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DANILO SANTANA DA SILVA EFEITOS DA PERDA AUDITIVA NO DESEMPENHO DE ADULTOS EM ATIVIDADES DE VIDA DIÁRIA Dissertação apresentada ao curso de Pós-Graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para obtenção do Título de Mestre em Saúde da Comunicação Humana. São Paulo 2018 DANILO SANTANA DA SILVA EFEITOS DA PERDA AUDITIVA NO DESEMPENHO DE ADULTOS EM ATIVIDADES DE VIDA DIÁRIA Dissertação apresentada ao curso de Pós-Graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para obtenção do Título de Mestre em Saúde da Comunicação Humana. Área de Concentração: Saúde da Comunicação Humana Orientador: Profa. Dra. Katia de Almeida. São Paulo 2018 FICHA CATALOGRÁFICA Preparada pela Biblioteca Central da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo Silva, Danilo Santana da Efeitos da perda auditiva no desempenho de adultos em atividades de vida diária./ Danilo Santana da Silva. São Paulo, 2018. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo – Curso de Pós-Graduação em Saúde da Comunicação Humana. Área de Concentração: Saúde da Comunicação Humana Orientadora: Katia de Almeida 1. Perda auditiva 2. Audição 3. Pessoas com deficiência 4. Questionários 5. Avaliação da deficiência BC-FCMSCSP/43-18 Dedico este trabalho a meus pais e esposa, por todo incentivo e apoio. Sem vocês, eu não teria chegado até aqui. "Eu espero que eu possa sempre possuir firmeza e virtude suficiente para manter o que eu considero o mais desejável dos títulos: o caráter de um homem honesto." (George Washington) Agradecimentos Ao Grande Arquiteto do Universo, que por sua honra e bondade possibilitou a minha chegada até este momento tão especial da minha vida, À minha querida orientadora, Profa. Dra. Katia de Almeida, que me concedeu a honra de ser seu orientando, por me acolher com muito carinho, pela paciência e disponibilidade em todos os momentos e por contribuir para o meu crescimento pessoal, intelectual e profissional, Aos meus queridos e amados pais, Regina e Antonio Faustino, pelo amor incondicional, incentivo, apoio e o exemplo de vida, À minha amada esposa Marina Souza, pelo amor, incentivo, paciência e por sempre me apoiar em todos os meus sonhos, À banca examinadora de qualificação, Profa, Dra. Liliane Desgualdo Pereira, Profa. Dra. Elisiane Crestani de Miranda Gonsalez e Profa. Dra. Ana Luiza Gomes Pinto Navas, que foram primorosas em suas relevantes contribuições, À Profa. Erika Fukunaga, que realizou primorosamente a análise estatística deste trabalho, Às professoras Dra. Lúcia Kazuko Nishino, Esp. Maria do Carmo Redondo e Dra. Margarita Bernal Wieselberg, que gentilmente possibilitaram a realização da coleta de dados deste trabalho em seus estágios supervisionados, À equipe do CEDIAU: Géssi Pires do Rosário, pela amizade, carinho e incentivo; aos Fonoaudiólogos: Ms. Anderson Alves da Silva Pereira, Dra. Káris Ester Dong Creste e Esp. Mariana Pinheiro Brigatto, pela amizade, incentivo e contribuição com este trabalho, À minha sócia Fga. Ana Carolina Iacuzio Claro, pela parceria, incentivo e compreensão de minha ausência na clínica, A todos meus amigos do mestrado, em especial: Fga Ms. Aliaska Aguiar, Fga Daniela Soares de Brito e Fga Lara Lopez, pela amizade, incentivo e momentos de descontração, A todos os membros da A.R.L.S. Arnaldo Alexandre Pereira - 636, pelo apoio e compreensão de minha ausência. A todos os professores do Mestrado Profissional em Saúde da Comunicação Humana, pelos ensinamentos e contribuição para o meu crescimento profissional, À Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e à Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, por me cederem seus pacientes e seu espaço físico, A todos os indivíduos que constituíram voluntariamente a casuística desse estudo. ABREVIATURAS AASI – Aparelho de Amplificação Sonora Individual APHAB – Abbreviated Profile of Hearing Aid Benefit CIF – Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde, CEP – Comitê de Ética em Pesquisa dB – Decibel DP – Desvio Padrão GC – Grupo Controle GE – Grupo Estudo HHIA – Hearing Inventory for The Adults HHIE – Hearing Inventory for the Elderly HRAC – Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais Hz – Hertz ISO – International Organization for Standardization IPRF – Índice Percentual de Reconhecimento de Fala LRF – Limiar de Reconhecimento de Fala kHz – Kilohertz N – Número de Indivíduos NL – Normal OMS – Organização Mundial da Saúde PA – Perda Auditiva Q1 – Domínio (Audição para Fala) do questionário SSQ Q2 – Domínio (Audição Espacial) do questionário SSQ Q3 – Domínio (Qualidade da Audição) do questionário SSQ SCL-90-R – Escala de Avaliação de Sintomas SSD – Single Sided Deafness SSQ – Speech, Spatial and Qualities of Hearing Scale TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido USP – Universidade de São Paulo LISTA DE FIGURAS Figura 1. Box Plot das respostas ao questionário SSQ por domínio (Audição para Fala) segundo GE e GC (N=90)................................................................................ Figura 2. Box Plot das respostas ao questionário SSQ por domínio (Audição Espacial) segundo GE e GC (N=90)......................................................................... Figura 3. Box Plot das respostas ao questionário SSQ por domínio (Qualidade da Audição) segundo GE e GC (N=90)............................................................................... Figura 4 – Box Plot das respostas ao questionário SSQ por domínio segundo audição normal, perda auditiva unilateral e bilateral (N=90)........................................ Figura 5. Box Plot das respostas ao questionário SSQ por domínio (Audição para Fala), perda de audição unilateral e bilateral (N=49)..................................................... Figura 6. Box Plot das respostas ao questionário SSQ por domínio (Audição Espacial), perda de audição unilateral e bilateral (N=49)............................................... Figura 7. Box Plot das respostas ao questionário SSQ por domínio (Quantidade da Audição), audição unilateral e bilateral (N=49).............................................................. Figura 8. Box Plot das respostas ao questionário SSQ por domínio e grau de perda (N=90)............................................................................................................................ Figura 9. Box Plot das respostas ao questionário SSQ por domínio (Audição para Fala)segundo o grau de perda auditiva (N=49)............................................................. Figura 10. Box Plot das respostas ao questionário SSQ por domínio (Audição Espacial) segundo o grau de perda auditiva (N=49)...................................................... Figura 11. Box Plot das respostas ao questionário SSQ por domínio (Qualidade da Audição) segundo o grau de perda auditiva (N=49)....................................................... Figura 12. Box Plot das respostas ao questionário HHIA de acordo com o GE e GC (N=68)............................................................................................................................ Figura 13. Box Plot das respostas ao questionário HHIA de acordo com a audição do GE............................................................................................................................. Figura 14. Box Plot das respostas ao questionário HHIA segundo o grau de perda auditiva........................................................................................................................... Figura 15. Scatter Plot das respostas aos questionários HHIA e SSQ por domínio Audição para Fala (A), Audição Espacial (B) e Qualidade da Audição (C).................... LISTA DE TABELAS Tabela 1. Distribuição dos indivíduos que participaram do estudo, de acordo com a idade e sexo nos GE e GC. (N=90)................................................................................ Tabela 2. Distribuição dos indivíduos que participaram do estudo, de acordo escolaridade (anos) nos grupos controle e estudo (N=90)............................................ Tabela 3. Distribuição dos indivíduos que participaram do estudo, de acordo com as características da audição – normal e lateralidade da perda auditiva (N=90)............... Tabela 4. Distribuição dos indivíduos que participaram do estudo (GE), de acordo com o grau de perda auditiva (N=49)............................................................................. Tabela 5. Distribuição dos indivíduos que participaram do estudo, de acordo com o grupo sem perda auditiva (GC) e com perda auditiva (GE) (N=90)............................... Tabela 6. Distribuição das respostas ao questionário SSQ por domínio segundo audição normal, perda auditiva unilateral e bilateral (N=90).......................................... Tabela 7. Distribuição das respostas ao questionário SSQ por domínio nos GE segundo a lateralidade da perda auditiva (N=49).......................................................... Tabela 8. Distribuição das respostas ao questionário SSQ por domínio de acordo com o grau de perda auditiva (N=90)............................................................................. Tabela 9. Respostas ao questionário SSQ por domínio de acordo com o grau de perda auditiva (N=90)..................................................................................................... Tabela 10. Respostas ao questionário SSQ por domínio de acordo com o grau de perda auditiva (N=49)..................................................................................................... Tabela 11. Respostas ao questionário HHIA de acordo com GE e GC (N=68)............ Tabela 12. Respostas ao questionário HHIA de acordo com a população bilateral........................................................................................................................... Tabela 13. Respostas ao questionário HHIA de acordo com o grau de perda auditiva........................................................................................................................... Tabela 14. Correlação de Pearson para as respostas dos questionários HHIA e SSQ................................................................................................................................ SUMÁRIO 1- INTRODUÇÃO ........................................................................................................1 1.1- Revisão da Literatura ...........................................................................................5 2. OBJETIVOS ..........................................................................................................17 3- CASUÍSTICA E MÉTODO ....................................................................................19 4- RESULTADOS ......................................................................................................24 4.1- Caracterização da amostra.................................................................................25 4.2- Resultados da aplicação dos questionários de auto avaliação...........................27 5- DISCUSSÃO .........................................................................................................41 6- CONCLUSÃO .......................................................................................................49 ANEXOS ...................................................................................................................51 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .........................................................................59 RESUMO ...................................................................................................................63 ABSTRACT................................................................................................................64 1. INTRODUÇÃO 2 Perdas auditivas adquiridas na idade adulta impactam negativamente a vida de seus portadores, levando a dificuldades na comunicação e comprometendo aspectos sociais e emocionais. Esse impacto resulta, primariamente, dos déficits nas habilidades de percepção de fala que interferem na comunicação oral e as limitações impostas por esses déficits na participação nas interações pessoais, sociais, profissionais e de lazer (Almeida, 2014). A Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde- CIF (OMS, 2003) proposta em 2001, focaliza o seu interesse no conceito "vida", considerando a forma como as pessoas vivem os seus problemas de saúde e como estas podem melhorar as suas condições de vida para que consigam ter uma existência produtiva e enriquecedora. Considera os aspectos sociais da deficiência e propõe um mecanismo para estabelecer o impacto do ambiente social e físico sobre a funcionalidade da pessoa. Descreve a funcionalidade e a incapacidade relacionadas às condições de saúde, identificando o que uma pessoa é capaz de fazer na sua vida diária, tendo em vista as funções dos órgãos ou sistemas e estruturas do corpo, assim como as de atividades e participação no meio ambiente que a pessoa vive. Há duas importantes consequências da deficiência auditiva: a limitação em atividades e a restrição de participação. A primeira refere-se a qualquer limitação ou falta de habilidade para desempenhar uma atividade devido aos problemas auditivos vivenciados pelo individuo em função da perda auditiva. Já a restrição de participação está relacionada aos aspectos não auditivos resultantes da deficiência e da incapacidade auditivas, os quais restringem a participação do indivíduo nas atividades de vida diária e comprometem suas relações sociais. Portanto, os efeitos negativos da perda auditiva envolvidos na limitação em atividades, incluem a redução da habilidade de compreensão de fala, especialmente em ambientes com condições acústicas adversas como ruído, além de dificuldade de localização de fontessonoras importantes, como buzinas de veículos e outros sinais de alerta, que acarretará restrição de participação nas diversas situações de vida diária com consequente diminuição em qualidade de vida (Almeida, 2014). 3 Testes audiológicos são eficientes para quantificar a perda auditiva, porém, seus resultados não refletem a dificuldade comunicativa enfrentada pelas pessoas com deficiência auditiva em suas atividades de vida diária (Gonsalez e Almeida, 2015; Vannson et al. 2015). Desse modo, é fundamental utilizar outros instrumentos, que possam avaliar as limitações em atividades auditivas em situações mais próximas do cotidiano, e refletir a percepção do indivíduo frente às dificuldades comunicativas geradas pela perda auditiva (Gonsalez e Almeida, 2015). Questionários são uma excelente ferramenta de auto avaliação em adultos, pois quantificam e qualificam o impacto da perda auditiva nas atividades de vida diária. Com o intuito de mensurar as incapacidades auditivas, Gatehouse, Noble, (2004) desenvolveram um questionário, chamado de Speech, Spatial and Qualities of Hearing Scale (SSQ), que tem como objetivo, avaliar as habilidades e experiências que envolvem a audição em situações complexas de escuta do cotidiano. Utilizado com grande confiabilidade em diversas populações e idiomas, foi traduzido e adaptado para o português brasileiro por Gonsalez e Almeida (2015). A restrição de participação, relaciona-se aos aspectos não auditivos e as implicações emocionais e sociais desencadeadas pela deficiência auditiva (Marques et al, 2004). O Hearing Handicap Inventory for Adults – HHIA (Newman, 1990) é um questionário que tem como objetivo, avaliar a restrição de participação de adultos, com idade inferior a 65 anos, foi traduzido e adaptado para o português brasileiro por Almeida (1998). Estes questionários foram selecionados exatamente por serem meios efetivos de caracterizar as dificuldades apresentadas por sujeitos com perda auditiva, e fornecer ao fonoaudiólogo subsídios para a compreensão das limitações em atividades e restrição de participação presentes nesses indivíduos. Temos como hipótese que a lateralidade e severidade da perda auditiva podem predizer o desempenho do indivíduo no que se refere as suas limitações em atividade e restrição de participação. 4 Sendo assim, este estudo tem por objetivo caracterizar a limitação em atividades/incapacidade auditiva e restrição de participação em adultos com perda auditiva, por meio dos questionários SSQ e HHIA, verificando se a lateralidade e o grau da perda auditiva são fatores de variabilidade. 5 1.1. REVISÃO DE LITERATURA 6 Os textos utilizados na fundamentação teórica deste estudo foram apresentados conforme o encadeamento de ideias. Optou-se por apresentar a revisão de literatura em assuntos para facilitar a leitura e compreensão. Os tópicos abordados neste capítulo são: I – Perda auditiva em adultos e suas implicações II – Questionários de auto avaliação da limitação em atividades e da restrição de participação I – Perda auditiva em adultos e suas implicações Monzani et al (2008) avaliaram a suposição global de que os adultos trabalhadores com perda auditiva neurossensorial leve a moderada experimentam reações emocionais e limitações sócio-situacionais mais negativas do que indivíduos ouvintes normais. Ao comparar e investigar a dimensão do sofrimento psicológico de 96 sujeitos com audição normal e 73 sujeitos com deficiência auditiva, por meio da Lista de Verificação de Sintomas (SCL-90-R), resultou que os sujeitos com deficiência auditiva são mais propensos à depressão, ansiedade, sensibilidade interpessoal e hostilidade do que indivíduos sem perda de audição (p <0,05). Argumentaram que a deficiência sensorial pode desencorajar indivíduos com deficiência auditiva de se exporem a situações de desafio social, produzindo isolamento que leva a depressão, irritabilidade e sentimentos de inferioridade. Francelin et al (2010) estudaram as implicações da deficiência auditiva adquirida em adultos, na vida familiar, social e condições de trabalho. Participaram 16 adultos, com diagnóstico de perda auditiva súbita na faixa etária de 18 a 60 anos. Utilizaram a entrevista e a análise de conteúdo. Os resultados demonstraram que a perda auditiva ocorreu entre os 40 e 44 anos, 37,5%; 62,5% dos que perderam a audição eram do sexo masculino, 62,5% não tinham o ensino fundamental; 62,5% eram da classe baixa superior; 75% apresentaram perda auditiva bilateral, 18,75% de grau moderado/profundo. Dos 13 que estavam trabalhando quando perderam a audição, 30,77% pararam de trabalhar e 15,38% mudaram de profissão. Foram relatadas situações como: afastamento do trabalho, demissão a pedido e demissão pelo empregador, dificuldade de aceitação, cobranças, falta de esclarecimentos e desconhecimento dos próprios 7 profissionais de saúde. Os dados sugerem a necessidade dos recursos de reabilitação, de apoio terapêutico, respeito e alternativas de conhecimentos. Caporali e Silva (2017) realizaram um estudo com a finalidade de pesquisar os efeitos da perda auditiva e da idade no reconhecimento de fala na presença de ruído, utilizando dois tipos de ruído. Três grupos experimentais foram organizados, sendo um composto por adultos sem alteração auditiva, outro por sujeitos com perda auditiva em frequências altas e, por último, um grupo de idosos, com configuração audiométrica semelhante ao grupo de adultos com perda auditiva. Todos os sujeitos realizaram tarefas de reconhecimento de fala no silêncio, na presença de ruído branco e ruído cocktail party, na mesma relação sinal/ruído (0 dB), em ambas as orelhas. Os resultados mostraram que o ruído interfere negativamente no reconhecimento de fala em todos os grupos. O desempenho dos sujeitos com audição normal foi superior aos grupos com perda auditiva. Contudo, o grupo de idosos teve pior desempenho, sendo mais evidente com o ruído cocktail party. Observou-se também que todos os sujeitos apresentaram melhores resultados na segunda orelha testada, mostrando o efeito de aprendizagem. Os autores concluíram que a idade, além da perda auditiva contribuiu para o baixo desempenho de idosos na percepção de fala na presença de ruído. Lucas et al (2017) examinou os efeitos psicológicos e sociais subjetivos da perda auditiva assimétrica (surdez unilateral) em adultos. Três entrevistas em grupo foram conduzidas usando técnica de análise psicológicas. Participaram oito adultos com diagnóstico clínico de perda auditiva moderadamente severa, severa ou profunda em uma orelha e audição normal ou com perda auditiva leve na outra orelha. Os autores observaram que dificuldades auditivas funcionais associadas à surdez unilateral, incluindo dificuldades para compreender a fala na presença de ruído e redução da consciência espacial, afetaram o bem-estar social e psicológico dos indivíduos participantes do estudo. As consequências sociais da surdez unilateral resultaram em limitações de atividade e restrições de participação. Os participantes relataram efeitos psicológicos, incluindo a preocupação em perder a audição na outra orelha, redução da confiança e constrangimento relacionado ao estigma social associado à perda auditiva. A surdez unilateral pode ser associada a muitas consequências negativas, o 8 aconselhamento pode ajudar a superar as consequências psicológicas da perda de audição, independentemente do suporte tecnológico, como o uso de uma prótese auditiva. O gerenciamento audiológicodesses indivíduos deve apoiar o desenvolvimento de estratégias de escuta e estabelecer expectativas adequadas para a participação em situações de audição diárias. II – Questionários de auto avaliação da limitação em atividades e restrição de participação Newman et al. (1990) modificaram o Hearing Handicap Inventory for the Elderly - HHIE, para que este pudesse ser aplicado em adultos deficientes auditivos com idades inferiores a 65 anos, para documentar os efeitos da reabilitação auditiva, incluindo o benefício fornecido pelo uso das próteses auditivas. O novo questionário recebeu o nome de Hearing Handicap Inventory for Adults - HHIA e possui os mesmos 25 itens divididos em duas sub escalas: Social/Situacional e Emocional. Apenas três questões do HHIE foram substituídas: duas delas focalizam os efeitos ocupacionais da perda de audição e a terceira está relacionada com atividades de lazer. Os índices do HHIA. são idênticos aos do HHIE, em que cada resposta “sim” recebe 4 pontos, “às vezes” recebe 2 pontos e “não” nenhum ponto. Os índices finais podem variar de 0%, sugerindo uma não percepção da restrição de participação, a 100%, indicando uma restrição significativa. Esta nova versão do questionário foi então aplicada em 67 adultos deficientes auditivos e os resultados obtidos demonstraram alta confiabilidade e baixo erro padrão de mensuração do questionário, o que atestou sua adequação psicométrica. Os autores ressaltaram ainda que a aplicação do HHIA pode: 1) ajudar a substanciar as queixas auditivas do paciente não prontamente aparentes a partir dos resultados dos testes audiométricos; 2) facilitar as decisões com relação ao candidato ao uso da amplificação; 3) auxiliar no aconselhamento do paciente; 4) servir como guia no programa de reabilitação do deficiente auditivo e 5) fornecer documentação dos efeitos do processo de reabilitação, incluindo o benefício com o uso de próteses auditivas. The Speech, Spatial and Qualities of Hearing Scale (SSQ) foi desenvolvido para quantificar a auto percepção das dificuldades advindas da deficiência 9 auditiva em vários aspectos. Por meio deste questionário habilidades como: compreensão de fala em diferentes situações de escuta, a audição espacial e outras qualidades auditivas são avaliadas pelo deficiente auditivo conforme sua própria percepção em ouvir no dia-a-dia. Os 153 participantes responderam a dois questionários diferentes: o SSQ 50 e o Handicap Questionnaire, todos eram candidatos ao uso de próteses auditivas. A entrevista foi realizada por dois profissionais treinados pelos autores, para garantir que os entrevistados entendessem os questionamentos. Os resultados mostraram que a maior dificuldade ocorreu com fluxos simultâneos de voz, escuta em grupos, no ruído e avaliar a distância do som. Apenas 37 dos 153 participantes responderam à questão de compreensão de fala quando dirige um carro. A pontuação média geral foi de 5,5. A correlação de Spearman entre a melhor e a pior orelha foi de 0,72, a correlação entre a melhor orelha e a média geral no SSQ foi de 0,51, a correlação entre a pior orelha e a média geral no SSQ foi de 0,52. Concluíram que o SSQ é um instrumento satisfatório para quantificar as queixas auditivas e que bem avalia qualidades auditivas, principalmente as que demandam função auditiva binaural (Gatehouse e Noble, 2004). Macedo et al (2006) investigaram o conhecimento e a aplicabilidade pelos fonoaudiólogos sobre questionários de auto avaliação do impacto social e do benefício da amplificação em adultos e idosos com deficiência auditiva. Foram entrevistados 45 fonoaudiólogos que trabalhavam na cidade de São Paulo em seleção e adaptação de aparelhos de amplificação sonora individuais. A maioria desses profissionais não utilizavam os questionários regularmente, apesar de conhecê-los, e a justificativa mais apontada foi o longo tempo despendido na sua aplicação. Todos os clínicos docentes utilizavam os questionários nas situações de docência e pesquisa, mas nem todos o faziam na sua prática clínica, sendo o Hearing Handicap Inventory for the Elderly - HHIE e o Abbreviated Profile of Hearing Aid Benefit - APHAB os questionários mais utilizados. Rosa et al (2006) verificaram o nível de satisfação que usuários de próteses auditivas antes e depois da aplicação de um programa de acompanhamento denominado: SOS Prótese Auditiva, caracterizando a restrição de participação e o benefício do uso do dispositivo. Foi aplicado dois questionários em 15 idosos com perda auditiva. Dentre os participantes 33% 10 apresentaram maior restrição de participação devido à perda auditiva, 53% referiram dificuldade em compreender a fala na presença de ruído quando estavam sem a prótese auditiva, sendo apenas 13% quando usam o mesmo. 49% da amostra referiram problemas para entender a fala em ambiente silencioso ou em situações ótimas de escuta quando estão sem a prótese auditiva, usando o mesmo este número reduziu para 21%. Observaram que 66% da amostra tiveram dificuldades para compreender a fala (sem a prótese auditiva) em ambientes amplos, e ao colocarem seus aparelhos auditivos somente 33% dos entrevistados continuaram a referir esse tipo de dificuldade. O estudo permitiu verificar que o trabalho em grupo minimizou as dificuldades de manuseio da prótese auditiva que muitas vezes inviabilizam o uso dos mesmos. Além de constatar a importância dos questionários de auto avaliação para o fonoaudiólogo no acompanhamento da adaptação desses dispositivos, bem como para o usuário por meio de fornecimento de informações sobre suas dificuldades e facilidades frente à utilização destes. Amorim e Almeida (2007) caracterizaram o benefício de curto prazo em adultos novos usuários de próteses auditivas, por meio de procedimentos objetivos (ganho funcional) e subjetivos (questionários de auto avaliação) e estudar o fenômeno de aclimatização, a partir da análise dos índices percentuais de reconhecimento de fala (IPRF) dessa população antes da adaptação e após quatro e 16/18 semanas de uso da amplificação. Métodos: participaram deste estudo 16 indivíduos portadores de perda auditiva bilateral simétrica neurossensorial ou mista de grau moderado a severo, novos usuários de próteses auditivas, na faixa etária entre 17 a 89 anos. Nos três momentos da pesquisa: antes da adaptação das próteses auditivas, após quatro semanas e 16/18 semanas, foi realizada audiometria tonal liminar, o IPRF, o limiar de reconhecimento de fala e a aplicação dos questionários: Hearing Handicap inventory for Elderly Screening Version ou Hearing Handicap Inventory for the Adults Screening Version e Abbreviated Profile of Hearing Aid Benefit. Após a adaptação, foi realizado o ganho funcional. Revelaram diferenças estatisticamente significantes nas medidas objetivas e subjetivas após o uso das próteses auditivas, indicando benefício de curto prazo. Contudo, ao longo do tempo de uso da amplificação não ocorreu uma melhora significante do benefício, sugerindo que 11 este não aumenta com o tempo. Foi observada melhora da média dos IPRF e das medidas subjetivas do benefício auditivo ao longo do tempo de uso da amplificação, contudo estas diferenças não foram estatisticamente significantes. Ocorreu benefício a curto prazo com o uso das próteses auditivas, contudo não foi possível verificar a ocorrência do fenômeno da aclimatização por meio do IPRF. Araújo et al (2010) avaliaram a auto percepção da restrição de participação em sujeitos adultos, em indivíduos deficientes auditivos não usuários de próteses auditivas. Participaram do estudo 52 sujeitos adultos, com média de 34,5 anos e de ambos os gêneros (26 do gênero feminino, 26 do masculino) com deficiência auditiva neurossensorial unilateral, de graus variados; por meio da aplicaçãodo questionário “Hearing Handicap Inventory for Adults” (HHIA). Foram pontuadas as subescalas dos aspectos emocionais e sociais/situacionais sendo encontrados 73,1% de presença de restrição de participação de graus leve, moderado e significativo e em maior porcentagem (88,5%) no gênero feminino. A aplicação do questionário mostrou-se um procedimento eficiente, pois a perda auditiva unilateral pode comprometer aspectos sociais e emocionais do sujeito adulto e indivíduos com o mesmo grau de perda podem reagir de forma diferente, indicando que a grande variabilidade na autopercepção da restrição de participação está associada a aspectos não audiológicos. Lima et al (2010) verificaram as relações entre a autopercepção da restrição de participação, os achados audiométricos e dados sociodemográficos em adultos deficientes auditivos. Participaram do estudo, 113 adultos jovens portadores de deficiência auditiva pós-lingual, neurossessorial bilateral de graus variados. O questionário de HHIA foi aplicado no formato de entrevista. A pontuação total e das subescalas “social” e “emocional”, do questionário foram correlacionadas com as médias dos limiares audiométricos (ISO, baixa, média e alta frequência) e limiar de reconhecimento de fala (LRF). Também foi obtida correlação entre as pontuações do questionário e tempo de surdez, escolaridade e nível socioeconômico. A comparação dos resultados do HHIA entre homens e mulheres foi realizada pelo teste t-Student. Correlações fracas, porém, significantes foram obtidas entre os dados audiométricos e a pontuação do HHIA. Não houve correlação entre o tempo de surdez, escolaridade e nível socioeconômico com a pontuação do questionário. Não houve diferença 12 significativa da pontuação entre homens e mulheres. Os dados deste estudo reforçam a necessidade de utilização de um instrumento de avaliação da restrição de participação, já que esta não pode ser inferida a partir dos dados audiológicos e/ou sociodemográficos. Singh e Pichora-Fuller (2010) examinaram as propriedades teste-reteste do questionário Speech, Spatial and Qualities of Hearing Scale (SSQ) e verificaram se o método de administração de teste afetou essas propriedades. Quatro grupos de 40 participantes de adultos mais velhos completaram o SSQ duas vezes em um intervalo de cerca de meio ano, usando métodos de administração iguais ou diferentes nos dois tempos de teste. O SSQ foi administrado usando um método de entrevista e ou foi auto-administrado e depois retornado por correio. Embora o método de administração do teste não tenha afetado sistematicamente os escores no SSQ, a correlação teste-reteste mais alta (r 0.83) foi observada usando o método da entrevista em ambos os tempos de teste, tornando-se a melhor escolha para demonstrar a eficácia de intervenções. As outras três combinações de administração dupla neste estudo também forneceram resultados confiáveis e podem ser preferíveis porque o método de auto administração é mais rapido. Em conclusão, recomenda-se a entrevista e os métodos de auto administração, mas com a escolha dependendo dos objetivos do avaliador. Aiello et al (2011) avaliaram a facilidade de leitura e propriedades psicométricas da tradução brasileira do questionário The Hearing Handicap Inventory for Adults – HHIA, incluindo sua validade e confiabilidade. O questionário foi aplicado a 30 pessoas normais de audição (Grupo A) e 113 deficientes auditivos (Grupo B). Trinta e dois participantes (grupo B) responderam o questionário pela segunda vez. O índice de legibilidade Flesch foi calculado para cada item no questionário. A consistência interna, a confiabilidade test-retest e a validade discriminante foram avaliadas. As pontuações de Flesch mostraram que o questionário era fácil de ler. O alfa de Cronbach e a correlação de Pearson apresentaram alta consistência interna. Não houve diferença significativa entre o teste e os resultados do teste. Além disso, a correlação entre esses dois escores também foi alta e significativa. O teste t-Student indicou diferença significativa entre os escores para os grupos A e B (validade discriminante). O questionário de deficiência auditiva para adultos traduzido para o português brasileiro manteve a 13 confiabilidade e validade da versão em inglês. São necessários mais estudos para determinar a validade convergente e a validade de construção para este instrumento. Banh et al (2012) realizaram um estudo com o objetivo de investigar, como adultos mais jovens e idosos que passaram por triagem auditiva e que tinham limiares considerados "normais" responderiam ao questionário Speech, Spatial and Qualities of Hearing Scale (SSQ). O questionário foi aplicado em 48 adultos jovens (idade média = 19 anos, DP = 1) e 48 idosos (idade média = 70 anos, DP = 4,1) adultos com limiares audiométricos clinicamente normais até 4 kHz. As correlações foram usadas para comparar o padrão de resultados entre itens para os dois grupos etários e avaliar a relação entre os índices do SSQ e as medidas objetivas da audição. Comparações também foram feitas com os resultados publicados para adultos mais velhos com perda auditiva. O padrão de dificuldade relatado em todos os itens foi semelhante para ambos os grupos etários, mas os adultos mais jovens apresentaram valores significativamente maiores que os adultos mais velhos em 42 dos 46 itens. Em média, os adultos mais jovens obtiveram escores de 8,8 (DP = 0,6) e adolescentes 7,7 (DP = 1,2). Por comparação, foram observados escores de 5,5 (SD = 1,9) para adultos mais velhos (idade média = 71 anos, DP = 8,1) com perda auditiva moderada. Ao estabelecer os melhores resultados que poderiam ser esperados na avaliação de adultos mais jovens e de adultos mais velhos com limiares de audição "normais", esses resultados fornecem aos profissionais informações que devem ajudá-los na avaliação e intervenção de adultos de diferentes idades. Noël et al (2014) avaliaram os efeitos da comunicação cotidiana entre adultos ouvintes unilaterais usando o Speech, Spatial and Qualities of Hearing Scale (SSQ). Participaram 87 adultos sendo sessenta e seis ouvintes unilaterais que tinham uma perda auditiva severa ou profunda sem uso de dispositivo eletronico e foram agrupadas com base no modo auditivo da orelha melhor: 30 participantes apresentavam audição normal em uma orelha (perdas auditivas unilaterais); 20 possuíam implante coclear unilateral; e 16 eram usuários de uma prótese auditiva unilateral. Os dados também foram coletados de 21 indivíduos com audição normal, bem como um subconjunto de participantes que posteriormente recebeu implante coclear na pior orelha e assim se tornaram 14 ouvintes bilaterais. Os indivíduos com deficiência auditiva apresentaram classificações piores em todas as áreas em comparação com aqueles com audição normal bilateral. Os autores concluíram que, os adultos que dependem de uma única orelha, estão em desvantagem em todos os aspectos da escuta e comunicação diária. Gonsalez e Almeida (2015) traduziram e adaptaram culturalmente, o questionário Speech, Spatial and Qualities of Hearing Scale (SSQ) para o Português Brasileiro. Foi realizada a tradução, retrotradução, avaliação por comitê de especialistas e adaptação cultural (pré-teste). A fase de adaptação cultural constou da aplicação do questionário em 40 brasileiros adultos, normo-ouvintes e alfabetizados em português. Foram elaboradas duas versões do SSQ em português, a primeira aplicada no Grupo Piloto 1 (20 sujeitos) e, após revisão do comitê de especialistas, uma segunda versão foi aplicada no Grupo Piloto 2 (20 sujeitos). Para haver equivalência cultural do questionário, é necessário que 85% dos indivíduos não apresentem dificuldades para compreender as questões. Foi identificada dificuldade de compreensãona questão 14 da Parte 2 e na questão 5 da parte 3. As demais questões foram compreendidas por mais de 85% dos participantes. As questões problemáticas foram revistas e modificadas, de forma a não alterar o contexto. Na aplicação da versão final do SSQ foi obtida uma boa equivalência cultural para o Português Brasileiro, já que 91,6% dos participantes relataram fácil entendimento de todas as questões. A análise estatística revelou alto coeficiente alpha de Crombach (>0,8), demonstrando boa consistência interna entre os diversos itens do questionário. Concluíram que a metodologia empregada foi eficaz para estabelecer a tradução e equivalência cultural do SSQ para o Português Brasileiro. Moulin e Richard (2016) identificaram e quantificaram fontes de variabilidade nos índices do questionário Speech, Spatial and Qualities of Hearing Scale (SSQ) e suas versões curtas, entre indivíduos com deficiência auditiva e audição normal, usando uma versão em francês do SSQ. As análises múltiplas dos índices do SSQ foram realizadas utilizando idade, gênero, anos de escolaridade, perda de audição e assimetria de perda auditiva como preditores. Análises semelhantes foram realizadas para cada subescala (Fala, Espacial e Qualidades), para várias formas curtas SSQ e para diferenças nos índices de 15 cada subescala. Participaram do estudo 100 indivíduos com audição normal (NL) e 230 indivíduos com deficiência auditiva (PA). A perda auditiva na melhor orelha e a assimetria da perda auditiva foram os dois principais preditores de pontuação no SSQ geral, as três principais subescalas e as formas curtas do SSQ. A maior diferença entre o grupo NL e o grupo PA foi observada para na subescala de Audição para fala, o NL apresentou índices abaixo da pontuação máxima. Os autores concluíram que, existem fortes semelhanças entre os índices obtidos em diferentes populações e línguas, e entre SSQ versão completa e a versão encurtada, sublinhando o seu potencial uso internacional. Aguiar (2016) verificou a confiabilidade teste e reteste do questionário SSQ em português brasileiro. Foram entrevistados 35 indivíduos, sendo 21 do gênero feminino e 14 do gênero masculino, com idade média de 61 anos e escolaridade média de sete anos de estudo. A média dos limiares auditivos foi de 44,29 dB NA (DP 12,3) na melhor orelha e 58,04dB NA (DP 16,5) na pior orelha. O SSQ em português foi aplicado em dois momentos diferentes, o teste (1ª entrevista) e o reteste (2ªentrevista). Foi estabelecido um intervalo de no mínimo sete dias e no máximo 20 dias entre as entrevistas. O nível de significância estabelecido foi de 0,05 ou 5%. A análise revelou alto coeficiente alpha de Cronbach (>0,7) nos três domínios e no Geral no questionário, demonstrando boa consistência interna entre os itens. Além disso, houve uma correlação significante de grau forte na análise por domínio e Geral entre o teste e o reteste do SSQ (p <0,001). Na análise por questão, houve correlação significante de grau moderada a forte entre teste e reteste (0,401 a 0,889). Apenas a questão 2 da Parte I não se obteve correlação significante entre as duas avaliações (p=0,06), sugerindo uma modificação de vocábulo nesta questão. Os indicadores de confiabilidade do teste e reteste apontam para uma boa estabilidade da versão do SSQ em português, indicando que o questionário pode ser utilizado na população de deficientes auditivos no Brasil. Gonsalez e Almeida (2017) realizaram um estudo piloto da versão abreviada do questionário SSQ em Português Brasileiro, a fim de medir a limitação auditiva resultante da perda de audição. Participaram do estudo 30 indivíduos, sendo 12 do gênero masculino e 18 do gênero feminino, com idades entre 18 e 89 anos, e escolaridade média de nove anos. Os indivíduos foram 16 submetidos à avaliação audiológica e distribuídos em dois grupos, segundo a audibilidade, sendo 15 com audição normal (NL) e 15 com perda auditiva (PA). Em seguida, todos responderam ao questionário SSQ, na sua versão abreviada com 12 itens, na forma de entrevista, pontuando de 0 a 10 o seu desempenho comunicativo, em cada situação questionada. Obtiveram escores médios de 6,68 e 4,13 para os grupos NL e PA, respectivamente. Os indivíduos com perda de audição apresentaram escores menores que os sujeitos com audição normal. Verificou alto coeficiente alpha de Cronbach em ambos os grupos, demonstrando boa consistência interna entre os diversos itens do questionário. Concluíram que a versão reduzida com 12 itens do SSQ em Português Brasileiro mostrou-se sensível para diferenciar o desempenho de indivíduos com e sem perda auditiva, confirmando o seu potencial para avaliar as restrições em atividades auditivas e comunicativas enfrentadas pelo deficiente auditivo, no seu cotidiano. Pennini (2017) verificou a aplicabilidade do Speech, Spatial and Qualities of Hearing Scale (SSQ) na avaliação do benefício em usuários de próteses auditivas. Participaram do estudo 30 adultos deficientes auditivos, candidato ao uso (novatos) ou usuários em fase de troca de suas próteses auditivas (experientes). Estes participantes realizaram a avaliação audiológica completa, indicação e adaptação das próteses auditivas e as avaliações de benefício do uso das próteses auditivas, por meio de medidas objetivas com microfone sonda e avaliação subjetiva utilizando o questionário Speech, Spatial and Qualities of Hearing Scale (SSQ). Inicialmente, foi aplicado o questionário SSQ Base, em forma de entrevista e após o término do período de 4 semanas de uso das próteses auditivas novas foram aplicados novamente os questionários SSQ de auto avaliação, na versão B (para os novatos) e C (para os experientes). Foi identificada maior dificuldade de compreensão no domínio Audição para fala, do que os outros domínios Audição espacial e Qualidades da audição. As questões foram bem compreendidas pela maioria dos participantes, que referiam ser compatíveis com as situações do seu cotidiano. A análise estatística revelou alto coeficiente alpha de Cronbach (>0,9), demonstrando boa consistência interna entre os diversos itens do questionário. Demonstrou ser uma valiosa ferramenta para avaliar subjetivamente o desempenho comunicativo com e sem próteses auditivas. 17 2. OBJETIVO 18 2.1. Objetivo Geral Caracterizar a limitação em atividades/incapacidade auditiva e restrição de participação em adultos com perda auditiva, por meio dos questionários SSQ e HHIA, verificando se a lateralidade e o grau da perda auditiva são fatores de variabilidade. Objetivos específicos 1. Caracterizar a limitação em atividades e a restrição de participação em adultos por meio da aplicação dos questionários Speech Spatial Qualities of Hearing Scale e Hearing Handicap Inventory for Adults. 2. Verificar se a lateralidade e grau de severidade da perda auditiva são fatores de variabilidade. 19 3. CASUÍSTICA E MÉTODO 20 O trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Santa Casa de São Paulo sob o nº 1.907.162 (Anexo 1). Todos os participantes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE – Anexo 2) atestando a sua participação no trabalho e publicação dos dados obtidos. Os dados foram coletados na clínica de Fonoaudiologia da Santa Casa de São Paulo. Casuística Para realização da pesquisa participaram 90 indivíduos, de ambos os sexos de acordo com os seguintes critérios de elegibilidade para a composição da amostra: idade entre 18 a 59 anos; audição normal ou comperda auditiva neurossensorial ou mista, bilateral, de grau leve a profundo, apresentar audição normal (média 500, 1000, 2000 e 4000 Hz ≤ 25 dB) ou perda de audição (média 500, 1000, 2000 e 4000 Hz ≥ 26 dB), conforme classificação da (OMS, 2014); não possuir problemas de saúde que impedissem a participação em todas as avaliações e procedimentos propostos para a pesquisa; ausência de problemas cognitivos, mental ou neurológico diagnosticados, declarados ou evidentes. Os indivíduos foram divididos em dois grupos: Grupo Estudo (GE) composto por 49 indivíduos com perda auditiva permanente e Grupo Controle (GC) com 41 indivíduos com audição normal, todos com idades entre 18 a 59 anos. Para compor o GE, foram convidados a participar do estudo, indivíduos adultos encaminhados pelo Departamento de Otorrinolaringologia, para avaliação audiológica ou para seleção e adaptação de próteses auditiva. Para compor o GC, foram convidados a participar do estudo, alunos de graduação do curso da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e acompanhantes dos indivíduos deficientes auditivos encaminhados para avaliação audiológica ou para seleção e adaptação de próteses auditiva. 21 Procedimentos Avaliação audiológica Inicialmente, todos os indivíduos foram submetidos à Anamnese, para obter informações relacionadas a audição, ocupação e escolaridade. Em seguida, foram submetidos à Audiometria Tonal Liminar, Logoaudiometria e Medidas de Imitância Acústica. A audiometria tonal liminar foi realizada com a finalidade de obter os limiares de audibilidade por via aérea dos indivíduos nas frequências de 250 Hz a 8000 Hz. Quando encontrados limiares superiores a 25 dB, foram pesquisados os limiares de via óssea nas frequências de 500 Hz a 4000 Hz, caracterizando a presença ou não da perda de audição. Os testes logoaudiometricos LRF- Limiar de Reconhecimento de fala e IRF- Índice de Reconhecimento de fala foram também obtidos. Ambos os procedimentos foram realizados em cabina acusticamente tratada com audiômetro da marca GN Otometrics, modelo Itera, com fones de via aérea TDH- 39 e vibrador ósseo B- 71. As medidas de instância acústica que são a timpanometria, para análise da mobilidade do sistema tímpano ossicular, e a pesquisa dos reflexos acústicos contralaterais nas frequências de 500, 1000, 2000 e 4000 Hz, foram obtidas por meio do equipamento da marca Interacoustics modelo AZ7-R. Todos os equipamentos encontram-se devidamente calibrados de acordo com a norma ISO 8253-1, 2010. Avaliação das limitações em atividades e da restrição de participação Para avaliação da incapacidade auditiva foi aplicado em forma de entrevista o questionário Speech, Spatial and Qualities of Hearing Scale – SSQ (Gatehouse e Noble, 2004), em sua versão 5.6, traduzida e adaptada para o português brasileiro (Gonsalez e Almeida, 2015). O questionário (anexo III) inclui uma variedade de domínios, como situações de audição direcional relacionada a diferentes distâncias e ao movimento, segregação de sons e fluxos de vozes simultâneas, facilidade de 22 escuta, naturalidade e clareza dos sons do cotidiano e de diferentes peças musicais e instrumentos. O SSQ é composto por 49 questões, divididas em três partes, sendo 14 relacionadas à audição para sons da fala, 17 que investigam diferentes componentes da audição espacial e 18 sobre as qualidades da audição. O pesquisador apresentou oralmente cada questão e os participantes pontuaram de 0 a 10 o seu desempenho comunicativo. Sendo que todos foram informados de que, na escala de respostas, o 10 significa que são perfeitamente capazes de executar o que está descrito na questão e o 0 (zero), que são incapazes de realizar a situação investigada. Além disto, existe a opção denominada “não aplicável”, nos casos em que a pergunta não se refere a sua situação cotidiana vivenciada. Desse modo, quanto menor o índice, maior é a auto percepção do indivíduo em relação a incapacidade auditiva nas atividades de vida diária, ou seja, maiores são as dificuldades auditivas causadas pela perda auditiva. Para avaliação da restrição de participação, foi aplicado o questionário The Hearing Handicap Inventory for Adults - HHIA (Newman et al, 1990), traduzido e adaptado para o português brasileiro (Almeida, 1998) que tem como objetivo avaliar o impacto da perda auditiva no ajuste emocional e social do indivíduo. O questionário (anexo IV) é composto de 25 questões divididas em duas subescalas: Social/Situacional com 12 perguntas, que medem os efeitos da perda auditiva em diferentes situações, e Emocional com 13 perguntas, que estimam o comportamento e as respostas emocionais do indivíduo em relação à sua perda auditiva. Os participantes tiveram três possibilidades de resposta: "sim" (4 pontos), "às vezes" (2 pontos) e "não" (0 pontos). A pontuação total pode variar entre 0 e 100 %; divididos entre escala Social/Situacional (0 e 48) e a escala Emocional (0 e 52). A classificação quanto ao índice obtido indica que de 0 a 16 pontos, não há percepção da restrição de participação; de 18 a 40 pontos, percepção de leve a moderada da restrição de participação e acima de 40 pontos, percepção severa/significativa de restrição de participação. Desse modo, quanto maior o índice, maior é a auto percepção do indivíduo em relação ao impacto psicossocial 23 e emocional da perda auditiva em sua participação nas atividades de vida diária, ou seja, maiores são as dificuldades auditivas causadas pela perda auditiva. Todos os procedimentos foram realizados em uma mesma sessão, com duração média de 40 minutos após a realização da avaliação audiológica. Análise dos Resultados A análise estatística dos resultados, foram realizadas por um estatístico da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, através do programa SPSS (13.0). Os dados obtidos foram compilados e submetidos à análise estatística descritiva e inferencial. Inicialmente, foi realizada uma análise descritiva para as variáveis qualitativas com frequências, no valor absoluto (n) e no valor relativo (%), como: escolaridade, tipo de audição, grau da perda e para as variáveis quantitativas foram calculadas as medidas de resumo, como o caso da variável idade. Levando-se em conta a natureza da distribuição das variáveis estudadas, foram utilizados os seguintes testes: 1) Para variáveis quantitativas foi utilizada a correlação de Pearson ou Spearman quando necessário. 2) Para comparar os domínios do SSQ49 e os tipos de perda foi utilizado o teste não paramétrico de Kruskal-Wallis e foram feitas comparações múltiplas pelo teste de Mann-Whitney quando necessário. Foi adotado o nível de significância p 0,05 para a rejeição da hipótese de nulidade. 24 4. RESULTADOS 25 Neste capítulo, encontram-se os resultados obtidos na aplicação dos questionários Speech, Spatial and Qualities of Hearing Scale – SSQ e Hearing Handicap Inventory for Adults – HHIA, traduzidos para o Português Brasileiro. Para melhor compreensão dos resultados obtidos, esse capítulo foi organizado nos seguintes tópicos: 4.1 – Caracterização da amostra 4.2 – Resultados da aplicação dos questionários de auto avaliação 4.1 - Caracterização da amostra A amostra do estudo foi composta por 90 adultos, divididos em dois grupos, a saber: (GE) composto por 49 indivíduos com perda auditiva permanente (GC) com 41 indivíduos com audição normal, com idades entre 18 e 59 anos, de ambos os sexos sendo 67 mulheres e 23 homens, conforme demonstrado na Tabela1. Tabela 1. Distribuição dos indivíduos que participaram do estudo, de acordo com a idade e sexo nos GE e GC. (N=90). Masculino Feminino Total Idade GE GC GE GC N % N % N % N % N % 18 ˧ 24 0 0 1 1,1 6 6,7 21 23,3 28 31,1 25˧ 59 17 18,9 5 5,6 26 28,9 14 15,6 62 69 Total 17 19 6 6,7 32 35,5 35 38,9 90 100 Legenda: GE= grupo estudo; GC= grupo controle, N= número de sujeitos. Nessa tabela, observa-se que os participantes do sexo feminino representaram 74,4% da amostra, com proporção similar nos dois grupos, sendo que no GC a maior porcentagem foi na faixa entre 18 a 24 anos e no GE na faixa entre 25 a 59 anos. Na Tabela 2, pode-se verificar a distribuição dos grupos quanto à escolaridade em anos de estudo. 26 Tabela 2. Distribuição dos indivíduos que participaram do estudo, de acordo escolaridade (anos) nos grupos controle e estudo (N=90). Escolaridade GE GC Total N % N % N % S/Escolaridade 2 2,2 2 2,2 4 4,4 1 ˧ 9 24 26,6 2 2,2 26 28,9 10 ˧ 12 18 20 7 7,8 25 27,8 13 ˧ 16 5 5,6 30 33,3 35 38,9 Total 49 54,4 41 45,6 90 100 Legenda: GE= grupo estudo; GC= grupo controle, N= número de sujeitos. Quanto à escolaridade, observa-se uma distribuição equilibrada entre os indivíduos do GE, já no GC houve predominância de indivíduos com mais de 13 anos de estudo. A seguir, apresenta-se a distribuição dos indivíduos, de acordo com audição normal, perda auditiva unilateral e perda auditiva bilateral (tabela 3). Tabela 3. Distribuição dos indivíduos que participaram do estudo, de acordo com as características da audição – normal e lateralidade da perda auditiva (N=90). GC GE Total Audição N % N % N % Normal 41 45,6 0 0 41 45,6 Perda unilateral 0 0 15 16,7 15 16,7 Perda bilateral 0 0 34 37,8 34 37,8 Total 41 45,6 49 54,5 90 100 Legenda: N= número de sujeitos. Na tabela 4, demonstra-se a distribuição dos indivíduos do grupo estudo (GE), de acordo com o grau de perda auditiva. 27 Tabela 4. Distribuição dos indivíduos que participaram do estudo (GE), de acordo com o grau de perda auditiva (N=49). Perda auditiva Grau Orelha direita Orelha esquerda Total N % N % N % Leve 8 9,6 6 7,2 14 16,9 Moderada 22 26,5 18 21,7 40 48,2 Severa 8 9,6 13 15,7 21 25,3 Total 42 50,6 41 49,4 83 100 Legenda: N= número de sujeitos. 4.2 - Resultados da aplicação dos questionários de auto avaliação A seguir, demonstram-se na tabela 5 e figura 1, 2 e 3 a distribuição dos indivíduos que participaram do estudo, de acordo com o grupo sem perda auditiva (GC) e com perda auditiva (GE). Tabela 5. Distribuição dos indivíduos que participaram do estudo, de acordo com o grupo sem perda auditiva (GC) e com perda auditiva (GE) (N=90). SSQ Grupo Média Mediana DP Mínimo Máximo P* Audição para Fala Com Perda 4,9 5,1 2,1 0,6 8,7 < 0,001 * Sem Perda 7,6 8,1 1,5 4,5 9,6 Audição Espacial Com Perda 4,7 4,9 2,4 0 9 < 0,001 ** Sem Perda 8,1 8,9 1,9 2,9 9,9 Qualidade da Audição Com Perda 6 6,2 2,1 0 9,6 < 0,001 ** Sem Perda 8,8 9,3 1,4 3,5 9,9 *t-Student /**Mann Whitney Pode-se observar a ocorrência de significância estatística nos três domínios do questionário SSQ, na comparação dos grupos sem perda auditiva e com perda auditiva. 28 Figura 1. Box Plot das respostas ao questionário SSQ por domínio (Audição para Fala) segundo GE e GC (N=90). Figura 2. Box Plot das respostas ao questionário SSQ por domínio (Audição Espacial) segundo GE e GC (N=90). 29 Figura 3. Box Plot das respostas ao questionário SSQ por domínio (Qualidade da Audição) segundo GE e GC (N=90). A seguir, demonstram-se na tabela 6 e figura 4 os valores médios, mediana, desvio padrão, mínimo e máximo obtidos na aplicação do questionário SSQ por domínio, no GC (audição normal) e GE (perda auditiva). Tabela 6. Distribuição das respostas ao questionário SSQ por domínio segundo audição normal, perda auditiva unilateral e bilateral (N=90). Domínio Tipo de audição Média Mediana DP Mínimo Máximo p * Audição para Fala Normal 7,6 8,1 1,5 4,5 9,6 < 0,001 Perda unilateral 5,6 5,9 1,6 3,3 8,4 Perda bilateral 4,6 4,7 2,2 0,6 8,7 Audição para Espacial Normal 8,1 8,9 1,9 2,9 9,9 < 0,001 Perda unilateral 5 5,1 2,1 1,7 8,1 Perda bilateral 4,6 4,9 2,6 0 9 Qualidades da Audição Normal 8,8 9,3 1,4 3,5 9,9 < 0,001 Perda unilateral 6,5 6,6 2,2 0,9 8,8 Perda bilateral 5,7 5,7 2,1 0 9,6 * Teste de Kruskal-Wallis 30 Figura 4 – Box Plot das respostas ao questionário SSQ por domínio segundo audição normal, perda auditiva unilateral e bilateral (N=90). Observa-se que, o grupo com audição normal (GC) apresentou pontuações mais elevadas nos três domínios do questionário SSQ. No grupo com perda auditiva, indivíduos com perdas auditivas unilaterais tiveram índices maiores que os com perda auditiva bilateral. Na tabela 7 e figura 5, 6 e 7 demonstram-se os valores médios, mediana, desvio padrão, mínimo e máximo obtidos na aplicação do questionário SSQ por domínio, de acordo com a lateralidade da perda auditiva. 31 Tabela 7. Distribuição das respostas ao questionário SSQ por domínio nos GE segundo a lateralidade da perda auditiva (N=49). SSQ Grupo Média Mediana DP Mínimo Máximo P* Audição para Fala Unilateral 5,6 5,9 1,6 3,3 8,4 0,126 Bilateral 4,6 4,7 2,2 0,6 8,7 Audição Espacial Unilateral 5 5,1 2,1 1,7 8,1 0,605 Bilateral 4,6 4,9 2,6 0 9 Qualidades da Audição Unilateral 6,5 6,6 2,2 0,9 8,8 0,132 Bilateral 5,7 5,7 2,1 0 9,6 * t-Student / ** Mann-Whitney Verificou-se que os valores médios não apresentaram diferenças para os três domínios, sendo assim não houve significância entre a lateralidade da perda auditiva e os domínios do questionário SSQ. A seguir, o Box Plot apresenta as diferenças encontradas entre os domínios do questionário SSQ, segundo a lateralidade da perda auditiva. Figura 5. Box Plot das respostas ao questionário SSQ por domínio (Audição para Fala), perda de audição unilateral e bilateral (N=49). 32 Figura 6. Box Plot das respostas ao questionário SSQ por domínio (Audição Espacial), perda de audição unilateral e bilateral (N=49). Figura 7. Box Plot das respostas ao questionário SSQ por domínio (Quantidade da Audição), audição unilateral e bilateral (N=49). 33 Na tabela 8 demonstra-se os valores médios, mediana, desvio padrão, mínimo e máximo obtidos na aplicação do questionário SSQ por domínio, de acordo com o grau da perda auditiva. Tabela 8. Distribuição das respostas ao questionário SSQ por domínio de acordo com o grau de perda auditiva (N=90). Domínio Grau da Perda Média Mediana DP Mínimo Máximo p * Audição Fala Normal 7,6 8,1 1,5 4,5 9,6 < 0,001 Leve 5,3 4,6 2,1 3,1 8,4 Moderada 4,8 5,3 2,1 0,6 8,7 Severa 4,1 4,5 2,2 0,9 6,5 Audição Espacial Normal 8,1 8,9 1,9 2,9 9,9 < 0,001 Leve 4,9 5,1 2,7 1,1 8,9 Moderada 4,9 5,1 2,2 0 8 Severa 4,0 3 2,7 1,1 9 Qualidade Normal 8,8 9,3 1,4 3,5 9,9 < 0,001 Leve 6,5 5,7 1,7 4,5 9,6 Moderada 6,0 6,2 2,1 0 8,8 Severa 4,8 4,6 2,8 0,9 9,2 * Teste de Kruskal-Wallis. Legenda: DP= desvio padrão Verificou-se que os valores médios apresentaram diferenças para os três domínios, entre os grupos (audição normal e perda auditiva leve), (audição normal e perda auditiva moderada) e (audição normal e perda auditiva severa). Na tabela 9 e figura 8 verifica-se as comparações múltiplas entre o GC e os graus de perda auditiva no GE.34 Tabela 9. Respostas ao questionário SSQ por domínio de acordo com o grau de perda auditiva (N=90). Comparações Fala Espacial Qualidade Normal X Leve 0,001 <0,001 < 0,001 Normal X Moderada < 0,001 < 0,001 < 0,001 Normal X Severa 0,001 0,001 0,001 Leve X Moderada 0,555 0,988 0,639 Leve X Severa 0,318 0,65 0,103 Moderada X Severa 0,549 0,263 0,207 * Teste Mann-Whitney Após as comparações múltiplas, verificou-se que houve significância apenas para o grupo com a audição normal (GC) em relação aos grupos com perda auditiva (GE). Figura 8. Box Plot das respostas ao questionário SSQ por domínio e grau de perda (N=90). Na tabela 10 e figuras 9, 10 e 11 verificam-se as comparações múltiplas entre os graus de perda auditiva no GE. 35 Tabela 10. Respostas ao questionário SSQ por domínio de acordo com o grau de perda auditiva (N=49). SSQ Grau da Perda Média Mediana DP Mínimo Máximo p * Fala Leve 5,3 4,6 2,1 3,1 8,4 0,616 Moderada 4,8 5,3 2,1 0,6 8,7 Severa 4,1 4,5 2,2 0,9 6,5 Profunda 6,6 6,6 2,6 4,8 8,4 Espacial Leve 4,9 5,1 2,7 1,1 8,9 0,612 Moderada 4,9 5,1 2,2 0,0 8,0 Severa 4,0 3,0 2,7 1,1 9,0 Profunda 4,0 4,0 3,2 1,7 6,3 Qualidade Leve 6,5 5,7 1,7 4,5 9,6 0,293 Moderada 6,0 6,2 2,1 0,0 8,8 Severa 4,8 4,6 2,8 0,9 9,2 Profunda 7,3 7,3 1,4 6,4 8,3 * Teste Kruskall-Wallis Observa-se que, não houve significância na relação grau de perda auditiva e domínios do SSQ. A seguir, podemos verificar o Box Plot, das respostas do questionário SSQ, por domínio de acordo com o grau de perda auditiva. Figura 9. Box Plot das respostas ao questionário SSQ por domínio (Audição para Fala) segundo o grau de perda auditiva (N=49). 36 Figura 10. Box Plot das respostas ao questionário SSQ por domínio (Audição Espacial) segundo o grau de perda auditiva (N=49). Figura 11. Box Plot das respostas ao questionário SSQ por domínio (Qualidade da Audição) segundo o grau de perda auditiva (N=49). A seguir, na tabela 11 e figura 12 apresentam-se a estatística descritiva (média, mediana, desvio padrão, mínimo, máximo e valor de p*) do questionário HHIA entre os indivíduos do GE e GC. 37 Tabela 11. Respostas ao questionário HHIA de acordo com GE e GC (N=68). Grupo Média Mediana DP Mínimo Máximo p * GE 57,2 58 31,2 4 100 < 0,001 GC 10,7 4 19,5 0 96 * Teste Mann-Whitney Legenda: DP – desvio padrão; GE – grupo estudo, GC – grupo controle. Houve significância na relação grupo estudo (GE) versus grupo controle (GC), nas respostas do questionário HHIA. Figura 12. Box Plot das respostas ao questionário HHIA de acordo com o GE e GC (N=68). Observa-se que o GE apresentou piores respostas em relação ao GC. A seguir, na tabela 12 e figura 13 apresentam-se a estatística descritiva (média, mediana, desvio padrão, mínimo, máximo e valor de p*) do questionário HHIA entre os indivíduos do GE. 38 Tabela 12. Respostas ao questionário HHIA de acordo com a população bilateral. Audição Média Mediana DP Mínimo Máximo p* HHIA Unilateral 43,8 30,0 33,8 4,0 98,0 0,044 Bilateral 66,7 74,0 25,7 28,0 100,0 *Mann-Whitney Figura 13. Box Plot das respostas ao questionário HHIA de acordo com a audição do GE. Após a comparação da lateralidade no (GE), verificou-se que houve significância entre as respostas do questionário HHIA, como podemos visualizar na (Tabela 12) e na (Figura 14). Na (tabela 13) visualiza-se os valores em porcentagem quanto ao grau da perda auditiva, na qual observa-se significância dos valores entre GE e GC. 39 Tabela 13. Respostas ao questionário HHIA de acordo com o grau de perda auditiva. Grau de Perda Média Mediana DP Mínimo Máximo p * Normal (GC) 10,7 4 19,5 0 96 < 0,001 Leve (GE) 46 44 28,9 4 96 Moderada (GE) 56,7 71 33,6 6 98 Severa (GE) 78,8 88 19,5 58 100 * Teste de Kruskal-Wallis Legenda: DP – desvio padrão; GE – grupo estudo, GC – grupo controle. Houve significância na relação grupo com audição normal (GC) versus grupos com diferentes graus de perda auditiva (GE). Na comparação entre os graus de perda auditiva, somente o grau leve versus grau severo, foi significante. A seguir será apresentado o Box Plot com os resultados obtidos na aplicação do questionário HHIA para melhor visualização (Figura 14). Figura 14. Box Plot das respostas ao questionário HHIA segundo o grau de perda auditiva. 40 A seguir, na tabela 14 e figura 15 apresentam-se as correlações dos questionários HHIA e SSQ. Tabela 14. Correlação de Pearson para as respostas dos questionários HHIA e SSQ. Correlação de Pearson p r HHIA x Audição para Fala < 0,001 -0,676 HHIA x Audição Espacial 0,002 -0,547 HHIA x Qualidades da Audição < 0,001 -0,697 Houve correlações negativas de grau moderado para os três domínios, sendo mais fraca delas para o domínio Audição Espacial. A seguir, nos Scatter Plot apresentam-se as correlações encontradas entre os domínios do questionário SSQ versus o questionário HHIA. Figura 15. Scatter Plot das respostas aos questionários HHIA e SSQ por domínio Audição para Fala (A), Audição Espacial (B) e Qualidade da Audição (C). 41 5. DISCUSSÃO 42 A discussão foi organizada de maneira a relacionar os achados deste estudo com aqueles dos autores referidos anteriormente, seguindo a mesma divisão apresentada nos resultados para o estabelecimento de possível relações entre os dados e pretendendo cumprir os objetivos do estudo. Seguindo a mesma disposição utilizada para expor os resultados, dividiremos este capítulo em duas partes distintas, a saber: 5.1 - Caracterização da amostra 5. 2 – Discussão dos resultados da aplicação dos questionários de auto avaliação 5. 1 - Caracterização da amostra A amostra foi composta por 90 indivíduos adultos, divididos em dois grupos: Grupo Estudo (GE) composto por 49 indivíduos com perda auditiva permanente e Grupo Controle (GC) com 41 indivíduos com audição normal. Para caracterizar a amostra, utilizou-se a análise estatística quantitativa, os grupos foram analisados quanto a idade, sexo e escolaridade; e comparados quanto a audição (normal, perda auditiva unilateral e bilateral) e grau de perda auditiva. Em relação a faixa etária (Tabela 1), a amostra foi composta por indivíduos com idades entre 18 a 59 anos. A maioria dos participantes do estudo estavam na faixa etária de 25 a 59 anos, sendo 47,8% do grupo com a perda auditiva. Ainda que não tenha sido objeto de nosso estudo, é importante destacar que há evidencias de que os índices do SSQ sejam afetados pela idade dos respondentes. Uma vez que adultos jovens (idade média de 19 anos) tiveram escores significantemente mais elevados que idosos com idade média de 70 anos (Banh et al, 2012). 43 Quanto ao sexo dos participantes (Tabela 1), houve predominância do sexo feminino 74,4%, em ambos os grupos. Os indivíduos foram classificados quanto a escolaridade em quatro categorias: “sem escolaridade” quando os indivíduos nunca frequentaram escola, “1 a 9 anos de estudos” para os indivíduos que cursaram o ensino fundamental, “10 a 12 anos de estudos” para os indivíduos que cursaram o ensino médio e “acima de 13 anos de estudos” os indivíduos com nível superior. Houve uma distribuição equilibrada dos níveis de escolaridade entre os indivíduos do GE (Tabela 2), enquanto que no GC houve predominância de indivíduos com mais de 13 anos de estudo.Como foi utilizada uma amostra de conveniência, verificou-se uma discrepância entre grupos nesse quesito. Todos os participantes foram submetidos à audiometria tonal liminar, logoaudiometria e medidas de imitância acústica, apresentando audição normal (média 500, 1000, 2000 e 4000 Hz ≤ 25 dB) ou perda de audição (média 500, 1000, 2000 e 4000 Hz ≥ 26 dB), conforme classificação da (OMS, 2014). Observou-se que 37,8% do GE apresentaram perda auditiva bilateral e 16,7% com perda auditiva unilateral (Tabela 3). No que se refere ao grau de perda auditiva, a maioria dos indivíduos 48,2% apresentaram grau moderado, 25,3% grau severo e 16,9% com grau leve (Tabela 4). 5. 2 - Aplicação dos questionários de auto avaliação. A audição é um dos principais sentidos para os seres humanos, além de nos manter em estado de vigília, possibilita a interação com nossos pares por meio da comunicação oral. Dentre as principais consequências da deficiência auditiva, podemos encontrar a limitação em atividades e restrição de participação, sendo que a limitação em atividades está relacionada à falta de habilidade para a percepção de fala em ambientes ruidosos e a restrição de participação, que está ligada ao quanto a deficiência impede o indivíduo de desempenhar suas atividades em sociedade (Gonsalez e Almeida,2017). Nesse estudo, avaliou-se a limitação em atividades usando o questionário Speech, Spatial and Qualities of Hearing Scale - SSQ e a restrição de participação com o questionário HHIA. 44 O SSQ tem sido usado mundialmente e foi desenvolvido com o objetivo de caracterizar a relação da deficiência e os prejuízos da experiência auditiva em uma variedade de situações complexas de escuta do cotidiano. É um instrumento de auto avaliação do indivíduo em uma variedade de domínios como situações de audição direcional relacionada a diferentes distâncias e ao movimento, segregação de sons e fluxos de vozes simultâneas, facilidade de escuta, naturalidade e clareza dos sons do cotidiano e de diferentes peças musicais e instrumentos (Gatehouse, Noble, 2004; Singh, Pichora-Fuller, 2010; Banh et al, 2012; Dwyer, 2014; Moulin, Richard, 2016). O SSQ foi aplicado em todos os indivíduos, e analisados comparativamente os índices obtidos no Grupo Estudo (GE) e Grupo Controle (GC). As médias do GE para os domínios Audição para fala, Audição Espacial e Qualidade da Audição foram respectivamente 4,9; 4,7 e 6. Enquanto que para o GC as médias foram 7,6; 8,1 e 8,8. Observou-se significância estatística (< 0,001) nos três domínios do questionário, demonstrando que as pontuações do SSQ foram inferiores nos indivíduos com perda auditiva. Resultados similares foram observados em outros estudos, ou seja, foram obtidos índices piores em todas as questões do SSQ, no grupo com perda auditiva em relação ao grupo com audição normal (Gatehouse, Noble, 2004; Gonsalez, Almeida, 2017). Ao analisarmos a pontuação em cada domínio do SSQ comparando o grupo com audição normal versus grupo com perda de audição considerando a lateralidade da perda auditiva - bilateral e unilateral - observou-se significância estatística nos três domínios (< 0,001), sendo que o grupo com audição normal apresentou pontuações mais elevadas nos três domínios em comparação aos grupos com perda auditiva tanto bilateral quanto unilateral. Quando comparados os escores dos indivíduos com perda auditiva bilateral versus perda auditiva unilateral, não foi observada significância estatística para nenhum dos três domínios do questionário (p ≤ 0,126), (p ≤ 0,605) e (p ≤ 0,132), ainda que as pontuações dos indivíduos com perda auditiva unilateral tenham sido melhores que a dos com perda auditiva bilateral. Esse fato não foi observado em estudo que avaliou os efeitos auditivos na comunicação diária utilizando os dominios do SSQ, audição espacial e qualidade da audição para comparar o desempenho de indivíduos 45 adultos com perdas auditivas unilaterais. Os autores concluiram que os adultos dependentes de uma única orelha, estão em desvantagem em todos os aspectos da audição e comunicação diária (Dwier et al, 2014). É importante ressaltar que ainda que os escores tenham sido melhores que nas perdas auditivas bilaterais, a perda auditiva unilateral pode estar associada a consequências negativas, independentemente do suporte tecnológico, como o uso de uma prótese auditiva. O gerenciamento audiológico desses indivíduos deve apoiar o desenvolvimento de estratégias de escuta e estabelecer expectativas adequadas para a participação em situações de audição diárias (Lucas et al, 2017). Os sujeitos com assimetrias na audição podem apresentar déficits auditivos binaurais que impõem desvantagens em sua qualidade de vida cotidiana (Vannson et al, 2015). Ao analisarmos por meio de comparações múltiplas os graus de perda auditiva versus audição normal, verificou-se significância estatística apenas para o grupo com audição normal em relação aos grupos com perda auditiva nos três domínios do questionário SSQ (p < 0,001). Quando foi analisado se haveria diferença nos escores do questionário SSQ considerando apenas os diferentes graus de perda auditiva, verificou-se que não houve significância em nenhum dos três domínios do questionário (p 0,639; 0,103; 0,207). Esperava-se encontrar maior limitação de atividades (incapacidades) quanto mais severa fosse a perda auditiva. Os resultados desse estudo demonstram, que independentemente do grau da perda auditiva, haverá uma limitação auditiva que interferirá em suas atividades de vida diária. Como o SSQ é um questionário de uso recente em nossa realidade, importante destacar que o mesmo se mostrou de fácil compreensão e aplicabilidade clínica, como já demonstrado na literatura (Banh, 2012; Gonsalez, Almeida, 2015). Em nossa pesquisa, 90% dos participantes não apresentaram dificuldades para compreender as perguntas do questionário. Apenas dez participantes do GE usaram a opção “não se aplica”, sendo que desse total, sete participantes tiveram dificuldades para compreender as questões 15 e 16 do domínio Audição Espacial. Os questionários são instrumentos de autorrelato, sus- cetíveis a erros aleatórios inerentes às avaliações subjetivas. Quanto menor a 46 ocorrência destes erros e maior a estabilidade das respostas entre itens, maior é a precisão nas medições e, consequentemente, maior a confiabilidade do instrumento (Gonsalez, Almeida, 2017). A aplicação do questionário foi realizada em forma de entrevista e teve um tempo médio de 40 minutos, fato que pode desmotivar o uso da ferramenta por parte dos profissionais. Outros estudos evidenciaram que o tempo de aplicação do questionário é um fator importante para determinar a sua utilização em ambiente clínico. Há versões reduzidas do SSQ que podem ser utilizadas na prática clínica e já traduzidas para o português brasileiro (Gonsalez e Almeida, 2017). Também foi sugerido o uso da forma autoadministrada, ou seja, o próprio participante responde e marca seu escore na escala, o que diminuiria significativamente o tempo de aplicação, podendo ser de no mínimo 14 minutos e no máximo 40 minutos (Singh, Pichora-Fuller, 2010; Aguiar, 2016). A deficiência sensorial pode levar indivíduos com deficiência auditiva, a se isolarem, o que leva a depressão, irritabilidade e sentimentos de inferioridade. O gerenciamento audiológico desses indivíduos deve apoiar o desenvolvimento de estratégias de escuta e estabelecer expectativas adequadas para a participação em situações de audição diárias (Monzani et al, 2008; Francelin et al, 2010; Vannson et al, 2015; Lucas et al, 2017). Com objetivo de caracterizar a restrição de participação utilizou-se o Hearing Handicap Inventory for Adults – HHIA (Newman, 1990). Tal questionário em sua versão em portugues brasileiro possui
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