Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ESTUDO DIRIGIDO DE IMUNOLOGIA VETERINÁRIA Londrina 2017 Caros alunos, A seguir vocês encontrarão trechos baseados nos slides ministrados em sala de aula, o intuito é auxilar no entendimento dos conteúdos expostos, entretanto atente- se que não basta estudar somente por esse material de apoio, também deverão ser consultados e estudados os Livros de imunologia e os Slides para melhor esclarecimento e elucidação. Um abraço e bons estudos Rafael 1. INTRODUÇÃO E CONSIDERAÇÕES GERAIS Em síntese, a imunologia é tida como a ciência que estuda a imunidade e a dinâmica do sistema imunológico e de suas repostas, ou seja, como o corpo se defende e reage à ação de agentes estranhos ou patogênicos. Desta forma, a imunidade é definida como sendo a reação fisiológica contra substâncias ou moléculas reconhecidas como estranhas pelo organismo (ABBAS et al., 2011; BALESTIERI, 2006). O presente texto objetiva, de forma sucinta e direta, abordar de forma teórica a alguns pontos de importância da imunologia à medicina veterinária. Além disso, o presente documento tem como finalidade elucidar os pontos mais importantes estudados ao longo do ano durante a disciplina de imunologia veterinária, através de explicações e descrições básicas e objetivas a respeito de cada tema abordado em sala de aula. Para a realização desta obra, foram utilizados os livros da bibliografia básica e complementar da disciplina de imunologia veterinária, tão bem como os slides e o material didático disponibilizado pelo docente, e artigos científicos que abordam o tema de imunologia celular e molecular. 2. A IMUNOLOGIA VETERINÁRIA E SISTEMA IMUNOLÓGICO A imunologia é caracterizada pelo estudo das respostas imunológicas do organismo, que são garantidas pela dinâmica de atuação entre os órgãos que compõem o sistema imunológico, suas células e a resposta imunológica em si, que se baseia na interação entre um antígeno e um anticorpo, ou entre um antígeno e uma célula imunológica (ABBAS et al., 2011; BALESTIERI, 2006). 2.1 Sistema Imunológico e a Defesa do Organismo O sistema imunológico é constituído por um conjunto de órgãos, tecidos e células cuja principal função é proteger o organismo contra possíveis substâncias, moléculas, ou agentes patogênicos. As funções biológicas do sistema imune consistem no reconhecimento e eliminação do próprio organismo de: moléculas alteradas, lesadas ou patogênicas; células alteradas, mortas ou tumorais; e agentes infecciosos ou parasitários patogênicos. O sistema imunológico também é responsável pelo reconhecimento e eliminação de células, tecidos ou órgãos de origem genética diferente, como enxertos ou transplantes (TIZARD, 2009). De maneira geral, o sistema imunológico garante proteção à vida do indivíduo através de múltiplos mecanismos, denominados mecanismos de defesa, que consistem em reações bioquímicas ou celulares que garantem a segurança do organismo contra possíveis substâncias ou agentes que possam causá-lo algum dano. Existem três formas de defesa do organismo: as barreiras naturais, a imunidade inata e a imunidade adaptativa conforme ilustrado a seguir (FIGURA 1) (TIZARD, 2009). Figura 1 - Três formas de defesa do organismo Fonte: Tizard (2009). As barreiras naturais são as barreiras do próprio organismo responsáveis pela primeira defesa, sendo consideradas na maioria das vezes como sendo parte da imunidade inata do indivíduo. As barreiras naturais são classificadas em barreiras físicas, biológicas e químicas. São elas as barreiras físicas, como a pele, as mucosas e a autolimpeza através da tosse, vômitos ou diarreia; as barreiras biológicas, como a flora presente na mucosa dos tratos; e as barreias químicas como o pH de cada região do organismo, como o pH ácido do estômago (PLAYFAIR; CHAIN, 2013). A imunidade inata é a forma de imunidade que nasce com o indivíduo e atua após ou em conjunto com a barreira física. É descrita como sendo uma imunidade de curta duração e que não possui memória. Também é descrita como sendo um tipo de imunidade que não é específica e que possui intensidade constante (ABBAS et. al. 2011; TIZARD, 2009). As células efetoras da imunidade inata são representadas principalmente pelos fagócitos (neutrófilos, monócitos e macrófagos), células dendríticas e células NK (Natural Killer). A imunidade adaptativa é tida como aquela que é adquirida, desta forma ela demanda tempo. Ela é caracterizada pela ativação do sistema imune pelo contato com agentes infecciosos ou patogênicos e sua resposta à infecção. Existem duas formas de imunidade adaptativa, a humoral, mediada por linfócitos B, e a celular, mediada por linfócitos T. Além disso, a imunidade adaptativa pode ser adquirida de forma ativa ou passiva. Ativa quando há exposição direta com um patógeno, e a passiva quando a imunidade é adquirida através da transferência do soro ou plasma, ou células de indivíduos já imunizados (PLAYFAIR & CHAIN, 2013; TIZARD, 2009). São características da imunidade adaptativa: (TIZARD, 2009) Especificidade: garante resposta específica ao antígeno. Diversidade: permite que o sistema imune responda a uma variedade de antígenos. Memória: leva a respostas mais eficazes à exposições repetidas ao mesmo antígeno. Expansão clonal: aumenta o número de linfócitos específicos para antígeno para manter equilíbrio com microrganismos. Especialização: gera respostas que são ótimas para a defesa contra diferentes tipos de microrganismos. Contração e hemostasia: retorno a homeostase após a eliminação do antígeno. Não reatividade ao próprio: previne injúrias ao hospedeiro e ao mesmo tempo atua contra o agente agressor. 2.2 Órgãos Linfoides Primários e Secundários e Células de Defesa Em suma, as células do sistema imunológico estão organizadas em tecidos ou órgãos linfoides. Essas estruturas são denominadas linfoides em razão das células predominantes do parênquima serem linfócitos, embora também estejam presentes, em menor quantidade, outras células como as do sistema imunitário, como os macrófagos, células dendríticas e células polimorfonucleares, e células de outros sistemas como as células epiteliais, endoteliais e fibroblastos (BALESTIERI, 2006). Os órgãos linfoides são estruturas que participam da resposta imunológica e são responsáveis pela produção e maturação dos linfócitos. São divididos em órgãos linfoides primários e secundários de acordo com sua função ilustrados na Figura 2 (ABBAS et al., 2000). Figura 2 – Fonte de linfócitos, órgãos primários e secundários. Fonte: Tizard (2009). Nos mamíferos domésticos, os principais órgãos linfoides primários são a medula óssea e o timo. Esses órgãos tem a função de realizar os processos de maturação e diferenciação dos linfócitos, que serão encaminhados então aos órgãos linfoides secundários, onde serão armazenados e exercerão suas funções. Os principais órgãos linfoides secundários nos mamíferos domésticos são os linfonodos, o baço, a medula óssea e os tecidos linfoides associados à mucosas (MALT) (TIZARD, 2009). 2.2.1 Células de Defesa As célulasde defesa que compõe o sistema imunológico são chamadas de leucócitos. Os leucócitos são originados a partir de uma célula tronco da medula óssea, e sofrem um processo de diferenciação e maturação celular que faz a distinção entre as mais diversas linhagens (ABBAS et al. 2011; THRALL, 2007). Em linhas gerais, os leucócitos são divididos em granulócitos e agranulócitos, de acordo com a presença ou não de grânulos citoplasmáticos. Os granulócitos são denominados a partir da atração química que seus grânulos citoplasmáticos possuem pelo corante hematoxilina e eosina, utilizado na preparação de lâminas histológicas e citológicas. As células cujos grânulos possuem tropismo pelo corante ácido, a eosina, são chamados de eosinófilos. Já as células cujos grânulos possuem tropismo pelo corante básico, a hematoxilina, são chamados de basófilos. As células cujos grânulos são neutros quanto ao tropismo pelos corantes, são denominados neutrófilos (THRALL, 2007). Os leucócitos denominados agranulócitos não possuem grânulos citoplasmáticos, são eles os monócitos e linfócitos. Os monócitos dão origem a diversas outras células de defesa, e possuem nomenclatura de acordo com o tecido e a função que estão exercendo. Por exemplo, nos tecidos são denominados macrófagos. Já os linfócitos também dão origem a outros tipos celulares, como os linfócitos T, linfócitos B e os linfócitos natural killer (ABBAS et al. 2011; THRALL, 2007). 2.2.2 Medula Óssea A medula óssea é um órgão difuso, porém volumoso e muito ativo encontrado no canal medular dos ossos longos e nas cavidades dos ossos esponjosos. Esse órgão é considerado linfoide devido à sua atividade hematopoiética, e pode ser primário ou secundário de acordo com sua função (ABBAS et al., 2000; JUNQUEIRA, 2013). São encontrados dois tipos de medula óssea nos animais, a medula óssea vermelha e a medula óssea amarela. A medula óssea vermelha, também chamada de hematógena, deve sua cor à presença de numerosos eritrócitos em diferentes estágios de maturação, em decorrência de sua atividade hematopoiética exuberante. A medula óssea amarela não tem função hematopoiética, e deve sua cor à presença de células adiposas em grande quantidade (ABBAS et al., 2000; BALESTIERI, 2006). Nos neonatos, toda medula óssea é vermelha e, portanto, ativa na produção de células do sangue. Entretanto, conforme o indivíduo envelhece passa a ser substituída por medula óssea amarela, existindo medula óssea vermelha nos adultos e idosos apenas nas epífises dos ossos longos, no esterno, vértebras e costelas (JUNQUEIRA, 2013). 2.2.3 Timo O timo é um órgão linfoepitelial situado no mediastino, atrás do esterno e na altura da base do coração. É bilobado, e possui uma cápsula de tecido conjuntivo denso que origina septos que dividem o parênquima em lóbulos contínuos uns com os outros. Ao contrário dos outros órgãos linfoides, o timo não possui nódulos celulares, no entanto, cada lóbulo é formado por uma parte periférica denominada zona cortical e uma parte mais central envolta pela zona cortical que é denominada zona medular (BALESTIERI, 2006; JUNQUEIRA, 2013). O timo possui origem embriológica dupla, e é considerado um órgão linfoide primário. Imunologicamente, é considerado o sítio responsável pela maturação e seleção dos timócitos, que são os linfócitos T residentes no timo. Uma particularidade desse órgão é que ele involui gradativamente após a puberdade do animal, até ser substituído por tecido adiposo e fibroso, e se tornar quase que completamente afuncional (ABBAS et. al, 2011; JUNQUEIRA). 2.2.4 Baço O baço é um órgão parenquimatoso formado por um grande acúmulo de tecido linfoide e é o único órgão linfoide interposto na circulação sanguínea. De acordo com sua função é considerado um órgão linfoide secundário e devido à sua riqueza em células fagocitárias e do contato íntimo entre o sangue e essas células, o baço apresenta uma importante função imunológica e de reciclagem dos eritrócitos (JUNQUEIRA, 2013; SAMUELSON, 2007). Assim como os demais órgãos linfoides, o baço origina linfócitos que passam para o sangue circulante e, devido à sua localização, é capaz de responder mais facilmente aos antígenos que por ventura possam invadir o sangue. Logo, é considerado um importante filtro fagocitário e imunológico para o sangue e um grande produtor de anticorpos (BALESTIERI, 2006). Histologicamente, o baço é composto por uma cápsula de tecido conjuntivo denso, a qual emite trabéculas que dividem o parênquima ou polpa esplênica em compartimentos incompletos. O parênquima do baço é dividido em polpa branca, rico em nódulos linfáticos composto por linfócitos T e B, e em polpa vermelha rica em sangue (JUNQUEIRA, 2013). Em linhas gerais, o baço é um órgão altamente vascularizado cujas principais funções são retirar da circulação células sanguíneas lesionadas e senescentes e partículas, como imunocomplexos e micro-organismos opsonizados, além de iniciar as respostas imunológicas adaptativas dos antígenos capturados do sangue (BALESTIERI, 2006). 2.2.5 Linfonodos Os linfonodos ou gânglios linfáticos são órgãos encapsulados constituídos por tecido linfoide e que aparecem espalhados pelo corpo, sempre no trajeto dos vasos linfáticos. São encontrados em diversas regiões do corpo, como na axila, virilha, em grande quantidade no tórax e abdome, principalmente no mesentério, dentre outros lugares (JUNQUEIRA, 2013). Anatomicamente, os linfonodos possuem um formato reniforme, apresentando um lado convexo, por onde desembocam os vasos linfáticos aferentes, e outro côncavo com uma reentrância, o hilo, pelo qual penetram as artérias nutridoras e saem as veias e os vasos linfáticos eferentes (ABBAS et al., 2011). Histologicamente, os linfonodos são constituídos por uma cápsula de tecido conjuntivo denso que envia trabéculas para seu interior, dividindo o parênquima em compartimentos incompletos. O parênquima do linfonodo apresenta região cortical, que se localiza logo abaixo da cápsula, e a região medular que ocupa o centro do órgão. A população de células mais abundante na região cortical profunda é de linfócitos T, enquanto a região medular é composta em sua maioria por linfócitos B e macrófagos (JUNQUEIRA, 2013; SAMUELSON, 2007). Do ponto de vista imunológico, os linfonodos são órgãos linfoides secundários, vascularizados e encapsulados, com características anatômicas e histológicas que favorecem o início das respostas imunes adaptativas para antígenos transportados dos tecidos pelos vasos linfáticos (ABBAS et al., 2011). 2.2.6 Placas de Peyer As placas de Peyer são aglomerados de tecido linfoide localizadas na camada mucosa e submucosa da porção final do intestino delgado, o íleo, e são tecidos linfoides que estão classificados dentro do grupo dos tecidos linfoides associados às mucosas (MALT) (ORIÁ, 2016). Os tratos digestivo, respiratório, genitourinário e o tegumento estão sujeitos a invasões microbianas frequentes, pois são expostos ao meio externo. Com a função de promover proteção ao organismo, existem acúmulos de tecido linfoide, os nódulos linfoides, associados ao tecido linfático difuso, localizados na mucosa e na submucosa desses tratos que, em alguns locais formam órgãos bem estruturados e delimitados como as tonsilas e as placas de Peyer. Logo, denomina-se MALT os aglomerados linfoides presentes na mucosa desses órgãos (JUNQUEIRA, 2013). De forma geral, as placas de Peyer não são facilmente encontradas durante a observação macroscópica do intestino delgado pelo fato de estarem inseridasno meio das túnicas da do íleo, embora se tenha conhecimento que elas existam. Do ponto de vista histológico, as placas de Peyer são descritas como sendo grandes folículos linfoides encontrados tanto na camada mucosa quanto na submucosa do íleo e, ocasionalmente, do jejuno (ORIÁ, 2016). Os folículos linfoides são compostos principalmente por linfócitos B, linfócitos T, plasmócitos, macrófagos, e são delimitados por células epiteliais especializadas, as células M, que na maioria das vezes, possuem projeções citoplasmáticas capazes de capturar possíveis patógenos ou antígenos com a finalidade de levá-los ao interior dos folículos para que a resposta imunológica seja realizada (ABBAS et al., 2013). 2.3 Reconhecimento de Invasores e a Base do Processo Inflamatório Quando um indivíduo é exposto a um agente infeccioso ou um patógeno ocorre em resposta um processo inflamatório agudo pelo sistema imunológico decorrente de uma invasão microbiana ou lesão tecidual. Desta forma, a invasão de agentes infecciosos ou parasitários, a lesão tecidual ou celular levam à ativação e migração de células inflamatórias, os neutrófilos e macrófagos, células responsáveis pelo processo de defesa e reestabelecimento da homeostase (TIZARD, 2009). O reconhecimento de invasores (Figura 3) se dá através dos sinais de perigo que são identificados pelas células do organismo. As principais formas de se reconhecer os sinais de perigo são através dos padrões moleculares associados ao patógeno (PAMPs) ou através dos padrões moleculares associados aos danos (DAMPs) (TIZARD, 2009). Figura 3 – Reconhecimento do invasor Fonte: Os autores Em síntese, podemos entender um mecanismo exemplificando como os invasores (patógenos) são reconhecidos pelo sistema imune, na figura acima um microorganismo (Helicobacter pilori) invade o organismo do animal. Para que a mesma possa ser reconhecida como invasora, na sua membrana celular consta lipopolissacarideos (LPS) que são denominados padrões moleculares associados ao patógeno (PAMPs). Após a entrada e reconhecimento da PAMP pelas as células do sistema imune se dá através dos seus receptores, tais como Toll (TLR), estes contidos em macrófagos, neutrófilos, células dendriticas, etc... Os micro-organismos possuem padrões moleculares associados ao patógeno (PAMPs) localizados em sua superfície, que são reconhecidos pelos receptores das células sentinelas, que são os macrófagos, mastócitos, neutrófilos e células dendríticas. Já as DAMPs são consideradas alarminas, ou seja, substâncias liberadas pela célula após sua morte e têm função de recrutamento e ativação celular (ABBAS et al. 2011). O processo inflamatório, de maneira geral, é uma resposta fisiológica do organismo a uma lesão ou agressão tecidual local ou à presença de um agente infeccioso ou parasitário em determinada região que possa causar dano à homeostase. A resposta inflamatória faz parte da resposta imune inata e, por isso, não é uma resposta específica, mas ocorre de maneira padronizada independente do estímulo. O mecanismo inflamatório envolve várias células do sistema imunológico, mediadores químicos e a vascularização da região (ABBAS et al. 2011; BALESTIERI, 2006). A função do processo inflamatório é eliminar a causa inicial do processo que está causando a quebra da homeostase celular ou tecidual, coordenar as reações do sistema imune inato, eliminar as células lesadas e os tecidos danificados para enfim iniciar a reparação dos tecidos e restaurar sua função e decorrente homeostase. A resposta inflamatória se divide em dois tipos: a resposta inflamatória aguda, ou imediata, e a resposta inflamatória tardia, ou crônica (BALESTIERI, 2006). 2.4 Imunidade Inata: Neutrófilos e Macrófagos A imunidade inata diz respeito ao conjunto de formas de imunidade que nasce com o indivíduo, sendo a forma de imunidade subsequente à das barreiras naturais. Desta forma, a imunidade inata é a primeira linha de defesa do organismo, com a qual ele já nasce. É uma resposta rápida, não específica e limitada aos estímulos estranhos ao corpo, geralmente ocorrendo adjunta ao processo inflamatório agudo (TIZARD, 2009). As principais células que atuam na imunidade inata, adjuntas à inflamação imediata, são os neutrófilos e os macrófagos. Em suma, o objetivo da inflamação aguda é assegurar que as células fagocíticas interceptem e destruam o patógeno de forma rápida e eficiente. As primeiras células atraídas aos sítios de inflamação são os neutrófilos, a partir da sinalização através de citocinas que servem como alarmantes. Desta forma, os neutrófilos são capazes de se ligar aos micro- organismos invasores, fagocitá-los e eliminá-los (ABBAS et al. 2011). Já os macrófagos são células tardias à inflamação. São células cuja função também é a de fagocitose de patógenos e também a regulação do processo inflamatório (ABBAS et al. 2011). 2.4.1 Neutrófilos Os neutrófilos, de maneira geral, são os principais leucócitos granulócitos encontrados no sangue cuja produção é realizada na medula óssea e é regulada pela substância estimuladora de colônia de granulócitos (G-CSF). São células arredondadas, com núcleo irregular, alongado e segmentado. Possuem grânulos em seu citoplasma e estão, normalmente, na circulação sanguínea (TIZARD, 2009). Normalmente, em homeostase, os neutrófilos são carregados pelo fluxo sanguíneo. Quando há um desequilíbrio homeostático, os neutrófilos diminuem sua velocidade e se aderem ao endotélio vascular através da sinalização das células endoteliais via selectina, integrina ou fator ativador de plaquetas (PAF) (Figura 4). Após a sinalização do endotélio vascular, são formadas ligações bioquímicas entre o neutrófilo e a parede do vaso e eventualmente sua passagem através do endotélio pelo processo de diapedese. Desta forma, permitindo que o neutrófilo chegue ao tecido e possa realizar sua função de fagocitose e eliminação do patógeno (ABBAS et al. 2011). Figura 4 – Adesão de neutrófilos no endotélio Fonte: Tizard (2009). Para que a eliminação do patógeno seja efetuada com sucesso, é necessário que o neutrófilo passe por cinco etapas ou estágios, que incluem a sua ativação, quimiotaxia, adesão ao endotélio, ingestão do patógeno e sua eventual destruição. A destruição do patógeno fagocitado pode ocorrer através do processo de burst respiratório que equivale à oxidação intracitoplasmática que ocorre no fagossomo, ou através do processo de digestão enzimática no fagolisossomo (ABBAS et al. 2011; TIZARD, 2009). Video ilustrativo da atuação dos neutrófilos: https://www.youtube.com/watch?v=phkSRD1ewqE 2.4.2 Macrófagos São leucócitos agranulócitos que possuem a função de realizar fagocitose, auxiliando na modulação da inflamação e da resposta imunológica inata. Migram ao local de inflamação após os neutrófilos e fazem a ingestão e destruição do patógeno. O nome dado ao macrófago varia de acordo com o tecido que ele está localizado, como por exemplo, no sangue são denominados monócitos, no tecido conjuntivo são histiócitos, no cérebro são denominados micróglias e no fígado são células de Kupffer (ABBAS et al. 2011; TIZARD, 2009). Em linhas gerais, os macrófagos são células arredondadas que possuem organelas citoplasmáticas suficientes para manterem-se ativos por mais tempo que os neutrófilos, que são células de vida curta. Os macrófagos apresentam o processo de fagocitose semelhante ao dos neutrófilos, sendo sua ativação realizada através da presença de PAMPs, DAMPs ou de mediadores químicos como citocinas por exemplo (BALESTIERI, 2006).Na maioria das vezes, os macrófagos são responsáveis também pelo processo de depuração dos corpos estranhos. Esse processo é responsável pela retirada de qualquer patógeno ou antígeno da circulação sanguínea através da fagocitose por um macrófago residente de algum tecido. No caso dos canídeos, roedores e humanos o processo de depuração ocorre principalmente nas células de Kupffer do fígado e dos macrófagos do baço. Já no caso dos felinos, equinos, e ruminantes o processo de depuração de corpos estranhos se dá nos macrófagos alveolares dos pulmões (BALESTIERI, 2006). Video ilustrativo da atuação dos macrófagos: https://www.youtube.com/watch?v=qrlNwsaUXZ4 2.5 Sistema Complemento O sistema complemento diz respeito a um complexo sistema de interação molecular de proteínas cuja função é a proteção contra moléculas ou agentes patogênicos através de uma reação em cascata onde o final da reação é a ativação de uma via de amplificação cuja função é destruir o patógeno ou o agente invasor (TIZARD, 2009). O sistema complemento envolve tanto a imunidade inata quanto a imunidade adaptativa, sendo suas proteínas participantes encontradas no soro ou plasma sanguíneo. Sua ativação ocorre por diferentes vias e o sistema complemento está envolvido na proteção contra infecções por patógenos, na regulação do processo inflamatório, na remoção de células alteradas ou danificadas, na emissão de sinais de perigo para o organismo através de alarminas, na ajuda da regulação de linfócitos T e B através da resposta imune adaptativa, na remoção de imunocomplexos através da filtração renal, na mobilização de células tronco, na angiogênese pós-inflamatória, na regeneração tecidual e no metabolismo de lipídios (TIZARD, 2009). A ativação do sistema complemento ocorre através de três vias, a alternativa, a das lecitinas, e a via clássica, todas com o objetivo de formar convertases para a via de amplificação com finalidade de ataque à membrana plasmática do invasor. A via alternativa e a via das lecitinas são ativadas por carboidratos microbianos, PAMPs, uma vez que são vias atuantes na imunidade inata. Já a via clássica é ativada através de anticorpos, logo esta participa da imunidade adaptativa humoral (ABBAS et. al. 2013). As proteínas que participam do sistema complemento podem estar livres no soro ou em superíficies de membrana celular, sendo sintetizadas em diversos lugares do corpo como no fígado ou pelos macrófagos (ABBAS et. al. 2013). 2.5.1 Via Alternativa É uma das vias do sistema complemento que está presente na imunidade inata, que ocorre na corrente sanguínea e é desencadeada por PAMPs. A proteína de maior importância dessa via é a C3 que está presente na corrente sanguínea, mas é clivada em C3a e C3b na presença de um patógeno. C3b se liga à membrana do patógeno enquanto a C3a permanece livre no plasma sanguíneo, que atrai o fator B e D para se aderirem à C3b ligada à membrana do patógeno (ROITT & RABSON, 2011). A união da proteína C3b com o fator B e D, dá origem à proteína C3b, Ba e Bb, e D, onde Ba e D voltam para a corrente sanguínea enquanto C3b e Bb ativam moléculas de C3 inativas, formando uma grande molécula de C3bBb3b que dão origem a uma C3/C5 convertase que é o produto final da reação bioquímica na membrana do patógeno (ROITT & RABSON, 2011). Vídeo ilustrativo da via alternativa: https://www.youtube.com/watch?v=7dWLqNDYQd0 2.5.2 Via Lecitina Outra via do sistema complemento ativada através de moléculas de reconhecimento de padrões solúveis que tem como finalidade a ativação de proteases. A molécula de lecitina ligadora de manose (MBL) que é formada por uma molécula de MASP1 e MASP2, se liga à manose e outros carboidratos da membrana celular do patógeno. Essa ligação bioquímica a atrai proteínas do plasma sanguíneo denominadas C2 e C4, que serão clivadas pela MASP2 em C4b e C2a, formando outra convertase denominada C4b2a3b (TIZARD, 2009; ROITT; RABSON, 2011). Vídeo ilustrativo da via Lecitina: https://www.youtube.com/watch?v=u- oC721_wWA 2.5.3 Via Clássica Essa via do sistema complemento não pode ser ativada até que anticorpos sejam produzidos pelos plasmócitos, o que leva de sete a dez dias. Por isso, essa via é caracterizada como sendo uma resposta tardia, embora eficiente, que pertence à imunidade adquirida humoral devido à participação dos linfócitos B produtores de anticorpos, os plasmócitos (ABBAS et al. 2011). Os componentes moleculares da via clássica são as proteínas C1 (C1q, C1r, C1s) e os anticorpos (IgG e IgM) que são necessários na superfície celular para que haja o contato com a C1 (ABBAS et al. 2011). Os anticorpos se ligam à antígenos da membrana, ativando a C1r que ativa a C1s, que por sua vez irá clivar a C4 em C4a e C4b. A proteína C4b se fixa à membrana enquanto a C4a retorna à circulação sanguínea. A proteína C2a se liga à proteína C4b, já clivado por C1s, formando C4b2a que irá clivar a C3 formando C4b2a3b que é uma C5 convertase (ROITT; RABSON, 2011). Vídeo ilustrativo da via clássica: https://www.youtube.com/watch?v=knoXg8DWA-Q 2.5.4 Via de Amplificação A via de amplificação, por sua vez, diz respeito à junção de todas as convertases ligadas à superfície do patógeno, uma vez que as convertases são os produtos finais de cada uma das vias do sistema complemento. A união dessas convertases produzem polímeros na parede do patógeno, formando poros denominados complexos terminais (TIZARD, 2009). Os complexos terminais são orifícios criados na parede celular e na membrana plasmática dos patógenos, por exemplo, nas bactérias, que causam a morte do patógeno por lise osmótica. E após a clivagem das convertases, as proteínas que retornam à corrente sanguínea formam citocinas, que possuem papel fundamental no processo inflamatório e na resposta imunológica celular (TIZARD, 2009). Figura 5 – Via de amplificação Fonte: Tizard (2009). Vídeo ilustrativo da via de ataque a membrana ou via de amplificação: https://www.youtube.com/watch?v=9qdUoQxeuzw 2.6 Citocinas e Sinalização Celular As citocinas, em linhas gerais, são descritas como sendo moléculas químicas de origem proteica de sinalização celular, ou seja, são alarminas e, desta forma, são agentes que podem possuir ação pró-inflamatória ou anti-inflamatória. São proteínas diversas e complexas cuja produção se dá a partir de diversos estímulos imunológicos diferentes (SCROFERNEKER & POHLMANN, 1998). No que diz respeito às suas propriedades moleculares e biológicas, as citocinas são proteínas de vida curta com estruturas e receptores altamente diversificados que podem agir local e ou sistemicamente. São moléculas pleiotrópicicas, ou seja, possuem tropismo por diversos tipos celulares com ausência de especificidade, e também são moléculas que exercem funções biológicas redundantes embora cuidadosamente reguladas, pois são tóxicas em demasia (ABBAS et. al. 2011). (FIGURA 6) Figura 6 – Diferentes formas de atuação das citocinas Fonte: ABBAS (2011). As citocinas podem atuar em sinergismo ou em antagonismo, e sua nomenclatura se dá a partir de sua célula de origem, sequenciada de acordo com a ordem de sua descoberta. No que diz respeito à sua função, existem as citocinas pró-inflamatórias que aumentam a inflamação, e as citocinas anti-inflamatórias que diminuem a inflamação (TIZARD, 2009). Dentre as principais classes de citocinas, pode-se citar a classe dos interferons (IFN), que possuem função de sinalização celular no que diz respeito às infecções virais; dos fatores de necrose tumoral(TNF) que possuem função de sinalização de células anormais; e das interleucinas (IL) que interagem com os linfócitos T e B. A regulação das citocinas de dá através de três formas: mudanças na expressão do receptor, retroalimentação por proteínas reguladoras ou retroalimentação por citocinas (ABBAS et al. 2011). 2.7 Células Apresentadoras de Antígeno: Células Dendríticas e Processamento de Antígenos As células dendríticas são células classificadas como células apresentadoras de antígenos (APCs), grupo de células cuja função é fagocitar partículas de patógenos, transportá-las até um linfonodo ou algum nódulo linfoide e apresentar essas partículas a um linfócito T. Outras células que participam do grupo de células apresentadoras de antígenos (APCs) são as células dendríticas, os linfócitos B e os macrófagos (BALESTIERI, 2006; TIZARD, 2009). De forma geral, as células dendríticas têm função de serem células sentinelas, participando da imunidade inata. Estruturalmente, essas células possuem um corpo pequeno com muitos prolongamentos citoplasmáticos, chamados dentritos, que auxiliam na captura do antígeno. Essas células processam antígenos exógenos e auxiliam no processo de regulação da imunidade adaptativa através da ativação de linfócitos T não experimentados (naive). Localizam-se principalmente na derme, na forma de células de Langerhans, mas estão presentes em diversos outros órgãos, como os linfonodos, e tecidos como na superfície de mucosas (BALESTIERI, 2006; TIZARD, 2009). As células dendríticas são originadas na medula óssea a partir das células tronco mieloides, sendo sua produção influenciada por fatores de crescimento e citocinas. Existem subpopulações de células dendríticas, a subpopulação mieloide e a plasmocitóide, que são classificadas de acordo com sua origem celular. As células dendríticas mielóides são originadas a partir da diferenciação de um monócito. Já as células dentríticas plasmocitóides são originadas a partir da diferenciação de um linfócito (ABBAS et al. 2011). A maturidade das células dendríticas depende da exposição ao antígeno, sendo as células imaturas responsáveis pela parte de sentinela e as células maduras responsáveis pela captura e processamento de antígenos tão bem como a migração para órgãos linfoides para apresentar o antígeno processado aos linfócitos T (ABBAS et al. 2011). O processamento de antígenos é feito por um grupo de células denominadas células apresentadoras de antígenos (APCs), que têm a função de capturar o antígeno através da fagocitose, digerir sua estrutura em seu interior através da quebra química e enzimática de suas moléculas, processar essas partículas através do complexo principal de histocompatibilidade (MHC) e expô-las em sua superfície celular para a eventual apresentação de antígeno aos linfócitos T. (BALESTIERI, 2006; TIZARD, 2009). 2.8 Complexo Principal de Histocompatibilidade O complexo principal de histocompatibilidade (MHC) é descrito como sendo uma grande região genômica onde se encontram genes extremamente importantes para o sistema imunológico. O MHC é classificado em duas classes, e tem como função básica codificar proteínas de superfície que reconhecem e apresentam antígenos próprios ou externos para o nosso sistema imune adaptativo. A apresentação de antígenos exógenos, como bactérias e fungos, é regulada pelas moléculas do MHC de classe II, enquanto a apresentação de antígenos endógenos, como vírus ou outros micro-organismos intracelulares, é regulada pelas moléculas do MHC de classe I (ABBAS et al. 2013; BALESTIERI, 2006; TIZARD, 2009). O MHC classe I diz respeito ao grupo de moléculas clássicas de histocompatibilidade, que são expressas em quase todas as células nucleadas dos mamíferos domésticos. Desta forma, há a apresentação de peptídeos antigênicos de origem endógena aos linfócitos T citotóxicos (CD8+). Essa classe de MHC está relacionada aos micro-organismos intracelulares. Já o MHC classe II diz respeito ao grupo de moléculas expressas em APCs, como os linfócitos B, macrófagos e células dendríticas. Desta forma, há a apresentação de peptídeos antigênicos de origem exógena aos linfócitos T auxiliares (CD4+). Essa classe de MHC está relacionada aos micro-organismos extracelulares (ABBAS et al. 2013; BALESTIERI, 2006; TIZARD, 2009). 2.9 Populações de Linfócitos: Linfócitos T, Linfócitos B e Linfócitos NK. Existem três populações de linfócitos no organismo dos mamíferos imunologicamente evoluídos. Duas dessas populações pertencem à imunidade adaptativa e uma das populações pertence à imunidade inata. As três populações existentes são as de linfócitos T, linfócitos B e linfócitos natural killer (NK) (THRALL, 2007; TIZARD, 2009). As células natural killer, ou linfócitos natural killer, são pertencentes à imunidade inata, enquanto os linfócitos T e B são pertencentes à imunidade adaptativa, celular e humoral respectivamente (ABBAS et al. 2011). Estruturalmente os linfócitos são células arredondadas, com o núcleo arredondado bem evidente ocupando quase todo o espaço citoplasmático. Os linfócitos estão distribuídos no corpo dos animais, embora estejam presentes em maior quantidade nos linfonodos. Além disso, os linfócitos T correspondem à aproximadamente 70% do total de linfócitos presentes na corrente sanguínea, os linfócitos B 20% e os linfócitos natural killer 10% (THRALL, 2007; TIZARD, 2009). A origem celular de todas as populações de linfócitos é a mesma, a célula tronco linfoide da medula óssea. No entanto, o local de maturação e desenvolvimento dessas células varia de acordo com sua função. Os linfócitos B, nos mamíferos domésticos, sofrem o processo de maturação na medula óssea, nas placas de Peyer, enquanto esse processo ocorre na bursa de fabrícius nas aves. Os linfócitos T por sua vez são originados na medula óssea, mas migram para o timo durante o período embrionário e neonatal para que possam se desenvolver e passar pelo processo de maturação e seleção, e após são enviados ao linfonodos e ao baço. Os linfócitos natural killer são originados a partir de linfócitos T em diferenciação, desta forma essas células também passam pelo processo de maturação e seleção no timo (ABBAS et al. 2011; THRALL, 2007; TIZARD, 2009). 2.9.1 Linfócitos T Os linfócitos T possuem desenvolvimento e maturação no timo, embora sejam produzidos na medula óssea. São distribuídos, num indivíduo adulto, no paracórtex de linfonodos e bainha periarteriolar no baço. São células que circulam e possuem receptores de antígenos TCR, CD3, CD4 e CD8. São células de fácil indução à tolerância e dão origem aos linfócitos T efetores e aos linfócitos T de memória. Os produtos excretados por essas células são as citocinas (ABBAS et al. 2011; TIZARD, 2009). Os linfócitos T também são classificados de acordo com seus receptores e suas respectivas funções. Os linfócitos T CD4 são considerados linfócitos auxiliares, enquanto os linfócitos CD8 são considerados linfócitos citotóxicos (ABBAS et al. 2011; TIZARD, 2009). Três grandes grupos de receptores são encontrados nos Linfócitos T: reguladores, antígeno-receptor e transporte (FIGURA 7). Figura 7 – Receptores dos Linfócitos T Fonte: Tizard (2009). 2.9.2 Linfócitos B Os linfócitos B são células produzidas e maturadas pela medula óssea, ou que sofrem maturação nas placas de Peyer ou na bursa de Fabricius como é o caso das aves. Num indivíduo adulto essas células estão distribuídas no córtex dos linfonodos e nos folículos esplênicos. São células apresentadoras de antígeno que,ao contrário dos linfócitos T, não circulam, e que possuem receptores de antígenos BCR e imunoglobulinas. Não são de fácil indução à tolerância, e possuem como células derivadas os plasmócitos e os linfócitos B de memória. Os produtos excretados por essas células são as imunoglobulinas (ABBAS et al. 2011; TIZARD, 2009). Quatro grandes grupos de receptores são encontrados nos Linfócitos B: Citocinas, Imunoglobulinas, Complemento e Antígenos (FIGURA 8). Figura 8 – Receptores dos Linfócitos B Fonte: Tizard (2009). 2.9.3 Linfócitos Natural Killer Os linfócitos natural killer, também chamadas células NK ou linfócitos NK, são a terceira população de linfócitos presentes no organismo e são células que atuam na primeira linha de defesa, ou seja, participam da imunidade inata (ABBAS et al. 2011; TIZARD, 2009). São células grandes, granulares e não fagocíticas cujo precursor comum é a medula óssea. São encontradas no sangue periférico e seus principais alvos são as células infectadas por vírus e células tumorais, denominadas como missing-self, e também as células estressadas, embora sua ativação seja um pouco tardia quando comparada a das outras células que atuam na imunidade inata (ABBAS et al. 2011; TIZARD, 2009). 2.10 Imunoglobulinas As imunoglobulinas, também conhecidas como anticorpos, são glicoproteínas sintetizadas e excretadas por células plasmáticas derivadas dos linfócitos B, os plasmócitos, que são leucócitos presentes no plasma sanguíneo e nos tecidos do organismo. As imunoglobulinas atuam se ligando aos antígenos estranhos marcando-os, facilitando sua destruição e eliminação pelo sistema imune (TIZARD, 2009). As principais ações das imunoglobulinas são a neutralização de toxinas, destruição celular e fagocitose auxiliada pelo sistema complemento. Elas também atuam no processo de opsonização de antígenos, tornando-os visíveis às células do sistema imunológico, possibilitando a atuação de linfócitos T e macrófagos, atuando assim na defesa do organismo através da imunidade adaptativa humoral (TIZARD, 2009). As imunoglobulinas são divididas em classes de acordo com suas propriedades moleculares. Basicamente, as imunoglobulinas possuem estrutura molecular tridimensional, e são compostas por cadeias pesada e leves de aminoácidos e subunidades variáveis. O que determina as subclasses de imunoglobulinas são os rearranjos entre cadeias leves e pesadas de aminoácidos (ABBAS et al. 2013). Existem cinco principais tipos de imunoglobulinas nos animais domésticos: IgG, IgM, IgA, IgE e IgD (ABBAS et al. 2013). IgG é a imunoglobulina encontrada em maior concentração nos animais domésticos, ela é produzida e excretada por plasmócitos no baço, linfonodos e medula óssea. Ela possui migração facilitada aos tecidos pelo seu baixo peso molecular, sendo um importante anticorpo durante a inflamação provocando aglutinação e opsonização (BALESTIERI, 2006; TIZARD, 2009). IgM é a imunoglobulina encontrada em maior concentração, após a IgG. Ela é produzida e excretada por plasmócitos em órgãos linfoides secundários e atua principalmente na resposta imune primária. É mais eficiente que a IgG para a ativação do sistema complemento, opsonização, neutralização viral e aglutinação. Raramente entram nos fluidos teciduais devido ao seu tamanho que é 5 vezes maior comparada como a IgG (BALESTIERI, 2006; TIZARD, 2009). IgA é um tipo de imunoglobulina que só atua na forma de IgA secretora, que é a associação dessa imunoglobulina a um componente secretor. São produzidas pelos plasmócitos localizados nas mucosas do trato gastrointestinal, trato respiratório, trato urinário, pele e glândulas mamárias (BALESTIERI, 2006; TIZARD, 2009). IgE é a imunoglobulina existente em menor concentração no organismo dos animais domésticos, sendo assim existe dificuldade em associar seu papel. Ela é produzida por plasmócitos localizados nas mucosas e auxilia no processo de inflamação aguda (hipersensibilidade tipo I) atuando como sinalizadora (BALESTIERI, 2006; TIZARD, 2009). IgD é a imunoglobulina que funciona como um receptor antigênico na superfície de linfócitos B, e está ausente em galinhas e gatos (BALESTIERI, 2006; TIZARD, 2009). 2.11 Tolerância A tolerância é tida como sendo a situação na qual o sistema imunológico não responde a um antígeno específico, ou seja, é um estado imunológico de não responsividade que pode ser induzida tanto por antígenos próprios quanto não próprios. Doenças autoimunes refletem a perda da tolerância ao próprio (ABBAS, 2013; KAMRDT; AVRION, 2001). O sistema imunológico dos mamíferos em geral tem a capacidade de distinguir aquilo que é self (próprio) daquilo que é non-self (não-próprio), ou seja, de tolerar os antígenos do hospedeiro e responder a antígenos estranhos. Para que isso ocorra, existem vários processos adquiridos ativamente, em que linfócitos auto- reativos são excluídos do plantel ou inativados após encontrar antígenos próprios. Esses processos podem ser induzidos nos órgãos linfóides centrais, processo chamado tolerância central, ou nos tecidos periféricos, processo chamado tolerância periférica (KAMRDT & AVRION, 2001; TIZARD, 2009). 2.11.1 Tolerância Central A tolerância central diz respeito aos órgãos linfoides primários, é um processo que parte do princípio que é necessário que haja um equilíbrio no reconhecimento dos antígenos próprios para evitar autoreatividade ou anergia. Desta forma, existem os processos de tolerância dos linfócitos T e dos linfócitos B (ABBAS, 2013; TIZARD, 2009; KAMRDT & AVRION, 2001). A tolerância dos linfócitos T ocorre no timo durante o desenvolvimento fetal e durante pouco tempo após o nascimento. Esse processo baseia-se na deleção clonal de linfócitos T autorreativos. Antígenos próprios são apresentados aos linfócitos T, que já possuem receptores específicos. Esses linfócitos demonstrar três tipos de comportamento quanto ao reconhecimento de antígenos junto ao MHC dos timócitos: não reconhecem e sofrem apoptose por falta de estímulo; reconhecem avidamente e sofrem apoptose por serem autorreativos; ou reconhecem pouco e são selecionados para maturação nos órgãos linfoides periféricos. Esses processos de seleção são chamados de indução por seleção negativa e positiva (ABBAS, 2013; TIZARD, 2009; KAMRDT & AVRION, 2001). A tolerância dos linfócitos B ocorre na medula óssea em duas fases e possuem relação genética. A primeira diz respeito à conversão gênica nos órgãos linfoides primários, e a segunda diz respeito à mutação somática aleatória nos órgãos linfoides secundários. De maneira geral, se o linfócito B em algum momento da maturação encontrar o antígeno na ausência de estimulação pelo linfócito T auxiliar, o processo provavelmente será abortado (ABBAS, 2013; TIZARD, 2009; KAMRDT & AVRION, 2001) Esse processo ocorre quando antígenos multivalentes (proteínas de membrana) ou antígenos presentes em altas concentrações induzem a morte das células B. Por outro lado, a baixa concentração de antígenos próprios solúveis induzem anergia por decréscimo de imunoglobulinas de membrana ou por falta de sinais de ativação intracelulares (ABBAS, 2013; TIZARD, 2009; KAMRDT & AVRION, 2001). 2.11.2 Tolerância Periférica Alguns linfócitos potencialmente autorreativos podem evadir o processo de tolerância e escapar da deleção clonal. Existem algumas maneiras de o sistema imunológico evitar a autoimunidade. A primeira forma seria a sequestração antigênica, onde existem antígenos que se encontram em sítios que o sistema imune não entra em contato. Assim, nesseslocais, não há resposta imune em condições normais. A segunda forma seria através da anergia e deleção clonal, que ocorre pela ausência de moléculas co-estimulatórias nas APCs, pois o reconhecimento entre os receptores de linfócitos T e o MHC de classe II induz anergia ou apoptose na falta de tais moléculas. Processo semelhante ocorre com as células B, onde na falta de estímulo do linfócito T auxiliar, ocorre down regulation dos receptores de superfície. A outra forma seria através da regulação por linfócitos T supressores, que são células que secretam citocinas imunossupressoras (ABBAS, 2013; TIZARD, 2009; KAMRDT & AVRION, 2001). 2.12 Imunidade Fetal, Imunidade Neonatal e Colostro O desenvolvimento da imunidade e do sistema imunológico é gradativo e tem início no período de desenvolvimento embrionário de um indivíduo. Quanto mais longo o período gestacional, mais desenvolvido será o sistema imunológico do feto (DINIZ & FIGUEIREDO, 2014). Todo organismo ao nascer está exposto a diversos antígenos, e tem que ser capaz de controlar uma invasão microbiana em curto período de tempo. O sistema imunológico leva algum tempo para se tornar completamente funcional, sendo o desenvolvimento completo da capacidade imunológica depende de estimulação antigênica (DINIZ & FIGUEIREDO, 2014). O sistema imunológico tem seu desenvolvimento inciado durante a formação embriológica do feto. O desenvolvimento do sistema imune nos fetos segue um padrão resistente, onde o timo é o primeiro órgão linfoide a se desenvolver, e logo após são desenvolvidos o baço e linfonodos. O sistema imune se desenvolve gradualmente, em etapas, permitindo uma resposta do feto aos antígenos, sendo os anticorpos somente encontrados no final da vida fetal (ABBAS, 2013; TIZARD, 2009). Existe uma variação ampla no tempo gestacional e na dinâmica do desenvolvimento imunológico nas diferentes espécies animais. Existe também uma variação na forma de transferência de imunidade entre a mãe e o feto, que depende da forma da implantação da placenta (TIZARD, 2009). Os neonatos têm a capacidade de estabelecer respostas imunológicas, porém ela é primaria e com baixas concentrações de anticorpos. De maneira geral, ela se dá basicamente pela imunidade inata e pela transferência de imunidade materna ao neonato através do colostro (ABBAS, 2000; DINIZ & FIGUEIREDO, 2014). O colostro diz respeito às secreções acumuladas nas últimas semanas de gestação na glândula mamária da mãe. É um líquido rico em imunoglobulinas, principalmente IgG e IgA, e possui concentrações de anticorpos semelhante ao do soro da mãe. É de extrema importância que o colostro seja ingerido pelo neonato durante as primeiras horas de vida, uma vez que a absorção intestinal dessas imunoglobulinas tem que ser intacta para que elas possam atravessar a mucosa intestinal e cair na corrente sanguínea do feto garantindo imunidade a ele. Após as primeiras horas de vida o neonato inicia a produção de enzimas proteolíticas, essa produção interfere diretamente na produção do colostro, visto que o colostro são proteínas (ABBAS, 2000; DINIZ & FIGUEIREDO, 2014). Quando bem manejado e realizada a ingestão de colostro nas primeiras horas o neonato apresentará imunidade sistêmica, já quando a ingestão é tardia a imunidade limitará somente na parte intestinal. 2.13 Imunidade nas Superfícies Corpóreas A imunidade nas superfícies corpóreas (Figura 9) diz respeito às formas nas quais o organismo realiza a primeira forma defesa contra agentes patogênicos e, de forma geral, esse tipo de imunidade está presente em todas as superfícies corporais externas, como na pele e nas mucosas externas, e nas superfícies corporais internas, como na mucosa dos tratos intestinal e respiratório. Pode-se dizer que as barreiras naturais de imunidade e a imunidade inata propriamente dita são as principais atuantes nas superfícies corpóreas, embora existam outras formas de proteção desenvolvidas pelo organismo (ABBAS et al. 2011). Figura 9 – imunidade nas superfícies corpóreas Fonte: Tizard (2009). A microflora corpórea é composta por populações estáveis de micro- organismos não patogênicos, na maioria dos casos, dos mais variados gêneros que vivem em simbiose, ou seja, em benefício mútuo. A microflora é um importante componente da imunidade nas superfícies corpóreas, uma vez que ela é encontrada tanto na pele quando nas mucosas internas do organismo, principalmente intestino (ABBAS et al. 2011). Os micro-organismos que compõem a microflora corporal são chamados de comensais, e na maioria das vezes não causam nenhum tipo de prejuízo ao organismo, pelo contrário, eles tendem a viver em equilíbrio auxiliando de forma indireta na eliminação de outros micro-organismos patogênicos e na regulação da resposta imunológica (TIZARD, 2009). Embora esses micro-organismos não sejam patogênicos, qualquer desequilíbrio que haja entre os comensais por quaisquer que seja a razão, pode levar à quebra da homeostase da flora, o que pode propiciar o desenvolvimento de patógenos oportunistas (TIZARD, 2009). Além das micro-floras, existem outras formas de imunidade nas superfícies corpóreas. No trato gastrointestinal, por exemplo, a saliva, o vômito, o pH ácido do estômago, a diarreia são formas de imunidade, além do fato de existirem tecidos linfoides associados à mucosa (MALT) ao longo do intestino delgado, e enzimas capazes de digerir micro-organismos patogênicos (ABBAS et al. 2011). Em relação aos tecidos linfoides de mucosa temos dois sítios: 1. Locais (indutores) ( Figura 10) onde os antígenos são processados e as respostas imunes são iniciadas. 2. Áreas (efetores) ( Figura 11). Áreas nas quais ocorrem a geração de anticorpos e as respostas mediadas por células. Figura 10 – Esquematização dos sítios indutores Fonte: Tizard (2009). Figura 11 – Esquematização dos sítios efetores Fonte: Tizard (2009). No trato respiratório, a tosse e o espirro, em conjunto com o sistema muco- ciliar da mucosa também são formas de imunidade na superfície corpórea. Já no trato urinário, a micção e o baixo pH da urina são mecanismos protetores (ABBAS et al. 2011). No que diz respeito à imunidade da pele, esta é uma forte barreira física. As formas de imunidade existentes na superfície da pele são inúmeras, dentre as principais a descamação e dessecação da camada córnea e lúcida auxiliam na limpeza e na renovação epitelial. Além disso, há a presença de ácidos graxos, o sebo, e peptídios antimicrobianos produzidos por queratinócitos, além das células de defesa residentes no sistema tegumentar (ABBAS et al. 2011; TIZARD, 2009). 2.14 Conceitos Gerais de Autoimunidade Autoimunidade pode ser definida como sendo o distúrbio dos mecanismos responsáveis pela auto-tolerância e indução de uma resposta imune contra componentes do próprio organismo, ou seja, é a condição onde as células de defesa atacam erroneamente células saudáveis do organismo. A autoimunidade pode ser sistêmica ou órgão específica e resulta de uma falha nos mecanismos gerais que mantém tolerância ao próprio somados a fatores que contribuem para o desenvolvimento de autoimunidade, que são as APCs e linfócitos anormais, fundo genético que predispõe, processos inflamatórios e infecções (ABBAS, 2013; KAMRDT & AVRION, 2001). Normalmente os mecanismos de autotolerância previnem a autoimunidade. Apesar dos processos seletivos, alguns linfócitos autorreativos sofrem maturação, podendo consequentemente, serem ativados para desencadear doença autoimune. As doenças autoimunes são divididasem doenças autoimunes órgão-específicas quando são restritas a determinados órgãos ou tecidos, e doenças autoimunes sistêmicas quando diferentes tecidos são afetados. Os principais componentes do sistema imunológico responsáveis por causar as doenças autoimunes são os autoanticorpos e os linfócitos autorreativos (KAMRDT & AVRION, 2001). Existem diversos mecanismos que podem levar à autoimunidade, dentre os quais se pode citar: os defeitos no mecanismo de deleção clonal, ou seja, defeitos nos mecanismos de tolerância; a perda da anergia dos linfócitos T, que pode ocorrer nos processos inflamatórios, infecções e necrose tecidual, onde se tem APCs ativadas que poderão apresentar antígenos próprios aos linfócitos e expressar moléculas coestimulatórias; a ativação policlonal de linfócitos e a reação cruzada entre antígenos próprios e microbianos; a liberação de antígenos sequestrados em processos inflamatórios; e defeitos na regulação de linfócitos T e falha do linfócito T supressor (ABBAS et. al, 2013; KAMRDT & AVRION, 2001). 2.15 Hipersensibilidades As reações de hipersensibilidade se referem às respostas excessivas e indesejáveis produzidas pelo sistema imunológico normal, e requerem um estado pré-sensibilizado, ou seja, imune, do hospedeiro. Reações de hipersensibilidade podem ser divididas em quatro tipos: tipo I, tipo II, tipo III e tipo IV, baseados nos mecanismos imunológicos e bioquímicos envolvidos e tempo levado para a reação (ABBAS et al. 2011; BALESTIERI, 2006; TIZARD, 2009). 2.15.1 Hipersensibilidade I Hipersensibilidade tipo I (Figura 12) é também conhecida como imediata ou hipersensibilidade anafilática. É uma forma de inflamação aguda que resulta da interação entre antígenos, também chamados de alérgenos, mediada por IgE. O componente primário celular nessa hipersensibilidade é o mastócido ou basófilo, sendo a reação amplificada e/ou modificada pelas plaquetas, neutrófilos e eosinófilos (ABBAS et al. 2011; BALESTIERI, 2006; TIZARD, 2009). Figura 12 – Desenvolvimento da Hipersensibilidade Tipo I Fonte: Tizard (2009). O mecanismo da reação envolve produção preferencial de IgE, em resposta à exposição a certos antígenos ou alérgenos, onde a IgE tem muito elevada afinidade por seu receptor em mastócitos e basófilos. Desta forma, a exposição subsequente ao mesmo alergeno faz reação cruzada com IgE e consequente a desgranulação dos mastócitos. De maneia geral, os mastócitos são leucócitos presentes nos tecidos, e contêm grânulos de histamina, serotonina, leucotrienos e prostaglandinas em seu citoplasma, que são as substâncias químicas responsáveis pela resposta alérgica (ABBAS et al. 2011; BALESTIERI, 2006; TIZARD, 2009). A reação de hipersensibilidade do tipo I pode ser induzida através de diversos mecanismos, e está relacionada com algumas doenças alérgicas específicas como algumas dermatites, alergias alimentares, alergias a vacinas, a medicamentos, a parasitas, dentre outros (ABBAS et al. 2011; BALESTIERI, 2006; TIZARD, 2009). Anafilaxia é uma reação de hipersensibilidade aguda potencialmente fatal, que envolve a liberação de mediadores dos mastócitos, basófilos e recrutamento de células inflamatórias. Os principais órgãos do choque anafilático são do sistema respiratório e intestinos. 2.15.2 Hipersensibilidade II A reação de hipersinsibilidade tipo II, também conhecida como hipersensibilidade citotóxica, é um tipo de hipersensibilidade mediada por imunoglobulinas, pode afetar uma variedade de órgãos e tecidos. Os antígenos são normalmente endógenos, embora agentes químicos exógenos que podem se ligar a membranas celulares podem também levar a hipersensibilidade tipo II. Anemia hemolítica induzida por drogas, granulocitopenia e trombocitopenia são exemplos. O tempo de reação é de minutos a horas. A hipersensibilidade tipo II é primariamente mediada pelas imunoglobulinas das classes IgM ou IgG, e do sistema complemento. Fagócitos como monócitos, macrófagos e neutrófilos também podem participar dessa reação. O tratamento envolve agentes anti-inflamatórios e imunossupressores (ABBAS et al. 2011; BALESTIERI, 2006; TIZARD, 2009). A doença hemolítica do recém nascido necessita de quatro condições básicas que são: I. O animal jovem deve herdar um antígeno eritrocitário de seu pai que não esteja presente em sua mãe. II. A mãe deve estar sensibilizada ao antígeno do eritrócito. III. A resposta da mãe ao antígeno deve ser estimulada repetidamente por hemorragia transplacentária ou gestações repetidas. IV. Ingerir colostro contendo altos títulos de Igs. 2.15.3 Hipersensibilidade III A reação de hipersensibilidade do tipo III está relacionada com imunocomplexos e a reação entre antígeno e anticorpo. Imunocomplexos são substâncias formadas através da união entre uma imunoglobulina, uma proteína do sistema complemento e um antígeno. Nos tecidos, os imunocomplexos produzem peptídios quimiotáticos para neutrífilos, o que gera inflamação aguda e destruição tecidual (ABBAS et al. 2011; BALESTIERI, 2006; TIZARD, 2009). A reação pode ser sistêmica ou em órgãos individuais incluindo pele, rins, pulmões, vasos sanguíneos, articulações ou outros órgãos, o que vai ser determinado através da quantidade e local deposição dos imunocomplexos. Esta reação pode ser o mecanismo patogênico de doenças causadas por muitos microrganismos (ABBAS et al. 2011; BALESTIERI, 2006; TIZARD, 2009). A afinidade do anticorpo e tamanho dos complexos imunes são importantes na produção de doença e na determinação do tecido envolvido. O tratamento inclui agentes anti-inflamatórios (ABBAS et al. 2011; BALESTIERI, 2006; TIZARD, 2009). 2.15.4 Hipersensibilidade IV A reação de hipersensibilidade tipo IV é também conhecida como mediada por células ou hipersensibilidade tardia, e está envolvida na patogênese de muitas doenças autoimunes e infecciosas. Os agentes envolvidos nessa reação são os linfócitos T e os linfócitos NK. Os mecanismos que desencadeiam a hipersensibilidade do tipo IV dizem respeito à presença do antígeno no tecido, mais frequentemente na pele, que é capturado pelas células dendríticas e levado até o linfonodo drenante através da via linfática. Há então a sensibilização de linfócitos T não experimentados, que migram até o tecido liberando citocinas e outros mediadores químicos gerando processo inflamatório agudo local. O tratamento desse tipo de reação de hipersensibilidade pode ser feito através do uso de corticoesteriodes ou outros anti-inflamatórios (ABBAS et al. 2011; BALESTIERI, 2006; TIZARD, 2009). 2.16 Imunodeficiências A imunodeficiência é tida como sendo uma desordem no funcionamento do sistema imunológico caracterizada pela incapacidade de se estabelecer uma resposta imunológica efetiva, ou seja, é a falha do sistema imunológico em proteger o organismo contra agentes patogênicos (ABBAS et al. 2013; TIZARD, 2009). A imunodeficiência pode classificada em primária ou secundária. Imunodeficiência primária é causada por defeitos genéticos ou no desenvolvimento do sistema imune. Já a imunodeficiência secundária ou adquirida é a perda da função do sistema imune como resultado da exposição a agentes patogênicos, fatores ambientais, imunosupressão ou envelhecimento (ABBAS et al. 2013; TIZARD, 2009). Uma imunodeficiência clássica trata-se da Imunodeficiência Combinada Severa onde os animais apresentam linfopenia, ou seja, ausência de linfócitos T e B. 3. REFERÊNCIAS ABBAS, A. K.; LICHTMAN, A. H.; PILLAI,S. Imunologia básica: funções e distúrbios do sistema imunológico. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. 320 p. ABBAS, A. K.; LICHTMAN, A. H.; PILLAI, S. Imunologia celular e molecular. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. 545 p. BALESTIERI, F. M. P. Imunologia. Barueri, SP: Manole, 2006. 799 p. DINIZ, L. M.; FIGUEIREDO, B. C. G. O sistema imunológico do recém-nascido. Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte: Revista Médica de Minas Gerais. 2014. Disponível em: <rmmg.org/exportar-pdf/1604/v24n2a14.pdf> Acesso em: 03 nov 2017. JUNQUEIRA, L. C. U.; CARNEIRO, J. Histologia básica : texto & atlas. 12. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013. 538 p. KAMRADT T.; AVRION M. N. Advances in immunology: Tolerance and Autoimmunity. N Engl J Med, 344(9):655-64, 2001. ORIÁ, R. B.; BRITO, G. A. C. Sistema Digestório: Integração Básico-Clínica. 1 ed. São Paulo: Blucher, 2016. 838p. PLAYFAIR, J. H. L.; CHAIN, B. M. Imunologia básica. 9. ed. São Paulo: Manole. 2013. 112p. ROITT, I. M.; RABSON, A. Imunologia básica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011. 182 p. SAMUELSON, D. A. Tratado de histologia veterinária. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. 527 p. SCROFERNEKER, M. L.; POHLMANN, P. R. Imunologia básica e aplicada. Primeira edição, p. 218-237, 1998. THRALL, M. A. Hematologia e bioquímica clínica veterinária. São Paulo: Roca, c2007. 582 p. TIZARD, I. R. Imunologia veterinária: Uma introdução. 8. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009. 587 p.
Compartilhar