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final alternativo Vidas Secas (Graciliano Ramos)

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Fabiano então levou a espingarda ao rosto enquanto a cachorra acuada e arisca se escondia atrás da arvore seca com um pressentimento de que algo ali não iria acabar bem pro seu lado, Fabiano por sua vez procurava um ângulo que desse para acertar a pobre cadela em cheio, tirou a arma da mira, deu uns passos para a frente e tornou a mirar sua arma contra a pobre cachorra que clamava pelo seu fim não ser ali, com sangue nos olhos Fabiano tinha tudo a seu favor para o disparo e sobre pensamentos turvos e tortuosos repensava rapidamente os momentos que a cachorra o ajudou a sobreviver, como foi ela que trouxe com muito esforço e sofrimento tarde da noite uma pequena e quase insignificante caça, porem que foi essa que lhe deu a forças necessárias para continuar junto de sua família a jornada agonizante. Que mesmo a pobre cachorra baleia era parte da família mas ligeiramente limpou sua mente e voltou a fazer sua pose de disparo então em uma fração de segundo disparou a cartucheira e ouviu os gritos de desespero do animal que fugiu rapidamente para uma barroca e ali ficou escondida, Fabiano a via correr e percebeu que o tiro tinha saído pela culatra, pensou ele que nunca tinha errado um tiro sequer daquela distancia antes ficou ali parada feito uma planta por alguns instantes tentando se perguntar o que havia acontecido, mas logo lhe caiu a ficha tinha errado o tiro inconscientemente por remorso de ter que matara. pobre baleia, Fabiano sabia que não tinha praticamente nenhuma ----- era burro e bruto feito uma mula mas uma coisa era certa que tinha aprendido com seu pai que o instinto era algo que deveria obedecer se quisesse viver um bom punhado de tempo. Fabiano relembrando as palavras de seu bendito pai bufou e remoeu as palavras e decidiu que se seu próprio corpo o enfrentara naquele momento a morte da cachorra não era algo que tinha que ser decidido por ele pelo menos não naquele momento.
Com o passar do noite Fabiano sai antes mesmo do sol raiar em busca de encontrar a pobre cachorra encontrando-a ainda estremecida com o tiro que mais cedo quase matara-a como o sol a encandeasse, conseguiu adiantar-se umas polegadas escondeu-se numa nesga de sombra que ladeava a pedra que estava mais próxima da casa de sus donos. Olhou-se de novo, aflita. Que lhe estaria acontecendo? O nevoeiro engrossava e aproximava-se. Sentiu o cheiro bom dos preás que desciam do morro,. Arregaçou o focinho, aspirou o ar lentamente, com vontade de subir aladeira e perseguir os preás, que pulavam e corriam em liberdade. Começou a arquejar penosamente, fingindo ladrar mas cm reseio que Fabiano voltasse para terminar o serviço. Passou a língua pelos beiços torrados e não experimentou nenhum prazer. O olfato cada vez mais se embotava Esqueceu-os e lhe veio o desejo de morder Fabiano, que lhe apareceu diante dos olhos meio vidrados, com um objeto esquisito na mão. Não conhecia o objeto, mas pôs-se a tremer, convencida de que ele encerrava surpresas desagradáveis. Fez um esforço para desviar-se daquilo e encolher o rabo. Cerrou as pálpebras pesadas e julgou que o rabo estava encolhido. Poderia morder Fabiano: tinha nascido perto dele, numa camarinha, sob a cama de varas, e consumira a existência em submissão, ladrando para juntar o gado quando o vaqueiro batia palmas. O objeto desconhecido continuava a ameaçá-la. Conteve a respiração, cobriu os dentes, espiou o inimigo por baixo das pestanas caídas. Ficou assim algum tempo, depois Fabiano aproximou sua mão com a coisa perigosa e antes que percebesse sentiu os dentes desgastados de baleia se cravarem sob sua pele grossa e áspera, naquele momento voltou a portar sangue nos olhos e pensou novamente em dar um fim nela , decidiu ali que a chance que havia dado a ela tinha se tornado um erro e com sua arma carregada deferiu um tiro certeiro contra baleia que pôs se a latir num único falho e agudo grito de sofrimento .
Com o passar dos dias Fabiano previa sinais de que a seca estava chegando por observar os pássaros carniceiros que vinham daquela direção em busca de carcaças para saciar sua cede e agua para molhar o bico, que de onde vinham não havia mais nada . Viu se na agunia que não o deixava dormir de ter que sofrer juto de sua família novamente em maus uma jornada das tantas que já havia feito por aquelas léguas de sertão, e ainda tinha de conviver com uma tosse que lhe dava um no na garganta havia um tempo, no inicio pensava ser apenas a ar escaldante que era reflexo da seca que estava por vir mas Fabiano passara toda sua vida ali, seu corpo era cascudo ate nas ultimas entranhas nunca havia sentido algo lhe incomodar por tanto tempo, porem deixou esse pensamento de lado e pois se a falar com sua mulher sinhá vitória que por sua vez já havia percebido o que vinha a um tempo, talvez ate mesmo antes dele . Com o passar de algumas luas faltava pouco para que o ceifador chegasse para buscar Fabiano e sua família, Fabiano sabia que estava na hora de partir, fugir antes que ele chegassse e quem sabe com a sorte a seu favor encontrar um pedaço de mundo miserável mas com recursos pra sua sobrevivência , com tudo Fabiano havia estado de cama por uns dias febres altas e passageiras tosses que faziam parecer que cuspiria suas entranhas para fora de uma so vez , já em outros amanhecia saldável como um touro não sabia o que estava acontecendo nunca ouvira boatos de algo assim por todo o sertão que percorrestes exceto que lhe passou algo pela sua cabeça escutara um relato quando era moço de uma conversa de seus superiores quando trabalhava em uma fazenda de uma doença que atingiu uma criança filho único essa que herdaria toda aquela fazenda, que trazia praticamente os mesmos sintomas que lhe tiravam a sossego naquele instante, ouviste também que a doença fora causada pela mordida de um camundongo, de certo que Fabiano já havia tido depois desse pensamento uma resposta, essa doença maldita que lhe causa angustia tinha sido causado pela mordida de baleia, de fato Fabiano sentiu um arrepio no espinhaço como nunca antes pondo-se a pensar se haverá de ter o mesmo fim do filho do barão, como sinhá vitória e suas crias sobreviveriam dali para frente, assim como Sinhá vitória que cuidava de seus males ele também já havia percebido que era muito difícil resistir aquele mal que só aumentava sem deixar aviso, mesmo assim com seus filhos preocupados com o fim que o pai teria Fabiano que era homem de poucas palavras aproximou-se dos filhos passou a mão em seus cabelos e com poucas expressões como sempre lhes confortou.
A vida na fazenda se tornara difícil. Sinha Vitória benzia seu marido tremendo, manejava o rosário, mexia os beiços rezando rezas desesperadas. Encolhido no banco do copiar, Fabiano espiava a catinga amarela, onde as folhas secas se pulverizavam, trituradas pelos redemoinhos. No céu azul as últimas arribações tinham desaparecido. Pouco a pouco os bichos se finavam, devorados pelo carrapato. E Fabiano resistia, pedindo a Deus um milagre. Mas quando a fazenda se despovoou, viu que tudo estava perdido, combinou a viagem com a mulher, matou o bezerro morrinhento que possuíam, salgou a carne, largou-se com a família, sem se despedir do amo. Não poderia nunca liquidar aquela dívida que tinha com ele exagerada. Só lhe restava jogar-se ao mundo, como negro fugido. Saíram de madrugada. Sinha Vitória meteu o braço pelo buraco da parede e fechou a porta da frente com a taramela. Atravessaram o pátio, deixaram na escuridão o chiqueiro e o curral, vazios, de porteiras abertas, o carro de bois que apodrecia, os juazeiros. Ao passar junto às pedras onde os meninos atiravam cobras mortas, Sinha Vitória lembrou-se da cachorra Baleia, chorou, mas estava invisível e ninguém percebeu o choro. Desceram a ladeira, atravessaram o rio seco, tomaram rumo para o sul. Com a fresca da madrugada, andaram bastante, em silêncio, quatro sombras no caminho estreito coberto de seixos miúdos - os meninos à frente, conduzindo trouxas de roupa, Sinha Vitória sob o baú de folha pintada e a cabaça de água,Fabiano atrás, de facão e uma faca de ponta, a cuia pendurada por uma correia amarrada ao cinturão, a espingarda de pederneira num ombro. Caminharam bem algumas léguas antes que a barra do sol nascesse aparecesse Fizeram alto. E Fabiano depôs no chão parte da carga, olhou o céu, as mãos em pala na testa. Arrastara-se até ali na incerteza de que aquilo fosse realmente mudança. Retardara-se e repreendera-os meninos, que se adiantavam, aconselhara-os a poupar forças. A verdade é que não queria afastar-se da fazenda. A viagem parecia-lhe sem jeito, nem acreditava nela. Preparara-a lentamente, adiara-a, tornara a prepará-la, e só se resolvera a partir quando estava definitivamente perdido. Podia continuar a viver num cemitério? Nada o prendia àquela terra dura, acharia um lugar menos seco para enterrar-se. Era o que Fabiano dizia, pensando em coisas alheias:" o chiqueiro e o curral, que precisavam conserto, o cavalo de fábrica, bom companheiro, a égua, as catingueiras, as panelas de losna, a cozinha, a cama de varas. E os pés dele esmoreciam, as alpercatas calavam-se na escuridão. Seria necessário largar tudo? As alpercatas chiavam de novo no caminho coberto de seixos. A manha nasceu sem pássaros, sem folhas e sem vento, progredia num silêncio de morte. A faixa vermelha desaparecera no céu . Sinha Vitória precisava falar. Se ficasse calada, seria como se picasse ,Fabiano em como uma árvore , secando, morrendo. Fabiano Queria enganar-se, gritar, dizer que era forte, e a quentura medonha, as árvores transformadas em garranchos, a imobilidade e o silêncio não valiam nada. Chegou-se a Fabiano, amparou-o e amparou-se.
Fabiano notou que já havia passado quase um mês desde que partiram pensavam nas pessoas como o patrão, o soldado amarelo, a cachorra Baleia mas principalmente as crianças mesmos pequenas e desnutridas aguentavam bem e ate tinham energia de sobra, notou que sinhá vitória havia perdido alguns quilos não era mais a mulher robusta que era antes da viagem , já quando olhou para si mesmo viu um homem meio morto por dento sabia que não tinha muito tempo restante então queria terminar a viagem o quanto antes. Com o cair da noite Fabiano acordou indignado com o fato que os miseráveis urubus carniceiros tinham o costume de atirar bicadas aos olhos de criaturas que já não se podiam defender. Ergueu-se, assustado, como se os bichos tivessem descido do céu ainda e escuro andassem ali perto, num voo baixo, fazendo curvas cada vez menores em torno do seu corpo, de Sinha Vitória e dos meninos. Sinha Vitória percebeu a sua inquietação na cara torturada e levantou-se junto com os meninos. Fabiano retomou a caminhada mesmo com sua perna esquerda que pusera-se dormente e não respondia mais aos mandamentos dele era preciso usar uma vara que tirou de galho de mandacaru usado como bengala para que pudesse seguir em frente, notara que já era quase um estorvo, um peso morto mas era o único ali que sabia usar a espingarda pois não teve tempo de nem mesmo ensinar para seu filho mais velho como se fazia, mesmo sendo um moleque sem consciência poderia precisar saber atirar se ele não estivesse mais ali com esse e outros pensamentos tortuosos Fabiano enchia o peito já roxo com um tom de carne podre de angustia porem deixou seus pensamentos de lado para poder se focar em chegar a lugar nenhum mas que esse lugar nenhum fosse melhor que todos os outros que passou.
Não sentia a espingarda, o saco, as pedras miúdas que lhe entravam nas alpercatas, não sentia mais nada apenas o cheiro de carniças que empestavam o caminho pelo qual ele passava era como se aquele corpo não fosse mais seu não lhe obedecia mais. As palavras de Sinha Vitória encantavam-no. Iriam para diante, alcançariam uma terra desconhecida. Fabiano estava contente e acreditava nessa terra, porque não sabia como ela era nem onde era. Repetia docilmente as palavras de Sinha Vitória, as palavras que Sinha Vitória murmurava porque tinha confiança nele. E andavam para o sul, metidos naquele sonho. Uma cidade grande, cheia de pessoas fortes. Os meninos em escolas, aprendendo coisas difíceis e necessárias. Eles dois velhinhos, acabando-se como uns cachorros, inúteis, acabando-se como Baleia. Que iriam fazer? Retardaram-se, temerosos. Chegariam a uma terra desconhecida e civilizada, ficariam presos nela. E o sertão continuaria a mandar gente para lá. O sertão mandaria para a cidade homens fortes, brutos, como Fabiano, Sinha Vitória e os dois meninos. Assim foram seus últimos pensamentos antes de se deitar olhando para os rostos de seus filhos e lhes dizendo que eram seu dever a partir de agora proteger sua mãe, antes de fechar seus olhos para sempre apoiado naquela arvore seca e sobre aquela areia que tinha um tom frio e sombrio durante a noite.

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