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1 3 SUMÁRIO Apresentação................................................................................................................................................................. 04 Palavras Iniciais............................................................................................................................................................ 05 Ética em Sociedade...................................................................................................................................................... 06 Desigualdades Sociais: entenda como surgem e por que elas se perpetuam....................................................... 12 O que é preciso para exercer bem os direitos de cidadania?................................................................................. 15 E agora, Brasil? Segurança pública........................................................................................................................... 22 A origem e ascenção das milícias.............................................................................................................................. 27 15 de Junho: Dia mundial de conscientização da violência contra a pesssoa idosa .......................................... 30 Feminicídio: o que é, tipos e exemplos...................................................................................................................... 32 Saiba a diferença entre imigrante, migrante e refugiado e as datas dedicadas a eles.......................................... 36 Lei brasileira ainda prevê pena de morte; saiba quando pode ser aplicada........................................................... 39 Cidade e drogas, um caso de políticas e não de polícia.......................................................................................... 43 PEC da vida tenta evitar novas exceções à punição do aborto.............................................................................. 46 O que são Direitos Humanos? ................................................................................................................................... 49 Charges ........................................................................................................................................................................ 53 Músicas ........................................................................................................................................................................ 55 Filmes ........................................................................................................................................................................... 57 Livros ............................................................................................................................................................................ 58 Considerações finais.................................................................................................................................................... 59 4 APRESENTAÇÃO A Formação Sociocultural e Ética (FSCE) compõe um dos Projetos de Ação da UniCesumar, cujo principal objetivo é aperfeiçoar habilidades e estratégias de leitura fundamentais para seu desempenho pessoal, acadêmico e profissional. Nesse sentido, esta disciplina corresponde à missão institucional, a qual consiste em “Promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária”. Conforme slogan da FSCE, “Quem sabe mais faz a diferença!”, o conhecimento adquirido por meio da leitura é a mola propulsora capaz de formar e transformar sujeitos passivos em cidadãos ativos, preparados para fazer a diferença na sociedade como um todo. Na FSCE, você terá contato com vários assuntos e fatos que ocorrem na sociedade atual e que devem fazer parte do repertório de conhecimentos de todos os que buscam compreender criticamente seu entorno social, nacional e internacional. Em síntese, no intuito de atender ao objetivo desta disciplina, a FSCE está dividida em seis grandes eixos temáticos: Ética e Sociedade, Ética, Política e Economia, Ética, Cultura e Arte, Ética e Ciência, Ética e Tecnologia e Ética e Meio Ambiente. Este material, também chamado de Coletânea, é o principal instrumento de estudo da FSCE. Recebe o nome de Coletânea porque reúne vários gêneros textuais criteriosamente selecionados para estimular sua reflexão e análise pontuais. Textos retirados de diferentes fontes, com a finalidade de abordar recortes temáticos relacionados aos conteúdos de cada eixo supracitado. Tem como principal objetivo ser um material de apoio à sua formação geral, servindo-lhe de estímulo à leitura, interpretação e produção textual. Uma Coletânea como esta é organizada a cada duas semanas, ou seja, a realização completa desta disciplina ocorre no período de 10 semanas. Cada Coletânea apresenta-se, inicialmente, com uma introdução e a apresentação dos diversos textos referentes aos respectivos eixos. A sequência de textos normalmente é finalizada com os gêneros: música, poesia ou frases e charges, sendo finalmente concluída com breves considerações finais. Você tem em suas mãos, portanto, uma compilação por meio da qual terá acesso a um conteúdo seleto de textos basilares para sua reflexão, aprendizagem e construção de conhecimentos valiosos. Textos compostos por fatos, notícias, ideias, argumentos, aspectos veiculados nos principais meios de comunicação do país, links de acesso a entrevistas, depoimentos, vídeos relacionados ao eixo temático, além de respaldos teóricos e práticos acerca da linguagem que poderão servir como suporte à sua vida em todas as instâncias. 5 PALAVRAS INICIAIS O homem contemporâneo enfrenta vários questionamentos, dúvidas e angústias em sua experiência cotidiana frente às transformações relacionadas a costumes e valores éticos advindos das práticas humanas capazes de gerar conflitos nesta sociedade em permanente construção histórica da qual todos somos parte. Neste século vivemos tempos de novos paradigmas. A proposta desta coletânea de textos é lançar mais um olhar sobre as questões sociais como cidadania, direitos humanos, violação de direitos, segurança pública, drogas, milícias, feminicídio, um olhar destinado a reflexões de como estas questões afetam a ordem pública e toda a sociedade, e como podemos transformar nossos pensamentos, o que é imprescindível em discussões sobre esses temas e, como consequência dessas inquietudes surgir a necessidade de mudança. Vivemos em um país cuja Constituição Federal de 5 de outubro de 1988, em seu artigo 5º propõe igualdade para todos os cidadãos, a frase que faz parte do princípio da igualdade ou isonomia, todos já devemos ter ouvido: “todos são iguais perante a lei”, porém, a realidade da maioria das pessoas demonstra que não há lugar para a maior parte, apenas para alguns, pois na prática, a estrutura social promove diferenças em variados aspectos, como podemos, então, garantir uma oportunidade nesse vasto organismo que é a coletividade? Esperamos contribuir na superação de algum empecilho que dificulte o entendimento de quem somos e qual é o nosso papel na sociedade, para que haja um equilíbrio na coletividade e um funcionamento social menos injusto, com melhor garantia individual e coletiva, e, para que isso ocorra, cada cidadão deve dar sua parcela de contribuição na luta pelos direitos humanos, para assim se chegar ao bem de todos de modo que ninguém saia prejudicado. Desejamos a você boa leiturae bons estudos! Atenciosamente, Equipe FSCE 6 ÉTICA EM SOCIEDADE Joelma Coêlho dos Santos, Ranessa Lira Teixeira, Nory Lana Godinho de Souza [...] Dentre os vários conceitos com os quais a ética trabalha e que pressupõe um prévio esclarecimento filosófico, como os de liberdade, necessidade, valor, consciência, vamos dar ênfase ao de sociabilidade, ou seja, como a ética deve estar inserida nas relações humanas em sociedade. Algo que poderíamos representar da seguinte forma: A ação humana é fruto de uma escolha entre o certo e o errado, e entre o que é bom e o que é mal. O indivíduo procura se basear em parâmetros socialmente aceitos que lhe permitem conviver com as outras pessoas, em outras palavras, ele busca sempre se guiar pelos conceitos que norteiam a prática dos valores positivos e das qualidades humanas. A ética não somente serve de base para as relações humanas, mas, trata também das relações sociais dos homens na medida em que os 7 filósofos consideram a ética como base da justiça ou do direito, e até mesmo das leis que regulam a convivência entre todos que vivem na sociedade - basta lembrar que um dos princípios constitucionais que regem a Administração Pública no Brasil é o princípio da moralidade, ou seja, os atos da Administração Pública, direta e indireta, devem ser norteados por valores que a sociedade considera como moralmente válidos. A Ética como teoria Filosófica e suas implicações para a vida em Sociedade Primeiramente para entendermos sobre a ética devemos iniciar pelo conceito filosófico. Entender que é a área que investiga o comportamento humano em suas relações entre si, considerando conceitos utilizados para avaliá-las como: valor, virtude, justiça, moral, bem, normas morais, dever, liberdade e responsabilidade; promove também reflexões sobre a busca humana pelas melhores formas de agir, viver e conviver. De forma mais específica, segundo Cotrim (2004, p. 264), A ética é uma disciplina teórica sobre uma prática humana, que é o comportamento moral... A ética tem também preocupações práticas. Ela orienta- se pelo desejo de unir o saber ao fazer. Como filosofia prática, isto é, disciplina teórica com preocupações práticas, a ética busca aplicar o conhecimento sobre o ser para construir aquilo que deve ser. Como teoria filosófica, a ética se caracteriza como estudo das ações individuais dos homens, cuja finalidade consiste em elaborar uma orientação normativa para as ações humanas que sejam estabelecidas como bem. Com o filósofo grego Aristóteles a ética passou a ser a “ciência do moral”, ou seja, do caráter e das disposições do espírito. Enfatizamos que a ética é um conjunto de argumentos que são utilizados pelos indivíduos para justificar suas ações, solucionando com diferentes problemas em que há o conflito de interesses com bases em argumentos universais. Ou salientamos que a ética é uma filosofia responsável por estudar a moral, contestando e identificando o que podemos chamar de regras morais vigentes, as quais são alteradas com o tempo. A Ética como teoria filosófica tem por objetivo estudar o comportamento dos indivíduos frente aos apelos morais da sociedade em que este vive. Ela se manifesta de diferentes maneiras conforme a cultura, costumes e hábitos de determinadas populações. As reflexões da ética abrangem aspectos da vida pública e das leis estabelecidas no plano social para a existência humana. Envolvem questões ligadas ao direito, ao poder, a cidadania e a política, e abrange também aspectos da vida privada, analisando algumas questões morais de foro 8 íntimo ligadas as condutas e escolhas de indivíduos em nosso cotidiano, e são elas que determinam o modo como cada um convive consigo próprio e com os outros. As respostas filosóficas para as questões éticas variam no tempo e no espaço, e ainda apresentam uma característica fundamental que envolve a posição dos indivíduos em relação ao valor e as virtudes que são defendidos em seu meio cultural. Com isso, os filósofos investigam o que leva diferentes grupos sociais a se indagarem sobre questões e valores semelhantes, sem ignorar que, os significados atribuídos a eles nem sempre são os mesmos. Há filósofos que concebem o homem como um ser dotado de um senso moral inato, ou seja, da capacidade natural para avaliar como as coisas são e como elas deveriam ser. Alguns acreditam que as diversas tendências culturais e individuais atuam sempre sobre a capacidade comum entre os seres humanos e são determinantes da formação do caráter e da personalidade. E há filósofos que afirmam a existência da liberdade, ressaltando sempre que, apesar da pressão de costumes e leis, nós sempre podemos refletir sobre as questões éticas e sobre a moral aprendida, e que, segundo eles, há uma possibilidade que nos faz responsáveis por nossas próprias escolhas e que nos permite contribuir para a renovação com as normas com que nos deparamos no dia a dia. Nos tempos áureos da filosofia grega todas as virtudes eram políticas e sociais, o que denota certa inseparabilidade entre a ética e política, ou seja, não havia separação entre ética e política senão no campo conceitual e estavam relacionadas à conduta do indivíduo e os valores da sociedade. No pensamento dos Antigos filósofos a existência humana só pode ser pensada em sociedade onde os seres humanos aspiram ao bem e a felicidade, que só pode ser alcançada pela conduta virtuosa. Além disso, existe uma preocupação constante com a busca dos valores morais inscritos no interior do próprio homem, como acreditava Sócrates. Dessa forma – para ser ético – o homem deveria entrar em contato com a sua própria essência, a fim de alcançar a perfeição. O homem, como qualquer ser, busca a sua perfeição, que acontecerá quando sua essência estiver plenamente realizada. E como afirma Mondin (1980, p.91), “A ética ou moral... é o estudo da atividade humana com relação a seu fim último que é a realização plena da humanidade”. 9 Sócrates, que se tornou símbolo da própria filosofia, dedicou atenção especial às questões éticas, sendo que ele julgava o ser humano que era dotado de uma natureza racional e voltada para o bem. Ele tentava sempre compreender a essência das virtudes e do bem, tal como a justiça, a prudência, a coragem, e entre outras. Sócrates de alguma forma procurava saber dos cidadãos atenienses sobre a virtude, a essência, saber se uma conduta é boa ou não, e porque o bem é uma virtude e o mal um erro, e com tudo isso as perguntas ético-socráticas não estão destinadas somente ao indivíduo, mas também a sociedade. Pode-se resumir a ética dos antigos em pelo menos dois aspectos: o agir em conformidade com a razão e a união permanente entre ética (a conduta do indivíduo) e política (valores da sociedade). A ética é uma maneira de educar o sujeito moral (seu caráter) no intuito de propiciar a harmonia entre o mesmo e os valores coletivos. Na Idade Média a Filosofia sofrera uma forte influência da tradição cristã. Uma vez, que todos os Filósofos deste período são teólogos, bispos, abades e padres. Dessa forma a filosofia permaneceu, ao longo de todo período medieval, subordinada a teologia, de tal modo, que é impossível separar o pensamento filosófico da tradição grega, do pensamento teológico cristão. Neste caso a vida ética era definida por sua relação espiritual e interior com Deus e pela caridade com o seu próximo, por meio da revelação divina. A ética cristã se fundamenta no amor, no qual foi colocado como primeiro e maior mandamento:o amor a Deus acima de todas as coisas e o amor ao próximo. É no amor que o cristianismo encontra sua realização espiritual mais profunda e as bases fundamentais para a vida em sociedade. Os primeiros filósofos cristãos procuravam conciliar fé e razão como instrumento de análise e reflexão. A partir desse pressuposto a filosofia insurge no campo da ética cristã, como tentativa de justificar seus princípios e normas de comportamento, se submetendo a lei divina revelada pelas Sagradas Escrituras implicando uma determinação racional do próprio conteúdo sobrenatural da Revelação, mediante uma disciplina específica, a teologia dogmática. Assim como Sócrates e Platão, o bispo, teólogo e filósofo do início da Idade Média, Santo Agostinho, foi um homem profundamente voltado para a sua interioridade, uma vez que é nessa interioridade que podemos realizar nosso encontro com Deus e nossa verdadeira essência. É dentro desta perspectiva de uma filosofia introspectiva que Agostinho agrega uma série de conceitos fundamentais. Os filósofos medievais herdaram elementos da tradição filosófica grega, reconfigurando-se no interior de uma ética cristã e tal como Santo Agostinho, a filosofia de São Tomás de Aquino representa uma aproximação entre fé e razão, mas, neste caso, usando o pensamento aristotélico como base fundamental. Inspirado na filosofia aristotélica e amparado na visão cristã de mundo, Aquino reflete sobre a conduta ética que é aquela na qual o agente sabe o 10 que está e o que não está em seu poder realizar, referindo-se, ao que é possível e desejável para um ser humano. A ética tomista também deve ser trabalhada no âmbito da sociedade. Analisando a natureza humana, resulta que o homem é um animal social (político) e, portanto, forçado a viver em sociedade com os outros homens. A primeira forma da sociedade humana é a família, de que depende a conservação do gênero humano; a segunda forma é o Estado, de que depende o bem comum dos indivíduos. Sendo que apenas o indivíduo tem realidade substancial e transcendente, se compreende como o indivíduo não é um meio para o Estado, mas o Estado um meio para o indivíduo. Segundo Tomás de Aquino, o Estado não tem apenas função negativa (repressiva) e material (econômica), mas também positiva (organizadora) e espiritual (moral). Embora o Estado seja completo em seu gênero, fica, porém, subordinado, em tudo quanto diz respeito à religião e à moral, à Igreja, que tem como escopo o bem eterno das almas, ao passo que o Estado tem apenas como escopo o bem temporal dos indivíduos. Mas não foi apenas na antiguidade e na Idade Média que os filósofos tiveram essa preocupação ética e social. Longe de pretender fazer uma análise sistemática das mais diferentes visões filosóficas sobre o assunto vamos apenas ressaltar as duas correntes que já mencionamos no início do texto. A primeira sobre a qual já falamos, corresponde às ideias de filósofos como Sócrates e Santo Agostinho que acreditam que o ser humano é dotado de um senso moral inato, ou seja, da capacidade natural para avaliar como as coisas e como elas deveriam ser e, desta forma, a questão de como devemos nos comportar e agir em sociedade passa por uma questão de foro íntimo e espiritual, introspectivo, que pode ser resumida na frase: “conhece-te a ti mesmo”. Mas essa visão não é a única e filósofos há que acreditam que as diversas tendências culturais são determinantes da formação do caráter e da personalidade e por isso dão uma ênfase maior em como os aspectos sociais e culturais são determinantes das relações humanas. Um exemplo desta perspectiva nós encontramos no século XIX, com o filósofo alemão Friedrich Hegel, que aprofundou de maneira ímpar a perspectiva Homem – Cultura e História, sendo que a ética deve ser determinada pelas relações sociais. Como sujeitos históricos culturais, nossas ações devem ser determinadas pela harmonia entre vontade subjetiva individual e a vontade objetiva cultural. O homem é visto como sujeito histórico-social, e como tal sua ação não pode mais ser analisada fora da coletividade, por isso a ética ganha um dimensionamento político: uma ação eticamente boa é politicamente boa, e contribui para o aumento da justiça e distribuição igualitária do poder entre os homens. O ideal ético para Hegel estava numa vida livre dentro de um Estado livre, um Estado de direito, que preservasse os direitos dos homens e lhes cobrasse seus deveres, onde a consciência moral e as leis do direito não estivessem nem separadas e nem em contradição. E os 11 grandes problemas éticos se encontram em três momentos da eticidade que são a família, a sociedade civil e o Estado, e uma ética concreta não pode ignorá-los (VALLS, 1994). Em relação à sociedade civil os problemas atuais continuam os mais urgentes: referem-se ao trabalho e à propriedade. Não é um problema ético a falta de trabalho, o desemprego, as formas escravizadoras do trabalho, quando a maioria não recebe as condições mínimas nem de salário nem de infraestrutura para sobreviver? Em relação ao Estado, os problemas, éticos são muito ricos e complexos. A liberdade do indivíduo só se completa como liberdade do cidadão de um Estado livre e de direito. As leis, a Constituição, as declarações de direitos, a definição dos poderes, a divisão destes poderes para evitar abusos, e a própria prática das eleições periódicas aparecem hoje como questões éticas fundamentais. Outra perspectiva de uma moral social encontramos no sociólogo Émile Durkheim. A comparação que Durkheim faz da sociedade com um organismo biológico traz ricas analogias. A sociedade é um imenso corpo social, como um “organismo biológico” (o conjunto das instituições sociais formam este corpo), possuindo vários órgãos (entre eles: a família, o Estado, a escola, a Igreja), cada qual com suas funções específicas de modo que a “anatomia social” será saudável se todos os órgãos funcionarem bem. Durkheim leva essa analogia ainda mais além quando afirma que a partir do momento em que um desses órgãos deixa de funcionar convenientemente, todo corpo social se ressente e adoece. E o que torna saudável uma sociedade, fazendo com que ela funcione harmoniosamente, é a existência de uma moral social. Cabe aos indivíduos desenvolver planos de ação que possam influir na transformação dos aspectos deficientes da sociedade a partir de valores que possam orientar, efetivamente, a conduta social dos indivíduos. Vale destacar aqui, a importância que a ideia de solidariedade representa no pensamento do sociólogo francês. A solidariedade, dentro do contexto das regras morais e sociais, pode e deve contribuir para a harmonia da sociedade. Enfim, qual a contribuição que a Filosofia e, por sua vez, a Ética, podem oferecer para nós, homens e mulheres do século XXI? No momento histórico em que vivemos existe um problema ético-político grave. O Brasil sempre quis ser visto o país dos justos, da democracia, da ética acima de tudo, porém não é bem essa a realidade vivida por todos. Verifica-se uma realidade conflitante fundamentada em uma crise de sentido e de valores que se apresenta na vida pessoal e nas relações sociais das pessoas. A partir desse contexto percebe-se uma inquietação acerca do sentido da vida e do papel do “ser no mundo”, vindo assim a reaparecer com mais força o interesse pelo tema da ética, enquanto coluna vertebral da reflexão sobre a conduta do ser humano e seus valores. Não é suficiente para o homem comum e contemporâneo superar a crise da ética atual conhecendo o outro e suas necessidades para se chegar a sua convivência harmônica. Não há como superar12 esta crise sem um modelo de ética voltada para uma comunidade, como na polis grega. Hoje se aposta no individualismo, na competição, na sociedade do espetáculo e do consumo. Acerca das reflexões sobre o ponto de vista dos filósofos, fica claro o entendimento sobre a ética, sendo um elemento imprescindível na sociedade. Somos formados por princípios e valores que estão relacionados à nossa cultura e esses fatores são essenciais, para a formação do nosso caráter no que diz respeito a nossa conduta ética e moral de modo que, irremediavelmente, o que se entende por Filosofia e Ética está relacionado ao conhecimento e comportamento do indivíduo na sociedade. Disponível em: https://www.sabedoriapolitica.com.br/products/filosofia-etica-e-sociedade/. Acesso em: 18 jun. 2019 (adaptado). DESIGUALDADES SOCIAIS: ENTENDA COMO SURGEM E POR QUE ELAS SE PERPETUAM Panorama da desigualdade: Favela de Paraisópolis, em São Paulo, ao lado de prédio de luxo. (Tuca Vieira/Folhapress) 13 O QUE É DESIGUALDADE SOCIAL? A desigualdade social é um processo existente dentro das relações da sociedade, presente em todos os países do mundo. Faz parte das relações sociais, pois determina um lugar aos desiguais, seja por questões econômicas, de gênero, de cor, de crença, de círculo ou grupo social. Essa forma de desigualdade prejudica e limita o status social de pessoas por determinados motivos, além de seu acesso a direitos básicos, como educação e saúde de qualidade, trabalho, moradia, boas condições de transporte e locomoção, entre outros. A mera diferença entre as pessoas, sua escolha de vestimentas ou forma de viver a vida não caracteriza desigualdade. O fenômeno da inequidade se manifesta no acesso aos direitos, como dito anteriormente, mas principalmente no acesso a oportunidades. De acordo com o filósofo Rosseau, a desigualdade tende a se acumular. Logo, determinados grupos de pessoas de classes sociais e econômicas mais favorecidas têm acesso a boas escolas, boas faculdades e, consequentemente, a bons empregos. Vivem, convivem e crescem num meio social que lhes está disponível. É um círculo vicioso: esses grupos se mantêm com seus privilégios e num ambiente restrito, relacionando-se social e economicamente por gerações. A grande questão é: o que fazem aqueles que estão à margem dessa bolha social? PERPETUAÇÃO DA DESIGUALDADE As pessoas que são marginalizadas ou estão à margem, sofrem os maus efeitos da existência dessas bolhas sociais e econômicas, sem lhes serem concedidas oportunidades de vida, de estudo e de crescimento profissional da mesma maneira que às outras pessoas. Quem é de uma família pobre tem menos probabilidade de ter uma excelente educação e instrução; assim, com baixo nível de escolaridade, terão destinados a si certos empregos sem grande prestígio social e com uma remuneração modesta, mantendo seu status social intacto. Por essa razão, a meritocracia é um mito: não há como clamar que uma classe social alcança bons feitos por mérito, frente à outra que sequer consegue acessar as mesmas oportunidades. Um princípio do direito prega tratar os iguais como iguais e os desiguais como desiguais, com o intuito de reconhecer a força das vivências, do local de origem e da vida social. 14 COMO SURGE A DESIGUALDADE SOCIAL? Vários teóricos e pensadores buscam entender esse fenômeno. Boa parte deles, em suas teorias, coloca a existência da desigualdade social num vértice em comum: a concentração do dinheiro, ou seja, a má distribuição de renda. Sendo a desigualdade social fruto da concentração de dinheiro e poder em uma parte muito pequena da população, o que resta à grande parcela da sociedade é dividir o restante. Algumas das causas da desigualdade social: Má distribuição de renda – e concentração do poder; Má administração de recursos – principalmente públicos; Lógica de mercado do sistema capitalista – quanto mais lucro para as empresas e os donos de empresa, melhor; Falta de investimento nas áreas sociais, em cultura, em assistência a populações mais carentes, em saúde, educação; Falta de oportunidades de trabalho. EM QUAIS ÂMBITOS A DESIGUALDADE SOCIAL PODE SE MANIFESTAR? Existem diversas formas de desigualdade quando se fala em desigualdade social. Afinal, o que é social permeia todos os âmbitos da vida de uma pessoa. Entenda alguns deles: Desigualdade de gênero: uma pauta muito discutida desde o início desta primavera feminista do século 21. Ela se manifesta na discriminação de oportunidades, de tratamento, de direitos, de liberdade. Por vezes, no sistema patriarcal, uma mulher recebe salário mais baixo que um homem, mesmo fazendo o mesmo trabalho, com o mesmo grau de ensino e cumprindo os mesmos horários. Na esfera pública, também é discutida a representatividade da mulher em cargos de poder e na política. Desigualdade racial: o Brasil, ao contrário do mito, não é uma democracia racial. A desigualdade começa já na discussão de oportunidades: local em que as pessoas negras moram e crescem hoje? Como herança da escravidão, 72% dos moradores de favela são negros. Sete em cada dez casas que recebem o benefício do Programa Bolsa Família são chefiadas por negros, segundo dados do estudo Retrato das desigualdades de gênero e raça do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Além disso, o analfabetismo é duas vezes maior entre negros do 15 que entre os não negros. Há ainda preconceito e discriminação racial em diversos âmbitos: diz-se que racismo é estrutural e reproduzido pela sociedade a fim de excluir as vítimas dos círculos sociais. Os jornais, a televisão e os filmes, por exemplo, também reproduzem e ajudam a perpetuar essa lógica. Desigualdade de classes: dependendo o autor, a explicação desse tipo de desigualdade será diferente, mas sempre levará em conta a ocupação profissional, a escolaridade, a riqueza, os bens, a renda das pessoas. O sociólogo Max Weber acredita que as classes sociais estão ligadas aos privilégios e prestígios, sendo uma forma de estratificação social. Acredita que essas classes tendem a se manter estáveis ao longo de gerações, reproduzindo a desigualdade com as classes inferiores. Já Karl Marx entende que existem duas grandes classes: a trabalhadora (proletariado) e os capitalistas (burguesia). Enquanto os trabalhadores se preocupam em sobreviver, os capitalistas se preocupam com o lucro, criando as desigualdades e os conflitos sociais, como a opressão e a exploração. Disponível em: https://guiadoestudante.abril.com.br/blog/atualidades-vestibular/desigualdades- sociais-entenda-como-surgem-e-por-que-elas-se-perpetuam/. Acesso em: 19 jun. 2019 (adaptado). O QUE É PRECISO PARA EXERCER BEM OS DIREITOS DE CIDADANIA? Cidadania, direitos básicos fundamentais, deveres, violação de direitos. Você sabe exercer bem a sua cidadania? Pois é, muitas vezes, o cidadão se vê diante de situações em que seus direitos básicos fundamentais, previstos no artigo 6º da Constituição Federal, são violados. Os exemplos estão todos os dias nos jornais: escolas 16 sem professores, pais que não conseguem matricular seus filhos, hospitais sem material básico para atendimento, falta de médicos e superlotação nas unidades básicas de saúde; famílias vivendo em locais insalubres, etc. É preciso, portanto, que o cidadão saiba quais os instrumentos jurídicos de que dispõe para fazer valer seus direitos e a que órgãos recorrer quando necessário. Nesta entrevista, a juíza Luciana Leal Halbritter, professora-tutora de cursos à distância, coordenadorapedagógica da Escola Livre de Direito e colaboradora do site Visite Rio de Janeiro, explica os princípios e conceitos relacionados à cidadania, a importância de se conhecer as leis e os direitos básicos fundamentais, e quais os instrumentos que podem ser utilizados pelos cidadãos na hora de exigir o bom cumprimento dos direitos pelas autoridades competentes. Rede Mobilizadores – O que é cidadania? Quais os princípios básicos para bem exercê-la? Juíza Luciana Leal Halbritter: O conceito que se lê na Constituição se confunde com o conceito de titular de direitos políticos, sendo cidadão o nacional (brasileiro nato ou naturalizado) titular do direito de votar e de ser votado. Em um sentido mais amplo, porém, é o indivíduo ser titular de direitos e deveres, e, sobretudo, dotado de um estado de consciência sobre seu papel político e como pessoa na comunidade em que vive. Engloba viver com dignidade, respeitar a dignidade do outro, estar comprometido em nada fazer para violar essa dignidade e, mais, em se esforçar para fazê-la valer. A participação política do cidadão – não apenas votando, mas acompanhando os atos daqueles que ajudou a eleger, fazendo uso das ouvidorias dos órgãos públicos – é o principal meio de fazer valer sua dignidade, condição essencial do cidadão. E dignidade significa ter acesso à moradia adequada, alimentação balanceada, educação de qualidade, atendimento médico de qualidade e em tempo adequado ao atendimento necessário, transporte público organizado, saneamento básico, coleta domiciliar de lixo, acesso à informação verdadeira, confiável, sobre a gestão dos bens públicos. Rede Mobilizadores – O que é bem comum? O que o Estado deve fazer para assegurá-lo? Juíza Luciana Leal Halbritter: Bem comum é o bem de todos, garantindo-se por meio da atuação estatal de que cada indivíduo possa, a seu modo, dentro de suas ambições e das possibilidades e oportunidades reconhecidas naquela sociedade, exercer atividades em benefício próprio ou de seus próximos para o seu crescimento moral, cultural, físico, e em todos os demais aspectos de sua personalidade. Para assegurá-lo, o Estado deve administrar corretamente o dinheiro público, sempre pensando nos interesses e direitos do povo, e não dos governantes. Os bens públicos são assim chamados porque são de todos, são de cada cidadão de uma dada sociedade. E assim devem ser tratados e administrados pelos governantes. Prestando-se contas de tudo quanto é feito, ouvindo-se as reivindicações populares, e respeitando-se as normas constitucionais e regras legais pertinentes. 17 Rede Mobilizadores – Qual a importância de o cidadão conhecer a Constituição Federal e as competências administrativas da União, estados e municípios? Juíza Luciana Leal Halbritter: Conhecendo a Constituição, e o que compete a cada ente federativo (união, estados e municípios), o cidadão, primeiramente, não se deixará enganar com promessas políticas muitas vezes impossíveis de serem cumpridas. Por outro lado, saberá exatamente a quem recorrer quando constatar algum tipo de descumprimento dos deveres dos entes federativos ou seus administradores, e o que exigir de cada um. Rede Mobilizadores – O que são e quais são os direitos fundamentais? E os deveres de cada cidadão? Juíza Luciana Leal Halbritter: Direitos fundamentais, também conhecidos como direitos humanos, são direitos inerentes ao ser humano por sua condição de pessoa, indistintamente de quem seja. São direitos que, por se referirem ao quê da própria essência do ser humano, foram elevados – no Direito brasileiro – à condição de direito constitucional (previsto na Constituição) irrevogável (pois não podem ser excluídos da Constituição) e irrenunciável (o indivíduo não pode dele abrir mão). São: o direito à vida, à moradia, à dignidade humana, à saúde, à educação, ao acesso à Justiça, à honra, e várias outras garantias, inclusive de ordem penal. Os deveres, por sua vez, decorrem das próprias relações entre as pessoas na sociedade em que convivem. O principal deles, a meu ver, é o dever de não causar dano. Significa que um indivíduo, um cidadão, não pode agir de modo a causar dano a outrem, devendo respeitar seus direitos. Na esfera política, são alguns exemplos: alistar-se como eleitor, facultativamente dos 16 aos 18 anos e obrigatoriamente a partir dos 18; votar em todas as eleições, dos 18 aos 70 anos (quando o voto passa a ser facultativo), salvo justificativa a ser apresentada no prazo legal em caso de impossibilidade; realizar o alistamento militar aos 18 anos para homens. Rede Mobilizadores – No Brasil muitos cidadãos ainda não têm assegurados seus direitos fundamentais. O que uma pessoa pode fazer quando, por exemplo, não consegue matricular um filho numa escola pública ou não consegue vaga num CTI de um hospital público? Juíza Luciana Leal Halbritter: O modo mais eficaz de assegurar um direito como estes que esteja sendo violado é se socorrer do Judiciário, entrando com uma ação contra o ente que está descumprindo o dever correspondente a estes direitos. Pode ser o Estado, o Município ou a União, ou algum outro ente público, como uma autarquia ou empresa pública. Em qualquer caso, deve o cidadão procurar a Defensoria Pública*1 de seu estado (para causas contra o estado ou o município) ou a Defensoria Pública Federal, de modo que se inicie um processo com um pedido liminar, 18 baseado na urgência-emergência da situação a ser tutelada. Assim, haverá rapidamente uma decisão judicial que irá assegurar ao cidadão, cujo direito foi violado, o reparo ou o cumprimento do dever correspondente. Também os escritórios-modelo das instituições universitárias e outras entidades de defesa de direitos possuem serviços de assistência jurídica gratuita ou a valores módicos, e são também ótimas opções para obter orientação e assistência jurídica, lembrando que a assistência de advogado é obrigatória nos processos judiciais. Rede Mobilizadores – Que recursos um cidadão deve utilizar para comprovar que um direito foi violado? Juíza Luciana Leal Halbritter: Documentos, como contratos, declarações escritas, cartas, e-mails, escrituras, fotografias, são bastante úteis. Testemunhas (pessoas sem relação familiar, ou de amizade íntima, ou inimizade com as pessoas envolvidas na situação que se pretende comprovar) que tenham presenciado ou participado dos fatos a serem comprovados. Por isso, é importante armazenar, ainda que em via digital, os comprovantes de tudo quanto se faça. Para um processo judicial a prova é muito importante, pois a regra é que cada um comprove o que alega, e, se assim não faz, a pessoa pode até não ter o seu direito reconhecido, por deixar de comprovar os fatos que lhe servem de fundamento. Rede Mobilizadores – Quando um cidadão deseja orientação sobre como proceder em relação a uma questão legal, que órgão pode procurar? Juíza Luciana Leal Halbritter: As principais instituições que podem dar assistência ao cidadão, orientando-o, são a Defensoria Pública, o Ministério Público e a Ordem dos Advogados do Brasil. Os endereços das instituições são facilmente localizáveis através da internet, ou mesmo por meio das listas telefônicas de cada município. Rede Mobilizadores – O que é a Defensoria Pública? Quando é possível acioná-la e o que é preciso para isso? Juíza Luciana Leal Halbritter: Defensoria Pública é uma estrutura de órgãos públicos do Poder Executivo que substitui o advogado quando a pessoa tem um direito violado, pelo que precisa de representação diante da Justiça ou de outros órgãos, mas não pode pagar por esta assistência. Advogados concursados fazem essa assistência gratuita, atendendo, propondo demandas e acompanhandoos processos até seu final. Já o antigo Juizado de Pequenas Causas, hoje conhecido como Juizados Especiais, são órgãos do Poder Judiciário em que as pessoas que se sentem lesadas em questões de menor complexidade (causas em que o valor discutido é de até 40 19 salários mínimos, e que não precisem de prova pericial para serem decididas). Lá, as questões são levadas para serem decididas por um juiz. Nas causas de até 20 salários mínimos, o cidadão pode procurar o juizado para apresentar suas reclamações sem estar assistido por advogado. Nas causas acima desse valor o advogado é necessário. Não há custos para a propositura de uma ação em sede de Juizado Especial Cível, que é muito útil, por exemplo, para resolver questões de vizinhança ou reclamações sobre fornecedores. Rede Mobilizadores – E o Ministério Público? Quando ele pode ser acionado e o que é preciso para isso? Juíza Luciana Leal Halbritter: O Ministério Público (MP)*2 também é um órgão do Poder Executivo, que tem uma atuação diferente da Defensoria Pública. Ele não atua representando uma pessoa, em nome dela, como seu advogado. Ao contrário, ele atua nas causas em que há interesse público envolvido, ou mesmo antes que haja processo, firmando Termos de Ajustamento de Conduta (TAC)*3, por exemplo. É importante ter em mente que o interesse público existe quando o bem afetado pertence a um dos entes federativos, quando direitos fundamentais são violados, quando direitos de menores ou idosos são ameaçados ou violados. Sempre que houver uma situação deste tipo, portanto, o MP pode ser acionado, por meio de sua ouvidoria – que recebe reclamações, comunicações de crimes e violações de direitos, as apura e dá o encaminhamento necessário dentro da estrutura do próprio Ministério Público – ou em suas diversas promotorias, como de tutela do consumidor, do meio ambiente, ou eleitoral. Compete, porém, ao próprio promotor de justiça avaliar se é caso de sua intervenção. Se não for, orientará o cidadão a como proceder. Rede Mobilizadores – E quando a violação do direito atinge toda uma comunidade, como, por exemplo, a falta de saneamento básico? O que os moradores podem fazer? Juíza Luciana Leal Halbritter: O ideal é que procurem o Ministério Público, que poderá avaliar a situação com a isenção e o conhecimento necessários, optando aí, sim, pelo encaminhamento ideal da questão. Rede Mobilizadores – O que é a ação civil pública? E a ação civil popular? Em que situações elas podem ser usadas? Juíza Luciana Leal Halbritter: Ação civil pública é o instrumento legal de tutela dos interesses públicos ou coletivos. Há vários legitimados previstos em lei, como o Ministério Público, por exemplo, mas não pode ser proposta diretamente pelo cidadão. O melhor caminho é que o indivíduo realmente busque orientação, encaminhando a questão ao MP, que avaliará se é caso de ação civil 20 pública, ou da utilização de qualquer outro instrumento processual mais adequado ao caso. Já a ação popular pode ser proposta por qualquer cidadão no gozo de seus direitos políticos, e visa proteger o patrimônio público de atos de improbidade ou de má gestão. Rede Mobilizadores – Qual a importância de instrumentos como o Código de Defesa do Consumidor, o Estatuto da Criança e do Adolescente e o Estatuto do Idoso? Esses instrumentos têm ajudado a diminuir as violações de direitos? Por quê? Juíza Luciana Leal Halbritter: Estes códigos e estatutos são leis que regulam de maneira diferenciada os direitos de certos grupos sociais os quais, por suas características, são mais vulneráveis e, por isso, mais suscetíveis a sofrerem abusos e discriminações. Estabelecem direitos específicos de proteção ao consumidor, ao idoso, à criança e ao adolescente. Por estabelecerem direitos, não propriamente são instrumentos que reduzem as violações. Como leis, preveem, contudo, ferramentas que permitem assegurar maior proteção a estes grupos específicos. Mas o uso de tais ferramentas pressupõe certa cultura dos cidadãos, que, conhecendo seus direitos, procurem orientação e o cumprimento regular de seus direitos. Rede Mobilizadores – Muitas entidades oferecem serviços de assessoria jurídica gratuita e também algumas universidades contam com escritório modelo. Qual a importância desses instrumentos e como e quando eles podem ser usados? Juíza Luciana Leal Halbritter: A assessoria jurídica gratuita prestada por entidades como associações, ONGs e escritórios-modelo de universidades públicas e privadas prestam um grande serviço à sociedade, à medida que esclarecem dúvidas, dão orientação, e até representam as pessoas assistidas em processos judiciais e administrativos. Sempre que o cidadão se sentir lesado em um direito, ou mesmo tiver dúvidas a respeito de seus direitos e deveres, e de como agir em uma determinada situação, e não tiver condições financeiras de contratar um profissional, deve procurar instituições ou entidades que lhes orientem e adotem as providências cabíveis. Lembrando, é claro, que a avaliação da existência ou não de um direito a ser tutelado e da melhor forma de fazê-lo é do profissional que o atender. Rede Mobilizadores – Além de buscar valer seus direitos fundamentais, os cidadãos devem acompanhar a atuação de seus representantes nos poderes Executivo e Legislativo. Como eles podem fazer isso? Quais os principais canais para o controle social das ações dos governantes e dos parlamentares? 21 Juíza Luciana Leal Halbritter: Além da mídia (jornais, revistas, rádio, tevê), em que os cidadãos podem se atualizar e conhecer os fatos recentes envolvendo a atuação dos poderes do Estado e de seus representantes, os sites oficiais são melhores e principais fontes de informação de toda a atividade estatal. Nos sites da Câmara dos Deputados*4 e do Senado Federal*5 é possível acompanhar os projetos de lei em andamento. No site da Presidência*6, é possível se informar sobre toda a atividade executiva do estado, os programas de governo, e inclusive acessar toda a base legislativa federal de modo confiável. No site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE)*7 é possível acompanhar todo o processo eleitoral, bem como o histórico dos candidatos, as notícias mais recentes sobre as eleições e, de lá, acessar os sites dos Tribunais Regionais Eleitorais. Todos os órgãos abaixo relacionados possuem ouvidorias que recebem ligações, correspondências e e-mails dos cidadãos, respondendo as suas dúvidas, sugestões e reclamações: *1 - Defensoria Pública: http://www.dpu.gov.br/ *2 – Ministério Público Federal: http://www.pgr.mpf.gov.br/ *3 – Termo de Ajustamento de Conduta (TAC): É um instrumento pelo qual o denunciado se compromete a sanar uma irregularidade. Assim, uma empresa que poluiu um rio, por exemplo, pode assinar um TAC se comprometendo em recuperar o local degradado e tomar providência para que o fato não mais ocorra. *4 – Câmara dos Deputados – http://www2.camara.gov.br/ *5 – Senado Federal – http://www.senado.gov.br/ *6 – Site da Presidência – http://www2.planalto.gov.br/ *7 – Tribunal Superior Eleitoral (TSE) – http://www.tse.jus.br/ 8 - Portal para participação dos cidadãos nas atividades do senado - https://www12.senado.leg.br/ecidadania Disponível em: http://www.mobilizadores.org.br/entrevistas/o-que-e-preciso-para-exercer-bem-os- direitos-de-cidadania/. Acesso em: 17 jun. 2019 (adaptado). 22 E AGORA, BRASIL? SEGURANÇA PÚBLICA Um diagnóstico da violência no Brasil, os problemas e as propostas vindas de pesquisas, dados nacionais e internacionais e análises. Sinais de confrontos no Complexodo Alemão Foto: Domingos Peixoto / Agência O Globo Propostas para reduzir a violência A Folha consultou 42 estudos sobre diversos aspectos da Segurança Pública e da Justiça Criminal Brasileiras, examinou ainda ao menos três bases de dados e entrevistou 28 especialistas para se aproximar dos denominadores comuns no enfrentamento da violência e da criminalidade. 1 - Coordenar instituições da segurança pública em nível federal e estadual Impacto Alto, pois otimiza os recursos existentes e evita redundâncias, diminuindo o tempo de resposta. Prazo Curto. O quê? Articular Polícia Militar, Polícia Civil, Ministério Público, Defensoria Pública, Tribunal de Justiça, sistema prisional, assistência social e prefeituras gera eficiência, assim como coordenar, numa instância nacional de cooperação, agentes de segurança federais, estaduais e municipais. Como? Por meio de lei que estabeleça instâncias e mecanismos de cooperação nacional e estaduais. Na falta de uma lei, convênios poderiam ser estabelecidos dentro dos estados e entre eles. 23 2 - Integrar bancos de dados e criar indicadores e métricas para avaliação de programas e políticas Impacto Alto, pois estabelece denominador comum, hoje inexistente, para geração de informações fundamentais ao planejamento do setor. Prazo Médio. O quê? Criar sistemas nacionais de dados sobre os crimes e seus autores, sobre a circulação de armas e sobre características balísticas dos disparos facilita o trabalho policial e a elaboração de políticas pública baseadas em evidências. Um instituto nacional, a exemplo do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), que padronize registros e integre dados, facilitaria essa gestão. Como? Depende de iniciativa e verba da União. Pode requerer lei que crie, defina e dê orçamento para o sistema de dados e o instituto nacional que os coordene. 3 - Criar sistema de metas de elucidação de crimes violentos por estado Impacto Alto, pois, prioriza a apuração de crimes mais graves, ainda que dependa de outras variáveis, como formação de policiais e protocolos de investigação. Prazo Médio a longo. O quê? Incentivar o incremento da baixa taxa de elucidação de homicídios do Brasil (15% em média) pode reverter à sensação de impunidade e a desconfiança em relação às instituições de segurança pública. Fixar critérios de repasses de verbas federais tendo indicadores e metas como contrapartida é um dos caminhos possíveis. Como? União é indutora e precisa estabelecer as metas e seus parâmetros (a partir de indicadores), monitorar seu cumprimento e dispor da verba para os repasses. 4 - Capacitar as polícias para a gestão de informação e análise criminal e voltá- las para resolução de problemas Impacto Alto porque torna as polícias eficientes e flexíveis. Prazo Médio. O quê? A formação policial hoje no país é desigual, assim como o uso de dados para orientação dos trabalhos e de tecnologia para facilitá-lo. Há casos em que existem instrumentos disponíveis, mas ninguém sabe operá-los. Como? União deve criar base curricular nacional para as polícias 24 que privilegie estas capacidades; academias de polícia estaduais precisam adotar esses novos padrões e doutrinas de policiamento, focando na resolução de problemas. 5 - Implementar políticas para juventude, reduzir a evasão escolar e diminuir vulnerabilidades Impacto Alto, pois diminui a porta de entrada de jovens no circuito da violência, criando alternativas a ela. Prazo Longo. O quê? Jovens pobres e negros são as principais vítimas de homicídios, mas também maioria entre os presos. Políticas sociais voltadas para os jovens, com foco na redução da evasão escolar, têm se provado eficazes na reversão desse quadro. Investimento em educação e redução das desigualdades, mesmo no longo prazo, é considerado redutor da criminalidade. Como? Estados e municípios investem em estratégias de prevenção da evasão escolar e de recuperação de jovens que abandonaram a escola, além de criar programas de acompanhamento de jovens tidos como problemáticos e daqueles egressos do sistema de medidas socioeducativas. 6 - Aplicar penas alternativas e reservar prisão para os crimes violentos Impacto Alto, pois retira pessoas das prisões e do poder das facções, garantindo punição proporcional ao delito. Prazo Curto. O quê? É crescente o entendimento de que prisão deve ser reservada a criminosos violentos. Delitos menos graves, como furtos ou pequeno tráfico de drogas, podem ser punidos com penas alternativas, como prestação de serviços comunitários. Como? União e estados investem em sistemas de monitoramento eletrônico e em sua fiscalização, e Conselho Nacional de Justiça e Conselho Nacional do Ministério Público definem regras para a implementação dessas medidas cautelares e para sua fiscalização, formando redes de ONGs e empresas que acolham estes serviços prestados. 7 - Eliminar subjetividade na aplicação da Lei de Drogas Impacto Alto, pois 28% dos presos brasileiros cumprem pena por tráfico de drogas. Prazo Médio a longo. O quê? Por não estabelecer quantidades para diferenciar uso de tráfico, a Lei de Drogas aumentou a condenação por tráfico, inclusive de usuários. Mais complexa é a discussão sobre a legalização progressiva das drogas, iniciada em unidades federativas dos EUA, no Uruguai e no Canadá. Embora vozes de peso levantem o tema, as circunstâncias políticas trabalham para 25 interditá-lo no Brasil. Como? Por meio de nova lei que defina critério quantitativo realista de diferenciação ou se Supremo Tribunal Federal julgar caso que crie jurisprudência sobre o tema. 8 - Elevação de penas para crimes violentos e redução de sua progressão de regime Impacto Alto, se acompanhar mudança na Lei de Drogas e prioridade na investigação de crimes violentos; médio, se houver só maior investigação de crimes violentos; baixo, se for medida isolada. Prazo Médio a longo. O quê? O simples aumento de penas tem pouco ou nenhum efeito sobre a criminalidade. É a certeza de punição que torna a prática do crime um mau negócio. No entanto, penas muito baixas e excesso de atenuantes podem ter impacto negativo se contribuírem para a sensação de impunidade. Como? Com alterações no Código Penal, Código de Processo Penal e Lei de Execuções Penais. 9 - Desmilitarização da polícia Impacto Incerto. Prazo Longo. O que? A desmilitarização da polícia no Brasil é uma mudança estrutural pensada para superação dos problemas atuais. Não é, contudo, garantia de solução. Polícias desmilitarizadas ainda podem ser violentas, corruptas e ineficazes. O caminho mais pragmático é promover melhorias incrementais dentro do atual modelo. Como? Por meio de Projeto de Emenda Constitucional (PEC). 10 - Elaborar e implementar protocolos de uso da força para as polícias com metas e mecanismos de avaliação Impacto Alto, uma vez que as polícias brasileiras hoje são responsáveis por 7% dos homicídios do país. Prazo Curto. O quê? O uso excessivo da força letal promove o contexto de guerra entre policiais e criminosos, vitimando ambos. Em 2014, a polícia britânica matou 1 pessoa; a sul-africana, 331; a norte-americana, 1.000; a brasileira, 3.022. Programas que retiram das ruas policiais envolvidos em trocas de tiros e oferecem assistência psicológica já se mostraram eficazes. Como? As próprias polícias precisam criar esses protocolos e o Ministério Público deve fiscalizar seu cumprimento. 26 11 - Efetivar o controle externo da atividade policial pelo Ministério Público (MP) e por instância federal Impacto Alto.Prazo Médio. O quê? O MP é responsável constitucional pelo controle externo das polícias e precisa criar comissões para efetivar essa função, com foco na letalidade e na corrupção policiais. Na esfera nacional, uma inspetoria civil para fiscalizar as polícias e uma ouvidoria melhorariam este controle. Como? O Ministério Público precisa criar mecanismos de fiscalização, garantindo a investigação de desvios. A União estabelece estrutura, procedimentos e dá verba para inspetoria e ouvidoria. 12 - Fim do Estatuto do Desarmamento Impacto Negativo. Prazo Curto. O quê? Há amplo entendimento entre especialistas nacionais e internacionais sobre a necessidade de conter a disponibilidade de armas. Quanto mais armas em circulação, maior a tendência de que ocorram crimes e mortes. Como? Legislativo revoga o estatuto antes mesmo de terem sido implementados seus dispositivos, como a integração do Sinarm (cadastro de porte de armas por civis, controlado pela Polícia Federal) e do Sigma (cadastro de produção de armas e de colecionadores de armas, controlado pelo Exército), nunca feita. 13 - Redução da maioridade penal Impacto Negativo. Prazo Curto. O quê? A redução da maioridade penal é tema recorrente, em especial quando ocorre crime chocante cometido por adolescente. Países adotam diferentes idades. A redução no atacado levaria ao aumento da população carcerária, facilitando o recrutamento de jovens por facções e negando-lhes a oportunidade de reinserção social - a experiência da prisão é tida como "criminogênica". Arranjos como o aumento do tempo de internação em medida socioeducativa para determinados crimes poderia, ao contrário, ter algum efeito dissuasório, portanto, positivo. Como? Lei reduziria a idade em que indivíduos podem ingressar no sistema prisional. Disponível em: https://temas.folha.uol.com.br/e-agora-brasil-seguranca-publica/como- avancar/propostas-para-reduzir-a-violencia.shtml. Acesso em: 19 jun. 2019 (adaptado). 27 A ORIGEM E ASCENÇÃO DAS MILÍCIAS Alexandre Versignassi Robber holding a gun at abandoned building. Low key photo and selective focus. criminality concept. (seksan Mongkhonkhamsao/Getty Images) “Milícia” é um eufemismo para “máfia”. São os moradores das áreas controladas por milícias. Uma máfia formada por ex-policiais, policiais na ativa, policiais expulsos, carcereiros e leões de chácara em geral que se mostrem leais ao sistema e não vomitem depois de cortar a cabeça de alguém a mando dos chefes. O serviço que uma milícia presta é o de segurança. Num primeiro momento, segurança contra a ação de bandidos comuns. Num segundo, segurança contra a ação da própria milícia. As milícias são as grandes suspeitas pela morte de Marielle Franco. Em outro assassinato, o da juíza Patrícia Acioli, em 2011, não se trata de mera suspeita. A magistrada era conhecida por condenar bandidos fardados com o mesmo rigor com que se condena bandidos não fardados. Terminou executada com 21 tiros. Onze Policiais Militares (PMs) foram condenados. Vamos entender melhor de onde veio essa máfia, e como os tentáculos dela chegaram à política. 28 Grupos de extermínio A raiz das milícias está nos grupos de extermínio – gangues de policiais e ex-policiais que passaram a vender serviços de “proteção privada” a comerciantes na década de 1960. Eram assassinos de aluguel que agiam sob as bênçãos da ditadura militar. Os generais, afinal, usavam os serviços desses grupos para caçar “subversivos”, ou seja, qualquer um que representasse uma ameaça ao seu poder. O fim da ditadura não acabou com os grupos de extermínio. Tanto que a Chacina da Candelária, em 1993, foi obra de um deles. Atiradores dispararam contra 60 crianças e adolescentes que dormiam do lado de fora da Igreja da Candelária, no centro da cidade do Rio de Janeiro, num atentado que terminou com oito mortos. Três PMs acabaram condenados, todos com penas superiores a 200 anos. Nota: nenhum passou muito tempo preso. O último deles saiu da cadeia faz tempo, em 2012. No começo do século 21, esses grupos sofisticaram sua operação. Em vez de agir meramente como mercenários, tomaram o controle de regiões carentes da cidade. Tornaram-se um Estado paralelo, com exército próprio. Consolidavam-se, assim, como milícias propriamente ditas. Elas começaram matando e repelindo traficantes. Para demonstrar seu poder, adotaram justamente à estratégia dos antigos grupos de extermínio: largar na rua os corpos daqueles que abatiam. Na prática, substituía-se um crime organizado por outro. Mas, ao prover uma paz aparente, em contraste com a insegurança ainda maior nos territórios do tráfico, as milícias conseguiram consolidar seus domínios, principalmente na Zona Oeste do Rio. Em troca, passaram a cobrar taxas sobre vários setores da economia local: o de energia (botijões de gás), o de entretenimento (gatonet), o de transporte (vans de lotação), o de imóveis (tomando terrenos de moradores e alugando para lixões clandestinos). Tudo isso mais o velho serviço mafioso de proteção. Passaram a cobrar coisa de R$ 10 mil por mês de pequenas empresas para que não fossem assaltadas, não tivessem seus empregados atacados nem seus caminhões roubados. No fim, as milícias acabaram formando uma corporação multimilionária à margem da lei. Para se ter uma ideia: só com o que elas extorquem dos motoristas de lotação nos bairros de Campo Grande e Santa Cruz, na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro, de acordo com o Ministério Público, as milícias tiram R$ 27 milhões por mês. Acordos com o tráfico Com o tempo, a linha que dividia milícia e tráfico ficou mais tênue. Várias milícias passaram a oferecer proteção para traficantes, contra a ação de grupos rivais, e a lucrar elas também com o comércio de cocaína. De acordo com especialistas, a facção com mais acordos com as milícias é o 29 Terceiro Comando Puro, que controla o complexo de Acari, na Zona Norte do Rio de Janeiro – o mesmo onde a vereadora Marielle Franco denunciava abusos policiais. O Comando Vermelho (CV) também estaria na lista de parceiros. Em 2015, o jornal O Dia relatou que uma milícia tinha vendido o Morro do Jordão, em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, para o CV. A facção teria pagado R$ 3 milhões para instalar suas bocas de tráfico ali. “Esses paramilitares podem criar uma nova forma de negócio. Tomar comunidades e vendê-las. Passar o ponto”, disse à época o ex-oficial do Bope Paulo Storani, hoje um sociólogo especializado em segurança pública. O perfil das milícias também está mudando. 42 dos 143 milicianos presos em 2010 eram PMs da ativa. Em 2016, essa proporção caiu para dez PMs da ativa entre 155 milicianos presos. Uma tradição miliciana, porém, segue firme: a infiltração na política. Além de lançar candidatos milicianos, eles influem em todo o processo eleitoral. Nas eleições municipais de 2016, o jornal O Globo investigou que milicianos cobravam uma licença para propaganda política e comícios em áreas dominadas. Também selavam acordos de distribuição de cargos para milicianos, no caso de vitória. Ao se vincular a políticos, em vez de apresentar candidatos próprios, as milícias teriam a vantagem dupla de se instalar no poder público, mas sem mostrar a sua cara. O que nos resta Milicianos, traficantes, políticos parasitas. Essa fauna forma um enclave de barbárie na segunda maior metrópole do País (e não só nela). Um enclave que não respeita os valores mais básicos da civilização, a começar pelo direito à vida, que foi tirado de Marielle Franco em 14 de março de 2018. A vereadora lutava contra o banditismo fardado, tal como PatríciaAcioli. Só que sair desse episódio de terror vendo todo Policial Militar como um miliciano é tão obtuso quanto achar que todo morador de favela é ladrão, tão acéfalo quanto bradar que Marielle Franco “defendia bandido”. Os policiais honestos são tão vítimas dessas máfias quanto os cidadãos das comunidades infestadas pelo crime. O fato é que existe um conflito sério em andamento. E ele só vai acabar se a sociedade for tão dura contra o crime quanto o crime é duro contra a sociedade. Tal dureza, porém, só faz sentido se for usada com tolerância zero a abusos de poder por parte das autoridades, porque esse mesmo abuso é o que deu origem à máfia das milícias. Disponível em: https://super.abril.com.br/sociedade/a-origem-e-a-ascensao-das-milicias/. Acesso em: 18 jun. 2019. 30 15 DE JUNHO: DIA MUNDIAL DE CONSCIENTIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA CONTRA A PESSOA IDOSA José Luiz Telles O dia 15 de junho marca o Dia Mundial de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa. A data foi instituída em 2006, pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pela Rede Internacional de Prevenção à Violência à Pessoa Idosa. O objetivo da data é criar uma consciência mundial, social e política da existência da violência contra a pessoa idosa, e, simultaneamente, disseminar a ideia de não aceitá-la como normal. Confira a íntegra da Nota Pública divulgada pelo Conselho Nacional dos Direitos do Idoso: PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA - SECRETARIA ESPECIAL DOS DIREITOS HUMANOS 15 de junho: Dia Mundial de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa • O Conselho Nacional dos Direitos do Idoso, órgão superior de natureza e de liberação colegiada, permanente, paritário e deliberativo, integrante da estrutura regimental da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, vem publicamente externar à sociedade brasileira, às instituições governamentais e não governamentais, às lideranças municipais e estaduais, aos grupos e demais instâncias onde se reúnem pessoas idosas nos municípios que compõem nossas unidades federativas a importância de se viabilizar, no âmbito de suas respectivas competências e esferas de atuação, ações relativas à conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa. • A Organização das Nações Unidas (ONU) e a Rede Internacional de Prevenção à Violência à Pessoa Idosa declararam o dia 15 de junho como o Dia Mundial de Conscientização da Violência 31 contra a Pessoa Idosa, tendo sido celebrado pela primeira vez em 2006, com realização de campanhas por todo o mundo. A violência contra a pessoa idosa é e deve ser entendida como uma grave violação aos Direitos Humanos. • O principal objetivo do dia 15 de junho é criar uma consciência mundial, social e política, da existência da violência contra a pessoa idosa, além de, ao mesmo tempo, disseminar a ideia de não aceitá-la como normal. Na esteira deste movimento mundial deve-se incentivar a apresentação, o debate e o fortalecimento das mais diversas formas da prevenção. • Neste sentido, é mister registrar a satisfação deste Colegiado Nacional em tomar conhecimento das ações que já vem sendo desenvolvidas em diversos municípios brasileiros, bem como recomendar a todos os conselhos estaduais dos direitos do idoso que envidem esforços para a mobilização dos conselhos municipais, organizações da sociedade civil e mesmo os órgãos governamentais no âmbito da sua esfera de atuação para que haja manifestações, atos públicos e atividades que tragam o tema da violência contra a pessoa idosa como um tema de visibilidade pública. • Por fim, convém recomendar que, sempre que possível, todos os eventos e atividades desenvolvidas para a conscientização da violência procurem abordar a necessidade de articulação em rede para o enfrentamento do fenômeno. Sabe-se que a construção efetiva de uma rede somente pode se dar em torno de situações concretas, como é o caso da violência. José Luiz Telles Presidente do Conselho Nacional dos Direitos do Idoso Secretaria Especial dos Direitos Humanos / Presidência da República Disponível em: https://www.muvucapopular.com.br/curiosidades/15-de-junho-dia-mundial-de- conscientizacao-da-violencia-contra-a-pessoa-idosa/20150. Acesso em: 21 jun. 2019. 32 FEMINICÍDIO: O QUE É, TIPOS E EXEMPLOS! Renata Celi Os números de feminicídio aumentam a cada ano em nosso país, que lidera o ranking mundial de mortes contra mulheres e violência doméstica das mais variadas formas. Além disso, todos os dias, um novo crime dessa categoria é estampado nas páginas dos jornais, fato que é evidenciado pela alta taxa de assassinatos no Brasil, sendo 4,8 para cada 100 mil mulheres, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), 15 mulheres são assassinadas por dia, em média, e os agressores, em sua grande maioria, são os seus próprios parceiros, familiares ou pessoas do convívio. A omissão dos que presenciam cenas de violência e não fazem nada ajuda a aumentar essa estatística. A antiga frase “em briga de marido e mulher não se mete a colher” caiu por terra, sendo “Denuncie!” a nova palavra de ordem. O conceito de feminicídio É classificado como feminicídio quando ocorre um assassinato e a causa está diretamente relacionada com o gênero — em outras palavras, é o homicídio feminino. Quase todos os crimes contra mulheres estão relacionados com a questão do ódio baseado no gênero, poucos são os casos que têm por motivação outros fatores. Grande parte dos motivos estão relacionados com o machismo e o sentimento de posse e de autoridade que os homens tentam impor às mulheres que fazem parte, de alguma maneira mais íntima ou não, do seu círculo social. Alguns dos motivos são: ciúmes, sensação de posse, desprezo, sentimentos de perda, pensar que a mulher lhe deve submissão e obediência ou que pode controlá-la. A frase icônica para esses tipos de crimes se resumem em “a mulher é morta simplesmente por ser mulher”. 33 Desse modo, o feminicídio se caracteriza pelas seguintes situações: agressões físicas; agressões psicológicas; agressões sexuais; cárcere privado; estupro; tráfico de mulheres; espancamento; mutilações; escravidão sexual; perseguição; crimes de honra; torturas; misoginia; abusos. Feminicídio no Brasil Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a taxa de feminicídio do Brasil é a 5ª maior do mundo — e ela se torna ainda maior quando se trata de mulheres negras e de minorias étnicas. O atual Ministério da Mulher da Família e dos Direitos humanos (MMFDH), antigo Ministério dos Direitos Humanos, é o responsável no Governo Federal quando o assunto é violência contra a mulher. Faz parte desse ministério a Central de Atendimento à Mulher em violência que tem o “ligue 180”, número no qual são feitas as denúncias de agressões às mulheres. Essa linha funciona 24 horas todos os dias, incluindo feriados e fins de semana para denúncias de violência contra a mulher que são encaminhadas às Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher, o DEAM. Taxa de feminicídio no Brasil De janeiro a julho de 2018, a Central de Atendimento à Mulher registrou: 27 feminicídios; 547 tentativas de feminicídios; 51 homicídios; 118 tentativas de homicídios. Nesse período, os relatos de violência chegaram a 79.661, sendo o maior quantitativo relacionados à violência física (37.396) e psicológica (26.527). No total, em 2018 foram registradas 92.323 denúncias. Sendo que os principais tiposde agressões em 2018 foram: Violência física 30.918; Tentativa de feminicídio 7.036; Violência psicológica 23.937; Violência sexual 4.491; Violência doméstica e familiar 15.803; Violância moral 3.960. 34 Tipos de feminicídio Há classificações entre os tipos de feminicídio, isto é, infelizmente as mulheres são vítimas sob diferentes perspectivas, podendo essas modalidades de violência se manifestarem de forma simultânea ou isolada. Violência doméstica É o abuso físico e emocional exercido pelo agressor — geralmente o homem de convívio íntimo da mulher, como marido, namorado, noivo etc. — para com a sua vítima. Entre a violência doméstica, ainda cabe destacar outras variações: Violência emocional É a tortura psicológica, que consiste em ameaças, humilhações em público e na presença de familiares, menosprezar, fazer a vítima se sentir inútil, incapaz de ser feliz e de ser autossuficiente. Violência social Quando a mulher é impedida de manter contato social, seja com a família, seja com os amigos. Um dos comportamentos do agressor é, por exemplo, controlar as ligações telefônicas, o uso do celular e das redes sociais da vítima. Violência física Ocorre quando é feita a agressão física propriamente dita, ou seja, empurrar, socar, esmurrar, golpear, estrangular e queimar. Violência financeira Quando o agressor ameaça retirar o apoio financeiro como forma de manter o controle sobre a mulher. Fiscalizar, ordenar e monitorar os gastos de forma abusiva também é classificado como um tipo de violência doméstica. 35 Violência sexual Pressionar a mulher a protagonizar atos sexuais que ela não queira, forçando-a a ter relações sexuais desprotegidas, bem como obrigá-la a se relacionar com outras pessoas também são atos caracterizados como uma forma de feminicídio. É importante destacar que as vítimas de violência doméstica não têm um perfil em comum, ou seja, não há um padrão entre elas. Isso quer dizer que elas podem ser qualquer tipo de mulher: pobre ou rica, negra ou não negra, estudada ou analfabeta, religiosa ou não. Com a Lei Maria da Penha, que é a Lei 11.340 de 2006, a proteção à mulher que sofre de violência doméstica aumentou, assim como as punições ao agressor que também se tornaram mais rigorosas. Maria da Penha é uma mulher real, que sofreu, durante 23 anos, vários tipos de violência doméstica por parte do então marido, incluindo tentativa de assassinato. Felizmente, ela sobreviveu, porém, as consequências dos atos do agressor a deixou paraplégica. Lei do feminicídio no Brasil A lei 13.104 de 2015 alterou o código penal do Brasil para incluir o feminicídio como uma forma de crime hediondo. Isto é, quando um crime for praticado contra uma mulher tendo como causa a razão da condição enquanto sexo feminino, o agressor responderá judicialmente por um crime de natureza hedionda. Sendo assim, A lei do feminicídio traz uma nova modalidade de homicídio qualificado. 36 Código Penal feminicídio Depois da lei 13.104 de 2015, o feminicídio faz parte do nosso código penal, e tal crime passa a fazer parte dos crimes hediondos, sendo a pena prevista para o homicídio qualificado de 12 a 30 anos de prisão. É preciso ficar atento ao quão difícil é para estas mulheres se desvincularem dos agressores, de fazerem a denúncia e de conseguirem a liberdade de uma maneira humana e justa. Portanto, fica clara a importância de se promover medidas que incidem na redução do feminicídio no mundo, visando extinguir qualquer tipo de violência contra o sexo feminino. Disponível em: https://www.stoodi.com.br/blog/2019/04/23/feminicidio-o-que-e/. Acesso em: 21 jun. 2019. SAIBA A DIFERENÇA ENTRE IMIGRANTE, MIGRANTE E REFUGIADO E AS DATAS DEDICADAS A ELES (Vic Hinterlang/ Shutterstock) No dia 27 de maio de 2019, foi divulgada no Vaticano a Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado 2019, que será celebrado no dia 29 de setembro de 2019. 37 O Dia Mundial dos Migrantes e Refugiados passa agora a ser celebrado no último domingo de setembro. A comemoração foi alterada de 14 de janeiro para esta nova data a pedido de várias Conferências Episcopais. Na mensagem deste ano o Papa, reforça que a resposta ao desafio das migrações pode ser resumida em quatro verbos: acolher, proteger, promover e integrar. A data foi originalmente instituída pelo Papa Pio X, em 1914 e, desde 1996, cita em seu nome oficial, além dos migrantes, também os refugiados. A Cúria Romana dispõe de um organismo próprio para tratar do assunto desde 1912, com o Ofício Especial para a Imigração, instituído por Pio X. Antes, era a Congregação para a Propagação da Fé que cuidava dos migrantes. A repartição ganhou grande impulso de Pio XII, que em 1952 publicou a constituição apostólica Exsul Familia, primeiro documento eclesial dedicado especialmente ao tema. Em 1970, Paulo VI deu mais autonomia ao órgão, tornando-o a Pontifícia Comissão para o Cuidado Espiritual dos Migrantes e Itinerantes, renomeado em 1988 como Pontifício Conselho para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes. Finalmente, no início de 2017, o organismo se tornou a Seção Migrantes e Refugiados, dentro do novo Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral. O fato curioso é que, em um movimento inédito, o Papa Francisco nomeou-se como responsável direto pela seção. Além do dia 29 de setembro próximo, outras datas recordam os migrantes e refugiados na esfera internacional e nacional, tanto na Igreja quanto em organismos da sociedade. O grande número de datas muitas vezes confunde as pessoas. Por isso, o A12 lista todas aqui, para você conferir sempre que precisar. A Organização das Nações Unidas (ONU) tem duas datas significativas, criadas no ano 2000: 18 de dezembro, que é o Dia Mundial do Migrante ou das Migrações; 20 de junho, o Dia Mundial do Refugiado. 38 No Brasil, no dia 25 de junho (ou no domingo que precede este dia), é celebrado o Dia do Migrante, data que foi instituída pela CNBB (Conferênica Nacional dos Bispos do Brasil). O dia é precedido pela Semana Nacional do Migrante, que em 2019 está na sua 34ª edição. O objetivo é mobilizar as comunidades em todo o Brasil para refletir sobre um tema relacionado à realidade da migração. Promovida pelo Serviço Pastoral dos Migrantes Nacional (SPM), a semana produz materiais de divulgação como cartazes, texto-base e um livro com sugestões de encontros. Outra data também é comemorada desde que foi criado um decreto, em 14 de novembro de 1957, quando o documento nº 30.128, assinado pelo então governador de São Paulo, Jânio Quadros, determinou o 1º de dezembro como Dia do Imigrante. Essa data foi escolhida para coincidir com o período do Advento, que significa "vinda, chegada". Porém, no Memorial do Imigrante, localizado na capital paulista, a festa acontece em 25 de junho, mesmo dia que foi instituído pela CNBB. Imigrante, migrante, refugiado. Qual a diferença? Imigrante é aquele que imigra, ou seja, aquele que entra em um país estrangeiro, com o objetivo de residir ou trabalhar. Portanto, o termo "imigração" é usado para a entrada de pessoas em um país estrangeiro, enquanto "emigração" significa o movimento de saída de pessoas de um país para morar em outro. Migração também significa um movimento, mas pode ser utilizado para descrever a mudança entre regiões. Ex: Eduardo migrou
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