia Brasileira foi chamada a participar de um processo de reflexão e construção de novas diretrizes para as ações profissionais da Psicologia. Esse processo se iniciou em 2001, quando os psicólogos foram convocados a confeccionar um novo código, superando o anterior que havia sido feito em 1987. O documento anterior tinha marcas direcionadas predominantemente ao campo clínico, e não dialogava com as novas configurações psicossociais e com leis mais modernas, como o Estatuto da Criança e do Adolescente(1990).
            Os Conselhos Regionais de Psicologia em território nacional foram mobilizados a chamar os seus participantes a organizarem Fóruns Regionais de Ética, formulando teses que indicariam quais mudanças seriam realizadas em um novo documento da categoria profissional.
             O Código retrata a   imagem da nossa prática profissional, que muitas vezes incomoda a classe profissional, pelo seu viés ainda elitista e curativo, resultado da identidade clássica do psicólogo clínico e do modelo biomédico de atendimento. A partir disso, os psicólogos brasileiros  buscaram  uma prática mais refletida, um retrato mais fiel do que fazem de fato ou do que querem fazer na Psicologia. Por isso, o novo Código de Ética do Psicólogo é um projeto profissional coletivo, que desenha uma possível nova identidade desse sujeito que trabalha e faz psicologia no Brasil.
O novo código foi pensado dentro do movimento da história da Psicologia, na sua prática com a sociedade brasileira. Desse modo ele expõe princípios que:  representa essa história; valoriza o sujeito na perspectiva social; respeita as diversidades humanas na trama sócio cultural; reconhece a diversidade interna da própria Psicologia em suas diferentes teorias e fazeres; garante os direitos do individuo e apresenta uma perspectiva de promoção de saúde.
            Esse novo documento modificou sua forma, apresentando metade dos artigos, em contraponto ao antigo código com 50 artigos. É uma mudança formal, mas primordialmente de sentido. Buscou-se um código que permite uma maior reflexão do sujeito, enfocando amplos princípios norteadores e que não dita somente regras fechadas. Com isso, temos um documento voltado para os direitos do psicólogo.
As concepções filosóficas referentes à concepção de homem e de mundo presentes no Código de Ética, podem ser reconhecidas em dois eixos:
a) Aristotélico – ressalta a concepção de homem como um animal político e que tem sua existência permeada de sentido no coletivo.
b)  Sócio histórico-  destaca a constituição do homem a partir da condição humana e da relação com a sociedade e a cultura em que está inserido.
 
Concepção Aristotélica e o Código de Ética do Psicólogo (2005)
 
A antropologia  aristotélica continua sendo, até hoje,  um dos  
fundamentos da concepção ocidental do homem. Os problemas
                                   levantados por Aristóteles em torno da pergunta sobre o que é
                                   o homem e as categorias com que tentou resolvê-los, embora
                                   tivessem como alvo principal o homem helênico no contexto da
                                   Polis, tornaram-se o fundo conceptual permanente da filosofia
                                   moderna, e nada indica que sua fecundidade heurística tende
                                   a  esgotar-se.( LIMA VAZ, 2004,p.40)
 
            Aristóteles desenvolveu em sua obra De Anima, um repertório filosófico significativo, referente à concepção antropológica, ou seja, sobre suavisão da constituição humana. Definiu-a primeiramente demarcada pela estrutura biopsíquica, na qual a psyqué é o conceito fundamental, significando um princípio vital que é o ato ou a perfeição de todo ser vivo e ao qual compete a capacidade de mover-se a si mesmo (autokinêton). A gênese dapsyqué está na dimensão da physis (natureza), caracterizando o homem como um ser vivo que possui psyché (como forma racional) e soma (corpo). 
            Para Aristóteles, o homem é definido como zoon logikón.  Ele se distingue de todos os outros seres da natureza em virtudes do predicado da racionalidade: “ele é um animal racional que fala e discorre, enquanto ser dotado de logos, o homem transcende de alguma maneira a natureza e não pode ser considerado simplesmente um ser natural” (LIMA VAZ, 2004, p. 37).
            Everson (2007, pág 168)   afirma que a psicologia aristotélica não se interessou por um enfoque mental ou o entendimento da diferença entre corpo e mente, mas sim por uma psicologia da vida, especialmente na distinção entre vida e morte: “What determines the scope of his psychology is not the recognition of a distinction to be drawn between the mental and the physical, but rather that between the living and the dead. “
            Uma das maiores contribuições de Aristóteles para a Psicologia e a visão de homem presente, na maioria dos Códigos de Ética profissionais do Ocidente, se encontra no livro I da Política, no qual ele afirma que o homem é um animal político (Zoôn politikón) por natureza. Afirma que o indivíduo, não é auto-suficiente e necessita sempre do Outro nas relações de sociabilidade.
            Também no livro I da obra Ética à Nicômaco, Aristóteles afirma que o homem possui uma marca essencial que o diferencia dos outros, sua racionalidade. Essa capacidade o faz criar a ética, como um modo de refletir sobre sua vida e seus hábitos cotidianos, em direção a um fim, que para o pensador resumia-se na seguinte questão: O que posso e devo fazer para ser feliz junto a minha comunidade na pólis? Porém, para Aristóteles, nem tudo que quero, como individuo, pode ser vivido em nome dessa felicidade. Há um balizador importante nessa história: a pólis, ou seja, a cidade e a sociedade nela vivente. Pegoraro apud Aristóteles (2006, p 36) reafirma para seus leitores: “O homem é um animal capaz de pensar e de fazer política”
            Essa supremacia política do âmbito público sobre o privado é uma contribuição evidente para a elaboração dos códigos deontológicos na contemporaneidade, pois evidencia uma preocupação com o coletivo ao invés de privilegiar o individualismo, marca recorrente de tempos atuais (MAIORINO, 2005).
            Essa valorização do público e do aspecto político está evidente na obra Política, quando o pensador grego afirma que a cidade é uma comunidade política, que visa um bem maior e abrange outras comunidades menores, como a família e os indivíduos. A cidade tem como finalidade promover uma vida boa aos seus cidadãos, porém, ela deve ter e ser o poder político supremo e fundamental em relação as aldeias, famílias e indivíduos que a constituem.  Aristóteles afirma ainda, que a natureza humana só pode ser realizada de modo pleno pelo pertencimento a comunidade social e política.
            No livro III, da obra Política, Aristóteles discute a importância sobre a condição de cidadania nas cidades, definindo como cidadão aquele sujeito que participa da vida política verdadeiramente, seja por funções deliberativas ou judiciais.  Com essa lógica, o pensador ainda complementa, que a cidade não existe apenas para se viver. É preciso viver uma vida boa (eu zen), ou seja, realizar a excelência humana em comunidade é primordial na visão aristotélica. Portanto, define que a cidade é uma comunidade de homens livres.
            Com relação ao projeto ético, Aristóteles o define como aquele que está subordinado ao plano político, tornando-se uma ciência prática da vida. Afirma que a ética deve estudar o bem supremo, a partir de um conhecimento do humano, investigando em que consiste a sua felicidade (eudamonia).
            Pegoraro (2006) delimita quatro eixos em torno dos quais giram o projeto ético aristotélico, denominado de material, são eles: (1) a ética é natural, emerge da estrutura biológica do ser humano; (2) a ética é finalista, todas as escolhas e decisões humanas visam alcançar um fim, produzir um bem; (3) a ética é racional, ou seja, a razão deve harmonizar a luta entre os desejos instintivos do homem e as exigências sociais; (4) a ética é heterônoma, ou seja, ela vem do exterior, não está dada, o homem nasce como um animal ético que precisará escolher, pelo uso da razão que o faz  livre.
            Essas quatro marcas do projeto ético aristotélico são a base da materialidade do seu entendimento da ética, pois ele a compreende como um exercício racional realizado junto ao mundo em que se vive, e não como um dado deliberativo a priori. Dessa forma, Aristóteles torna-se atual para as práticas profissionais na contemporaneidade, pois ele apresenta uma visão de ética material e racional, que está na base da maioria dos códigos de normas das profissões. Essa visão ética que transcende o individuo está na apresentação do Código de Ética do Psicólogo:
 
É a ética, enquanto Filosofia Moral, que impede um Código sem criticismo, e também uma visão cristalizada do comportamento humano. É essa ética filosófica que apela para uma reflexão e compreensão das singularidades; é ela que faz um apelo à criatividade, liberdade e espontaneidade. É ela que faz o profissional ver seu cliente como pessoa, como um ser de relação no mundo, como um ser singular à procura de uma compreensão que lhe é pertinente. É essa visão de totalidade existencial-filosófica que faz com que o profissional abra as janelas de sua mente para ver o mundo como uma realidade social, política, comunitária e perca a mesquinhez de só ver o indivíduo no seu imediatismo. É essa visão que o faz transcender do indivíduo para o grupo, do momento para a história, de soluções precárias para procuras mais globais. (Apresentação do Código de Ética de Psicologia, 2005, disponível < http://site.cfp.org.br/legislacao/codigo-de-etica/, acesso novembro 2013)
 
  Pode-se aprender com a visão aristotélica de homem e de projeto ético, pois ela ensina que o humano se define como ser complexo, pertencente ao mesmo tempo, à natureza, como ser biológico, mas também como um ser político, que se organiza a partir da sua racionalidade. Ao se inserir na comunidade citadina, o homem torna-se ético, usa de sua razão para ser livre e escolher, dentro da complexidade sócio-política a qual pertence. Portanto, o exercício ético depende das condições materiais e sociais dessa realidade que o cerca.
 Concepção Sócio Histórica e o Código de Ética do Psicólogo
 
         A visão aristotélica anuncia a base sócio histórica que também está presente na confecção do código de ética do psicólogo brasileiro, participando de uma visão de homem materialista-histórico-dialética.
            Essa visão é oriunda da Psicologia Sócio Histórica, de origem latino americana que tem enfrentado a realidade sócio-cultural e econômica desses países em desenvolvimento, por meio de uma postura crítica, reflexiva e combativa. O homem é compreendido como um ser multideterminado pelas relações dialógicas que mantém com a sociedade, com a cultura, com os laços intersubjetivos, e consigo mesmo, através da auto reflexão consciente.  Não existe natureza humana apriorística para essa visão, o homem nasce como um ser biológico. Essa condição é necessária, mas não suficiente para constituir o homem psicossocial. Para isso, é preciso adentrar em uma sociedade, a partir da mediação de instrumentos técnicos e pela linguagem, agir e constituir consciência, racional e afetiva, que o faz produto e ao mesmo tempo produtor da sua realidade. A esse processo, chama-se hominização. Conforme Aguiar nos ensina:
O homem é, assim, visto como um ser inerentemente social e, comotal, sempre ligado às condições sociais. Homem que, além de produto da evolução biológica das espécies, é também produto histórico, mutável, pertencente a uma determinada sociedade, em uma determinada etapa de sua evolução. Não se está simplesmente afirmando, no caso, que o homem se encontra ligado ao mundo e à sociedade ou que é influenciado por ela, mas sim que se constitui sob determinadas condições sociais, resultado da atividade de gerações anteriores. (AGUIAR, 2000, p.126)
   Na visão sócio histórica concebe-se o homem dialeticamente como um ser produzido pelas condições sócio históricas, culturais e econômicas, mas também como um ser produtor da sua realidade. Essa capacidade de transformar o mundo e a si mesmo, está em conformidade com a filosofia do Código de Ética do Psicólogo, que em seu preâmbulo reafirma:
 
Se o homem é um ser de relação, sujeito a contínuas mudanças na sua luta por ocupar, a cada momento, o espaço que lhe compete no mundo e se, ao mesmo tempo, ele é o sujeito e o objeto do estudo da Psicologia, segue que qualquer sistema ou Código só será real se sujeito, também ele, a essa transitoriedade que é própria do homem à procura de seu destino e significação. (Apresentação do Código de Ética de Psicologia, 2005 disponível <http://site.cfp.org.br/legislacao/codigo-de-etica/, acesso novembro 2013)
 
              Gonçalvez (2010) reafirma que a Psicologia Sócio Histórica é uma visão pertinente aos novos tempos da psicologia brasileira, pois ela permite que se observe a produção histórica da subjetividade no país, contestando visões naturalizantes de outrora, que visavam a adaptação do indivíduo aos padrões normapatológicos.
        Essas concepções naturalizadas, segundo a autora, implicam em práticas normativas, fechadas, inflexíveis que dificultam ou impedem o movimento de transformação social. Ao contrário, no viés sócio histórico, a consideração do determinante histórico permite o incentivo de práticas voltadas à liberdade e autonomia dos sujeitos, garantindo os seus direitos, pois eles podem aprender com os acontecimentos passados, abrindo assim, uma maior oportunidade de uma vida melhor e saudável.   
Desse modo, percebe-se como a Psicologia Sócia Histórica está presente na elaboração do novo Código de Ética do Psicólogo, em suas premissas filosóficas e antropológicas, partindo de uma visão de homem atuante, crítico e criativo, que pode vir a transformar o seu cotidiano, convidando a humanidade ao inusitado e a vida.
MÓDULO 4 : OS PRINCÍPIOS INERENTES AOS ARTIGOS DO CÓDIGO DE ÉTICA
 
Objetivos:
Apresentar os princípios constitutivos do Código de Ética, comentando e relacionando-os com os principais documentos éticos da atualidade (Constituição Federal 1988, Estatuto da Criança e do Adolescente, Código Civil ( 2002).
 INTRODUÇÃO
I)             O Código de Ética em diálogo com a Cultura de Direitos Humanos
O novo Código de Ética do Psicólogo (2005) é resultado de um percurso histórico da Psicologia frente as novas demandas psicossociais e diante as suas práticas profissionais ampliadas, fomentando a produção de conhecimento científico com as novas interfaces da Psicologia com a área jurídica, do esporte, da informática entre outras.
O Código de Ética Profissional dialoga com mudanças sociais e econômicas no panorama nacional, disparadas pela crescente democratização nos anos 90, quando o Brasil tornou-se um país em desenvolvimento, guiado por uma Constituição Federal Brasileira denominada Cidadã (1988).
A Carta Magna Federativa foi construída num cenário político ainda marcado pelos resquícios da ditadura militar, porém sensível à instituição de uma Cultura de Direitos Humanos, na qual o sujeito cidadão tem papel destacado. É uma Constituição que privilegia a garantia dos direitos sociais, não descuidando dos individuais. Sem dúvida, uma carta comprometida com uma filosofia de bem estar social, sensível aos movimentos sociais e políticos, a serviço da cidadania.
Alguns juristas de renome, como Bittar (2006), afirma que a Constituição Federal Brasileira de 1988 promoveu uma mudança paradigmática importante: privilegiou o cuidado ético e cidadão com o humano, antes destinado predominantemente ao Estado Maior. Encontra-se, portanto, em nosso panorama jurídico e social, uma Lei Federal que defende a dignidade humana frente a quaisquer postulados jurídicos, como se vislumbra no preâmbulo dessa Constituição:
 
Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.(ConstituiçãoFederal<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>, acesso novembro/2013).
 
No ano de 1990, o Brasil ampliou a lógica cidadã da Constituição Federal, aprovando a lei nº 8.069, denominada de Estatuto da Criança e do Adolescente. Essa ação tinha como meta promover uma lei nacional de proteção integral para as crianças e adolescentes. Promulgada no artigo 3º:
Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.( ELIAS, p 3, 1994)
 
Considera-se, ainda hoje, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) como uma referência na Cultura de Direitos Humanos do país, pois ele anuncia o compartilhamento da responsabilidade social entre família, Estado e sociedade, em defesa dos direitos desses cidadãos.
Em 2002, substituindo o anterior de 1906, aprovou-se o Novo Código Civil, que regulamenta as situações de direito privado existentes entre cidadãos, ou seja, aqueles sujeitos capazes de constituir direitos e obrigações civis. Essa lei nova foi consolidada a partir de uma sociedade contemporânea em transição nos seus aspectos éticos, morais e psicossociais.
Diante desse contexto, o novo Código Civil apresentou maior sensibilidade legal frente às novas configurações familiares, reconhecendo, por exemplo, as uniões estáveis validadas a partir de dois anos de convivência, inclusive entre parceiros do mesmo sexo. 
Enfim, nota-se que o Código de Ética do Psicólogo (2005) situa-se num cenário interessado em garantir aos sujeitos seus direitos, e abrir espaço para políticas públicas que promovam o pleno desenvolvimento psicossocial dos seus cidadãos.
 A partir disso, compreende-se que o Código Profissional de Psicologia herda e se constitui no espectro de uma filosofia humanista e cidadã.
 
II)            Os Princípios Éticos inerentes aos artigos do Código de Ética do Psicólogo
A partir desse cenário, impresso pelas mudanças sócio econômicas do Brasil e da própria Psicologia, os profissionais construíram um Código de Ética em 2005, norteado por grandes princípios fundamentais, ao invés de privilegiar um código fechado em deveres inflexíveis.
No preâmbulo do Código de Ética, afirma-se que esse documento legal deve se aproximar mais de um instrumento de reflexão do que de um conjunto de normas. Para isso buscou-se:
a. Valorizar os princípios fundamentais como grandes eixos que devem orientar a relação do psicólogo com a sociedade, a profissão, as entidades profissionais e a ciência, pois esses eixos atravessam todas as práticas e estas demandam uma contínua reflexão sobre o contexto social e institucional.
b. Abrir espaço para a discussão, pelo psicólogo, dos limites e interseções relativos aos direitos individuais e coletivos, questão crucialpara as relações que estabelece com a sociedade, os colegas de profissão e os usuários ou beneficiários dos seus serviços.
 
c. Contemplar a diversidade que configura o exercício da profissão e a crescente inserção do psicólogo em contextos institucionais e em equipes multiprofissionais.
d. Estimular reflexões que considerem a profissão como um todo e não em suas práticas particulares, uma vez que os principais dilemas éticos não se restringem a práticas específicas e surgem em quaisquer contextos de atuação.
Código de Ética Psicologia, 2005 <http://site.cfp.org.br/legislacao/codigo-de-etica/>,acesso novembro 2013)
 Os princípios norteadores do nosso código enumeram importantes diretrizes, tais como respeitar os Direitos Humanos, praticar a promoção de saúde e a co-responsabilidade social. Essas diretrizes pretendem instaurar um projeto profissional normativo, em que se oferece as responsabilidades e deveres do psicólogo, mas deve ser também um projeto político moderno e emancipador.
A seguir, encontram-se os princípios norteadores do Código Profissional do Psicólogo, respectivamente comentados:
 
               I.        O psicólogo baseará o seu trabalho no respeito e na promoção da liberdade, da dignidade, da igualdade e da integridade do ser humano, apoiado nos valores que embasam a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Comentário
O primeiro e fundamental princípio do Código remete a conexão intima entre a vocação da Psicologia com a Cultura dos Direitos Humanos, que se dá no âmbito ético e político, num diálogo construído historicamente, no qual se compreende que a Psicologia deve contribuir e garantir o cumprimento da Declaração Universal dos Direitos humanos.
 Essa relação encontra-se tão intrinsecamente fomentada nos propósitos da Psicologia Brasileira, que criou-se no ano de 1998, uma Comissão de Direitos Humanos (oficializada Resolução CFP 11/98), que possui as seguintes atribuições:
- Incentivar a reflexão e o debate sobre os direitos humanos inerentes à formação, à prática profissional e à pesquisa em psicologia;
- Estudar os múltiplos processos de exclusão enquanto fonte de produção de sofrimento mental, evidenciando não apenas seu modo de produção sócio-econômico como também os efeitos psicológicos que constituem sua vertente subjetiva;
-Intervir em situações concretas onde existam violações dos direitos humanos que estejam produzindo sofrimento mental;
- Participar ativamente das lutas pela garantia dos direitos humanos na sociedade brasileira;
- Apoiar e prestar solidariedade aos movimentos nacionais e internacionais de direitos humanos;
-Intervir em situações em que ações do Estado ou de setores sociais específicos produzam algum tipo de sofrimento mental;
- Buscar soluções para a omissão de ações do Estado, especialmente relativas o sofrimento psíquico dos excluídos.
( Disponível em http://www.pol.org.br, acesso em novembro, 2013)
 
             II.        O psicólogo trabalhará visando promover a saúde e a qualidade de vida das pessoas e das coletividades e contribuirá para a eliminação de quaisquer formas de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
 
Comentário
A Psicologia tem acompanhado as discussões no âmbito da Saúde Coletiva, desde a Carta de Ottawa, em 1986 no Canadá, em direção ao objetivo “Saúde para todos no ano 2000”.
Desde então, mundialmente, tem se discutido os novos rumos da saúde pública, principalmente nos países industrializados e diante os altos custos da manutenção da atenção terciária da saúde, que enfoca predominantemente o viés curativo e remediativo.
A partir disso, tem-se investido em ações integradas em direção à promoção de saúde- pertencente à atenção primária- compreendendo-a como a capacitação das pessoas e comunidades para modificarem os determinantes da saúde em benefício da própria qualidade de vida.
A Promoção da Saúde, segundo a Carta de Ottawa, contempla cinco amplos campos de ação: implementação de políticas públicas saudáveis, criação de ambientes saudáveis, capacitação da comunidade, desenvolvimento de habilidades individuais e coletivas e reorientação de serviços de saúde.
A Psicologia Brasileira, situando-se na interface com a área da saúde, tem investido em práticas dirigidas à atenção primária, preocupando-se com atuações voltadas ao empoderamento dos sujeitos dentro de uma Cultura de Direitos Humanos, na qual não se exclui, discrimina, nem se explora o cidadão.
Essa preocupação tem se estendido inclusive, a dimensão da formação do psicólogo, com o estabelecimento de Novas Diretrizes Curriculares para o Curso de Psicologia (Resolução CNE/CES 5/2011), como pode-se vislumbrar nos seguintes artigos e alíneas:
 
Art 2: As Diretrizes Curriculares para os cursos de graduação em Psicologia constituem as orientações sobre princípios, fundamentos, condições de oferecimento e procedimentos para o planejamento, a implementação e a avaliação deste curso.
V - atuação em diferentes contextos, considerando as necessidades sociais e os direitos humanos, tendo em vista a promoção da qualidade de vida dos indivíduos, grupos, organizações e comunidades;
 
Art. 4º A formação em Psicologia tem por objetivos gerais dotar o profissional dos conhecimentos requeridos para o exercício das seguintes competências e habilidades gerais:
I - Atenção à saúde: os profissionais devem estar aptos a desenvolver ações de prevenção, promoção, proteção e reabilitação da saúde psicológica e psicossocial, tanto em nível individual quanto coletivo, bem como a realizar seus serviços dentro dos mais altos padrões de qualidade e dos princípios da ética/bioética;
 Disponível em http://portal.mec.gov.br/index.php? option=com_content&view=article&id=12991, acesso em novembro 2013.
 
            III.        O psicólogo atuará com responsabilidade social, analisando crítica e historicamente a realidade política, econômica, social e cultural.
 
Comentário
 Esse princípio diz respeito ao compromisso social que a Psicologia assumiu desde a década de 90, com o crescente movimento de democratização no país. Assim como da necessidade de enfrentamento de fenômenos psicossociais oriundos do contexto social e econômico desigual e violento, refugo de uma economia liberal, que se instaurou no mundo ocidental.
Houve uma sensibilização da Psicologia em se reorientar, ampliando seus escopos profissionais, além do campo tradicional da Clínica remediativa, adentrando áreas sociais e se deparando com novas necessidades, em comunidades carentes, em instituições hospitalares, entre outros campos. Portanto, além do olhar clínico tradicional, foi-se exigido do psicólogo, um olhar crítico social, capaz de contextualizar o fenômeno psicológico e lidar com os seus multideterminantes, além da dimensão psicológica.
Essa nova competência está prevista também na Diretriz Curricular da Psicologia (Resolução CNE/CES 5/2011), como se comprova com o artigo 2º, alínea IV, ao assegurar uma formação baseadana "compreensão crítica dos fenômenos sociais, econômicos, culturais e políticos do País, fundamentais ao exercício da cidadania e da profissão".
 
           IV.        O psicólogo atuará com responsabilidade, por meio do contínuo aprimoramento profissional, contribuindo para o desenvolvimento da Psicologia como campo científico de conhecimento e de prática. 
 
Comentário
 Faz-se imprescindível fomentar a retroalimentação entre a psicologia aplicada e a teórica no Brasil, na tentativa de superar uma tendência pragmática e utilitária, que destaca o aspecto aplicado da profissão, a partir de uma visão instrumental e técnica, onde a produção de conhecimento científico fica em segundo plano, sem incentivos acadêmicos e financeiros.
Gomes (2003) aponta que os currículos propostos para os cursos de Psicologia desde 1962, são marcados pelo predomínio da experimentação e dos estágios profissionais, destacando o papel da psicologia aplicada. O autor ressalta ainda que, a partir da década de 1980, houve uma revitalização da pesquisa no Brasil,com o crescimento e a reformulação das pós graduações, o que tem sido apontado como fator positivo. A Psicologia Brasileira está envolta nesse contexto revitalizado e tem destacado o papel da produção de conhecimento nas universidades.
Esse incentivo à produção de conhecimento também se encontra na Diretriz Curricular do curso de Psicologia (Resolução CNE/CES 5/2011), como se pode comprovar:
Art. 3º O curso de graduação em Psicologia tem como meta central a formação do psicólogo voltado para a atuação profissional, para a pesquisa e para o ensino de
Psicologia, e deve assegurar uma formação baseada nos seguintes princípios e compromissos:
I - construção e desenvolvimento do conhecimento científico em Psicologia; Disponível em http://portal.mec.gov.br/index.php? option=com_content&view=article&id=12991, acesso em novembro 2013.
 
 
Esse é um investimento imprescindível para alimentar uma prática profissional de qualidade humanizada e eficácia técnica diante o mutável contexto em que se vive na contemporaneidade.
 
            V.        O psicólogo contribuirá para promover a universalização do acesso da população às informações, ao conhecimento da ciência psicológica, aos serviços e aos padrões éticos da profissão.
 
Comentário
 Ao entrar em contato com as políticas de Saúde Pública e com uma população diferenciada, carente de recursos básicos e cuidados bio psico sociais, os psicólogos enfrentaram a necessidade de  repensar os referenciais teóricos frente a nova realidade brasileira, assim como a necessidade de se conhecer  as novas e desconhecidas subjetividades que essa realidade produz, num país com cenários sócio culturais díspares e injustos.
            Esses novos desafios em campos de trabalho desconhecidos exigiram mudanças no fazer profissional. O psicólogo precisou, por exemplo, ampliar os seus serviços profissionais para camadas da população antes não contempladas pela psicologia. Esse maior acesso a essa nova clientela, seja na saúde pública ou nas instituições, provocou no novo código o item V, em que afirma que “o psicólogo contribuirá para promover a universalização do acesso da população”.
            A universalização do serviço psicológico está implicado no valor bioético da justiça social ou da equidade, amplamente discutido e presente no cenário da Saúde Pública, que têm o propósito de orientar o debate em torno da distribuição dos recursos na saúde, primando pela ideia de que a Saúde deve ser compreendida como sendo um bem fundamental que contemple a todos e não apenas a uma pequena parcela da população.
 
           VI.        O psicólogo zelará para que o exercício profissional seja efetuado com dignidade, rejeitando situações em que a Psicologia esteja sendo aviltada.
 
Comentário
 O princípio V tem relação direta com o I, que assegura a intima conexão entre o Código de Ética do psicólogo e a Declaração Universal dos Direitos Humanos, pois é a partir dessa cultura que a Psicologia tem demarcado o universo prático e teórico em que se esteja negando ou negligenciando algum princípio básico da profissão.
A partir dessa diretriz da Cultura dos Direitos Humanos respeita-se uma atuação profissional que defenda a dignidade humana e nega-se situações em que o psicólogo esteja presenciando, por exemplo, discriminação de qualquer natureza, ou em que o direito de ir e vir do cidadão esteja sendo aviltado. Também se consideram as situações em que um profissional da Psicologia esteja atuando de forma indevida, mediante os artigos e diretrizes fundamentais estabelecidas pelo Código Profissional (artigo 2º: práticas vedadas).
Em qualquer caso, cabe ao psicólogo que presencie tal situação a denúncia social ao órgão competente, seja ao próprio Conselho Federal de Psicologia, como a outras instâncias, como Conselhos Tutelares e Ministério Público.
 
          VII.        O psicólogo considerará as relações de poder nos contextos em que atua e os impactos dessas relações sobre as suas atividades profissionais, posicionando-se de forma crítica e em consonância com os demais princípios deste Código.
 
Comentário
 A Psicologia ao enunciar esse princípio reconhece que os diferentes contextos de trabalho do psicólogo são permeados por forças de poder e de saber, que atuam nos ambientes, instigando as práticas, mas também delimitando fronteiras e possíveis exclusões. Portanto, é tarefa ética e política do profissional da Psicologia realizar constante e dialogicamente um olhar crítico social sobre as relações estabelecidas entre ele e outros profissionais e sua clientela, jamais contribuindo com uma prática excludente ou promotora de sofrimento psíquico.
A partir dos princípios fundamentais disponibilizados no Código de Ética da Psicologia, aponta-se as seguintes tarefas para o psicólogo brasileiro: é preciso tornar o Código de Ética do Psicólogo um instrumento ético e político, concretizando-o em um cotidiano profissional atuante e crítico, para então,  construir uma Psicologia que possa transformar o sonho individual  em  projetos coletivos e emancipadores.
MÓDULO 5 - OS PRINCÍPIOS BIOÉTICOS E A PSICOLOGIA
Objetivo
O módulo apresenta a relação da bioética com a construção do Código de Ética do Psicólogo. Busca explicitar como a Psicologia tem enfrentado os dilemas bioéticos na contemporaneidade ao produzir conhecimento cientifico.
 
INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, a Psicologia Brasileira aprimorou sua interface com a área da Saúde, que contribuiu para uma discussão profunda sobre a postura ética do psicólogo em relação ao usuário do seu serviço. Essa discussão foi pautada por documentos éticos, como a Resolução 196/96 (a atual 466/12), sobre as “Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisas envolvendo seres humanos”, promulgada pelo Conselho Nacional de Saúde.
Esse documento foi construído com o intuito de assegurar os direitos do sujeito que esteja participando de pesquisas científicas, garantindo a ele, entre outros: o direito à autonomia na decisão de participar ou não do projeto de pesquisa, o direito ao consentimento livre e esclarecido, entre outros.
A Resolução 196/96, reformulada e substituída recentemente pela Resolução 466/12 foi elaborada pelo Conselho Nacional de Saúde sob influência das preocupações mobilizadas pelo contexto biomédico, por meio das pesquisas clínicas para investigar os agentes causadores de doenças em humanos, como a aids e a aprovação de novos medicamentos no mercado. Fundamenta-se no modelo estadunidense e incorporou os princípios bioéticos, já presentes na pauta internacional de preocupações éticas com a produção de conhecimento científico.
A Resolução 466/12 em seu preâmbulo contextualiza a necessidade de parâmetros éticos devido
 
ao progresso da ciência e da tecnologia, que  desvendou outra percepção da vida, dos modos de vida, com reflexos não apenas na concepção e no prolongamento da vida humana, como nos hábitos, na cultura, no comportamento do ser humano nos meios reais e virtuais disponíveis e que se alteram e inovam em ritmo acelerado e contínuo.
(Resolução 466/12, disponível em http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2012/Reso466.pdf, acesso em novembro 2013)
 
A partir disso, reafirma a importância de ponderar entre riscos e benefícios para o participante da pesquisa e para a sociedade, pois:
 
Considerando o progresso da ciência e da tecnologia, que deve implicar em benefícios, atuais e potenciais para o ser humano, para a comunidade na qual está inserido e para a sociedade, nacional e universal, possibilitando a promoção do bem-estar e da qualidade de vida e promovendo a defesa e preservação do meio ambiente, para as presentes e futuras gerações. (Resolução 466/12, disponível em http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/2012/Reso466.pdf, acesso em novembro 2013)
 
 
Segundo Diniz&Guilhem (2008), o sistema brasileiro de revisão ética está vinculado ao Sistema CEP/Conep- Comitês de Ética em e Comissão Nacional de Ética em Pesquisa- que teve inicio em finais dos anos de 1980, que instituiu a Resolução196/96 e atualmente foi revista sendo considerada a atual 466/12. Uma das pressuposições dessa lei, afirma que todas as pesquisas com seres humanos de todas as áreas do conhecimento, devem ser avaliadas pelo Sistema CEP/Conep, antes de iniciar a fase de coleta de dados.
Desde a regulamentação da Resolução 196/96, em outubro de 1996, o número de CEPs (Comissões de Ética em Pesquisa) vem crescendo, principalmente junto às organizações civis, as de defesa dos direitos e apoio aos portadores de deficiência e patologias.  Paralelamente, nota-se uma expansão da Bioética, devido às inúmeras questões morais provindas do avanço técnico-científico na área da Saúde. (PALÁCIOS, MARTINS e PEGORARO, 2001)
A Resolução 466/12 encontra-se amparada pela Cultura dos Direitos Humanos e pela Bioética, aplicadas à prática científica, nos cuidados mantidos com o participante da pesquisa. Para isso, os Comitês de Ética necessitam aprovar os protocolos de pesquisas e os projetos desenvolvidos.
Segundo Diniz e Guilhem (2008, p.77), a cultura ética fomentada pela Resolução 196/96, em diálogo com as diretrizes internacionais, estabeleceu alguns critérios para a aprovação dos protocolos de pesquisa, a partir de uma preocupação básica com a minimização de riscos e a proteção dos direitos dos participantes de pesquisas, tais como:
 
- relevância social: os estudos devem contribuir para a melhoria da qualidade de vida das pessoas envolvidas nas pesquisas, ampliando o conhecimento aplicável a diferentes contextos sociais;
-validade científica: o desenho metodológico deve garantir a validade da pesquisa e a apropriação de resultados pelos países envolvidos;
-seleção equitativa: a escolha dos participantes deve seguir objetivos definidos pela pesquisa e não atender as amostras de conveniência. Pessoas vulneráveis devem ser protegidas e não podem ser excluídas do envolvimento na pesquisa sem razões científicas;
- balanço favorável entre riscos e benefícios: as pesquisas tem que ser conduzidas de acordo com o melhor padrão de atenção à saúde disponível. Deve ser feita uma avaliação dos potenciais riscos e benefícios para os participantes;
-revisão ética do protocolo: deve ser realizada por um Comitê de Ética em pesquisa, de conformação colegiada, que atue de forma independente;
-consentimento livre e esclarecido: é tido como uma das peças centrais à avaliação ética de um protocolo de pesquisa. Deve ser considerado um processo e não apenas um ato de apresentação de um documento escrito ou oral. O objetivo é garantir a livre e informada decisão de um individuo em participar de um estudo;
- respeito pelos participantes: ultrapassa o instante do estabelecimento do vínculo e da assinatura do termo de consentimento. Refere-se à proteção da confidencialidade, ao acesso a informações sobre a pesquisa e ao direito de se retirar do estudo a qualquer momento;
- capacitação e fortalecimento local: a pesquisa colaborativa internacional deve contribuir para o crescimento científico local e para a consolidação do processo de revisão ética das pesquisas.
O campo da Bioética, também determinante na elaboração da Resolução, é compreendido como a ética da vida (do grego bios- vida, e ethike- ética). Pode ser definida como o estudo sistemático da moralidade das tecno-ciências da vida e da saúde, examinadas a luz de princípios morais. É uma vertente importante no cenário das éticas aplicadas, oriunda de campo multidisciplinar, cujo diálogo visa o entendimento dos problemas morais na sociedade contemporânea. Envolve diferentes pontos de vistas de várias disciplinas, tais como a Filosofia, Teologia, Direito, Medicina, Psicologia, entre outras. (PALÁCIOS, MARTINS E PEGORARO, 2001, p. 32).
A partir da Resolução 466/12, da versão anterior 196/96 e em consonância com outras cartas éticas, regulamentadas pelo mundo, como a Declaração de Helsinque (1975) e o Relatório de Belmont (1974), consolidou-se quatro princípios bioéticos, essenciais nos cuidados tomados ao se realizar pesquisas com seres humanos. São eles: autonomia, não maleficência, beneficência e justiça.
O princípio bioético da Autonomia referenda-se ao direito de escolha livre e consciente de pesquisas. É necessário respeitar a vontade do sujeito, para que esse possa participar ativa e livremente da pesquisa. Segundo Kovacs (2003), o exercício de autonomia só se dá quando há compartilhamento de informações e conhecimentos de modo didático e compreensível ao sujeito, para que então, ele tome a melhor decisão.
Nas pesquisas científicas alcança-se a autonomia, quando se oferece o termo de consentimento livre e esclarecido ao sujeito, em uma linguagem acessível, explicitando os direitos e deveres do participante. Assim como relatando de forma sucinta, os aspectos metodológicos e analíticos da pesquisa, para que se tenha conhecimento global do trabalho científico que poderá vir a participar.
Segundo Kovacs (2003):
 
 “Quando se favorece a autonomia, ocorre uma relação simétrica entre profissionais e pacientes, sendo que estes últimos participam de maneira ativa das decisões que envolvem seu tratamento, bem como sua interrupção.” ( Kovacs, 2003, p. 119)
 
O valor da não maleficência diz respeito ao não fazer o mal ao sujeito da pesquisa, isso quer dizer, não ter nenhuma atitude interventiva, seja clínica ou dialógica, que coloque em risco a saúde biopsicossocial do individuo que participa do processo investigativo científico. Para ponderar esse aspecto, o pesquisador deve realizar uma reflexão criteriosa sobre os riscos envolvidos em sua pesquisa, e caso não seja possível evitá-los completamente, apresentar ao sujeito da pesquisa, possíveis suportes e amparos para lidar com qualquer mal estar, prejuízo suscitado pela pesquisa científica.
O valor da Beneficência por sua vez diz respeito ao fazer o bem ao sujeito da pesquisa, o que significa promover ganhos com a atividade investigativa, seja no tratamento de uma doença, seja na testagem de medicamentos, ou então, num ganho psicossocial ao refletir conjuntamente com o pesquisador sobre um tema de relevância pessoal e social. Esse valor bioético é essencial numa relação simétrica entre pesquisador e participantes, pois sugere uma relação igualitária, sem uma postura de exploração utilitária que costumeiramente se tinha em pesquisas de campo, quando pesquisadores absorviam as informações que necessitavam dos sujeitos e não se responsabilizavam com os possíveis ganhos de quem participava da pesquisa.
Com relação ao valor da equidade e/ou justiça social, há uma preocupação em promover o bem estar coletivo e a igualdade social com a pesquisa científica, universalizando o conhecimento desenvolvido e retroalimentando o serviço de saúde que usufrui das pesquisas para atender o grande público.
A Psicologia Brasileira compreendeu que seria importante realizar uma aproximação com esses princípios, pois a Bioética estaria atravessando o campo de estudos psicológicos e sociais, como uma discussão sobre valores inerentes à vida e à saúde, extrapolando o cenário biomédico com o qual é associada.
Essa aproximação encontra-se presente no Novo Código do Psicólogo em vários momentos, são eles:
 
 No princípio fundamental V, que versa principalmente sobre o valor da justiça social, ao afirmar que O psicólogo contribuirá para promover a universalização do acesso da população às informações, ao conhecimento da ciência psicológica, aos serviços e aos padrões éticos da profissão.
 
Nos deveres fundamentais (art. 1º), nas alíneas:
(c) ao reafirmar seu serviço em prol dos seus clientes com dignidade, ao prestar serviços psicológicos de qualidade, em condições de trabalho dignas e apropriadas à natureza desses serviços, utilizando princípios, conhecimentos e técnicas reconhecidamente fundamentados na ciência psicológica, na ética e na legislação profissional;
(e) ao realizar a ponderação entre os riscos e benefícios do seu serviço, ao estabelecer acordos de prestação de serviços que respeitem os direitos do usuário ou beneficiário de serviços de Psicologia;

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