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Pós-Graduação em Direito Ética e Deontologia Jurídica Vinícius Teodoro de Oliveira FAEL Diretor Executivo Marcelo Antônio Aguilar Diretor Acadêmico Francisco Carlos Sardo Coordenador Pedagógico MIguel de Jesus Castriani EDitorA FAEL Autoria Vinícius Teodoro de Oliveira Projeto Gráfico e Capa Katia Cristina Santos Mendes Programação Visual e Diagramação Katia Cristina Santos Mendes AtEnção: esse texto é de responsabilidade integral do(s) autor(es), não correspondendo, necessariamente a opinião da Fael. É expressamente proibida a venda, reprodução ou veiculação parcial ou total do conteúdo desse material sem autorização prévia da Fael. FAEL Rodovia Deputado Olívio Belich, Km 30 PR 427 Lapa | PR | CEP 83.750-000 FotoS DA CAPA Shutterstosk Todos os direitos reservados. 2015 Ética e Deontologia Jurídica 1. MORAL, ÉTICA E DEONTOLOGIA Vinícius Teodoro de Oliveira(*) A necessidade de adequação às regras de convivência foi entendida como imprescindí- vel tanto ao ser social quanto ao profissional. Com isso, houve necessidade de se estabelecer condutas éticas propostas em códigos escritos, ou seja, os manuais. Os temas abordados nesta disciplina são de grande relevância, pois irão nortear a fun- damentação e a prática pessoal. Isto porque a disciplina aqui chamada de Ética e Deontologia Jurídica se entrelaça com a vocação jurídica. Em outras palavras, a vocação enobrecida e bem compreendida é melhor aplicada. De outro lado, quando desprezada ou alienada, a linha vocacional torna- se obscura, adulterada ou danificada. Intenta-se com o presente artigo, que o lei- tor tenha êxito e possa enobrecer sua vocação agregando os conhecimentos aqui propostos. . . . . . . . . . . . . . . . . (*) Especialista em Direito Empresarial. Advogado atuante nas áreas empresarial, tributária e aduaneira. Foi instrutor do Tribunal de Ética da OAB/ PR. Docente em Cursos de Graduação e de Pós-Graduação. O objetivo inicial é de apresentar os con- ceitos dos temas essenciais à disciplina, a fim de definir e diferenciar cada um deles. É comum haver equívoco entre os concei- tos de ética, moral e deontologia, assim como reduzir os códigos de ética profissionais a códigos de conduta. Por este motivo, propõe- -se aqui a reflexão dos conceitos por diferentes teóricos, sem deixar de lado os exemplos prá- ticos que tanto contribuem para a elucidação da teoria. 1.1 Diferenças e aproximações entre os conceitos de moral, ética e deontologia Os conceitos de moral, ética e deontologia se entrelaçam e, portanto é compreensível que causem certa confusão de senso comum. A respeito destas diferenças, assim como faz LANGARO1 em seus escritos, vale ressal- tar que um conceito encontra-se entrelaçado a outro historicamente. 1 LANGARO, Luiz Lima. Curso de Deontologia Jurídica. 2. ed. Atuali- zada por Gislon Langaro Dipp. São Paulo: Saraiva, 1996. RESUMO: O presente trabalho pretende contribuir com o aprendizado sobre a ética e a deontologia jurídica. Para tanto, serão desen- volvidos conteúdos sobre a Moral, Ética e Deontologia, Diferenças e Aproximações entre os Conceitos de Moral, Ética e Deontologia, Fundamentos do Pensamento Ético na Histó- ria da Humanidade nas perspectivas: grega, helenística, medieval, moderna e contempo- rânea; a Deontologia Jurídica, a existência do dever moral, os princípios inerentes e aspec- tos da profissão do advogado; os requisitos da Profissão do Advogado – Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil (AOB), o Código de Ética da OAB. Com as considerações, intenta- -se que o leitor não considere o assunto con- cluso, mas que tendo este panorama da ética e deontologia propostos possa refletir critica- mente sobre os rumos do pensamento atual, para assim, posicionar-se com propriedade perante o desafiador tema. Palavras-Chaves: Ética. Moral. Direito. Deontologia Jurídica. Estatuto da OAB. Código de Ética 2. A palavra moral deriva do termo romano “mos/moris” que expressa em latim o mesmo que os similares gregos e pode também signi- ficar personalidade ou moradia. A moral existe desde que o ser humano habita em grupo e se transforma em con- junto com a sociedade. Assim, a moral nasce quando surge o outro, ou seja, quando começa a aparecer o ser social. Moral é definida pelas normas, valores e princípios que gerações transmitem às novas gerações com vistas a orientar o modo como devem comportar-se a fim de terem uma tran- quila em comunidade. Conceitos como bom caráter, honestidade, retidão são comprometi- mentos morais, pois são elaborados e transmi- tidos culturalmente visando o convívio social dentro de determinada cultura. As normas morais são recebidas e aceitas, sem discussão, mas com liberdade e consciên- cia pelas pessoas que desejam conviver bem com os demais do grupo. Estas normas regu- lam as relações interpessoais de cada pessoa inserida em uma comunidade específica. A norma que foi criada e acreditada como correta pela maioria do grupo social, com o tempo passa a ser vista como virtude daqueles membros e, o inverso também é verificado, o comportamento contrário é repudiado pelo grupo e passa ser visto como errado ou anormal. Moral e ética a princípio parecem sinô- nimos, contudo o termo moral se refere aos diferentes códigos de ética, e ética se refere à filosofia da moral. A palavra ética tem origem na Grécia antiga, “ethica”. É derivada de ethos e sig- nifica residência ou morada. Seu significado sofreu alterações passando a ser sinônimo de personalidade até assumir a significação usual para expressar hábitos e costumes. Ética é uma disciplina filosófica que busca a refle- xão a respeito de problemas morais. Desta forma, pode-se afirmar que ética é a reflexão da moral. Para que o comportamento de uma pessoa seja ético é necessário que seja prove- niente da reflexão de algum aspecto moral e, or isso, carregue características como liber- dade e universalidade. Ainda diferenciando moral de ética a fim de melhor elucidar, segundo CHAUÍ2, des- taca-se que moral está no âmbito do fato social e a ética no âmbito de um bem universal. Por este motivo, a moral pode ser mensu- rada apenas no contexto de um grupo espe- cífico da sociedade. Diz-se que a moral trata do comportamento interpessoal, ou seja, des- tinado a regular os relacionamentos inerentes a um grupo de pessoas. A moral aponta as ati- tudes corretas, regras claras e fechadas, para que o comportamento seja considerado ade- quado ao grupo. A moral é fornecida por meio da cultura e interiorizada por cada pessoa pertencente ao grupo. As pessoas não fazem a moral, mas se sujeitam a ela, da mesma forma acontece com a cultura. Importante destacar que os sujeitos são livres e conscientes para aceitar ou criticar as regras morais que os são ofertadas. Já a ética pode ser considerada um com- portamento específico adquirido por meio de estudo e reflexão a respeito da moral. A ética aponta para o bem universal que é inerente a todas as sociedades. Ética é atemporal e vai sendo é construída pela razão, pelo estudo e pelo conhecimento adquirido. A característica de universalidade do comportamento é fun- damental à ética. A ética torna cada pessoa responsável por suas atitudes, seu compor- tamento, pois, depois de tamanha reflexão e ciência, já não se pode mais alegar desconhe- cimento das implicações inerentes ao compor- tamento pessoal. Enquanto no âmbito da moral as pessoas fazem aquilo que sua consciência arbitra, no âmbito da ética cada um é levado a fazer aquilo que sua sabedoria e conhecimento o obriga. Para NALINI,3 afirmar que a ética refere-se à filosofia da moral significa que aborda a ética profissional de uma ou outra profissão. Trata das normas deontológicas quecada profissional deve se propor e seguir 2 CHAUI, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, São Paulo: 2009. 3 NALINI, José Renato. Ética geral e profissional. São Paulo: RT, 2006. Ética e Deontologia JuríDica 3. enquanto pertence a uma determinada categoria profissional. A palavra deontologia é derivada do grego “deontos” e “logos” que significam res- pectivamente dever e tratado. Deontologia é a ciência dos deveres que possui conteúdo ético e legal fornecidos pela filosofia moral. Importa destacar que a deontologia cons- titui tratados de condutas diferentes da moral. Portanto, não aborda o mero protocolo social, o simples bom senso e maneira adequada de comportamento, mas tem vistas ao cerne da formação cultural do ser humano. Importa à disciplina de deontologia a visão mais elevada da missão de cada pessoa. Em outras palavras, o foco da deontologia é o “dever moral” e a consciência da responsa- bilidade de cada pessoa nos aspectos particu- lares e profissionais de sua existência. Tanto a ética (filosofia da moral) como a deontologia (ciência dos deveres) permeiam cada uma das profissões. Segundo BITTAR4, o código deontológico, ou código de ética profissional, pertence ao conjunto das normas jurídicas e, portanto, é um sistema de regras, externo à pessoa. Tem por finalidade a regulamentação de ações dos profissionais de cada categoria, com foco nas suas obrigações e deveres, definindo por óbvio seus direitos. 2. FUNDAMENTOS DO PENSAMENTO ÉTICO NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE 2.1 Breve histórico da ética no ocidente Os primeiros documentos de ética encon- trados na história da humanidade são escritos dos antigos gregos. A partir daí a evolução da ética teve diferentes aspectos abordados por 4 BITTAR, Eduardo C. B. Curso de ética jurídica: ética geral e profissio- nal. São Paulo: Saraiva, 2005 pensadores que, com seus distintos olhares, marcaram suas épocas. Os antigos gregos são considerados patronos da filosofia, e desde seus estudos há cerca de 2.500 anos, a ética pode ser interpretada de várias maneiras. Aqui serão apresentadas várias opções de pensamentos éticos com a finalidade de provocar o leitor/ estudante a refletir sobre eles e, quiçá venha desenvolver-se em relação à ética, consciente de que sua escolha demanda responsabilidade. As diferentes éticas que serão apresen- tadas provêm de diversidade de teorias que com frequência contrastam como aponta COTRIM5. Se por um lado seria ingênua a conclusão de que qualquer uma destas teorias poderia ser válida para os tempos atuais, tampouco se pode descartar a possibilidade de algumas delas ser- virem de boas inspirações. O olhar para o pas- sado é essencial para que as pessoas da atuali- dade façam suas éticas, solucionem problemas e, porque não, aumentem sua felicidade. Adaptado às questões de cada época, a história da ética no ocidente revela a alta pro- dutividade e complexidade com que o tema foi sendo elaborado. As elaborações alcança- ram novos e diferentes conceitos atingindo soluções inovadoras. 2.2 Perspectiva Grega Conforme aponta ROSAS6, as primeiras preocupações com a temática ética tiveram início na antiguidade, entre os séculos V e o século IV a. C. Este período é caracterizado pelos seguin- tes aspectos fundamentais: a polis, cidades – estados, que visava o ideal de cidadão e de sociedade; e o cosmos, que significava a ordem. Sócrates, filósofo consagrado como “pai da moral”, foi responsável pelas primeiras sis- tematizações éticas da história ocidental. 5 COTRIM, G. Fundamentos da Filosofia - História e grandes temas. São Paulo: Saraiva, 2006. 6 ROSAS, Vanderlei de Barros. Disponível em: <http://www.mundo- dosfilosofos.com.br/vanderlei18.htm>. Acesso: 10 abr 2015. 4. Sócrates (470 ou 469 a 399 a. C.), que nada deixou escrito, teve seu legado difundido especialmente por Platão e Xenofone. Utili- zou em seus ensinamentos do denominado método socrático maiêutico, que tinha foco na discussão das questões relacionadas ao saber. Nesse tempo, a ética enfatizava o coletivo e partia de uma visão essencialista, definitiva e imutável do mundo e do ser humano. Ao criarem a democracia os gregos levantaram a temática da política. A forma de exercício de poder que havia antes dos gregos era apenas com uma autoridade, como nos reinados e impérios, nos quais o poder dependia direta- mente da vontade arbitrária do governante. A própria lei era proveniente da vontade pessoal do rei ou do imperador. Cabia ao governante adquirir as virtudes necessárias para fazer seu povo ter melhor qualidade de vida. Desta forma, neste período não havia necessidade de ética à população. Os gregos criaram um novo paradigma político, a democracia. Inserida na ideia democrática criaram a polis, ou seja, o espaço público, e o separaram dos desportes, o espaço privado. Por esta razão CHAUÍ7 aponta que o poder da vida privada está sob o domínio de déspotas de quem depende a felicidade e exercício de justiça, sua moradia e tudo que o habita, sendo um poder despótico. Ao cria- rem a polis, os gregos propuseram um espaço onde o poder existe por meio de leis e não mais pela vontade e interesse de um gover- nante, um déspota. Para o exercício da política proposta pelos gregos havia necessidade da separação entre o espaço privado e público. Em outras palavras, é pressuposto de existência da política que o espaço privado não invada o espaço público. A vontade coletiva é expressa pela polis por meio da discussão, da deliberação, e espe- cialmente pelo voto. Assim, o poder e a auto- ridade são públicos, e as decisões são deman- dadas do coletivo, expressando a vontade de um grupo. Neste sentido VAZQUEZ8 cita que a partir da ideia de democracia pensou-se em como ser 7 CHAUI, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2009. 8 VAZQUEZ, A. Ética. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999. feliz inserido neste espaço e a necessidade da ética veio de encontro à busca desta resposta. Desta forma, ética surge com o objetivo de regular os relacionamentos no espaço público. A fim de tratar do tema da ética os princi- pais filósofos gregos tiveram diferentes pers- pectivas. Os sofistas, por exemplo, que constitu- íram um movimento intelectual no século V a. C., defenderam o relativismo dos valores humanos. Atualmente entende-se por sofis- tas aqueles que se opõe ao estudo da ética por não se interessarem por normas universais da conduta humana. Por entenderem o mundo por meio de relativismos éticos aceitam que cada aspecto moral se justifica por causa do contexto social a que corresponde. Por este motivo acreditam que toda conduta tem igual validade. Para os sofistas não há verdade nem equívoco, e as normas são transitórias. O grande legado dos sofistas está na retórica, ou seja, a arte de convencer. Para exemplificar o pensamento sofista cita-se Cálices, que tem existência duvidosa, e Trasímaco (459 a.C. – 400 a.C.). Atribui-se a estes pensadores a afirmação de que qualquer cidadão objetiva atingir o prazer supremo, englobando o domínio político, que por sua vez somente poderia ser alcançado pelos mais hábeis, fortes e corajosos no uso da retórica. Outros pensadores são Protágoras (490 a.C. - 420 a.C.) e Górgias (183 a.C. – 375 a.C.). O pri- meiro sustenta o subjetivismo e relativismo e o segundo afirma a impossibilidade de saber o que realmente existe e o que não existe. Por causa da crença no relativismo da verdade concluíram na dúvida da possibi- lidade de uma virtude poder ser ensinada. Porém, admitiram que uma virtude pudesse ser desenvolvida por uma pessoa por meio do despertar da consciência da mesma. Na cidade de Atenas, em 470 a.C. nasceu Sócrates, o grande filósofo grego. Aristóteles atribuia Sócrates o feito de ser o primeiro filó- sofo a desenvolver o pensamento abstrato a respeito do conceito de ética, ainda que não houvesse em Sócrates nenhuma tentativa de sistematização sobre o tema. Discordando dos Ética e Deontologia JuríDica 5. sofistas, Sócrates pleiteou que existe um saber válido a todas as pessoas. Este saber decorre do conhecimento da essência humana e, a partir deste conhecimento se pode con- ceber a fundamentação de uma moral ou ética universal. O exercício de buscar a verdade revela a excelência humana, portanto, para Sócrates o verdadeiro objeto do conhecimento é a alma humana. Na alma humana encontra-se a ver- dade e por meio desta há a possibilidade do alcance da felicidade. Por meio do método maiêutico, Sócrates defendeu o abandono de postura dogmática e cética para dar vazão a atitudes críticas. Propôs assim, um caráter racionalista à ética, destacando o poder do melhor argumento. Conhecido é que o filósofo ressaltou como fundamental o conhecimento ético a respeito do ser humano, adotando a frase “conhece- -te a ti mesmo” exposta na cidade de Delfos, na fachada do tempo de Apolo. Para Sócra- tes, apenas a vida examinada valia a pena ser vivida. Defendia que a verdade pode ser encon- trada no interior do ser humano e para atingi- -la é necessário diálogo e introspecção. A filosofia socrática sustenta que a felicidade se entrelaça com bondade e conhecimento, portanto, defende o intelectualismo moral afirmando que a pessoa que conhece o bem, é impelida a agir bem, assim como que age mal é considerado ignorante. Sócrates defende que o ser humano tem atitude reta quando, por meio da razão, conhece o bem. Conhecendo o bem, não pode deixar de agir em consonância com o bem e por este motivo tem o domínio sobre si mesmo e, portanto é feliz. Por suas ideias, Sócrates foi acusado de corromper a juventude ateniense em desfavor da democracia praticada na época. Foi assim condenado a ingerir cicuta, morrendo em 399 a. C. Outro filósofo grego de suma importân- cia foi Platão. Nascido em Atenas, em 427 a.C. foi discípulo de Sócrates. Também inimigo da democracia ateniense defendeu o bem como maior valor que todos os homens livres deve- riam conquistar. Para que alcançassem o bem, as seguintes condições deveriam ser reunidas: a pessoa deveria buscar a razão em detrimento de seus instintos e paixões e, ainda, aos sábios deveria ser confiado o poder pressupondo uma reorganização da sociedade. Para Platão a filosofia política e a ética se relacionavam intimamente. Considera que a polis é o próprio terreno da vida moral, assim, o homem é bom na medida em que é bom cidadão. Pelo fato de o homem se desenvolver em sociedade, a ética existe enquanto se rela- ciona com a política. No seu escrito mais famoso intitulado “A República” Platão descreve um Estado ideal e o assemelha com a alma. Nele, descreve utopi- camente que o dever de cada classe social ocu- par-se de suas tarefas específicas, abstendo-se da realização de outras tarefas. A ética para Platão está atrelada intima- mente à política. Importa a concepção meta- física da política, o dualismo do mundo sen- sível e do mundo das ideias permanentes. Assim como também importa a doutrina polí- tica da alma, o princípio que anima ou move o homem. A descoberta da metafísica é atribuída ao legado de Platão. A metafísica concebe a existência de dois mundos. Um constituído por ideias eternas, imutáveis, invisíveis e que diferem das coisas concretas. Outro mundo é o real, composto por cópias das ideias, as coi- sas sensíveis, réplicas imperfeitas e mutáveis. Platão morreu em 347 a. C. Outro filósofo grego fundamentalmente importante foi Aristóteles. Nasceu em Esta- gira, na Macedônia em 384 a.C. e foi discípulo de Platão na cidade de Atenas. Aristóteles foi o primeiro filósofo a orga- nizar tratados sistemáticos de ética. Um exemplo destes tratados é o famoso “Ética a Nicômaco”, considerada a principal obra a respeito de ética de Aristóteles. Nesta obra o autor apresenta sua argumentação teológica, ou seja, expõe uma argumentação de que algo tem certa finalidade. O nome apresentado no título da obra de Aristóteles é de seu discí- pulo e filho, Nicômaco. Acredita-se que a obra tenha sido inspirada em anotações do filho e publicada depois da morte antecipada de Nicômaco, em combate. 6. Pressupõe-se que Aristóteles tenha ini- ciado suas aulas de ética embasado nas anota- ções de seu filho a respeito das discussões entre ele, Aristóteles, e seu mestre Platão. Apesar de divergirem em diversos aspectos, transpor- tando-se do idealismo ao realismo, a ideia prin- cipal tanto de Platão como de Aristóteles era de bem supremo, sendo este a felicidade. Na perspectiva de Aristóteles, o elemento essencial no ser humano é sua alma racional, ou seja, a essência do homem é sua razão. Por este motivo, os costumes morais e as normas devem estar fundamentados na razão. Criou assim a ética racionalista afirmando que o ser humano ao agir com a razão age corretamente. Outro ponto controvertido entre Aristóte- les e Platão foi o proposto por Platão sobre a existência de mundo das ideias e de mundo real, o dualismo ontológico. Aristóteles defen- deu que não há ideia apartada de seres huma- nos concretos. Em sua teoria é baseada no fato de o ser humano é formado por corpo e mente, assim, as ideias não existem sem os indivíduos. Defende que a principal função da ética está em separar o bom e o mau. Sobre o aspecto da moral afirma que a finalidade última a que o homem tende é a eudaimonia, ou seja, a felicidade como auto realização. Por este motivo a ética de Aristóteles é conhecida por eudemonismo. Afirma que as atitudes de bem e de mal praticadas pelos seres humanos é voluntária, excetuando atitudes compulsivas ou tomadas de ignorância. O eudemonismo trata a felicidade não é prazer, tampouco riqueza. A felicidade do ser humano está no exercício da razão, da inteligên- cia teórica, da compreensão, do conhecimento. Aponta, porém, que há outros caminhos para a conquista da felicidade. O exercício do domínio das paixões a fim de que se con- siga uma relação satisfatória e amável com o mundo social e natural. Para tanto, o ser humano pode contar com a ajuda das virtu- des. No intento de adquirir virtudes são neces- sárias algumas atitudes constantes, modos de agir, formadores de hábitos. Explicando melhor, nesta perspectiva as virtudes não são inatas, mas podem ser adqui- ridas pelo exercício constante que constitui hábitos. A principal virtude a ser adquirida é pru- dência, ou seja, a sabedoria prática. A prudên- cia é considerada a guia das demais virtudes. Isto porque, pela prudência obtém-se o equi- líbrio, o meio termo entre a falta e o excesso. Desta maneira, a virtude da justiça, por exem- plo, seria o equilíbrio entre o egoísmo e o esquecimento de si. Afirma ainda que a felicidade alcançada mediante a virtude exige necessariamente condições como: maturidade, liberdade pes- soal, saúde, bens materiais, entre outras, que fazem parte do processo em sentido a felici- dade, muito embora tais condições não bas- tem sozinhas para fazer o ser humano feliz. Tanto na ética de Aristóteles como na ética de Platão, a política e a sociedade são meios da moral. Isto porque é na polis que o ideal de vida teórica, no qual a felicidade é baseada, pode ser concretizado. A ética assim, só existe quando vinculada à política. 2.3 Perspectiva do Período Helenístico O período helenístico nasce no final da democracia greco-romana, depois de conquis- tas e surgimento de grandes impérios como o império de Alexandre Magno e o subsequente Império Romano. Alguns dos pressupostos da ética aristoté- lica foram assimilados,porém, a ideia de des- tacar a mente do corpo não é mais entendida tão rigidamente quanto em sua origem, por Aristóteles. O interesse do pensamento filosófico deixou de ser a polis, e a função da ética de regular o espaço público fica extraviada. Isto porque o espaço privado, inicialmente com Alexandre Magno, invade o espaço político. Neste período os filósofos restringiram a investigação ética passando a difundir apenas a ideia de que sabedoria e felicidade se iden- tificam. Destituída a credibilidade da polis, a figura do sábio passou a ser aquele que vive Ética e Deontologia JuríDica 7. de acordo com a natureza. Porém, surgem questões importantes decorrentes de concei- tos como, por exemplo, os filósofos discor- davam sobre o ideal do homem sábio, assim como sobre os conceitos de natureza humana. Neste período formaram-se os filósofos chamados estóicos. A essência da filosofia estóica tem também como princípio universal a felicidade, mas agora alcançada para além do corpo. Entenderam que uma pessoa para ser ética precisa aceitar todo acontecimento da vida, pelo motivo de que tudo faz parte de um plano superior conduzido por uma razão abrangente. Os estóicos definiram o ser superior como razão cósmica. Isto é, a lei universal a qual os acontecimentos respondem e tudo está sub- metido. Apontavam que os acontecimentos do mundo era reflexo desta lei universal, assim, não havia acaso nem liberdade. Ser humano sábio era quem vivia segundo esta lei. O bem maior era viver em consonância com a natu- reza, de acordo com a razão e sem se deixar levar por paixões e afetos interiores ou exte- riores. A vontade de uma pessoa deveria ser direcionada a fim de que se confundisse com a natureza, nunca se opondo a ela. Entre os principais filósofos estóicos estão o grego Zenão de Cítio (334 a.C. até 262 a. C) e os romanos Sêneca (4 a. C. até 65 d.C), Marco Aurélio (121 d. C até 180 d.C.) e Epiteto (55 d.C. até 135 d.C.) Por causa do fim da autonomia das polis, a moral passou a ser definida em relação ao universo. A física passou a ser premissa para a ética. Conforme o pensamento estóico a pessoa não vivia mais como cidadão da polis, mas vivia moralmente como pertencente ao cos- mos. A polis e a vida política haviam perdido seu valor, portanto, foi desenvolvida uma ética baseada na paz interior e no autocon- trole pessoal. Outros pensadores filósofos deste perí- odo foram os Cépticos que absorveram a céle- bre máxima de Sócrates “sei que nada sei”. Segundo esta posição, os Cépticos entende- ram a felicidade como algo apartado da reali- dade. Assim, para ser feliz o ser humano pre- cisava ser alheado ao que se passava em seu cotidiano, exercitando seu equilíbrio interior. São filósofos Cépticos, Pirro (360 a.C. até 270 a.C.) e Sexto Empírio (160 a.C. 210 a.C.). Ainda outra filosofia surgiu com o título de Cínicos. Os mais sobressalentes filósofos desta linha foram Antitenes (445 até 365 a.C.) e Diógenes (412 até 323 a.C.). Para os Cínicos, o sábio tem por objetivo viver de acordo com a natureza, afastando-se daquilo que provoca ilusões e sofrimentos, sem se preocupar com os bens terrenos. Con- sideram bens terrenos os usos, preconceitos, convenções e costumes sociais, entre outros. Pregavam que cada pessoa deveria viver de maneira simples e despojada. Enquanto movimento, o cinismo não teve solidez suficiente para resistir e, seu conteúdo ético foi englobado pelos estóicos. Epicuro (341 até 270 a.C.) foi um filósofo do período helenístico. Defendia que por não haver liberdade política, a ética deveria tratar do universo interior pessoal. Este universo interior faria parte de um processo de cada ser humano. Proferia que cada pessoa deve fazer escolha entre a vida política ou a serenidade e felicidade. As pessoas não deveriam esperar que o universo público pudesse se contribuir com a trajetória da busca da felicidade pessoal. Sob a ética de Epicuro, na busca pela saúde da alma o ser humano deve se afastar das cren- dices e da ignorância. Para tanto é necessário que se tenha conhecimento, sabedoria, ciência que objetive esclarecer aspectos da vida inte- rior. Propõe um programa de administração pessoal feito a partir da compreensão da natu- reza das coisas e da ciência. Epicuro afirma que tudo que existe, até mesmo a alma das pessoas, é composto por átomos. Estes átomos são livres na medida em que se podem desviar ligeiramente na sua queda. Assim também o ser humano poderia se desviar das fatalidades de sua vida. Sendo assim, cada ser humano necessitava ser autô- nomo e não estar preso a concepções fatalistas. Sua ética ressalta que o ser humano além de ter direito, tem também dever de ser feliz. A virtude destacada é de autodeterminação. 8. Assim, ainda que haja sofrimento, conforme a postura adotada é possível vencer. Considera que o homem é ser desviante e para ser livre precisa desviar das contin- gências. Não considera qualquer intervenção divina na vida dos seres humanos e tampouco nos fenômenos físicos. Para Epicuro “não é preciso temer aos deuses, pois eles só são deuses porque não estão preocupados com os mortais”. Assim, o filósofo liberta o ser humano do temor divino para que busque o bem neste mundo. O bem para sua ética é o prazer. A ética proposta por Epicuro é chamada hedonista (hedoné, em grego significa prazer). Classifica os prazeres e afirma que nem todos são bons na mesma intensidade. Os melhores prazeres não são os corporais, por serem imediatos e fugazes e serem portando apelas sensações de prazer. Os maiores bens seriam os prazeres espirituais que contribuem para a paz da alma, sendo aqui os sentimentos de prazer. Epicuro foi um dos pioneiros a pronun- ciar que a ética devia ser exercitada por todos, incluindo as mulheres, os estrangeiros, os escravos, os jovens, enfim, até mesmo por aqueles não eram considerados cidadãos. Na Grécia antiga a ética era praticada apenas para os cidadãos. Epicuro defendeu a divulgação da ética, pois acreditava que pela troca os saberes poderiam ser ampliados. Para ele, a sabedoria não poderia ser ensinada, mas a troca poderia fomentar a ampliação dos saberes. Declarava que a racionalidade é necessá- ria à ética, porém, esta deveria ser suficiente- mente flexível para inserir os ideais de cada pessoa, suas metas pessoais e seus projetos de vida. O homem estaria destinado ao prazer máximo que é a felicidade e o caminho para o alcance desta felicidade estaria na autogestão. A felicidade nunca poderá ser concedida e sim fará resultado de incessante luta de autodomí- nio, autolibertação e intenso trabalho de busca pelo prazer sereno e sábio. 2.4 Perspectiva Medieval Com o fim do espaço público, já no perí- odo helenista a ética já se voltava ao indiví- duo. No final do século IV, quando o cristia- nismo se tornou a religião oficial de Roma, a ética se firmou no espaço privado comandado pelos chefes de família. Nesta perspectiva a ética foi atrelada ao Deus judaico-cristão por cerca de dez anos. O regime de servidão, vassalagem, subs- tituiu a escravidão. As sociedades passaram a construir diversos feudos. Houve fragmenta- ção econômica e política. A religião, além de exercer unidade social, exerceu poder espiri- tual e monopólio sobre a vida intelectual. Sob a perspectiva da ética filosófica reli- giosa, o bem, a justiça e a verdade são prove- nientes de Deus. Agora já não era necessário procurar a felicidade no conhecimento da natureza, mas sim nas escrituras dos livros sagrados, que eram traduzidos pelo clero. Que seguisse as escrituras encontraria a feli- cidade e teria a salvação em outro mundo. A beatitude, essência da felicidade, era a con- templação de Deus. Assim, o amor humano ficavasubordinado ao divino. O sobrenatural tem aqui supremacia ao natural humano. A ética tornou-se prática limitada por seu cará- ter religioso e dogmático. O messias, Jesus de Nazaré, tornou-se o arauto de uma nova ética, a ética do amor ao próximo. A ética foi subordinada à moral e a justiça e liberdade foram transferidas para um mundo ideal, chamado de idealismo platônico. Um dos principais legados à sociedade foi a institui- ção do princípio da igualdade entre todos, tanto escravos quanto livres, cultos e igno- rantes, todos são iguais perante Deus. O cris- tianismo trouxe a consciência da igualdade no momento em que esta igualdade de con- dição não possível de ser efetivada. O questionamento que se faz a esta ética aborda o fato de as atitudes do ser humano ter vistas ao sobrenatural, ao outro mundo. O valor supremo estava assim fora do ser humano, em Deus. Surge a ideia do dever. O livre arbítrio foi firmado na ética, ape- sar de se acreditar que o primeiro impulso da liberdade dirigia-se ao pecado. O ser humano Ética e Deontologia JuríDica 9. é visto como pecador, portanto fraco e divi- dido entre o bem e o mal. Entre os principais pensadores deste perí- odo encontra-se Santo Agostinho (354 até 430). Confirma o entendimento de que o exercício da moral vem de encontro à conquista de uma vida feliz e o desfrute de uma relação amorosa com o criador. Também afirma a necessidade da moral já que a finalidade da vida humana é o caminho de volta a Deus, caminho este que pode ser extraviado pela tentação e pecado. Na concepção do filósofo, Deus é a bon- dade infinita e o mal existe porque o ser humano, com seu livre arbítrio, escolhe livre- mente aproximar-se ou afastar-se de Deus. A liberdade passou a ter caráter mais pessoal, individual e subjetivo, afastando-se ainda mais da ideia do social, como fora proposto pelos gregos. A vontade é especialmente importante nesta concepção. O valor da vida, do amor, da experiência pessoal, da interiorização é enalte- cido. Contraposto com o racionalismo da ética grega, tornou-se inspiração da ética existen- cialista e personalista na contemporaneidade. Outro importante pensador deste período foi Santo Anselmo (1033 até 1109) que propôs a educação como meio de superar o ceticismo. Afirmou que os princípios morais são intui- tivamente auto evidentes e condicionam as ações humanas à vontade de Deus. A fé cristã tem superioridade à razão humana. A fim de provar a existência de Deus e sua suprema bondade, Santo Anselmo argu- menta que a crença e a fé correspondem à verdade. Não é possível pensar em algo maior que Deus, ser incriado. Deus é a causa de si mesmo e fundamenta todos os outros seres. Santo Tomás de Aquino (1226 até 1274) foi também figura de pensamento marcado nesta época. Empregou o pensamento filosófico da antiguidade no que se refere à conciliação das principais contribuições dos filósofos gregos, especialmente de Aristóteles, com a revelação do cristianismo descrita na bíblia. Alguns autores afirmam que Santo Tomás de Aquilo cristianizou a ética aristotélica, pois, deu prosseguimento à busca pela felicidade, ou eudaimonismo, agora em uma perspectiva teo- lógica. Para este pensador, a felicidade está na contemplação da verdade, no exercício desta contemplação é possível se identificar Deus. Nesta concepção, para evitar o mal e fazer o bem é necessário que o ser humano não haja mecanicamente, mas que seja fruto de sua liberdade. A aquisição de virtudes é necessá- ria, especialmente das virtudes da prudência e da caridade, a primeira virtude intelectual e a segunda teológica. A conquista de tais vir- tudes se dá por meio de hábitos operativos do bem procurando encontrar a ação adequada à pessoa e ao contexto. A união do corpo de alma forma a identidade e dignidade da pes- soa humana. Assim, as pessoas podem adqui- rir virtudes e se aproximar da perfeição por meio da revelação divina aliada ao exercício da razão humana. 2.5 Perspectiva da Ética Moderna Conhecida como ética da consciência, a ética moderna é caracterizada pelo cartesia- nismo e racionalismo. Estes conceitos impli- cam na afirmação de que a verdade é conhe- cida pela razão e, especialmente pelo método científico de pensar. A esfera política da ética é reconstituída na modernidade. Isto porque, os regimes de monarquia e o poder teológico político são enfraquecidos, dando espaço para o ressurgi- mento da ideia de república. Inicialmente surgiu a república oligár- quica, seguida da representativa e por último a democrática. O retorno da república pressupõe que a figura autoritária e despótica, passa a ser ilegítima. Como o termo grego já indica, “res pública” significa coisa pública. Assim, o campo da política é reconfigurado, mas a ética ainda permanece no campo primado até a atualidade. A ética segue separada do espaço público, da política, permanecendo centrada na pessoa autônoma. Apesar de separadas, a ética e a política necessitam uma da outra. Copérnico (1473 até 1543) apresenta a ideia de o mundo como espaço infinito e 10. muda o paradigma acreditado anteriormente. Os astros mudaram seu significado e sua importância com as novas revelações cientí- ficas. Também o descobrimento da existência de distintos povos, diferentes culturas, diver- sas religiões, não sabidas até então. Esta época foi importante para a consoli- dação dos estados como são conhecidos atu- almente. O individualismo, que tem raiz na cultura burguesa originária da revolução fran- cesa, passou a adquirir cada vez mais força. A figura do burguês surge por meio do conceito cartesiano de autonomia. Pensador importante deste período foi Maquiavel. Ele definiu que o campo da polí- tica é regido pela lógica das relações de forças. Para que o campo de poder seja isento de se tornar um campo de guerra, importam alguns elementos como a qualidade das leis e das ins- tituições, a qualidade do direito e da justiça e, a qualidade das decisões coletivas. Maquiavel abandona a ideia de ser necessária às pessoas a aquisição ou não de virtudes. Fundamental foi o pensamento de outro famoso pensador moderno, Descartes ao con- siderar o livre arbítrio e a liberdade como sinônimos. Entendeu o livre arbítrio como autonomia do burguês. Reconheceu a impos- sibilidade de estabelecer princípios para a ação humana, mas propôs que ainda assim o afirmou a necessidade de manter a religião, a fé e a obediência aos costumes e leis. Tomas Hobbes9 foi pioneiro em anunciar que as ideias burguesas eram factíveis. Isto porque, segundo o autor, se cada pessoa exercer seu individualismo não poderá haver sociedade organizada. Por muitos séculos seguintes os burgueses começaram a discutir o contrato social. Tais discussões se deram com a pretensão de solu- cionar questões como o prejuízo da dimensão coletiva política e da ética em prol da afir- mação moral. Isto porque a moral cada vez é coincidente com a subjetividade humana. Ao romper com o cristianismo exclusivo foram sendo construídas novas religiões. 9 HOBBES T., 1998. Do cidadão. São Paulo: Martins Fontes, 1998. HOBBES, T. Leviatã. São Paulo: Editora Martin Claret, 2005. Cada qual declarando ser detentora da mais correta interpretação da palavra divina. Desta forma, a realidade tornou-se plural e com- plexa, causando grande confusão nas ideias éticas da humanidade. A ciência teve seu avanço acelerado com o rompimento entre a igreja e o estado. A inven- ção da imprensa também foi crucial para a ins- tituição do capitalismo. A partir de então, a ética é compreendida novamente com objeto na busca da felicidade coletiva. Assim, a ética rumou ao retorno do sentido grego original enquanto buscou vin- cular-se com a política. Em outras palavras,a ética procura orientar o espaço público, apesar de permanecer no espaço privado, com vistas na plena realização do cidadão. A constituição das normas deixa consi- derada pelo estabelecimento da natureza ou por Deus. A ética torna-se focada na razão, e, portanto, é considerada mais autônoma. O método científico de refletir, de pensar, ocasiona o desenvolvimento de uma nova maneira de conceber a ética. Este novo para- digma ético é considerado marco histórico importante da humanidade por representar um inovador caminho para o saber. O saber por meio da ciência é enaltecido, vale a partir de então, o chamado saber científico. No tempo moderno, a ética é libertada de pressupostos naturalísticos e teológicos, mas recebe várias contribuições de diferentes áreas do conhecimento. Torna-se gradualmente, cada vez mais centrada na consciência e auto- nomia do ser humano, por isso diz-se que a ética moderna é antropocêntrica. O novo paradigma ético foi abrindo espaço para diversificadas ideias a respeito da moral e da ética e, novos pensadores foram tendo destaque pela força e distinção de suas ideias. Um dos filósofos modernos revolucionários foi Maquiavel (1469 até 1536). Tornou-se importante por seus conselhos políticos propondo uma ética por ele denominada de “verdade das coisas”. Nota-se que a ética de Maquiavel nada se aproximava da anterior ética cristã que era embasada em dogmas inquestionáveis. Ética e Deontologia JuríDica 11. A respeito do bem e do mal, MAQUIA- VEL10 afirmava que a ação era considerada boa ou má em razão de sua consequência e não por estar de acordo ou desacordo com qualquer regra. A ética aqui proposta foi bati- zada por ética dos resultados. Considera que o desejo predomina na dis- posição do espírito. Há a ideia de dever de res- peito e responsabilidade aos demais, visto que nesta perspectiva o ser humano se assemelha em modos de pensar e agir. Outro nome importante deste período foi Hobbes (1588 até 1679). Pensador agnóstico e materialista alegava que o ser humano é deso- nesto, violento e solitário por natureza. Para defender a necessidade de um sistema coer- citivo a fim de controlar os impulsos huma- nos utilizou a máxima “o homem é o lobo homem”. Hobbes era a favor de que o Estado fosse fortalecido e de houvesse um contrato social para reprimir a maldade dos seres humanos. A função da ética, para o pensador, era fomentar críticas ao individualismo proposto pelos burgueses. Segundo o autor, este indivi- dualismo era responsável por fazer com que a ética fosse abafada pela moral que, por sua vez era fortalecida pela subjetividade inerente ao ser humano. A ética estaria atrelada ao cidadão que para ser integrado à sociedade precisaria refle- tir sobre si nos aspectos individual e social. Spinoza1111 (1932 até 1677) apresenta pensamento diverso ao proposto por Hobber. Enquanto o primeiro destacou que o pressu- posto de existência do Estado era impedir que os seres humanos se destruíssem, o segundo veio afirmar que a existência do Estado serva para promoção do ser humano. Este pensador concebe a felicidade como objetivo último para a humanidade. A feli- cidade aqui é entendida como presença do prazer e ausência de sofrimento. Assim como, felicidade é a junção do corpo e da alma. 10 MAQUIAVEL, N., 1977. O Príncipe. São Paulo: Hemus, 1977. 11 ESPINOSA B. Ética. São Paulo: Atena, 1991. ESPINOSA, B. Pensa- mentos Metafóricos. São Paulo: Abril Cultural, 1983. Para Spinoza, o amor a Deus é intelectual e quem o exercita garante virtude. O amor a Deus é a felicidade decorrente da contem- plação universal físico e mental, por meio da natureza divina. Considera ainda que a natu- reza divina é inata. As ações morais seriam produzidas por causa das paixões orientadas para atingir fins propostos pelo sentimento e não pela razão. Concorda com Aristóteles e ratifica que não se pode ser verdadeiramente ético se for ignorante. A máxima de Spinoza é “ao pensa- mento não deve faltar o calor do desejo, nem ao desejo a luz do pensamento”. Partindo do princípio de que todos as pessoas nascem com iguais direitos, John Locke12(1632 até 1704) discute princípios considerados fundamentais para uma ética moderna. Levanta o tema do direto à vida, à liberdade e à propriedade. Afirma que esses direitos devem ser garantidos e respeitados. Locke não acreditava em princípios inatos. A sua moral é considerada mais intelectualista em detrimento da empirista. Possui assim caráter de ciência universal. Assim como Loocke outro pensador, David Hume13 (1711 até 1776), não conside- rava a existência das ideias inatas. Transfere as funções morais às paixões e alega que as ações humanas são movidas por estas paixões e sentimentos. Desta forma, os juízos morais não são encargos da razão. Nesse sentido, o desagrado ou desagrado provocado nos seres humanos são pressupostos para a bondade ou maldade de suas ações. Defende o respeito entre as pessoas e des- taca a necessidade de que a obrigação moral se imponha à vontade. Kant14(1724 até 1804) destaca que a carac- terística primordial da ética que seja estabe- lecida termos universais. Assim, a ética pro- 12 PADOVANI, U. & CASTAGNOLA, L. História da Filosofia. São Paulo: Edições Melhoramento, 1972. 13 HUME, D. Hume – vida e obra. São Paulo: Editora Nova Cultura Ltda, 2004. 14 KANT, I. Crítica da razão prática. São Paulo: Martins Fontes, 2002. 12. posta por Kant é válida, sem distinção, para todos os seres humanos. Kant já não considera mais como essencial à ética a felicidade humana, mas sim o dever de que cada ser humano se reconheça como criatura racional. Desta forma, o bem moral não está na felicidade e sim, no exercício de autonomia para que se tomem as rédeas da construção de sua vida. Assim, o bem é a boa vontade, em outras palavras, é a disposição constante em condu- zir a vida individual e não se submetendo às tendências naturais do ser humano. Kant afirmou que para serem livres as pessoas precisam ter responsabilidade por suas intenções e seus atos. A regra necessá- ria para nortear a necessária normatização da racionalidade humana foi nomeada de impe- rativo categórico. Pronunciou “age de maneira que possas querer que o motivo que te levou a agir se torne uma lei universal”. Conforme seu enten- dimento, a ação do ser humano é dada por respeito ao dever. Cada pessoa é considerada legisladora de sim mesma. Para Kant, todos os seres humanos são fins em si mesmos. A maior violação da ética seria tratar um ser humano como objeto. A ética é direcionada para a norma e não para a consequência. Kant15 afirma que “a moralidade de um ato não deve ser julgada por suas consequên- cias, mas apenas por sua motivação ética”. Alega Kant16 que o caminho para o alcance do bem supremo é a fé religiosa, pois, a razão humana não oferece garantia neste sentido. Desta maneira, a existência de Deus é postulado da razão que não se pode provar, assim como imortalidade da alma. Baseado no principio da utilidade, o Utili- tarismo17 foi um movimento que trouxe uma ética científica e objetiva. A felicidade para um grande número de pessoas passou a ser 15 KANT, I. in Heath P. ET all. Lectures on ethics. Cambridge: Cambridge University Oress, 1997. 16 KANT, I. Crítica da razão prática. São Paulo: Martins Fontes, 2002. 17 PEGORARO, O. Ética dos maiores mestres através da história. Petró- polis, RJ: Vozes, 2010. a perspectiva da moral. Desta forma, é fun- damental que se opte por ações que possam proporcionar a máxima felicidade ao maior número de pessoas. Uma das grandes questões que os utili- taristas procuram abordar foi a constatação de que aquilo que traz felicidade para algu- mas pessoas, pode significarinfelicidade a outras. É por esta razão que o grande pro- blema da humanidade estaria na escolha entre “a maior felicidade para um número menor de homens” ou “a menor felicidade para um número maior de homens”. Um dos principais questionadores da ética kantiana foi Hegel (1777 até 1831). Isto porque, segundo ele, ao pensamento de Kant faltou considerar a relação e a história de cada pessoa com a sociedade. Afirmou que os con- flitos reais inseridas nas decisões do âmbito moral estariam excluídos da proposta de Kant. Hegel, que embora nada tenha escrito a respeito da ética porque considerava sinô- nimo de moral, tratou do vínculo entre a ética com a história, a sociedade e a política. Considerava dever de o Estado garantir a vivência ética. Importante pensador foi também Kierkega- ard (1813 até 1855), pois foi considerado o pai do existencialismo. Contrário ao pensamento de Hegel, afirmava que existe apenas o homem concreto e a sua subjetividade, enquanto Hegel explicava o homem por meio de sua racionali- dade objetiva. Para Kierkegaard18 a existência do indivíduo somente pode ser vida e a tentativa de explicação racional e objetiva não é possível. Afirmou que “as teorias éticas são raciona- listas demais para permitir que os homens se ajustem a elas em suas vidas”. Kierkegaard foi adepto da religiosidade. Alegou que o ser humano deve basear sua vida menos nos princípios éticos e mais nos princípios religiosos. Pensamento marcante na história da humanidade foi o de Karl Marx19 (1818 até 18 KIERKEGAARD, A. Temor e tremor. Coleção Os Pensadores, São Paulo: Abril Cultural, 1979. 19 MARX, K., 1972. Critica Del programa de Gotha. Quimantu, San- tiago. 1972. Ética e Deontologia JuríDica 13. 1883), pois ofereceu bases teóricas e práticas para um novo conceito moral. Para ele, a moral seria umas das formas da ideologia dominante em uma sociedade, porque difunde valores necessários à manutenção daquela sociedade. Marx elaborou a doutrina ética do marxismo oferendo críticas e explicações a respeito dos pensamentos morais passados. Para Marx todo ser humano social e his- tórico. Não foi sua intenção propor uma ética, porém, seu principal legado é moral porque seu pensamento é pautado na justiça. Engels20 (1820 de 1925) defendeu o pen- samento de que a sociedade humana estava rumando a níveis morais crescentes quali- tativamente. Alegou que em determinado momento a moral proletária iria se tornar uni- versal. Para ele a moral não poderia ser gene- ralizada porque na sociedade de classe cada pessoa tem a sua moral. Em seguida, Max Weber21 (1864 até 1920) proferiu que a respeito do que chamou espí- rito do capitalismo moderno, todas as atitudes morais agraciadas pelo utilitarismo. Entre o legado do pensador Nietzsche (1844 até 1883) está o fato de que com ele a ética foi desvinculada definitivamente da reli- gião e entendida como ciência. RUSSEL22 aponta que segundo Nietzsche “o homem livre deve reconhecer que Deus está morto; o que devemos aspirar não é Deus, mas sim um tipo mais elevado de homem”. Assim, a fé para o pensador é rejeitada. A ética assim estaria no ponto essencial para a justificativa das ações humanas. Por causa da ética e o estabelecimento de padrões de comportamento a convivência torna-se possível. Nietzche23 afirma os instintos natu- rais como propulsores da ação humana ao alegar que a ética é movida pela tentativa de superação contínua em busca do prazer dio- nisíaco. Atribui a origem dos valores éticos à emoção e descreve o ser humano forte como 20 ENGELS, F. Anti; Duhring. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. 21 WEBER. M. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Livraria Pioneira, 1987. 22 RUSSEL, B., 2004. História do Pensamento Ocidental. Editouro: Rio de Janeiro, 2004. 23 NITSCHE, f., 1925. Além do bem e do mal. São Paulo,:Sagitário, 1925. aquele que não se submete à demagogia da moral repressora, mas sim que é capaz de não reprimir seus desejos e impulsos. Max Scheler24 (1874 até 1928) tem pensa- mento oposto ao de Kant no que tange à crítica da razão e da sensibilidade. O pensador pro- põe a faculdade da “intuição emocional”. Na intuição emocional são realizados atos inde- pendentes do raciocínio e da sensibilidade, porém, tais atos são considerados conheci- mento moral. Propõe o emprego do método fenome- nológico a fim de investigar as questões éti- cas. Tal método é importante porque permite que questões relativas a valor e a liberdade de escolha sejam discutidas, visto que pelo método empírico-dedutivo, usado no estudo da natureza, a discussão se torna inviável. 2.6 Perspectiva da Ética Contemporânea Há cerca de 50 anos a ética contemporânea teve início. Desde então vem acompanhando grandes transformações de vários aspectos, como no meio cultural, social e científico. Atualmente, o ser humano é levado a refletir a respeito de questões éticas cotidia- namente. Exemplo disso são questões, por exemplo, sobre cuidados com animais como a pesca humanitária, biodiversidade como ética do meio ambiente, e as tecnociências como clonagem e manipulações genéticas, ética de imprensa como manipulação de massa, entre outros. A ética aborda questões fundamentais como a tendência do ser humano destruir a si e a seu meio. A tendência atual é de que a ética, além de romper com a metafísica e pressupostos teo- lógicos, seja considerada também separada- mente da razão prática kantiana. Razão esta que instaurou a ética do indivíduo cumpridor do dever pelo dever, sem estar atento para os demais e para seu meio. 24 SCHELER, M. Ética. Nuevo ensayo de fundamentación de um perso- nalismo ético. Tomo I e II. Buenos Aires: Revista de Ocidente, 1948. 14. Desta forma, a ética acompanha a cons- trução de novos paradigmas como a ética da reciprocidade, a ética discursiva, a ética dos direitos humanos, e a ética da justiça. Questões complexas que vigoram na atua- lidade como a fome mundial apesar da produ- ção excessiva de alimentos estão dotados de elementos éticos. Assim como, a questão ética aparece no conceito de respeito à diversidade cultural de religiosa e, apesar de disso haver guerras brutais por conflitos de tolerância. Há questão ética emergindo quando a tecnologia médica e farmacêutica são altamente desen- volvidas e ainda assim muitas pessoas pade- cem por falta de medicamento e cuidados. Pode-se pensar que a crise da ética con- temporânea não ocorre meramente em face da razão, mas sim da visão diminuída da razão. O fato é que a ética contemporânea está formando-se e enquanto partícipes desta for- mação os seres humanos podem se deparar com diversos problemas nas mais variadas áreas do conhecimento. Podem assim, ser apontados problemas nunca antes refletidos por não terem feito parte da realidade no pas- sado, bem como problemas existentes há tem- pos e até hoje propositalmente ignorados por não haver interesse maior em sua solução. Para CORTINA & MARTINEZ,25 “a ques- tão que deve ocupar os éticos de hoje é a de perfilar novas teorias éticas que possamos considerar à altura do nosso tempo”. Enquanto alguns teóricos assinalam o período atual com pessimismo e descrença na evolução ética da humanidade, outros desta- cam a razão e a vontade do ser humano como balizadores de uma ética otimista de pro- gresso e constante aperfeiçoamento. Consideração importante a este respeito é que “o homem adquire um valor pessoal, não só como ser espiritual, mas como ser corpóreo, sensível, e não só como ser dotado de razão, mas também de vontade. A ética origina-se não mais na interioridade da razão, mas na objetividade, uma vez que ela se estende a 25 CORTINA, A. & MARTINEZ, E. Ética. São Paulo: Edições Loyola, 2001.toda à realidade da natureza, a toda a forma de vida e ao meio ambiente”.26 Nesta visão, a ética deixa de estar focada somente no ser humano como único sujeito de discussão ética, para abordar também o todo na figura do universo. A chamada transdisciplinaridade, ou seja, o transito entre as áreas do conhecimento, embasa metodologicamente a parceria antes improvável das culturas científicas e humanista. Vigora na atualidade a tentativa de com- preender o conceito de toas as áreas de atua- ção humana a fim de garantir a abrangência necessária para que seja considerada uma “ética para o ser humano” em detrimento da visão reducionista de ética humana. A respeito dos pensadores contemporâ- neos serão citados alguns que seguem. Gramsci27 (1891 até 1937) afirmava que ser ético significa pensar em benefício da maio- ria, indo contra o autoritarismo, lutando pela liberdade, agindo para que este pensamento seja materializado cultural e socialmente, ainda que custe a sua própria liberdade. Gramsci afirma que a conduta ética implica em coragem e comprometimento com meio, rumo à construção histórica solidária e mais próxima da visão democrática. Conforme já tratado, a ética contemporâ- nea se aproxima das outras áreas do conheci- mento. Uma relação entre áreas que tem ren- dido frutos importantes para o pensamento atual é a psicanálise e ética. Freud (1856 até 1939) conseguiu impor- tantes descobertas a respeito do papel da motivação inconsciente no comportamento humano. Estas descobertas têm importantes consequências pra as investigações éticas. Para Freud o inconsciente é dinâmico, ativo, e tem forte influência no comporta- mento real do sujeito. Por meio deste conceito, a ética está obrigada a ponderar se ato moral 26 REVISTA PRÁXIS, ano III. Nº 5 – Janeiro. Centro Universitário de Volta Redonda: Volta Redonda, 2011. 27 GRAMSCI A. Concepção dialética da Historia. Rio de Janeiro: Civili- zação Brasileira, 1981. Ética e Deontologia JuríDica 15. é aquele no qual o sujeito age com consciência e liberdade. Como consequência deste pensamento, Freud considera que os atos praticados por motivação inconsciente são amorais. Por isso, considera que a partir desta concepção de inconsciente, ações como, matar, roubar, mentir, destruir, seduzir, r ambicionar são simplesmente desprovidos de moral, pois na ideia de inconsciente não cabe a interpretação de moralidade. À luz da psicanálise a expressão da vida humana é resultado da história de vida. Con- sidera o que chama de sexualidade insatis- feita, como norteadora da vida, desta forma haverá satisfações imaginárias que se pode buscar de fato poder ser fonte de satisfação plena. Sem que haja repressão da sexuali- dade, não poderá haver sociedade, contudo, caso haja excessiva repressão da sexualidade serão destruídas tanto a ética como a própria sociedade. As ideias de Freud embasaram importan- tes pensamentos no século XX, uns buscando a demonstração de raízes biológicas da moral e outros realizando a comparação entre o ser humano e os outros animais. Uma importante corrente do século XX foi o Pragmatismo. Caracterizado pela identifica- ção da verdade com aquilo que é útil. O útil aqui pode ser traduzido como aquilo que oca- siona a melhoria da convivência e vivencia. Assim, algo bom seria equivalente a algo que conduz com eficácia rumo ao êxito. O bom é, portanto, aquilo que ajuda a pessoa em sua atividade prática. Os princípios, normas são assim esvazia- dos de conteúdo objetivo e o valor do que seria bom varia de acordo com cada situação. Entre os principais pensadores do movi- mento pragmático estão S. Peirce (1839- 1914), William James (1842-1910) e J. Dewey (1859-1952). Charles Peirce (1839 até 1914) afirmou que não se pode estar seguro de não haver cometido um erro. Para serem verdadeira, as declarações devem permitir a possibilidade de alguma ação futura. W. James28 (1842 até 1910) propôs uma ética prática, visto que foi defensor e funda- dor da filosofia pragmática. Para o pensador as pessoas devem agir como se suas atitudes pudesse fazer a diferença. Afirmou que no momento em que uma pessoa necessita tomar uma decisão e não a toma, está tomando a decisão de nada fazer. Para James, possuir as ideias verdadeiras, distante de ser a finalidade, é um bem prático. É um meio para satisfazer outras necessida- des vitais. “Somos todos propensos a ser sel- vagens por alguma causa; e a diferença entre o homem bom e o mal é a escolha da causa”. K. Jaspers (1883 até 1969) destacou que a ética é feita a partir dos esforços da pessoa para transcender. O existencialismo proposto por Jasper tem inclinações religiosas. Para Sartre29(1905 até 1980) Deus não existe. A partir desta dedução provêm algu- mas consequências. Os valores humanos, por exemplo, já não se justificam e o único valor considerado pelo pensador é a liberdade. Quando desconsidera o cerne dos valo- res, que é Deus, descarta a possibilidade de existência dos valores. Assim, Sartre deixa de abordar os princípios e as normas dotados de objetividade e universalidade. Para Sartre o ser humano é o seu próprio projeto e, por isso só existe enquanto se rea- liza. Desta forma, o ser humano não é mais do que o conjunto de suas ações, ou seja, não é nada mais que sua própria vida. O conceito existencialista a respeito da liberdade humana é explorado por Sartre. O ser humano é livre para fazer a si mesmo. Ao autor, cada pessoa é absolutamente livre e prova o exercício de sua liberdade sendo aquilo que escolheu ser. Desta forma, a vida humana é um constante escolher pes- soal. As ações éticas possibilitaram a seleção de valores morais como o repúdio ao autorita- rismo, o respeito às diferenças e a igualdade. 28 WILLIAM, J. Pragmatismo: um nuevo nombre para viejas formas de pensar. Madrid: Alianza, 2000. 29 SARTRE. Los caminos de la libertad. Losada. Buenos Aires: 1977. SARTRE, J. P. O existencialismo é um Humanismo. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1978. 16. Por este motivo, valeu-se de sua máxima “o ser humano está invariavelmente condenado à liberdade”. Em suma, na concepção de Sartre, cada pessoa escolhe com liberdade, formando assim o seu valor. Cada pessoa, assim, é res- ponsável por criar normas ou valores a fim de que estas norteiem seu comportamento. Sartre trata da existência do próximo e afirma que uma pessoa somente pode ter por fim sua liberdade quando considera a liber- dade alheia. Portando o compromisso pessoal com a liberdade pressupõe compromisso tam- bém com toda a humanidade. Pensador contemporâneo também impor- tante foi Hans Jonas 30(1903 até 1993). Defende uma ética baseada na responsabilidade que assume todo ser humano frente a preservação da natureza em benefício das gerações futu- ras. Foi pioneiro em considerar as condições globais da humanidade. Incomoda-se espe- cialmente com o mau uso do planeta. Hans Jonas parafraseia Kant em sua cele- bre frase: “age de tal modo que os efeitos da tua ação sejam compatíveis com a permanên- cia de uma vida humana autêntica na terra”. A ética de Jonas propõe aproximação de parâmetros filosóficos da ética com a filoso- fia da biologia. Com isso, aborda um novo aspecto para reflexão a respeito da precarie- dade da vida humana. Tem-se aqui a volta da valorização da vida como privilégio, afas- tando o utópico idealismo e o limitado mate- rialismo. Muito importa ao estudo do Direito o pen- samento de John Rawls31 (1921 até 2002). Este pensador ficou famoso por seus tratados a res- peito da ética da justiça. Rawls considerou que a ética da justiça é fruto de uma construção consensual que tem na justiça o princípio fundamental. A ética da justiça não tem por fim a virtude napessoa, mas a ordem e aas estruturas sociais. 30 JONAS, H. El princípio de Responsabilidad: ensayo de uma ética para La civilización tecnologica. Barcelona: Herder, 1995.JONAS, H. The phenomenon of life: toward a philosophical biology. New York: Harper and Row,1966. 31 RAWLS, J. Uma teoria da Justiça. São Paulo: Martins Fontes, 2008. O foco do pensamento de Rawls foi o Prin- cípio da Justiça que trata da distribuição dos bens produzidos pela sociedade equitativa- mente. De modo que modo seja garantido a todos os cidadãos que ninguém fique abaixo das mínimas condições da justiça. Segunda esta ótica o importante Princí- pio da Igualdade também foi estabelecido. Tal princípio é referenciado e garantido atu- almente pelas grandes constituições de países democráticos. O princípio da igualdade ou da isonomia é considerado dentro do ordenamento jurí- dico um dos mais importantes, pois abre pre- cedente para vários outros princípios garan- tistas. Trata-se, portanto da garantia do direito à vida, ao respeito à orientação religiosa e política. É, por este motivo, considerado como valiosa ferramenta para a materialização da justiça. Vale aqui destacar que a igualdade é concebida de várias maneiras de acordo com a evolução social. Passa por períodos de desigualdade extrema, segue para exa- cerbado liberalismo e, aqui chega à verda- deira essência da isonomia. Onde os iguais são tratados igualmente e desiguais tratados desigualmente. Para alcançar a ética proposta por Rawls, todavia é necessário que as pessoas mais talentosas, que receberam dotes inatos por herança ou dom, precisam concordar em ter minimizada sua participação em bens, lucros, salários e status social, em favor de outras pes- soas consideradas desassistidas. Após a II Guerra Mundial, o filósofo ale- mão Habermas32 (1929) defendeu uma ética com base no diálogo entre pessoas em que fossem garantidas igualdade e equidade. Em seu pensamento, para que seja válida a norma moral é necessários que os acordos sejam discutidos livremente e aceitos pelos cidadãos. No discurso de Habermas a ética é uma aposta na capacidade de entendimento entre as pessoas na busca de uma ética demo- crática e não autoritária. 32 HABBERMAS, J. Consciência Moral e Agir Comunicativo. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1989.HABERMAS, J. Etica Del discorso, Laterza. Bari: 1994. HEGEL, G. Fenomenologia do Espírito. Petrópolis: Vozes, 1992. Ética e Deontologia JuríDica 17. Haberman afirma que “segundo a Ética do discurso, uma norma só tem valor se todos aqueles que estão envolvidos com ela conse- guem, como participantes de um discurso prático, chegar a um acordo sobre a validade de tal norma”. Considera que não há possibilidade de ética onde a misérias e riquezas coexistem. Estabelece que, para que seja válida, a ética depende estritamente da valorização da liber- dade e das diferenças humana, não existindo na repressão e na verticalidade do diálogo. A ética proposta por Habermas contempla duas fases: fundamentação do princípio ético e ética prática. A ética de Habermas se depara com o obstáculo da condição da sociedade, isto por- que, atualmente a desigualdade é evidente em vários aspectos. Assim, a grande dificuldade para que esta ética seja posta em prática é rea- lização do diálogo igualitário e livre. Ainda para ilustrar o pensamento ético contemporâneo vale destacar a importância do filósofo australiano Peter Singer3333 (1946). Este pensador tem se dedicado ao estudo da ética prática sob a perspectiva utilitarista. Singer afirma que o direito à integridade física das pessoas está ligado fundamental- mente à suas qualidades de vida. Defende a que o aborto e a eutanásia podem ser justifi- cados sob a ótica da mensuração da qualidade de vida. Vem trabalhando com o tema da globali- zação sob o aspecto da diversidade das condi- ções humanas. “À medida que os países do mundo se aproximam entre si a fim de resolver problemas como os do comércio global, das mudanças cli- máticas, da injustiça e da pobreza, os líderes das nações devem incor- porar um ponto de vista mais amplo que o do puro e simples interesse nacional. Numa só pala- 33 SINGER, P. Ética Prática. Rio de Janeiro: Gradiva, 2002. SINGER, P. Vida ética: os melhores ensaios do mais polêmico filósofo da atualidade. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002. SINGER, P. Um só mundo: a ética da globalização. São Paulo: Martins Fontes, 2004. vra, precisam adotar uma atitude ética perante a globalização”. Nesta linha, aborda o tema da injustiça na imensa diferença das condições sociais e cul- turais humanas e propõe soluções para ame- nizar tais discrepâncias. Entre estas soluções, Singer propõe a obrigatoriedade de todos os trabalhadores a ceder ao menos 10 por cento de seus rendimentos a fim de solucionar a pobreza de outros. Singer afirma ser moralmente defensá- vel que algumas pessoas morram de fome enquanto outras vivem com abundância. Aponta que todos os seres humanos devem refletir tanto sobre as consequências daquilo que fazem quanto nas consequências daquilo que decidem não fazer. Chama assim, cada pessoa a pensar sobre sua responsabilidade na situação em que mundo se encontra. 3. A DEONTOLOGIA JURÍDICA 3.1 Definição O termo Deontologia foi criado pelo filó- sofo inglês Jeremias Benthan (1748 a 1832), um dos fundadores da denominada Filoso- fia Utilitarista no século XIX. Em sua obra, Benthan planejou estabelecer uma espécie de matemática moral, na qual ficassem defini- dos os deveres e obrigações no campo social e jurídico, que tinha por fundamento o pra- zer e a pena. No entanto, da filosofia moral de Benthan apenas nos ficou a importância histórica do referido nome, que passou a representar as regras de conduta dos vários ramos profissionais. Quanto à origem da palavra Deontolo- gia, deriva do grego deontos (dever) e logos (estudo/tratado), isto é, a ciência dos deveres, no âmbito de cada profissão. Por isso, pode- mos designar Deontologia Jurídica, para as profissões do meio jurídico (advogados, juí- zes, promotores), como também Deontologia Médica, Deontologia dos Engenheiros, etc. A Deontologia Jurídica, consequente- mente, é a disciplina ou ciência que trata dos deveres dos agentes que lidam com o Direito, 18. de seus fundamentes éticos legais. Assim, con- sidera os deveres gerais e aplica-os à profissão daqueles que atuam no meio jurídico. Por isso, direciona-se não apenas ao homem, mas sim ao homem profissional do Direito. Estes deveres especiais decorrem das nor- mas que regulamentam a atividade profissio- nal. Destaque-se que estas normas estabele- cem, além dos deveres, também os direitos e prerrogativas profissionais. 3.2 Relações com Outras Ciências A Deontologia possui aqueles clássicos requisitos que a definem como uma ciência autônoma: princípios próprios e objeto pró- prio de estudos, que não se confundem com outros ramos do Direito. No entanto, possui estreita relação com a Filosofia Moral, ou Ética e com outros ramos do Direito. A Ética é conhecida como a ciência “do que deve ser” e não a ciência “do que é”. Estuda o bem e o dever, válida para todos os homens, em todas as circunstâncias, para todas as ativi- dades humanas. É o campo próprio em que se estruturam os princípios gerais e teóricos da Deontologia. A Deontologia Jurídica também se rela- ciona com outros ramos do Direito, como a Filosofia do Direito, de onde nasceu e poste- riormente se desprendeu, ao se delimitar cla- ramente sua matéria de estudo. Da mesma forma, se relaciona com o Direito Civil, como, por exemplo, na parte que trata do instituto do mandato judicial, onde se encontram normas reguladoras da atividade forense. Também se relaciona com o Processo Civil,que traz um enorme cabedal de normas dirigidas aos operadores do Direito, tais como competências, atribuições, prazos, capacidade para agir em juízo, etc. Pode-se afirmar, pois, que a Deontologia Jurídica, ao se relacionar com as diversas dis- ciplinas que compõem a ciência jurídica, serve como auxilio ao profissional do Direito, per- mitindo que aplique o conhecimento jurídico com consciência moral e dignamente, orien- tando sua atividade para o devido fim. 3.3 A Existência do Dever Moral Em termos gerais, pode-se afirmar que a Deontologia trabalha com três bases diferen- tes: a) a existência de um dever moral; b) a natureza do dever e; c) as consequências do dever. Ao se analisar, ainda que superficialmente, a natureza do homem, é possível constatar, como elemento que o diferencia das demais espécies, a existência de uma consciência psi- cológica, que lhes permite fazer julgamentos sobre os atos e as circunstâncias. A existência desta consciência revela que a conduta humana tende naturalmente para a verdade, pois busca conhecê-la. Portanto, esta tendência é para o bem, pois a verdade é um bem, e a partir do conhecimento do bem a consciência impõe ao homem um dever de praticar o bem e, em contrapartida, de evitar o mal, que seria o seu oposto. A esta imposi- ção pode-se chamar de lei moral, que gera um dever moral, que por sua vez acarreta uma responsabilidade moral. O dever pode ser entendido como o bem enquanto obrigatório. E este bem pode ser entendido como a realização plena da finali- dade do homem, daquilo que deve ser cum- prido. Este caráter obrigatório do cumprimento do bem se chama dever. O dever, portanto, tem a natureza de uma obrigação, que é sua substância, e não ape- nas deriva da nossa consciência, mas também de uma ordem natural. O desrespeito a essa ordem natural é um desrespeito à ordem das coisas, ao fim do ser humano, à própria estru- tura racional do universo. Assim, pode-se afirmar que onde há uma obrigação há um bem e onde há um bem há uma obrigação. O bem consiste em fazer o que é devido (o dever) e o dever consiste em fazer o bem. Ética e Deontologia JuríDica 19. O cumprimento do dever faz nascer uma responsabilidade. Esta responsabilidade é uma consequência do dever cumprido, pois quem cumpre um dever de consciência se mostra inteiramente responsável pelo ato pra- ticado. Todavia, para que exista esta respon- sabilidade é requisito essencial que o atendi- mento do dever tenha sido inteiramente livre, por isso que a liberdade do agente é a caracte- rística peculiar à responsabilidade. Quem não e livre não é responsável, não pode responder pelos atos praticados. Assim, a liberdade é a razão de ser da responsabilidade. 3.4 A Consciência Moral A consciência é o nervo motor das ações e aferições da conduta humana, é antes de tudo uma faculdade da alma. Etimologicamente, ela conhece junto à nós (cons-ciência), está conosco, é a ciência de nós, conhece as nossas ações, sabe se estamos fazendo o que se deve ou o que não se deve. Pode-se dizer que a consciência é uma espécie de razão intuitiva, que automática e espontaneamente nos dá o conhecimento imediato dos princípios primários da nossa conduta e da conduta alheia. Inobstante, ela se serve para essa diretriz da colaboração de outras faculdades, como da inteligên- cia, da razão e da intuição, podendo tam- bém contar com a educação e cultura que o homem possua. Esta consciência moral, que nos permite aferir o comportamento próprio e alheio, na busca da verdade e do bem, apresenta-se em diferentes graus ou estados, repercutindo na melhor ou pior percepção do dever moral. Dentre estes diferentes graus ou estados de consciência, podemos destacar os seguin- tes: a. consciência ignorante – é aquela em que o agente não sabe distinguir ade- quadamente entre o lícito e o ilícito, entre o ato bom e o ato mau. É o caso dos irresponsáveis, dos loucos, que agem confusamente; b. consciência certa ou reta – é o estado da consciência que acerta na aplicação dos princípios aos casos concretos; é aquela que distingue claramente entre o lícito e o ilícito, entre o que fazer e o que não fazer. É o estado em que a consciência adere e se adapta adequa- damente ao dever; c. consciência errônea – é aquela que leva o agente ao erro, pela qual pensa estar cumprindo o dever moral quando ele não existe. É o estado de consciência que erra na aplicação dos princípios ou que se apoia em princípios falsos, pensando serem verdadeiros. Afirma ser bom aquilo que é mau. Neste estado, quando a consciência é inven- civelmente errônea, não há culpa ou responsabilidade pela conduta; d. consciência duvidosa – é aquela que deixa o juízo do agente em suspenso, que tem dúvidas no agir, que age com dúvidas na sua decisão. Neste estado a consciência não chega a emitir um juízo; e. consciência provável – é aquela que, embora sabendo que possa estar errada, julga lícita, ainda assim, deter- minada ação. Não tem a segurança de uma certeza, baseia-se no provável, sempre admitindo que, ao final, seu juízo possa estar cometendo um erro. f. consciência laxa ou larga – é aquele estado de consciência que, com levian- dade, sem se preocupar com qualquer análise, julga que qualquer solução é boa, qualquer caminho serve. Aceita tudo como lícito e bom. Leva o agente a uma total insensibilidade moral. g. consciência escrupulosa – é o estado contrário à consciência laxa: vê o erro e a maldade onde eles aí não existem. Dentro deste estado de consciência toda a ação pode ser errônea. Em face dos diferentes graus de Consci- ência Moral, que afetam a compreensão do bem e, por consequência, do dever moral, algumas regras de conduta devem ser obser- 20. vadas, de modo a nortear o comportamento humano para o bem, dentre elas destacam-se as seguintes: a. não devemos nunca agir contra a consciência; b. devemos atender ao dever moral com a intenção de estarmos agindo de confor- midade com o bem que ele é. É necessá- rio o desejo de cumprir o dever. Deste preceito decorre a conclusão de que os fins bons não justificam os meios maus, pois o desejo de cumprir o dever, que é um bem, pressupõe que os meios sejam igualmente bons; c. não devemos nunca agir com a cons- ciência duvidosa sobre a licitude ou não de uma conduta, pois seria agir de forma temerária, pondo em risco direito alheio. É preciso procurar uma solução adequada para a dúvida antes de agir; d. devemos agir sempre com a consciên- cia certa e verdadeira; e. quando a consciência errônea é invencível, ou seja, quando o erro não pode ser superado pelo agente, mesmo com estudo, etc., é legitima a conduta, porque ela é considerada subjetivamente certa; f. é permitido agir com a consciência escrupulosa, desde que seja real e exa- gerada; g. não se deve agir jamais com a cons- ciência laxa ou larga, que considera tudo lícito e permitido; h. é permitido agir com a consciência provável, quando não for possível se alcançar a certeza absoluta, desde que tenham sido tomadas as cautelas necessárias, a prudência com o acu- rado exame do problema. O que se deseja com estas regras é alcançar uma disciplina moral que respeite a liberdade e dignidade dos homens ao viverem em socie- dade, além de nortear o homem na formação continua de sua consciência. 3.5 O Objeto de Estudos da Deontologia Jurídica Como vimos, a Deontologia é a teoria dos deveres e consiste, assim, no complexo de princípios e regras que disciplinam particu- lares comportamentos do integrante de uma determinada profissão. A Deontologia Jurí- dica, por sua vez, designa o conjunto de nor- mas éticas e comportamentais a serem obser- vadas pelo profissional jurídico, no
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