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Artigo - Etica e Deontologia Juridica

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Pós-Graduação em Direito
Ética e Deontologia Jurídica
Vinícius Teodoro de Oliveira
FAEL
Diretor Executivo Marcelo Antônio Aguilar
Diretor Acadêmico Francisco Carlos Sardo
Coordenador Pedagógico MIguel de Jesus Castriani
EDitorA FAEL
Autoria Vinícius Teodoro de Oliveira
Projeto Gráfico e Capa Katia Cristina Santos Mendes
Programação Visual e Diagramação Katia Cristina Santos Mendes
AtEnção: esse texto é de responsabilidade integral do(s) autor(es), não correspondendo, necessariamente a opinião da Fael.
É expressamente proibida a venda, reprodução ou veiculação parcial ou total do conteúdo desse material sem autorização prévia da Fael.
FAEL
Rodovia Deputado Olívio Belich, Km 30 PR 427
Lapa | PR | CEP 83.750-000
FotoS DA CAPA
Shutterstosk
Todos os direitos reservados.
2015
Ética e Deontologia 
Jurídica
1. MORAL, ÉTICA E 
DEONTOLOGIA
Vinícius Teodoro de Oliveira(*) 
A necessidade de adequação às regras de 
convivência foi entendida como imprescindí-
vel tanto ao ser social quanto ao profissional. 
Com isso, houve necessidade de se estabelecer 
condutas éticas propostas em códigos escritos, 
ou seja, os manuais.
Os temas abordados nesta disciplina são 
de grande relevância, pois irão nortear a fun-
damentação e a prática pessoal. Isto porque a 
disciplina aqui chamada de Ética e Deontologia 
Jurídica se entrelaça com a vocação jurídica.
Em outras palavras, a vocação enobrecida 
e bem compreendida é melhor aplicada. De 
outro lado, quando desprezada ou alienada, a 
linha vocacional torna- se obscura, adulterada 
ou danificada.
Intenta-se com o presente artigo, que o lei-
tor tenha êxito e possa enobrecer sua vocação 
agregando os conhecimentos aqui propostos.
. . . . . . . . . . . . . . . . 
(*) Especialista em Direito Empresarial. Advogado atuante nas áreas 
empresarial, tributária e aduaneira. Foi instrutor do Tribunal de Ética da OAB/
PR. Docente em Cursos de Graduação e de Pós-Graduação.
O objetivo inicial é de apresentar os con-
ceitos dos temas essenciais à disciplina, a fim 
de definir e diferenciar cada um deles.
É comum haver equívoco entre os concei-
tos de ética, moral e deontologia, assim como 
reduzir os códigos de ética profissionais a 
códigos de conduta. Por este motivo, propõe-
-se aqui a reflexão dos conceitos por diferentes 
teóricos, sem deixar de lado os exemplos prá-
ticos que tanto contribuem para a elucidação 
da teoria.
1.1 Diferenças e 
aproximações 
entre os conceitos 
de moral, ética 
e deontologia
Os conceitos de moral, ética e deontologia 
se entrelaçam e, portanto é compreensível que 
causem certa confusão de senso comum.
A respeito destas diferenças, assim como 
faz LANGARO1 em seus escritos, vale ressal-
tar que um conceito encontra-se entrelaçado a 
outro historicamente.
1 LANGARO, Luiz Lima. Curso de Deontologia Jurídica. 2. ed. Atuali-
zada por Gislon Langaro Dipp. São Paulo: Saraiva, 1996.
RESUMO: O presente trabalho pretende 
contribuir com o aprendizado sobre a ética e a 
deontologia jurídica. Para tanto, serão desen-
volvidos conteúdos sobre a Moral, Ética e 
Deontologia, Diferenças e Aproximações entre 
os Conceitos de Moral, Ética e Deontologia, 
Fundamentos do Pensamento Ético na Histó-
ria da Humanidade nas perspectivas: grega, 
helenística, medieval, moderna e contempo-
rânea; a Deontologia Jurídica, a existência do 
dever moral, os princípios inerentes e aspec-
tos da profissão do advogado; os requisitos da 
Profissão do Advogado – Estatuto da Ordem 
dos Advogados do Brasil (AOB), o Código de 
Ética da OAB. Com as considerações, intenta-
-se que o leitor não considere o assunto con-
cluso, mas que tendo este panorama da ética 
e deontologia propostos possa refletir critica-
mente sobre os rumos do pensamento atual, 
para assim, posicionar-se com propriedade 
perante o desafiador tema.
Palavras-Chaves: Ética. Moral. Direito. 
Deontologia Jurídica. Estatuto da OAB. 
Código de Ética
 
2.
A palavra moral deriva do termo romano 
“mos/moris” que expressa em latim o mesmo 
que os similares gregos e pode também signi-
ficar personalidade ou moradia.
A moral existe desde que o ser humano 
habita em grupo e se transforma em con-
junto com a sociedade. Assim, a moral nasce 
quando surge o outro, ou seja, quando começa 
a aparecer o ser social.
Moral é definida pelas normas, valores e 
princípios que gerações transmitem às novas 
gerações com vistas a orientar o modo como 
devem comportar-se a fim de terem uma tran-
quila em comunidade. Conceitos como bom 
caráter, honestidade, retidão são comprometi-
mentos morais, pois são elaborados e transmi-
tidos culturalmente visando o convívio social 
dentro de determinada cultura.
As normas morais são recebidas e aceitas, 
sem discussão, mas com liberdade e consciên-
cia pelas pessoas que desejam conviver bem 
com os demais do grupo. Estas normas regu-
lam as relações interpessoais de cada pessoa 
inserida em uma comunidade específica.
A norma que foi criada e acreditada 
como correta pela maioria do grupo social, 
com o tempo passa a ser vista como virtude 
daqueles membros e, o inverso também é 
verificado, o comportamento contrário é 
repudiado pelo grupo e passa ser visto como 
errado ou anormal.
Moral e ética a princípio parecem sinô-
nimos, contudo o termo moral se refere aos 
diferentes códigos de ética, e ética se refere à 
filosofia da moral.
A palavra ética tem origem na Grécia 
antiga, “ethica”. É derivada de ethos e sig-
nifica residência ou morada. Seu significado 
sofreu alterações passando a ser sinônimo 
de personalidade até assumir a significação 
usual para expressar hábitos e costumes. Ética 
é uma disciplina filosófica que busca a refle-
xão a respeito de problemas morais. Desta 
forma, pode-se afirmar que ética é a reflexão 
da moral. Para que o comportamento de uma 
pessoa seja ético é necessário que seja prove-
niente da reflexão de algum aspecto moral e, 
or isso, carregue características como liber-
dade e universalidade.
Ainda diferenciando moral de ética a fim 
de melhor elucidar, segundo CHAUÍ2, des-
taca-se que moral está no âmbito do fato social 
e a ética no âmbito de um bem universal.
Por este motivo, a moral pode ser mensu-
rada apenas no contexto de um grupo espe-
cífico da sociedade. Diz-se que a moral trata 
do comportamento interpessoal, ou seja, des-
tinado a regular os relacionamentos inerentes 
a um grupo de pessoas. A moral aponta as ati-
tudes corretas, regras claras e fechadas, para 
que o comportamento seja considerado ade-
quado ao grupo. A moral é fornecida por meio 
da cultura e interiorizada por cada pessoa 
pertencente ao grupo. As pessoas não fazem a 
moral, mas se sujeitam a ela, da mesma forma 
acontece com a cultura. Importante destacar 
que os sujeitos são livres e conscientes para 
aceitar ou criticar as regras morais que os são 
ofertadas.
Já a ética pode ser considerada um com-
portamento específico adquirido por meio de 
estudo e reflexão a respeito da moral. A ética 
aponta para o bem universal que é inerente a 
todas as sociedades. Ética é atemporal e vai 
sendo é construída pela razão, pelo estudo e 
pelo conhecimento adquirido. A característica 
de universalidade do comportamento é fun-
damental à ética. A ética torna cada pessoa 
responsável por suas atitudes, seu compor-
tamento, pois, depois de tamanha reflexão e 
ciência, já não se pode mais alegar desconhe-
cimento das implicações inerentes ao compor-
tamento pessoal.
Enquanto no âmbito da moral as pessoas 
fazem aquilo que sua consciência arbitra, 
no âmbito da ética cada um é levado a fazer 
aquilo que sua sabedoria e conhecimento 
o obriga.
Para NALINI,3 afirmar que a ética 
refere-se à filosofia da moral significa que 
aborda a ética profissional de uma ou outra 
profissão. Trata das normas deontológicas 
quecada profissional deve se propor e seguir 
2 CHAUI, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, São Paulo: 2009.
3 NALINI, José Renato. Ética geral e profissional. São Paulo: RT, 2006.
Ética e Deontologia JuríDica
3.
enquanto pertence a uma determinada 
categoria profissional.
A palavra deontologia é derivada do 
grego “deontos” e “logos” que significam res-
pectivamente dever e tratado. Deontologia é a 
ciência dos deveres que possui conteúdo ético 
e legal fornecidos pela filosofia moral.
Importa destacar que a deontologia cons-
titui tratados de condutas diferentes da moral. 
Portanto, não aborda o mero protocolo social, 
o simples bom senso e maneira adequada de 
comportamento, mas tem vistas ao cerne da 
formação cultural do ser humano. Importa à 
disciplina de deontologia a visão mais elevada 
da missão de cada pessoa.
Em outras palavras, o foco da deontologia 
é o “dever moral” e a consciência da responsa-
bilidade de cada pessoa nos aspectos particu-
lares e profissionais de sua existência.
Tanto a ética (filosofia da moral) como a 
deontologia (ciência dos deveres) permeiam 
cada uma das profissões.
Segundo BITTAR4, o código deontológico, 
ou código de ética profissional, pertence ao 
conjunto das normas jurídicas e, portanto, é 
um sistema de regras, externo à pessoa. Tem 
por finalidade a regulamentação de ações 
dos profissionais de cada categoria, com foco 
nas suas obrigações e deveres, definindo por 
óbvio seus direitos.
2. FUNDAMENTOS 
DO PENSAMENTO 
ÉTICO NA 
HISTÓRIA DA 
HUMANIDADE
2.1 Breve histórico da 
ética no ocidente
Os primeiros documentos de ética encon-
trados na história da humanidade são escritos 
dos antigos gregos. A partir daí a evolução da 
ética teve diferentes aspectos abordados por 
4 BITTAR, Eduardo C. B. Curso de ética jurídica: ética geral e profissio-
nal. São Paulo: Saraiva, 2005
pensadores que, com seus distintos olhares, 
marcaram suas épocas.
Os antigos gregos são considerados 
patronos da filosofia, e desde seus estudos 
há cerca de 2.500 anos, a ética pode ser 
interpretada de várias maneiras. Aqui serão 
apresentadas várias opções de pensamentos 
éticos com a finalidade de provocar o leitor/
estudante a refletir sobre eles e, quiçá venha 
desenvolver-se em relação à ética, consciente 
de que sua escolha demanda responsabilidade.
As diferentes éticas que serão apresen-
tadas provêm de diversidade de teorias que 
com frequência contrastam como aponta 
COTRIM5.
Se por um lado seria ingênua a conclusão 
de que qualquer uma destas teorias poderia ser 
válida para os tempos atuais, tampouco se pode 
descartar a possibilidade de algumas delas ser-
virem de boas inspirações. O olhar para o pas-
sado é essencial para que as pessoas da atuali-
dade façam suas éticas, solucionem problemas 
e, porque não, aumentem sua felicidade.
Adaptado às questões de cada época, a 
história da ética no ocidente revela a alta pro-
dutividade e complexidade com que o tema 
foi sendo elaborado. As elaborações alcança-
ram novos e diferentes conceitos atingindo 
soluções inovadoras.
2.2 Perspectiva Grega
Conforme aponta ROSAS6, as primeiras 
preocupações com a temática ética tiveram 
início na antiguidade, entre os séculos V e o 
século IV a. C.
Este período é caracterizado pelos seguin-
tes aspectos fundamentais: a polis, cidades 
– estados, que visava o ideal de cidadão e de 
sociedade; e o cosmos, que significava a ordem.
Sócrates, filósofo consagrado como “pai 
da moral”, foi responsável pelas primeiras sis-
tematizações éticas da história ocidental.
5 COTRIM, G. Fundamentos da Filosofia - História e grandes temas. 
São Paulo: Saraiva, 2006.
6 ROSAS, Vanderlei de Barros. Disponível em: <http://www.mundo-
dosfilosofos.com.br/vanderlei18.htm>. Acesso: 10 abr 2015.
 
4.
Sócrates (470 ou 469 a 399 a. C.), que nada 
deixou escrito, teve seu legado difundido 
especialmente por Platão e Xenofone. Utili-
zou em seus ensinamentos do denominado 
método socrático maiêutico, que tinha foco na 
discussão das questões relacionadas ao saber.
Nesse tempo, a ética enfatizava o coletivo 
e partia de uma visão essencialista, definitiva 
e imutável do mundo e do ser humano. Ao 
criarem a democracia os gregos levantaram a 
temática da política. A forma de exercício de 
poder que havia antes dos gregos era apenas 
com uma autoridade, como nos reinados e 
impérios, nos quais o poder dependia direta-
mente da vontade arbitrária do governante. A 
própria lei era proveniente da vontade pessoal 
do rei ou do imperador. Cabia ao governante 
adquirir as virtudes necessárias para fazer 
seu povo ter melhor qualidade de vida. Desta 
forma, neste período não havia necessidade 
de ética à população.
Os gregos criaram um novo paradigma 
político, a democracia. Inserida na ideia 
democrática criaram a polis, ou seja, o espaço 
público, e o separaram dos desportes, o espaço 
privado. Por esta razão CHAUÍ7 aponta que 
o poder da vida privada está sob o domínio 
de déspotas de quem depende a felicidade e 
exercício de justiça, sua moradia e tudo que 
o habita, sendo um poder despótico. Ao cria-
rem a polis, os gregos propuseram um espaço 
onde o poder existe por meio de leis e não 
mais pela vontade e interesse de um gover-
nante, um déspota.
Para o exercício da política proposta pelos 
gregos havia necessidade da separação entre o 
espaço privado e público. Em outras palavras, 
é pressuposto de existência da política que o 
espaço privado não invada o espaço público.
A vontade coletiva é expressa pela polis 
por meio da discussão, da deliberação, e espe-
cialmente pelo voto. Assim, o poder e a auto-
ridade são públicos, e as decisões são deman-
dadas do coletivo, expressando a vontade de 
um grupo.
Neste sentido VAZQUEZ8 cita que a partir 
da ideia de democracia pensou-se em como ser 
7 CHAUI, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2009.
8 VAZQUEZ, A. Ética. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999.
feliz inserido neste espaço e a necessidade da 
ética veio de encontro à busca desta resposta. 
Desta forma, ética surge com o objetivo de 
regular os relacionamentos no espaço público.
A fim de tratar do tema da ética os princi-
pais filósofos gregos tiveram diferentes pers-
pectivas.
Os sofistas, por exemplo, que constitu-
íram um movimento intelectual no século V 
a. C., defenderam o relativismo dos valores 
humanos. Atualmente entende-se por sofis-
tas aqueles que se opõe ao estudo da ética por 
não se interessarem por normas universais da 
conduta humana. Por entenderem o mundo 
por meio de relativismos éticos aceitam que 
cada aspecto moral se justifica por causa do 
contexto social a que corresponde. Por este 
motivo acreditam que toda conduta tem igual 
validade. Para os sofistas não há verdade 
nem equívoco, e as normas são transitórias. O 
grande legado dos sofistas está na retórica, ou 
seja, a arte de convencer.
Para exemplificar o pensamento sofista 
cita-se Cálices, que tem existência duvidosa, 
e Trasímaco (459 a.C. – 400 a.C.). Atribui-se a 
estes pensadores a afirmação de que qualquer 
cidadão objetiva atingir o prazer supremo, 
englobando o domínio político, que por sua 
vez somente poderia ser alcançado pelos mais 
hábeis, fortes e corajosos no uso da retórica.
Outros pensadores são Protágoras (490 a.C. 
- 420 a.C.) e Górgias (183 a.C. – 375 a.C.). O pri-
meiro sustenta o subjetivismo e relativismo e 
o segundo afirma a impossibilidade de saber o 
que realmente existe e o que não existe.
Por causa da crença no relativismo da 
verdade concluíram na dúvida da possibi-
lidade de uma virtude poder ser ensinada. 
Porém, admitiram que uma virtude pudesse 
ser desenvolvida por uma pessoa por meio do 
despertar da consciência da mesma.
Na cidade de Atenas, em 470 a.C. nasceu 
Sócrates, o grande filósofo grego. Aristóteles 
atribuia Sócrates o feito de ser o primeiro filó-
sofo a desenvolver o pensamento abstrato a 
respeito do conceito de ética, ainda que não 
houvesse em Sócrates nenhuma tentativa de 
sistematização sobre o tema. Discordando dos
Ética e Deontologia JuríDica
5.
sofistas, Sócrates pleiteou que existe um 
saber válido a todas as pessoas. Este saber 
decorre do conhecimento da essência humana 
e, a partir deste conhecimento se pode con-
ceber a fundamentação de uma moral ou 
ética universal.
O exercício de buscar a verdade revela a 
excelência humana, portanto, para Sócrates o 
verdadeiro objeto do conhecimento é a alma 
humana. Na alma humana encontra-se a ver-
dade e por meio desta há a possibilidade do 
alcance da felicidade.
Por meio do método maiêutico, Sócrates 
defendeu o abandono de postura dogmática 
e cética para dar vazão a atitudes críticas. 
Propôs assim, um caráter racionalista à ética, 
destacando o poder do melhor argumento. 
Conhecido é que o filósofo ressaltou como 
fundamental o conhecimento ético a respeito 
do ser humano, adotando a frase “conhece-
-te a ti mesmo” exposta na cidade de Delfos, 
na fachada do tempo de Apolo. Para Sócra-
tes, apenas a vida examinada valia a pena 
ser vivida.
Defendia que a verdade pode ser encon-
trada no interior do ser humano e para atingi-
-la é necessário diálogo e introspecção. A 
filosofia socrática sustenta que a felicidade 
se entrelaça com bondade e conhecimento, 
portanto, defende o intelectualismo moral 
afirmando que a pessoa que conhece o bem, é 
impelida a agir bem, assim como que age mal 
é considerado ignorante. Sócrates defende que 
o ser humano tem atitude reta quando, por 
meio da razão, conhece o bem. Conhecendo o 
bem, não pode deixar de agir em consonância 
com o bem e por este motivo tem o domínio 
sobre si mesmo e, portanto é feliz.
Por suas ideias, Sócrates foi acusado de 
corromper a juventude ateniense em desfavor 
da democracia praticada na época. Foi assim 
condenado a ingerir cicuta, morrendo em 399 
a. C. Outro filósofo grego de suma importân-
cia foi Platão. Nascido em Atenas, em 427 a.C. 
foi discípulo de Sócrates. Também inimigo da 
democracia ateniense defendeu o bem como 
maior valor que todos os homens livres deve-
riam conquistar. Para que alcançassem o bem, 
as seguintes condições deveriam ser reunidas: 
a pessoa deveria buscar a razão em detrimento 
de seus instintos e paixões e, ainda, aos sábios 
deveria ser confiado o poder pressupondo 
uma reorganização da sociedade.
Para Platão a filosofia política e a ética se 
relacionavam intimamente. Considera que a 
polis é o próprio terreno da vida moral, assim, 
o homem é bom na medida em que é bom 
cidadão. Pelo fato de o homem se desenvolver 
em sociedade, a ética existe enquanto se rela-
ciona com a política.
No seu escrito mais famoso intitulado “A 
República” Platão descreve um Estado ideal e 
o assemelha com a alma. Nele, descreve utopi-
camente que o dever de cada classe social ocu-
par-se de suas tarefas específicas, abstendo-se 
da realização de outras tarefas.
A ética para Platão está atrelada intima-
mente à política. Importa a concepção meta-
física da política, o dualismo do mundo sen-
sível e do mundo das ideias permanentes. 
Assim como também importa a doutrina polí-
tica da alma, o princípio que anima ou move 
o homem.
A descoberta da metafísica é atribuída 
ao legado de Platão. A metafísica concebe a 
existência de dois mundos. Um constituído 
por ideias eternas, imutáveis, invisíveis e que 
diferem das coisas concretas. Outro mundo é 
o real, composto por cópias das ideias, as coi-
sas sensíveis, réplicas imperfeitas e mutáveis.
Platão morreu em 347 a. C.
Outro filósofo grego fundamentalmente 
importante foi Aristóteles. Nasceu em Esta-
gira, na Macedônia em 384 a.C. e foi discípulo 
de Platão na cidade de Atenas.
Aristóteles foi o primeiro filósofo a orga-
nizar tratados sistemáticos de ética. Um 
exemplo destes tratados é o famoso “Ética a 
Nicômaco”, considerada a principal obra a 
respeito de ética de Aristóteles. Nesta obra o 
autor apresenta sua argumentação teológica, 
ou seja, expõe uma argumentação de que algo 
tem certa finalidade. O nome apresentado no 
título da obra de Aristóteles é de seu discí-
pulo e filho, Nicômaco. Acredita-se que a obra 
tenha sido inspirada em anotações do filho 
e publicada depois da morte antecipada de 
Nicômaco, em combate.
 
6.
Pressupõe-se que Aristóteles tenha ini-
ciado suas aulas de ética embasado nas anota-
ções de seu filho a respeito das discussões entre 
ele, Aristóteles, e seu mestre Platão. Apesar de 
divergirem em diversos aspectos, transpor-
tando-se do idealismo ao realismo, a ideia prin-
cipal tanto de Platão como de Aristóteles era de 
bem supremo, sendo este a felicidade.
Na perspectiva de Aristóteles, o elemento 
essencial no ser humano é sua alma racional, 
ou seja, a essência do homem é sua razão. Por 
este motivo, os costumes morais e as normas 
devem estar fundamentados na razão. Criou 
assim a ética racionalista afirmando que o ser 
humano ao agir com a razão age corretamente.
Outro ponto controvertido entre Aristóte-
les e Platão foi o proposto por Platão sobre a 
existência de mundo das ideias e de mundo 
real, o dualismo ontológico. Aristóteles defen-
deu que não há ideia apartada de seres huma-
nos concretos.
Em sua teoria é baseada no fato de o ser 
humano é formado por corpo e mente, assim, 
as ideias não existem sem os indivíduos.
Defende que a principal função da ética 
está em separar o bom e o mau. Sobre o 
aspecto da moral afirma que a finalidade 
última a que o homem tende é a eudaimonia, 
ou seja, a felicidade como auto realização. Por 
este motivo a ética de Aristóteles é conhecida 
por eudemonismo.
Afirma que as atitudes de bem e de mal 
praticadas pelos seres humanos é voluntária, 
excetuando atitudes compulsivas ou tomadas 
de ignorância.
O eudemonismo trata a felicidade não é 
prazer, tampouco riqueza. A felicidade do ser 
humano está no exercício da razão, da inteligên-
cia teórica, da compreensão, do conhecimento.
Aponta, porém, que há outros caminhos 
para a conquista da felicidade. O exercício 
do domínio das paixões a fim de que se con-
siga uma relação satisfatória e amável com 
o mundo social e natural. Para tanto, o ser 
humano pode contar com a ajuda das virtu-
des. No intento de adquirir virtudes são neces-
sárias algumas atitudes constantes, modos de 
agir, formadores de hábitos.
Explicando melhor, nesta perspectiva as 
virtudes não são inatas, mas podem ser adqui-
ridas pelo exercício constante que constitui 
hábitos.
A principal virtude a ser adquirida é pru-
dência, ou seja, a sabedoria prática. A prudên-
cia é considerada a guia das demais virtudes. 
Isto porque, pela prudência obtém-se o equi-
líbrio, o meio termo entre a falta e o excesso. 
Desta maneira, a virtude da justiça, por exem-
plo, seria o equilíbrio entre o egoísmo e o 
esquecimento de si.
Afirma ainda que a felicidade alcançada 
mediante a virtude exige necessariamente 
condições como: maturidade, liberdade pes-
soal, saúde, bens materiais, entre outras, que 
fazem parte do processo em sentido a felici-
dade, muito embora tais condições não bas-
tem sozinhas para fazer o ser humano feliz.
Tanto na ética de Aristóteles como na ética 
de Platão, a política e a sociedade são meios 
da moral. Isto porque é na polis que o ideal 
de vida teórica, no qual a felicidade é baseada, 
pode ser concretizado. A ética assim, só existe 
quando vinculada à política.
2.3 Perspectiva do 
Período Helenístico
O período helenístico nasce no final da 
democracia greco-romana, depois de conquis-
tas e surgimento de grandes impérios como o 
império de Alexandre Magno e o subsequente 
Império Romano.
Alguns dos pressupostos da ética aristoté-
lica foram assimilados,porém, a ideia de des-
tacar a mente do corpo não é mais entendida 
tão rigidamente quanto em sua origem, por 
Aristóteles.
O interesse do pensamento filosófico 
deixou de ser a polis, e a função da ética de 
regular o espaço público fica extraviada. Isto 
porque o espaço privado, inicialmente com 
Alexandre Magno, invade o espaço político.
Neste período os filósofos restringiram a 
investigação ética passando a difundir apenas 
a ideia de que sabedoria e felicidade se iden-
tificam. Destituída a credibilidade da polis, a 
figura do sábio passou a ser aquele que vive 
Ética e Deontologia JuríDica
7.
de acordo com a natureza. Porém, surgem 
questões importantes decorrentes de concei-
tos como, por exemplo, os filósofos discor-
davam sobre o ideal do homem sábio, assim 
como sobre os conceitos de natureza humana.
Neste período formaram-se os filósofos 
chamados estóicos. A essência da filosofia 
estóica tem também como princípio universal 
a felicidade, mas agora alcançada para além 
do corpo. Entenderam que uma pessoa para 
ser ética precisa aceitar todo acontecimento 
da vida, pelo motivo de que tudo faz parte de 
um plano superior conduzido por uma razão 
abrangente.
Os estóicos definiram o ser superior como 
razão cósmica. Isto é, a lei universal a qual os 
acontecimentos respondem e tudo está sub-
metido. Apontavam que os acontecimentos do 
mundo era reflexo desta lei universal, assim, 
não havia acaso nem liberdade. Ser humano 
sábio era quem vivia segundo esta lei. O bem 
maior era viver em consonância com a natu-
reza, de acordo com a razão e sem se deixar 
levar por paixões e afetos interiores ou exte-
riores. A vontade de uma pessoa deveria ser 
direcionada a fim de que se confundisse com a 
natureza, nunca se opondo a ela.
Entre os principais filósofos estóicos estão 
o grego Zenão de Cítio (334 a.C. até 262 a. C) e 
os romanos Sêneca (4 a. C. até 65 d.C), Marco 
Aurélio (121 d. C até 180 d.C.) e Epiteto (55 
d.C. até 135 d.C.)
Por causa do fim da autonomia das polis, 
a moral passou a ser definida em relação ao 
universo. A física passou a ser premissa para 
a ética.
Conforme o pensamento estóico a pessoa 
não vivia mais como cidadão da polis, mas 
vivia moralmente como pertencente ao cos-
mos. A polis e a vida política haviam perdido 
seu valor, portanto, foi desenvolvida uma 
ética baseada na paz interior e no autocon-
trole pessoal.
Outros pensadores filósofos deste perí-
odo foram os Cépticos que absorveram a céle-
bre máxima de Sócrates “sei que nada sei”. 
Segundo esta posição, os Cépticos entende-
ram a felicidade como algo apartado da reali-
dade. Assim, para ser feliz o ser humano pre-
cisava ser alheado ao que se passava em seu 
cotidiano, exercitando seu equilíbrio interior.
São filósofos Cépticos, Pirro (360 a.C. até 
270 a.C.) e Sexto Empírio (160 a.C. 210 a.C.).
Ainda outra filosofia surgiu com o título 
de Cínicos. Os mais sobressalentes filósofos 
desta linha foram Antitenes (445 até 365 a.C.) 
e Diógenes (412 até 323 a.C.).
Para os Cínicos, o sábio tem por objetivo 
viver de acordo com a natureza, afastando-se 
daquilo que provoca ilusões e sofrimentos, 
sem se preocupar com os bens terrenos. Con-
sideram bens terrenos os usos, preconceitos, 
convenções e costumes sociais, entre outros. 
Pregavam que cada pessoa deveria viver de 
maneira simples e despojada.
Enquanto movimento, o cinismo não teve 
solidez suficiente para resistir e, seu conteúdo 
ético foi englobado pelos estóicos.
Epicuro (341 até 270 a.C.) foi um filósofo 
do período helenístico. Defendia que por não 
haver liberdade política, a ética deveria tratar 
do universo interior pessoal. Este universo 
interior faria parte de um processo de cada ser 
humano. Proferia que cada pessoa deve fazer 
escolha entre a vida política ou a serenidade e 
felicidade. As pessoas não deveriam esperar 
que o universo público pudesse se contribuir 
com a trajetória da busca da felicidade pessoal.
Sob a ética de Epicuro, na busca pela saúde 
da alma o ser humano deve se afastar das cren-
dices e da ignorância. Para tanto é necessário 
que se tenha conhecimento, sabedoria, ciência 
que objetive esclarecer aspectos da vida inte-
rior. Propõe um programa de administração 
pessoal feito a partir da compreensão da natu-
reza das coisas e da ciência.
Epicuro afirma que tudo que existe, até 
mesmo a alma das pessoas, é composto por 
átomos. Estes átomos são livres na medida 
em que se podem desviar ligeiramente na sua 
queda. Assim também o ser humano poderia 
se desviar das fatalidades de sua vida. Sendo 
assim, cada ser humano necessitava ser autô-
nomo e não estar preso a concepções fatalistas.
Sua ética ressalta que o ser humano além 
de ter direito, tem também dever de ser feliz. 
A virtude destacada é de autodeterminação. 
 
8.
Assim, ainda que haja sofrimento, conforme a 
postura adotada é possível vencer.
Considera que o homem é ser desviante 
e para ser livre precisa desviar das contin-
gências. Não considera qualquer intervenção 
divina na vida dos seres humanos e tampouco 
nos fenômenos físicos.
Para Epicuro “não é preciso temer aos 
deuses, pois eles só são deuses porque não 
estão preocupados com os mortais”. Assim, o 
filósofo liberta o ser humano do temor divino 
para que busque o bem neste mundo. O bem 
para sua ética é o prazer. A ética proposta por 
Epicuro é chamada hedonista (hedoné, em 
grego significa prazer).
Classifica os prazeres e afirma que nem 
todos são bons na mesma intensidade. Os 
melhores prazeres não são os corporais, por 
serem imediatos e fugazes e serem portando 
apelas sensações de prazer. Os maiores bens 
seriam os prazeres espirituais que contribuem 
para a paz da alma, sendo aqui os sentimentos 
de prazer.
Epicuro foi um dos pioneiros a pronun-
ciar que a ética devia ser exercitada por todos, 
incluindo as mulheres, os estrangeiros, os 
escravos, os jovens, enfim, até mesmo por 
aqueles não eram considerados cidadãos. Na 
Grécia antiga a ética era praticada apenas para 
os cidadãos.
Epicuro defendeu a divulgação da ética, 
pois acreditava que pela troca os saberes 
poderiam ser ampliados. Para ele, a sabedoria 
não poderia ser ensinada, mas a troca poderia 
fomentar a ampliação dos saberes.
Declarava que a racionalidade é necessá-
ria à ética, porém, esta deveria ser suficiente-
mente flexível para inserir os ideais de cada 
pessoa, suas metas pessoais e seus projetos 
de vida.
O homem estaria destinado ao prazer 
máximo que é a felicidade e o caminho para o 
alcance desta felicidade estaria na autogestão. 
A felicidade nunca poderá ser concedida e sim 
fará resultado de incessante luta de autodomí-
nio, autolibertação e intenso trabalho de busca 
pelo prazer sereno e sábio.
2.4 Perspectiva Medieval
Com o fim do espaço público, já no perí-
odo helenista a ética já se voltava ao indiví-
duo. No final do século IV, quando o cristia-
nismo se tornou a religião oficial de Roma, a 
ética se firmou no espaço privado comandado 
pelos chefes de família. Nesta perspectiva a 
ética foi atrelada ao Deus judaico-cristão por 
cerca de dez anos.
O regime de servidão, vassalagem, subs-
tituiu a escravidão. As sociedades passaram a 
construir diversos feudos. Houve fragmenta-
ção econômica e política. A religião, além de 
exercer unidade social, exerceu poder espiri-
tual e monopólio sobre a vida intelectual.
Sob a perspectiva da ética filosófica reli-
giosa, o bem, a justiça e a verdade são prove-
nientes de Deus. Agora já não era necessário 
procurar a felicidade no conhecimento da 
natureza, mas sim nas escrituras dos livros 
sagrados, que eram traduzidos pelo clero. 
Que seguisse as escrituras encontraria a feli-
cidade e teria a salvação em outro mundo. A 
beatitude, essência da felicidade, era a con-
templação de Deus. Assim, o amor humano 
ficavasubordinado ao divino. O sobrenatural 
tem aqui supremacia ao natural humano. A 
ética tornou-se prática limitada por seu cará-
ter religioso e dogmático. O messias, Jesus 
de Nazaré, tornou-se o arauto de uma nova 
ética, a ética do amor ao próximo. A ética foi 
subordinada à moral e a justiça e liberdade 
foram transferidas para um mundo ideal, 
chamado de idealismo platônico. Um dos 
principais legados à sociedade foi a institui-
ção do princípio da igualdade entre todos, 
tanto escravos quanto livres, cultos e igno-
rantes, todos são iguais perante Deus. O cris-
tianismo trouxe a consciência da igualdade 
no momento em que esta igualdade de con-
dição não possível de ser efetivada.
O questionamento que se faz a esta ética 
aborda o fato de as atitudes do ser humano 
ter vistas ao sobrenatural, ao outro mundo. 
O valor supremo estava assim fora do ser 
humano, em Deus. Surge a ideia do dever.
O livre arbítrio foi firmado na ética, ape-
sar de se acreditar que o primeiro impulso da 
liberdade dirigia-se ao pecado. O ser humano 
Ética e Deontologia JuríDica
9.
é visto como pecador, portanto fraco e divi-
dido entre o bem e o mal.
Entre os principais pensadores deste perí-
odo encontra-se Santo Agostinho (354 até 430). 
Confirma o entendimento de que o exercício 
da moral vem de encontro à conquista de uma 
vida feliz e o desfrute de uma relação amorosa 
com o criador. Também afirma a necessidade 
da moral já que a finalidade da vida humana é 
o caminho de volta a Deus, caminho este que 
pode ser extraviado pela tentação e pecado.
Na concepção do filósofo, Deus é a bon-
dade infinita e o mal existe porque o ser 
humano, com seu livre arbítrio, escolhe livre-
mente aproximar-se ou afastar-se de Deus. A 
liberdade passou a ter caráter mais pessoal, 
individual e subjetivo, afastando-se ainda 
mais da ideia do social, como fora proposto 
pelos gregos.
A vontade é especialmente importante 
nesta concepção. O valor da vida, do amor, da 
experiência pessoal, da interiorização é enalte-
cido. Contraposto com o racionalismo da ética 
grega, tornou-se inspiração da ética existen-
cialista e personalista na contemporaneidade.
Outro importante pensador deste período 
foi Santo Anselmo (1033 até 1109) que propôs 
a educação como meio de superar o ceticismo. 
Afirmou que os princípios morais são intui-
tivamente auto evidentes e condicionam as 
ações humanas à vontade de Deus. A fé cristã 
tem superioridade à razão humana.
A fim de provar a existência de Deus e 
sua suprema bondade, Santo Anselmo argu-
menta que a crença e a fé correspondem à 
verdade. Não é possível pensar em algo maior 
que Deus, ser incriado. Deus é a causa de si 
mesmo e fundamenta todos os outros seres.
Santo Tomás de Aquino (1226 até 1274) foi 
também figura de pensamento marcado nesta 
época. Empregou o pensamento filosófico da 
antiguidade no que se refere à conciliação das 
principais contribuições dos filósofos gregos, 
especialmente de Aristóteles, com a revelação 
do cristianismo descrita na bíblia.
Alguns autores afirmam que Santo Tomás 
de Aquilo cristianizou a ética aristotélica, pois, 
deu prosseguimento à busca pela felicidade, ou 
eudaimonismo, agora em uma perspectiva teo-
lógica. Para este pensador, a felicidade está na 
contemplação da verdade, no exercício desta 
contemplação é possível se identificar Deus.
Nesta concepção, para evitar o mal e fazer 
o bem é necessário que o ser humano não haja 
mecanicamente, mas que seja fruto de sua 
liberdade. A aquisição de virtudes é necessá-
ria, especialmente das virtudes da prudência 
e da caridade, a primeira virtude intelectual 
e a segunda teológica. A conquista de tais vir-
tudes se dá por meio de hábitos operativos do 
bem procurando encontrar a ação adequada 
à pessoa e ao contexto. A união do corpo de 
alma forma a identidade e dignidade da pes-
soa humana. Assim, as pessoas podem adqui-
rir virtudes e se aproximar da perfeição por 
meio da revelação divina aliada ao exercício 
da razão humana.
2.5 Perspectiva da 
Ética Moderna
Conhecida como ética da consciência, a 
ética moderna é caracterizada pelo cartesia-
nismo e racionalismo. Estes conceitos impli-
cam na afirmação de que a verdade é conhe-
cida pela razão e, especialmente pelo método 
científico de pensar.
A esfera política da ética é reconstituída 
na modernidade. Isto porque, os regimes de 
monarquia e o poder teológico político são 
enfraquecidos, dando espaço para o ressurgi-
mento da ideia de república.
Inicialmente surgiu a república oligár-
quica, seguida da representativa e por último 
a democrática.
O retorno da república pressupõe que 
a figura autoritária e despótica, passa a ser 
ilegítima. Como o termo grego já indica, 
“res pública” significa coisa pública. Assim, 
o campo da política é reconfigurado, mas a 
ética ainda permanece no campo primado até 
a atualidade.
A ética segue separada do espaço público, 
da política, permanecendo centrada na pessoa 
autônoma. Apesar de separadas, a ética e a 
política necessitam uma da outra.
Copérnico (1473 até 1543) apresenta a 
ideia de o mundo como espaço infinito e 
 
10.
muda o paradigma acreditado anteriormente. 
Os astros mudaram seu significado e sua 
importância com as novas revelações cientí-
ficas. Também o descobrimento da existência 
de distintos povos, diferentes culturas, diver-
sas religiões, não sabidas até então.
Esta época foi importante para a consoli-
dação dos estados como são conhecidos atu-
almente. O individualismo, que tem raiz na 
cultura burguesa originária da revolução fran-
cesa, passou a adquirir cada vez mais força. A 
figura do burguês surge por meio do conceito 
cartesiano de autonomia.
Pensador importante deste período foi 
Maquiavel. Ele definiu que o campo da polí-
tica é regido pela lógica das relações de forças. 
Para que o campo de poder seja isento de se 
tornar um campo de guerra, importam alguns 
elementos como a qualidade das leis e das ins-
tituições, a qualidade do direito e da justiça e, 
a qualidade das decisões coletivas. Maquiavel 
abandona a ideia de ser necessária às pessoas 
a aquisição ou não de virtudes.
Fundamental foi o pensamento de outro 
famoso pensador moderno, Descartes ao con-
siderar o livre arbítrio e a liberdade como 
sinônimos. Entendeu o livre arbítrio como 
autonomia do burguês. Reconheceu a impos-
sibilidade de estabelecer princípios para a 
ação humana, mas propôs que ainda assim o 
afirmou a necessidade de manter a religião, a 
fé e a obediência aos costumes e leis.
Tomas Hobbes9 foi pioneiro em anunciar 
que as ideias burguesas eram
factíveis. Isto porque, segundo o autor, se 
cada pessoa exercer seu individualismo não 
poderá haver sociedade organizada.
Por muitos séculos seguintes os burgueses 
começaram a discutir o contrato social. Tais 
discussões se deram com a pretensão de solu-
cionar questões como o prejuízo da dimensão 
coletiva política e da ética em prol da afir-
mação moral. Isto porque a moral cada vez é 
coincidente com a subjetividade humana.
Ao romper com o cristianismo exclusivo 
foram sendo construídas novas religiões. 
9 HOBBES T., 1998. Do cidadão. São Paulo: Martins Fontes, 1998. 
HOBBES, T. Leviatã. São Paulo: Editora Martin Claret, 2005.
Cada qual declarando ser detentora da mais 
correta interpretação da palavra divina. Desta 
forma, a realidade tornou-se plural e com-
plexa, causando grande confusão nas ideias 
éticas da humanidade.
A ciência teve seu avanço acelerado com o 
rompimento entre a igreja e o estado. A inven-
ção da imprensa também foi crucial para a ins-
tituição do capitalismo.
A partir de então, a ética é compreendida 
novamente com objeto na busca da felicidade 
coletiva. Assim, a ética rumou ao retorno do 
sentido grego original enquanto buscou vin-
cular-se com a política. Em outras palavras,a 
ética procura orientar o espaço público, apesar 
de permanecer no espaço privado, com vistas 
na plena realização do cidadão.
A constituição das normas deixa consi-
derada pelo estabelecimento da natureza ou 
por Deus. A ética torna-se focada na razão, 
e, portanto, é considerada mais autônoma. 
O método científico de refletir, de pensar, 
ocasiona o desenvolvimento de uma nova 
maneira de conceber a ética. Este novo para-
digma ético é considerado marco histórico 
importante da humanidade por representar 
um inovador caminho para o saber. O saber 
por meio da ciência é enaltecido, vale a partir 
de então, o chamado saber científico.
No tempo moderno, a ética é libertada de 
pressupostos naturalísticos e teológicos, mas 
recebe várias contribuições de diferentes áreas 
do conhecimento. Torna-se gradualmente, 
cada vez mais centrada na consciência e auto-
nomia do ser humano, por isso diz-se que a 
ética moderna é antropocêntrica.
O novo paradigma ético foi abrindo 
espaço para diversificadas ideias a respeito 
da moral e da ética e, novos pensadores foram 
tendo destaque pela força e distinção de 
suas ideias.
Um dos filósofos modernos 
revolucionários foi Maquiavel (1469 até 1536). 
Tornou-se importante por seus conselhos 
políticos propondo uma ética por ele 
denominada de “verdade das coisas”. Nota-se 
que a ética de Maquiavel nada se aproximava 
da anterior ética cristã que era embasada em 
dogmas inquestionáveis.
Ética e Deontologia JuríDica
11.
A respeito do bem e do mal, MAQUIA-
VEL10 afirmava que a ação era considerada 
boa ou má em razão de sua consequência e 
não por estar de acordo ou desacordo com 
qualquer regra. A ética aqui proposta foi bati-
zada por ética dos resultados.
Considera que o desejo predomina na dis-
posição do espírito. Há a ideia de dever de res-
peito e responsabilidade aos demais, visto que 
nesta perspectiva o ser humano se assemelha 
em modos de pensar e agir.
Outro nome importante deste período foi 
Hobbes (1588 até 1679). Pensador agnóstico e 
materialista alegava que o ser humano é deso-
nesto, violento e solitário por natureza. Para 
defender a necessidade de um sistema coer-
citivo a fim de controlar os impulsos huma-
nos utilizou a máxima “o homem é o lobo 
homem”.
Hobbes era a favor de que o Estado fosse 
fortalecido e de houvesse um contrato social 
para reprimir a maldade dos seres humanos.
A função da ética, para o pensador, era 
fomentar críticas ao individualismo proposto 
pelos burgueses. Segundo o autor, este indivi-
dualismo era responsável por fazer com que 
a ética fosse abafada pela moral que, por sua 
vez era fortalecida pela subjetividade inerente 
ao ser humano.
A ética estaria atrelada ao cidadão que 
para ser integrado à sociedade precisaria refle-
tir sobre si nos aspectos individual e social.
Spinoza1111 (1932 até 1677) apresenta 
pensamento diverso ao proposto por Hobber. 
Enquanto o primeiro destacou que o pressu-
posto de existência do Estado era impedir que 
os seres humanos se destruíssem, o segundo 
veio afirmar que a existência do Estado serva 
para promoção do ser humano.
Este pensador concebe a felicidade como 
objetivo último para a humanidade. A feli-
cidade aqui é entendida como presença do 
prazer e ausência de sofrimento. Assim como, 
felicidade é a junção do corpo e da alma.
10 MAQUIAVEL, N., 1977. O Príncipe. São Paulo: Hemus, 1977.
11 ESPINOSA B. Ética. São Paulo: Atena, 1991. ESPINOSA, B. Pensa-
mentos Metafóricos. São Paulo: Abril Cultural, 1983.
Para Spinoza, o amor a Deus é intelectual 
e quem o exercita garante virtude. O amor 
a Deus é a felicidade decorrente da contem-
plação universal físico e mental, por meio da 
natureza divina. Considera ainda que a natu-
reza divina é inata.
As ações morais seriam produzidas por 
causa das paixões orientadas para atingir fins 
propostos pelo sentimento e não pela razão.
Concorda com Aristóteles e ratifica que 
não se pode ser verdadeiramente ético se for 
ignorante. A máxima de Spinoza é “ao pensa-
mento não deve faltar o calor do desejo, nem 
ao desejo a luz do pensamento”.
Partindo do princípio de que todos as 
pessoas nascem com iguais direitos, John 
Locke12(1632 até 1704) discute princípios 
considerados fundamentais para uma ética 
moderna. Levanta o tema do direto à vida, à 
liberdade e à propriedade. Afirma que esses 
direitos devem ser garantidos e respeitados. 
Locke não acreditava em princípios inatos. A 
sua moral é considerada mais intelectualista 
em detrimento da empirista. Possui assim 
caráter de ciência universal.
Assim como Loocke outro pensador, 
David Hume13 (1711 até 1776), não conside-
rava a existência das ideias inatas. Transfere 
as funções morais às paixões e alega que as 
ações humanas são movidas por estas paixões 
e sentimentos.
Desta forma, os juízos morais não são 
encargos da razão. Nesse sentido, o desagrado 
ou desagrado provocado nos seres humanos 
são pressupostos para a bondade ou maldade 
de suas ações.
Defende o respeito entre as pessoas e des-
taca a necessidade de que a obrigação moral 
se imponha à vontade.
Kant14(1724 até 1804) destaca que a carac-
terística primordial da ética que seja estabe-
lecida termos universais. Assim, a ética pro-
12 PADOVANI, U. & CASTAGNOLA, L. História da Filosofia. São Paulo: 
Edições Melhoramento, 1972.
13 HUME, D. Hume – vida e obra. São Paulo: Editora Nova Cultura Ltda, 
2004.
14 KANT, I. Crítica da razão prática. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
 
12.
posta por Kant é válida, sem distinção, para 
todos os seres humanos.
Kant já não considera mais como essencial 
à ética a felicidade humana, mas sim o dever 
de que cada ser humano se reconheça como 
criatura racional. Desta forma, o bem moral 
não está na felicidade e sim, no exercício de 
autonomia para que se tomem as rédeas da 
construção de sua vida.
Assim, o bem é a boa vontade, em outras 
palavras, é a disposição constante em condu-
zir a vida individual e não se submetendo às 
tendências naturais do ser humano.
Kant afirmou que para serem livres as 
pessoas precisam ter responsabilidade por 
suas intenções e seus atos. A regra necessá-
ria para nortear a necessária normatização da 
racionalidade humana foi nomeada de impe-
rativo categórico.
Pronunciou “age de maneira que possas 
querer que o motivo que te levou a agir se 
torne uma lei universal”. Conforme seu enten-
dimento, a ação do ser humano é dada por 
respeito ao dever. Cada pessoa é considerada 
legisladora de sim mesma.
Para Kant, todos os seres humanos são 
fins em si mesmos. A maior violação da ética 
seria tratar um ser humano como objeto. A 
ética é direcionada para a norma e não para a 
consequência.
Kant15 afirma que “a moralidade de um 
ato não deve ser julgada por suas consequên-
cias, mas apenas por sua motivação ética”.
Alega Kant16 que o caminho para o 
alcance do bem supremo é a fé religiosa, pois, 
a razão humana não oferece garantia neste 
sentido. Desta maneira, a existência de Deus 
é postulado da razão que não se pode provar, 
assim como imortalidade da alma.
Baseado no principio da utilidade, o Utili-
tarismo17 foi um movimento que trouxe uma 
ética científica e objetiva. A felicidade para 
um grande número de pessoas passou a ser 
15 KANT, I. in Heath P. ET all. Lectures on ethics. Cambridge: Cambridge 
University Oress, 1997.
16 KANT, I. Crítica da razão prática. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
17 PEGORARO, O. Ética dos maiores mestres através da história. Petró-
polis, RJ: Vozes, 2010.
a perspectiva da moral. Desta forma, é fun-
damental que se opte por ações que possam 
proporcionar a máxima felicidade ao maior 
número de pessoas.
Uma das grandes questões que os utili-
taristas procuram abordar foi a constatação 
de que aquilo que traz felicidade para algu-
mas pessoas, pode significarinfelicidade a 
outras. É por esta razão que o grande pro-
blema da humanidade estaria na escolha entre 
“a maior felicidade para um número menor 
de homens” ou “a menor felicidade para um 
número maior de homens”.
Um dos principais questionadores da 
ética kantiana foi Hegel (1777 até 1831). Isto 
porque, segundo ele, ao pensamento de Kant 
faltou considerar a relação e a história de cada 
pessoa com a sociedade. Afirmou que os con-
flitos reais inseridas nas decisões do âmbito 
moral estariam excluídos da proposta de Kant.
Hegel, que embora nada tenha escrito a 
respeito da ética porque considerava sinô-
nimo de moral, tratou do vínculo entre a 
ética com a história, a sociedade e a política. 
Considerava dever de o Estado garantir a 
vivência ética.
Importante pensador foi também Kierkega-
ard (1813 até 1855), pois foi considerado o pai 
do existencialismo. Contrário ao pensamento 
de Hegel, afirmava que existe apenas o homem 
concreto e a sua subjetividade, enquanto Hegel 
explicava o homem por meio de sua racionali-
dade objetiva. Para Kierkegaard18 a existência 
do indivíduo somente pode ser vida e a tentativa 
de explicação racional e objetiva não é possível.
Afirmou que “as teorias éticas são raciona-
listas demais para permitir que os homens se 
ajustem a elas em suas vidas”.
Kierkegaard foi adepto da religiosidade. 
Alegou que o ser humano deve basear sua 
vida menos nos princípios éticos e mais nos 
princípios religiosos.
Pensamento marcante na história da 
humanidade foi o de Karl Marx19 (1818 até 
18 KIERKEGAARD, A. Temor e tremor. Coleção Os Pensadores, São 
Paulo: Abril Cultural, 1979.
19 MARX, K., 1972. Critica Del programa de Gotha. Quimantu, San-
tiago. 1972.
Ética e Deontologia JuríDica
13.
1883), pois ofereceu bases teóricas e práticas 
para um novo conceito moral. Para ele, a moral 
seria umas das formas da ideologia dominante 
em uma sociedade, porque difunde valores 
necessários à manutenção daquela sociedade. 
Marx elaborou a doutrina ética do marxismo 
oferendo críticas e explicações a respeito dos 
pensamentos morais passados.
Para Marx todo ser humano social e his-
tórico. Não foi sua intenção propor uma ética, 
porém, seu principal legado é moral porque 
seu pensamento é pautado na justiça.
Engels20 (1820 de 1925) defendeu o pen-
samento de que a sociedade humana estava 
rumando a níveis morais crescentes quali-
tativamente. Alegou que em determinado 
momento a moral proletária iria se tornar uni-
versal. Para ele a moral não poderia ser gene-
ralizada porque na sociedade de classe cada 
pessoa tem a sua moral.
Em seguida, Max Weber21 (1864 até 1920) 
proferiu que a respeito do que chamou espí-
rito do capitalismo moderno, todas as atitudes 
morais agraciadas pelo utilitarismo.
Entre o legado do pensador Nietzsche 
(1844 até 1883) está o fato de que com ele a 
ética foi desvinculada definitivamente da reli-
gião e entendida como ciência.
RUSSEL22 aponta que segundo Nietzsche 
“o homem livre deve reconhecer que Deus 
está morto; o que devemos aspirar não é Deus, 
mas sim um tipo mais elevado de homem”. 
Assim, a fé para o pensador é rejeitada.
A ética assim estaria no ponto essencial 
para a justificativa das ações humanas. Por 
causa da ética e o estabelecimento de padrões 
de comportamento a convivência torna-se 
possível. Nietzche23 afirma os instintos natu-
rais como propulsores da ação humana ao 
alegar que a ética é movida pela tentativa de 
superação contínua em busca do prazer dio-
nisíaco.
Atribui a origem dos valores éticos à 
emoção e descreve o ser humano forte como 
20 ENGELS, F. Anti; Duhring. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
21 WEBER. M. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São 
Paulo: Livraria Pioneira, 1987.
22 RUSSEL, B., 2004. História do Pensamento Ocidental. Editouro: Rio 
de Janeiro, 2004.
23 NITSCHE, f., 1925. Além do bem e do mal. São Paulo,:Sagitário, 
1925.
aquele que não se submete à demagogia da 
moral repressora, mas sim que é capaz de não 
reprimir seus desejos e impulsos.
Max Scheler24 (1874 até 1928) tem pensa-
mento oposto ao de Kant no que tange à crítica 
da razão e da sensibilidade. O pensador pro-
põe a faculdade da “intuição emocional”. Na 
intuição emocional são realizados atos inde-
pendentes do raciocínio e da sensibilidade, 
porém, tais atos são considerados conheci-
mento moral.
Propõe o emprego do método fenome-
nológico a fim de investigar as questões éti-
cas. Tal método é importante porque permite 
que questões relativas a valor e a liberdade 
de escolha sejam discutidas, visto que pelo 
método empírico-dedutivo, usado no estudo 
da natureza, a discussão se torna inviável.
2.6 Perspectiva da Ética 
Contemporânea
Há cerca de 50 anos a ética contemporânea 
teve início. Desde então vem acompanhando 
grandes transformações de vários aspectos, 
como no meio cultural, social e científico.
Atualmente, o ser humano é levado a 
refletir a respeito de questões éticas cotidia-
namente. Exemplo disso são questões, por 
exemplo, sobre cuidados com animais como 
a pesca humanitária, biodiversidade como 
ética do meio ambiente, e as tecnociências 
como clonagem e manipulações genéticas, 
ética de imprensa como manipulação de 
massa, entre outros.
A ética aborda questões fundamentais 
como a tendência do ser humano destruir a si 
e a seu meio.
A tendência atual é de que a ética, além de 
romper com a metafísica e pressupostos teo-
lógicos, seja considerada também separada-
mente da razão prática kantiana. Razão esta 
que instaurou a ética do indivíduo cumpridor 
do dever pelo dever, sem estar atento para os 
demais e para seu meio.
24 SCHELER, M. Ética. Nuevo ensayo de fundamentación de um perso-
nalismo ético. Tomo I e II. Buenos Aires: Revista de Ocidente, 1948.
 
14.
Desta forma, a ética acompanha a cons-
trução de novos paradigmas como a ética da 
reciprocidade, a ética discursiva, a ética dos 
direitos humanos, e a ética da justiça.
Questões complexas que vigoram na atua-
lidade como a fome mundial apesar da produ-
ção excessiva de alimentos estão dotados de 
elementos éticos. Assim como, a questão ética 
aparece no conceito de respeito à diversidade 
cultural de religiosa e, apesar de disso haver 
guerras brutais por conflitos de tolerância. Há 
questão ética emergindo quando a tecnologia 
médica e farmacêutica são altamente desen-
volvidas e ainda assim muitas pessoas pade-
cem por falta de medicamento e cuidados.
Pode-se pensar que a crise da ética con-
temporânea não ocorre meramente em face da 
razão, mas sim da visão diminuída da razão.
O fato é que a ética contemporânea está 
formando-se e enquanto partícipes desta for-
mação os seres humanos podem se deparar 
com diversos problemas nas mais variadas 
áreas do conhecimento. Podem assim, ser 
apontados problemas nunca antes refletidos 
por não terem feito parte da realidade no pas-
sado, bem como problemas existentes há tem-
pos e até hoje propositalmente ignorados por 
não haver interesse maior em sua solução.
Para CORTINA & MARTINEZ,25 “a ques-
tão que deve ocupar os éticos de hoje é a de 
perfilar novas teorias éticas que possamos 
considerar à altura do nosso tempo”.
Enquanto alguns teóricos assinalam o 
período atual com pessimismo e descrença na 
evolução ética da humanidade, outros desta-
cam a razão e a vontade do ser humano como 
balizadores de uma ética otimista de pro-
gresso e constante aperfeiçoamento.
Consideração importante a este respeito é 
que “o homem adquire um valor pessoal, não 
só como ser espiritual, mas como ser corpóreo, 
sensível, e não só como ser dotado de razão, 
mas também de vontade. A ética origina-se 
não mais na interioridade da razão, mas na 
objetividade, uma vez que ela se estende a 
25 CORTINA, A. & MARTINEZ, E. Ética. São Paulo: Edições Loyola, 
2001.toda à realidade da natureza, a toda a forma 
de vida e ao meio ambiente”.26
Nesta visão, a ética deixa de estar focada 
somente no ser humano como único sujeito de 
discussão ética, para abordar também o todo 
na figura do universo.
A chamada transdisciplinaridade, ou seja, o 
transito entre as áreas do conhecimento, embasa 
metodologicamente a parceria antes improvável 
das culturas científicas e humanista.
Vigora na atualidade a tentativa de com-
preender o conceito de toas as áreas de atua-
ção humana a fim de garantir a abrangência 
necessária para que seja considerada uma 
“ética para o ser humano” em detrimento da 
visão reducionista de ética humana.
A respeito dos pensadores contemporâ-
neos serão citados alguns que seguem.
Gramsci27 (1891 até 1937) afirmava que ser 
ético significa pensar em benefício da maio-
ria, indo contra o autoritarismo, lutando pela 
liberdade, agindo para que este pensamento 
seja materializado cultural e socialmente, 
ainda que custe a sua própria liberdade.
Gramsci afirma que a conduta ética 
implica em coragem e comprometimento com 
meio, rumo à construção histórica solidária e 
mais próxima da visão democrática.
Conforme já tratado, a ética contemporâ-
nea se aproxima das outras áreas do conheci-
mento. Uma relação entre áreas que tem ren-
dido frutos importantes para o pensamento 
atual é a psicanálise e ética.
Freud (1856 até 1939) conseguiu impor-
tantes descobertas a respeito do papel da 
motivação inconsciente no comportamento 
humano. Estas descobertas têm importantes 
consequências pra as investigações éticas.
Para Freud o inconsciente é dinâmico, 
ativo, e tem forte influência no comporta-
mento real do sujeito. Por meio deste conceito, 
a ética está obrigada a ponderar se ato moral 
26 REVISTA PRÁXIS, ano III. Nº 5 – Janeiro. Centro Universitário de Volta 
Redonda: Volta Redonda, 2011.
27 GRAMSCI A. Concepção dialética da Historia. Rio de Janeiro: Civili-
zação Brasileira, 1981.
Ética e Deontologia JuríDica
15.
é aquele no qual o sujeito age com consciência 
e liberdade.
Como consequência deste pensamento, 
Freud considera que os atos praticados por 
motivação inconsciente são amorais. Por 
isso, considera que a partir desta concepção 
de inconsciente, ações como, matar, roubar, 
mentir, destruir, seduzir, r ambicionar são 
simplesmente desprovidos de moral, pois na 
ideia de inconsciente não cabe a interpretação 
de moralidade.
À luz da psicanálise a expressão da vida 
humana é resultado da história de vida. Con-
sidera o que chama de sexualidade insatis-
feita, como norteadora da vida, desta forma 
haverá satisfações imaginárias que se pode 
buscar de fato poder ser fonte de satisfação 
plena. Sem que haja repressão da sexuali-
dade, não poderá haver sociedade, contudo, 
caso haja excessiva repressão da sexualidade 
serão destruídas tanto a ética como a própria 
sociedade. 
As ideias de Freud embasaram importan-
tes pensamentos no século XX, uns buscando 
a demonstração de raízes biológicas da moral 
e outros realizando a comparação entre o ser 
humano e os outros animais.
Uma importante corrente do século XX foi 
o Pragmatismo. Caracterizado pela identifica-
ção da verdade com aquilo que é útil. O útil 
aqui pode ser traduzido como aquilo que oca-
siona a melhoria da convivência e vivencia. 
Assim, algo bom seria equivalente a algo que 
conduz com eficácia rumo ao êxito. O bom é, 
portanto, aquilo que ajuda a pessoa em sua 
atividade prática.
Os princípios, normas são assim esvazia-
dos de conteúdo objetivo e o valor do que 
seria bom varia de acordo com cada situação.
Entre os principais pensadores do movi-
mento pragmático estão S. Peirce (1839-
1914), William James (1842-1910) e J. Dewey 
(1859-1952).
Charles Peirce (1839 até 1914) afirmou 
que não se pode estar seguro de não haver 
cometido um erro. Para serem verdadeira, as 
declarações devem permitir a possibilidade 
de alguma ação futura.
W. James28 (1842 até 1910) propôs uma 
ética prática, visto que foi defensor e funda-
dor da filosofia pragmática. Para o pensador 
as pessoas devem agir como se suas atitudes 
pudesse fazer a diferença. Afirmou que no 
momento em que uma pessoa necessita tomar 
uma decisão e não a toma, está tomando a 
decisão de nada fazer.
Para James, possuir as ideias verdadeiras, 
distante de ser a finalidade, é um bem prático. 
É um meio para satisfazer outras necessida-
des vitais. “Somos todos propensos a ser sel-
vagens por alguma causa; e a diferença entre 
o homem bom e o mal é a escolha da causa”.
K. Jaspers (1883 até 1969) destacou que 
a ética é feita a partir dos esforços da pessoa 
para transcender. O existencialismo proposto 
por Jasper tem inclinações religiosas.
Para Sartre29(1905 até 1980) Deus não 
existe. A partir desta dedução provêm algu-
mas consequências. Os valores humanos, por 
exemplo, já não se justificam e o único valor 
considerado pelo pensador é a liberdade.
Quando desconsidera o cerne dos valo-
res, que é Deus, descarta a possibilidade de 
existência dos valores. Assim, Sartre deixa de 
abordar os princípios e as normas dotados de 
objetividade e universalidade.
Para Sartre o ser humano é o seu próprio 
projeto e, por isso só existe enquanto se rea-
liza. Desta forma, o ser humano não é mais do 
que o conjunto de suas ações, ou seja, não é 
nada mais que sua própria vida.
O conceito existencialista a respeito da 
liberdade humana é explorado por Sartre. O 
ser humano é livre para fazer a si mesmo.
Ao autor, cada pessoa é absolutamente 
livre e prova o exercício de sua liberdade 
sendo aquilo que escolheu ser. Desta forma, 
a vida humana é um constante escolher pes-
soal. As ações éticas possibilitaram a seleção 
de valores morais como o repúdio ao autorita-
rismo, o respeito às diferenças e a igualdade. 
28 WILLIAM, J. Pragmatismo: um nuevo nombre para viejas formas de 
pensar. Madrid: Alianza, 2000.
29 SARTRE. Los caminos de la libertad. Losada. Buenos Aires: 1977. 
SARTRE, J. P. O existencialismo é um Humanismo. Coleção Os Pensadores. 
São Paulo: Abril Cultural, 1978.
 
16.
Por este motivo, valeu-se de sua máxima “o 
ser humano está invariavelmente condenado 
à liberdade”.
Em suma, na concepção de Sartre, cada 
pessoa escolhe com liberdade, formando 
assim o seu valor. Cada pessoa, assim, é res-
ponsável por criar normas ou valores a fim de 
que estas norteiem seu comportamento.
Sartre trata da existência do próximo e 
afirma que uma pessoa somente pode ter por 
fim sua liberdade quando considera a liber-
dade alheia. Portando o compromisso pessoal 
com a liberdade pressupõe compromisso tam-
bém com toda a humanidade.
Pensador contemporâneo também impor-
tante foi Hans Jonas 30(1903 até 1993). Defende 
uma ética baseada na responsabilidade que 
assume todo ser humano frente a preservação 
da natureza em benefício das gerações futu-
ras. Foi pioneiro em considerar as condições 
globais da humanidade. Incomoda-se espe-
cialmente com o mau uso do planeta.
Hans Jonas parafraseia Kant em sua cele-
bre frase: “age de tal modo que os efeitos da 
tua ação sejam compatíveis com a permanên-
cia de uma vida humana autêntica na terra”.
A ética de Jonas propõe aproximação de 
parâmetros filosóficos da ética com a filoso-
fia da biologia. Com isso, aborda um novo 
aspecto para reflexão a respeito da precarie-
dade da vida humana. Tem-se aqui a volta 
da valorização da vida como privilégio, afas-
tando o utópico idealismo e o limitado mate-
rialismo.
Muito importa ao estudo do Direito o pen-
samento de John Rawls31 (1921 até 2002). Este 
pensador ficou famoso por seus tratados a res-
peito da ética da justiça.
Rawls considerou que a ética da justiça é 
fruto de uma construção consensual que tem 
na justiça o princípio fundamental. A ética da 
justiça não tem por fim a virtude napessoa, 
mas a ordem e aas estruturas sociais.
30 JONAS, H. El princípio de Responsabilidad: ensayo de uma ética 
para La civilización tecnologica. Barcelona: Herder, 1995.JONAS, H. The 
phenomenon of life: toward a philosophical biology. New York: Harper and 
Row,1966.
31 RAWLS, J. Uma teoria da Justiça. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
O foco do pensamento de Rawls foi o Prin-
cípio da Justiça que trata da distribuição dos 
bens produzidos pela sociedade equitativa-
mente. De modo que modo seja garantido a 
todos os cidadãos que ninguém fique abaixo 
das mínimas condições da justiça.
Segunda esta ótica o importante Princí-
pio da Igualdade também foi estabelecido. 
Tal princípio é referenciado e garantido atu-
almente pelas grandes constituições de países 
democráticos.
O princípio da igualdade ou da isonomia 
é considerado dentro do ordenamento jurí-
dico um dos mais importantes, pois abre pre-
cedente para vários outros princípios garan-
tistas. Trata-se, portanto da garantia do direito 
à vida, ao respeito à orientação religiosa e 
política. É, por este motivo, considerado como 
valiosa ferramenta para a materialização 
da justiça.
Vale aqui destacar que a igualdade é 
concebida de várias maneiras de acordo 
com a evolução social. Passa por períodos 
de desigualdade extrema, segue para exa-
cerbado liberalismo e, aqui chega à verda-
deira essência da isonomia. Onde os iguais 
são tratados igualmente e desiguais tratados 
desigualmente.
Para alcançar a ética proposta por Rawls, 
todavia é necessário que as pessoas mais 
talentosas, que receberam dotes inatos por 
herança ou dom, precisam concordar em ter 
minimizada sua participação em bens, lucros, 
salários e status social, em favor de outras pes-
soas consideradas desassistidas.
Após a II Guerra Mundial, o filósofo ale-
mão Habermas32 (1929) defendeu uma ética 
com base no diálogo entre pessoas em que 
fossem garantidas igualdade e equidade.
Em seu pensamento, para que seja válida 
a norma moral é necessários que os acordos 
sejam discutidos livremente e aceitos pelos 
cidadãos. No discurso de Habermas a ética é 
uma aposta na capacidade de entendimento 
entre as pessoas na busca de uma ética demo-
crática e não autoritária.
32 HABBERMAS, J. Consciência Moral e Agir Comunicativo. Rio de 
Janeiro: Tempo Brasileiro, 1989.HABERMAS, J. Etica Del discorso, Laterza. 
Bari: 1994. HEGEL, G. Fenomenologia do Espírito. Petrópolis: Vozes, 1992.
Ética e Deontologia JuríDica
17.
Haberman afirma que “segundo a Ética 
do discurso, uma norma só tem valor se todos 
aqueles que estão envolvidos com ela conse-
guem, como participantes de um discurso 
prático, chegar a um acordo sobre a validade 
de tal norma”.
Considera que não há possibilidade de 
ética onde a misérias e riquezas coexistem.
Estabelece que, para que seja válida, a ética 
depende estritamente da valorização da liber-
dade e das diferenças humana, não existindo 
na repressão e na verticalidade do diálogo.
A ética proposta por Habermas contempla 
duas fases: fundamentação do princípio ético 
e ética prática.
A ética de Habermas se depara com o 
obstáculo da condição da sociedade, isto por-
que, atualmente a desigualdade é evidente em 
vários aspectos. Assim, a grande dificuldade 
para que esta ética seja posta em prática é rea-
lização do diálogo igualitário e livre.
Ainda para ilustrar o pensamento ético 
contemporâneo vale destacar a importância 
do filósofo australiano Peter Singer3333 (1946). 
Este pensador tem se dedicado ao estudo da 
ética prática sob a perspectiva utilitarista.
Singer afirma que o direito à integridade 
física das pessoas está ligado fundamental-
mente à suas qualidades de vida. Defende a 
que o aborto e a eutanásia podem ser justifi-
cados sob a ótica da mensuração da qualidade 
de vida.
Vem trabalhando com o tema da globali-
zação sob o aspecto da diversidade das condi-
ções humanas.
“À medida que os países do 
mundo se aproximam entre si a fim 
de resolver problemas como os do 
comércio global, das mudanças cli-
máticas, da injustiça e da pobreza, 
os líderes das nações devem incor-
porar um ponto de vista mais 
amplo que o do puro e simples 
interesse nacional. Numa só pala-
33 SINGER, P. Ética Prática. Rio de Janeiro: Gradiva, 2002.
SINGER, P. Vida ética: os melhores ensaios do mais polêmico filósofo da 
atualidade. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002.
SINGER, P. Um só mundo: a ética da globalização. São Paulo: Martins 
Fontes, 2004.
vra, precisam adotar uma atitude 
ética perante a globalização”.
Nesta linha, aborda o tema da injustiça na 
imensa diferença das condições sociais e cul-
turais humanas e propõe soluções para ame-
nizar tais discrepâncias. Entre estas soluções, 
Singer propõe a obrigatoriedade de todos os 
trabalhadores a ceder ao menos 10 por cento 
de seus rendimentos a fim de solucionar a 
pobreza de outros.
Singer afirma ser moralmente defensá-
vel que algumas pessoas morram de fome 
enquanto outras vivem com abundância. 
Aponta que todos os seres humanos devem 
refletir tanto sobre as consequências daquilo 
que fazem quanto nas consequências daquilo 
que decidem não fazer. Chama assim, cada 
pessoa a pensar sobre sua responsabilidade na 
situação em que mundo se encontra.
3. A DEONTOLOGIA 
JURÍDICA
3.1 Definição
O termo Deontologia foi criado pelo filó-
sofo inglês Jeremias Benthan (1748 a 1832), 
um dos fundadores da denominada Filoso-
fia Utilitarista no século XIX. Em sua obra, 
Benthan planejou estabelecer uma espécie de 
matemática moral, na qual ficassem defini-
dos os deveres e obrigações no campo social 
e jurídico, que tinha por fundamento o pra-
zer e a pena. No entanto, da filosofia moral 
de Benthan apenas nos ficou a importância 
histórica do referido nome, que passou a 
representar as regras de conduta dos vários 
ramos profissionais.
Quanto à origem da palavra Deontolo-
gia, deriva do grego deontos (dever) e logos 
(estudo/tratado), isto é, a ciência dos deveres, 
no âmbito de cada profissão. Por isso, pode-
mos designar Deontologia Jurídica, para as 
profissões do meio jurídico (advogados, juí-
zes, promotores), como também Deontologia 
Médica, Deontologia dos Engenheiros, etc.
A Deontologia Jurídica, consequente-
mente, é a disciplina ou ciência que trata dos 
deveres dos agentes que lidam com o Direito, 
 
18.
de seus fundamentes éticos legais. Assim, con-
sidera os deveres gerais e aplica-os à profissão 
daqueles que atuam no meio jurídico. Por isso, 
direciona-se não apenas ao homem, mas sim 
ao homem profissional do Direito.
Estes deveres especiais decorrem das nor-
mas que regulamentam a atividade profissio-
nal. Destaque-se que estas normas estabele-
cem, além dos deveres, também os direitos e 
prerrogativas profissionais.
3.2 Relações com 
Outras Ciências
A Deontologia possui aqueles clássicos 
requisitos que a definem como uma ciência 
autônoma: princípios próprios e objeto pró-
prio de estudos, que não se confundem com 
outros ramos do Direito.
No entanto, possui estreita relação com a 
Filosofia Moral, ou Ética e com outros ramos 
do Direito.
A Ética é conhecida como a ciência “do que 
deve ser” e não a ciência “do que é”. Estuda o 
bem e o dever, válida para todos os homens, 
em todas as circunstâncias, para todas as ativi-
dades humanas. É o campo próprio em que se 
estruturam os princípios gerais e teóricos da 
Deontologia.
A Deontologia Jurídica também se rela-
ciona com outros ramos do Direito, como a 
Filosofia do Direito, de onde nasceu e poste-
riormente se desprendeu, ao se delimitar cla-
ramente sua matéria de estudo.
Da mesma forma, se relaciona com o 
Direito Civil, como, por exemplo, na parte que 
trata do instituto do mandato judicial, onde se 
encontram normas reguladoras da atividade 
forense. Também se relaciona com o Processo 
Civil,que traz um enorme cabedal de normas 
dirigidas aos operadores do Direito, tais como 
competências, atribuições, prazos, capacidade 
para agir em juízo, etc.
Pode-se afirmar, pois, que a Deontologia 
Jurídica, ao se relacionar com as diversas dis-
ciplinas que compõem a ciência jurídica, serve 
como auxilio ao profissional do Direito, per-
mitindo que aplique o conhecimento jurídico 
com consciência moral e dignamente, orien-
tando sua atividade para o devido fim.
3.3 A Existência do 
Dever Moral
Em termos gerais, pode-se afirmar que a 
Deontologia trabalha com três bases diferen-
tes: a) a existência de um dever moral; b) a 
natureza do dever e; c) as consequências do 
dever.
Ao se analisar, ainda que superficialmente, 
a natureza do homem, é possível constatar, 
como elemento que o diferencia das demais 
espécies, a existência de uma consciência psi-
cológica, que lhes permite fazer julgamentos 
sobre os atos e as circunstâncias.
A existência desta consciência revela que 
a conduta humana tende naturalmente para 
a verdade, pois busca conhecê-la. Portanto, 
esta tendência é para o bem, pois a verdade é 
um bem, e a partir do conhecimento do bem 
a consciência impõe ao homem um dever de 
praticar o bem e, em contrapartida, de evitar 
o mal, que seria o seu oposto. A esta imposi-
ção pode-se chamar de lei moral, que gera um 
dever moral, que por sua vez acarreta uma 
responsabilidade moral.
O dever pode ser entendido como o bem 
enquanto obrigatório. E este bem pode ser 
entendido como a realização plena da finali-
dade do homem, daquilo que deve ser cum-
prido.
Este caráter obrigatório do cumprimento 
do bem se chama dever.
O dever, portanto, tem a natureza de uma 
obrigação, que é sua substância, e não ape-
nas deriva da nossa consciência, mas também 
de uma ordem natural. O desrespeito a essa 
ordem natural é um desrespeito à ordem das 
coisas, ao fim do ser humano, à própria estru-
tura racional do universo.
Assim, pode-se afirmar que onde há uma 
obrigação há um bem e onde há um bem há 
uma obrigação. O bem consiste em fazer o que 
é devido (o dever) e o dever consiste em fazer 
o bem.
Ética e Deontologia JuríDica
19.
O cumprimento do dever faz nascer uma 
responsabilidade. Esta responsabilidade é 
uma consequência do dever cumprido, pois 
quem cumpre um dever de consciência se 
mostra inteiramente responsável pelo ato pra-
ticado. Todavia, para que exista esta respon-
sabilidade é requisito essencial que o atendi-
mento do dever tenha sido inteiramente livre, 
por isso que a liberdade do agente é a caracte-
rística peculiar à responsabilidade. Quem não 
e livre não é responsável, não pode responder 
pelos atos praticados. Assim, a liberdade é a 
razão de ser da responsabilidade.
3.4 A Consciência Moral
A consciência é o nervo motor das ações e 
aferições da conduta humana, é antes de tudo 
uma faculdade da alma. Etimologicamente, 
ela conhece junto à nós (cons-ciência), está 
conosco, é a ciência de nós, conhece as nossas 
ações, sabe se estamos fazendo o que se deve 
ou o que não se deve.
Pode-se dizer que a consciência é uma 
espécie de razão intuitiva, que automática 
e espontaneamente nos dá o conhecimento 
imediato dos princípios primários da nossa 
conduta e da conduta alheia. Inobstante, ela 
se serve para essa diretriz da colaboração 
de outras faculdades, como da inteligên-
cia, da razão e da intuição, podendo tam-
bém contar com a educação e cultura que o 
homem possua.
Esta consciência moral, que nos permite 
aferir o comportamento próprio e alheio, na 
busca da verdade e do bem, apresenta-se em 
diferentes graus ou estados, repercutindo na 
melhor ou pior percepção do dever moral.
Dentre estes diferentes graus ou estados 
de consciência, podemos destacar os seguin-
tes:
a. consciência ignorante – é aquela em 
que o agente não sabe distinguir ade-
quadamente entre o lícito e o ilícito, 
entre o ato bom e o ato mau. É o caso 
dos irresponsáveis, dos loucos, que 
agem confusamente;
b. consciência certa ou reta – é o estado 
da consciência que acerta na aplicação 
dos princípios aos casos concretos; é 
aquela que distingue claramente entre 
o lícito e o ilícito, entre o que fazer e 
o que não fazer. É o estado em que a 
consciência adere e se adapta adequa-
damente ao dever;
c. consciência errônea – é aquela que leva 
o agente ao erro, pela qual pensa estar 
cumprindo o dever moral quando ele 
não existe. É o estado de consciência 
que erra na aplicação dos princípios 
ou que se apoia em princípios falsos, 
pensando serem verdadeiros. Afirma 
ser bom aquilo que é mau. Neste 
estado, quando a consciência é inven-
civelmente errônea, não há culpa ou 
responsabilidade pela conduta;
d. consciência duvidosa – é aquela que 
deixa o juízo do agente em suspenso, 
que tem dúvidas no agir, que age com 
dúvidas na sua decisão. Neste estado 
a consciência não chega a emitir um 
juízo;
e. consciência provável – é aquela que, 
embora sabendo que possa estar 
errada, julga lícita, ainda assim, deter-
minada ação. Não tem a segurança de 
uma certeza, baseia-se no provável, 
sempre admitindo que, ao final, seu 
juízo possa estar cometendo um erro.
f. consciência laxa ou larga – é aquele 
estado de consciência que, com levian-
dade, sem se preocupar com qualquer 
análise, julga que qualquer solução é 
boa, qualquer caminho serve. Aceita 
tudo como lícito e bom. Leva o agente 
a uma total insensibilidade moral.
g. consciência escrupulosa – é o estado 
contrário à consciência laxa: vê o erro 
e a maldade onde eles aí não existem. 
Dentro deste estado de consciência 
toda a ação pode ser errônea.
Em face dos diferentes graus de Consci-
ência Moral, que afetam a compreensão do 
bem e, por consequência, do dever moral, 
algumas regras de conduta devem ser obser-
 
20.
vadas, de modo a nortear o comportamento 
humano para o bem, dentre elas destacam-se 
as seguintes:
a. não devemos nunca agir contra a 
consciência;
b. devemos atender ao dever moral com a 
intenção de estarmos agindo de confor-
midade com o bem que ele é. É necessá-
rio o desejo de cumprir o dever. Deste 
preceito decorre a conclusão de que os 
fins bons não justificam os meios maus, 
pois o desejo de cumprir o dever, que é 
um bem, pressupõe que os meios sejam 
igualmente bons;
c. não devemos nunca agir com a cons-
ciência duvidosa sobre a licitude ou 
não de uma conduta, pois seria agir de 
forma temerária, pondo em risco direito 
alheio. É preciso procurar uma solução 
adequada para a dúvida antes de agir;
d. devemos agir sempre com a consciên-
cia certa e verdadeira;
e. quando a consciência errônea é 
invencível, ou seja, quando o erro 
não pode ser superado pelo agente, 
mesmo com estudo, etc., é legitima 
a conduta, porque ela é considerada 
subjetivamente certa;
f. é permitido agir com a consciência 
escrupulosa, desde que seja real e exa-
gerada;
g. não se deve agir jamais com a cons-
ciência laxa ou larga, que considera 
tudo lícito e permitido;
h. é permitido agir com a consciência 
provável, quando não for possível 
se alcançar a certeza absoluta, desde 
que tenham sido tomadas as cautelas 
necessárias, a prudência com o acu-
rado exame do problema.
O que se deseja com estas regras é alcançar 
uma disciplina moral que respeite a liberdade 
e dignidade dos homens ao viverem em socie-
dade, além de nortear o homem na formação 
continua de sua consciência.
3.5 O Objeto de Estudos 
da Deontologia 
Jurídica
Como vimos, a Deontologia é a teoria dos 
deveres e consiste, assim, no complexo de 
princípios e regras que disciplinam particu-
lares comportamentos do integrante de uma 
determinada profissão. A Deontologia Jurí-
dica, por sua vez, designa o conjunto de nor-
mas éticas e comportamentais a serem obser-
vadas pelo profissional jurídico, no

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