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UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul DEAd – Departamento de Estudos da Administração Curso de Administração ESTUDOS SOBRE O COOPERATIVISMO NO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, DE 2004 A 2010 Documento Sistematizador do TCC Pedro Luís Büttenbender Professor Orientador: Luciano Zamberlan Santa Rosa (RS), junho de 2011. SUMÁRIO LISTA DE ILUSTRAÇÕES ..........................................................................................4 RESUMO.....................................................................................................................6 INTRODUÇÃO ............................................................................................................7 1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO....................................................................10 1.1 Tema e Questão de Estudo.........................................................................10 1.2 Definição dos objetivos................................................................................11 1.2.1 Objetivo Geral .......................................................................................11 1.2.2 Objetivos Específicos ............................................................................12 1.4Justificativa ....................................................................................................12 2 ANTECEDENTES NA LITERATURA .....................................................................15 2.1 O cooperativismo e seus antecedentes......................................................16 2.1 As Reduções Jesuíticas como experiência de originária .........................16 2.2 O Modelo caboclo na região ........................................................................18 2.3 A colonização com os imigrantes europeus ..............................................20 2.4 Modernização da agricultura e o cooperativismo......................................25 2.5 Estudos sobre desenvolvimento regional e o cooperativismo ...............28 3 METODOLOGIA.....................................................................................................37 3.1 Classificação do Estudo...............................................................................37 3.2 Coleta de Dados............................................................................................40 3.3 Análise e Interpretação de Dados ...............................................................41 4 ESTUDOS SOBRE O COOPERATIVISMO NO NOROESTE GAÚCHO NO PERÍODO DE 2004 A 2010.......................................................................................44 4.1 Estudos recentes de conclusão do curso de pós-graduação em gestão de cooperativas da Unijuí. .....................................................................44 4.2 Outros estudos recentes sobre o Cooperativismo na Região Noroeste. .............................................................................................................55 4.2.1 Publicações em livros sobre cooperativismo na região.........................55 4.2.2 Publicações em Artigos sobre Cooperativismo .....................................57 4.2.3 Dissertações de Mestrado sobre cooperativismo.................................59 4.2.4 Monografias de Pós-graduação (Especialização) .................................61 4.2.5 Trabalhos de Conclusão de Curso (Graduação)...................................64 4.2.6 Outros estudos sobre cooperativismo no noroeste gaúcho ..................68 4.3 Considerações acerca dos Estudos mapeados.........................................70 4.4 Temas de pesquisa para o fortalecimento do cooperativismo e desenvolvimento da região................................................................................74 CONCLUSÃO............................................................................................................78 3 BIBLIOGRAFIA .........................................................................................................80 ANEXO – Mapa ilustrativo da Região Noroeste (RF7) inserida no estado do Rio Grande do Sul. ..........................................................................................................91 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Lista de quadros Quadro 01 - Relação de Títulos dos Trabalhos de Conclusão do Curso de Pós- graduação Lato Sensu em Gestão de Cooperativas da Unijuí, e respectivos pós- graduandos, professores orientadores e professores examinadores. Campus Ijuí. Quinta Edição (2008-2010) ........................................................................................ 46 Quadro 02 - Relação de Títulos dos Trabalhos de Conclusão do Curso de Pós- graduação Lato Sensu em Gestão de Cooperativas da Unijuí, e respectivos pós- graduandos, professores orientadores e professores examinadores. Campus Santa Rosa. Quarta Edição (2007-2009). .................................................................. 48 Quadro 03 - Relação de Títulos dos Trabalhos de Conclusão do Curso de Pós- graduação Lato Sensu em Gestão de Cooperativas da Unijuí, e respectivos pós- graduandos, professores orientadores e professores examinadores. Campus Santa Rosa e São Borja/RS. Terceira Edição (2006-2008). ...................................... 51 Quadro 04 - Relação de Títulos dos Trabalhos de Conclusão do Curso de Pós- graduação Lato Sensu em Gestão de Cooperativas da Unijuí, e respectivos pós- graduandos, professores orientadores e professores examinadores. Campus Santa Rosa. Primeira Edição (2004-2006). ................................................................ 52 Quadro 05 - Relação de Estudos sobre cooperativismo e catalogados em forma de Livro na Biblioteca da Unijuí, no período de 2004 a 2010. .................................... 55 Quadro 06 - Relação de Estudos sobre cooperativismo e catalogados em formato de artigo na Biblioteca da Unijuí, no período de 2004 a 2010....................... 57 Quadro 07 - Relação de Estudos sobre cooperativismo e catalogados em forma de Dissertação de Mestrado na Biblioteca da Unijuí, no período de 2004 a 2010. .... 59 Quadro 08 - Relação de Estudos sobre cooperativismo e catalogados em forma de Monografia de Pós-Graduação (Especialização) na Biblioteca da Unijuí, no período de 2004 a 2010. ............................................................................................ 61 5 Quadro 09 - Relação de Estudos sobre cooperativismo e catalogados em forma de Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação na Biblioteca da Unijuí, no período de 2004 a 2010. ............................................................................................ 64 Lista de Gráficos Gráfico 01 – Distribuição de Estudantes Matriculados, Monografias concluídas e Pós-Graduados do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Gestão de Cooperativas da Unijuí, nas edições de 2004 a 2010. ............................................... 54 Gráfico 02 – Distribuição do número de Estudos sobre o cooperativismo na Região Noroeste do RS, por ano, considerando o período de 2004 a 2010. ............. 72 Gráfico 03 – Distribuição de Estudos sobre o cooperativismo, por tipologia, na Região Noroeste do RS, considerando o período de 2004 a 2010. ........................... 73 Gráfico 04 – Distribuição das Tipologias dos Estudos sobre o cooperativismo na Região Noroeste do RS, por ano, considerando o período de 2004 a 2010. ............. 74 RESUMO O presente documento sistematiza a pesquisa a cerca dos estudos sobre o cooperativismo no noroeste do estado do Rio Grande do Sul, de 2004 A 2010. O cooperativismo tem crescido e incorporado novas dinâmicas de organização,funcionamento e operação. Esta evolução tem requerido novas competências humanas, econômicas e tecnológicas para garantir a operação em mercados cada vez mais exigentes. Tem resultado no aumento dos impactos do cooperativismo sobre o desenvolvimento das regiões, o que por conseqüência tem gerado e requerido novos temas de pesquisa e de estudos por parte das universidades e seus pesquisadores, bem como, dos próprios membros das cooperativas. Portanto, os objetivos do presente trabalho concentram-se em mapear estudos no período de 2004 a 2010 sobre o cooperativismo, direcionados prioritariamente a Região Noroeste do Rio Grande do Sul, analisando e propondo temas emergentes de pesquisa visando contribuir com o fortalecimento das cooperativas e do desenvolvimento regional. Os objetivos específicos são: contextualizar o cooperativismo no contexto da Região Noroeste do Rio Grande do Sul, aportado em seus antecedentes; mapear estudos recentes sobre o cooperativismo, período de 2004 a 2010, observando a Região Noroeste do RS; analisar e relacionar estes estudos a temas e eventos na área do cooperativismo; e propor temas emergentes de pesquisa, visando o fortalecimento das cooperativas e do desenvolvimento regional. A atuação da universidade e professores pesquisadores voltados ao cooperativismo, justificam a relevância, oportunidade e importância desta pesquisa, contribuindo com a interação e intercooperação entre a universidade e as cooperativas e das cooperativas entre si. A metodologia fundamenta-se em pesquisa exploratória e descritiva, com características de estudo de caso, pesquisa participante e relato de experiêcia. Quanto aos meios é bibliográfica, documental e de observação direta. A coleta dos dados foi efetuada com base nos registros institucionais da universidade, da biblioteca e dos arquivos disponíveis nas cooperativas e na internet. Os dados foram sistematizados cronologicamente e por tipologia de estudo, observando-se livros, artigos, dissertações, monografias e trabalhos de conclusão de curso. A partir da sistematização, foram gerados e propostos temas de referencia para futuros novos estudos na área do cooperativismo, visando o seu fortalecimento e a promoção do desenvolvimento regional.Apesar do significativo número de estudos realizados, publicações efetuadas, ainda são limitadas as pesquisas e suas efetivas contribuições para o fortalecimento empírico das cooperativas. Pesquisas, juntamente com temas, articulados de forma conjunta entre a universidade, seus pesquisadores, órgãos de fomento e as próprias cooperativas, porão contribuir de forma mais intensa com o fortalecimento do cooperativismo, agregando valor aos seus membros e impactando de forma mais intensa e positiva no desenvolvimento da região, do estado e da própria sociedade. Palavras-chave: Cooperativismo, gestão de cooperativas, região noroeste, desenvolvimento. INTRODUÇÃO As tendências mundiais que permeiam o processo de globalização da sociedade exigem novas formas e alternativas de organização da sociedade. A realidade do trabalho e seus vínculos com os aspectos sociais, políticos, econômicos e educativos também apresentam novas perspectivas, potencialidades e desafios, que necessitam da participação efetiva das pessoas na busca de alternativas economicamente viáveis, tecnicamente exeqüíveis, socialmente desejáveis e justas, eticamente corretas e ambientalmente sustentáveis. O cooperativismo vem se firmando cada vez mais como um movimento de múltiplas dimensões, que se projeta nas dimensões econômica, sócio-política e cultural da sociedade. Enquanto estratégia e modelo de organização, inserido no contexto e complexidade do mundo moderno, o cooperativismo é também sensível aos novos desafios, requer novas aprendizagens, novas capacidades e competências organizativas para responder aos seus propósitos e objetivos. Neste ambiente vem crescendo a importância e pertinácia de estudar e pesquisar o cooperativismo, a partir de sua trajetória histórica, pressupostos doutrinários e experiências empíricas passadas e atuais. O movimento cooperativista, segundo a Organização das Cooperativas do Brasil (OCB, 2010) conta com mais de 7.200 cooperativas, com mais de 8,2 milhões de associados, 270 mil funcionários e um faturamento de 88,5 bilhões de reais em 2009. As cooperativas filiadas à OCB são classificadas em 13 ramos: Agropecuário, Consumo, Crédito, Educacional, Especial, Habitacional, Infra-estrutura, Mineral, Produção, Saúde, Trabalho, Transporte, Turismo e Lazer. O cooperativismo no Brasil e no mundo é gerido á luz de sete princípios básicos: 1. Princípio de adesão livre e voluntária; 2. Princípio de controle democrático pelos sócios; 3. Princípio da participação econômica dos sócios; 4. Princípio da independência e autonomia das cooperativas; 5. Princípio da educação, treinamento e formação; 6. Princípio da cooperação entre cooperativas; e 7. Princípio da preocupação com a comunidade(OCB, 2010). 8 Este estudo contribui também com o propósito maior de aportar a oferta sistematizada de literaturas, e referências bibliográficas para a pesquisa. Reconhece-se aqui, a escassa literatura existente sobre o tema do cooperativismo, da gestão cooperativa e limitada divulgação pública dos estudos e pesquisas realizadas sobre estes temas. Os objetivos deste capítulo concentram-se em contribuir com a qualificação contínua da gestão cooperativa e das suas práticas cotidianas. Para tanto, visa trazer alguns fundamentos que estão motivando estudos e pesquisas voltadas a área do cooperativismo, identificando e relacionando os temas que vem sendo estudados. Os estudos que serão aqui relacionados consistem nos trabalhos de conclusão de curso, em nível de monografias e são orientados pela proposta político-pedagógica do Curso de Pós-graduação em Gestão de Cooperativas, oferecido pela Unijuí, através dos Departamentos de Estudos da Administração e de Economia e Contabilidade. Em termos e procedimentos metodológicos, este estudo se caracteriza como um estudo exploratório, quanto aos fins, com base nas referencias bibliográficas e documentais, quanto aos meios. O estudo também contempla o relato de experiências acumuladas pelo autor, considerando a sua inserção pessoal e profissional no campo de pesquisa. A coleta de dados foi realizada no último trimestre de 2010 e primeiro trimestre de 2011, referenciada na revisão das bibliografias sobre os antecedentes de pesquisa sobre o cooperativismo e pelo mapeamento dos Trabalhos de Conclusão de Curso – TCC´s, finalizados em cada uma das edições do curso aqui relacionadas, no período de 2006 à 2010, bem como, estudos e publicações catalogadas na Biblioteca da Unijuí no período de 2004 a 2010, envolvendo livros, artigos, dissertações, monografias e trabalhos de conclusão de curso de graduação. A revisão bibliográfica contou com a referência direta também as produções e anais dos eventos: 1° Encontro Brasileiro de Pesquisadores em Cooperativismo (Brasília/DF, 09.09.2010), o 13° Congresso Brasileiro de Cooperativismo (Brasília/DF 10 e 11.09.2010), e o VI Encuentro de Investigadores Latinoamericano de Cooperativismo – VI EILC, realizado de 13 a 15/10/2010, na Universidad Nacional de Asunción, Assunção, Paraguai. Este trabalho está estruturado em quatro partes. Na primeira é exposta a contextualização do estudo, contemplando o tema e a questão de estudo, objetivos 9 e justificativa. Na parte dois conta dos antecedentes na literatura, contemplando o cooperativismo e seus antecedentes, as Reduções Jesuíticas como experiência de originária, o modelo caboclo na região, a colonização com os imigrantes europeus, a modernização da agricultura e o cooperativismo e a referencia de estudos sobre desenvolvimento regional e o cooperativismo. Na partetrês é detalhada a metodologia com a classificação do estudo, a coleta, sistematização e análise dos dados. Na parte quadro são apresentados os estudos sobre o cooperativismo no noroeste gaúcho no período de 2004 a 2010, finalizando com a proposta de temas de pesquisa para o fortalecimento do cooperativismo e da região. Por fim, são detalhadas as conclusões do estudo, as referencias bibliográficas e o anexo. 1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO Neste capítulo serão apresentados o tema da pesquisa e a sua respectiva delimitação dentro do contexto a ser pesquisado. Compõem também a contextualização do estudo, contemplando as referencias dos estudos sobre o cooperativismo a partir formulação do problema de estudo. São agregados o objetivo geral e seus respectivos específicos, seguidos da justificativa da pesquisa. 1.1 Tema e Questão de Estudo Os avanços e transformações nas organizações e na sociedade têm envolvido a todos indistintamente. A busca de novas relações entre as pessoas e as organizações, tem gerado inovadoras abordagens de pesquisa e das ciências e da compreensão sobre as razões de sua existência. As pessoas e as organizações acumulam novas competências, como resultado da capacidade de aprender e transferir os conhecimentos explícitos do nível individual para o grupal, e destes para o organizacional. Adicionalmente, pela capacidade de transformar os conhecimentos adquiridos em novos produtos, bens e serviços. A cooperação entre as pessoas e entre as organizações, além de ambas entre si, é fortalecida como estratégia de valorização humana e participação na sociedade, ampliando as capacidades humanas para se relacionar melhor e enfrentar os desafios da vida que os rodeiam. A cooperação contribui para o desenvolvimento das competências individuais e organizacionais, sustentando a perenidade das firmas e a perpetuação do trabalho e dos negócios. Os arranjos produtivos, a articulação das cadeias produtivas e a constituição de clusters, se constituem em estratégias diferenciadas das organizações de diferentes tamanhos para melhor operar em mercados nacionais e internacionais. O foco concentra-se em fortalecer as pessoas e as organizações para ampliar seus aportes na direção do desenvolvimento e melhoria da qualidade de vida de todos que os cercam. As organizações cooperativas têm desenvolvido e adotado novas estratégias e incorporado novas competências para atuar em ambientes de competitividade 11 crescente. O foco direciona-se para as capacidades internas e externas, abrangendo a amplitude das empresas e de seus entornos. As novas práticas estão gerando estratégias, arquiteturas e alianças inovadoras, integração vertical e horizontal, alinhando objetivos e negócios, formatando redes de cooperação e abrangendo variáveis internas das organizações, bem como, entre elas. As cooperativas diferenciam-se das organizações (empresas) tradicionais porque são criadas com o propósito de satisfazer às necessidades de seus associados. As pessoas que optam pelo cooperativismo o fazem pela solidariedade, a transparência, a democracia, a eqüidade e a promoção da justiça social. As prioridades e estratégias de investimento em pesquisa, educação e desenvolvimento ampliam as capacidades básicas das cooperativas e de seus membros, gerando inovações nas funções tecnológicas de processos e organização da produção, de produtos e de equipamentos. A acumulação de novas competências humanas e tecnológicas resulta da capacidade de adquirir e incorporar novos conhecimentos. Os processos de aprendizagem caracterizam-se pela variedade, intensidade, funcionamento e interação dos mesmos, na aquisição interna e externa de novos conhecimentos. Os processos de aprendizagem integram as estratégias diferenciadoras das organizações em uma determinada região. A região delimitada para o estudo consiste da Região Noroeste do estado do RS (Anexo). Portando o presente estudo é motivado pela inquietude da sua questão central de estudo, ou seja: quais são os estudos no período de 2004 a 2010 e os temas emergentes de pesquisa sobre o cooperativismo e suas abordagens, direcionados prioritariamente a Região Noroeste do Rio Grande do Sul, visando contribuir com o fortalecimento das cooperativas e do desenvolvimento regional? 1.2 Definição dos objetivos 1.2.1 Objetivo Geral Mapear estudos no período de 2004 a 2010 sobre o cooperativismo, direcionados prioritariamente a Região Noroeste do Rio Grande do Sul. . 12 1.2.2 Objetivos Específicos a) Contextualizar o cooperativismo no contexto da Região Noroeste do Rio Grande do Sul, aportado em seus antecedentes. b) Mapear estudos recentes sobre o cooperativismo, período de 2004 a 2010, observando a Região Noroeste do RS. c) Analisar e relacionar estes estudos a temas na área do cooperativismo. d) Propor temas emergentes de pesquisa, visando o fortalecimento das cooperativas e do desenvolvimento regional. 1.4Justificativa O mundo vem experimentando e vivenciando profundas transformações, e ue as sociedades regionais passam a estabelecer relações mais amplas e globalizadas, o liberalismo de mercado passa a se expressar diretamente pela competitividade e o triunfo de novas relações entre os indivíduos e suas organizações. A região passa a contemplar e promover novas formas de organização. No processo de exaustão dos modelos tradicionais de sociedade, as pessoas através das diversas maneiras de organização passam a buscar novas formas de definições para a organização do trabalho e da geração de renda. Este contexto está gerando mudanças e atribuindo novos papéis para as instituições, sejam eles de cunho social, políticos, culturais ou econômicos. Por extensão, isto também se atribui para o Estado e, por conseguinte, para as sociedades expressas através dos seus governos, nos diversos níveis. O terceiro setor se agrega aos demais e passa a apresentar formas de organização da sociedade e da construção de respostas para as necessidades de grupos de pessoas. A sociedade, através do tradicional conflito, capital e trabalho, passou a identificar diferentes formas de organização das pessoas e do seu trabalho. O Cooperativismo tem se apresentado, na sociedade pós-moderna, como uma das formas mais inovadoras de organização do trabalho e da distribuição mais igualitária do poder e da renda. Surgido formalmente na segunda metade do século passado, 13 auge da Revolução Industrial, o cooperativismo tem assumido formas e papeis cada vez mais importantes no desenvolvimento da sociedade. Estes papéis estão diretamente ligados a organização das pessoas, onde elas próprias são os agentes do processo de construção da cidadania. Outras vezes o cooperativismo, na sua história, tem sido utilizado como instrumento para a implantação de projetos públicos e ou privados, complementando diferentes papeis no seu contexto. O Cooperativismo, em um contexto geral, está estreitamente vinculado a história do desenvolvimento das diversas regiões, em especial a Região Noroeste do Rio Grande do Sul. Do período do processo de colonização aos dias de hoje, o cooperativismo tem cumprido com papéis extremamente decisivos para a organização produtiva e de serviços, nos diversos setores, em especial o econômico, e nele o agrícola. Esta contribuição no desenvolvimento expressa-se de forma direta ou indireta, estimulando o surgimento de novas formas de organização do trabalho e da produção. A reorganização do cooperativismo na região, enraizado nos valores étnicos e tradicionais, esteve presente prioritariamente nas formas de organização da produção primária, ou seja, nas cooperativas mistas de produção e nas cooperativas de crédito. Mais tarde, novos modelos cooperativos foram se constituindo nos setores urbanos. Incorporamnestes períodos diferentes tamanhos, propostas, projetos de desenvolvimento. Na atualidade as cooperativas estão presentes, de forma organizada, nos diversos setores da nossa sociedade local-regional e global. A partir da última década do século passado, e o início deste, surgem novas maneiras de organização da produção e novas formas e modelos de cooperativas, inclusive com novas nomenclaturas, Isto está presente com o crescente surgimento de novas formas associativas de organização, que conjunta, ou paralelamente, estarão estabelecendo as suas estruturas organizacionais. As novas formas estão mexendo mais diretamente nas relações sociais, e não interagindo somente sobre as atividades de produção. Num segundo momento, de forma articulada e conjunta, em sistemas de rede e de apoio recíproco, estão surgindo novas formas e modelos de organizações associativas, com base nos princípios e fundamentação do cooperativismo. O cooperativismo se fez mais presente de forma crescente nos diversos setores da sociedade, requerendo novas compreensões sobre o seu papel, suas capacidades e limitações, na manutenção e 14 geração de trabalho e renda, na melhoria da qualidade de vida e na promoção do desenvolvimento. O presente estudo resulta da articulação integrada da Universidade, as cooperativas e seus organismos de representação, como por exemplo, a Ocergs- Sescoop/RS. Motivações adicionais para o presente estudo foram geradas de forma articulada entre as diferentes ofertas do Curso de Pós-graduação “Lato Sensu” em gestão de cooperativas e seus trabalhos de conclusão de curso, as relações de cooperação com as cooperativas, abordagens e temas explorados em diferentes eventos nacionais e internacionais sobre o tema, destacando: o 1° Encontro Brasileiro de Pesquisadores em Cooperativismo (Brasília/DF, 09.09.2010), o 13° Congresso Brasileiro de Cooperativismo (Brasília/DF 10 e 11.09.2010), e o VI Encuentro de Investigadores Latinoamericano de Cooperativismo – VI EILC, realizado de 13 a 15/10/2010, na Universidad Nacional de Asunción, Asunción, Paraguay, promovido pela ACI Américas/Conpacoop. 2 ANTECEDENTES NA LITERATURA Este capítulo apresenta referencias conceituais e antecedentes da literatura, norteadoras do estudo e gerando a sustentação conceitual das abordagens exploradas sobre o Cooperativismo. A natureza da cooperação e do cooperativismo está fundamentado em conceitos próprios, descritos em Büttenbender (2008 e 2009). A cooperação definida como método de ação pelo qual indivíduos, famílias ou comunidades, com interesses comuns, constituem um empreendimento. Neste, os direitos de todos são iguais e o resultado alcançado é repartido entre seus integrantes, na proporção de sua participação nas atividades da organização. O cooperativismo é definido (BÜTTENBENDER, 2008) como um movimento internacional que busca constituir uma sociedade justa, livre e fraterna, em bases democráticas, por meio de empreendimentos que atendam às necessidades reais dos cooperantes e remunerem adequadamente a cada um deles. Uma cooperativa (BIALOSKORSKI, 2007) é definida como uma associação autônoma de pessoas que se unem, voluntariamente, para satisfazer aspirações e necessidades econômicas, sociais e culturais comuns, por meio de uma empresa de propriedade coletiva e democraticamente gerida. Conforme definição da Organização das Cooperativas Brasileiras – OCB (OCB, 2010), cooperativa é uma sociedade de, no mínimo, vinte (20) pessoas físicas, com um interesse em comum, economicamente organizada de forma democrática, isto é, com a participação livre e igualitária dos cooperantes, aos quais presta serviços, sem fins lucrativos. Neste contexto de definições, o presente capítulo está organizado nas seguintes seções: o cooperativismo e seus antecedentes; as Reduções Jesuíticas como experiência de originária; o modelo caboclo na região; a colonização com os imigrantes europeus;a modernização da agricultura e o cooperativismo; e os estudos sobre desenvolvimento regional e o cooperativismo. 16 2.1 O cooperativismo e seus antecedentes Novos desafios vêm se apresentando para a comunidade acadêmica e científica. O mesmo, extensivamente, se apresenta para os diversos modelos de organização, destacando-se as organizações cooperativas. O cooperativismo, a partir da sua própria história, sobre a qual existem vários fundamentos e referências e que por vezes são divergentes e conflitantes, clama por aportes e pesquisas mais sistêmicas e de visão mais global. Muitas são as iniciativas com vários pesquisadores e instituições envolvidas. Porém, muitas das pesquisas acadêmicas, e não acadêmicas, são protagonizadas por motivações individuais ou projetos institucionais isolados envolvendo os níveis de graduação e pós-graduação. Esta constatação tem mostrado a importância e a necessidade de maior cooperação entre os diferentes agentes protagonistas nesta área. A história da pesquisa e da produção bibliográfica é ampla e diversa e se confunde com a evolução da própria sociedade. Com sua história oficial recente, reportando a revolução industrial do século 20, o cooperativismo possui aspectos ideológicos, doutrinários e práticas presentes nas mais diversas visões de sociedade e formas de organização social, econômica e cultural ao longo da história. Referências bibliográficas que abordam e elucidam relações do cooperativismo com a história são mundial, brasileira, estadual e regional estão presentes em estudos e publicações efetuados por Bento XVI (2007), Masy (1992), Giddens (2004 e 2005), Schneider (1991), Lauschner (1993), Schallenberger (2009), Mladenatz (2003), Perius (2001, 1997), Pinho (1982 e 2004), Frantz (1985 e 1982), Falkembach (1985), Büttenbender (2010, 2009, 2008, 1995), Christensen (2001), Callai ( 2008), Tesch (2000), Oliveira (2006), Ricardi (2000), entre outros. 2.1 As Reduções Jesuíticas como experiência de originária A área do Rio Grande do Sul que faz fronteira com a Argentina foi ocupada por povos nativos de diferentes tradições antes da chegada dos missionários jesuítas que deram início à experiência missioneira (LAZZAROTTO, 2002). A primeira tentativa de estabelecer reduções nesse território ocorreu entre 1626 e 1640, onde foram fundadas 18 17 reduções em território gaúcho, e seis delas no Noroeste Gaúcho, como relacionadas em (CAVALARI, 2004). A partir de 1682 os jesuítas espanhóis retomaram a experiência reducional no território riograndense dando início à formação dos ‘Sete Povos das Missões’, consolidada em 1706, com a fundação do último deles, Santo Ângelo Custódio. Essa nova experiência inseria-se no conjunto dos ‘Trinta Povos Guaranis’ (LUGON, 1977). A experiência missioneira que se desenvolveu na região gerou um modelo de organização socioeconômica que se diferenciava em muito daquele gestado pela ocupação portuguesa no restante do território gaúcho com base nas estâncias (SCHALLENBERGER e HARTMANN, 1981; ZARTH, 1997). Nas reduções, os jesuítas procuraram respeitar as bases da organização tribal e, aos poucos, foram introduzindo noções da religião cristã, novas técnicas de trabalho e de organização do processo produtivo, novas relações de poder e uma nova cultura (NADAI e NEVES, 1989). Criaram, com isso, uma nova forma de organização social, que, para além das variadas denominações (‘Comunitarismo Cristão’, ‘República Cristã dos Guaranis’, ‘Comunismo Cristão’, ‘Império Teocrático dos Jesuítas’) apresentavam características como: estrutura de produção fundada no uso comum da propriedade e dos meios de produção; uma forma de divisão do trabalho que respeitava as habilidades individuais; a ausência da apropriação e acumulação individual; uma convivência harmônica com a natureza; integração entre as várias dimensões da vida (SCHALLENBERGER e HARTMANN,1981; NADAI e NEVES, 1989; CHRISTENSEN, 2001). Estas características da sociedade missioneira, do século XVII, são identificadas como a gênese da experiência cooperativa na América Latina, e em especial, na região (MASY, 1992). Conformavam a organização social como base nos princípios da solidariedade, do trabalho coletivo, da partilha comunitária e da cooperação. Ao recuperar a história do cooperativismo no Brasil, o Portal do Cooperativismo (OCB, 2010a) reconhece a experiência missioneira como “um estado cooperativo em bases integrais”. Os estudos do Padre Rafael Carbonell de Masy (MASY, 1992), baseados em documentos originais dos jesuítas, aponta 1627 como sendo o ano de fundação da primeira cooperativa, na forma de redução jesuítica, de índios Guaranis, em terras da América do Sul. Constituíram-se trinta comunidades nas reduções onde foram usados princípios de trabalho muito semelhantes aos princípios do cooperativismo reconhecidos e assumidos nos dias atuais. Masy destaca, através dos documentos descobertos, que já 18 nesta época estavam bem definidas algumas práticas cooperativistas, convergente com os princípios originários do cooperativismo: da adesão livre; da gestão democrática; das sobras; da educação; da integração; da indiscriminação; e dos juros módicos. De uma região periférica no inicio do processo de colonização, a região missioneira transformou-se numa área estratégica e numa ‘ameaça política à segurança das monarquias ibéricas’ a tal ponto de constituir-se em pauta das disposições do Tratado de Madri, assinado entre Portugal e Espanha, em 1750. Por esse tratado acertava-se a troca do território missioneiro pela ‘Colônia de Sacramento’ e decretava-se a imediata retirada dos índios e dos jesuítas da região das missões para que Portugal pudesse implantar um novo processo de colonização na região. Como os índios não aceitaram os termos do acordo (saída imediata sem direito a levar nada e sem qualquer indenização), iniciou-se o conflito armado, conhecido como a ‘guerra guaranítica’ que acabou por decretar o fim da experiência missioneira (SANTOS, 1993). 2.2 O Modelo caboclo na região A partir da desagregação da experiência missioneira, a região foi sendo ‘reocupada’, de forma dispersa, pelos índios remanescentes das reduções, por outros povos indígenas que haviam resistido ao aldeamento, por escravos negros e por descendentes de portugueses e espanhóis. Por ser área de fronteira e necessitar de ocupação para garantir a posse do território, o governo português concedia o direito de uso da terra a pessoas que se estabelecessem e garantissem a defesa da área, pouco se interessando em tomar conhecimento sobre o que ocorria em seu domínio. A maior riqueza da região missioneira, nesse período, provinha do extrativismo da erva mate, da madeira, do mel e das essências naturais. A erva mate era o produto que possuía maior mercado consumidor, mobilizava a maior parte da população e gerava os principais conflitos pela posse e exploração do território. A extração da erva ocorria no período do outono e do inverno e era realizada através de expedições controladas por ‘pessoas de posse’ que recebiam autorização das câmaras municipais para realizar a atividade. A atividade era realizada de forma 19 muito simples, utilizando-se do carijo até praticamente o final do século XIX. A partir daí o carijo passou a ser substituído pelo barbaquá. Os caboclos organizam, na região missioneira, uma forma de sociedade onde não havia preocupação direta com a acumulação de riqueza, mas sim com a subsistência da família. Uma vez satisfeitas as necessidades do grupo era possível dedicar-se ao descanso, à convivência com os vizinhos e ao lazer. Não havia preocupação com o título de propriedade da terra, pois se entendia que a mesma era garantida através do uso e da defesa. A Terra era entendida como o espaço de trabalho e de vida, essencial para a afirmação da identidade individual e social. A relação com a natureza era fundada no princípio da convivência harmônica, procurando usufruir das benesses que ela proporcionava, porém sem destruir. As relações de parentesco, compadrio e vizinhança eram a base da vida social e política das comunidades que se formavam (GEHLEN, 1998). O modelo caboclo preserva os princípios da solidariedade e da cooperação presentes no período jesuítico e introduz a idéia de patrimônio familiar, herdada da fazenda latifundiária. A terra representava o principal patrimônio da família ampliada, sem a qual era impossível pensar o processo de subsistência e reprodução (GEHLEN, 1998). Esta visão de patrimônio familiar pode ser relacionada como um ascendente remoto do 3º princípio do cooperativismo no qual se acentua a participação econômica do associado e, de forma especial, a propriedade comum da cooperativa, com responsabilidades compartilhadas na sua manutenção e reprodução. A sociedade cabocla, que se organizou na região após a desagregação das reduções foi motivo de preocupação dos estrategistas do governo Imperial, pois proporcionava pouca estabilidade de ocupação do território na região de fronteira. Com isso passou-se a pensar numa forma alternativa de ocupação e de organização da atividade produtiva. A ocupação da região de fronteira com base na pequena propriedade familiar já havia sido definida desde o Império como a forma mais eficiente de garantir a posse do território para o Brasil e também para criar uma estrutura produtiva capaz de integrar-se, gradativamente, ao contexto das demais atividades produtivas nacionais (BROSE, 2005). 20 2.3 A colonização com os imigrantes europeus Com a Proclamação da República e a promulgação da Constituição Brasileira de 1891, as terras públicas pertencentes à União passaram ao domínio dos estados e estes ficaram responsáveis por sua regularização e ocupação. O governo do estado do Rio Grande do Sul, de inspiração positivista, passou imediatamente a promover a colonização como forma de conter os conflitos pela posse da terra, aumentar a produção agrícola e integrar definitivamente na sociedade rio-grandense os diversos grupos étnicos, fortalecendo o sentimento de amor à pátria e o respeito ao poder estabelecido. Kliemann (1986) aponta como objetivos principais do projeto positivista de gestão do Estado Gaúcho a diversificação econômica, o desenvolvimento dos meios de transporte, a incorporação do proletariado à sociedade, o fortalecimento de uma classe média de proprietários, a proliferação da livre empresa, a acumulação baseada no trabalho livre e assalariado, a introdução de novas técnicas capazes de aumentar a produtividade do trabalho, o incentivo à industrialização, a valorização do preço da terra, a abertura de novos mercados, o crescimento da pequena propriedade (como formas de fixar o homem à terra e imbuí-lo do sentimento patriótico, do amor ao trabalho e do respeito às leis estabelecidas), a criação de créditos e prêmios rurais e a criação de escolas agrícolas, cooperativas e associações de classe. De acordo com os ideais positivistas, a busca da paz social, fundamental para alcançar o progresso econômico através do trabalho produtivo, só seria alcançada pela integração étnica e cultural e pela intervenção de um Estado forte. A expansão do projeto de colonização para a Região Noroeste do Rio Grande do Sul tomou um impulso decisivo com a emancipação de Santo Ângelo (1873), com a conclusão do ramal da via férrea até Cruz Alta (1894) e com a criação das colônias oficiais de oficiais de Ijuí (1890) e Guarani (1891) e da colônia particular de Cerro Azul (1902), que passaram a servir como atrativos para a vinda de imigrantes europeus não-ibéricos ou seus descendentes, neste último caso proveniente das Colônias Velhas (Regiões pioneiras de colonização no Estado do RS) que já sofriamrelativa pressão demográfica. A partir desses primeiros núcleos coloniais foi possível a criação de novas colônias, oficiais (no caso de Santa Rosa, em 1914) e 21 particulares (no caso de Boa Vista, em 1912), que integraram a região ao projeto nacional de fortalecimento de um mercado interno, comprador de produtos industrializados e vendedor de alimentos para abastecer as regiões agro- exportadoras. O processo de colonização produziu um confronto entre a concepção de sociedade, trabalho e reprodução da vida, trazida pelos novos ‘colonizadores’ com a concepção presente em seus anteriores habitantes. O “modelo caboclo” (GEHLEN, 1998) sofreu a oposição do modelo proposto pelos descendentes de europeus não- ibéricos. Estes últimos, quando chegaram à região, trouxeram uma experiência diferente de agricultura familiar, pois incorporava uma concepção de trabalho trazida da Europa e, em parte, adaptada à realidade brasileira nas Colônias Velhas e nas Novas Colônias do Planalto. Essa concepção de trabalho serviu como fundamento para a construção de referenciais não apenas para a agricultura, mas também para as demais atividades econômicas, sociais e culturais. A agricultura familiar, o pequeno comércio e a indústria tradicional afirmam-se como as bases da estrutura de produção e de formação dos grupos sociais no período compreendido entre o início da recolonização da região, sua ascensão econômica a partir da década de 1930 e a crise na década de 1950 (LAMARCHE, 1993). O modelo de sociedade trazido pelos novos colonizadores da região assentava-se na organização de pequenas comunidades, geralmente agrupadas pela descendência étnica e/ou opção religiosa. Tais comunidades viviam, muitas vezes, isoladas e apenas preocupadas com a geração de sua vida, dentro dos padrões herdados dos seus antepassados. As dificuldades enfrentadas em relação ao sistema de transporte, à educação, à saúde e à comunicação, levavam a um fechamento maior ainda e a uma união da pequena comunidade para superar as adversidades. Segundo Schallenberger (1979) os valores cultuados em meio a estas comunidades eram estáveis e sedimentaram-se, substancialmente, em torno da família, da cultura e da religião. A partir do momento em que a sociedade regional se integrou a uma economia de mercado, na década de 1940, os critérios étnico-culturais começaram a ser relativizados para justificar o sucesso pessoal e grupal, dando lugar, gradativamente, a critérios econômico-culturais. A estrutura desigual de posse da 22 terra e a ‘ética do trabalho’ podem ser apontados como elementos fundamentais. A primeira permitiu maior acumulação de capital nas mãos daqueles que conseguiam ter maior volume de produto para colocar no mercado. Esses conseguiam negociar melhores preços, vender e comprar diretamente dos atacadistas e reduzir os custos de transporte, promovendo uma acumulação de capital para futuros investimentos, até mesmo na compra da terra daqueles que possuíam apenas um lote ou menos do que isso. A ‘ética do trabalho’ passou a funcionar como justificação ideológica para explicar a inclusão ou a exclusão social, o sucesso ou insucesso econômico, a riqueza ou a pobreza, a moralidade ou a imoralidade, a valorização ou a marginalização do ser humano. Essa ética do trabalho, que segundo Veiga (1993), impregnou todas as sociedades modernas tem três grandes alicerces: a) quanto mais um indivíduo trabalha, mais ajuda a melhorar a vida da coletividade; b) quem trabalha pouco, ou não trabalha, prejudica a comunidade e não merece respeito; c) quem trabalha direito acaba tendo sucesso e quem não o alcança é por sua própria culpa. Em um universo no qual a religião ocupa um espaço importante na definição da personalidade e do conjunto de valores do indivíduo, a idéia moderna de trabalho foi incorporada e revestida de um significado antropológico e social. Transformou-se em condição para a pessoa tornar-se digna de ter recebido o dom da vida; garantia para a sua reprodução; definidora do sucesso ou não na sociedade e até mesmo requisito para ter saúde e vida longa. A concretização do sonho de uma vida melhor para si e para os filhos passava pelo trabalho como estímulo, razão de viver, condição para a realização individual e comunitária (ROTTA, 1999). Conforme refere Schallemberger (2001), nesta sociedade gerada pelo processo da recolonização, o conteúdo do pensamento social cristão, proveniente das Igrejas Católica e Evangélica, encontrou terreno fértil para o seu enraizamento e para a implantação de experiências pioneiras de associativismo cristão e de desenvolvimento comunitário. A Igreja assumiu papel importante na organização da sociedade, definindo “pastorais sociais, ações educativas e despertando o associativismo cristão na perspectiva de solidificar um espaço de liberdade e de autonomia” (p. 32). A presença das Igrejas manifestou-se em “diferentes estratégias e formas de inserção social que tiveram no associativismo a expressão mais 23 concreta de operacionalização do projeto social cristão e no cooperativismo a face possível de uma organização social presumivelmente autônoma” (p. 32). De acordo com Schallemberger (2001), as experiências de associativismo nascidas no interior da sociedade colonial tiveram como elemento aglutinador a “Liga das Uniões Coloniais e a Sociedade União Popular”, que funcionaram também como instrumentos de organização social para fazer frente à inoperância do Estado, aos desmandos do mesmo, à crescente concentração de renda e a ação de controle da produção exercida pelos grandes grupos econômicos que ditavam os rumos do modelo capitalista agro-exportador dominante no Brasil. A Liga e União promoveram, segundo Schallenberger (2001) a reunião de grande parte dos agricultores em torno de objetivos comuns, aproximando-os de setores comerciais e industrias identificados, do que resultou uma rede de relações urbano-rurais, caracterizada pela intercomplementaridade em termos socioculturais e econômicos. Sob este aspecto, a construção do espaço comunitário no Sul do Brasil, em especial no Rio Grande do Sul, com todas as suas implicações humanas e paisagísticas, teve no associativismo cristão uma basilar alavanca social e na expressão do cooperativismo uma de suas forças e uma possibilidade econômica (SCHALLEMBERGER, 2001, p. 35). A ação da Liga e da União fez-se presente na região através das inúmeras experiências de “caixas rurais” e até mesmo de cooperativas. Schallemberger (1981) registra a existência da “Cooperativa do Matte Missioneiro”, na Colônia Santa Rosa, em período próximo à sua emancipação. Também refere a existência das “Caixas Rurais”, “um tipo de cooperativas de crédito” (p. 123), em alguns municípios da região, na primeira metade do século vinte, afirmando que elas surgiram e floresceram nas áreas em que houve predominância de colonos de descendência alemã. Este modelo de sociedade colonial estabelecido na região Fronteira Noroeste alcançou seu período áureo com o ‘ciclo do suíno’, na década de 1950. Porém, na década seguinte já começam a se esboçar as dificuldades de reprodução da agricultura familiar, do pequeno comércio e da indústria tradicional que davam suporte ao modelo (ROTTA, 1999). O esgotamento das terras novas levou a uma intensificação do uso daquelas áreas próprias para a agricultura existentes na propriedade. A pouca rotatividade 24 dos produtos cultivados, dada a necessidade de alimentar os suínos e produzir o que tinha demanda no mercado, combinada com a ausência de técnicas de preservação e correção do solo ocasionou a queda da produtividade agrícola (KAPPEL,1967), levando a um aumento do custo de produção do suíno e à perda da competitividade em relação a outras regiões do estado (ROTTA, 1999). O aumento da população, e o aumentodo custo de reprodução da unidade familiar em função das novas necessidades de habitação, vestuário, alimentação, educação e saúde, combinados com a queda na lucratividade da produção de suínos, ameaçavam a reprodução da unidade familiar agrícola. As atividades urbanas dependiam, em grande parte, do desempenho das atividades agrícolas e não representavam uma alternativa capaz de absorver a mão-de-obra excedente na agricultura. A falta de alternativas na própria região levou muita gente a migrar para outros estados à procura de novas terras para produzir, bem como alternativas de trabalho (ROTTA, 2007). A integração das economias regionais e a formação de um mercado nacional unificado, implementadas pela política desenvolvimentista (BRUM, 1993) do governo de Juscelino Kubitschek de Oliveira (1956–1960), romperam as barreiras ao livre fluxo de mercadorias e capitais, intensificando a concorrência. As áreas mais próximas ao mercado consumidor, ou melhor dotadas de infra-estrutura básica (produção de matéria-prima, energia, transportes, comunicação, serviços e mão-de- obra qualificada) tornaram-se mais atrativas ao investimento de capital e capazes de concorrer com maior eficiência no mercado. A economia gaúcha, como um todo, enfrentou dificuldades para adequar-se aos novos padrões impostos pela concorrência, que exigiam acréscimos de produtividade e incorporação de novas tecnologias(CANO, 1990; FEE, 1976, 1983 E 1990; TARGA, 1989; CARRION JÚNIOR, 1986). A perda da competitividade em relação a outras regiões do estado do Rio Grande do Sul era apontada como o principal problema a ser superado pela economia regional. A questão que se apresentava para as lideranças e para a população local era como recuperar a competitividade. A solução proposta pelo empresariado comercial e industrial urbano passava pela modernização da agricultura, pela agroindustrialização como forma de agregar valor aos produtos, e pela conquista de novos mercados (ROTTA, 1999). Nesta busca de soluções é que 25 emerge com força os ideais do cooperativismo empresarial ligado ao projeto de modernização da agricultura já em curso em outras regiões do país. 2.4 Modernização da agricultura e o cooperativismo Os processos de modernização da agricultura, implementados no Brasil a partir do final da década de cinqüenta, provocaram fortes impactos e mudanças na constituição da sociedade regional, conforme detalhado em por Büttenbender, Rotta e Höfler (2010e). A incorporação de novas técnicas de trabalho e produção; o processo de modernização dos instrumentos e das formas de produzir; a modificação das posturas individuais e coletivas em torno do trabalho e da organização social; a necessidade de ampliar o processo de industrialização dos produtos gerados pela agricultura e pela pecuária e a criação de uma indústria de máquinas e equipamentos de suporte, permitiram um reposicionamento da região em relação ao mercado estadual e nacional, uma integração ao mercado internacional, bem como a disputa por espaços nestes mercados. Com esta necessidade de redefinição, a centralidade ética do trabalho ganhou nova feição, uma feição industrial moderna. A aliança entre a ciência e a técnica permitiu o controle racional do tempo, dos processos, dos instrumentos e do gerenciamento da produção, gerando aumentos significativos de produtividade e de qualidade dos produtos. As empresas, as instituições, as pessoas e os grupos sociais que incorporaram mais rapidamente essa nova concepção passaram a servir de referência para os demais, ainda mais se conseguissem ocupar uma posição de destaque no mercado. A afirmação da concepção industrial moderna de trabalho como dominante e determinante alterou o perfil da sociedade regional. A partir daí não era mais suficiente ‘fazer as coisas’, mas fazê-las ‘bem-feitas’. Ou seja, não era mais suficiente trabalhar e ser trabalhador, mas trabalhar e ser trabalhador com determinado perfil, dentro de determinado padrão apresentado como modelo a ser seguido. A racionalização do trabalho estendeu-se para as outras esferas da sociedade que, aos poucos, modificaram os padrões anteriores fundados na tradição e nos costumes herdados dos antepassados (ROTTA, 1999). As formas racionais de organização (cooperativas, sindicatos e associações profissionais) substituíram as formas primárias de solidariedade baseadas na família, 26 no compadrio, na vizinhança e do mutirão. Os laços e vínculos afetivos deram lugar aos vínculos profissionais, e os costumes foram substituídos pelas relações formais. Cada vez mais os participantes das relações sociais passaram a orientar as suas ações de forma racional, referente a fins estabelecidos ou acordados com seus semelhantes. A generalização de um conjunto de relações baseadas num ‘contrato de mútuos direitos e obrigações’, formalmente constituídos, passou a substituir as relações informais com base na palavra e na idoneidade moral daqueles que participavam da relação. O contrato de trabalho passou a reger as relações entre empregados e empregadores. A relação entre o agricultor e a instituição financeira igualmente era regida por um contrato de financiamento, custeio, empréstimo, etc. O agricultor e a agroindústria celebravam um contrato de ‘integração’ onde se definiam as mútuas responsabilidades. As cooperativas, que em muitos casos representavam um papel semelhante ao das agroindústrias, não agiam diferentemente em relação a seus associados. As relações entre vendedor e consumidor também passaram a orientar-se por contratos de compra e venda. Na medida em que se generalizaram estas relações contratuais, ganharam força também as instituições e os profissionais encarregados de regular os acordos estabelecidos, zelar pelo seu cumprimento, defender as partes que se achavam lesadas ou ainda propor novas bases para esses contratos. Foi o caso de um conjunto de instituições e repartições públicas ou privadas ligadas aos poderes Legislativo, Executivo ou Judiciário, que agiam através de instâncias locais ou regionais, e os profissionais ligados a elas, principalmente funcionários públicos e advogados. Esses profissionais passaram a representar grande parcela da população urbana regional e influíram decisivamente no tipo de comportamento que se estabeleceu nesse meio. As relações de solidariedade e ajuda mútua perderam espaço para as relações de competição guiadas pelo critério da eficiência e da produtividade. Os ‘mais eficientes’, ‘organizados’ e ‘produtivos’ se estabeleceram, progrediram, encontraram espaço e conquistaram poder. Os outros sucumbiram, perderam suas terras, seu emprego, sua possibilidade de participação e ascensão social. As desigualdades sociais e o processo de exclusão passaram a ser justificados pela 27 diferença de desempenho individual. A sociedade regional assumiu, definitivamente, feições tipicamente capitalistas. É impossível negar que a modernização deu novo impulso à agricultura, oportunizou o crescimento da indústria metal mecânica, da indústria de alimentos e do comércio, que concentravam grande parte da riqueza gerada na região, porém ela não deixou de estar inserida no processo de ‘modernização conservadora’ que ocorria em nível de Brasil, processo que previa a modernização da atividade agrícola sem mexer na estrutura de posse da terra. Tratava-se de integrar a agricultura ao desenvolvimento industrial que se processava no país transformando-a em consumidora de produtos industriais, produtora de alimentos a baixos preços para a população urbana, liberadora de mão-de-obra para a indústria e produtora de excedentes exportáveis para equilibrar a balança de pagamentos, deficitária em função da importação de bens de capital. Para viabilizar esse processo foi decisiva a intervenção do Estado, onde podem ser citados a açãoda Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), do Sistema Brasileiro de Assistência Técnica e Extensão Rural, (no caso do RS a ação da Emater), do Sistema Nacional de Crédito Rural, da política de preços mínimos e do Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro). Na operacionalização deste processo também foi decisiva a atuação das cooperativas “Tritícolas ou Mistas” que foram criadas na região. Elas passaram a atuar como agenciadoras dos programas oficiais de propagação do pacote tecnológico, do financiamento, do armazenamento, da assistência técnica e da orientação ideológica aos produtores. Estar ligado a uma cooperativa significava obter o direito de participar do processo e receber as orientações básicas para poder acompanhá-lo. Não estar ligado passava a ser símbolo de exclusão. Com isto as cooperativas expandiram rapidamente seu quadro social e passaram a abrir filiais em comunidades mais expressivas do meio rural, constituindo-se como empresas significativas na geração de riqueza em nível local e regional. Com a modernização da agricultura e o desenvolvimento da agroindústria é que se ampliou também o trabalho assalariado urbano. A implantação de indústrias de máquinas e implementos agrícolas e indústrias transformadoras dos produtos agrícolas, aliadas à necessidade de uma nova infra-estrutura de armazenamento, transporte e comunicação e uma reestruturação dos serviços, especialmente os de 28 assistência técnica, comércio e financiamento disseminaram o trabalho assalariado. Alguns municípios, tais como Santa Rosa, Três de Maio, Horizontina e Santo Cristo passaram a representar pólos microrregionais de concentração de indústrias e serviços que dão suporte a essa nova realidade e atraem a população que começava a ser evadida do meio rural. Davidovich (1994) observa, porém, que o estilo de vida urbano implicou, no Brasil, uma grande ampliação do terciário onde se incluem atividades pertinentes à circulação do capital e das mercadorias, tais como o sistema bancário e de transporte, a organização publicitária e comercial e os serviços públicos e administrativos. Mas, passaram a existir também ocupações de baixa produtividade, tais como biscateiros, vendedores autônomos e empregos domésticos, que, muitas vezes, recebiam remuneração inferior ao salário mínimo oficial, gerando uma população que tendia a aumentar o contingente dos excluídos. Essa situação também é observada na região Noroeste. O expressivo aumento da população urbana, a partir da década de 1970 trouxe grandes problemas para as cidades que não foram planejadas para acolhê-los. A falta de infra-estrutura (luz, água, esgotos, iluminação pública...), os serviços públicos precários, a falta de programas para a construção da casa própria, a especulação imobiliária e a ausência de trabalho remunerado para todos, geraram uma situação tensa e insustentável no espaço urbano. O novo modelo que se afirmou como hegemônico na região, fundado na racionalidade industrial moderna e viabilizado pelo processo de inserção competitiva no mercado nacional e internacional por via da modernização da agricultura e da agroindustrialização. O novo paradigma tecnológico, baseado na ciência aliada à técnica, reforçaram a capacidade produtiva e de trabalho da região, fortalecendo a estrutura da agricultura familiar e a sua organização. 2.5 Estudos sobre desenvolvimento regional e o cooperativismo As transformações vivenciadas pela sociedade a partir do final da década de 70, e as dificuldades e desafios que se apresentavam, passam a gerar novos 29 fundamentos sobre a atuação do cooperativismo, bem como, as concepções sobre os modelos de desenvolvimento. Após experimentar duas décadas de um relativo desenvolvimento econômico, impulsionado pelo processo de modernização da agropecuária e da agroindústria, a região defrontou-se com sinais evidentes do esgotamento desse modelo. O crescimento do endividamento do país e a conseqüente perda da capacidade do Estado em manter a política protecionista, fundada nos subsídios, incentivos e financiamentos, fizeram com que os agentes produtivos locais fossem jogados numa economia de mercado sem terem criado as condições indispensáveis para tal. O processo de reestruturação do capitalismo internacional gerou novas bases de produção e competitividade, forçando a redefinição das indústrias locais que passaram a ter que desenvolver e adotar novas tecnologias, novos processos de trabalho, novos produtos e novas formas de inserirem-se no mercado. Várias empresas estabeleceram novas alianças estratégicas, nacionais e internacionais, gerando mudanças nas diferentes cadeias produtivas da região. Com isso perderam sua autonomia e tornaram-se mais vulneráveis às constantes flutuações das relações internacionais. Essa nova realidade também trouxe conseqüências diretas para as diferentes formas de organização do trabalho e das cadeias produtivas, como destacadas em publicações como as de Rotta (2007), Büttenbender (2005, 2007, 2008 e 2010) No contexto do cooperativismo e do associativismo, contrapondo-se a lógica prevalecente no final da década de 1980, a região protagonizou e agregou novos modelos de organização associativa, com a criação das Associações de Prestação de Serviços e Assistência Técnica – APSATs e os Condomínios (BÜTTENBENDER, 1995). Estas formas de organização, mesmo com uma duração não muito longa, cumpriram importante contribuição para a produção de suínos e a produção de leite na região, em complemento as tradicionais cooperativas agrícolas existentes na mesma, como destacado em Büttenbender (1995). O espírito associativo, associado a necessidade da organização dos pequenos agricultores focados na diversificação de culturas, foram o nascedouro de várias cooperativas de pequenos agricultores focalizados na agricultura familiar. Estas cooperativas são articuladas na região pela Cooperativa Central das Cooperativas da Agricultura Familiar, a Unicooper. 30 Em estudo no início da década de 90 foram apontados desafios e prioridades para o fortalecimento do cooperativismo. De acordo com Büttenbender (1994), os principais desafios do cooperativismo e do associativismo já na época esvam concentrados nos seguintes pontos: “1) Promover ações que visem o trabalho integrado das cooperativas, acompanhado da descentralização política, através da organização dos associados dentro dos níveis municipais, e aproveitando a estrutura de organização das próprias associações de produtores. 2) Promover ações que visem a ação conjunta das cooperativas na organização econômica, buscando a escala e o poder de barganha, isto através da formação de uma central regional de cooperativas. 3) Buscar o trabalho integrado das cooperativas e associações (Apsats, Condomínios e outros) com vistas a estruturação de um planejamento da produção regional, e com relações estáveis de produção, industrialização e comercialização. 4) Viabilizar a modernização empresarial das cooperativas e associações, com a adoção de modernos métodos de gestão, com vis tas a gerir com eficiência e eficácia os escassos recursos dos produtores associa dos. 5) Estudar e viabilizar formas de ações integra das, através de cooperativas, dos associa dos e também dos funcionários, dentro da mesma organização. Este acompanhado de um amplo programa de formação profissional para os produtores associados, dirigentes e funcionários. 6) Fomentar as práticas de defesa concreta dos interesses dos agricultores, com o objetivo de capitalizar e fortalecer economicamente os associados e as cooperativas. 7) Gestionar políticas que viabilizem o fortalecimento e a ação integrada da produção, do crédito, da agroindustrialização da produção, e com relações estáveis com o cooperativismo de consumo.8) Intensificar o trabalho de conscientização sobre a importância e o potencial do cooperativismo e do associativismo, entre todos os níveis da sociedade”. (BÜTTENBENDER, 1994, pág.04) A partir destas priorizações o cooperativismo e o associativismo, tanto regional, estadual e nacional, e nas áreas rural e urbana, passou a agregar condições de avançar, contribuindo mais significativamente na estruturação de uma sociedade mais desenvolvida, promovendo a justiça social, e garantindo melhores condições de vida para os que integram as organizações associativas e a toda sociedade. 31 A região, especialmente nas duas últimas décadas, passou a vivenciar um acelerado processo de urbanização e de êxodo das pessoas do meio rural da região para centros urbanos na região e para centros urbanos em outras regiões e estados. A maioria das cidades da região consideradas de pequeno porte não tiveram condições de absorver essa população excedente, tanto em termos de oportunidades de trabalho e renda, quanto de alternativas empreendedoras. A emigração significou a saída de recursos humanos e materiais relevantes para a região. A falta de perspectivas no espaço regional fez ainda com que grande parte da população jovem passasse a sair da região para encontrar alternativas de trabalho e de futuro em outros locais. Essa saída acabou levando um contingente expressivo da mão-de-obra especializada e mais dinâmica presente no espaço local (DALLABRIDA e BÜTTENBENDER, 2006 e 2007). A deficiência de infra-estrutura viária se constitui em limitante, devido as distâncias dos principais portos de exportação, de dependência exclusiva do transporte rodoviário. A via férrea, embora existindo ramal até a região desde a década de 40, após a privatização, está inoperante na região. A estrutura de transporte aéreo na região também é restrito e limitado (SEPLAG/RS, 2006). A dependência tecnológica fez da região um receptáculo passivo de ciência e tecnologia vindas de fora e com enormes custos econômicos e sociais. Historicamente, as Instituições de Ensino Superior – IES presentes na região, embora desempenhando papel relevante na qualificação e mobilização da população local, não conseguiram avançar na direção de se constituírem em centros de produção de ciência, tecnologia e inovação capazes de auxiliar a região na busca de soluções para os problemas enfrentados pela sua dinâmica econômica e sua realidade social. Exemplos recentes e positivos, é a cooperação entre Instituições de Ensino Superior - IES1, no processo de mobilização regional com vistas ao planejamento do desenvolvimento da região em duas edições, ou seja, os Planos Estratégicos de Desenvolvimento edição 2006-2020 (DALLABRIDA e BÜTTENBENDER, 2006) e edição 2010-2030 (COREDE-FN, 2010). No caso da Unijuí, como universidade regional, possui atualmente vários professores envolvidos com pesquisas direcionadas às problemáticas regionais, por exemplo, nas áreas da 1 São participantes deste fórum na Região Fronteira Noroeste as Instituições Unijuí, Sociedade Educacional Três de Maio – Setrem, Fundação Educacional Machado de Assis – Fema e Faculdade de Horizontina – Fahor. Recentemente se agregaram o Instituto Federal Farroupilha – Ifet e a Universidade Fronteira Sul – UFFS. 32 gestão do desenvolvimento, agronegócio de dos alimentos (leite, frutas, hortigranjeiros, carnes), das agroenergias (biodiesel, álcool, biogás) e do cooperativismo, como é destacado em publicações de Dallabrida e Büttenbender (2006 e 2007) e Büttenbender (2008 e 2010). Este processo de crise e redefinição do modelo da modernização estende suas repercussões para as diversas formas de cooperativismo existentes na região e faz emergir algumas outras que passam a apresentar alternativas de organização e vivência dos ideais do cooperativismo. Experiências já em curso e novas experiências contribuem para afirmar a cooperação como uma das alternativas para superar a referida crise que reside, em grande parte, na idéia de economia e de sociedade organizadas a partir da competição. Retomando a assertiva de Santos (2002) já referida anteriormente, entende-se que o cooperativismo afirmou-se como uma alternativa de organização das atividades econômicas e sociais em nível mundial, diante dos problemas apresentados pelo projeto capitalista e pelo socialista, especialmente com a retomada dos projetos de desenvolvimento local. O crescimento dos ideais do cooperativismo não é apenas um fenômeno regional. Em nível mundial são aproximadamente, considerando apenas as cooperativas registradas no sistema oficial, as cooperativas possuem mais de bilhão de cooperativados. Possuem mais de 100 milhões de trabalhadores no sistema cooperativo e uma movimentação financeira superior a US$ 1 trilhão. No Brasil , segundo a OCB (2010a) são mais de 8,3 milhões de cooperados, distribuídos por mais de 7.200 cooperativas, gerando mais de 275 mil empregos diretos e respondendo por mais de 6% do PIB nacional. No estado do Rio Grande do Sul esses números expressam atualmente (OCB, 2010a), 799 cooperativas, 1.738.510 cooperados e 45.874 funcionários. Na Região Noroeste é significativa a presença de cooperativas, em praticamente todos os ramos do cooperativismo. Numa nova proposição de pesquisa, será efetuado um mapeamento e diagnóstico geral das cooperativas presentes na região Noroeste do RS. Em recente publicação, Büttenbender (2010) descreve o processo de formação e apresenta vários estudos de caso sobre a atuação e a gestão de cooperativas no Noroeste Gaúcho. As contribuições do cooperativismo para o desenvolvimento da Região são explorados detalhadamente em estudos, destacando Ruzzarin, Büttenbender et all 33 (2010) e Büttenbender et al (2010a e 2010b). Estes estudos, em continuação ao estudo realizado por Büttenbender (1995), demonstra a importância e as contribuições das cooperativas e da organização associativa para o desenvolvimento da região. O estudo efetua a inferência direta de dados de 8 municípios, no total dos 20 que compõem a região Noroeste. O estudo detalha: a importância e as contribuições, além da organização cooperativada, no valor adicionado gerado pelas cooperativas destes municípios (contribuições tributárias); como reguladoras de mercado e de preços; como geradores de oportunidade de trabalho e renda; de fomento e extensão tecnológica aos produtores; no oferecimento de operatividade mercadológica, seja na condição de oferta de bens e serviços, seja na demanda de bens e serviços; oferecimento de serviços de crédito e operacionalidade bancária; entre vários outros. Estas constatações corroboram com outras definições acerca das contribuições do cooperativismo para o desenvolvimento regional, como destacado por Büttenbender (2009 e 2010a), Büttenbender et al (2010a e 2010b), quando destaca que as cooperativas geram aportes dinâmicos a economia, ao empreendedorismo e ao desenvolvimento, como por exemplo: as cooperativas são espaço de organização, participação, exercício da democracia e da cidadania entre os seus membros e a comunidade; as cooperativas são ambiente de inserção mercadológica, de operação e de agregação de valor a cadeia produtiva e do trabalho, seja na produção, na industrialização e no consumo; acesso as mercados complexos, de grandes volumes e de barganha, ambientes estes considerados inacessíveis individualmente; as cooperativas, pela cooperação no crédito, são fomentados da poupança e do crédito, com o re-investimento regional das economias e recursos gerados, inibindo transferências de rendas e riquezas para outras regiões; as cooperativas operam mercados considerados menos dinâmicos e geograficamente periféricos, e que são menos atrativos aos grandes conglomerados econômicos; ascooperativas se constituem em espaços de inclusão no trabalho, com geração de oportunidades de trabalho, constituindo-se em escolas de profissionalização para distintas atuações profissionais; e as cooperativas são espaços de investimento na pesquisa, na ciência e tecnologia, na inovação tecnológica, no fomento e na extensão tecnológica. 34 Estudo recente da OCB (2010a), aponta para níveis diferenciados de desenvolvimento para regiões com presença de cooperativas, em detrimento a regiões com menor, ou até sem, presença de cooperativas. Demonstra o estudo que os municípios brasileiros, em 2009, sem a presença de cooperativas apresentam um Índice de Desenvolvimento Humano – IDH de 0,688, enquanto que os municípios que possuem a presença de cooperativas, apresentam um IDH de 0,728. Ou seja, o estudo indica e sugere que o desenvolvimento humano nos municípios e regiões com a presença qualificada de cooperativas é 5,8% superior aos municípios e regiões sem a presença de cooperativas. Outro fenômeno importante, envolvendo o cooperativismo e o desenvolvimento, é a sua crescente presença em estudos e pesquisas lideradas pelas universidades e academias, com a realização de grandes eventos. Recente evento, na capital Brasília/DF, reuniu pesquisadores, instituições e programas voltados ao ensino, a pesquisa e ao fomento do cooperativismo. Este evento organizado pela OCB, com apoio do Sescoop e o apoio e presença das instituições com programas na área. Outro exemplo a ser citado é a realização do 5º Encontro de Pesquisadores Latino-Americanos de Cooperativismo e a 6ª edição do Workshop Internacional de Tendências do Cooperativismo, realizado entre os dias 6 e 8 de agosto de 2008, em Ribeirão Preto, na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP) da USP(2010). Este evento reuniu profissionais, professores e alunos que estudam ações que impliquem em estratégias de internacionalização de negócios das cooperativas que gerem impacto sobre a economia local, nacional e internacional. Neste evento foram inscritos 243 trabalhos, envolvendo 367 autores, 120 instituições de 18 países. O segundo evento foi o VII Seminário Tendências do Cooperativismo Contemporâneo, realizado pela OCB/Sescoop, com o apoio da OCB-CE e Sescoop-CE, entre os dias 12 a 14 de novembro de 2008, em Fortaleza, no Ceará. A nova articulação brasileira, reforçando a trajetória de aporte do cooperativismo ao desenvolvimento regional, estadual e nacional, está na realização recente do 13° Congresso Brasileiro de Cooperativismo, novamente depois de 10 anos. Este evento realizado de 09 a 11.09.2010, em Brasília, comemorativo aos 40 anos da OCB, e sob o tema ‘Coopetativismo é sustentabilidade: o desafio da inovação’. 35 Os temas norteadores do cooperativismo nacional, definidos no 13° Congresso Brasileiro de Cooperativismo (OCB, 2010b), estão articulados em torno dos quatro temas: 1) diretrizes e horizontes da relação política e institucional do sistema cooperativista; 2) a sustentabilidade do sistema OCB e da representação política do cooperativismo; 3) o futuro e os novos modelos de gestão das organizações cooperativas; e 4) a competitividade das cooperativas. Em torno destes temas, foram definidas 27 diretrizes delimitadoras da ação estratégica nacional do cooperativismo. No âmbito estadual, liderados pela Organização das Cooperativas do Estado do RS – Ocergs e do Sescoop/RS (OCERGS, 2010), foram também definidos sete grandes objetivos estratégicos: 1) ensino de formação profissional; 2) revitalização dos núcleos buscando a transparência e o comprometimento dos associados com o empreendimento cooperativo; 3) definir o foco das cooperativas desvinculando-as de atividades alheias a suas finalidades; 4) contratualização das relações estabelecidas entre associados e cooperativas; 5) parcerias, criação ou participação em centrais, incorporações e fusões. 6) políticas públicas federais, estaduais e municipais de apoio ao cooperativismo; e 7) melhoria dos serviços do sistema Ocergs- Sescoop/RS. Outra importante iniciativa liderada pelas organizações Ocergs e Sescoop/RS, é o programa de reestruturação das Cooperativas Agropecuárias Gaúchas (OCERGS, 2011). Esta iniciativa que possui um cronograma de implementação de 18 (dezoito) meses (OCERGS, 2011) e tem por objetivos: 1) definir um modelo de gestão polítia e profissional adequada às necessidades das cooperativas agropecuárias do RS; 2) definir estratégias para a revitalização dos núcleos, buscando a transparência e o comprometimento dos associados com o empreendimento cooperativo; 3) definir projetos de viabilidade de modelos de integração cooperativa com vistas a buscar escalas operacionais; 4) definir foco das cooperativas agropecuárias, desvinculando-as das atividades alheias as suas finalidades; 5) definir despesas operacionais e de pessoal compatíveis com o foco; 6) definir modelos de contratualização das relações estabelecidas entre associados e cooperativas, das cooperativas entre si e intensificação de projetos agroindustriais; 7) propor formas de cooperação adequadas às necessidades das cooperativas em 36 estudo, através da elaboração de projetos, visando a participação ou criação de centrais, parcerias e incorporações; 8) melhoria da governança cooperativa. Os desafios enfrentados pela região Noroeste ao longo de sua trajetória histórica fizeram com que se forjasse uma população com capital social, e um quadro diferenciado de lideranças (BROSE, HOFLER e BÜTTENBENDER, 2008), capazes de encontrar alternativas diante dos mais graves problemas que necessitem enfrentar. O fortalecimento das cadeias produtivas, geração de fortalecimento das oportunidades de trabalho e renda, por intermédio do cooperativismo, são fundamentos priorizados para o desenvolvimento regional. O plano estratégico de desenvolvimento da região define 10 prioridades estratégicas para o desenvolvimento futuro da região (COREDE-FN, 2010), com papel preponderando do cooperativismo, onde são destacadas: 1) Investimento nas fontes de produção energética: Exemplos das Hidroelétricas, Pequenas Centrais hifroelétricas-PCHs e a produção de Bio-Energias limpas (etanol e biodiesel); 2) Ponte Internacional Porto Mauá/lba-Posse; 3) Projetos de Irrigação (combate as estiagens); 4) Incentivo as cadeias produtivas de alimentos (leite, Suínos, grãos, hortigranjeiros-fruticultura, agricultura familiar), da indústria metal-mecânica; do madeiro-moveleiro; das confecções; do Turismo); 5) Infra-estrutura viária: Acessos asfaltados as sedes de todos os municípios da região; Ampliação e qualificação do transporte ferroviário; qualificação do aeroporto regional de Santa Rosa; 6) Ampliar investimentos em ciência e tecnologia e qualificar os acessos a educação técnico- profissional e superior na região; 7) Projetos de Saneamento básico e águas pluviais e preservação ambiental; 8) Projetos habitacionais (urbanos e rurais); 9) Fortalecimento e qualificação dos Programas de saúde; e 10) Fortalecimento das políticas públicas de segurança. Uma região pode alavancar seu processo de desenvolvimento a partir do reconhecimento de seu patrimônio histórico, social, político, econômico, cultural e ambiental. Na medida em que a região conhece a si própria ela é capaz de recobrar os ensinamentos do passado, descobrir suas potencialidades e projetar, coletivamente, o seu futuro. O cooperativismo cumpriu missão importante na história da região, segue e seguirá representando este missão no desenvolvimento futuro, tanto da região, do estado e da nação. 3 METODOLOGIA A metodologia define as delimitações e os métodos utilizados para atingir os resultados propostos. Gil (1999, p. 26) conceitua “método como caminho para se chegar a determinado fim”. Assim, este capítulo apresenta
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