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ESTUDO DIRIGIDO DE IMUNOLOGIA VETERINÁRIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Londrina 
2017 
 
 
Caros alunos, 
 
A seguir vocês encontrarão trechos baseados nos slides ministrados em sala de 
aula, o intuito é auxilar no entendimento dos conteúdos expostos, entretanto atente-
se que não basta estudar somente por esse material de apoio, também deverão ser 
consultados e estudados os Livros de imunologia e os Slides para melhor 
esclarecimento e elucidação. 
 
 
Um abraço e bons estudos 
 
 
Rafael 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1. INTRODUÇÃO E CONSIDERAÇÕES GERAIS 
 
Em síntese, a imunologia é tida como a ciência que estuda a imunidade e a 
dinâmica do sistema imunológico e de suas repostas, ou seja, como o corpo se 
defende e reage à ação de agentes estranhos ou patogênicos. Desta forma, a 
imunidade é definida como sendo a reação fisiológica contra substâncias ou 
moléculas reconhecidas como estranhas pelo organismo (ABBAS et al., 2011; 
BALESTIERI, 2006). 
O presente texto objetiva, de forma sucinta e direta, abordar de forma teórica 
a alguns pontos de importância da imunologia à medicina veterinária. Além disso, o 
presente documento tem como finalidade elucidar os pontos mais importantes 
estudados ao longo do ano durante a disciplina de imunologia veterinária, através de 
explicações e descrições básicas e objetivas a respeito de cada tema abordado em 
sala de aula. 
Para a realização desta obra, foram utilizados os livros da bibliografia básica 
e complementar da disciplina de imunologia veterinária, tão bem como os slides e o 
material didático disponibilizado pelo docente, e artigos científicos que abordam o 
tema de imunologia celular e molecular. 
 
 
2. A IMUNOLOGIA VETERINÁRIA E SISTEMA IMUNOLÓGICO 
 
A imunologia é caracterizada pelo estudo das respostas imunológicas do 
organismo, que são garantidas pela dinâmica de atuação entre os órgãos que 
compõem o sistema imunológico, suas células e a resposta imunológica em si, que 
se baseia na interação entre um antígeno e um anticorpo, ou entre um antígeno e 
uma célula imunológica (ABBAS et al., 2011; BALESTIERI, 2006). 
 
2.1 Sistema Imunológico e a Defesa do Organismo 
 
O sistema imunológico é constituído por um conjunto de órgãos, tecidos e 
células cuja principal função é proteger o organismo contra possíveis substâncias, 
moléculas, ou agentes patogênicos. As funções biológicas do sistema imune 
consistem no reconhecimento e eliminação do próprio organismo de: moléculas 
 
 
alteradas, lesadas ou patogênicas; células alteradas, mortas ou tumorais; e agentes 
infecciosos ou parasitários patogênicos. O sistema imunológico também é 
responsável pelo reconhecimento e eliminação de células, tecidos ou órgãos de 
origem genética diferente, como enxertos ou transplantes (TIZARD, 2009). 
De maneira geral, o sistema imunológico garante proteção à vida do 
indivíduo através de múltiplos mecanismos, denominados mecanismos de defesa, 
que consistem em reações bioquímicas ou celulares que garantem a segurança do 
organismo contra possíveis substâncias ou agentes que possam causá-lo algum 
dano. Existem três formas de defesa do organismo: as barreiras naturais, a 
imunidade inata e a imunidade adaptativa conforme ilustrado a seguir (FIGURA 1) 
(TIZARD, 2009). 
 
Figura 1 - Três formas de defesa do organismo 
Fonte: Tizard (2009). 
As barreiras naturais são as barreiras do próprio organismo responsáveis 
pela primeira defesa, sendo consideradas na maioria das vezes como sendo parte 
da imunidade inata do indivíduo. As barreiras naturais são classificadas em barreiras 
físicas, biológicas e químicas. São elas as barreiras físicas, como a pele, as 
mucosas e a autolimpeza através da tosse, vômitos ou diarreia; as barreiras 
biológicas, como a flora presente na mucosa dos tratos; e as barreias químicas 
como o pH de cada região do organismo, como o pH ácido do estômago 
(PLAYFAIR; CHAIN, 2013). 
A imunidade inata é a forma de imunidade que nasce com o indivíduo e atua 
após ou em conjunto com a barreira física. É descrita como sendo uma imunidade 
de curta duração e que não possui memória. Também é descrita como sendo um 
tipo de imunidade que não é específica e que possui intensidade constante (ABBAS 
et. al. 2011; TIZARD, 2009). As células efetoras da imunidade inata são 
 
 
representadas principalmente pelos fagócitos (neutrófilos, monócitos e macrófagos), 
células dendríticas e células NK (Natural Killer). 
A imunidade adaptativa é tida como aquela que é adquirida, desta forma ela 
demanda tempo. Ela é caracterizada pela ativação do sistema imune pelo contato 
com agentes infecciosos ou patogênicos e sua resposta à infecção. Existem duas 
formas de imunidade adaptativa, a humoral, mediada por linfócitos B, e a celular, 
mediada por linfócitos T. Além disso, a imunidade adaptativa pode ser adquirida de 
forma ativa ou passiva. Ativa quando há exposição direta com um patógeno, e a 
passiva quando a imunidade é adquirida através da transferência do soro ou plasma, 
ou células de indivíduos já imunizados (PLAYFAIR & CHAIN, 2013; TIZARD, 2009). 
São características da imunidade adaptativa: (TIZARD, 2009) 
 Especificidade: garante resposta específica ao antígeno. 
 Diversidade: permite que o sistema imune responda a uma variedade 
de antígenos. 
 Memória: leva a respostas mais eficazes à exposições repetidas ao 
mesmo antígeno. 
 Expansão clonal: aumenta o número de linfócitos específicos para 
antígeno para manter equilíbrio com microrganismos. 
 Especialização: gera respostas que são ótimas para a defesa contra 
diferentes tipos de microrganismos. 
 Contração e hemostasia: retorno a homeostase após a eliminação do 
antígeno. 
 Não reatividade ao próprio: previne injúrias ao hospedeiro e ao mesmo 
tempo atua contra o agente agressor. 
 
2.2 Órgãos Linfoides Primários e Secundários e Células de Defesa 
 
Em suma, as células do sistema imunológico estão organizadas em tecidos 
ou órgãos linfoides. Essas estruturas são denominadas linfoides em razão das 
células predominantes do parênquima serem linfócitos, embora também estejam 
presentes, em menor quantidade, outras células como as do sistema imunitário, 
como os macrófagos, células dendríticas e células polimorfonucleares, e células de 
 
 
outros sistemas como as células epiteliais, endoteliais e fibroblastos (BALESTIERI, 
2006). 
Os órgãos linfoides são estruturas que participam da resposta imunológica e 
são responsáveis pela produção e maturação dos linfócitos. São divididos em órgãos 
linfoides primários e secundários de acordo com sua função ilustrados na Figura 2 
(ABBAS et al., 2000). 
 
Figura 2 – Fonte de linfócitos, órgãos primários e secundários. 
Fonte: Tizard (2009). 
Nos mamíferos domésticos, os principais órgãos linfoides primários são a 
medula óssea e o timo. Esses órgãos tem a função de realizar os processos de 
maturação e diferenciação dos linfócitos, que serão encaminhados então aos órgãos 
linfoides secundários, onde serão armazenados e exercerão suas funções. Os 
principais órgãos linfoides secundários nos mamíferos domésticos são os linfonodos, 
o baço, a medula óssea e os tecidos linfoides associados à mucosas (MALT) 
(TIZARD, 2009). 
 
2.2.1 Células de Defesa 
 
As célulasde defesa que compõe o sistema imunológico são chamadas de 
leucócitos. Os leucócitos são originados a partir de uma célula tronco da medula 
óssea, e sofrem um processo de diferenciação e maturação celular que faz a 
distinção entre as mais diversas linhagens (ABBAS et al. 2011; THRALL, 2007). 
Em linhas gerais, os leucócitos são divididos em granulócitos e 
agranulócitos, de acordo com a presença ou não de grânulos citoplasmáticos. Os 
granulócitos são denominados a partir da atração química que seus grânulos 
citoplasmáticos possuem pelo corante hematoxilina e eosina, utilizado na 
 
 
preparação de lâminas histológicas e citológicas. As células cujos grânulos possuem 
tropismo pelo corante ácido, a eosina, são chamados de eosinófilos. Já as células 
cujos grânulos possuem tropismo pelo corante básico, a hematoxilina, são 
chamados de basófilos. As células cujos grânulos são neutros quanto ao tropismo 
pelos corantes, são denominados neutrófilos (THRALL, 2007). 
Os leucócitos denominados agranulócitos não possuem grânulos 
citoplasmáticos, são eles os monócitos e linfócitos. Os monócitos dão origem a 
diversas outras células de defesa, e possuem nomenclatura de acordo com o tecido 
e a função que estão exercendo. Por exemplo, nos tecidos são denominados 
macrófagos. Já os linfócitos também dão origem a outros tipos celulares, como os 
linfócitos T, linfócitos B e os linfócitos natural killer (ABBAS et al. 2011; THRALL, 
2007). 
 
2.2.2 Medula Óssea 
 
A medula óssea é um órgão difuso, porém volumoso e muito ativo 
encontrado no canal medular dos ossos longos e nas cavidades dos ossos 
esponjosos. Esse órgão é considerado linfoide devido à sua atividade 
hematopoiética, e pode ser primário ou secundário de acordo com sua função 
(ABBAS et al., 2000; JUNQUEIRA, 2013). 
São encontrados dois tipos de medula óssea nos animais, a medula óssea 
vermelha e a medula óssea amarela. A medula óssea vermelha, também chamada 
de hematógena, deve sua cor à presença de numerosos eritrócitos em diferentes 
estágios de maturação, em decorrência de sua atividade hematopoiética exuberante. 
A medula óssea amarela não tem função hematopoiética, e deve sua cor à presença 
de células adiposas em grande quantidade (ABBAS et al., 2000; BALESTIERI, 
2006). 
Nos neonatos, toda medula óssea é vermelha e, portanto, ativa na produção 
de células do sangue. Entretanto, conforme o indivíduo envelhece passa a ser 
substituída por medula óssea amarela, existindo medula óssea vermelha nos adultos 
e idosos apenas nas epífises dos ossos longos, no esterno, vértebras e costelas 
(JUNQUEIRA, 2013). 
 
 
 
 
2.2.3 Timo 
 
O timo é um órgão linfoepitelial situado no mediastino, atrás do esterno e na 
altura da base do coração. É bilobado, e possui uma cápsula de tecido conjuntivo 
denso que origina septos que dividem o parênquima em lóbulos contínuos uns com 
os outros. Ao contrário dos outros órgãos linfoides, o timo não possui nódulos 
celulares, no entanto, cada lóbulo é formado por uma parte periférica denominada 
zona cortical e uma parte mais central envolta pela zona cortical que é denominada 
zona medular (BALESTIERI, 2006; JUNQUEIRA, 2013). 
O timo possui origem embriológica dupla, e é considerado um órgão linfoide 
primário. Imunologicamente, é considerado o sítio responsável pela maturação e 
seleção dos timócitos, que são os linfócitos T residentes no timo. Uma 
particularidade desse órgão é que ele involui gradativamente após a puberdade do 
animal, até ser substituído por tecido adiposo e fibroso, e se tornar quase que 
completamente afuncional (ABBAS et. al, 2011; JUNQUEIRA). 
 
2.2.4 Baço 
 
O baço é um órgão parenquimatoso formado por um grande acúmulo de 
tecido linfoide e é o único órgão linfoide interposto na circulação sanguínea. De 
acordo com sua função é considerado um órgão linfoide secundário e devido à sua 
riqueza em células fagocitárias e do contato íntimo entre o sangue e essas células, o 
baço apresenta uma importante função imunológica e de reciclagem dos eritrócitos 
(JUNQUEIRA, 2013; SAMUELSON, 2007). 
Assim como os demais órgãos linfoides, o baço origina linfócitos que 
passam para o sangue circulante e, devido à sua localização, é capaz de responder 
mais facilmente aos antígenos que por ventura possam invadir o sangue. Logo, é 
considerado um importante filtro fagocitário e imunológico para o sangue e um 
grande produtor de anticorpos (BALESTIERI, 2006). 
Histologicamente, o baço é composto por uma cápsula de tecido conjuntivo 
denso, a qual emite trabéculas que dividem o parênquima ou polpa esplênica em 
compartimentos incompletos. O parênquima do baço é dividido em polpa branca, 
rico em nódulos linfáticos composto por linfócitos T e B, e em polpa vermelha rica 
em sangue (JUNQUEIRA, 2013). 
 
 
Em linhas gerais, o baço é um órgão altamente vascularizado cujas 
principais funções são retirar da circulação células sanguíneas lesionadas e 
senescentes e partículas, como imunocomplexos e micro-organismos opsonizados, 
além de iniciar as respostas imunológicas adaptativas dos antígenos capturados do 
sangue (BALESTIERI, 2006). 
 
2.2.5 Linfonodos 
 
Os linfonodos ou gânglios linfáticos são órgãos encapsulados constituídos 
por tecido linfoide e que aparecem espalhados pelo corpo, sempre no trajeto dos 
vasos linfáticos. São encontrados em diversas regiões do corpo, como na axila, 
virilha, em grande quantidade no tórax e abdome, principalmente no mesentério, 
dentre outros lugares (JUNQUEIRA, 2013). 
Anatomicamente, os linfonodos possuem um formato reniforme, 
apresentando um lado convexo, por onde desembocam os vasos linfáticos 
aferentes, e outro côncavo com uma reentrância, o hilo, pelo qual penetram as 
artérias nutridoras e saem as veias e os vasos linfáticos eferentes (ABBAS et al., 
2011). 
Histologicamente, os linfonodos são constituídos por uma cápsula de tecido 
conjuntivo denso que envia trabéculas para seu interior, dividindo o parênquima em 
compartimentos incompletos. O parênquima do linfonodo apresenta região cortical, 
que se localiza logo abaixo da cápsula, e a região medular que ocupa o centro do 
órgão. A população de células mais abundante na região cortical profunda é de 
linfócitos T, enquanto a região medular é composta em sua maioria por linfócitos B e 
macrófagos (JUNQUEIRA, 2013; SAMUELSON, 2007). 
Do ponto de vista imunológico, os linfonodos são órgãos linfoides 
secundários, vascularizados e encapsulados, com características anatômicas e 
histológicas que favorecem o início das respostas imunes adaptativas para 
antígenos transportados dos tecidos pelos vasos linfáticos (ABBAS et al., 2011). 
 
2.2.6 Placas de Peyer 
 
As placas de Peyer são aglomerados de tecido linfoide localizadas na 
camada mucosa e submucosa da porção final do intestino delgado, o íleo, e são 
 
 
tecidos linfoides que estão classificados dentro do grupo dos tecidos linfoides 
associados às mucosas (MALT) (ORIÁ, 2016). 
Os tratos digestivo, respiratório, genitourinário e o tegumento estão sujeitos 
a invasões microbianas frequentes, pois são expostos ao meio externo. Com a 
função de promover proteção ao organismo, existem acúmulos de tecido linfoide, os 
nódulos linfoides, associados ao tecido linfático difuso, localizados na mucosa e na 
submucosa desses tratos que, em alguns locais formam órgãos bem estruturados e 
delimitados como as tonsilas e as placas de Peyer. Logo, denomina-se MALT os 
aglomerados linfoides presentes na mucosa desses órgãos (JUNQUEIRA, 2013). 
De forma geral, as placas de Peyer não são facilmente encontradas durante 
a observação macroscópica do intestino delgado pelo fato de estarem inseridasno 
meio das túnicas da do íleo, embora se tenha conhecimento que elas existam. Do 
ponto de vista histológico, as placas de Peyer são descritas como sendo grandes 
folículos linfoides encontrados tanto na camada mucosa quanto na submucosa do 
íleo e, ocasionalmente, do jejuno (ORIÁ, 2016). 
Os folículos linfoides são compostos principalmente por linfócitos B, linfócitos 
T, plasmócitos, macrófagos, e são delimitados por células epiteliais especializadas, 
as células M, que na maioria das vezes, possuem projeções citoplasmáticas 
capazes de capturar possíveis patógenos ou antígenos com a finalidade de levá-los 
ao interior dos folículos para que a resposta imunológica seja realizada (ABBAS et 
al., 2013). 
 
2.3 Reconhecimento de Invasores e a Base do Processo Inflamatório 
 
Quando um indivíduo é exposto a um agente infeccioso ou um patógeno 
ocorre em resposta um processo inflamatório agudo pelo sistema imunológico 
decorrente de uma invasão microbiana ou lesão tecidual. Desta forma, a invasão de 
agentes infecciosos ou parasitários, a lesão tecidual ou celular levam à ativação e 
migração de células inflamatórias, os neutrófilos e macrófagos, células responsáveis 
pelo processo de defesa e reestabelecimento da homeostase (TIZARD, 2009). 
O reconhecimento de invasores (Figura 3) se dá através dos sinais de perigo 
que são identificados pelas células do organismo. As principais formas de se 
reconhecer os sinais de perigo são através dos padrões moleculares associados ao 
 
 
patógeno (PAMPs) ou através dos padrões moleculares associados aos danos 
(DAMPs) (TIZARD, 2009). 
 
Figura 3 – Reconhecimento do invasor 
Fonte: Os autores 
Em síntese, podemos entender um mecanismo exemplificando como os 
invasores (patógenos) são reconhecidos pelo sistema imune, na figura acima um 
microorganismo (Helicobacter pilori) invade o organismo do animal. Para que a 
mesma possa ser reconhecida como invasora, na sua membrana celular consta 
lipopolissacarideos (LPS) que são denominados padrões moleculares associados ao 
patógeno (PAMPs). Após a entrada e reconhecimento da PAMP pelas as células do 
sistema imune se dá através dos seus receptores, tais como Toll (TLR), estes 
contidos em macrófagos, neutrófilos, células dendriticas, etc... 
Os micro-organismos possuem padrões moleculares associados ao 
patógeno (PAMPs) localizados em sua superfície, que são reconhecidos pelos 
receptores das células sentinelas, que são os macrófagos, mastócitos, neutrófilos e 
células dendríticas. Já as DAMPs são consideradas alarminas, ou seja, substâncias 
liberadas pela célula após sua morte e têm função de recrutamento e ativação 
celular (ABBAS et al. 2011). 
O processo inflamatório, de maneira geral, é uma resposta fisiológica do 
organismo a uma lesão ou agressão tecidual local ou à presença de um agente 
infeccioso ou parasitário em determinada região que possa causar dano à 
homeostase. A resposta inflamatória faz parte da resposta imune inata e, por isso, 
não é uma resposta específica, mas ocorre de maneira padronizada independente 
do estímulo. O mecanismo inflamatório envolve várias células do sistema 
 
 
imunológico, mediadores químicos e a vascularização da região (ABBAS et al. 2011; 
BALESTIERI, 2006). 
A função do processo inflamatório é eliminar a causa inicial do processo que 
está causando a quebra da homeostase celular ou tecidual, coordenar as reações 
do sistema imune inato, eliminar as células lesadas e os tecidos danificados para 
enfim iniciar a reparação dos tecidos e restaurar sua função e decorrente 
homeostase. A resposta inflamatória se divide em dois tipos: a resposta inflamatória 
aguda, ou imediata, e a resposta inflamatória tardia, ou crônica (BALESTIERI, 2006). 
 
2.4 Imunidade Inata: Neutrófilos e Macrófagos 
 
A imunidade inata diz respeito ao conjunto de formas de imunidade que 
nasce com o indivíduo, sendo a forma de imunidade subsequente à das barreiras 
naturais. Desta forma, a imunidade inata é a primeira linha de defesa do organismo, 
com a qual ele já nasce. É uma resposta rápida, não específica e limitada aos 
estímulos estranhos ao corpo, geralmente ocorrendo adjunta ao processo 
inflamatório agudo (TIZARD, 2009). 
As principais células que atuam na imunidade inata, adjuntas à inflamação 
imediata, são os neutrófilos e os macrófagos. Em suma, o objetivo da inflamação 
aguda é assegurar que as células fagocíticas interceptem e destruam o patógeno de 
forma rápida e eficiente. As primeiras células atraídas aos sítios de inflamação são 
os neutrófilos, a partir da sinalização através de citocinas que servem como 
alarmantes. Desta forma, os neutrófilos são capazes de se ligar aos micro-
organismos invasores, fagocitá-los e eliminá-los (ABBAS et al. 2011). 
Já os macrófagos são células tardias à inflamação. São células cuja função 
também é a de fagocitose de patógenos e também a regulação do processo 
inflamatório (ABBAS et al. 2011). 
 
2.4.1 Neutrófilos 
 
Os neutrófilos, de maneira geral, são os principais leucócitos granulócitos 
encontrados no sangue cuja produção é realizada na medula óssea e é regulada 
pela substância estimuladora de colônia de granulócitos (G-CSF). São células 
 
 
arredondadas, com núcleo irregular, alongado e segmentado. Possuem grânulos em 
seu citoplasma e estão, normalmente, na circulação sanguínea (TIZARD, 2009). 
Normalmente, em homeostase, os neutrófilos são carregados pelo fluxo 
sanguíneo. Quando há um desequilíbrio homeostático, os neutrófilos diminuem sua 
velocidade e se aderem ao endotélio vascular através da sinalização das células 
endoteliais via selectina, integrina ou fator ativador de plaquetas (PAF) (Figura 4). 
Após a sinalização do endotélio vascular, são formadas ligações bioquímicas entre o 
neutrófilo e a parede do vaso e eventualmente sua passagem através do endotélio 
pelo processo de diapedese. Desta forma, permitindo que o neutrófilo chegue ao 
tecido e possa realizar sua função de fagocitose e eliminação do patógeno (ABBAS 
et al. 2011). 
 
Figura 4 – Adesão de neutrófilos no endotélio 
Fonte: Tizard (2009). 
Para que a eliminação do patógeno seja efetuada com sucesso, é 
necessário que o neutrófilo passe por cinco etapas ou estágios, que incluem a sua 
ativação, quimiotaxia, adesão ao endotélio, ingestão do patógeno e sua eventual 
destruição. A destruição do patógeno fagocitado pode ocorrer através do processo 
de burst respiratório que equivale à oxidação intracitoplasmática que ocorre no 
fagossomo, ou através do processo de digestão enzimática no fagolisossomo 
(ABBAS et al. 2011; TIZARD, 2009). 
Video ilustrativo da atuação dos neutrófilos: 
https://www.youtube.com/watch?v=phkSRD1ewqE 
 
 
 
 
2.4.2 Macrófagos 
 
São leucócitos agranulócitos que possuem a função de realizar fagocitose, 
auxiliando na modulação da inflamação e da resposta imunológica inata. Migram ao 
local de inflamação após os neutrófilos e fazem a ingestão e destruição do 
patógeno. O nome dado ao macrófago varia de acordo com o tecido que ele está 
localizado, como por exemplo, no sangue são denominados monócitos, no tecido 
conjuntivo são histiócitos, no cérebro são denominados micróglias e no fígado são 
células de Kupffer (ABBAS et al. 2011; TIZARD, 2009). 
Em linhas gerais, os macrófagos são células arredondadas que possuem 
organelas citoplasmáticas suficientes para manterem-se ativos por mais tempo que 
os neutrófilos, que são células de vida curta. Os macrófagos apresentam o processo 
de fagocitose semelhante ao dos neutrófilos, sendo sua ativação realizada através 
da presença de PAMPs, DAMPs ou de mediadores químicos como citocinas por 
exemplo (BALESTIERI, 2006).Na maioria das vezes, os macrófagos são responsáveis também pelo 
processo de depuração dos corpos estranhos. Esse processo é responsável pela 
retirada de qualquer patógeno ou antígeno da circulação sanguínea através da 
fagocitose por um macrófago residente de algum tecido. No caso dos canídeos, 
roedores e humanos o processo de depuração ocorre principalmente nas células de 
Kupffer do fígado e dos macrófagos do baço. Já no caso dos felinos, equinos, e 
ruminantes o processo de depuração de corpos estranhos se dá nos macrófagos 
alveolares dos pulmões (BALESTIERI, 2006). 
Video ilustrativo da atuação dos macrófagos: 
https://www.youtube.com/watch?v=qrlNwsaUXZ4 
 
2.5 Sistema Complemento 
 
O sistema complemento diz respeito a um complexo sistema de interação 
molecular de proteínas cuja função é a proteção contra moléculas ou agentes 
patogênicos através de uma reação em cascata onde o final da reação é a ativação 
de uma via de amplificação cuja função é destruir o patógeno ou o agente invasor 
(TIZARD, 2009). 
 
 
 O sistema complemento envolve tanto a imunidade inata quanto a 
imunidade adaptativa, sendo suas proteínas participantes encontradas no soro ou 
plasma sanguíneo. Sua ativação ocorre por diferentes vias e o sistema complemento 
está envolvido na proteção contra infecções por patógenos, na regulação do 
processo inflamatório, na remoção de células alteradas ou danificadas, na emissão 
de sinais de perigo para o organismo através de alarminas, na ajuda da regulação 
de linfócitos T e B através da resposta imune adaptativa, na remoção de 
imunocomplexos através da filtração renal, na mobilização de células tronco, na 
angiogênese pós-inflamatória, na regeneração tecidual e no metabolismo de lipídios 
(TIZARD, 2009). 
A ativação do sistema complemento ocorre através de três vias, a 
alternativa, a das lecitinas, e a via clássica, todas com o objetivo de formar 
convertases para a via de amplificação com finalidade de ataque à membrana 
plasmática do invasor. A via alternativa e a via das lecitinas são ativadas por 
carboidratos microbianos, PAMPs, uma vez que são vias atuantes na imunidade 
inata. Já a via clássica é ativada através de anticorpos, logo esta participa da 
imunidade adaptativa humoral (ABBAS et. al. 2013). 
As proteínas que participam do sistema complemento podem estar livres no 
soro ou em superíficies de membrana celular, sendo sintetizadas em diversos 
lugares do corpo como no fígado ou pelos macrófagos (ABBAS et. al. 2013). 
 
2.5.1 Via Alternativa 
 
É uma das vias do sistema complemento que está presente na imunidade 
inata, que ocorre na corrente sanguínea e é desencadeada por PAMPs. A proteína 
de maior importância dessa via é a C3 que está presente na corrente sanguínea, 
mas é clivada em C3a e C3b na presença de um patógeno. C3b se liga à membrana 
do patógeno enquanto a C3a permanece livre no plasma sanguíneo, que atrai o fator 
B e D para se aderirem à C3b ligada à membrana do patógeno (ROITT & RABSON, 
2011). 
A união da proteína C3b com o fator B e D, dá origem à proteína C3b, Ba e 
Bb, e D, onde Ba e D voltam para a corrente sanguínea enquanto C3b e Bb ativam 
moléculas de C3 inativas, formando uma grande molécula de C3bBb3b que dão 
 
 
origem a uma C3/C5 convertase que é o produto final da reação bioquímica na 
membrana do patógeno (ROITT & RABSON, 2011). 
Vídeo ilustrativo da via alternativa: 
https://www.youtube.com/watch?v=7dWLqNDYQd0 
 
2.5.2 Via Lecitina 
 
Outra via do sistema complemento ativada através de moléculas de 
reconhecimento de padrões solúveis que tem como finalidade a ativação de 
proteases. A molécula de lecitina ligadora de manose (MBL) que é formada por uma 
molécula de MASP1 e MASP2, se liga à manose e outros carboidratos da membrana 
celular do patógeno. Essa ligação bioquímica a atrai proteínas do plasma sanguíneo 
denominadas C2 e C4, que serão clivadas pela MASP2 em C4b e C2a, formando 
outra convertase denominada C4b2a3b (TIZARD, 2009; ROITT; RABSON, 2011). 
Vídeo ilustrativo da via Lecitina: https://www.youtube.com/watch?v=u-
oC721_wWA 
 
2.5.3 Via Clássica 
 
Essa via do sistema complemento não pode ser ativada até que anticorpos 
sejam produzidos pelos plasmócitos, o que leva de sete a dez dias. Por isso, essa 
via é caracterizada como sendo uma resposta tardia, embora eficiente, que pertence 
à imunidade adquirida humoral devido à participação dos linfócitos B produtores de 
anticorpos, os plasmócitos (ABBAS et al. 2011). 
Os componentes moleculares da via clássica são as proteínas C1 (C1q, C1r, 
C1s) e os anticorpos (IgG e IgM) que são necessários na superfície celular para que 
haja o contato com a C1 (ABBAS et al. 2011). 
Os anticorpos se ligam à antígenos da membrana, ativando a C1r que ativa 
a C1s, que por sua vez irá clivar a C4 em C4a e C4b. A proteína C4b se fixa à 
membrana enquanto a C4a retorna à circulação sanguínea. A proteína C2a se liga à 
proteína C4b, já clivado por C1s, formando C4b2a que irá clivar a C3 formando 
C4b2a3b que é uma C5 convertase (ROITT; RABSON, 2011). 
Vídeo ilustrativo da via clássica: 
https://www.youtube.com/watch?v=knoXg8DWA-Q 
 
 
2.5.4 Via de Amplificação 
A via de amplificação, por sua vez, diz respeito à junção de todas as 
convertases ligadas à superfície do patógeno, uma vez que as convertases são os 
produtos finais de cada uma das vias do sistema complemento. A união dessas 
convertases produzem polímeros na parede do patógeno, formando poros 
denominados complexos terminais (TIZARD, 2009). 
Os complexos terminais são orifícios criados na parede celular e na 
membrana plasmática dos patógenos, por exemplo, nas bactérias, que causam a 
morte do patógeno por lise osmótica. E após a clivagem das convertases, as 
proteínas que retornam à corrente sanguínea formam citocinas, que possuem papel 
fundamental no processo inflamatório e na resposta imunológica celular (TIZARD, 
2009). 
 
Figura 5 – Via de amplificação 
Fonte: Tizard (2009). 
Vídeo ilustrativo da via de ataque a membrana ou via de amplificação: 
https://www.youtube.com/watch?v=9qdUoQxeuzw 
 
2.6 Citocinas e Sinalização Celular 
 
As citocinas, em linhas gerais, são descritas como sendo moléculas 
químicas de origem proteica de sinalização celular, ou seja, são alarminas e, desta 
forma, são agentes que podem possuir ação pró-inflamatória ou anti-inflamatória. 
 
 
São proteínas diversas e complexas cuja produção se dá a partir de diversos 
estímulos imunológicos diferentes (SCROFERNEKER & POHLMANN, 1998). 
No que diz respeito às suas propriedades moleculares e biológicas, as 
citocinas são proteínas de vida curta com estruturas e receptores altamente 
diversificados que podem agir local e ou sistemicamente. São moléculas 
pleiotrópicicas, ou seja, possuem tropismo por diversos tipos celulares com ausência 
de especificidade, e também são moléculas que exercem funções biológicas 
redundantes embora cuidadosamente reguladas, pois são tóxicas em demasia 
(ABBAS et. al. 2011). (FIGURA 6) 
 
Figura 6 – Diferentes formas de atuação das citocinas 
Fonte: ABBAS (2011). 
As citocinas podem atuar em sinergismo ou em antagonismo, e sua 
nomenclatura se dá a partir de sua célula de origem, sequenciada de acordo com a 
ordem de sua descoberta. No que diz respeito à sua função, existem as citocinas 
pró-inflamatórias que aumentam a inflamação, e as citocinas anti-inflamatórias que 
diminuem a inflamação (TIZARD, 2009). 
Dentre as principais classes de citocinas, pode-se citar a classe dos 
interferons (IFN), que possuem função de sinalização celular no que diz respeito às 
infecções virais; dos fatores de necrose tumoral(TNF) que possuem função de 
 
 
sinalização de células anormais; e das interleucinas (IL) que interagem com os 
linfócitos T e B. A regulação das citocinas de dá através de três formas: mudanças 
na expressão do receptor, retroalimentação por proteínas reguladoras ou 
retroalimentação por citocinas (ABBAS et al. 2011). 
 
2.7 Células Apresentadoras de Antígeno: Células Dendríticas e 
Processamento de Antígenos 
 
As células dendríticas são células classificadas como células 
apresentadoras de antígenos (APCs), grupo de células cuja função é fagocitar 
partículas de patógenos, transportá-las até um linfonodo ou algum nódulo linfoide e 
apresentar essas partículas a um linfócito T. Outras células que participam do grupo 
de células apresentadoras de antígenos (APCs) são as células dendríticas, os 
linfócitos B e os macrófagos (BALESTIERI, 2006; TIZARD, 2009). 
De forma geral, as células dendríticas têm função de serem células 
sentinelas, participando da imunidade inata. Estruturalmente, essas células possuem 
um corpo pequeno com muitos prolongamentos citoplasmáticos, chamados 
dentritos, que auxiliam na captura do antígeno. Essas células processam antígenos 
exógenos e auxiliam no processo de regulação da imunidade adaptativa através da 
ativação de linfócitos T não experimentados (naive). Localizam-se principalmente na 
derme, na forma de células de Langerhans, mas estão presentes em diversos outros 
órgãos, como os linfonodos, e tecidos como na superfície de mucosas 
(BALESTIERI, 2006; TIZARD, 2009). 
As células dendríticas são originadas na medula óssea a partir das células 
tronco mieloides, sendo sua produção influenciada por fatores de crescimento e 
citocinas. Existem subpopulações de células dendríticas, a subpopulação mieloide e 
a plasmocitóide, que são classificadas de acordo com sua origem celular. As células 
dendríticas mielóides são originadas a partir da diferenciação de um monócito. Já as 
células dentríticas plasmocitóides são originadas a partir da diferenciação de um 
linfócito (ABBAS et al. 2011). 
A maturidade das células dendríticas depende da exposição ao antígeno, 
sendo as células imaturas responsáveis pela parte de sentinela e as células 
maduras responsáveis pela captura e processamento de antígenos tão bem como a 
 
 
migração para órgãos linfoides para apresentar o antígeno processado aos linfócitos 
T (ABBAS et al. 2011). 
O processamento de antígenos é feito por um grupo de células denominadas 
células apresentadoras de antígenos (APCs), que têm a função de capturar o 
antígeno através da fagocitose, digerir sua estrutura em seu interior através da 
quebra química e enzimática de suas moléculas, processar essas partículas através 
do complexo principal de histocompatibilidade (MHC) e expô-las em sua superfície 
celular para a eventual apresentação de antígeno aos linfócitos T. (BALESTIERI, 
2006; TIZARD, 2009). 
 
2.8 Complexo Principal de Histocompatibilidade 
 
O complexo principal de histocompatibilidade (MHC) é descrito como sendo 
uma grande região genômica onde se encontram genes extremamente importantes 
para o sistema imunológico. O MHC é classificado em duas classes, e tem como 
função básica codificar proteínas de superfície que reconhecem e apresentam 
antígenos próprios ou externos para o nosso sistema imune adaptativo. A 
apresentação de antígenos exógenos, como bactérias e fungos, é regulada pelas 
moléculas do MHC de classe II, enquanto a apresentação de antígenos endógenos, 
como vírus ou outros micro-organismos intracelulares, é regulada pelas moléculas 
do MHC de classe I (ABBAS et al. 2013; BALESTIERI, 2006; TIZARD, 2009). 
O MHC classe I diz respeito ao grupo de moléculas clássicas de 
histocompatibilidade, que são expressas em quase todas as células nucleadas dos 
mamíferos domésticos. Desta forma, há a apresentação de peptídeos antigênicos de 
origem endógena aos linfócitos T citotóxicos (CD8+). Essa classe de MHC está 
relacionada aos micro-organismos intracelulares. Já o MHC classe II diz respeito ao 
grupo de moléculas expressas em APCs, como os linfócitos B, macrófagos e células 
dendríticas. Desta forma, há a apresentação de peptídeos antigênicos de origem 
exógena aos linfócitos T auxiliares (CD4+). Essa classe de MHC está relacionada 
aos micro-organismos extracelulares (ABBAS et al. 2013; BALESTIERI, 2006; 
TIZARD, 2009). 
 
 
 
 
 
2.9 Populações de Linfócitos: Linfócitos T, Linfócitos B e Linfócitos NK. 
 
Existem três populações de linfócitos no organismo dos mamíferos 
imunologicamente evoluídos. Duas dessas populações pertencem à imunidade 
adaptativa e uma das populações pertence à imunidade inata. As três populações 
existentes são as de linfócitos T, linfócitos B e linfócitos natural killer (NK) (THRALL, 
2007; TIZARD, 2009). 
As células natural killer, ou linfócitos natural killer, são pertencentes à 
imunidade inata, enquanto os linfócitos T e B são pertencentes à imunidade 
adaptativa, celular e humoral respectivamente (ABBAS et al. 2011). 
Estruturalmente os linfócitos são células arredondadas, com o núcleo 
arredondado bem evidente ocupando quase todo o espaço citoplasmático. Os 
linfócitos estão distribuídos no corpo dos animais, embora estejam presentes em 
maior quantidade nos linfonodos. Além disso, os linfócitos T correspondem à 
aproximadamente 70% do total de linfócitos presentes na corrente sanguínea, os 
linfócitos B 20% e os linfócitos natural killer 10% (THRALL, 2007; TIZARD, 2009). 
A origem celular de todas as populações de linfócitos é a mesma, a célula 
tronco linfoide da medula óssea. No entanto, o local de maturação e 
desenvolvimento dessas células varia de acordo com sua função. Os linfócitos B, 
nos mamíferos domésticos, sofrem o processo de maturação na medula óssea, nas 
placas de Peyer, enquanto esse processo ocorre na bursa de fabrícius nas aves. Os 
linfócitos T por sua vez são originados na medula óssea, mas migram para o timo 
durante o período embrionário e neonatal para que possam se desenvolver e passar 
pelo processo de maturação e seleção, e após são enviados ao linfonodos e ao 
baço. Os linfócitos natural killer são originados a partir de linfócitos T em 
diferenciação, desta forma essas células também passam pelo processo de 
maturação e seleção no timo (ABBAS et al. 2011; THRALL, 2007; TIZARD, 2009). 
 
2.9.1 Linfócitos T 
 
Os linfócitos T possuem desenvolvimento e maturação no timo, embora 
sejam produzidos na medula óssea. São distribuídos, num indivíduo adulto, no 
paracórtex de linfonodos e bainha periarteriolar no baço. São células que circulam e 
possuem receptores de antígenos TCR, CD3, CD4 e CD8. São células de fácil 
 
 
indução à tolerância e dão origem aos linfócitos T efetores e aos linfócitos T de 
memória. Os produtos excretados por essas células são as citocinas (ABBAS et al. 
2011; TIZARD, 2009). 
Os linfócitos T também são classificados de acordo com seus receptores e 
suas respectivas funções. Os linfócitos T CD4 são considerados linfócitos auxiliares, 
enquanto os linfócitos CD8 são considerados linfócitos citotóxicos (ABBAS et al. 
2011; TIZARD, 2009). 
 
Três grandes grupos de receptores são encontrados nos Linfócitos T: 
reguladores, antígeno-receptor e transporte (FIGURA 7). 
 
Figura 7 – Receptores dos Linfócitos T 
Fonte: Tizard (2009). 
 
2.9.2 Linfócitos B 
 
Os linfócitos B são células produzidas e maturadas pela medula óssea, ou 
que sofrem maturação nas placas de Peyer ou na bursa de Fabricius como é o caso 
das aves. Num indivíduo adulto essas células estão distribuídas no córtex dos 
linfonodos e nos folículos esplênicos. São células apresentadoras de antígeno que,ao contrário dos linfócitos T, não circulam, e que possuem receptores de antígenos 
BCR e imunoglobulinas. Não são de fácil indução à tolerância, e possuem como 
células derivadas os plasmócitos e os linfócitos B de memória. Os produtos 
 
 
excretados por essas células são as imunoglobulinas (ABBAS et al. 2011; TIZARD, 
2009). 
Quatro grandes grupos de receptores são encontrados nos Linfócitos B: 
Citocinas, Imunoglobulinas, Complemento e Antígenos (FIGURA 8). 
 
Figura 8 – Receptores dos Linfócitos B 
Fonte: Tizard (2009). 
 
2.9.3 Linfócitos Natural Killer 
 
Os linfócitos natural killer, também chamadas células NK ou linfócitos NK, 
são a terceira população de linfócitos presentes no organismo e são células que 
atuam na primeira linha de defesa, ou seja, participam da imunidade inata (ABBAS 
et al. 2011; TIZARD, 2009). 
São células grandes, granulares e não fagocíticas cujo precursor comum é a 
medula óssea. São encontradas no sangue periférico e seus principais alvos são as 
células infectadas por vírus e células tumorais, denominadas como missing-self, e 
também as células estressadas, embora sua ativação seja um pouco tardia quando 
comparada a das outras células que atuam na imunidade inata (ABBAS et al. 2011; 
TIZARD, 2009). 
 
 
2.10 Imunoglobulinas 
 
As imunoglobulinas, também conhecidas como anticorpos, são 
glicoproteínas sintetizadas e excretadas por células plasmáticas derivadas dos 
linfócitos B, os plasmócitos, que são leucócitos presentes no plasma sanguíneo e 
nos tecidos do organismo. As imunoglobulinas atuam se ligando aos antígenos 
estranhos marcando-os, facilitando sua destruição e eliminação pelo sistema imune 
(TIZARD, 2009). 
As principais ações das imunoglobulinas são a neutralização de toxinas, 
destruição celular e fagocitose auxiliada pelo sistema complemento. Elas também 
atuam no processo de opsonização de antígenos, tornando-os visíveis às células do 
sistema imunológico, possibilitando a atuação de linfócitos T e macrófagos, atuando 
assim na defesa do organismo através da imunidade adaptativa humoral (TIZARD, 
2009). 
As imunoglobulinas são divididas em classes de acordo com suas 
propriedades moleculares. Basicamente, as imunoglobulinas possuem estrutura 
molecular tridimensional, e são compostas por cadeias pesada e leves de 
aminoácidos e subunidades variáveis. O que determina as subclasses de 
imunoglobulinas são os rearranjos entre cadeias leves e pesadas de aminoácidos 
(ABBAS et al. 2013). 
Existem cinco principais tipos de imunoglobulinas nos animais domésticos: 
IgG, IgM, IgA, IgE e IgD (ABBAS et al. 2013). 
IgG é a imunoglobulina encontrada em maior concentração nos animais 
domésticos, ela é produzida e excretada por plasmócitos no baço, linfonodos e 
medula óssea. Ela possui migração facilitada aos tecidos pelo seu baixo peso 
molecular, sendo um importante anticorpo durante a inflamação provocando 
aglutinação e opsonização (BALESTIERI, 2006; TIZARD, 2009). 
IgM é a imunoglobulina encontrada em maior concentração, após a IgG. Ela 
é produzida e excretada por plasmócitos em órgãos linfoides secundários e atua 
principalmente na resposta imune primária. É mais eficiente que a IgG para a 
ativação do sistema complemento, opsonização, neutralização viral e aglutinação. 
Raramente entram nos fluidos teciduais devido ao seu tamanho que é 5 vezes maior 
comparada como a IgG (BALESTIERI, 2006; TIZARD, 2009). 
 
 
IgA é um tipo de imunoglobulina que só atua na forma de IgA secretora, que 
é a associação dessa imunoglobulina a um componente secretor. São produzidas 
pelos plasmócitos localizados nas mucosas do trato gastrointestinal, trato 
respiratório, trato urinário, pele e glândulas mamárias (BALESTIERI, 2006; TIZARD, 
2009). 
IgE é a imunoglobulina existente em menor concentração no organismo dos 
animais domésticos, sendo assim existe dificuldade em associar seu papel. Ela é 
produzida por plasmócitos localizados nas mucosas e auxilia no processo de 
inflamação aguda (hipersensibilidade tipo I) atuando como sinalizadora 
(BALESTIERI, 2006; TIZARD, 2009). 
IgD é a imunoglobulina que funciona como um receptor antigênico na 
superfície de linfócitos B, e está ausente em galinhas e gatos (BALESTIERI, 2006; 
TIZARD, 2009). 
 
2.11 Tolerância 
 
A tolerância é tida como sendo a situação na qual o sistema imunológico não 
responde a um antígeno específico, ou seja, é um estado imunológico de não 
responsividade que pode ser induzida tanto por antígenos próprios quanto não 
próprios. Doenças autoimunes refletem a perda da tolerância ao próprio (ABBAS, 
2013; KAMRDT; AVRION, 2001). 
O sistema imunológico dos mamíferos em geral tem a capacidade de 
distinguir aquilo que é self (próprio) daquilo que é non-self (não-próprio), ou seja, de 
tolerar os antígenos do hospedeiro e responder a antígenos estranhos. Para que 
isso ocorra, existem vários processos adquiridos ativamente, em que linfócitos auto-
reativos são excluídos do plantel ou inativados após encontrar antígenos próprios. 
Esses processos podem ser induzidos nos órgãos linfóides centrais, processo 
chamado tolerância central, ou nos tecidos periféricos, processo chamado tolerância 
periférica (KAMRDT & AVRION, 2001; TIZARD, 2009). 
 
2.11.1 Tolerância Central 
 
A tolerância central diz respeito aos órgãos linfoides primários, é um 
processo que parte do princípio que é necessário que haja um equilíbrio no 
 
 
reconhecimento dos antígenos próprios para evitar autoreatividade ou anergia. 
Desta forma, existem os processos de tolerância dos linfócitos T e dos linfócitos B 
(ABBAS, 2013; TIZARD, 2009; KAMRDT & AVRION, 2001). 
A tolerância dos linfócitos T ocorre no timo durante o desenvolvimento fetal e 
durante pouco tempo após o nascimento. Esse processo baseia-se na deleção 
clonal de linfócitos T autorreativos. Antígenos próprios são apresentados aos 
linfócitos T, que já possuem receptores específicos. Esses linfócitos demonstrar três 
tipos de comportamento quanto ao reconhecimento de antígenos junto ao MHC dos 
timócitos: não reconhecem e sofrem apoptose por falta de estímulo; reconhecem 
avidamente e sofrem apoptose por serem autorreativos; ou reconhecem pouco e são 
selecionados para maturação nos órgãos linfoides periféricos. Esses processos de 
seleção são chamados de indução por seleção negativa e positiva (ABBAS, 2013; 
TIZARD, 2009; KAMRDT & AVRION, 2001). 
A tolerância dos linfócitos B ocorre na medula óssea em duas fases e 
possuem relação genética. A primeira diz respeito à conversão gênica nos órgãos 
linfoides primários, e a segunda diz respeito à mutação somática aleatória nos 
órgãos linfoides secundários. De maneira geral, se o linfócito B em algum momento 
da maturação encontrar o antígeno na ausência de estimulação pelo linfócito T 
auxiliar, o processo provavelmente será abortado (ABBAS, 2013; TIZARD, 2009; 
KAMRDT & AVRION, 2001) 
Esse processo ocorre quando antígenos multivalentes (proteínas de 
membrana) ou antígenos presentes em altas concentrações induzem a morte das 
células B. Por outro lado, a baixa concentração de antígenos próprios solúveis 
induzem anergia por decréscimo de imunoglobulinas de membrana ou por falta de 
sinais de ativação intracelulares (ABBAS, 2013; TIZARD, 2009; KAMRDT & 
AVRION, 2001). 
 
2.11.2 Tolerância Periférica 
 
Alguns linfócitos potencialmente autorreativos podem evadir o processo de 
tolerância e escapar da deleção clonal. Existem algumas maneiras de o sistema 
imunológico evitar a autoimunidade. A primeira forma seria a sequestração 
antigênica, onde existem antígenos que se encontram em sítios que o sistema imune 
não entra em contato. Assim, nesseslocais, não há resposta imune em condições 
 
 
normais. A segunda forma seria através da anergia e deleção clonal, que ocorre pela 
ausência de moléculas co-estimulatórias nas APCs, pois o reconhecimento entre os 
receptores de linfócitos T e o MHC de classe II induz anergia ou apoptose na falta de 
tais moléculas. Processo semelhante ocorre com as células B, onde na falta de 
estímulo do linfócito T auxiliar, ocorre down regulation dos receptores de superfície. 
A outra forma seria através da regulação por linfócitos T supressores, que são 
células que secretam citocinas imunossupressoras (ABBAS, 2013; TIZARD, 2009; 
KAMRDT & AVRION, 2001). 
 
2.12 Imunidade Fetal, Imunidade Neonatal e Colostro 
 
O desenvolvimento da imunidade e do sistema imunológico é gradativo e 
tem início no período de desenvolvimento embrionário de um indivíduo. Quanto mais 
longo o período gestacional, mais desenvolvido será o sistema imunológico do feto 
(DINIZ & FIGUEIREDO, 2014). 
Todo organismo ao nascer está exposto a diversos antígenos, e tem que ser 
capaz de controlar uma invasão microbiana em curto período de tempo. O sistema 
imunológico leva algum tempo para se tornar completamente funcional, sendo o 
desenvolvimento completo da capacidade imunológica depende de estimulação 
antigênica (DINIZ & FIGUEIREDO, 2014). 
O sistema imunológico tem seu desenvolvimento inciado durante a formação 
embriológica do feto. O desenvolvimento do sistema imune nos fetos segue um 
padrão resistente, onde o timo é o primeiro órgão linfoide a se desenvolver, e logo 
após são desenvolvidos o baço e linfonodos. O sistema imune se desenvolve 
gradualmente, em etapas, permitindo uma resposta do feto aos antígenos, sendo os 
anticorpos somente encontrados no final da vida fetal (ABBAS, 2013; TIZARD, 
2009). 
Existe uma variação ampla no tempo gestacional e na dinâmica do 
desenvolvimento imunológico nas diferentes espécies animais. Existe também uma 
variação na forma de transferência de imunidade entre a mãe e o feto, que depende 
da forma da implantação da placenta (TIZARD, 2009). 
Os neonatos têm a capacidade de estabelecer respostas imunológicas, 
porém ela é primaria e com baixas concentrações de anticorpos. De maneira geral, 
ela se dá basicamente pela imunidade inata e pela transferência de imunidade 
 
 
materna ao neonato através do colostro (ABBAS, 2000; DINIZ & FIGUEIREDO, 
2014). 
O colostro diz respeito às secreções acumuladas nas últimas semanas de 
gestação na glândula mamária da mãe. É um líquido rico em imunoglobulinas, 
principalmente IgG e IgA, e possui concentrações de anticorpos semelhante ao do 
soro da mãe. É de extrema importância que o colostro seja ingerido pelo neonato 
durante as primeiras horas de vida, uma vez que a absorção intestinal dessas 
imunoglobulinas tem que ser intacta para que elas possam atravessar a mucosa 
intestinal e cair na corrente sanguínea do feto garantindo imunidade a ele. Após as 
primeiras horas de vida o neonato inicia a produção de enzimas proteolíticas, essa 
produção interfere diretamente na produção do colostro, visto que o colostro são 
proteínas (ABBAS, 2000; DINIZ & FIGUEIREDO, 2014). Quando bem manejado e 
realizada a ingestão de colostro nas primeiras horas o neonato apresentará 
imunidade sistêmica, já quando a ingestão é tardia a imunidade limitará somente na 
parte intestinal. 
 
2.13 Imunidade nas Superfícies Corpóreas 
 
A imunidade nas superfícies corpóreas (Figura 9) diz respeito às formas nas 
quais o organismo realiza a primeira forma defesa contra agentes patogênicos e, de 
forma geral, esse tipo de imunidade está presente em todas as superfícies corporais 
externas, como na pele e nas mucosas externas, e nas superfícies corporais 
internas, como na mucosa dos tratos intestinal e respiratório. Pode-se dizer que as 
barreiras naturais de imunidade e a imunidade inata propriamente dita são as 
principais atuantes nas superfícies corpóreas, embora existam outras formas de 
proteção desenvolvidas pelo organismo (ABBAS et al. 2011). 
 
 
 
Figura 9 – imunidade nas superfícies corpóreas 
Fonte: Tizard (2009). 
 
A microflora corpórea é composta por populações estáveis de micro-
organismos não patogênicos, na maioria dos casos, dos mais variados gêneros que 
vivem em simbiose, ou seja, em benefício mútuo. A microflora é um importante 
componente da imunidade nas superfícies corpóreas, uma vez que ela é encontrada 
tanto na pele quando nas mucosas internas do organismo, principalmente intestino 
(ABBAS et al. 2011). 
Os micro-organismos que compõem a microflora corporal são chamados de 
comensais, e na maioria das vezes não causam nenhum tipo de prejuízo ao 
organismo, pelo contrário, eles tendem a viver em equilíbrio auxiliando de forma 
indireta na eliminação de outros micro-organismos patogênicos e na regulação da 
resposta imunológica (TIZARD, 2009). 
 Embora esses micro-organismos não sejam patogênicos, qualquer 
desequilíbrio que haja entre os comensais por quaisquer que seja a razão, pode 
levar à quebra da homeostase da flora, o que pode propiciar o desenvolvimento de 
patógenos oportunistas (TIZARD, 2009). 
Além das micro-floras, existem outras formas de imunidade nas superfícies 
corpóreas. No trato gastrointestinal, por exemplo, a saliva, o vômito, o pH ácido do 
estômago, a diarreia são formas de imunidade, além do fato de existirem tecidos 
linfoides associados à mucosa (MALT) ao longo do intestino delgado, e enzimas 
capazes de digerir micro-organismos patogênicos (ABBAS et al. 2011). Em relação 
aos tecidos linfoides de mucosa temos dois sítios: 1. Locais (indutores) ( Figura 10) 
onde os antígenos são processados e as respostas imunes são iniciadas. 2. Áreas 
 
 
(efetores) ( Figura 11). Áreas nas quais ocorrem a geração de anticorpos e as 
respostas mediadas por células. 
 
Figura 10 – Esquematização dos sítios indutores 
Fonte: Tizard (2009). 
 
 
Figura 11 – Esquematização dos sítios efetores 
Fonte: Tizard (2009). 
 
No trato respiratório, a tosse e o espirro, em conjunto com o sistema muco-
ciliar da mucosa também são formas de imunidade na superfície corpórea. Já no 
trato urinário, a micção e o baixo pH da urina são mecanismos protetores (ABBAS et 
al. 2011). 
No que diz respeito à imunidade da pele, esta é uma forte barreira física. As 
formas de imunidade existentes na superfície da pele são inúmeras, dentre as 
principais a descamação e dessecação da camada córnea e lúcida auxiliam na 
limpeza e na renovação epitelial. Além disso, há a presença de ácidos graxos, o 
 
 
sebo, e peptídios antimicrobianos produzidos por queratinócitos, além das células de 
defesa residentes no sistema tegumentar (ABBAS et al. 2011; TIZARD, 2009). 
 
2.14 Conceitos Gerais de Autoimunidade 
 
Autoimunidade pode ser definida como sendo o distúrbio dos mecanismos 
responsáveis pela auto-tolerância e indução de uma resposta imune contra 
componentes do próprio organismo, ou seja, é a condição onde as células de defesa 
atacam erroneamente células saudáveis do organismo. A autoimunidade pode ser 
sistêmica ou órgão específica e resulta de uma falha nos mecanismos gerais que 
mantém tolerância ao próprio somados a fatores que contribuem para o 
desenvolvimento de autoimunidade, que são as APCs e linfócitos anormais, fundo 
genético que predispõe, processos inflamatórios e infecções (ABBAS, 2013; 
KAMRDT & AVRION, 2001). 
Normalmente os mecanismos de autotolerância previnem a autoimunidade. 
Apesar dos processos seletivos, alguns linfócitos autorreativos sofrem maturação, 
podendo consequentemente, serem ativados para desencadear doença autoimune. 
As doenças autoimunes são divididasem doenças autoimunes órgão-específicas 
quando são restritas a determinados órgãos ou tecidos, e doenças autoimunes 
sistêmicas quando diferentes tecidos são afetados. Os principais componentes do 
sistema imunológico responsáveis por causar as doenças autoimunes são os 
autoanticorpos e os linfócitos autorreativos (KAMRDT & AVRION, 2001). 
Existem diversos mecanismos que podem levar à autoimunidade, dentre os 
quais se pode citar: os defeitos no mecanismo de deleção clonal, ou seja, defeitos 
nos mecanismos de tolerância; a perda da anergia dos linfócitos T, que pode ocorrer 
nos processos inflamatórios, infecções e necrose tecidual, onde se tem APCs 
ativadas que poderão apresentar antígenos próprios aos linfócitos e expressar 
moléculas coestimulatórias; a ativação policlonal de linfócitos e a reação cruzada 
entre antígenos próprios e microbianos; a liberação de antígenos sequestrados em 
processos inflamatórios; e defeitos na regulação de linfócitos T e falha do linfócito T 
supressor (ABBAS et. al, 2013; KAMRDT & AVRION, 2001). 
 
 
 
 
 
2.15 Hipersensibilidades 
 
As reações de hipersensibilidade se referem às respostas excessivas e 
indesejáveis produzidas pelo sistema imunológico normal, e requerem um estado 
pré-sensibilizado, ou seja, imune, do hospedeiro. Reações de hipersensibilidade 
podem ser divididas em quatro tipos: tipo I, tipo II, tipo III e tipo IV, baseados nos 
mecanismos imunológicos e bioquímicos envolvidos e tempo levado para a reação 
(ABBAS et al. 2011; BALESTIERI, 2006; TIZARD, 2009). 
 
2.15.1 Hipersensibilidade I 
 
Hipersensibilidade tipo I (Figura 12) é também conhecida como imediata ou 
hipersensibilidade anafilática. É uma forma de inflamação aguda que resulta da 
interação entre antígenos, também chamados de alérgenos, mediada por IgE. O 
componente primário celular nessa hipersensibilidade é o mastócido ou basófilo, 
sendo a reação amplificada e/ou modificada pelas plaquetas, neutrófilos e 
eosinófilos (ABBAS et al. 2011; BALESTIERI, 2006; TIZARD, 2009). 
 
Figura 12 – Desenvolvimento da Hipersensibilidade Tipo I 
Fonte: Tizard (2009). 
 
O mecanismo da reação envolve produção preferencial de IgE, em resposta 
à exposição a certos antígenos ou alérgenos, onde a IgE tem muito elevada 
afinidade por seu receptor em mastócitos e basófilos. Desta forma, a exposição 
subsequente ao mesmo alergeno faz reação cruzada com IgE e consequente a 
desgranulação dos mastócitos. De maneia geral, os mastócitos são leucócitos 
presentes nos tecidos, e contêm grânulos de histamina, serotonina, leucotrienos e 
 
 
prostaglandinas em seu citoplasma, que são as substâncias químicas responsáveis 
pela resposta alérgica (ABBAS et al. 2011; BALESTIERI, 2006; TIZARD, 2009). 
A reação de hipersensibilidade do tipo I pode ser induzida através de 
diversos mecanismos, e está relacionada com algumas doenças alérgicas 
específicas como algumas dermatites, alergias alimentares, alergias a vacinas, a 
medicamentos, a parasitas, dentre outros (ABBAS et al. 2011; BALESTIERI, 2006; 
TIZARD, 2009). Anafilaxia é uma reação de hipersensibilidade aguda 
potencialmente fatal, que envolve a liberação de mediadores dos mastócitos, 
basófilos e recrutamento de células inflamatórias. Os principais órgãos do choque 
anafilático são do sistema respiratório e intestinos. 
 
2.15.2 Hipersensibilidade II 
 
A reação de hipersinsibilidade tipo II, também conhecida como 
hipersensibilidade citotóxica, é um tipo de hipersensibilidade mediada por 
imunoglobulinas, pode afetar uma variedade de órgãos e tecidos. Os antígenos são 
normalmente endógenos, embora agentes químicos exógenos que podem se ligar a 
membranas celulares podem também levar a hipersensibilidade tipo II. Anemia 
hemolítica induzida por drogas, granulocitopenia e trombocitopenia são exemplos. O 
tempo de reação é de minutos a horas. A hipersensibilidade tipo II é primariamente 
mediada pelas imunoglobulinas das classes IgM ou IgG, e do sistema complemento. 
Fagócitos como monócitos, macrófagos e neutrófilos também podem participar 
dessa reação. O tratamento envolve agentes anti-inflamatórios e imunossupressores 
(ABBAS et al. 2011; BALESTIERI, 2006; TIZARD, 2009). 
A doença hemolítica do recém nascido necessita de quatro condições 
básicas que são: 
I. O animal jovem deve herdar um antígeno eritrocitário de seu pai que 
não esteja presente em sua mãe. 
II. A mãe deve estar sensibilizada ao antígeno do eritrócito. 
III. A resposta da mãe ao antígeno deve ser estimulada repetidamente por 
hemorragia transplacentária ou gestações repetidas. 
IV. Ingerir colostro contendo altos títulos de Igs. 
 
 
 
 
2.15.3 Hipersensibilidade III 
 
A reação de hipersensibilidade do tipo III está relacionada com 
imunocomplexos e a reação entre antígeno e anticorpo. Imunocomplexos são 
substâncias formadas através da união entre uma imunoglobulina, uma proteína do 
sistema complemento e um antígeno. Nos tecidos, os imunocomplexos produzem 
peptídios quimiotáticos para neutrífilos, o que gera inflamação aguda e destruição 
tecidual (ABBAS et al. 2011; BALESTIERI, 2006; TIZARD, 2009). 
A reação pode ser sistêmica ou em órgãos individuais incluindo pele, rins, 
pulmões, vasos sanguíneos, articulações ou outros órgãos, o que vai ser 
determinado através da quantidade e local deposição dos imunocomplexos. Esta 
reação pode ser o mecanismo patogênico de doenças causadas por muitos 
microrganismos (ABBAS et al. 2011; BALESTIERI, 2006; TIZARD, 2009). 
A afinidade do anticorpo e tamanho dos complexos imunes são importantes 
na produção de doença e na determinação do tecido envolvido. O tratamento inclui 
agentes anti-inflamatórios (ABBAS et al. 2011; BALESTIERI, 2006; TIZARD, 2009). 
 
2.15.4 Hipersensibilidade IV 
 
A reação de hipersensibilidade tipo IV é também conhecida como mediada 
por células ou hipersensibilidade tardia, e está envolvida na patogênese de muitas 
doenças autoimunes e infecciosas. Os agentes envolvidos nessa reação são os 
linfócitos T e os linfócitos NK. Os mecanismos que desencadeiam a 
hipersensibilidade do tipo IV dizem respeito à presença do antígeno no tecido, mais 
frequentemente na pele, que é capturado pelas células dendríticas e levado até o 
linfonodo drenante através da via linfática. Há então a sensibilização de linfócitos T 
não experimentados, que migram até o tecido liberando citocinas e outros 
mediadores químicos gerando processo inflamatório agudo local. O tratamento 
desse tipo de reação de hipersensibilidade pode ser feito através do uso de 
corticoesteriodes ou outros anti-inflamatórios (ABBAS et al. 2011; BALESTIERI, 
2006; TIZARD, 2009). 
 
 
 
 
 
2.16 Imunodeficiências 
 
A imunodeficiência é tida como sendo uma desordem no funcionamento do 
sistema imunológico caracterizada pela incapacidade de se estabelecer uma 
resposta imunológica efetiva, ou seja, é a falha do sistema imunológico em proteger 
o organismo contra agentes patogênicos (ABBAS et al. 2013; TIZARD, 2009). 
A imunodeficiência pode classificada em primária ou secundária. 
Imunodeficiência primária é causada por defeitos genéticos ou no desenvolvimento 
do sistema imune. Já a imunodeficiência secundária ou adquirida é a perda da 
função do sistema imune como resultado da exposição a agentes patogênicos, 
fatores ambientais, imunosupressão ou envelhecimento (ABBAS et al. 2013; 
TIZARD, 2009). Uma imunodeficiência clássica trata-se da Imunodeficiência 
Combinada Severa onde os animais apresentam linfopenia, ou seja, ausência de 
linfócitos T e B. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3. REFERÊNCIAS 
 
ABBAS, A. K.; LICHTMAN, A. H.; PILLAI,S. Imunologia básica: funções e 
distúrbios do sistema imunológico. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013. 320 p. 
 
ABBAS, A. K.; LICHTMAN, A. H.; PILLAI, S. Imunologia celular e molecular. 7. ed. 
Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. 545 p. 
 
BALESTIERI, F. M. P. Imunologia. Barueri, SP: Manole, 2006. 799 p. 
 
DINIZ, L. M.; FIGUEIREDO, B. C. G. O sistema imunológico do recém-nascido. 
Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte: Revista Médica de Minas 
Gerais. 2014. Disponível em: <rmmg.org/exportar-pdf/1604/v24n2a14.pdf> Acesso 
em: 03 nov 2017. 
 
JUNQUEIRA, L. C. U.; CARNEIRO, J. Histologia básica : texto & atlas. 12. ed. Rio 
de Janeiro: Guanabara Koogan, 2013. 538 p. 
 
KAMRADT T.; AVRION M. N. Advances in immunology: Tolerance and 
Autoimmunity. N Engl J Med, 344(9):655-64, 2001. 
 
ORIÁ, R. B.; BRITO, G. A. C. Sistema Digestório: Integração Básico-Clínica. 1 
ed. São Paulo: Blucher, 2016. 838p. 
 
PLAYFAIR, J. H. L.; CHAIN, B. M. Imunologia básica. 9. ed. São Paulo: Manole. 
2013. 112p. 
 
ROITT, I. M.; RABSON, A. Imunologia básica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 
2011. 182 p. 
 
SAMUELSON, D. A. Tratado de histologia veterinária. Rio de Janeiro: Elsevier, 
2007. 527 p. 
 
 
 
SCROFERNEKER, M. L.; POHLMANN, P. R. Imunologia básica e aplicada. 
Primeira edição, p. 218-237, 1998. 
 
THRALL, M. A. Hematologia e bioquímica clínica veterinária. São Paulo: Roca, 
c2007. 582 p. 
 
TIZARD, I. R. Imunologia veterinária: Uma introdução. 8. ed. Rio de Janeiro: 
Elsevier, 2009. 587 p.

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