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5757 Hormônios sexuais femininos e transtornos do humor Female sexual hormones and mood disorders André B. Veras1; Antonio E. Nardi2 J.bras.psiquiatr. • vol. 54(1): 57-68, 2005 1) Residente de Psiquiatria do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPUB/UFRJ). 2) Livre-docente e professor-adjunto da Faculdade de Mecidina da UFRJ. Projeto Transtornos Psiquiátricos e Síndrome dos Ovários Policísticos – IPUB/UFRJ. Recebido em 19/11/2004 / Aprovado em 17/01/2005 Endereço para correspondência André B. Veras • Rua Pereira da Silva 172/201 • Laranjeiras • CEP 22221- 140 • Rio de Janeiro-RJ • tel.: (21) 2265-1973 • fax: (21) 2523-6839 • e-mail: barciela@ibest.com.br INTRODUÇÃO O eixo neuroendócrino relacionado ao ciclo reprodu- tivo feminino é vulnerável a mudanças e sensível a fatores psicossociais, ambientais e fisiológicos. Alterações como o transtorno disfórico pré-menstrual, a depressão pós-parto e os transtornos do humor relacionados a perimenopausa ou menopausa podem estar relacionadas a mudanças influenciadas por hormônios na função neurotrans- missora (Steiner et al., 2003). A prevalência de depressão em R E S U M O Objetivo: Descrever o conhecimento atual sobre a relação entre transtornos do humor e hormônios sexuais femininos. Método: Levantamento, pelo PubMed/Medline, do período entre 1990 e 2004 utilizando os unitermos mulher, hormônios femininos, transtorno do humor, depressão, neurotransmissores e hormônios sexuais. As referências foram usadas como fonte de consulta. Resultados: Na menarca, chama a atenção a grande influência do meio ambiente sobre o ciclo reprodutivo e dessa fase sobre o estado psíquico da mulher. A interação entre os sistemas hormonais gonadal e adrenal vem sendo apontada como um dos sensibilizadores para a ocorrência da depressão no período reprodutivo da vida feminina. Alterações do humor próprias da mulher, como a disforia pré-menstrual, ainda carecem de dados para a explicação de sua fisiopatogenia. Porém pa- rece muito sugestivo o papel da serotonina no desenvolvimento desse transtorno. Ainda menos clara está a fisiopatogenia dos transtornos do humor relacionados a parto e puerpério. Têm-se encontrado diversas alterações hormonais e de neurotrasmissores, mas ainda não existe uma teoria unificadora. A menopausa é o período em que as pesquisas atuais trazem perspectivas terapêuticas mais concretas. Conclusão: As alterações fisiológicas dos hormônios sexuais ocorrem em todas as mulheres, o que nos sugere que a alta prevalência de transtornos de humor pode ser resultado de mudanças hormonais associadas a um fator genético predisponente. O padrão de alterações neuroen- dócrinas relacionadas aos hormônios femininos e o ciclo reprodutivo tornam as mulheres mais vulneráveis a mudanças de humor e sensíveis a fatores sociais, psicológicos e fisiológicos. Unitermos depressão; transtornos do humor; hormônios femininos; mulheres; hormônios sexuais; neurotransmissores S U M M A R Y Aim: To describe the current view of the relationship between mood disorders and female sexual hormones. Method: The databases PubMed/Medline were searched between 1990 and 2004 with the uniterms woman, feminine hormones, mood disorder, depression, neurotransmitters, and sex hormones. The references were also used as source data. Results: At the menarche, what claims for our attention is the strong influence of external factors in woman’s reproductive status and the influence of sexual hormones in their mind. The relationship between gonadal and adrenal systems has been pointed as a possible factor in the occurrence of depression in woman’s reproductive life. Woman’s affective disorders like premenstrual dysphoria still want more physiopatogenic data, but the involvement of serotonin in this disorder is very suggestive. Less clear is the physiopatogenic theories of postpartum disorders. It has been found a lot of hormonal and neurotransmitters alterations, although a unifying theory doesn’t exist yet. Menopause is the hormonal cycle period where researches bring more therapeutic perspectives. Conclusion: The sex hormonal physiologic changes occur in all women and that can link the high prevalence of mood disorders in women to a result of hormones changes and a genetic predisposition. The pattern of neuroendocrine events related to female hormones and the reproduction cycle bring a high vulnerability to mood changes and more sensitive to social, psychological and physiological factors. Uniterms depression; mood disorders; female hormones; women; sex hormones; neurotransmitters ARTIGO DE REVISÃOARTIGO DE REVISÃO 58 J.bras.psiquiatr. • Vol. 54 • Nº 1 • 2005 mulheres é duas vezes maior que nos homens (Young et al., 2000). Essa maior incidência feminina é observada a partir da puberdade, sendo menos evidente nos anos que sucedem a menopausa (Weissman et al., 1995). Apesar da diferença entre homens e mulheres em relação à incidência do transtor- no do humor, este ocorre em ambos os sexos, presumindo-se que existam fatores comuns para o seu desenvolvimento. O principal constituinte dessa teoria unificadora parece ser a predisposição genética (Steiner et al., 2003). A alta prevalência de transtornos do humor em mulheres pode estar relacionada a maior predisposição genética, maior vulnerabilidade a eventos estressantes, modulação do sistema neuroendócrino pela flutua- ção dos hormônios gonadais ou a uma combinação de alguns ou de todos estes fatores (Steiner et al., 2003). O controle de humor e comportamento envolve diversos sistemas de neurotransmissores, incluindo glutamato, ácido gama-aminobutírico (GABA), acetilcolina, serotonina, dopa- mina, noradrenalina e neuropeptídeos. Hormônios esteroidais gonadais também estariam envolvidos, alterando direta e indiretamente os sistemas neurotransmissores supracitados (Young et al., 2000). Por esse motivo, tem havido grande esforço por parte dos pesquisadores para a detecção de padrões hormonais anormais entre os pacientes portadores de algum transtorno do humor. Realizamos um levantamento, pelo PubMed/Medline, do período 1990 a 2004 utilizando os unitermos mulher, hormônios femininos, transtorno do humor, depressão, neurotransmissores e hormônios sexuais. As referências foram usadas como fonte de consulta. Nosso objetivo é descrever o conhecimento atual sobre a relação entre transtornos do humor e hormônios sexuais femininos CONTROLE HORMONAL DO CICLO REPRODUTIVO O hormônio de liberação da gonadotrofina (GnRH), que é liberado por neurônios hipotalâmicos, é o principal mediador do processo reprodutivo (Frohman et al., 1999). Tais neurô- nios são células neuroendócrinas cujos axônios desembocam da eminência média hipotalâmica no sistema portal hipotála- mo-pituitário. O GnRH é levado por essa via sangüínea até a hipófise anterior, onde se liga aos receptores específicos da membrana de células produtoras de dois hormônios gonado- tróficos, o luteinizante (LH) e o folículo-estimulante (FSH). Essas gonadotrofinas são liberadas pela hipófise anterior na cir- culação sistêmica, viajando até as gônadas, onde estimularão a produção de gametas e de hormônios gonadais (Frohman et al., 1999). Nas mulheres, o FSH estimula o desenvolvimento do folículo ovariano no início de cada ciclo reprodutivo, e o FSH e o LH, conjuntamente, a ovulação no meio do ciclo, além da produção de hormônios ovarianos, estrogênio e progesterona. Estes, por sua vez, são responsáveis pelo desenvolvimento dos caracteres sexuais femininos (Frohman et al., 1999). NEURÔNIOS PRODUTORES DE GNRH Os neurônios liberadores de GnRH, como qualquer outra célula dessetipo no sistema nervoso central (SNC), estão integrados com o restante da rede através de conexões sináp- ticas. Embora o número de conexões sinápticas que incidem nessas células (inputs) seja pequeno quando comparado com outros neurônios hipotalâmicos, inputs de múltiplos tipos de sistemas neuronais são observados, como de outros neurônios de GnRH, neurônios dopaminérgicos, noradrenérgicos e serotoninérgicos, além de neurônios contendo betaendorfina, hormônio liberador de corticotrofina (CRH), GABA, vaso- pressina, neurotensina, substância P e glutamato (Frohman et al., 1999). Dessa forma, a secreção de GnRH é regulada diretamente por diversos sistemas neuronais e, indiretamente, por outros sistemas integrados de forma exponencial. Além das conexões sinápticas, neurônios secretores de GnRH também se relacionam por múltiplos canais intercelulares. INFLUÊNCIA DOS HORMÔNIOS ESTERÓIDES NA SECREÇÃO DE GNRH Os hormônios esteróides sexuais modulam a secreção hipotalâmica de GnRH de forma indireta, visto a ausência de receptores esteróides nas células liberadoras de GnRH e a presença destes nos sistemas neuronais que fazem contato íntimo com tais células. O feedback negativo da progesterona ocorreria preferencialmente no hipotálamo, reduzindo a freqüência de pulsos de GnRH e, por conseguinte, os pulsos de LH. Já o feedback negativo do estradiol se daria mais for- temente no nível hipofisário, permitindo apenas a redução da amplitude dos pulsos de LH (Frohman et al., 1999). Macacas ooforectomizadas apresentam diminuição de inputs sinápticos sobre as células de GnRH, assim como, através da retração de André B. Veras; Antonio E. Nardi J.bras.psiquiatr. • Vol. 54 • Nº 1 • 2005 59 processos gliais, os terminais liberadores de GnRH ficam mais próximos da lâmina basal das veias do sistema porta, facilitando sua secreção até a hipófise (Frohman et al., 1999). Receptores dos esteróides gonadais são abundantes em diferentes áreas cerebrais. São encontrados em amígdala, hipo- campo, núcleos da base, córtex, cerebelo, locus ceruleus, núcleo da rafe, hipófise e hipotálamo (Stomati et al., 1998). A ativação dos sistemas colinérgico, dopaminérgico e noradrenérgico pode alterar a concentração citoplasmática de receptores de estrogênio no hipotálamo. Agonistas e an- tagonistas muscarínicos podem aumentar os locais de ligação do estrogênio no hipotálamo de ratos (Lauber et al., 1988). O aparecimento de receptores de estrogênio e progesterona pode ser estimulado pelos fatores de crescimento semelhante à insulina (IGF-1), epidérmico (EGF), transformador (TGF- alfa), por monofosfato de adenosina (AMP) cíclico, ativadores de proteína quinase e vários outros neurotransmissores (Culig et al.,1995). Portanto a ativação do sistema de neurotransmis- sores pode possuir um efeito modulador direto nas ligações de hormônios gonadais no SNC (Steiner et al., 2003). De forma oposta, hormônios esteroidais podem modular a transmissão neuronal por uma variedade de mecanismos. In- fluenciam a síntese ou a liberação de neurotransmissores, assim como a expressão de receptores e a plasticidade e a permeabilida- de da membrana (Steiner et al., 2003). Acredita-se que tais hor- mônios ajam primariamente por mecanismos genômicos, através de receptores intracelulares, modulando a síntese protéica. Isso envolve a ligação hormonal e os receptores citoplasmáticos presentes no núcleo da célula (Steiner et al., 2003). O tempo de resposta desse mecanismo é da ordem de minutos até horas ou dias. Recentemente, vem sendo demonstrado que os esteróides podem produzir efeitos rápidos diretos através da membrana, alterando a condução elétrica e a função sináptica, assim como agindo sobre canais iônicos, proteína-G e transportadores de neurotransmissores (Wong et al., 1996). Entre os sistemas que sofreriam influência dos hormônios esteroidais e que, por sua vez, influenciariam a liberação de GnRH estão incluídos opióide, GABAérgico, catecolamínico e neurônio neuropeptídio Y (NPY). A medição direta do opióide endógeno betaendorfina (que atua inibindo a secreção de GnRH) na corrente sangüínea do sistema portal de macacos mostra que seus níveis são menores no início da fase folicular e maiores na fase lútea, quando as taxas de progesterona estão elevadas para reduzir a freqüência de pulsos do LH (Frohman et al., 1999). Outra evidência é o aumento da freqüência de pulsos deste hormônio na fase lútea, quando administrado o antagonista opiáceo naloxone (Frohman et al., 1999). Outra forma de modulação do GnRH ocorre através de um feedback positivo mediado pelo estradiol no meio do ciclo menstrual, causando o pico de LH e a conseqüente ovulação. A partir de uma concentração de aproximadamente 150pg/ml-1, mantida por 36 horas, o estradiol seria capaz de provocar esti- mulação para maior liberação continuada, ao invés de pulsátil, de GnRH no hipotálamo, além de tornar as células hipofisárias mais sensíveis ao hormônio (Frohman et al., 1999). OUTROS FATORES INFLUENCIADORES DA ATIVIDADE DE GNRH O estresse pode alterar o ciclo reprodutivo, levando inclusive a amenorréia nos casos mais graves. Além dos estresses metabó- licos, como a privação alimentar (anorexia nervosa) e a prática regular de exercícios extenuantes, outros fatores podem influir na atividade do GnRH (Frohman et al., 1999). Por exemplo, a secreção pulsátil de LH é suprimida em minutos ou até horas quando o indivíduo é submetido a choques elétricos repetidos ou quando é administrada uma dose de interleucina 1 (IL-1), que é um imunomodulador. Estresse social crônico também pode prejudicar a função reprodutora levando a alterações em meses ou até anos (Frohman et al., 1999). Independentemente de sua heterogeneidade, os fatores estressantes suprimem o eixo reprodutivo por uma ação primária em sua porção central, mais especificamente reduzindo a liberação de GnRH (Frohman et al., 1999). Duas vias estariam supostamente ligadas à influência do estresse sobre o GnRH. Seriam elas a de betaendorfina e a de CRH (Frohman et al., 1999). A supressão de LH induzida por choques elétricos em ratos pode ser prevenida pela administra- ção prévia do antagonista opióide naloxone. A administração de CRH no sistema ventricular cerebral de animais impede a secreção de gonadotrofinas, e a de seu antagonista pode preve- nir a supressão estresse-induzida dos hormônios reprodutivos (Frohman et al., 1999). O nível de hormônios gonadais também é determinante no impacto que um fator estressante causará no eixo reprodutor. A restrição alimentar elimina a secreção de LH num indivíduo normal. Porém, quando animais agonadais são submetidos a esse estresse, a supressão de gonadotrofinas é bem menos efetiva (Frohman et al., 1999). Hormônios sexuais femininos e transtornos do humor 60 J.bras.psiquiatr. • Vol. 54 • Nº 1 • 2005 VARIAÇÃO FISIOLÓGICA DE HORMÔNIOS E ALTERAÇÕES DO HUMOR Menarca e puberdade A etapa inicial da atividade hormonal na puberdade se dá por um aumento da secreção noturna pulsátil de LH. Esse ritmo parece estar relacionado ao sono, podendo ser reverti- do para o período diurno em caso de troca do repouso para essa fase do dia. Curiosamente, quando o eixo reprodutivo é interrompido por algum fator estressante na fase adulta, seu redespertar ocorre da mesma forma descrita para a fase inicial da puberdade. Assim, em qualquer momento da vida, o início da secreção pulsátil de LH parece envolver inputs neuronais do sistema pulsátil liberador de GnRH, que recebem informações do ciclo sono-vigília (Frohman et al., 1999). Após a ocorrência da menarca,como demonstrado em estudos epidemiológicos, os transtornos do humor tornam-se duas vezes mais prevalentes nas mulheres (Lewinsohn et al., 1998). Nos Estados Unidos, a prevalência da depressão maior entre adolescentes e adultos jovens de 15 a 24 anos de idade é de 20,6% entre as mulheres e 10,5% nos homens (Kessler et al., 1998). Indivíduos do sexo feminino que apresentam menarca precoce ou tardia têm uma taxa de depressão ainda maior (30% e 34%, respectivamente). Assim como os hormônios sexuais femininos influenciam o estado psíquico, o oposto também parece ser verdadeiro. Entre norte-americanos e europeus, a idade da menarca vem declinando quatro meses a cada dez anos desde 1850. Na década de 1960, a primeira menstruação já ocorria aos 12,5 anos em média nas adolescentes americanas (Tanner, 1968). Esse declínio do início da puberdade no mundo moderno é uma forte evidência da influência dos fatores ambientais sobre a resposta hormonal (Young et al., 2000). Outro fator ambiental de influência determinante sobre o ciclo hormonal é a luminosidade. Adolescentes cegas atingem a menarca antes daquelas com alguma percepção de luminosida- de, que, por sua vez, menstruam antes dos indivíduos normais (Zacharias et al., 1964). Além disso, a maioria das menarcas ocorre durante o outono e a primavera, tidos como períodos de menor luminosidade em países de clima temperado (Bojlen et al., 1974). As intensas alterações hormonais do desenvolvimento puberal predispõem os indivíduos a mudanças do humor. Observou-se correlação entre os transtornos do humor e de- terminada fase puberal. Angold et al. (1998), em um estudo com 1.073 pacientes entre 9 e 13 anos, encontraram maioria significativa dos casos de depressão coincidindo com o estágio III de Tanner nas mulheres e com o estágio II nos homens. Alguns estudos mostram relação entre afeto negativo e alterações hormonais da puberdade, como o rápido aumento dos níveis de estradiol (Warren et al., 1989), testosterona e cortisol e menores concentrações séricas de diidroepiandros- terona (Susman et al., 1991). A conexão entre hormônios gonadais e transtornos do humor da puberdade parece ser mediada pelo sistema neu- ronal serotoninérgico. Os primeiros alteram a produção dos receptores de serotonina (5-HT), agindo na transcrição pro- teica. Dessa forma, as mudanças na função e na distribuição dos receptores 5-HT causadas pela variação hormonal que acompanha a menarca podem aumentar a vulnerabilidade para a ocorrência de transtornos do humor. Existem evidências diretas e indiretas da influência do sistema serotoninérgico no desenvolvimento do transtorno depressivo na criança e no adolescente. Em um estudo comparativo entre pacientes internados e controles de 7 a 17 anos, o nível sérico de 5-HT era menor em pacientes com transtornos do humor (Hughes et al., 1996). Há também indicações de uma melhor resposta da depressão submetida aos antidepressivos serotoninérgicos se comparados aos noradrenérgicos nessa faixa etária. A hipótese seria de que o sistema serotoninérgico amadurece antes do noradrenérgico (Ryan et al., 1998). A flutuação dos hormônios sexuais que marca o início da menarca e o estabelecimento dos ciclos menstruais acarreta uma ampla mudança no padrão hormonal, ao qual todo o resto do sistema tem que se ajustar. Nesse período, o eixo hipotálamo- hipófise-adrenal (HHA) encontra-se em amadurecimento e sofre uma série de novos mecanismos de feedback. Esse também é um momento em que o eixo encontra-se mais vulnerável aos estressores psicossociais externos, à privação do sono e ao início do uso de nicotina, álcool e outras drogas, ocasionando uma maior incidência de irregularidades e maior instabilidade do humor (Steiner et al., 2003). Depressão na idade reprodutiva e disforia pré-menstrual A mais importante característica da idade reprodutiva feminina e a principal diferença dessa fase entre ambos os sexos é o fato de ela ser cíclica. A flutuação hormonal repe- André B. Veras; Antonio E. Nardi J.bras.psiquiatr. • Vol. 54 • Nº 1 • 2005 61 tida e sua interação com o SNC podem constituir um fator desestabilizador. Apesar de quase a totalidade das mulheres apresentarem essas características, apenas um pequeno grupo manifesta disforia pré-menstrual e apenas 1% a 5% desenvol- vem depressão (Halbreich, 2000). Em um estudo comparando mulheres deprimidas e con- troles normais, estando ambos os grupos na fase reprodutiva, encontrou-se nível reduzido de estradiol na fase folicular das primeiras (Young et al., 2000). Entretanto, se a redução de estrogênio é importante na fisiopatologia da depressão, a menopausa, que é o estado mais prevalente dessa deficiência, deveria ser um momento de maior incidência do transtorno. Isso não ocorre e, pelo contrário, a prevalência da depressão é relativamente baixa e estatisticamente similar à dos homens da faixa etária correspondente. Por outro lado, quando o es- trogênio e a progesterona encontram-se em altos níveis, como durante a gestação, não é observada diminuição da prevalência de depressão (Halbreich, 2000). Por que os níveis de estrogênio seriam baixos em algumas mulheres com depressão? Young et al. (2000) sugeriram que poderia haver uma interação entre os eixos HHA e hipotálamo- hipófise-ovariano (HHO). Evidências dessa interação advêm de algumas alterações pa- tológicas conhecidas. A amenorréia hipotalâmica induzida pelo estresse ativa o eixo HHA, aumentando a secreção de cortisol e diminuindo sua resposta ao CRH exógeno (Suth et al., 1988). Essa anormalidade é parecida com a encontrada em pacientes deprimidos, sugerindo que a ativação do eixo HHA estaria ligada à inibição do eixo reprodutivo. Além disso, aumentos da concentração de CRH no liquor, que indicariam maior ativação do sistema neuronal extra-hipotalâmico de CRH, têm sido encontrados em pacientes deprimidos, levando ao fortalecimento da hipótese de depleção da função reprodutiva na depressão (Nemeroff et al., 1984). Disforia pré-menstrual O transtorno disfórico pré-menstrual é caracterizado por sintomas emocionais e comportamentais graves e desgastantes que interferem na vida e nas relações interpessoais da mulher. Ele se diferencia da síndrome pré-menstrual, que se caracteriza por sintomas físicos brandos como dores mamárias, cefaléia e sintomas mínimos do humor (Steiner et al., 2003). Entre as mulheres com menstruação regular, 75% expe- rimentam algum sintoma pré-menstrual (Johnson, 1987). No entanto apenas 3% a 8% são acometidas pelo transtorno disfórico pré-menstrual (Johnson et al., 1988). Esse grupo de mulheres apresenta queixas que interferem seriamente em sua funcionalidade e nas relações interpessoais. Ambos os casos apresentam substratos biológicos, tanto pelas evidências de hereditariedade dos sintomas (Kendler et al., 1998) quanto pela remissão destes quando se realiza a supressão da função ovariana (Schmidt et al., 1998) ou a menopausa cirúrgica (Casson et al., 1990). Não se sabe se mulheres com transtor- no disfórico pré-menstrual possuem risco aumentado para o desenvolvimento de transtornos do humor ao longo da vida ou durante fases de maior vulnerabilidade como o puerpério e o climatério. Um estudo mostrou que a maior gravidade da síndrome pré-menstrual era preditora da ocorrência de episó- dios depressivos subseqüentes (Graze et al., 1990). A única variável clínica consistentemente relacionada com o transtorno disfórico pré-menstrual foi a ocorrência de episódios prévios de transtornos do humor, em particular a depressão maior. Estudos usando entrevistas estruturadasre- latam uma incidência prévia de depressão de 40%. Um outro trabalho sugeriu também maior incidência prévia de depressão pós-parto (Pearlstein et al., 1990). Algumas mulheres referem relação entre início ou piora de sintomas da síndrome pré-menstrual e ocorrência de materni- dade, síndromes afetivas puerperais, começo ou interrupção do uso de contraceptivos orais e cirurgias pélvicas (Pearlstein et al., 1990). O papel da variação dos hormônios sexuais femininos é considerado de central importância na sintomatologia pré-menstrual. De uma forma geral, múltiplos estudos têm falhado em encontrar qualquer disfunção do eixo reprodutivo em mulheres com transtorno disfórico pré-menstrual quando comparadas com controles. Schimidt et al. (1998), usando um antagonista da progesterona (mifepristona), sugeriram que os sintomas desse transtorno poderiam ocorrer mesmo fora da fase lútea do ciclo menstrual. Estudos recentes relataram anor- malidades na secreção pulsátil de LH (Facchinetti et al.,1993) e nos níveis de androgênio (Eriksson et al.,1992) em pacientes na fase lútea com transtorno disfórico pré-menstrual. Recente- mente, mais atenção vem sendo dada ao papel dos androgênios na disforia pré-menstrual. Novas investigações sugerem que mulheres com síndrome pré-menstrual apresentam níveis mais elevados de testosterona na fase lútea, o que pode contribuir primariamente para o sintoma de irritabilidade (Eriksson et al., 1992; Dunn et al., 2001; Ho et al., 2001). Outras, Hormônios sexuais femininos e transtornos do humor 62 J.bras.psiquiatr. • Vol. 54 • Nº 1 • 2005 entretanto, não têm observado esse aumento (Dougherty et al., 1997), e um estudo mostrou níveis significativamente menores de testosterona em uma amostra de dez mulheres com síndrome pré-menstrual (Bloch et al., 1998). Os androgênios promovem o apetite sexual e vêm sendo correlacionados com alterações do humor (depressão e irritabilidade pré-menstrual) e comportamento impulsivo (compulsões). Por outro lado, o aumento da disponibilidade de serotonina (como com o uso de inibidores seletivos da recaptação da serotonina [ISRS]) está associado com a redução da irritabilidade, da depressão, do comportamento impulsivo e da libido. Propõe-se então uma relação inversa entre os androgênios e a atividade sero- toninérgica, o que reforça o possível papel dos primeiros no transtorno, parcialmente mediado pela redução da atividade serotoninérgica (Young et al., 2000). Outro dado de suporte para essa teoria seria a melhora dos sintomas disfóricos com o uso de antagonistas androgênicos para mulheres que apre- sentam altos níveis séricos de testosterona (Rowe et al., 1986; Burnet et al., 1991). Cada vez mais atenção tem sido dedicada ao metabólito da progesterona – alopregnanolona – na determinação da sintomatologia pré-menstrual. Smith et al. (1998) mostraram que níveis reduzidos de alopreganolona causam o aumento da produção da subunidade alfa-4 do receptor GABAa. Tal altera- ção muda a atividade deste para ligantes endógenos, resultando em sintomas associados com a síndrome pré-menstrual. Evidências adicionais também são apreendidas de estudos de eficácia terapêutica. Os ISRS são muito eficazes em redu- zir a sintomatologia pré-menstrual, o que evidencia possível alteração nos receptores 5HT-1A nas mulheres com disforia pré-menstrual (Steiner et al., 2000). Estudos indicam a possi- bilidade terapêutica do uso intermitente dos ISRS, sendo essa modalidade tão eficaz quanto o uso contínuo da droga (Steiner et al., 2000). A sua utilização apenas na fase lútea do ciclo menstrual não permitiria os efeitos tardios do medicamento, como as alterações da expressão gênica e as conseqüentes mu- danças na expressão de neurorreceptores. Esses dados indicam um fator etiológico diferenciado daquele proposto para a depressão maior. Nas alterações do humor próprias do ciclo menstrual, o papel da concentração sináptica de serotonina parece ser mais importante. O atual consenso é de que mulheres com o transtorno disfórico pré-menstrual apresentariam uma sub ou supersensi- bilidade comportamental e bioquímica a alterações biológicas do sistema serotoninérgico (Steiner et al., 2003). Esse sistema está em relação íntima e recíproca com os hormônios gonadais e vem sendo apontado como o mais plausível alvo de inter- venção terapêutica. Gravidez e puerpério Durante a lactação, o ciclo reprodutivo é interrompido pela redução da estimulação pituitária do GnRH, que causa a supressão da secreção de LH e FSH. Essa diminuição da ati- vidade do sistema GnRH não está bem estabelecida, podendo estar relacionada com diversas alterações neuroendócrinas e com a possível ação inibitória da prolactina. Tais variações hormonais podem estar envolvidas no de- senvolvimento dos transtornos do humor nessa fase do ciclo reprodutivo (Steiner, 1998). A tristeza pós-parto é considerada a mais leve e mais freqüente alteração do tipo. Sua prevalência varia de 26% a 85%, dependendo do critério diagnóstico uti- lizado (Stein et al., 1981). Os sintomas, que incluem disforia, labilidade afetiva, choro fácil, ansiedade, insônia e hiporexia, geralmente começam uma semana após o parto, atingindo um pico em cinco dias e resolvendo-se espontaneamente em 12 dias. O transtorno do humor que caracteriza a tristeza pós- parto é transitório e insuficiente para causar prejuízo funcional (O’Hara et al., 1991). Porém, em alguns casos, a situação pode persistir, levando a uma condição mais séria: a depressão pós- parto (Cox et al., 1993). Entre 10% e 15% das mulheres desenvolvem sintomas depressivos na primeira semana após o parto (Caothers et al., 1990; Pop et al., 1993), sendo que a grande maioria se resolve espontaneamente em três a seis meses (Cox et al., 1993; Cooper et al., 1995). A psicose pós-parto é muito mais rara e grave que as outras duas condições descritas anteriormente. Sua prevalência é de um para cada 500 a mil nascimentos, e seu início é rápido, em poucos dias, ou até duas semanas após o parto (Brockington et al., 1982). Acredita-se que essa seja uma forma de apresentação do transtorno bipolar. Nos casos mais graves é alto o risco de suicídio e infanticídio (Millis et al., 1992). Nos animais, o comportamento maternal é mediado por alterações hormonais e neuroquímicas associadas à reprodução (Rosenblatt et al., 1988). Sugere-se que cada neuromodulador teria ação setorizada no comportamento maternal (Keverne et al., 1994). A fase de pico da tristeza pós-parto, por volta do quinto dia, coincide com a extrema flutuação hormonal própria do André B. Veras; Antonio E. Nardi J.bras.psiquiatr. • Vol. 54 • Nº 1 • 2005 63 puerpério imediato. Tais hormônios agiriam em uma variedade de sítios límbicos no SNC, localização sabidamente envolvida na resposta emocional. Um estudo encontrou fraca, porém significativa, relação entre o desenvolvimento da tristeza pós- parto e a queda mais rápida dos níveis de progesterona (Harris et al., 1994), o que não foi replicado em outro (Heidrich et al., 1994). Similarmente, o aumento do cortisol plasmático correlacionou-se com a tristeza e a depressão pós-parto em um trabalho (Okano et al., 1992), mas não em outros (O’Hara et al., 1991; Smith et al., 1990). Resultados preliminares sugerem que a atividade das células natural-killer é menor em puérperas disfóricas e que estaria ligada aos altos níveis de cortisol (Pedersen et al., 1993). Em contrapartida, resultados negativos ou falso-positivos para o teste de supressão com dexametasona não se correlacionam com alterações do humor, indicandoque o eixo HHA está fisiologicamente hiperativo no puerpério e que medições desse eixo, visando indicadores para depressão, são provavelmente inválidas nessa fase do ciclo reprodutivo (O’Hara et al., 1991; Smith et al., 1990; Steiner et al., 1986). Mães eutímicas com maiores níveis de cortisol exibem tendência a uma maior aproximação do recém-nascido. Nenhum dos demais hormônios pesquisados (estradiol, progesterona, testosterona e hormônio tireoidiano) apresentou correlação com qualquer comportamento maternal (Fleming et al., 1995). Esses resultados não sugerem que o cortisol induz diretamente comportamentos maternais, mas que esse hormônio facilitaria atitudes que seriam a expressão das emoções (Young et al., 2000). Vem sendo sugerido que alterações tireoidianas transitórias após o parto estariam associadas com depressão pós-parto (Pederson et al.,1993). Em algumas mulheres, a gestação e o puerpério estão ligados a mudanças patológicas na função tireoidiana. Mais especificamente, em algumas puérperas os sintomas depressivos estão relacionados com anticorpos antitireoidianos (Harris et al., 1992). Acredita-se que 1% de todas as puérperas apresentaria transtorno do humor associa- do a alterações tireoidianas transitórias, sendo o tratamento de tal condição parte da estratégia terapêutica (Steiner et al., 2003). Outros hormônios e neuromoduladores também vêm sendo implicados no desenvolvimento dos transtornos do humor no puerpério. Mulheres que apresentam queda mais acentuada de betaendorfina estão mais sujeitas a alterações do humor (Smith et al., 1990). Quedas abruptas dos níveis de estrogênio estão relacionadas com o início agudo da psicose pós-parto (Wieck et al., 1991). Dados preliminares sugerem maior sensibilidade dos receptores de dopamina em pacientes com psicose puerperal (Wieck et al., 1991) e anormalidades nos receptores adrenais alfa-2 na tristeza pós-parto (Best et al., 1988). Alterações na sensibilidade de receptores seroto- ninérgicos foram documentadas em pacientes com depressão puerperal (Hannah et al., 1992), mas não em mulheres com tristeza pós-parto (Katona et al., 1985). Mais recentemente tem se aventado a hipótese de que a depressão puerperal seria causada pela supressão transitória hipotalâmica do CRH (Magiakou et al., 1996). O eixo HHA se torna progressivamente hiperativo durante a gravidez. Isso ocorreria pelo aumento dos níveis circulantes de CRH placentário e pela redução das proteínas séricas, ampliando sua fração livre. Esses fatores, associados aos elevados níveis de estradiol, que também estimulariam o eixo, contribuiriam para a elevação dos níveis de CRH, hormônio adrenocortico- trófico (ACTH) e cortisol (Cizza et al., 1997). Após o parto, a produção placentária de CRH é interrompida e, somando-se ao declínio de estrogênio próprio da fase, faz com que surja um estado prolongado de hipoatividade do eixo HHA. Apesar de fisiológico, foi demonstrado que mulheres com depressão puerperal apresentam um declínio mais intenso e prolongado da atividade do eixo HHA que puérperas sem instabilidade do humor (Magiakou et al., 1996). Após a evidência da regulação direta do estrogênio sobre a expressão gênica do CRH (Vamvakopoulos et al., 1993), não é de se estranhar que o estrogênio seja proposto para o tratamento da depressão pós-parto (Sichel et al., 1995; Gregoire et al., 1996; Ahokas et al., 2001). No único estudo duplo-cego placebo-controlado realizado, um curso de três meses com 200 microgramas/dia de 17-betaestradiol mostrou melhora significativa dos sintomas em puérperas gravemente deprimidas (Gregoire et al., 1996). Similarmente, a progesterona vem sendo usada para o trata- mento da depressão puerperal, mesmo sem estudos controlados (O’Brien et al., 1994). A relação recíproca entre o sistema serotoninérgico e os hormônios gonadais durante a gravidez e o puerpério não foi ainda muito bem estudada. Resultados preliminares de estudos com ratos no pós-parto indicam que os receptores serotoninér- gicos do sistema límbico apresentam correlação negativa com os níveis de progesterona no que diz respeito à sua expressão celular (Glaser et al., 1990). Argumenta-se que a queda dos hormônios gonadais no pós-parto pode causar alterações na cascata serotoninérgica, o que levaria a transtornos do humor Hormônios sexuais femininos e transtornos do humor 64 J.bras.psiquiatr. • Vol. 54 • Nº 1 • 2005 em indivíduos vulneráveis ou geneticamente predispostos (Henderson et al., 1991). Em estudo com puérperas apresentando transtornos do humor, constatou-se prevalência de 71% de transtornos psi- quiátricos passados ou presentes entre seus parentes de primeiro grau. Histórias de transtorno depressivo e alcoolismo foram encontrados em 48% e 30%, respectivamente, entre os fami- liares da amostra (Steiner et al., 1999). Esses percentuais são bem maiores que entre a população geral, indicando o potencial genético familiar desses transtornos (Steiner et al., 2003). Menopausa A depleção folicular do fim da vida reprodutiva causa uma redução na produção de estrogênio, o que por sua vez diminui o feedback negativo hipotálamo-hipofisário, causando um aumento da secreção de LH e FSH. Essa fase de declínio do eixo reprodutivo não é, portanto, originária da diminuição da estimulação do GnRH pelo hipotálamo (Frohman et al., 1999). A menopausa seria causada pelo esgotamento da pro- dução dos hormônios gonadais propriamente ditos. Nos Estados Unidos, a menopausa se inicia em média aos 51 anos (Stumpf et al., 1994). Comumente sua definição é a ausência de menstruação por 12 meses e um nível de FSH maior do que 25UI/l. Aproximadamente 20% das menopau- sadas realizam terapia de reposição hormonal (TRH) (Andrews et al., 1994). A maioria das mulheres que atingem a menopausa não apresenta sintomas depressivos proeminentes. No entanto uma prevalência maior que a esperada de sintomas depres- sivo-símiles vem sendo observada em mulheres peri ou pós- menopausadas atendidas na clínica ginecológica (Schmidt et al., 1991). Estudos clínicos têm demonstrado que a prevalência de queixas físicas e psíquicas é maior nos três a quatro anos antes da interrupção total da menstruação, ou seja, na perimenopausa (Stewart et al., 1992). Stewart e Boydell (1993), comparando mulheres na menopausa com e sem alterações do humor, evidenciaram uma correlação entre os sintomas psíquicos presentes e história de depressão, uso de antidepressivos, síndrome pré-menstrual e depressão pós-parto. Hay et al. (1994), analisando uma amostra de mulheres na menopausa com sintomatologia depressiva, evidenciaram que 83% tinham história prévia de depressão e que apenas 35% apresentaram seu primeiro episódio durante a perimenopausa. Portanto, para aquelas com história prévia de transtornos do humor, a menopausa e a perimenopausa podem ser um momento de elevação do risco de expressão de um episódio depressivo. Algumas diferenças culturais chamam a atenção. As japo- nesas apresentam poucos sintomas físicos ou emocionais na perimenopausa. Especula-se que tais achados indiquem não só diferenças culturais e demográficas, mas também reflitam sobre a influência biológica, genética e nutricional na última fase do ciclo reprodutivo (Nagata et al., 1998). Os sintomas do humor mais prevalentes durante a peri- menopausa são irritabilidade, desesperança, ansiedade, humor lábil ou deprimido, desmotivação, dificuldade de concentração e sono interrompido durante a noite. Esses sintomas estão liga- dos a flutuações esperadas do estradiol, especialmente quando ocorre queda abrupta eerrática a partir de níveis elevados do hormônio se comparada com situações em que o declínio é lento e gradual (Prior, 1998). O estrogênio tem efeito direto sobre o SNC em áreas que não têm ação sobre o ciclo reprodutivo. Por exemplo, ele tem um efeito trófico sobre neurônios colinérgicos e estimula sig- nificativamente a expressão de receptores serotoninérgicos do tipo 2A em áreas que regulam tanto o humor como a cognição. Então, não é de se estranhar o fato de a reposição estrogênica provocar sensação de bem-estar mesmo em mulheres menopau- sadas não-deprimidas (Ditkoff et al., 1991). A capacidade de o estrogênio agir como um modulador agonista serotoninérgico dá-se não só pela maior expressão de receptores 5HT-2A como pelo aumento da síntese de serotonina, da resposta da prolactina aos agonistas serotoninérgicos e da degradação da monoamino oxidase e pela redução dos sítios ligantes 5HT-1 e do ácido ribonucleico mensageiro (RNAm) transportador de serotonina. Todas essas ações possuem efeito antidepressivo- símile (Pecins-Thompson et al., 1998). Estudos preliminares indicam os efeitos benéficos da terapia combinada com ISRS e TRH em pacientes deprimidas pós-menopausa (Schneider et al., 1997). Dados preliminares também indicam a eficácia da monoterapia com o 17-betaestradiol transdérmico para episódios depressivos maiores e menores durante a perimeno- pausa (Soares et al., 2001). A maioria dos estudos clínicos tem evidenciado melhora do humor e da sensação de bem-estar em mulheres menopausadas que realizam reposição estrogênica. O estrogênio conjugado nas doses de 0,625mg e 1,25mg foi superior ao placebo em reduzir a pontuação da escala de Beck para depressão. Em mulheres cuja escala indicava depressão clínica, o hormônio teve um papel menos relevante (Ditkoff André B. Veras; Antonio E. Nardi J.bras.psiquiatr. • Vol. 54 • Nº 1 • 2005 65 et al., 1991). Wiklund et al. randomizaram 223 mulheres na menopausa, formando um grupo que recebeu placebo e outro que recebeu estrogênio. Eles observaram que a melhora na qualidade de vida foi superior naquelas recebendo o hormônio (Wiklund et al., 1993). Embora Klaiber et al. tenham reportado que a potencialização antidepressiva com estrogênio foi eficaz em seu estudo, é necessária a reprodução desse dado (Klaiber et al., 1979). Até o momento, parece que apenas mulheres não-deprimidas ou com depressão leve se beneficiariam da reposição de estrogênio, com subseqüentes melhora do humor e sensação de bem-estar. A progesterona, outro hormônio reduzido na menopausa, que no passado era vinculada a ações antidepressivas, pode não apenas causar depressão como reverter a ação do estrogênio induzida pelo aumento da expressão de receptores serotoni- nérgicos. Progestágenos também apresentam propriedades anestésicas potentes e de excitabilidade cerebral, assim como aumentam a concentração da monoamina oxidase, enzima que cataboliza a serotonina (Sherwin, 199a). Alguns estudos sugerem que o componente de progesterona da reposição hor- monal combinada causaria depressão (Sherwin, 1991). Outros trabalhos propõem que o aumento do componente estrogênico melhoraria tal problema. Porém Prior et al. compararam o acetato de medroxiprogesterona com o placebo em mulheres na menopausa não recebendo estrogênio, não encontrando aumento da disforia em nenhum dos dois grupos (Prior et al., 1994). Sherwin estudou os efeitos da adição de testosterona às preparações de estrogênio. Ela parece acrescentar uma me- lhora do humor e da função sexual aos efeitos do estrogênio (Sherwin, 1991). Os aspectos da função sexual que melhoram são o interesse, o desejo e a atividade. Portanto adicionar um androgênio à combinação de estrogênio e progesterona pode vir a ser alvo de discussão futura. Uma avaliação clínica se faz necessária quando mulheres na menopausa desenvolvem sintomas psíquicos, especialmente quando se trata de um episódio depressivo (Stone et al., 1994). Não se deve pensar que uma mulher está deprimida por estar na menopausa. O climatério não está associado com maior incidência de depressão. Trata-se, no entanto, de um período em que o episódio depressivo pode se manifestar naquelas que já apresentaram algum transtorno do humor. Caso não haja contra-indicações, os sintomas vasomotores sejam proeminen- tes e a disforia não seja tão grave, a TRH pode constituir um tratamento de primeira linha para alguns quadros do humor (Pearlstein, 1995). OBSERVAÇÕES FINAIS O papel dos hormônios sexuais femininos como agentes contribuintes no desenvolvimento dos transtornos do humor parece irrefutável quando se analisa o fato da maior incidência destes nas mulheres após a menarca. Até esta fase, a incidência é igual em ambos os sexos ou discretamente maior entre os meninos. Corroborando esse dado está o retorno da igualdade de incidências entre os dois sexos após a menopausa. No início da idade reprodutiva, a mulher começa a produ- zir seus hormônios gonadais e adquire uma das maiores parti- cularidades do seu ciclo reprodutivo: a periodicidade. Isso e o início de alterações hormonais bruscas parecem contribuir para o desenvolvimento dos transtornos do humor. Assim como os hormônios sexuais influem no estado psíquico das adolescentes, através da modulação do sistema serotoninérgico, o contrário também ocorre. São observadas alterações hormonais, levando à amenorréia em casos mais graves, em situações de estresse físico, metabólico e psíquico próprias da fase de início do ciclo reprodutivo. Questões ambientais também podem influenciar o início da fase reprodutiva, como a luminosidade e a cultura na qual o indivíduo está inserido. Fica clara então a multipli- cidade de fatores aos quais a mulher tem que rapidamente se adaptar no início da menarca. Após a fase turbulenta do início do ciclo reprodutivo, a mu- lher mantém seu comportamento cíclico. Apesar de quase todas apresentarem essa característica, apenas uma pequena parcela desenvolve depressão. A implicação de múltiplos fatores pode estar presente (genético, comportamental, ambiental etc.). O estrogênio e sua interação com o sistema HHA vêm sendo recentemente incluídos entre esses pontos, mas as evidências são inconsistentes, sendo necessários maiores estudos. A disforia pré-menstrual se caracteriza por ser um trans- torno do humor que ocorre na fase lútea tardia do ciclo reprodutivo. Nenhuma alteração hormonal consistente foi encontrada entre a população que apresenta esse transtorno quando comparada com indivíduos normais. Especula-se que os hormônios sexuais femininos e os androgênios teriam um papel central. Através de estudos de eficácia terapêutica levanta- se a hipótese de que os sintomas psíquicos seriam causados pela desregularidade do sistema serotoninérgico. O desequilíbrio seria explicado pela modulação desse sistema pelos hormônios sexuais já citados. Outros transtornos do humor particulares da mulher são os ligados ao parto. A tristeza e a depressão pós-parto Hormônios sexuais femininos e transtornos do humor 66 J.bras.psiquiatr. • Vol. 54 • Nº 1 • 2005 costumam se desenvolver na primeira semana do puer- pério e remitir espontaneamente em três a seis meses na maioria dos casos. Uma gama de alterações hormonais e, possivelmente, de neurotransmissores ocorre no puerpério. Várias substâncias foram implicadas no desenvolvimento das alterações psíquicas desta fase. No entanto atualmente não pode ser encontrada nenhuma teoria unificadora nem tampouco utilidade prática dos achados existentes para aplicação na prática clínica. No final da idade reprodutiva,quando ocorre a menopausa, a mulher interrompe sua produção de hormônios gonadais (estrogênio e progesterona). O que se observa nessa etapa, e que vem sendo demonstrado em estudos clínicos, é uma ten- dência maior de as mulheres com história de algum transtorno do humor durante a vida apresentarem sintomas psíquicos. Poucas alterações do tipo começam nessa faixa de vida. Para sintomas depressivos leves, a TRH vem sendo indicada como terapêutica inicial isolada. O uso de antidepressivos ISRS pode mostrar maiores benefícios quando potencializado pela reposição combinada de estrogênio. A inclusão de androgênios na TRH pode mostrar benefícios em relação aos sintomas psíquicos da menopausa. Casson P, Hahn PM, Van Vugt DA, Reid RL. Lasting response of ovariectomy in severe intractable premenstrual syndrome. Am J Obstet Gynecol,162: 99-105, 1990. Cizza G, Gold PW, Chrousos GP. High dose transdermal estrogen, corticotrophin-releasing hormone, and postnatal depression. J Clin Endocrinol Metab,82: 704, 1997. Cooper PJ, Murray L. Course and recurrence of postnatal depression. 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