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Celina Trajano de Oliveira Introdução À Atuária Sumário 03 CAPÍTULO 2 – O que é risco? .........................................................................................05 Introdução ...................................................................................................................05 2.1 Reserva matemática ..................................................................................................06 2.2 Tábua de mortalidade ..............................................................................................11 2.3 Nota técnica atuarial ................................................................................................16 2.4 Matemática atuarial ................................................................................................18 2.4.1 Taxa de juros simples .......................................................................................19 2.4.2 Taxa de juros compostos ..................................................................................22 Síntese ..........................................................................................................................24 Referências Bibliográficas ................................................................................................25 Capítulo 2 05 Introdução Antes de iniciar os estudos deste capítulo, reflita sobre as questões: você sabe o que é risco? Conhece os conceitos a respeito? A partir dessas perguntas, você entenderá a importância do conceito de risco e dos elementos aos quais está relacionado. Para tanto, trataremos de assuntos relacionados à expectativa de vida das pessoas e aos cálculos relacionados à necessidade de aposentadoria, entre os quais reserva matemática, tábua de mortalidade, nota técnica atuarial e matemática atuarial, taxas de juros simples e compostas. O conceito de risco geralmente está vinculado à incerteza de que algo poderá acontecer, ou seja, a probabilidade de que um fato grave ocorra em relação a perdas, que podem ser de valo- res, ou decorrentes de algum acontecimento desfavorável. Quando se fala em gestão de riscos, entende-se que são medidas para evitar, ou antecipar, os impactos e efeitos dos possíveis riscos. Em finanças, o risco está vinculado à perda relacionada a algum investimento. Neste estudo, você identificará diversos conceitos de risco, por exemplo, risco de variação de preços, de terremotos, desabamentos, enchentes, riscos biométricos, de elevação ou redução de taxas de juros e de câmbio, além dos riscos de crédito, de liquidez e de mercado. Na área atuarial, o risco é gerenciado com objetivo de assegurar e preservar a liquidez, a solvência e o equilíbrio dos planos de benefícios. Esses planos são administrados pelas Entidades Fechadas de Previdência Complementar (EFPC), que estão sujeitas aos riscos que impactam os modelos matemáticos utilizados para cálculos de projeções atuariais. O que é risco biométrico? Esse tipo de risco relaciona-se com a ocorrência de desvios entre as premissas e hipóteses demográficas utilizadas nas avaliações atuariais. Por exemplo, probabilidades para os eventos de mortalidade, de invalidez e de morbidez, e as ocorrências efetivas no âmbito dos planos de benefícios (PREVIC, 2016). VOCÊ SABIA? O risco torna-se evidente quando o devedor não paga as obrigações ao credor. Assim, você saberá que o risco de crédito está geralmente associado a uma obrigação financeira ou emprés- timo, em que uma determinada pessoa recebe recursos e outra oferece os recursos por meio de acordos ou contratos, e a contraparte deixa de pagar pelos mais variados motivos – geralmente por falta de vontade ou por problemas vinculados a uma determinada incapacidade. Essa inca- pacidade decorre, muitas vezes, da avaliação inadequada do devedor, por alterações sofridas pela dívida ou, ainda, pela perda da garantia oferecida. Neste estudo, você verá também que o risco de liquidez geralmente está relacionado à impossi- bilidade de suficiência financeira para pagar os compromissos, Nesses casos, os recursos podem O que é risco? 06 Laureate- International Universities Fundamentos de Atuária deixar de ser obtidos por motivos como venda de um ativo com baixa liquidez, má gestão dos fluxos de caixa e crises no mercado financeiro, ocasionando baixa liquidez. Já o risco de merca- do refere-se a situações em que o mercado financeiro está instável, seja no Brasil ou em qualquer país do mundo e, em virtude dessa instabilidade, o cliente poderá ter perdas financeiras. Esse tipo de risco geralmente está vinculado à variação de preços do mercado de ações ou das ope- rações de câmbio, ou ainda das taxas de juros e dos preços das commodities. Figura 1 – Exemplo de risco causado por fenômenos naturais, como terremotos ou enchentes. Fonte: Carlos Amarillo, Shutterstock, 2016. O risco atuarial, de acordo com o Guia Previc (2012, p. 11), também deve ser considerado, podendo abranger tanto a concessão dos benefícios inadequados pela EFPC, em virtude de possíveis erros de cálculo ou mesmo de fraude, quanto o próprio processo de elaboração da avaliação atuarial. E, ainda: [...] Os riscos atuariais estão basicamente presentes nos planos de benefício definido (BD) e de contribuição variável (CV) que oferecem renda vitalícia ou garantia de benefício mínimo, e de contribuição definida (CD) que oferecem benefícios de risco mutualistas por morte, invalidez ou morbidez. Esses riscos podem levar ao surgimento de desequilíbrio atuarial (déficit ou superávit) (GUIA PREVIC, 2012, p. 11). Há ainda um risco chamado alavancagem, que está relacionado às operações de compra e ven- da sem a devida cobertura. Outro risco que tem sido apresentado constantemente, principalmen- te na área financeira, é o risco do uso da internet. Cada vez mais as pessoas estão utilizando esse recurso nas operações financeiras e, não é raro, correm o risco de terem seus dados “clonados” e divulgados indiscriminadamente. 2.1 Reserva matemática Considerando o que leu até aqui, reflita: você já sabe o que, exatamente, faz um atuário? O atuário é, acima de tudo, um profissional especializado em matemática, com conhecimentos em capitalização, previdência social e previdência privada. Em geral, também efetua cálculos de prêmios de seguros, de reservas e de contribuições. A reserva matemática de um grupo, no tocante a determinado benefício, é a diferença entre o valor atual dos compromissos futuros assumidos pela entidade quanto à concessão do benefício aos membros do grupo e o valor atual da renda de receitas futuras previstas para a cobertura dos referidos encargos, de acordo com o regime financeiro adotado especificamente para o benefício no plano de custeio vigente (SOUZA, 2016, p. 7). 07 Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2013), há três bases para o sistema previdenciário: • legal: benefícios oferecidos, regras de concessão dos benefícios, regras para o custeio dos benefícios; • atuarial: tábuas biométricas, taxas de juros, regimes financeiros, metodologias de cálculo; • cadastral: dados atualizados, dados consistentes, dados amplos. Gustavo Henrique W. de Azevedo é um dos mais importantes nomes da matemática atuarial. Doutor em Engenharia de Produção pela Universidade Federal do Rio de Ja- neiro, é especialista em Engenharia Econômica, Administração Industrial e de Empre- sas, em Matemática Financeira e Estatística. Entre suas publicações, destaca-se o livro Seguros, matemática atuarial e financeira (Editora Saraiva, 2008), obra fundamental para os profissionais de Atuária. Para saber mais sobre a vida e a obra de Azevedo, acesse o endereço: http://www.editorasaraiva.com.br/autores/show/id:345385/gusta- vo-henrique-w-de-azevedo/. VOCÊ O CONHECE? De acordo com Azevedo (2008), reservamatemática é um cálculo que se faz para assegurar um plano de previdência aos beneficiários, que podem estar ativos, inativos ou ser pensionistas. A reserva é a garantia de que eles receberão, futuramente, os valores dos benefícios. O cálculo é feito da seguinte forma: verificar a diferença entre o Valor Atual dos Benefícios Futuros (VABF) e o Valor Atual das Contribuições Futuras (VACF). Outra reserva que deve ser calculada refere-se à reserva matemática de benefícios concedidos, destinada aos servidores ou dependentes que têm direito ao recebimento porque atingiram condições para isso, ou porque já entraram na fase de condições para receber a aposentadoria. A seguir, observe a Figura 2 e o Quadro 1, retirados do Manual Previdenciário do Tribunal de Contas do Estado do Paraná (2014, p. 30). Trata-se de uma servidora que iniciou a vida labora- tiva aos 20 anos. Ela passou a contribuir ao regime próprio e está vinculada a partir desta idade e data, não possuindo tempo de serviço ou contribuições anteriores. Na data do cálculo, ela completara 30 anos de idade. 20 anos a - Idade inicial de contribuição 30 anos x - Idade atual do servidor na data do cálculo 54 anos r - Idade de aposentadoria Figura 2 – Linha da vida do servidor para cálculo matemático. Fonte: TCE, 2014, p. 30. 30 – 20 = 10 anos de contribuição A legislação determina que a servidora, mulher deve ter 30 anos de contribuição 08 Laureate- International Universities Fundamentos de Atuária 30 – 10 = 20 anos (faltam 20 anos para se aposentar) 20 x 20% (pedágio) = 4 anos Acrescentando 4 anos ao tempo que falta para se aposentar, verifica-se que a servidora deverá trabalhar mais 24 anos. 30 anos (idade atual) mais 24 anos (tempo faltante) = estima-se 54 anos de idade para sua aposentadoria. Quadro 1 – Informações para efetuar o cálculo que determina a idade de aposentadoria da servidora. Fonte: TCE, 2014, p. 30. VOCÊ QUER VER? O filme Grande demais para quebrar (Too Big to Fail), dirigido por Curtis Hanson, é im- perdível para os profissionais que pretendem trabalhar na área contábil. Mostra os bas- tidores da crise financeira de 2008, que “quebrou” instituições no mundo inteiro. Para assistir, acesse o endereço: <https://www.youtube.com/watch?v=srGQ9vm9sh4>. Para que o cálculo da fórmula matemática possa ser efetuado, há necessidade de três informações básicas: idade inicial, idade atual e a idade da aposentadoria. O Quadro 2 demonstra o cálculo da reserva matemática que viabilizará o benefício da apo- sentadoria por idade. Para outros benefícios, como pensão ou aposentadoria por invalidez, há necessidade de outros cálculos e procedimentos atuariais. PP (Provento Projetado) = R$1.000,00 Tábua de Mortalidade – AT-49 Taxa atuarial – 6% a.a. Ar(12 )– fator atuarial = 11,711729 (significa que o fundo irá pagar uma renda vitalícia, postecipada, isto é, no final do período). RMr – Reserva Matemática Quadro 2 – Cálculo da reserva matemática. Fonte: TCE, 2014 p. 31. Tábua Biométrica: AT-49 Idade Qx* 0 0,00404 1 0,00158 2 0,00089 3 0,00072 4 0,00063 09 Tábua Biométrica: AT-49 Idade Qx* 5 0,00057 6 0,00053 7 0,00050 26 0,00081 27 0,00085 28 0,00090 29 0,00095 30 0,00100 31 0,00107 32 0,00114 33 0,00121 34 0,00130 35 0,00139 50 0,00656 51 0,00728 52 0,00804 53 0,00884 54 0,00968 55 0,01057 56 0,01149 57 0,01246 58 0,01348 59 0,01454 60 0,01566 61 0,01687 62 0,01820 63 0,01967 64 0,02128 65 0,02307 66 0,02503 67 0,02719 68 0,02958 69 0,03220 10 Laureate- International Universities Fundamentos de Atuária Tábua Biométrica: AT-49 Idade Qx* 70 0,03509 71 0,03827 72 0,04177 73 0,04562 *Qx = probabilidade de morte Tabela 1 – Tábua biométrica. Fonte: IEPREV, 2016 (adaptado). Cálculo inicial na idade de aposentadoria PP (Provento Projetado) = R$ 1.000,00 Tábua de mortalidade – AT 49 Taxa atuarial 6% Ar12 – Fator atuarial = 11,711729 (significa que o fundo irá pagar uma renda vitalícia poste- ciapada, isto é, no final do período). R.Mr= 13 x ar(12) x PP R.Mr= 13 x 11,711729 x 1.000,00 R. Mr= R$ 152.252,47 Quadro 3 – Cálculo inicial da idade de aposentadoria. Fonte: TCE, 2014, p. 32. Segundo Azevedo (2008), tábua de mortalidade é uma tabela utilizada para estimar quantos anos a pessoa poderá viver. As tábuas chamadas de “tábuas da vida” são baseadas nos cálculos populacionais dos Estados Unidos. São apresentadas por meio de siglas com o ano em que foram elaboradas. Por exemplo, AT 49, AT 83, AT 2000. No cálculo apresentado, a tábua da vida é AT 49. O que significa este valor? O valor de R$152.252,47 (cento e cinquenta e dois mil, duzentos e cinquenta e dois reais e quarenta e sete centavos), é a reserva matemática necessária no ato da aposentadoria. Esse é o montante que a servidora precisará ter para poder se aposentar, se a reserva matemática for baseada na idade de 54 anos para a aposentadoria. As contribuições dos servidores sustentavam a maioria dos regimes próprios de previdência, fa- zendo com que os fluxos de caixa das empresas apresentassem déficit previdenciário. O artigo 40 da Constituição Brasileira de 1988 assegurou um aporte financeiro de caráter contributivo e solidário para ser revertido ao fundo com o objetivo de diminuir o passivo atuarial e preservar o equilíbrio financeiro e atuarial por meio do cálculo atuarial. A reserva matemática é direito do segurado, que terá de receber da previdência (pública ou pri- vada) o valor monetário referente às contribuições assumidas perante a entidade que ofereceu a promessa de benefícios futuros. É importante que o segurado saiba valores de juros, as rendas, valores atuais e os deveres. Quais deveres? Os regulamentos da entidade e a legislação perti- nente para que possa visualizar seu direito securitário. 11 Assim, se for admitido que um investimento que produza um juro de 6% ao ano, o valor atual de R$200.000,00, se for pago em quatro anos, será de R$126.734,90. Valor obtido por meio da fórmula: PV = R$200.000,00 / (1+0,06)4 = 158.418,73. Se você quiser saber se o valor está certo, verifique: R$158.418,73 x 1.06 = R$167.923,85 R$167.923,85 x 1.06 = R$177.999,28 R$177.999,28 x 1,06 = R$188.679,24 R$188.679,24 x 1.06 = R$200.000,00 Portanto, o montante do capital que você investiu por um determinado prazo, a partir da data atual, será a soma do capital mais os juros que foram produzidos no decorrer do tempo. A importância também ocorre quando você tiver um determinado valor a receber futuramente, mas não sabe quanto esse valor representa atualmente. Há fatores determinantes para a reserva matemática: as bases legal, atuarial e de dados. Os regimes próprios de previdência social serão avaliados anualmente, de acordo com as Normas de Atuária, portaria MPS 87, onde serão adotados o regime de capitalização, contribuição paga por todos os servidores, pela União, estados e municípios que se juntam às reservas matemáti- cas; regime de repartição de capitais de cobertura, que é a contribuição paga por determinado período, sendo que deverá ser suficiente para integrar a reserva matemática; e o regime de re- partição simples, geralmente utilizado quando as despesas estão estabilizadas e a quantidade de participantes está estacionada ou paralisada. O Valor Presente de Benefícios Futuros (VPBF) e o Valor Presente de Contribuições Futuras (VPCF) são métodos de cálculo da reserva matemática. 2.2 Tábua de mortalidade Tábua Biométrica de Mortalidade e Sobrevivência é o nome dado a uma tabela utilizada por planos de previdência privada para calcular a expectativa de vida feita pelas seguradoras. Cabe à seguradora o cálculo da renda futura que será paga ao participante de umplano de aposen- tadoria, a partir de uma estimativa de quantos anos ele poderá viver. As tábuas utilizadas sempre refletiram as tábuas da vida da população americana. São chamadas AT 49, AT 83, AT 2000, e o número junto às siglas se referem ao ano em que as tábuas foram feitas. Por exemplo, AT 49 foi feita em 1949. O IBGE também elabora uma tábua de expectativa de vida, mas ela não é utilizada pelo mer- cado porque apresenta a longevidade dos brasileiros em geral e, com essa forma de cálculo, o mercado entende que a margem de erro é muito grande. Como o cálculo é feito a partir do investimento em previdência privada, entende-se que o inves- tidor tenha uma longevidade maior que a maioria dos brasileiros, portanto, a tábua americana estaria mais adequada à realidade do perfil do brasileiro que tem recursos financeiros para apli- car em previdência privada. 12 Laureate- International Universities Fundamentos de Atuária Idades Exatas (X) Probabilidades de Morte entre Duas Idades Exatas (X,N) (Por mil) Óbitos D (X,N) I (X) L (X,N) T (X) Expectativa de Vida à Idade X E(X) 0 15,694 1569 100000 98583 7458083 74,6 1 0,983 97 98431 98382 7359500 74,8 2 0,629 62 98334 98303 7261118 73,8 3 0,477 47 98272 98249 7162815 72,9 4 0,390 38 98225 98206 7064567 71,9 5 0,334 33 98187 98170 6966361 71,0 6 0,295 29 98154 98140 6868190 70,0 7 0,270 26 98125 98112 6770051 69,0 8 0,254 25 98099 98086 6671939 68,0 9 0,248 24 98074 98062 6573852 67,0 10 0,252 25 98049 98037 6475791 66,0 11 0,266 26 98025 98012 6377754 65,1 12 0,305 30 97999 97984 6279742 64,1 13 0,367 36 97969 97951 6181758 63,1 14 0,508 50 97933 97908 6083808 62,1 15 0,803 79 97883 97844 5985900 61,2 16 0,998 98 97804 97756 5888056 60,2 17 1,173 115 97707 97649 5790301 59,3 18 1,309 128 97592 97528 5692651 58,3 19 1,414 138 97464 97395 5595123 57,4 20 1,518 148 97327 97253 5497728 56,5 21 1,621 158 97179 97100 5400475 55,6 22 1,693 164 97021 96939 5303375 54,7 23 1,727 167 96857 96773 5206436 53,8 24 1,733 168 96690 96606 5109662 52,8 25 1,726 167 96522 96439 5013056 51,9 26 1,722 166 96336 96273 4916618 51,0 27 1,731 166 96190 96106 4820345 50,1 28 1,759 169 96023 95939 4724239 49,2 29 1,804 173 95854 95768 4628300 48,3 30 1,856 178 95681 95592 4532532 47,4 Tabela 2 – Modelo de tábua de mortalidade. Fonte: IBGE, 2013. 13 Além do IBGE, também a Fundação Escola Nacional de Seguros (Funenseg) criou as Tábuas Bio- métricas de Mortalidade e Sobrevivência – Experiência do Mercado Segurador Brasileiro – 2010, conhecidas como tabelas BR-EMS. As tábuas americanas possuem diferentes expectativas de vida, por exemplo, a AT 49 mostra uma expectativa de vida até os 80 anos; a AT 2000 apresenta uma expectativa até os 83 anos. O que isso representa? A diferença interfere significativamente no retorno do investimento. Por exemplo, quanto maior a expectativa de vida, menor será o benefício pago pela seguradora. As segura- doras que se comprometem em pagar o benefício pelo tempo em que o contribuinte sobreviver, podem ter o risco da defasagem nas contas da empresa. Quando mais recente a tábua, melhor para o beneficiário. A tábua abaixo (Tabela 3) começa com 10 milhões de pessoas vivas a partir de zero ano, se- guindo as idades sucessivamente até 99 anos. Ou seja, neste modelo de tábua, entende-se que existam 10 milhões de pessoas sobreviventes que podem chegar até 99 anos. Como se faz a leitura? A primeira coluna (x) representa a idade das pessoas. A segunda coluna (lx) mostra as pessoas que vivem no começo do ano. Por exemplo: 10.000.000 (lx) de pessoas com zero ano (x) e 9.929.200 (lx) com 1 ano (x). Isso significa que, no intervalo, morreram 70.800 pessoas (dx), que representa 0,708 (qx) da probabilidade anual de morrer. E se a pessoa ultrapassar os 99 anos? Nesse caso, receberá o capital segurado, visto que está viva e esta possibilidade não existe na tábua. x lx dx qx 0 10.000.000 70.800 0,00708 1 9.929.200 17.475 0,00176 2 9.911.725 15.066 0,00152 .... 25 9.575.666 18.481 0,00193 26 9.557.155 18.732 0,00196 ...... 40 9.241.359 32.622 0,00353 53 8.524.486 92.832 0,1.089 97 37.787 18.456 0,48.842 98 19.331 12.916 0,66.815 99 6.415 6.415 100.000 Tabela 3 – Modelo de tábua biométrica. Fonte: AZEVEDO, 2008, p. 220. Segundo Azevedo (2008, p. 220): Sendo d25 igual a 18.481, significa dizer que essa foi a quantidade de pessoas mortas com idade maior ou igual a 25 anos, mas que não completaram 26 anos. A probabilidade de alguém com 40 anos não chegar aos 41 é de 0,353%. Entretanto, a divisão de 140 sobre 141 revela a probabilidade de alguém com 40 chegar aos 41. 14 Laureate- International Universities Fundamentos de Atuária Exemplos: Qual a probabilidade de alguém com 26 anos sobreviver e chegar à idade de 53 anos? Cálculo: Probabilidade = l53/ l26 = 8.524.486 / 9.557.155 = 89,19%. Portanto, a probabilidade de um pessoa com 26 anos chegar a 53 anos é de 89,19%. O mercado atuarial possui várias tábuas de mortalidade, tais como: GAM 71; IBG 99 (-20%); AT 83; AT 2000, entre outras. As tábuas consideradas conservadoras apresentam uma previsão de cobertura maior para o participante e oferecem a cobertura do benefício para o resto da vida, por isso o montante da reserva matemática terá que ser maior. Os atuários, ao fazerem os cálculos, precisam fazer a correção da reserva matemática. No Brasil, os juros são de 6% ao ano e o índice de correção pode ser o IGP-M, INPC, IGP-DI. São índices utilizados para a correção do benefício. As tábuas de mortalidade partem de um número fechado de participantes em que são considera- das as quantidades de pessoas vivas anualmente por idade. Em inglês, AT significa annuitytable. As taxas podem ser mais conservadoras como a AT-49 e AT-83, ou mais modernas, como AT- 2000, considerada mais flexível e utilizada por diversas empresas no Brasil, principalmente para os planos PGBL. Por possuir um tempo de vida médio mais elevado, reduz o valor a ser pago pelas empresas. É importante que as tábuas reflitam a situação mais próxima da realidade, para que as empresas não corram o risco de não ter condições de pagar os beneficiários. As tábuas têm informações universais: Seis colunas • x: coluna de idades; • lx: número de pessoas viva na idade x do grupo de estudo, de um total inicial hipotético de 100.000 novos nascimentos, ou sobreviventes; • dx: número de indivíduos ou de pessoas do grupo que faleceram entre as idades x e x+1; • qx: probabilidade anual de morte, ou seja, a razão entre o número de pessoas do grupo que morrem numa idade w (dw) pelo número de pessoas da idade de w (l w); • px: probabilidade anual de sobrevivência, pela relação px = 1 − qx; • ex: expectativa de vida para um indivíduo com idade x. No Brasil, o IBGE costuma publicar suas tábuas de mortalidade populacionais (Experiência Brasi- leira 1980, 1991 e 2002), que são divulgadas anualmente. Por apresentarem taxas relativas ao conjunto da população, são pouco utilizadas por pessoas que compram produtos do mercado previdenciário e securitário. De acordo com Oliveira et al. (2012, p. 18), “até a década de 1970, o Instituto de Resseguros do Brasil publicava tábuas com a experiência de seguros de vida e aci- dentes do trabalho”. Em 2010, foi publicada uma tábua elaborada com base nos dados obtidos do setor de seguros, batizada de Experiência do Mercado Segurador Brasileiro (BR-EMS). A Susep, órgão fiscalizador do setor de seguros, e a Previc, autarquia supervisora e fiscalizadora dos fundos de pensão, adotam como parâmetro a tábua AT-2000, de origem norte-americana. As tábuas possuem algumas características, identificadas pela divisão em colunas que cruzam a idade (x). A quantidade de vivos é arbitrada em 100.000 ou 1.000.000. A primeiraidade é chamada de ida- de-raiz da tábua; aA última idade que se pode atingir em uma tábua é representada pela letra w. Geralmente, as tábuas são classificadas por sexo, mas podem também ter outras classificações como o tipo de profissão, a classe socioeconômica, os vícios ligados ao fumo, por exemplo. 15 Como as tábuas possuem modelos estáticos, os países mais desenvolvidos e com melhor quali- dade de vida, veem a expectativa de vida aumentada ano a ano. Há então necessidade de apri- morar os modelos, como o desenvolvimento de Tábuas Geracionais que apresentam as taxas de mortalidade de acordo com as gerações. Nesses casos, as projeções são mais rigorosas e atuais. Segundo o IBGE (2013, p. 7): O IBGE informa antecipadamente à sociedade que a Tábua de Mortalidade de 2011, a ser divulgada em 29 de novembro de 2012, incorporará as informações mais recentes sobre população e óbitos, por sexo e idade, provenientes do Censo Demográfico 2010, e as estatísticas vitais oriundas da pesquisa Estatísticas do Registro Civil do mesmo ano. Trata-se de um procedimento necessário de atualização, quando se trabalha com indicadores e/ou modelos demográficos prospectivos. Além disso, o desenvolvimento desta atividade cumpre, também, o propósito de gerar parâmetros atualizados da mortalidade do Brasil para serem incorporados à Projeção da População por Sexo e Idade para o Período 1980-2050 - Revisão 2012. Tabela 4 – Valores exemplificativos do tempo de contribuição. Fonte: IEPREV, 2016. 16 Laureate- International Universities Fundamentos de Atuária Segundo o IBGE, as tábuas de mortalidade são informadas à sociedade antecipadamente com o objetivo de apresentarem informações recentes provenientes de censos demográficos. Ainda de acordo com o IBGE (2013, p. 8): A Tábua de Mortalidade projetada para o ano de 2012 resultou em uma expectativa de vida de 74,6 anos para ambos os sexos, um acréscimo de 5 meses e 12 dias em relação ao valor estimado para o ano de 2011 (74,1 anos). Para a população masculina o aumento foi de 4 meses e 10 dias passando de 70,6 anos para 71,0 anos, em 2012. Já para as mulheres o ganho foi maior: em 2011 a esperança de vida ao nascer era de 77,7 anos se elevando para 78,3 anos em 2012, 6 meses e 25 dias maior. 1,000 Log (Q(x,n)) Grá�co 1 - Logaritmos das probabilidades de morte por sexo e idade - Brasil - 2012 0,100 0,010 0,001 0,000 0 5 10 15 20 25 Homens 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 MulheresTotal Figura 2 – Gráfico de probabilidade de morte. Fonte: IBGE, 2013, p. 6. Segundo MOORE (1946), uma tábua de mortalidade baseia-se em dados de nascimentos e mor- tes e nas idades ao morrer. A utilidade destes dados depende de que as estatísticas sejam exatas, representativas, comparáveis e adequadas. 2.3 Nota técnica atuarial Além da tábua de mortalidade, há ainda um documento importante utilizado pelos técnicos dos planos de previdência. Denominada nota técnica atuarial, trata-se de um documento descritivo que informa as atividades e os aspectos técnicos dos planos de previdência. Nesta nota são discriminados os cálculos efetuados, o controlados pela Superintendência de Seguros Privados (Susep). É elaborada por um atuário que precisa estar registrado no Instituto Brasileiro de Atuária (IBA), atendendo a exigência legal. A nota técnica atuarial deve conter as seguintes informações: as características gerais do plano ou do seguro, as fórmulas de cálculo e as técnicas utilizadas. Segundo portaria MPS 403 de 10 de dezembro de 2008, art. 2o [...] VII - Nota Técnica Atuarial: documento exclusivo de cada RPPS que descreve de forma clara e precisa as características gerais dos planos de benefícios, a formulação para o cálculo do custeio e das reservas matemáticas previdenciárias, as suas bases técnicas e premissas a serem utilizadas nos cálculos, contendo, no mínimo, os dados constantes do Anexo desta Portaria; [...] 17 De acordo com a legislação, conforme a MP 403/2008, há elementos mínimos para elaboração de uma nota técnica atuarial, que vão desde os objetivos e metodologias, passando pelas taxas de crescimento e de juros, até os cálculos de pensões e benefícios concedidos e a conceder. Se houver algum erro, a nota técnica poderá ser alterada desde que exista um termo aditivo jun- tamente com a justificativa técnica que deverá ser apresentada à Secretaria de Políticas Públicas da Previdência Social (SPPS). O documento deverá ser feito em formato pdf e enviado, via internet, para os órgãos vinculados ao Ministério da Previdência Social. Segundo a Susep (2013, p. 2), a nota técnica atuarial Vida Gerador Benefício Livre (VGBL) é um seguro de pessoas com cobertura por sobrevivência, estruturado no Regime Financeiro de Capi- talização e na Modalidade de Contribuição Variável. Ainda de acordo com a Susep (2013, p. 2): O plano tem como objetivo a concessão de capital segurado, sob a forma de (modalidade: pagamento único ou: renda mensal vitalícia, renda mensal temporária, renda mensal vitalícia com prazo mínimo garantido, renda mensal vitalícia reversível ao beneficiário indicado ou renda mensal vitalícia reversível ao cônjuge com continuidade aos menores ou renda mensal por prazo certo), de acordo com as regras estabelecidas no respectivo Regulamento, a pessoas físicas que estejam vinculadas, na forma estabelecida pelo contrato, a uma pessoa jurídica contratante, denominada estipulante-averbador [...]. No PGBL há modalidades de benefícios para anuidade antecipada e para anuidade postecipada. As modalidades de renda podem ser: • Vitalícia: o pagamento se dá direta e exclusivamente ao assistido e cessa com o falecimento. Nessa modalidade não há devolução nem compensação. Os parâmetros para essa modalidade, segundo a Susep (2013), são a taxa de juros anual e a taxa biométrica de sobrevivência BR-EMS. • Mensal vitalícia com prazo mínimo garantido: refere-se a uma renda mensal vitalícia paga ao participante-assistido, com prazo mínimo garantido. • Mensal vitalícia reversível ao beneficiário indicado: é a modalidade em que o participante assistido indica um beneficiário que receberá (após a morte do participante) um percentual já pré-estabelecido até a morte. • Mensal temporária: como o próprio nome diz, refere-se a uma renda que será paga por um tempo determinado ao participante assistido. O valor do benefício cessará no término do tempo estabelecido no contrato ou no falecimento do assistido. • Mensal vitalícia reversível ao cônjuge com continuidade aos menores: renda vitalícia à qual o cônjuge e os dependentes menores terão direito após a morte do segurado. • Mensal por prazo certo: o participante-assistido estipula o prazo máximo em meses em que a renda será paga. Ao terminar o prazo, cessará o pagamento. O Vida Gerador de Benefícios Livre – VGBL, é um seguro de pessoas com cobertura por sobrevivência, estruturado no Regime Financeiro de Capitalização e na Modalidade de Contribuição Variável. O plano tem como objetivo a concessão de capital segurado, sob a forma de (modalidade: pagamento único ou: renda mensal vitalícia, renda mensal temporária, renda mensal vitalícia com prazo mínimo garantido, renda mensal vitalícia reversível ao beneficiário indicado ou renda mensal vitalícia reversível ao cônjuge com continuidade aos 18 Laureate- International Universities Fundamentos de Atuária menores ou renda mensal por prazo certo), de acordo com as regras estabelecidas no respectivo Regulamento, a pessoas físicas que estejam vinculadas, na forma estabelecida pelo contrato, a uma pessoa jurídica contratante, denominada estipulante-averbado (SUSEP, 2013, p. 2). O participante poderá solicitar portabilidade, total ou parcial, para outro plano de previdência complementar aberta, desta ou de outra EAPC, de recursos do saldo da Provisão Matemáticade Benefícios a Conceder. O prazo de carência para solicitações de portabilidades, a contar da data de protocolo da proposta de contratação na EAPC, e o intervalo mínimo entre pedidos de portabilidades estão definidos no respectivo re- gulamento. O segurado não pode estipular portabilidades com intervalo inferior a 60 dias (SUSEP, 2013). VOCÊ SABIA? 2.4 Matemática atuarial Na nota técnica atuarial há necessidade de se demonstrar quais os cálculos utilizados. Esses são cálculos matemáticos estudados há muito tempo. Segundo Almeida (2016), a teoria dos jogos oferece subsídios teóricos para aqueles que buscam entender como a análise matemático-formal pode facilitar a compreensão de métodos de resolução de disputa, tais como o processo judicial, a mediação, a negociação e a arbitragem. Os estudos foram sendo aprimorados até a criação de tábuas de mortalidade, baseadas em boletins de nascimentos e morte. Mas, os interesses iniciais ficaram restritos aos jogos de azar e à teoria dos jogos. Partindo do estudo sobre jogos, surgiu na matemática atuarial o tratamento da chamada “anuidade vitalícia”, que continha a ideia de pagamentos enquanto o titular da anuidade estivesse vivo. Uma matriz desenvolvida por Pierre de Fermant e a obra de Abrahan de Moivre iniciaram as teorias dos estudos de probabili- dades e anuidades, ainda hoje utilizadas. O livro Matemática atuarial de seguros de danos (PACHECO, 2014) apresenta con- ceitos básicos de teoria das probabilidades, racionalidade, utilidade e demanda na oferta de seguros. Leitura importante para complementar os conhecimentos sobre a matemática atuarial. VOCÊ QUER LER? Segundo Azevedo (2008), as teorias relacionadas à probabilidade ocorreram devido ao desen- volvimento dos seguros, jogos de cartas e jogos de dados. Geralmente essas pesquisas sobre probabilidades eram pedidas pelos nobres aos matemáticos interessados no assunto. O desen- volvimento do conceito de esperança matemática desenvolveu-se em função da matemática dos seguros de vida, em que a esperança matemática é definida como o produto da probabilidade de ocorrência de um acontecimento pelo valor do prêmio que a pessoa recebe se ganhar. O significado de Esperança Matemática: • E: esperança • Q: ganho esperado 19 • p: probabilidade • Vn: fator de desconto Portanto, a fórmula será: E=Q x p x vⁿ em que v=1/(1+ i) Exemplo 1 (AZEVEDO, 2008, s. p.): Uma rifa que levará quatro meses para seu sorteio apresenta como prêmio um automóvel no va- lor de R$60.000,00. Sabendo-se que o total de bilhetes é 15.000, qual o valor pelo qual deverá ser vendida cada cautela, se a taxa de juros é de 1% ao mês? Resposta: E=Q x p x vn E= 60.000 x 1/15.000 x 1(1+0,01) x 4 = R$3,84 Exemplo 2 (AZEVEDO, 2008, s. p.): Em um evento beneficente, haverá um sorteio de uma vagem a Paris, com acompanhante, cujo valor é de R$12.000,00. As pessoas, à entrada, compram o bilhete. Sabendo-se que o total de bilhetes é 2.000 e desprezando-se o fator de desconto, pois o sorteio acontecerá no mesmo dia da compra dos bilhetes, qual o valor pelo qual deverá ser vendido cada bilhete, ou seja, qual a esperança matemática? Resposta: E= Q x p x vn E= 12.000 x ½.000 x 1 = R$6,00. O cálculo atuarial tem como objetivo verificar o risco e o retorno nos segmentos financeiros e de seguros, por meio de técnicas matemáticas e estatísticas. A matemática atuarial estuda a teoria dos juros compostos e a teoria da probabilidade, considerando-se a possibilidade de o indivíduo estar vivo para fazer o pagamento, vinculado à questão da sobrevivência e à morte dos indivíduos. A Teoria do Risco Individual preocupa-se com as diferentes probabilidades de danos ao indivíduo com o objetivo de obter uma distribuição de probabilidades para danos agregados. Já a Teoria dos Riscos Coletivos, segundo Pacheco (2014, p. 27), [...] estuda a distribuição probabilística de danos agregados em dada posição no tempo, inferida com base em premissas simplificadas a respeito das distribuições de danos individuais, assumidas idênticas e independentes entre si. 2.4.1 Taxa de juros simples Ao se compreender os conceitos matemáticos, é importante também entender a função dos ju- ros na vida das pessoas. Para se entender o conceito e função dos juros, imagine que você está precisando de um dinheiro emprestado. Ao solicitar o dinheiro para um amigo, ele propõe que você devolva o dinheiro emprestado com um valor a mais, ao qual denomina-se juros. Os juros podem ser entendidos como a remuneração que alguém terá direito de deixar para um outro por algum tempo, e não poder utilizá-lo enquanto estiver na mão desta outra pessoa. Segundo Azevedo (2008, p. 19), “os juros podem ser entendidos como a remuneração de um capital emprestado a outra pessoa, ou um prêmio para quem postergou o gasto”. Alguns conceitos são importantes para o entendimento dos juros, tanto simples quanto compostos: 20 Laureate- International Universities Fundamentos de Atuária Ainda de acordo com Azevedo (2008), os conceitos são os seguintes: Principal: é a quantia emprestada, também denominada de valor presente, capital, valor atual, valor aplicado ou valor financiado que será expresso em unidade monetária. Montante: também expresso em unidade monetária, é o valor total ou futuro, a quantia que será quitada. Taxa de juros: expressa em percentual, é razão entre os juros e o principal. Pode ser simples ou composto. Por exemplo: 3% a. m. (ao mês) ou 8% a. a. (ao ano), 10 % a. t. (ao trimestre). Quando se quer apresentar a taxa de juros unitária, é necessário dividi-la por 100. Então 2% é = 2/100 = 0,02. Período de capitalização: é a quantidade de períodos sob os quais a quantia principal ficará submetida a uma determinada taxa de juros. Fluxos de caixa: são as entradas (recebimentos) e saídas (pagamentos) de dinheiro ao longo do tempo. O que é taxa? Pode ser um valor fixo atribuído por acordo ou estabelecido entre as partes pelo uso. A taxa pode ser fixada pelo poder público para um determinado gênero de mer- cadoria ou para comercialização de produtos, acrescida do valor final deste produto. Pode ainda ser cobrada sobre o valor específico para obtenção de empréstimos, ou tributo exigido como remuneração por um determinado serviço. Fonte: http://www.dicio.com.br/taxa/. VOCÊ SABIA? Segundo Azevedo (2008), no regime de capitalização simples, os juros incidirão sobre o montan- te do capital inicial. Por exemplo: M: Montante P: principal I: taxa de juros n: período de capitalização Portanto: M=P+J e J= P x i x n Então: M= P + Pin → M= P (1+in) Exemplo 1 de cálculo com juros simples: João está passando por sérios problemas financeiros, resolve pedir um empréstimo a Pedro. Pe- dro empresta R$3.000,00 por 4 meses a 2% de juros ao mês. Qual o valor total que João terá que pagar a Pedro daqui a 4 meses? Qual o valor dos juros? Aplicando a fórmula: M=P + Pin= M= 3.000,00 + (3.000,00x 0,02 x 4) → M= 3.000,00 + 240,00 M= R$3.240,00 J= R$240,00 21 Resposta: O valor total que João terá que pagar daqui a 4 meses será de R$3.240,00. O valor dos juros cobrados será de R$240,00. Exemplo 2 J= P x i x n ou J = P.i.n Claudio está devendo R$ 2.000,00 a Mateus. Ele sabe que tem de pagar a dívida com juros simples de 8% a. m. Mateus pediu a Claudio que pague apenas os juros em dois meses. Quanto Claudio terá que pagar de juros ao final de dois meses? J= 2.000,00 x 0,08 x 2= R$320,00. Resposta: Claudio terá de pagar R$320,00 de juros a Mateus ao final do segundo mês. Exemplo 3 M = P .( 1 + ( i . n ) ) Manoel emprestou a Pedro R$50.000,00 para serem pagos dentro de 145 dias com uma taxa de 12,3% a. a. Qual o montante a ser pago ao final de 145 dias? Resposta: M= P x (1+ (i x n)) M= 50.000,00x (1 + (12,3 x 100) x ( 145/360)) M= 50.000,00 x (1+ (0,123) x (0,40277)M= 50.000,00 x (1 + 0,4954) M= 50.000,00 x (1.4954) M= 52.477,08 Resposta: o montante a ser pago após 145 dias será de R$52.477,08 (o dado 360 dias refere- -se ao ano comercial utilizado para calcular operações comerciais. Há necessidade de se fazer a divisão para obter o valor equivalente em anos). Exemplo 4 Francisco aplicou R$100,00 a uma taxa de 6% ao dia, e conseguiu R$1.300,00. Quanto tempo o dinheiro ficou aplicado para que Francisco pudesse receber essa quantia? Resposta: M= P (1+in) → 1.300,00 = 100,00 (1+ 0,06n) 1.300,00 = (100,00 + 6n) 6n= 1.300,00 – 100,00 6n= 1.200,00 n= 1.200,00/6 n= 200 Resposta: Francisco precisou ficar 200 dias com o dinheiro aplicado. 22 Laureate- International Universities Fundamentos de Atuária Regime de capitalização simples ou regime de juros simples consiste em somar os juros ao capital uma única vez, no final do prazo contratado. Daí seu nome de capitalização simples. No regime de capitalização composta ou regime de juros compostos, é contrata- do o período de capitalização. Se o prazo total em que é feito o investimento tiver vários desses períodos, no final de cada período os juros serão capitalizados e o montante assim constituído passará a render juros durante o período seguinte (OLIVEIRA, 2013, p. 18). VOCÊ SABIA? É importante ressaltar que o conceito de juros pode adquirir diversas formas e ser utilizado nas áreas econômicas, políticas, jurídicas, financeiras. É considerado um instrumento de manipula- ção das políticas de desenvolvimento econômico em todos os países do mundo. Os juros muitas vezes referem-se ao pagamento que é dado ao credor pelo tempo que ele fica sem o dinheiro e corre o risco de não recebê-lo. Em outros conceitos, os juros são formas de pagamento do capi- tal que a pessoa recebe do devedor como compensação pela demora. Há ainda a ideia de que juros são as remunerações pela disponibilidade de um capital por determinado tempo, dando ao credor os “frutos” colhidos pelo uso que o devedor utilizou o capital. Os juros podem ser exigidos legalmente, por imposição ou determinação legal, ou juros ordiná- rios, quando não acumulam no capital, também chamados de juros simples. Podem ainda ser moratórios, decorrentes do retardamento do cumprimento de uma obrigação. É uma dívida cha- mada exigível. Há também os juros compensatórios, que são aqueles juros naturais aplicados no capital empregado, representam a justa compensação que se deve tirar de um dinheiro aplicado em algum negócio. O mercado raramente utiliza-se de juros simples. Os descontos de duplicatas no curtíssimo prazo, muitas vezes tem esse critério. A maioria das operações financeiras estão relacionadas aos juros compostos (ALENCAR, 2015). 2.4.2 Taxa de juros compostos Os juros compostos têm uma metodologia diferente dos juros simples. A principal diferença é que incidem sobre o saldo devedor do período anterior. Para se obter as taxas de juros compostos também há necessidade de se conhecer o valor prin- cipal, original ou nominal do crédito ou montante que será utilizado que será utilizado; os juros propriamente ditos, que referem-se ao percentual obtido na relação entre a remuneração e o va- lor que será disponibilizado no tempo. E, também, a forma dos juros, simples ou compostos. Há ainda a usura, que é a cobrança de remuneração abusiva pelo uso do capital. Por fim, há o ana- tocismo, que se refere à cobrança de juros sobre juros já incorporados a uma dívida capitalizada, ou seja, juros cobrados sobre a dívida original e sendo cobrada novamente sobre o montante. Nos juros compostos, segundo Azevedo (2008) a relação entre o montante e o principal deixa- ram de ser lineares e passaram a ser exponenciais. Todas as operações de compras com cartões de crédito, empréstimos bancários, compras a longo prazo, aplicações financeiras, são feitas por meio de juros compostos. Exemplo: M=P x( 1+ i)n Quando há capitalização, chega-se ao montante ou valor futuro. Quando se descapitaliza o montante, chega-se ao capital ou valor presente. 23 Exemplo 1 (baseado em AZEVEDO, 2008, p. 36): Pedro estava precisando de dinheiro. Falou com o amigo Marcos, informou que precisava de R$2.500,00, mas só poderia pagar depois de 1 ano e meio. Marcos informou que para devolu- ção dentro desse prazo, cobraria 3% de juros compostos ao mês. Quanto Pedro pagará ao final de 18 meses? M= 2.500,00 x (1+ 0,03)18 M= 2.500,00 x (1.7024) M= 4.256,08 O livro eguros, matemática atuarial e financeira (AZEVEDO, 2008) é dividido em três módulos. O primeiro trata da matemática financeira e compreende os instrumentos finan- ceiros básicos; o segundo apresenta os diversos tipos de seguros, e o terceiro módulo é voltado para os aspectos atuariais. A leitura é essencial para o futuro profissional da atu- ária que deseja conhecer um pouco mais sobre seguros e os cálculos pertinentes à área. VOCÊ QUER LER? ExemploParte inferior do formulário 2 (AZEVEDO, 2008, p. 32): Marcos quer depositar dinheiro o suficiente para retirar R$1.500,00 daqui a 8 meses e R$3.500,00 no final do ano. Quanto ele deverá depositar, sabendo que o banco oferece uma taxa de juros de 10% a. a.? Primeiro, é necessário saber quanto Marcos precisará depositar para retirar R$1.500,00 dentro de 8 meses: M= P x (1+ i)n M= P x ( 1+ 0,10) 8/12 P= M/(1+0,10)8/12 P= 1.500,00/ (1+0,10) 8/12 = P = R$1.407,65 Agora será realizado o cálculo para a retirada de R$3.500,00 em 12 meses M=P x( 1+ i) 12/12 M= P x ( 1+ 0,10) 12/12 P= M/ ( 1+0,10) 12/12 P= 3.500 / (1+0,10) 12/12 P= R$3.181,82 Segundo Azevedo (2008, p. 32), para retirar os valores mencionados ele terá que somar R$1.407,65 + R$3.181,82 que são valores presentes. O total a ser depositado por Marcos será R$4.589,47. As pessoas trabalham, compram, vendem, investem, pedem dinheiro emprestado e muitas vezes desconhecem como essas operações, que envolvem dinheiro, estão sendo realizadas e quanto estão pagando por elas. Os juros compostos estão presentes na vida de todo o cidadão, princi- palmente quando se busca satisfazer mais e mais necessidades sem considerar os riscos – ten- dência que cresce a cada dia no mundo globalizado e capitalizado. 24 Laureate- International Universities Você concluiu os estudos sobre risco e a importância da matemática para cálculos em aposenta- dorias. Nesse capítulo você teve a oportunidade de: • entender que o risco está vinculado à incerteza; • aprender o que é reserva matemática e identificar a diferença entre os compromissos futuros assumidos pela entidade e os valores pagos pelos assistidos, acompanhando a forma como são feitos os cálculos; • conhecer a tabela biométrica e saber como é utilizada pelas entidades para o cálculo da aposentadoria; • perceber a importância da matemática atuarial para cálculos de aposentadoria; • conhecer os conceitos e utilidade dos juros simples e compostos. SínteseSíntese 25 Referências ALMEIDA, Fábio Portela Lopes de. A teoria dos jogos: uma fundamentação teórica dos métodos de resolução de disputa. Estudos de Arbitragem Mediação e Negociação, v. 2. Disponível em: <http://www.arcos.org.br/livros/estudos-de-arbitragem-mediacao-e-negociacao-vol2/terceira- -parte-artigo-dos-pesquisadores/a-teoria-dos-jogos-uma-fundamentacao-teorica-dos-metodos- -de-resolucao-de-disputa>. Acesso em: 29 maio 2016. AZEVEDO, Gustavo Henrique W. de. Seguros, matemática atuarial e financeira. São Paulo: Saraiva, 2008. BALOLA, Raquel. Princípios matemáticos da filosofia natural:a lei da inércia. Mestrado (Es- tudos Clássicos), 2010. Disponível em: <http://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/5363/2/ ulfl109993_tm.pdf>. Acesso em: 29 maio 2016. BRASIL. Presidência da República. Portaria MPS 403/2008. Disponível em: <http://sislex.previ- dencia.gov.br/paginas/66/MPS/2008/403_1.htm>. Acesso em: 18 maio 2016.______. Presidência da República. Portaria MPS 87, 2 fev 2005. 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